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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março/ Abril, 2013

Fotos Laís Teixeira

Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVII • N. 111 • Março/ Abril, 2013

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Thaís Mendonça

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Física é uma ciência com base experimental que investiga a natureza. Segundo o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Física (PPGF) da Universidade Federal do Pará (UFPA), Luís Carlos Bassalo Crispino, para desenvolver a ciência teórica, o custo normalmente não é tão alto. A ciência experimental, capaz de desenvolver pesquisas para melhorar diretamente a qualidade de vida das pessoas, no entanto, demanda um pouco mais: equipamentos e tecnologia de ponta. Em 2011, foi aprovada a instalação de uma subunidade, no Pará, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A medida, além de corroborar o fortalecimento da Física Experimental, une esforços aos do PPGF, que sedia o primeiro curso de Doutorado em Física da Região Amazônica. Em princípio, as atividades do CBPF seriam desenvolvidas dentro de um espaço na própria UFPA. Porém a efetivação da descentralização do CBPF caminha a passos lentos. Beira do Rio – No ano de 2011, foi aprovada a implantação de uma unidade do CBPF no Pará. O que falta, de fato, para a instalação desta unidade? Luís Carlos Crispino – De fato, houve a aprovação da implantação de uma unidade do CBPF no Pará pelo Conselho Técnico-Científico daquela instituição. Além disso, esta implantação consta como um dos três projetos estruturantes do Plano Diretor do CBPF para o período 20112015. Porém, na prática, ainda restam alguns trâmites burocráticos a serem realizados. Existe uma sinalização positiva de várias instâncias do MCTI, do governo do Estado do Pará, do Senado e, principalmente, da administração superior da UFPA, mas ainda aguardamos a oficialização do processo pelo governo federal, pois toda instalação de uma unidade do MCTI requer orçamento para a construção de prédios, contratação de pessoal, funções gratificadas, entre outros. Ou é feito desta forma, ou devem ser realocados recursos e vagas de servidores que já estão, previamente, em algum lugar. Mas isso tem que estar previsto

no orçamento da União. Quando nós começamos a discussão sobre o assunto, há mais de três anos, era um excelente momento para a ciência e tecnologia nacionais. Hoje, a configuração é um pouco diferente, pois tivemos cortes orçamentários no MCTI que vêm se reproduzindo, sucessivamente, ao longo dos anos. Da ideia inicial até hoje, esses cortes têm feito com que essa proposta caminhe lentamente. Propusemos, então, a cessão de um espaço da UFPA para que essa unidade começasse a funcionar e, depois, ele teria uma base própria. Nesse primeiro momento, haveria custo praticamente zero para o MCTI. Nos anos seguintes, haveria o desembolso de recursos pelo Ministério. Beira do Rio – Ainda que a instalação, de fato, não tenha ocorrido até então, as relações da UFPA com o CBPF continuam estreitas? Luís Carlos Crispino – Sim. Por exemplo, há um convênio de cooperação institucional entre CBPF e UFPA, por meio do PPGF, assinado em 2010. Promovemos um evento de formação do CBPF aqui, no Pará (a primeira das tradicionais Escolas do CBPF realizada fora do Rio de Janeiro), com mais de 500 inscritos, cuja programação era composta de minicursos, conferências, workshops, palestras, oficinas, entre outros. Estão em andamento Programas de Cooperação Acadêmica, chamados Procads, financiados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que envolvem CBPF e UFPA. Estes Procads preveem alocação de recursos para despesas gerais e também para passagens e diárias, tanto para a ida de pesquisadores da UFPA para o CBPF, quanto para a vinda de pessoal do CBPF para a UFPA, o que tem acontecido com frequência.Recentemente, também aprovamos um projeto que prevê recursos da ordem de R$ 4 milhões para a compra de equipamentos de ponta e realizamos programas de cooperação acadêmica com instituições estrangeiras. É importante destacar que, embora a instalação de uma unidade do CBPF no Pará seja importante, mais significativo é o próprio momento que estamos vivendo. Independente da instalação do Centro, a qualidade das pesquisas que estão sendo desenvolvidas aqui é significativa e isso é o fundamental. Dentro de um

