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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2013

Fotos Solange Campos

Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVII • N. 112 • Maio, 2013

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Solange Campos

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Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá) é um dos três polos tecnológicos estratégicos que buscam contribuir para um novo modelo de desenvolvimento para o Estado do Pará, pautado por uma economia verde, de forte base tecnológica e inovadora. Com investimentos em torno de R$ 80 milhões e mais de 90% das obras de infraestrutura física concluídas, foi inaugurado em 2010, sendo o primeiro em operação dos três parques tecnológicos previstos para implantação no Estado. Sediado em Belém (PA), atua nas áreas de Biotecnologia, Tecnologia da Informação e Comunicação, Energia, Tecnologia Ambiental e Tecnologia Mineral, as quais são prioritárias para negócios e pesquisas de base tecnológica. O Centro de Excelência em Eficiência Energética (Ceamazon), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Laboratório de Alta Tensão, o Instituto Tecnológico Vale (ITV), oito laboratórios vinculados à Universidade Federal do Pará (UFPA), à Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Amazônia Oriental já estão com bases implantadas ou em fase de instalação no Parque, com investimentos em torno de R$364 milhões. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, Antônio Jorge Gomes Abelém, diretor-presidente da Fundação Guamá, gestora do PCT Guamá, comenta a importância do Parque para o Estado. O que é um Parque de Ciência e Tecnologia? A quem está vinculado e como é financiado? Parque de Ciência e Tecnologia é um ambiente de inovação que oferece oportunidades para empreendimentos de pequeno, médio e grande porte transformarem pesquisa em produto ou aprimorarem processos produtivos com o apoio de pesquisas científicas, aproximando espaços de conhecimento (universidades, centros de pesquisas e ensino) do setor produtivo (empresas), estimulando a sinergia entre as empresas, tornando-as mais competitivas. Neste caminho, esse ambiente contribui para o desenvolvimento de empresas de base tecnológica, para a difusão da ciência, tecnologia e inovação e para a fixação de capital intelectual, colaborando para o desenvolvimento sustentável da região onde está implantado.

A proposta de instalar parques no Brasil para a promoção do desenvolvimento tecnológico, econômico e social ganhou fôlego na última década. Hoje, há cerca de 90 projetos de parques tecnológicos no País, entre iniciativas em fase de operação, implantação ou planejamento, concentrados, principalmente, nas Regiões Sul e Sudeste, com diversos modelos de gestão. O PCT Guamá é o primeiro parque tecnológico da Amazônia em operação. No Pará, também estão previstos mais dois parques tecnológicos: um, em Santarém, o PCT Tapajós; e outro, em Marabá, o PCT Tocantins. O PCT Guamá nasceu na UFPA e formalizou-se por meio de um convênio entre a Secretaria de Estado, Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), a UFPA e a UFRA. Tem gestão da Fundação de Ciência e Tecnologia Guamá, entidade de direito privado sem fins lucrativos, e conta com aporte financeiro da Secti, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Também tem o apoio da Embrapa Amazônia Oriental, da Eletrobras/Eletronorte, do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Pará (Sebrae-PA), do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Universidade do Estado do Pará (Uepa). Quantas empresas de base tecnológica o Parque de Ciência e Tecnologia Guamá recebeu este ano e quantas receberá ano que vem? O Ceamazon e o Inpe foram implantados em 2010. O Instituto Tecnológico Vale (ITV) começou a ser construído em 2011. Também estão em fase de implantação o Laboratório de Qualidade do Leite da Região Norte do Brasil; o Laboratório de Alta Tensão; o Centro Agroalimentar de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA); o Laboratório de Engenharia Biológica; o Laboratório de Instrumentação para Produtos Agroindustriais; o Laboratório de Óleos Vegetais e Derivados; o Laboratório de Referência em Fitossanidade e Manejo; o Laboratório de Sensores e Sistemas Embarcados e uma escola técnica profissionalizante vinculada à Secretaria de Estado de Educação (Seduc). Em fase de projeto, estão o Parafarma, laboratório destinado à pesquisa e ao desenvolvimento de biofármacos no Pará; o Instituto de Inovação em Tecnologia Mineral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); o Laboratório de Geomecânica, Instrumentação e Computação Aplicada

à Engenharia, de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias nas áreas de pontes, ferrovias, rodovias e barragens; e o Centro de Acreditação de Laboratórios do InmetroPará (Metrologia). Em novembro do ano passado, lançamos o segundo edital de lotes, destinado a receber propostas de empresas de base tecnológica no dia 6 de junho deste ano. Quais as ações que o Parque tecnológico desenvolve e de que forma podem contribuir com o desenvolvimento da sociedade? O PCT Guamá está trabalhando ações que buscam o estabelecimento de uma cultura de empreendedorismo inovador, que ainda está incipiente na região. Neste sentido, em 2010, iniciamos um workshop de aproximação e apresentação do PCT Guamá com empresários e potenciais empreendedores. Na ocasião, ouvimos as demandas de treinamentos do setor e buscamos estabelecer uma agenda de capacitações destinada a atendê-las. Neste caminho, o Parque Paraense também viabiliza o processo de incubação de empresas, capacitação em gestão empresarial e apoia o processo de certificação para laboratórios de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas instituições referências nestas áreas, como a Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Endeavor, a Organização Anjos do Brasil e a Rede Metrológica do Rio Grande do Sul. Entre as ações de incentivo ao empreendedorismo inovador no Pará, o PCT Guamá apoia 9 empresas presentes na Incubadora de Empresas da UFPA e é parceiro da Fundação Amazônia Paraense e da Secti, na primeira edição regional do Edital TECNOVA, iniciativa da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), que vai disponibilizar recursos federais e estaduais, na ordem de R$ 12 milhões, para apoiar o investimento em inovação tecnológica nas micro e pequenas empresas do Pará. No meio das ferramentas de apoio à integração entre o setor produtivo e as empresas, laboratórios e pesquisadores das áreas de C,T&I, está a rede social I Conect (http://iconect.pctguama.org.br), que entrou no ar em março deste ano para alinhar as demandas tecnológicas das empresas às soluções dos profissionais do setor. No segundo semestre deste ano, o PCT Guamá vai inaugurar a PCT Business, agência voltada para atender as demandas externas de gestão de inovação tecnológica.

Caiena, capital da Guiana Francesa, chama a atenção dos migrantes brasileiros por proporcionar melhor qualidade de vida

Arquitetura

Memória

Vicente Salles deixa legado para o mundo Professora Magda Ricci lembra as contribuições do folclorista para a cultura, política, literatura e antropologia da região. Página 11.

Masculinidade

Pesquisas a serviço da restauração do patrimônio Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (Lacore/UFPA) desenvolve pesquisa e extensão que

tangem à conservação e à restauração de patrimônio arquitetônico e urbanístico na Amazônia. Página 8.

Alexandre Moraes

Parque de Ciência e Tecnologia estimula a competitividade entre empresas

Laís Teixeira

Incentivo ao desenvolvimento do Estado

issertação desenvolvida no âmbito da Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Pará (PPGSS/UFPA) analisa os efeitos do Benefício de Proteção Continuada (BPC) para idosos e pessoas com deficiência em condição de vulnerabilidade social, em Belém. O recurso, no valor de um salário mínimo (atualmente, orçado em R$ 678,00), garante autonomia para o atendimento de demandas urgentes, segundo conclusão da autora do estudo, Lívia Araújo de Oliveira. Já a tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD/ UFPA), por Elody Boulhosa Nassar, destaca que a longevidade tornou-se um problema para a Previdência Social Pública, pois os recursos arrecadados para a aposentadoria são destinados a outras finalidades. O estudioso frisa que o envelhecimento da população deve ser encarado pelo ponto de vista social, e não econômico. As duas perspectivas suscitam diferentes olhares sobre a melhor idade. Páginas 6 e 7.

Fabio Rodrigues Pozzebom

Melhor idade em pauta na UFPA

Eles também preocupam-se com o exterior Estudo da Pós-Graduação em Antropologia revela que os homens da região cuidam da aparência. São os metrossexuais. Página 3.

Povos Indígenas

Índios Suruí usam a tecnologia para se articular Por meio da azulejaria, revelam-se origens e influências da cultura amazônica

Polissêmico: eis Vicente Salles

Entrevista

Opinião

Diretor-presidente da Fundação Guamá, Antônio Abelém destaca a importância do PCT Guamá. Página 12.

Professor João Farias Guerreiro evidencia os desafios enfrentados pela saúde indígena no Brasil. Página 2.

Indíos de Rondônia apropriam-se das ferramentas tecnológicas para compreender as transformações pelas quais passam. Página 4.

História na Charge Walter Pinto colabora com nova interpretação bem-humorada sobre fatos históricos do Pará. Página 2.