ano, teremos a formação dos primeiros doutores pelo PPGF. Beira do Rio – Como o investimento em Física Experimental pode beneficiar os pesquisadores e a vida da população? Luís Carlos Crispino – A Física Teórica é de menor custo, pois precisa, grosso modo, de lápis, papel e cérebros. O custo operacional é, basicamente, o de computadores de alto desempenho, uma boa conexão com a internet e a assinatura de revistas científicas de alto nível. Mas a necessidade maior para o desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação de um país é a ciência aplicada. O desenvolvimento desta vai beneficiar, direta ou indiretamente, o dia a dia das pessoas. É preciso dar um salto tecnológico com ciência experimental de ponta e isso só vai acontecer com muito investimento em equipamentos, em qualificação de pessoal experimental. Para tanto, precisamos de quantidades razoáveis de recursos. A vinda do CBPF para o Estado do Pará está associada ao planejamento estratégico do PPGF/UFPA, pois o salto do mestrado para o doutorado é grande. O mestre é um profissional qualificado, mas ainda não habilitado a orientar pesquisas científicas, já que o mestrado é normalmente associado a uma carreia ligada à docência, à licenciatura, à formação/instrução de jovens, e não, necessariamente, a pessoas capazes de produzir ciência nova. Um curso de doutorado é capaz de formar profissionais capacitados para o planejamento e desenvolvimento de pesquisa, ciência, tecnologia, que leva à inovação. Para a formação de doutores na área teórica, não são imprescindíveis tantos recursos financeiros. Na área experimental, é necessário maior investimento econômico – precisamos de infraestrutura adequada ao desenvolvimento dessa área, equipamentos de altíssima qualidade e de última geração. Não adianta termos somente equipamentos iguais aos de outras universidades e centros de pesquisa, porque os resultados serão iguais aos que centenas de grupos têm. Para sermos mais competitivos, é importante termos equipamentos de ponta para produzir resultados verdadeiramente inovadores e de maior valor para o momento que vivemos.

Caiena, capital da Guiana Francesa, chama atenção dos migrantes brasileiros por proporcionar melhor qualidade de vida

Genética

Artes Visuais

Mostra revela interpretações sobre a região Museu da UFPA sedia a Exposição "Amazônia, Lugar da Experiência", que difunde reflexões e diálogos de artistas engajados. Página 10.

História

Pesquisadores investigam a variabilidade do DNA Coordenado pelo professor Sidney Santos, o Laboratório de Genética Humana e Médica (LGHM) da UFPA

capacita peritos forenses desde 2005 e desenvolve técnicas úteis para as polícias técnicas do país. Página 10.

Laís Teixeira

Instalação da unidade do CBPF no Estado do Pará ainda não foi concluída

Acervo do Projeto

Descentralização caminha a passos lentos

m busca de melhores condições de vida, brasileiros arriscam-se na travessia, às vezes, clandestina para a Guiana Francesa. Lá, geralmente, ocupam os postos de trabalho da construção civil. A renda obtida no país estrangeiro serve para sustentar a família que ficou do outro lado da fronteira, em Oiapoque, no Amapá. O fluxo migratório, aliás, leva não apenas as pessoas e as mercadorias, mas também a cultura. Uma vez na Guiana Francesa, os migrantes fazem de tudo para conseguir a legalidade : alguns se casam com cidadãos franceses ou assumem filhos de franceses para obter os documentos de moradia. Essas são algumas constatações que Rosiane Martins, doutoranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA), evidenciou ao realizar pesquisa em Caiena, capital da Guiana Francesa. A pesquisa constatou, também, que a naturalidade dos que se arriscam na travessia é variada. Eles vêm do Amapá, Pará e Maranhão. Páginas 6 e 7.

Acervo do Pesquisador

Guiana Francesa atrai migrantes

Estudo aborda o suicídio na Belle Époque Dissertação aponta as motivações e as variedades das mortes, assim como a apropriação pelos jornais para fins diversos. Página 3.

Literatura

Projeto atiça o prazer de ler e o senso crítico LGHM é um dos maiores centros de formação de peritos forenses do Brasil

Entrevista

Obras ficam expostas no MUFPA

Professor Luís Carlos Crispino destaca os avanços do Programa de Pós-Graduação em Física. Página 12.

SAPLI contribui para a formação dos estudantes de Letras e apresenta propostas de aprendizagem aos alunos da rede pública. Página 8.

Opinião

História na Charge

Homero Corrêa reflete sobre os desafios da educação ambiental no âmbito da Universidade. Página 2.

Tragédia do Brigue Palhaço é tema da ilustração de Walter Pinto nesta edição do Beira do Rio. Página 2.


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Memória kkk

OPINIÃO Homero Vilar Correa

homero@ufpa.br

Laís Teixeira

Acervo Pessoal

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A Educação Ambiental relativamente grande de eventos ambientais realizados na Instituição e a pouca participação de servidores nesses eventos, bem como a observação de práticas ambientalmente predatórias provocadas pelos diversos integrantes da comunidade universitária. Pichações em banheiros e carteiras, gasto excessivo de papel e descartáveis, torneiras abertas, luzes e computadores ligados sem uso, fumo de cigarros em salas fechadas são apenas alguns dos problemas ambientais observáveis na rotina da Universidade. Embora a Universidade possua uma política institucional sólida na área ambiental, como a coleta seletiva implementada pela Prefeitura do Campus, ainda é possível encontrar resistência de muitos atores da comunidade universitária em relação à adesão a práticas próambientais no espaço intrainstitucional. Nesse sentido, o trabalho trouxe, como maior contribuição, a identificação da percepção dos servidores técnicoadministrativos acerca da questão ambiental. Conhecer os olhares desses

A História na Charge Walter Pinto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA cientificoascom@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-8036

atores permite analisar como os valores e as percepções influenciam a postura e o comportamento pró-ambiental. De nada adianta criar tecnologias limpas para auxiliar a melhora da qualidade de vida ambiental, se, antes, não forem identificadas as representações sociais que os sujeitos têm acerca de práticas sustentáveis. Afinal, em qualquer processo gerencial, as pessoas são os principais recursos para implementação de qualquer estratégia e politica institucional. Assim, por meio do trabalho, foi possível encontrar pontos cruciais a serem trabalhados com os servidores, não só da PROGEP, mas também da comunidade universitária como um todo, para que, de fato, possa ser construído e executado, com eficiência, um programa inovador de Educação Ambiental, que considere o homem de maneira holística. A partir do trabalho, as percepções detectadas dos servidores da PROGEP servem de norte para a consideração de aspectos fundamen-

tais para discussão e implementação de resultados científicos na questão ambiental. Um aspecto positivo percebido na pesquisa foi o envolvimento dos servidores da PROGEP em participar da investigação. A postura da Pró-Reitoria demonstrou que a Universidade possui servidores abertos a mudanças de posturas e comportamentos e, principalmente, comprometidos em contribuir com a construção de uma cultura organizacional sustentável. Assim, penso que o trabalho conseguiu alcançar o objetivo, uma vez que já vem sendo consultado por servidores de várias unidades, preocupados em adotar práticas laborais em suas unidades, considerando, desta vez, valor e percepção sobre meio ambiente. Homero Vilar Correa – Administrador e assessor da Diretoria de Desempenho e Desenvolvimento da Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal (PROGEP)

walterpinto.oliveira@gmail.com

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; PróReitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; PróReitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Thaís Mendonça; Reportagem: Dilermando Gadelha/ Helder Ferreira/Mayara Albuquerque/Pedro Fernandes/Thaís Mendonça(2.361-SRT/PA)/Walter Pinto (561-SRT/PA); Fotografia: Alexandre Moraes/Laís Teixeira; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/ Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Biblioteca Central faz 50 anos no Guamá Antropóloga relembra quando a unidade era sediada no bairro Nazaré