Alexandre Moraes

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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2013 –

Memória kkk

OPINIÃO

João Farias Guerreiro

urbana, que propiciou modificações na subsistência, dieta e atividade física desses povos, que estão deixando de ser tradicionalmente caçadores e coletores, estão iniciando processo de sedentarização e estão consumindo alimentos industrializados altamente calóricos. Está em curso, portanto, entre os indígenas da Amazônia, a instalação de fatores ambientais relacionados a doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), particularmente para a hipertensão arterial e o diabetes mellitus do tipo 2, doenças para as quais se herda uma predisposição genética que se manifestará apenas em condições favoráveis para tanto, como é o caso da dieta ou do sedentarismo. É importante mencionar aqui a hipótese dos genes poupadores (do inglês thrifty genes), proposta pelo geneticista norte-americano James Neel, em 1962. A ideia básica por trás dessa hipótese é que a seleção natural favoreceu genes “poupadores” em épocas de falta de alimentos, os quais seriam genes que melhoram a eficiência no uso das calorias e teriam aumentado a chance de sobrevivência em condições de escassez de alimen-

A História na Charge Walter Pinto

tos. Por outro lado, esses mesmos genes, em um ambiente com grande disponibilidade de alimentos muito calóricos, predispõem ao diabetes do tipo 2 e à obesidade. Há evidências suficientes de que essa hipótese esteja correta, conhecendo-se vários exemplos de populações nas quais é possível documentar histórias diferentes com relação à escassez de alimentos, como é o caso dos índios Pima, nos Estados Unidos. Esses nativos passaram por períodos de escassez muito severa há relativamente pouco tempo e hoje vivem em um ambiente com uma dieta rica em calorias: metade da população tem diabetes. No entanto, esse fenômeno não é generalizado entre indígenas norte-americanos, conhecendo-se populações que não têm história de eventos de escassez de alimentos e nas quais a prevalência de diabetes é baixa. Nesse cenário, dois grandes desafios emergem em relação à saúde indígena. O primeiro desafio consiste em investigar e identificar os genes que possam constituir a base genética de risco para doenças crônicas não transmissíveis ente os indígenas,

o que possibilitará a identificação precoce dos indivíduos em risco para desenvolver essas patologias e permititrá intervenções higieno-dietéticas e medicamentosas que reduzirão a morbmortalidade relacionada a esses agravos. O outro desafio refere-se à discussão e avaliação das transformações socioculturais resultantes da intensificação do contato dos indígenas com a sociedade urbana, levando-se em conta as circunstâncias que dificultam a preservação das características biológicas e culturais das populações indígenas. Como mencionado pelo professor Francisco Mauro Salzano, da UFRGS, “manter o completo isolamento das populações indígenas da Amazônia é uma tarefa quase impossível, mas temos a obrigação étnica e ética de buscar a melhor forma de promover o contato e a interação com não indígenas”. Artigo completo disponível on-line. João Farias Guerreiro - Médico-geneticista, professor associado III do Instituto de Ciências Biológicas, UFPA.

walterpinto.oliveira@gmail.com

Historiadora relembra as múltiplas contribuições do folclorista Ilustração Walter Pinto/ Foto Laís Teixeira

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Amazônia perde Vicente Salles

joaofg@ufpa.br

Saúde Indígena: Novos Desafios

s doenças infecciosas estão entre as forças seletivas mais significativas na evolução humana e continuam sendo o maior contribuinte para a morbidade e mortalidade no mundo. No presente, as doenças infecciosas e parasitárias ainda constituem as principais causas de morbimortalidade em indígenas brasileiros, em particular na Amazônia. No entanto evidências de uma transição epidemiológica são, hoje, observadas em boa parte das tribos indígenas, com elevadas prevalências de desordens nutricionais, como desnutrição na infância e excesso de peso no adulto, além de desordens associadas, como dislipidemias, diabetes mellitus e doenças cardiovasculares, entre outras. Também se observam, entre crianças, prevalências, de moderadas a elevadas, de baixa estatura e baixo peso para a idade, além de elevadas prevalências de anemia e, em alguns casos, ampla inadequação das dietas. O atual perfil epidemiológico das populações indígenas resulta, certamente, da intensificação dos contatos dos indígenas com a sociedade

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Magda Ricci

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odos que nascem, um dia, morrem, mas existem pessoas que, realmente, fazem falta. Uma história da Amazônia sem o professor Vicente Salles está visivelmente mais pobre e desfalcada de um de seus mais significativos nomes. Sem Salles, a história dos negros, da música, dos cordelistas, dos cantores, dos dramaturgos, dos literatos e, fundamentalmente, da arte na Amazônia está, hoje, órfã. Digo isso sem medo de exagerar e devo ir além. Salles não pode ser resumido a um historiador. Ele, certamente, foi mais do que isso. Polissêmico, ora era um folclorista; em outros estudos, transmutava-se em musicólogo, em antropólogo ou em literato. A lista de seus campos de saberes só não é maior do que a de seus estudos. Entre acuradas obras de referência e levantamentos biobibliográficos, ainda sobrou espaço para publicação de importantes análises nos campos da cultura, da arte e da sociedade amazônica. Dentre os muitos estudos fundamentais, Salles soube construir algumas obras primas. O Negro no Pará é apenas uma delas, mas vou apontá-la para que todos percebam o alcance do que publicou Vicente Salles. Seu pioneirismo em distinguir o riquíssimo mundo dos afro-descentes na Amazônia é apenas a ponta de um iceberg bem maior de tributos desse magnífico livro, que já mereceu três edições e, certamente, merecerá outras tantas. Uma obra ímpar de seu tempo, na qual o negro não é analisado como um mero ex-

Alguns personagens destacados na obra de Vicente Salles (detalhe), a exemplo do cabano, do negro e artistas populares pectador vitimado numa história em que o homem branco estigmatiza-se como um mero e genérico opressor colonizador. Em Negro no Pará (mas não apenas nele), Salles conseguiu aprofundar o estudo da opressão. Deu nomes e fisionomias aos brancos e aos negros. Colocou-os em movimento numa luta de classes concreta. Fez isso, porque, de sua pena, nada saía sem provas. Leu documentos manuscritos, mas, fundamentalmente, leu uma quantida-

de imensa de livros e de coleções de jornais antigos. Também leu partituras musicais, pinturas, gravuras, desenhos, xilogravuras, caricaturas e esculturas. Buscou gente concreta nas mais diversas fontes, na arte e na escrita. Correu atrás de batalhas cotidianas que saíam do passado colonial e imperial, mas também podiam ser vistas em pleno século XX ou XXI. O Negro no Pará revela saberes, artes e artimanhas de resistências sociais e culturais de um povo negro que, mesmo escravizado,

foi capaz de construir um universo particular e rico de culturas e conhecimentos naturais e espirituais. E a obra de Salles ainda tem mais um grande mérito: este negro no Pará não foi percebido de forma isolada. Ele foi analisado em simbiose com o novo mundo amazônico, suas gentes e diversidade. Era a história do negro no Pará e este "no" não era aleatório. Era o negro no meio de outros elementos, no universo maior entre outras tantas pessoas, de outras incontáveis culturas.

Destaque para a defesa da cultura paraense e amazônica

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA cientificoascom@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-8036

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Thaís Mendonça (2.361-SRT/PA); Reportagem: Helder Ferreira/Magda Ricci/Paloma Wilm/Pedro Fernandes/Solange Campos/Vitor Barros/Walter Pinto (561-SRT/PA); Fotografia: Alexandre Moraes/Laís Teixeira; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/ Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Vicente Salles faz muita falta não só pelas obras primas que publicou, mas também pelo teor da luta política. Ávido leitor, atento cientista social e político, arguto jornalista e periodista, Salles fez da vida um combate constante pela cultura popular paraense e amazônica. A Salles interessava toda gente que fazia arte e cultura. Não havia discriminações. Não havia credos, origens ou etnias a serem esquecidas. Nada de uma cultura popular isolada e pura. Salles sempre militou por artistas, literatos, folcloristas e tantos outros homens e mulheres que faziam vir à tona a cultura do povo amazônico em toda sua diversidade. Apesar disso, Salles tinha uma clara opção política e ideológica. Vicente Salles teve boa parte da vida atravessada pela ditadura política e pela censura. Conheceu poetas e militantes da cultura paraense desde cedo. Foi com Bruno de Menezes e com outros tantos artistas e artesãos que aprendeu, ainda jovem, a importância desse universo da cultura popular e do folclore. O jovem Salles também percebeu a necessidade da militância política para sua preservação. Militou, des-

de cedo, pela comissão nacional do folclore ao lado de Edison Carneiro. Comunista por princípio, a atuação nos tempos sombrios da ditadura foi nitidamente marcada pelo sentido politizado de seu trabalho intelectual. Nesse universo, trabalhou assiduamente. Na Comissão de Folclore e na Fundação Nacional de Artes (Funarte), organizou coleções, editou periódicos, publicou artigos, livros, discos e CDs. Toda essa labuta de muitos anos fez surgir escritos e gravações centrais ao conhecimento e à conservação do folclore e da cultura paraenses e amazônicas. Todo esse trabalho gerou também uma imensa coleção de recortes de jornais, de cartas trocadas com os mais importantes intelectuais da cultura brasileira do século XX. Sua coleção ainda contava com a presença de preciosas partituras, bem como com uma coleção importantíssima de livros de literatura de cordel. Já nos tempos de se aposentar, em meados dos anos de 1990, Salles teve a coleção pessoal recebida e bem acolhida no Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA), local que ele também dirigiu, inicialmente, quando os estudos e as coleções chegaram à mencionada