Jane Felipe Beltrão

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uando me entendi estudante universitária, nos idos de 1970, a Biblioteca Central da Universidade Federal do Pará (UFPA) localizava-se na avenida São Jerônimo, 1.327, hoje, Governador José Malcher, ao lado do Núcleo Pedagógico Integrado (NPI), prédio onde, hoje, funciona a Secretaria Municipal de Educação (Semec). A casa que abrigava a Biblioteca era linda, daquelas que, em Belém, se chamava “bolo confeitado”, pois guardava muitos detalhes e estes pareciam confeito de guloseimas que guarneciam as mesas das festas infantis de outros tempos. Pintada de azul marinho e branco, era um dos lindos bungalows da avenida que abrigava rocinhas, palacetes e suntuosas casas dos poderosos da Belém de outrora. Casa de dois andares, com formas arredondadas, sacadas, edícula, jardim e quintal, ampla a ponto de comportar a Biblioteca. Arejada e ventilada, como as residências do passado, quando o calor era amenizado pelo balanço dos leques das damas elegantes. Da casa, nada mais resta. Hoje, o espaço abriga o estacionamento da Semec. Lá, na casa da São Jerônimo, como universitária, fiz as primeiras leituras recomendadas pelos mestres Octávio Mendonça, Benedito Nunes e Daniel Coêlho de Souza, catedráticos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Foi em busca dos textos recomendados pelos professores que conheci Maria Cristina Montenegro Duarte Lira, bibliotecária da UFPA, quem me ensinou a entrar e sair do mundo encantado dos livros, dominando corredores, estantes e classificações pouco compreendidas pelos leitores. Ah! O que seria de nós, estudantes, sem o concurso, a disposição e a amabilidade das diligentes bibliotecárias! Naquela época, a internet não era realidade, nem nos filmes de ficção. Mais tarde, a Biblioteca mudou-se para uma casa maior na avenida José Bonifácio, se bem me lembro, número 940, mais próximo do campus, hoje, Cidade Universitária Professor José da Silveira Netto, entre as avenidas Conselheiro Furtado e Gentil Bittencourt, bem no meio do quarteirão. Casa de estilo germânico, que alguns chamam “suíço”, edificada no meio do terreno coberto de relva, adornada por jardineiras nos pátios e à soleira das janelas, com telhado bastante inclinado e cobertura em telha francesa. A casa central era complementada pelas edículas e protegida por um alto muro de pedras. Nos anos 1990, a linda residência abrigou o Serviço de Atividades Musicais, hoje, Escola de Música integrante do Núcleo de Artes (NUAR). A casa da José Bonifácio era mais adequada que a da Governador José Malcher, pois recolhida

Alexandre Moraes

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ada melhor que a maior universidade da Amazônia para servir como nicho de publicação em massa de trabalhos acadêmicos na área ambiental. Nessa perspectiva, como aluno e servidor, assumi o compromisso de contribuir cientificamente com o maior centro de produção científica da Região Norte do País. Em agosto do ano passado, defendi a monografia intitulada “A Percepção Ambiental dos Servidores Técnico-administrativos da PROGEP: o Desafio de Construir um Programa de Educação Ambiental inovador no Campus da UFPA em Belém”, como requisito para conclusão do curso de Especialização em Gestão Ambiental do Núcleo de Meio Ambiente (NUMA). Neste trabalho, busquei identificar a percepção que os servidores técnico-administrativos da Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal (PROGEP) possuem acerca da questão ambiental. A concepção da ideia surgiu a partir da reflexão acerca do número

Biblioteca Central da UFPA reúne periódicos de várias áreas do conhecimento, além de obras raras em meio ao terreno, era silenciosa e permitia a reflexão. Hoje, a casa, que não pertence à UFPA, parece abandonada, talvez à espera da ruína para ceder lugar a algum edifício espelhado, que apague a memória da Belém que teimamos em olvidar. Da José Bonifácio, a Biblioteca veio, finalmente, para o Guamá, agora, instalada em casa própria, especialmente construída para dar conta do acervo mais importante da UFPA: os livros que ensinam, silenciosamente, as muitas gerações de universitários. Muitos são os livros do quotidiano acadêmico – embora nem tudo que se precise seja encontrável na Biblioteca Central (BC): periódicos de várias áreas e as obras raras, estas são o tesouro maior da Biblioteca, que completou meio século de existência. O prédio seria pequeno, nos nossos dias, caso o Sistema Integrado de Bibliotecas não tivesse distribuído entre as bibliotecas setoriais o acervo que se amealhou com a ajuda de muitos e, especialmente, com as doações há 50 anos. Os tesouros são muitos e foram, ao longo do tempo, bem cuidados. Presenciei a luta de dedicadas profissionais, como: Magali Renata Van Djick Vergolino; Maria Cristina Montenegro Duarte Lira, mencionada linhas atrás; Maria Hilda de Medeiros

Gondim, sempre atenta ao acervo e preocupada com as unidades setoriais dos campi; Silvia Maria Bittar de Lima Moreira, que ajudou o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) a criar sua biblioteca setorial e dirigiu-a por algum tempo; e Maria das Graças da Silva Pena, que, hoje, voltou a dirigir a Biblioteca. Meio século é tempo curto em termos institucionais, mas formar acervo, proteger e dar acesso aos documentos é tarefa difícil na Amazônia, pois os insetos e a umidade “brigam” com o que se consegue guardar. A Biblioteca consegue ter mais idade pela qualidade do que abriga. As festas comemorativas deviam trazer como mensagem a ideia de torná-la Centro de Documentação, pois a querida cinquentona abriga mais que livros, possui, entre seus tesouros manuscritos, fotografias, filmes e documentos preciosos. Na melhor idade, a Biblioteca Central merece festa e ampliação de acervo e serviços, como todas as instituições baluartes. Jane Felipe Beltrão - Antropóloga, docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH/ UFPA) e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


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BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março/ Abril, 2013 –

História

Artes Visuais

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mazônia, Lugar da Experiência”, projeto da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará (FAV/ UFPA), acolhido pelo Museu da UFPA (MUFPA), é uma iniciativa que difunde reflexões e diálogos sobre a Amazônia. A iniciativa constitui-se em uma coleção de obras de artistas brasileiros, principalmente, da Amazônia, os quais se envolvem com as particularidades da região e materializam as experiências nas mais variadas expressões das artes visuais. Segundo o idealizador e curador do projeto, o professor e artista Orlando Maneschy, “por meio de ações que vêm ocorrendo ao longo do projeto, a proposta é fomentar e difundir o conhecimento artístico a partir da coleção de arte contemporânea [Coleção Amazoniana de Arte da UFPA], articulada no projeto”, explica. A ação é uma parceria entre UFPA, MUFPA, governo do Estado do Pará, Instituto de Artes do Pará (IAP), Casa das Onze Janelas, Fundação Nacional de Artes e Ministério da Cultura. A Coleção Amazoniana de Arte da UFPA foi viabilizada graças ao Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça/Procultura de Artes Visuais 2010, gerando um conjunto de atividades – com a Mostra “Amazônia, Lugar da Experiência”, no MUFPA; mostra no Cinema Olympia; intervenções urbanas e a constituição do site www. experienciamazonia.org.

Fotos Acervo do Projeto

Exposição da FAV reúne obras de artistas que refletem sobre a Amazônia

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MUFPA sedia a Exposição "Amazônia, Lugar da Experiência", que reúne obras de artistas que dialogam com a região Orlando Maneschy diz que é fundamental instituir a Coleção na UFPA, um espaço público, cujo papel é a construção do saber. “O projeto reflete a missão de uma instituição que pensa o conhecimento em suas múltiplas configurações. Nesse caso, a arte é a matéria do conhecimento.

As práticas dos artistas alimentam as pesquisas, o ensino e se desdobram em projetos para a sociedade”, afirma. De acordo com o professor, a iniciativa surgiu de um desejo pessoal de criar uma coleção de arte cujas obras foram e são produzidas a partir da experiência de estar na Amazônia. “Olhar

para a Amazônia sempre foi uma necessidade premente para mim. O projeto nasceu da tentativa de entender como a história e as particularidades da região são acionadas na produção artística e geram obras que, ao partir do local, ativam questões que ultrapassam regionalismos”, conta.

composto pela Coleção Amazoniana de Arte da UFPA, que reúne obras de artes visuais, como pintura, escultura, fotografia, performances, objetos e vídeos. Em 2012, o projeto realizou a exposição homônima. De 4 de outubro de 2011 a 12 de janeiro do ano passado, foram apresentadas obras com enfoque crítico e político, criadas a partir das experiências e reflexões dos artistas sobre o “estar na Amazônia”. As principais obras da exposição foram pinturas e esculturas. A segunda exposição, intitulada “Entre Lugares”, aconteceu de 13

de janeiro a 17 de fevereiro. Assim como a primeira, esta também apresenta obras de caráter político. Contudo mais voltadas a questões como memória, história e subjetividade. “A exposição tem como destaque um caráter político-subjetivo”, diz Orlando Maneschy. “Na segunda exposição, temos obras como a proposta de performance ‘O aparelho para escutar sentimentos’, de Armando Queiroz, o trabalho fotográfico sem título da Cláudia Leão, que pertence à série ‘O Rosto e os Outros’, e o trabalho de performance do Victor de La Rocque,

que se chama ‘O Cone’”, conta. Participam da segunda mostra os artistas Armando Queiroz, Cláudia Leão, Éder Oliveira, Elza Lima, Jorane Castro, Keyla Sobral, Luciana Magno, Melissa Barbery, Octavio Cardoso, Patrick Pardini, Roberta Carvalho, Sinval Garcia, Val Sampaio e Victor de La Rocque. A exposição é composta, em suma, por fotografias, objetos, performances e vídeos. A segunda exposição foi realizada com o apoio do IAP, por meio da Bolsa de Difusão e Circulação, que custeou os serviços do projeto.