instituição. Desta feita, o militante e escritor comunista e folclorista também se tornou um colecionador, e um de seus mais importantes legados são esses documentos. Desde já, esse acervo ajuda inúmeros pesquisadores das mais diversas áreas de atuação. Da teoria literária à história social e cultural, das artes plásticas à dramaturgia: o acervo da coleção Vicente Salles, presente no Museu da UFPA, já faz a Amazônia conhecer muito melhor a si mesma e fará muito mais para cada um que, por lá, passar para visitar ou pesquisar. Incentivo - Salles foi um homem de muitas áreas e campos de atuação, mas, sobretudo, foi alguém que manteve uma coerência política e de atuação profissional inquestionável. Poderia aqui escrever uma relação de estudos e de como cada um deles representou um trabalho ímpar para um campo do saber da cultura e da arte amazônica. Poderia expor como cada um desses estudos não perdeu o tom político. Das sociedades euterpes até a história da música paraense, dos estudos sobre a música de Carlos Gomes até trabalhos sobre os cordelistas e a famosa editora Guajarina: tudo

isso foi delimitado e teve o campo de estudos redesenhado por trabalhos de Salles. Todos esses e muitos outros dos estudos e das edições tinham por princípio algo que, hoje, é raro: a opção de Vicente Salles pelo povo e pela história e cultura amazônicos e paraenses. Termino com uma lição silenciosa que aprendi de Salles. De certa feita, entreguei-lhe uma obra minha, que havia acabado de publicar. Era a biografia do Regente Feijó. Ele nunca me disse coisa alguma, mas jamais esquecerei o olhar dele naquele dia. Era como se me perguntasse: por que estudar Feijó? Por que escrever um livro sobre essa autoridade repressora dos cabanos e do povo amazônico? Eu também me perguntei isso muitas vezes depois daquele olhar. Ninguém, antes, havia me indagado politicamente de forma tão direta. Naquele momento, meu título de doutoramento, ou qualquer outro, não fazia muito sentido e o fazer a história ganhou nova dimensão. Estou, até hoje, tentando responder ao olhar dele. Magda Ricci - Diretora da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2013 –

Masculinidade

Amazônia

Artigos conectam o povo com a região

Homens atentam para a aparência

Estudantes de Pós-Graduação da UFPA e da Uepa assinam os artigos

lham na militância política e social. A partir de junho de 2011, começamos a debater o que seria a revista e, cada vez que nos reuníamos, chegávamos à conclusão de que a publicação deveria ter um cunho não só acadêmico, mas também que dialogasse com os atores sociais que vivem de perto e diariamente na Amazônia e contribuem com o desenvolvimento da região”, explica a geógrafa Edane Acioli, editora da revista e doutoranda pela Universidade “Paris 3”(França), em cotutela com o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA). A revista, lançada pela Editora “Expressão Popular”, sob o selo “Outras expressões”, está dividida em duas seções: “Corpus”, com cunho mais científico, comporta artigos, notas de pesquisa, resenhas e resumos de teses e dissertações; e “Práxis”, que apresenta debates e entrevistas com personalidades da comunidade científico-acadêmica, bem como atores sociais. No total, onze professores foram convidados a participar desta primeira edição. São eles: Josep Pont Vidal, Henry Willians da Silva, Wilson Barp, Farid Erid, Caio Chiariello, Dulcilene Alves de Castro, Rosa Ferreira da Rocha, Adilson Viana Lima, Ana Tancredi Carvalho, Gutemberg Guerra, Romero Ximenes, SaintClair Cordeiro da Trindade, Maria Goretti Tavares, Maria de Fátima Fonseca, Armando Lírio e o jornalista e sociólogo Lúcio Flávio Pinto.

Dissertação investiga o universo metrossexual na capital paraense Walter Pinto

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m 1994, o escritor inglês Mark Simpson, em artigo publicado no Jornal The Independent, criou um neologismo para definir o homem vaidoso ao extremo, aquele que se esmera muito nos cuidados com a aparência, além do habitual. Passadas quase duas décadas, o termo metrossexual ainda causa certa confusão, não raramente sendo relacionado à questão da sexualidade masculina. No entanto, não há qualquer relação. O termo cunhado por Simpson refere-se ao comportamento de homens residentes em grandes centros urbanos ou próximos deles, detentores de elevados padrões de vida, cujos indicadores podem ser dados pelo uso de roupas de grifes finas e frequência assídua a sofisticados restaurantes, assim como pelo extremo cuidado com o corpo, entre outros comportamentos. Mas será que o conceito, pensado a partir de comportamentos dos homens residentes em grandes centros urbanos da Europa e dos Estados Unidos, se aplica integralmente aos homens do extremo norte do Brasil? O estudo Masculinidades em cenas: o modo de ser e pensar o metrossexual a partir das telenovelas, realizado pelo cientista social Edyr Batista de Oliveira Júnior, como Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), sob orientação da antropó-

Laís Teixeira

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Região Amazônica desperta curiosidade em cientistas, pesquisadores e em pessoas das mais variadas áreas do conhecimento. Por conta disso, muitos artigos, dissertações e teses são escritos acerca da maior floresta tropical do mundo, os quais são publicados em periódicos, eletrônicos ou impressos. Entretanto parte desse material apenas armazena conteúdos acadêmicos, sem realizar relação alguma com um dos principais pilares da construção do cenário amazônico: o homem. É com esta proposta que um grupo de estudantes de pós–graduação de Belém teve a ideia de criar uma obra para ser um veículo de divulgação de estudos, pesquisas e experiências sociais que envolvam, direta e indiretamente, a realidade da região, a fim de estimular o intercâmbio e o debate entre a comunidade acadêmica científica e os atores sociais amazônicos. Assim, criou-se a revista Terceira Margem Amazônia. As primeiras reuniões para a criação da revista ocorreram há mais de um ano. Uma equipe de amigos é formada por estudantes de pós–graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade do Estado do Pará (Uepa). “São amigos de pós-graduação de várias áreas, como Geografia, Ciências da Religião, Sociologia, História e Engenharia Sanitária e Florestal, os quais também traba-

Laís Teixeira

Revista propõe debate entre a comunidade científica e os atores sociais Helder Ferreira

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Idealizado pelo escritor Mark Simpson, o termo "metrossexual" designa homens que se preocupam com a aparência loga e historiadora Cristina Donza Cancela, buscou resposta para a pergunta. “Existem particularidades que influenciam no modo de ser metrossexual na Amazônia, mas, em relação aos cuidados de si e ao consumo de produtos voltados à ‘fabricação’ de corpos atraentes e desejáveis em nada diferem dos das pessoas residentes em outro contex-

to, como Nova Iorque”, destaca Edyr Oliveira Júnior. Durante o trabalho de campo, o pesquisador entrevistou 16 moradores de Belém, sendo 11 homens e cinco mulheres, todos adultos, na faixa etária de 18 a 30 anos, graduados ou estudantes do ensino superior. As respostas obtidas levaram o autor a concluir que

os homens de Belém estão cada vez mais cuidando da aparência, evidentemente, em graus variáveis, dependendo das disponibilidades de cada um e do mercado. “Há os que vestem Calvin Klein e malham em academias de bairro que não têm um nome reconhecido. Os gastos com o cuidado de si variam de pessoa para pessoa”, explica.

Texto analisa a cadeia produtiva dos integrantes do MST

Telenovelas ajudam entrevistados a refletir sobre o tema

Pós-doutora na área de Geografia do Turismo, Maria Goretti Tavares participou da revista com a resenha do Livro A Amazônia e a cobiça internacional, de Artur Cesar Ferreira dos Santos. Para a geógrafa, a revista terá grande importância, pois a publicação abordará temáticas amazônicas atuais e terá caráter interdisciplinar, envolvendo pesquisadores com grande experiência e também cientistas mais jovens. “Além disso, a proposta da revista é trabalhar questões mais sociais da

Para introduzir os entrevistados no tema e observar quais as representações que eles fazem do metrossexual, Edyr Oliveira Júnior utilizou fotografias de três personagens de telenovelas: o Narciso, de “Belíssima”, interpretado pelo ator Vladimir Brichta; o Tomás, de “Cobras e Lagartos”, vivido pelo Leonardo Miggiorin; e o Carlos, de “Viver a Vida”, interpretado por Carlos Casagrande, todos com características metrossexuais. Diante das imagens, os entrevistados diziam se consideravam ou não os personagens metrossexuais e por que, assim, os identificavam. Em seguida, apresentou-lhes biografias dos

Amazônia, de forma clara, crítica e com toda a seriedade que o tema merece.” Farid Eid, professor associado da UFPA e doutor em Economia e Gestão, também faz parte da primeira edição da revista, com o artigo Organização de cadeias produtivas sob controle dos trabalhadores e desenvolvimento rural. O professor escreveu a publicação junto com o doutorando Caio Luis Chiariello. “O artigo tem como intuito mostrar a importância da organização

de pequenas cadeias produtivas, sob o controle dos trabalhadores pertencentes a famílias organizadas em cooperativas, oriundas de assentamentos de reforma agrária do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST). Esta realidade é oposta ao que ocorre, hoje, quando empresários do agronegócio, possuidores do capital, estabelecem relações de dependência com os camponeses, os quais, sem perspectivas melhores, aderem a esta relação”.

Professor de Antropologia da UFPA, Romero Ximenes participa da publicação com o artigo Da Terra firme à Amazônia. Para ele, a ideia da revista é criar um novo espaço para pensar a Amazônia de uma forma específica. “O nome ‘A terceira margem’ significa superar a ideia de que a Amazônia é um ‘patinho feio’ da Nação, desprezada, mas pensar a Amazônia por dentro, analisando sua trajetória própria, de acordo com seu passado, seu presente, traçando perspectivas para seu futuro.”

Organizadores aceitam trabalhos em até quatro idiomas De acordo com a editora da revista, há muita produção científica e acadêmica interessantes na Amazônia, mas a publicidade não é abrangente. “Morei na França, no México e em São Paulo. Esse olhar de fora acaba sendo estereotipado e isso prova que muita gente não conhece a realidade amazônica. Por esta constatação, as pesquisas sobre a região são muito pontuais. Sua complexidade, só quem conhece de perto consegue entender. Floresta, várzea, terra firme, campos, cerrados, cidades ribeirinhas, metrópoles, para explicar essa

complexidade, tem que ter visto e vivido essa realidade”, afirma Edane Acioli. “Um dos objetivos é que a revista atinja diversos públicos com acesso à internet ou não. Neste primeiro momento, ela será impressa para que possamos levá-la a qualquer local que não tenha acesso digital, principalmente, na Amazônia”, explica a geógrafa. Ela conclui que, no futuro, o projeto é criar uma versão eletrônica para a revista, com o objetivo de sair do âmbito local e alcançar uma abrangência nacional e internacional.

Ainda sobre o futuro da revista, Edane Acioli afirma que já há vários artigos e trabalhos acadêmicos arquivados que dariam para publicar duas outras edições. A segunda edição já está pronta e deve ser lançada em breve. “O volume de artigos é tão grande que já estamos planejando a terceira edição”. Mesmo assim, a editora da revista pede que quem queira contribuir com as próximas edições da revista participando delas pode enviar artigos ou trabalhos científicos e resenhas para o e-mail: editor@ revistaterceiramargem.com

São aceitas colaborações em quatro idiomas (português, francês, espanhol e inglês) e devem apresentar título, resumo e palavra–chave em algum dos idiomas citados quando o texto estiver em português e seguir as recomendações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A revista, lançada, oficialmente, na Feira do Livro, em Belém, está à venda no site da Editora “Expressão Popular”: https://www.expressaopopular. com.br/livros/outras-expressoes/ revista-terceira-margem-amazonia-ano-1-no-1-2012 .

personagens publicadas nos sites das telenovelas e entrevistas concedidas pelos atores sobre seus papéis. A partir daí, os entrevistados confirmavam ou não as opiniões anteriores. Entre outras observações, a metodologia possibilitou ao pesquisador analisar se seus interlocutores demonstram alguma atitude de preconceito contra os metrossexuais. Um dos entrevistados, por exemplo, revelou que gasta quase 30% do salário com roupas, gosta de frequentar lugares refinados, comer bem, malhar em academia e usar cosméticos, mas não se considera metrossexual, porque, para ele, gastar muito tempo

cuidando de si torna a pessoa fútil. Para o autor do estudo, este posicionamento revela um preconceito contra o metrossexual, ao representá-lo como alguém preocupado apenas com a própria vaidade, a ponto de se tornar uma pessoa frívola, leviana, sem consistência. A fala de alguns entrevistados revelou também outro aspecto: “a questão da vaidade ficou convencionada como uma característica da feminidade. Então, se um homem é vaidoso, logo surge o preconceito contra a sua sexualidade”, explica o pesquisador. Outra observação retirada das entrevistas desmente o mito de que os

homens não assistem a telenovelas. Segundo Edyr Oliveira Júnior, alguns entrevistados disseram não assistir a elas, mas ficou evidente que se referiam àquele momento, pois revelaram, em seguida, ter experiências anteriores com telenovelas. “Este aspecto é importante, porque, a partir do que eles veem nas telenovelas, isso pode ser ressignificado para o dia a dia”, diz o pesquisador. “Meus entrevistados disseram que consideravam importante o metrossexual aparecer nas telenovelas para dar mais visibilidade ao tema, além de gerar debate, crítica e conhecimento.”

Preocupação com a aparência é exigência da sociedade Como uma das faces do comportamento masculino, o modo de ser metrossexual aponta para um cuidado cada vez maior dos homens com a aparência. Dos entrevistados pela pesquisa, todos apresentaram certo grau de vaidade, indicando não estarem totalmente despreocupados com a aparência. “Eles disseram que preferem ir a um salão de beleza, porque lá sempre há possibilidade de fazer mais coisas que apenas um corte simples”, além disso, “ esses homens também cuidam das unhas,

sobrancelhas, pele...”, ressalta o pesquisador. Tais cuidados com a aparência revelam muito sobre a sociedade em que se vive. Segundo Edyr Oliveira Júnior, “vivemos numa sociedade imagética, em que se dá enorme valor à aparência. Cuidar mais de si é uma exigência dos nossos tempos. O metrossexual apenas exagera nisso, no sentido de querer estar sempre no centro da cena contemporânea. E, para tal, faz muitas coisas, inclusive, lipoaspiração, tratamento cirúrgico e

utilização de cremes.” Esta preocupação em “fabricar” corpos mais bem delineados ganha força na adolescência, mas pode estar presente desde a infância, como revelaram os entrevistados pela pesquisa. Mas, nesta fase, o processo é mais complicado, pois vai depender da relação com os pais. Não há, porém, um momento para encerrar. “Essa forma de masculinidade que valoriza a vaidade pode permanecer até os 40, 50 anos... Não há um limite etário, segundo meus interlocutores,

para se cuidar da aparência”, afirma o pesquisador. Do ponto de vista do mercado, ele observa que o marketing se apropriou do termo para poder ampliar o nicho mercadológico masculino, antes, restrito a revistas para homens, cigarro, carros e cerveja. Hoje, é possível encontrar uma enorme quantidade de produtos e serviços voltados para o público metrossexual. Edyr Oliveira Júnior conclui que os homens estão, sim, cuidando mais de si.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2013 –

Inovação

Povos Indígenas

H

á um discurso, historicamente construído, que apresenta o nativo amazônico como subalterno, dependente, destituído de voz ativa e de poder de interferência em sua própria história. Construído pelo colonizador, o europeu, com o propósito de justificar a exploração do colonizado, do nativo amazônico, essa narrativa vem sendo, aos poucos, desconstruída. Isso se explica pelo recente ingresso das comunidades indígenas da Amazônia na internet, o que lhes tem proporcionado um grande poder de articulação com o mundo. Exemplo disso são os Suruís de Rondônia, os quais vivenciam, atualmente, um processo de inserção no cenário tecnológico globalizado. Com o objetivo de descrever e analisar essa experiência da comunidade indígena do Povo Paiter-Suruí, situada entre Rondônia e Mato Grosso, a pesquisadora Tamiles do Espírito Santo Costa desenvolveu a Dissertação Amazônicos e tecnológicos: os Suruís de Rondônia e suas articulações globais. O trabalho foi defendido no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e teve a orientação do professor Otacílio Amaral Filho. Segundo Tamiles Costa, a ideia do trabalho surgiu a partir de uma perspectiva conceitual bem definida, a questão do “ver” e do “olhar”. “‘Ver’ e ‘olhar’ são ações que determinam, respectivamente, menor e maior intervenção do sujeito no acontecimento da visão. O sujeito

Wagner Meier

Internet permite que comunidade se articule e se mobilize no cenário global

Aplicativo para TV Digital oferece aos usuários informações sobre saúde Vitor Barros

A

Inserção tecnológica dos Suruís de Rondônia evidencia a interferência do índio amazônico na própria história que vê é um vidente passivo, que não questiona, ou seja, que aceita as coisas tal como elas são. O ‘olhar’, ao contrário, prediz um vidente ativo, indagador, isto é, que vai aos entremeios”, explica. De acordo com a pesquisadora, a comunidade Suruí, por conta de sua capacidade de ação e articulação, enquadra-se no conceito de ‘olhar’. Para realizar o trabalho, a pesquisadora fez um levantamento bibliográfico sobre a constituição

mítica sobre a Amazônia para, a partir disso, refazer o percurso de construção do imaginário sobre o colonizado. A segunda parte do trabalho mostra quem são os Suruí, seus projetos, suas articulações externas e sua relação com a mídia. Além disso, apresenta uma análise fenomenológica, apoiada em uma pesquisa de campo na associação e na reserva indígenas do povo Paiter-Suruí. “A análise fenomenológica é sucinta, feita para atender não só a

um fim antropológico, mas também ao campo da comunicação. A fenomenologia foi usada na tentativa de compreender como os Suruí enxergam as transformações que vivenciam”, explica Tamiles Costa. Por último, o trabalho analisa, a partir da experiência Suruí, o diálogo entre tradição e modernidade, bem como entre tecnologia e cultura e finaliza com uma abordagem sobre o hibridismo cultural, a qual desponta no mundo contemporâneo.