Site disponibiliza textos críticos sobre o material exposto As atividades do projeto ocorrem no MUFPA, com seminários; na Casa das Onze Janelas, com as exposições; e no Cinema Olympia, onde são realizadas mostras de cinema. A iniciativa promove, também, intervenções urbanas, seminários e encontros. Participam das ações do projeto artistas, pesquisadores e estudantes de Artes. O projeto está realizando, atualmente, um ciclo de quatro seminários. O primeiro, em outubro; o segundo, em dezembro; o terceiro, em janeiro, e o quarto e último, em fevereiro. O projeto conta com uma plata-

Estudo analisa o suicídio em Belém com base no noticiário dos jornais Walter Pinto

Projeto revela multiplicidade do olhar, segundo o curador Para selecionar as obras da Coleção Amazoniana de Arte Contemporânea, Orlando Maneschy adotou um critério. “Reunimos as obras em que os artistas, da região ou de fora, abordam em seus projetos as questões da Amazônia. Desse modo, são múltiplas ‘Amazônias’ que se apresentam e suscitam distintas experiências, que se desdobram em práticas artísticas peculiares”, explica. A Coleção abrange produções da década de 1970 aos dias atuais. O Projeto “Amazônia, Lugar da Experiência” começou em 2010 e é

Mortes marcam a virada do século

forma on-line (www.experienciamazonia.org), que viabiliza o acesso às obras e aos textos de vários críticos sobre a produção dos artistas. Paulo Herkenhoff, Tadeu Chiarelli, Éder Chiodetto, Marisa Mokarzel e João de Jesus Paes Loureiro são alguns dos críticos, cujos textos foram apresentados pelos artistas para compor o projeto. Além do site, o projeto também possui uma página na rede social Facebook, por meio da qual são transmitidos, on-line, os seminários. Estes estão disponíveis para visualização e download na página. “Estamos

trabalhando na construção de uma biblioteca virtual no site do projeto”, adianta Orlando Maneschy. Em 2010, o projeto foi contemplado com o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça (Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais 2010), da Fundação Nacional de Artes. Orlando Maneschy conta que o Prêmio surgiu como possibilidade de dar forma à Coleção Amazoniana de Arte da UFPA. “O valor do prêmio foi um incentivo e me deu coragem para fazer o projeto, que é muito caro. Eu não tinha recursos para fazer. E o Prêmio Marcantonio Vilaça me per-

mitiu adquirir alguns dos serviços e viabilizar as obras no projeto.” Segundo Maneschy, a Coleção Amazoniana de Arte não possui um fim. “É um processo, um trabalho continuo e dinâmico. Buscamos aprofundar cada vez mais a reflexão sobre a Amazônia por meio da arte e seus lugares de experiências”. Recentemente, o projeto recebeu o Prêmio de Artes Visuais 2012 da Fundação Nacional de Artes (FUNART). Orlando Maneschy conta que “o prêmio vai ajudar nas realizações futuras, como o trabalho de documentação do material que existe para publicar.”

a história da Amazônia, a virada do século XIX para o XX foi cristalizada por parte de uma antiga historiografia como um período de abundante riqueza e prosperidade, identificado como Belle Époque. Beneficiada pela extração e exportação do látex, a economia favoreceu o crescimento das duas principais capitais, Belém e Manaus. Como resultado dessa fase, a Cidade das Mangueiras passou por um profundo processo de transformação urbana, com destaque para planejamento de novos bairros, abertura de amplas avenidas, construção de prédios suntuosos, instalação de um moderno sistema portuário, substituição dos antigos bondes à tração animal por bondes elétricos, arborização de ruas e intensificação da vida cultural, cuja face mais visível era dada pela presença constante de companhias líricas europeias em temporadas no recéminaugurado Teatro da Paz. A imagem de Belém daquela época, que perduraria por muitos anos no imaginário social, era de uma cidade edênica, de muita prosperidade e felicidade. No entanto o exame acurado do cotidiano dos moradores da cidade revela acontecimentos que negavam a idealização desse Éden em terras paraenses. Um deles era a prática de suicídios naquele período. Um estudo realizado por José Marcelo Pereira Carvalho, para obtenção do grau de Mestre em História Social da Amazônia, sob a orientação do historiador Aldrin Moura de Figueiredo, introduziu na academia o tema, até então,