Google disponibiliza ferramenta para biomonitoramento Com base em materiais divulgados na internet sobre as parcerias firmadas pelos Suruí, com destaque para a formalizada com a multinacional tecnológica Google, a pesquisadora realizou o trabalho com o intuito de mostrar a mudança de posição do índio amazônico, relegado, historicamente, à condição subalterna. Segundo Tamiles Costa, o trabalho mostra que, no atual cenário tecnológico, o índio amazônico tem ganhado voz e capacidade de interferência em sua própria história. Em especial, por conta do uso da internet.

Serviço prestado por meio da televisão

Em 2000, com o intuito de coibir os conflitos fundiários e a exploração ilegal de madeira em seu território, os indíos Suruí começaram a estabelecer parcerias com agentes que, assim como eles, militassem em favor da preservação ambiental. Em 2008, os Suruí de Rondônia (como são nacionalmente conhecidos) ou Paiter-Suruí (como se autodenominam) firmaram uma parceria com o Google Inc., uma das maiores empresas tecnológicas do mundo. Nos últimos anos, portanto, os Suruí têm acumulado um recurso

muito caro, o chamado capital social. “Capital social é o conceito-chave do trabalho. Esse conceito prevê articulações entre agentes com interesses comuns. Toda articulação que implica envolvimento cívico, ação coletiva gera capital social”, explica a pesquisadora. Segundo Tamiles Costa, a partir da associação que os Suruí firmaram com a Google Inc., os Suruí ultrapassaram as fronteiras municipais, estaduais e nacionais, expandindo seus canais de comunicação com o mundo. A parceria

com a Google Inc. permitiu que os Suruí começassem a atuar, por exemplo, no combate à exploração ilegal de madeira em suas terras. “Por conta da parceria com o Google Inc., os Suruí têm, agora, uma ferramenta eletrônica chamada Google Earth Engine, utilizada no biomonitoramento do território Suruí. Agora, com essa ferramenta, eles podem localizar onde existe retirada ilegal de madeira e divulgar na internet, em tempo praticamente real, as imagens do responsável por isso”, conta.

televisão é uma das mais importantes fontes de informação, cultura e entretenimento da população brasileira. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 90% dos lares, no País, possuem um ou mais aparelhos. Atualmente, o mercado convive com vários modelos. Um deles é a TV Digital (TVD). A tecnologia mudou não apenas a maneira do telespectador assistir à televisão, mas também a forma como ele consome produtos midiáticos. Imagine que a TV possa, em um futuro não muito distante, disponibilizar, por meio de aplicativos, serviços básicos como saúde e educação. A façanha foi realizada por meio do Projeto de pesquisa “Um framework para desenvolvimento e disponibilização de aplicações interativas para SBTVD: Um estudo de caso em Telessaúde utilizando a infraestrutura de telecomunicações do Navegapará como canal de retorno”, do Laboratório de Planejamento de Redes de Alto Desempenho (LPRAD) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Os participantes estudaram e desenvolveram um aplicativo para TV Digital chamado ZéGotinhaTV. A inovação traz o conceito de t-saúde, que se refere a qualquer serviço na área de saúde, prestado por meio da interatividade da TV digital, isto é, um cidadão comum, com as ferramentas adequadas, pode fazer consultas com um médico pelo mesmo meio em que curte seu programa favorito. A interatividade na TVD é a possibilidade de o telespectador estar mais próximo ao programa de televisão, controlando tudo pelo con-

Alexandre Moraes

Paiter-Suruí imersos na tecnologia

Pedro Fernandes

9

ZéGotinhaTV, o aplicativo para TV Digital, permite que serviços de saúde sejam prestados por meio da televisão trole remoto. “Quando se fala em TV Digital interativa, significa considerar a televisão como um canal de retorno, isto é, o usuário passa a ser um agente ativo. Ele pode opinar, interagir e até escolher a própria programação", explica Marcos Seruffo, professor da Faculdade de Sistema de Informação do Campus Castanhal da UFPA e integrante do LPRAD. Por meio da interatividade, o ZéGotinhaTV pretende informar e ensinar a população a ter conscienti-

zação sobre a doença epidemiológica, bem como evitá-las, principalmente, por intermédio da vacinação. Concebido para ser utilizado com o Sistema Brasileiro de TVD, o aplicativo pode alcançar locais de difícil acesso, além de permitir a criação, o acesso e a atualização de um grande banco de dados sobre a saúde da população nas cidades, as quais o projeto possa abranger. Esse banco de dados possibilita o acesso à informação de vacinação

dos domiciliares, como se fosse um cartão de vacinação virtual. O usuário também pode receber informações sobre campanhas de vacinação, por meio de mensagens com datas, sobre postos de saúde mais próximos que possuem vacinas e sobre as epidemias que estão em alerta em sua área residencial. A cada vez que uma criança visitar um posto de saúde, o agente poderá acessar a base de dados dela e, assim, manter o controle de vacinação daquela criança.

Escolha do aparato considera as características da região O projeto de pesquisa foi realizado em parceria entre a UFPA, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e a Universidade do Vale do Itajaí (Univali/SC) e financiado pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). O projeto escolheu a TVD para a aplicabilidade desse recurso, levando em consideração as condições de infraestrutura da Região Amazônica e de outras regiões mais carentes do Brasil. Embora a internet não seja uma realidade para todos no País, a Região Amazônica conta com uma combinação

de várias tecnologias que dão acesso à internet, entre elas: 3G, WiMAX, Mesh e ADSL. Esse fato constitui um entrave na viabilidade do aplicativo, pois nem todas as pessoas possuem computadores, smartphones ou tablets. Ao considerar o alcance da TV no mercado e a facilidade de acesso a ela, mesmo em regiões longínquas, esta se torna a melhor opção para o projeto. Além disso, "a televisão é o suporte mais viável para esse tipo de serviço, porque traz a possibilidade de um canal retorno", acrescenta Marcos Seruffo.

Dessa forma, a iniciativa precisou desenvolver outras atividades relacionadas à criação do aplicativo. A Univali, por exemplo, ficou responsável pela usabilidade, isto é, procurou pensar a melhor forma que o usuário pode interagir com o recurso. Segundo afirma o professor da UFPA, "a aplicação deve ser boa o suficiente e servir às necessidades do usuário. Se o usuário dispuser de apenas um botão no controle remoto, por exemplo, o aplicativo deverá utilizar apenas um botão.”

Outra atividade da pesquisa destaca-se por uma curiosidade, assim como no Android e nos outros sistemas operacionais, é possível criar um appstore para a TVD. Os appstores são lojas virtuais que disponibilizam programas, softwares e aplicativos para incrementar aparelhos mobile e navegadores de desktops, a exemplo do Andoid Market, Windows Store e outros. Na TVD, o usuário poderá contar com um repositório de aplicativos para downloads. Essa faceta da pesquisa foi desenvolvida pela UFPB.

Pesquisa destaca as articulações por meio do ciberespaço

Premiado em 2012, o projeto promove a inclusão digital

Os Suruí de Rondônia dispõem de um ponto de cultura, na Associação Metaleirá, localizada em Riozinho, distrito do município rondoniense de Cacoal, próximo à reserva indígena Suruí. Ali, acontece a chamada “Educação Digital”. Nesse ponto de cultura, os Suruí aprendem a acessar a internet, a criar blogs, a produzir materiais audiovisuais, entre outras atividades. De 2008 a 2012, houve três

O projeto foi finalizado no ano passado e, ao longo do percurso da pesquisa, foram feitos encontros presenciais, nos quais foram definidos desde o escopo do projeto até a socialização dos testes da tecnologia. O último encontro que formalizou a integralização do projeto com toda equipe foi feito em Belém, no LPRAD, que está aparatado com o que o pesquisador chama de Arquitetura de TVD digital – a qual

períodos de capacitação, feitos pela Google Inc. Em 2010, houve o treinamento para o uso de smartphones e de aparelhos de Global System Positioning (GPS) visando ao biomonitoramento da floresta. Em 2012, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, foi divulgado, on-line, o Mapa Cultural Suruí em terceira dimensão (3D), o qual

apresenta os elementos da tradição suruí, narrados pelos próprios Suruí. Tamiles Costa destaca, porém, que o objetivo principal do trabalho não é tratar da inclusão digital. Para a pesquisadora, os principais fatores a serem considerados são os diálogos, as articulações e as mobilizações que a internet proporciona. “É importante ressaltar que a internet é mais um meio de comunicação. O ponto chave da

questão são as articulações, e o papel da internet é facilitar essas articulações. Nesse sentido, o mais importante é o capital social, ou seja, os interesses partilhados pelas pessoas, que, quando agrupadas, conseguem atingir um objetivo comum. Isso por meio da internet, do telefone, de uma interação face a face ou por outro meio. O principal é o diálogo. É o diálogo que permite mudar, avançar”, conclui.

conta com sistema de transmissão, conversão e recepção de sinal de TV. Os resultados da tecnologia foram avaliados por um representante da RNP, atestando a viabilidade e a aplicabilidade do recurso desenvolvido. Um dos fatos que confirmam a importância do aplicativo desenvolvido no LPRAD foi a premiação do artigo Desenvolvimento de aplicação de Telessaúde para ambiente de TV Digital, que garantiu à equipe de

pesquisadores o prêmio de melhor artigo na Conferência Internacional da IADIS, edição 2012, em Lisboa, Potugal. Para além do aspecto tecnológico do projeto, a pesquisa traz uma preocupação atual: a inclusão digital e social. No Brasil, a desigualdade ainda é patente, considerando a grande exclusão tecnológica e digital. Diante desse gargalo, o projeto apresenta uma plataforma em que o

telespectador pode ter acesso a conteúdos que buscam a conscientização, a saúde, o bem-estar, a qual está voltada para regiões que tenham carência de infraestrutura e de acesso a bens tecnológicos. “A Região Amazônica é muito carente e uma aplicação como esta é favorável, pois é flexível. Essa aplicação é real, além de viável, pois ela não é um protótipo. Ela foi testada e visualizada em laboratório", conclui o pesquisador Marcos Seruffo.


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Maio, 2013 –

Infância

Alexandre Moraes

Arquitetura

EM DIA

Brincadeiras motivam estudo

P

Uma das linhas de trabalho do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação da UFPA concentra-se na azulejaria presente na Região Amazônica

Lacore conserva e restaura o patrimônio

Laboratório também realiza intervenções em sítios históricos da Amazônia Paloma Wilm

A

arquitetura nortista apresenta um acervo diversificado, com destaque para representativos bens coloniais, ecléticos, art noveau, art décor e modernistas, além de exemplares como chalés de madeira e em metais, na chamada arquitetura do ferro. Belém, como uma das mais importantes e antigas cidades da região, com 397 anos de existência, é permeada por edificações seculares, que receberam influências de diversos movimentos estilísticos conforme o momento histórico em que se inseriram na paisagem. Ciente da diversidade cultural da região e inspirado no acervo arqui-

tetônico e urbanístico de Belém, o Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (Lacore), do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), criado em 2006 e inaugurado em março de 2011, desenvolve um trabalho focado na conservação e restauração de patrimônio arquitetônico e urbanístico na Amazônia, abrangendo as áreas de pesquisa e extensão. O Lacore introduz a interdisciplinaridade da tecnologia da conservação e da restauração, de modo a proporcionar um conhecimento tecnológico básico ao profissional arquiteto e urbanista para atuar na salvaguarda do patrimônio edificado e urbanístico. O Laboratório também conta com pesquisas relacio-

nadas às intervenções em sítios históricos, visando à reabilitação de áreas de preservação arquitetônica, urbanística e cultural. Tendo sua coordenação de pesquisa sob a responsabilidade da professora Thaís Sanjad e a coordenação de extensão, da professora Roseane Norat, o Lacore desenvolve, atualmente, três projetos de iniciação científica e trabalha com restauração e conservação de azulejaria e outros materiais, tais como rochas, ladrilhos, argamassas, pinturas, metais e vidro, na área prática laboratorial. Além disso, o laboratório trabalha com projetos em parceria com o Núcleo de Tecnologia da Preservação e da Restauração (NTPR/UFBA), o Insti-

tuto de Geociências (IG) da UFPA, o ICOMOS Brasil e o Museu Paraense Emílio Goeldi. Segundo a professora Thaís Sanjad, o Lacore desenvolve o conhecimento por meio da pesquisa laboratorial, estudando a melhor maneira de conservar, restaurar e replicar o patrimônio arquitetônico. Utiliza-se, também, da extensão, fazendo o desenvolvimento de tecnologias para a aplicação dos conhecimentos, na qual a prática fica evidente. “Começamos trabalhando com os azulejos e estamos sendo muito procurados por esse trabalho, seja por proprietários de edificações, seja pela própria Secretaria de Estado de Cultura (Secult)”, conta a coordenadora.

Grupo avalia o processo de degradação das edificações O Lacore é composto por alunos de Iniciação Científica, por alunos do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) e do Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica (PPGG), que estudam, por meio dos projetos de pesquisa, os materiais que compõem as edificações de Belém, observando a estrutura, o processo de degradação, o modo de conservação adequado e a técnica de restauro ideal a ser empregada. Os atuais projetos de pesquisa do Lacore são: Ciência da conservação e da restauração na Amazônia,

que, no momento, estuda a arquitetura do Cemitério de Nossa Senhora da Soledade, localizado na avenida Serzedelo Correa, centro de Belém; Patrimônio azulejo setecentista de Belém, relativo aos estudos dos azulejos do Colégio Santo Antônio; e Análise e concepção do ambiente construído na Amazônia, um projeto também trabalhado dentro do PPGAU, que busca produzir conhecimentos científicos e tecnológicos sobre a arquitetura amazônica, em parceria com outras universidades nacionais. A professora Thaís Sanjad desta-

ca que, no Cemitério de Nossa Senhora da Soledade, os túmulos datam do século XIX, possuindo, assim, muitos materiais importados da Europa, como os azulejos, as rochas e os gradis. “Nesse projeto, temos várias pesquisas sobre os materiais utilizados no cemitério, por exemplo, os portões dos túmulos e os vitrais. Avaliamos, então, as formas de degradação e as melhores técnicas de limpeza a serem empregadas na conservação e restauração das estruturas arquitetônicas. Essa pesquisa fomentou o interesse de diversos órgãos ligados à preservação do patrimônio arquitetôni-

co, os quais planejam apoiar o projeto e contribuir com um suporte técnico para a restauração”, explica. O Projeto Patrimônio azulejar setecentista de Belém tem como foco os azulejos do Colégio Santo Antônio, pois são os azulejos mais antigos da cidade, que datam do século XVIII. De acordo com a professora Sanjad, os painéis são os únicos remanescentes da azulejaria setecentista que existiu em Belém, no entanto, até o presente momento, não há uma documentação precisa de cada unidade. Este é um dos objetivos da pesquisa.

Azulejos revelam a influência de outros países na região Para a professora Thaís, “os azulejos são peças importantíssimas, tanto na história de nossa arquitetura quanto na história da cidade, pois eles, além de serem patrimônio histórico, artístico e cultural, são um documento da nossa cultura. A azulejaria mostra a presença da influência de outros países na nossa cultura, principalmente, durante o período do Ciclo da Borracha, quando existia o livre comércio.” Atualmente, o Lacore encerrou

o trabalho com os azulejos do Palacete Victor Maria da Silva, os quais foram objetos de furto e depredação em fevereiro de 2012. Os fragmentos foram encaminhados pela Secult ao Lacore, que fez a catalogação e a higienização inicial, para, então, retornarem ao proprietário. Durante a Feira do Livro, em 2012, o Lacore confeccionou 150 azulejos artesanais na técnica de decalcomania para a Secult.

As professoras Thais Sanjad e Roseane Norat participaram, em maio de 2012, do Itinerant Course On Stone Conservation, do projeto CHARISMA (Cultural Heritage Advanced Research Infrastructures: Synergy for a Multidisciplinary Approach to Conservation and Restoration), em Lisboa, Portugal, abrangendo temas relacionados aos materiais de rochas com os métodos de conservação, as fases de imple-

mentação de intervenções de conservação e a abordagem de conceitos sobre a conservação e restauração desses materiais. Além disso, entre os dias 26 e 28 de novembro do ano passado, o Lacore coordenou e realizou o II Seminário Nacional de Documentação do Patrimônio Arquitetônico, com o uso de tecnologias digitais (ARQ.DOC) 2012, no Auditório Maria Sylvia Nunes, Estação das Docas.

ira-pega, bandeirinha, amarelinha, garrafão, peteca, brincadeiras de roda, brincadeiras com corda e elástico, pião, cabra-cega. Se você tem mais de 30 anos, deve se lembrar dessas brincadeiras. Hoje, elas deram lugar a jogos de computador, aplicativos de celular e consoles de videogame. Entretanto, a mudança de opção por parte das gerações mais novas pode acarretar, sobretudo nas crianças, sintomas de obesidade, hipertensão e outras doenças advindas pelo sedentarismo provocado por este novo tipo de entretenimento, nos quais, em muitos deles, não há movimentação física. Com o intuito de identificar e vivenciar as antigas brincadeiras denominadas “jogos tradicionais”, parte do repertório infantil em alguns lugares, como no Norte do Brasil, e de conhecer os que ainda são praticados em nosso país e suas variações, em virtude das características culturais e regionais, o Laboratório de Atividades Lúdicas (LUDLAB) do curso de Licenciatura Integrada em Educação em Ciências, Matemática e Linguagens do Instituto de Educação Matemática e Científica da Universidade Federal do Pará (IEMCI/UFPA) desenvolveu o Projeto “Universidade

Alexandre Moraes

LUDLAB incentiva jogos tradicionais entre as crianças Helder Ferreira

"Jogos Tradicionais da UFPA" reuniu 200 crianças no Campus Guamá Criança - Jogos Tradicionais”, que culmina com o evento dos “Jogos Tradicionais da UFPA”. O objetivo do projeto é investigar e conhecer brincadeiras antigas ainda praticadas por crianças na Região Norte do País e analisar suas diferenças e variações pelo Brasil, em virtude das diferenças culturais e regionais dos Estados e, ao mesmo tempo, propiciar às crianças do entorno do campus da UFPA a oportunidade de vivenciar estas brincadeiras, no evento denominado “Jogos Tradicionais da UFPA”.