Henrique Felício/ Acervo O Liberal

Mostra revela engajamento com a região

Pedro Fernandes

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Suicídios com armas de fogo, geralmente cometidos pelos homens, demonstravam virilidade e heroísmo, aponta o estudo inédito no âmbito da Universidade Federal do Pará (UFPA). Com o título As letras escarlates: representações e histórias do suicídio em Belém do Pará (1891-1920), a pesquisa revela, entre outras nuances, as motivações e as variedades dos suicídios, assim como a apropriação pelos jornais para fins diversos. O autor conta que o interesse em pesquisar o tema em Belém na virada do século XIX para o XX deu-se em razão do número considerá-

vel de notícias sobre suicídio, tanto na cidade como em outras partes do Brasil e do mundo. Segundo Marcelo Carvalho, com base em levantamento feito pelos historiadores Manoel Barata e Theodoro Braga, circularam na capital paraense em torno de 567 jornais, entre 1891 e 1920. A imprensa escrita serviu como fonte privilegiada para o estudo. Nos jornais, os casos de suicídio eram divulgados por meio de notícias, artigos, editoriais e até mesmo de anúncios. Marcelo Carvalho

procurou articular tais fontes com os dados oficiais disponíveis, presentes em tabelas estatísticas e em autos de diligências policiais. Como referencial teórico, o estudo valeu-se da mais recente historiografia nacional e mundial sobre o tema, com destaque às obras dos historiadores Georges Minois e Ron. M. Brown e dos brasileiros Fabio Henriques Lopes, Valéria dos Santos Guimarães, Susan Anne Semler, Jackson Ferreira e Arthur Dapieve.

Instrumentos determinam gênero e marcadores sociais A pesquisa focalizou as representações do suicídio presentes nos jornais e nas obras de referência, ou seja, identificou como essas fontes viam e transmitiam aos leitores os casos de suicídios. Marcelo Carvalho observou que havia certa expectativa quanto aos métodos empregados pelos suicidas e quanto às motivações para o ato, concluindo que havia suicídios tipicamente femininos ou masculinos, assim como suicídios nobres e vulgares. Para definir a que gênero um suicídio pertencia (masculino ou feminino), tomavam-se em conta os efeitos da destruição produzida pelo método empregado sobre o corpo do suicida. Seguindo essa linha,

eram associados à masculinidade os casos de suicídios por armas brancas ou de fogo, vistos com certo ar de virilidade e heroísmo em razão do sangue produzido. Já os suicídios por afogamento, geralmente na baía do Guajará, e por ingestão de veneno (“asfixia por submersão”), eram atribuídos às mulheres pela vaga noção de que preservariam a beleza física dos corpos, mesmo que causassem estragos aos órgãos internos. Em relação aos marcadores sociais, o autor do estudo observa que aos suicídios praticados com uso de armas, seja branca, seja de fogo, atribuía-se o caráter de nobreza, enquanto os suicídios causados por enforcamentos eram estigmatizados

por se relacionarem à culpa (seguindo o mito bíblico de Judas Iscariotes) e pelo estado grotesco como ficavam os corpos suspensos, inclusive com derramamento de fluidos corporais. Quanto às motivações do ato, o estudo observa que eram considerados vulgares os suicídios motivados pelas vicissitudes do cotidiano, tal como miséria e desespero, enquanto eram tidos por nobres os casos em que a morte viria para “dignificar uma honra ferida” ou para aliviar o tédio em que vivia o suicida, o chamado “suicídio filosófico” no dizer do historiador francês Georges Minois, no estudo clássico “Historie du suicide”. No entanto Marcelo Carvalho observa que, independentemente do

gênero ou de categoria social, os suicídios eram motivados por toda sorte de pretexto, levando em conta apenas a disponibilidade dos meios ao alcance do suicida. “Assim, tanto homens e mulheres, como pobres e ricos podiam se matar com tiro de revólver, por ingestão de veneno ou por afogamento e, em função de revezes financeiros, desilusões amorosas ou pelo que as autoridades médicas diagnosticavam como pura demência”, explica. Nos anos iniciais do século XX, o autor constatou a preferência pelo uso de veneno, sendo o mais recorrente o “verde-paris”, um pó verde, solúvel em líquido, empregado em construções para conservar madeira ou exterminar formigas.