A primeira edição do evento ocorreu em outubro de 2012. Aproximadamente 200 crianças estiveram presentes na Cidade Universitária José da Silveira Netto, em Belém. Este evento em específico comemorou o “Dia da Criança”, sendo uma iniciativa conjunta entre o IEMCI, por meio do LUDLAB, e da Pró-Reitoria de Extensão da UFPA (PROEX), com o apoio do Clube de Ciências do IEMCI, do Núcleo Escolar de Qualidade de Vida do campus da UFPA em Castanhal, e do Serviço Social da Indústria (SESI/Pará).

“O laboratório pretende que se almeje e propicie, entre as condições necessárias à formação de uma docência qualificada de futuros professores das séries iniciais do ensino fundamental, a possibilidade do fortalecimento dos princípios norteadores elencados no corpo do projeto pedagógico do curso, tais como: o desenvolvimento da sensibilidade, da autonomia, da criatividade e dos princípios didático-pedagógicos”, salientou Ana Cristina Pimentel. É notório que as crianças de hoje não se utilizam mais de brincadeiras como na infância de nossos pais e avós. Sobre isso, a professora Ana Cristina Pimentel cita a diminuição do interesse das novas gerações pelos jogos tradicionais. “A diminuição da presença dos jogos tradicio-

nais na infância envolve uma série de fatores, porém, entre eles, considero o crescimento urbano um limitador. Se por um lado o crescimento das cidades favorece a população de um modo geral, o mesmo não se pode falar em relação aos jogos tradicionais, pois estes perderam espaço nas ruas e nos quintais das residências urbanas.” Neste cenário, os jogos eletrônicos ganham cada vez mais espaço. A comodidade e a capacidade de absorção do tempo livre despertam o interesse das crianças. “Os jogos eletrônicos, em si, não são o principal problema, mas sim o tempo que se passa envolvido com ele, pois a criança deixará de desfrutar da companhia do colega e de aprender a enfrentar os desafios de uma convivência diária no brincar.”

Características do Pará favorecem a lucidicidade Como uma atividade lúdica que exige muito do físico, os jogos tradicionais proporcionam vários benefícios à saúde das crianças. “Os pesquisadores concordam que a atividade lúdica é importante e necessária à vida infantil. O professor e historiador Johan Huizinga dizia que, nela, há algo ‘em jogo’ que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido à ação. Para a professora Gisele Maria Schwartz, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a criança é automotivada para qualquer prática,

Programação O Centro de Memória da Amazônia (CMA) realiza programação, este mês, com o tema "trabalho". Haverá palestras e mesas-redondas. Os participantes poderão fazer parte de uma Oficina de Higienização e Discussão de Documentos de Acidentes de Trabalho e também conferir as sessões de cinema CineFOX. As atividades são realizadas no horário das 9h às 17h, na sede do CMA, localizada na travessa Rui Barbosa, 491, bairro Reduto, em Belém.

Intercâmbio

Crescimento urbano limita acesso ao passatempo A criação do LUDLAB ocorreu em 2011, pela então diretora do IEMCI, professora Terezinha Valim Oliver Gonçalves. “A ideia era atender as expectativas de um projeto inovador, proposto no curso de graduação e criado por intermédio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), do governo federal. Como professora do Instituto, recebi o convite para coordená-lo em virtude da minha formação acadêmica”, lembra a professora Ana Cristina Pimentel C. de Almeida. O grupo de estudos do LUDLAB, ainda em consolidação, conta com a participação de alunos de graduação e pós-graduação, bem como da professora Elane Monteiro.

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principalmente a lúdica. Para a escritora americana Jill Schaefer, as atividades lúdicas propiciam ou restabelecem o bem estar psicológico da criança. Já a educadora Santa Marli Pires dos Santos vai além e apresenta a ludicidade como ciência e, para tal, fundamenta-se em quatro eixos: o sociológico, o psicológico; o pedagógico e o epistemológico”, pontua Ana Cristina Pimentel. A pesquisa da prática dos jogos tradicionais também envolve o aspecto cultural. A nomenclatura dos jogos mudam de Estado para Estado,

por exemplo, a brincadeira “pique”, conhecida por este nome em Minas Gerais e no Rio de Janeiro; no Pará, é “pira-pega”. Segundo a professora, o Pará, em comparação com outras regiões do Brasil, ainda mantém, em alguns lugares, a prática dos jogos tradicionais. “Em função da dimensão territorial e do limitado acesso à tecnologia, como a internet, em muitos municípios, o Pará ainda apresenta maiores possibilidades da prática dos jogos tradicionais e sua manutenção no cotidiano das crianças.”

O Consulado Geral do Japão recebe, até 29 de maio, inscrições para pleitear bolsas de estudo no Japão para a modalidade de pesquisador e, até 28 de junho, para graduação, escola técnica e curso profissionalizante. A seleção é feita por meio de análise de documentos, prova escrita e entrevista. Os benefícios são ajuda de custo, passagem aérea de ida ao Japão e de volta e pagamento das despesas escolares e hospitalares. Para outras informações, acesse o site www.belem.br.emb-japan. go.jp/.

Física I O professor Sanclayton Carneiro, da Faculdade de Física do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN), recebeu homenagem na Universidade Federal do Ceará (UFC), em comemoração aos 20 anos da primeira tese de doutorado defendida, no Estado do Ceará, no Programa de Pós-Graduação em Física da UFC. A homenagem ocorreu em abril, em Fortaleza. O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), professor Emmanuel Tourinho, também prestigiou o pesquisador.

Física II A Tese Efeitos de Temperatura em Teoria Quântica de Campos na Frente de Luz, a primeira em Física na Região Amazônica, foi defendida no dia 26 de abril, no auditório do Laboratório de Física-Pesquisa. O aluno Charles da Rocha Silva, professor do Instituto Federal do Pará (IFPA), foi orientado pela professora Silvana Perez, do Programa de Pós-Graduação em Física da UFPA. O estudo resultou na publicação de um artigo original na conceituada revista internacional Physical Review D.

Premiação Até 2 de junho, professores, técnico-administrativos e alunos de graduação, de pós-graduação e de cursos técnicos da UFPA podem submeter projetos de extensão ao Prêmio Proex de Arte e Cultura 2013. No total, serão contemplados 35 projetos, cinco para cada uma das sete categorias expostas no edital. Os projetos contemplados serão premiados com o valor de R$ 5 mil. Outras informações podem ser encontradas no site da Pró-Reitoria de Extensão, www.proex.ufpa.br.


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Melhor Idade

Salário mínimo garante aos idosos e às pessoas com deficiência acesso a direitos básicos Em Belém, Centros de Referência da Assistência Social realizam o atendimento inicial para que os usuários recebam o Benefício de Proteção Continuada (BPC)

Idosos e pessoas com deficiência em condição de vulnerabilidade social conseguem, por meio do BPC, ter autonomia para administrar demandas urgentes

Pedro Fernandes

O

Benefício de Proteção Continuada (BPC) é um benefício assistencial previsto na Constituição Federal, no Estatuto do Idoso e na Lei Orgânica da Assistência Social. O objetivo do BPC é auxiliar os idosos e as pessoas com deficiência que se encontram em condição de vulnerabilidade social e econômica a fim de que tenham acesso aos direitos sociais básicos. É um benefício individual, não vitalício e intransferível que assegura o valor de um salário mínimo mensal – atualmente, fixado em R$ 678,00 – às pessoas a partir de 65 anos ou mais e às pessoas com deficiência, de qualquer idade, com

impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial. A gestão do BPC é realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), por meio da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS). A operacionalização compete ao MDS e ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O BPC corresponde à dimensão não contributiva da proteção social, ou seja, compreende a um aspecto da proteção desvinculado do sistema de contribuição previdenciário. Trata-se da dimensão pública da proteção social. Com o objetivo de analisar os efeitos dessa política pública na capital paraense, a pesquisadora da

Universidade Federal do Pará (UFPA) Lívia Araújo de Oliveira desenvolveu a Dissertação Proteção social não contributiva: um estudo sobre o BPC destinado aos idosos em Belém (PA). O trabalho foi defendido no âmbito da Pós-Graduação em Serviço Social (PPGSS) da UFPA e teve a orientação do professor Carlos Alberto B. Maciel. Em Belém, o BPC funciona a partir da articulação entre os Centros de Referência da Assistência Social (Cras), o Polo BPC/Belém e as Agências da Previdência Social. “Os Centros de Referência são unidades responsáveis pelos atendimentos às famílias usuárias da Política de Assistência Social. Eles fazem a

captação dos usuários no momento do atendimento inicial e, se for demanda de BPC, encaminham ao Polo BPC/ Belém, o qual faz o intermédio com a Agência da Previdência Social mais próxima da residência dessas famílias”, explica Lívia Araújo. Para solicitar o BPC, o idoso deve procurar o Cras do bairro onde mora ou ir diretamente ao Polo BPC/ Belém. Ele tem de comprovar que não tem como garantir o próprio sustento, nem de tê-lo provido pela família. Além disso, a renda familiar per capita mensal deve ser inferior a um quarto do salário mínimo mensal vigente. Não é necessário que ele tenha contribuído e/ou não contribua com a Previdência Social.

Recurso garante segurança e independência no dia a dia A pesquisa de Lívia Araújo de Oliveira buscou conhecer a percepção dos idosos beneficiados com o BPC mostrando a opinião deles a partir de dados quantitativos e qualitativos. A ideia foi compreender o olhar deles em relação ao recebimento do provento, bem como o significado do benefício na inclusão social e na autoestima do idoso. “Obtive respostas surpreendentes, passando por diversos olhares, desde a percepção do BPC como ‘ajuda do governo’, até em relação ao BPC como ‘um direito para os idosos que não podem trabalhar’, contemplando, claro, a insuficiência do valor do benefício e a baixa articulação, sobretudo, com a política de saúde”, explica a autora da dissertação.

Os resultados da pesquisa mostram que 60% dos idosos acreditam que o BPC “é uma ajuda do governo” como direito adquirido com a melhor idade. Outros 40% apontam o BPC como uma aposentadoria do governo, deixando claro que compreendem o benefício como um direito, embora reclamem das dificuldades para adquiri-lo. Além disso, do total de entrevistados, 55% apontam que o BPC garante certa segurança e independência no dia a dia. “Isso nos mostra que o benefício não atende apenas necessidades materiais. Ele também implica autonomia”, afirma Lívia Araújo de Oliveira. A maioria dos entrevistados – 85% – afirma que, com o BPC, as condições de vida

melhoraram. “Esses números nos dão um panorama sobre a efetividade e o alcance do BPC destinados aos idosos”, comenta a pesquisadora. De acordo com a pesquisa, o BPC tem se mostrado eficiente, ou seja, tem proporcionado bem-estar aos idosos. A maior parte dos entrevistados – 55 % – está satisfeita com o benefício. “Não restam dúvidas de que um benefício garantido mensalmente, regular e certo, com o qual se pode contar, evidentemente modifica a postura do usuário diante das vicissitudes da vida, dando-lhe mais segurança financeira e o mínimo de planejamento em relação às necessidades mais urgentes”, afirma a pesquisadora.

Ademais, Lívia Araújo de Oliveira destaca que o BPC é uma das mais importantes iniciativas ocorridas no campo dos direitos sociais dos idosos. Segundo a pesquisa, o BPC alcança milhares de famílias e alivia, por exemplo, a situação de insegurança alimentar dos idosos, mesmo que de forma mínima. “Ele proporciona ao usuário - a partir da segurança em relação ao atendimento de suas necessidades mais urgentes - uma mudança de postura social e política, que podemos chamar de independência, emancipação ou segurança econômica. O BPC modifica a posição do idoso na família e na sociedade. Assim, ele se torna protagonista de sua história”, conclui.

Alexandre Moraes

Os benefícios assistenciais, como o BPC, diferem dos benefícios previdenciários. Ambos são, no entanto, políticas de assistência social que atendem ao idoso. Nesse sentido, a pesquisadora da UFPA Elody Boulhosa Nassar desenvolveu a Tese Envelhecimento populacional e Previdência Social: a questão social da longevidade e o financiamento dos sistemas previdenciários, sob a ótica do princípio da solidariedade. O estudo mostra as tendências do envelhecimento populacional no Brasil tendo como base o sistema de proteção ao envelhecimento garantido pela Previdência Social Pública. “A longevidade que se busca tão veementemente é fator de inquietação nas sociedades contemporâneas, sobretudo no enfrentamento das questões sociais relacionadas à velhice e à proteção social no campo da Seguridade Social”, afirma Elody Boulhosa Nassar. O trabalho foi apresentado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) da UFPA e teve como orientador o professor José Claudio Monteiro de Brito Filho. Algumas questões norteiam o estudo. Como a sociedade contemporânea vê o envelhecimento? Por que ele constitui uma questão social? Por que o envelhecimento causa preocupação do ponto de vista econômico? Por que o envelheci-

Recursos previdenciários não são destinados para o benefício dos idosos

mento gera a necessidade de redução de direitos sociais conquistados? E, por fim, que valores, do ponto de vista dos direitos humanos, devem ser preservados na elaboração das políticas relacionadas ao envelhecimento? O crescimento da população idosa no Brasil é patente. Mais que isso, é uma conquista. Diante dessa realidade, novas políticas de proteção e inclusão social fazem-se necessárias. Assim, cumpre ao Estado garantir aos idosos os direitos sociais básicos previstos na Constituição. Entre eles, a previdência digna. Todavia, de acordo com o ponto de vista econômico, a longevidade também é um problema. Segundo esse pensamento, o aumento do número de pessoas que alcançam a longevidade cria déficits no sistema previdenciário. Por conta disso, há a necessidade de fazer ajustes na Previdência. São as chamadas “reformas previdenciárias”. “Dentro da perspectiva de um Estado neoliberal, não intervencionista, essa perspectiva de crise, do déficit na previdência, fez com que se desenvolvessem as ideias das reformas previdenciárias. E essas reformas tomaram corpo por força de orientações de organismos internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial”, conta a pesquisadora.

Contribuições são destinadas a outros fins; daí, o rombo Segundo a pesquisadora, a Constituição Federal de 1988 fortaleceu os direitos previdenciários, garantindo benefícios aos contribuintes. No entanto, posteriormente, esses direitos sociais passaram a sofrer mudanças, sendo reduzidos de forma gradativa. “A primeira reforma previdenciária ocorreu em 1988, com

a Emenda Constitucional nº 20. A segunda reforma, com a Emenda Constitucional nº 41 e a terceira reforma, com a Emenda Constitucional nº 47. Essas reformas mudaram a orientação de vários benefícios previdenciários. Independente de elas terem sido necessárias ou não, no meu trabalho, faço ver que elas estão diminuindo,

ou mesmo suprimindo, alguns direitos sociais”, explica. A pesquisadora explica que, por força de emendas constitucionais, determinadas contribuições (receitas do orçamento da Previdência) foram deslocadas para outras finalidades. “Se essas contribuições previstas para sustentar a Seguridade

são deslocadas para outras finalidades, que não para a Seguridade Social, evidentemente, haverá, aqui, o déficit previdenciário. Se todas as contribuições destinadas à Previdência, previstas na Constituição, fossem verdadeiramente aplicadas na Previdência, ela não seria deficitária”, explica.

Envelhecimento deve ser encarado como questão social Para Elody Nassar, olhar a questão social do envelhecimento (longevidade) apenas do ponto de vista econômico não é o bastante. É preciso, acima de tudo, ver a questão partindo do princípio da Solidariedade, postulado fundamental no Direito Constitucional brasileiro. “A Solidariedade está prevista na Constituição. É uma regra que norteia a Previdência Social Pública. A Previdência, por sua vez, funciona como um ciclo de contribuições. As gerações de beneficiários contribuem umas com as outras. Ou seja, há uma solidariedade entre gerações”, explica. Porém, segundo a pesquisadora, as reformas afetam diretamente o princípio da Solidariedade. “É um princípio que não deve ser esquecido, nem ser deixado de lado na propositura de qualquer alteração

Divulgação

Paulo Akira

Longevidade cria déficit no Sistema Previdenciário Público

Lógica da Previdência não é a lógica do mercado, segundo a Solidariedade

nas leis previdenciárias. É necessário resguardar o princípio da Solidariedade previdenciária para efeitos da questão social do envelhecimento. Do contrário, a velhice torna-se uma questão meramente econômica”, afirma. Desse modo, Elody Nassar elegeu o princípio da Solidariedade a fim de mostrar que a lógica da Previdência não é a lógica do mercado. “As reformas previdenciárias visam diluir a crise, o déficit gerado na Previdência em razão da questão social da longevidade. Desse modo, a formulação de políticas para a Previdência Social deve levar em conta a questão da equidade e não apenas o regime de capitalização. A Solidariedade é uma exigência ética. Mais que isso, uma ética de urgência”, conclui a pesquisadora.


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