Publicidade, política e humor aproprivam-se da tragédia A pesquisa observou que o tema do suicídio era apropriado nos jornais em sentidos mais diversos e para os mais variados fins. É o caso dos anúncios que empregavam a ideia de suicídio para estimular a venda de bilhetes de loteria ou o consumo de águas industrializadas, alegando que as ideias obsessivas de suicídios acabariam pela

felicidade em ter um bilhete premiado ou pela boa digestão via consumo de água de boa qualidade. Marcelo Carvalho aponta também o uso político do suicídio, como instrumento de ataque ao inimigo. Cita, como exemplo, as charges satíricas em que o então intendente de Belém, Antônio Lemos, aparece

retratado como um suicida enforcado. Observa-se, assim, que apesar da seriedade do assunto, ele não escapou da verve dos humoristas, citando como outros exemplos o uso de discursos irônicos sobre o suicídio nos jornais paraenses Folha do Norte e O Binóculo, assim como no pequeno jornal paulista Fogo-Fátuo, que se anunciava

editado por supostas almas suicidas e impresso em um mundo fictício localizado nos subterrâneos dos cemitérios de Santos. Para o historiador Georges Minois, a presença do suicídio na cultura impressa, ao ser tratado em nível de descontração e até de forma humorística, fornece uma boa medida da vulgarização do tema.


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Amazônia

Genética

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m 1986, na Inglaterra, um caso de homicídio e estupro de duas adolescentes foi solucionado após toda a população masculina de dois vilarejos do Condado de Leicester doar amostras de sangue para serem comparadas com os vestígios de sêmen, coletado no corpo das vítimas. Aliado ao desenvolvimento de técnicas de impressão de DNA (Ácido Desoxirribonucléico, na sigla em inglês), pelo geneticista Alec Jeffreys, iniciado um ano antes, estava inaugurado o emprego da Biologia Molecular e da Genética na solução de crimes. A partir dos anos 1990, ocorreu uma evolução na área, principalmente, na tecnologia aplicada e, junto a isso, cresceu também a necessidade de formação de profissionais especializados no assunto. Nesse contexto, o Laboratório de Genética Humana e Médica da Universidade Federal do Pará (LGHM/UFPA) é, atualmente, um dos maiores celeiros do Brasil na formação de mestres e doutores em Genética Humana. O LGHM iniciou as atividades em 1983, trabalhando na investigação genética de populações humanas da Amazônia. A partir de 1990, o laboratório começou a realizar a investigação da variabilidade genética diretamente no DNA. Segundo Sidney Santos, professor, biólogo e coordenador do Laboratório, em 2005, começou a formação de peritos forenses, já que havia

Laís Teixeira

Técnicas de pesquisa de DNA são utilizadas pela polícia científica

Obra registra os problemas fundiários

Pesquisdor apresenta conflitos que permeiam o oeste e o sudeste da região Walter Pinto

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Laboratório de Genética Humana e Médica da UFPA investiga a variabilidade dos genes diretamente no DNA poucos profissionais capacitados no Norte do Brasil. “Antes de 2005, havia alguns profissionais no Distrito Federal, em São Paulo e no Rio Grande do Sul e nenhum no Norte. Hoje, pelo menos 17 estados possuem o serviço normal de genética forense”, destaca.

Além da formação de profissionais, o professor salienta a participação do LGHM na criação de técnicas de pesquisa absorvidas pelas polícias técnicas. “Não cabe à UFPA realizar exames forenses para serem usados em processos judiciais. O que nós criamos são as

metodologias na realização desses exames usados pelos profissionais das polícias que trabalham na área de investigação”, explica. A UFPA e a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) são pioneiras na formação de peritos na área forense, informa Sidney Santos.

utor de dissertação sobre o campesinato no sudeste do Pará, laureada com o Prêmio NAEA/2008, da Universidade Federal do Pará (UFPA), o jornalista maranhense Rogério Henrique Almeida milita nos movimentos rurais da região do Araguaia-Tocantins desde 1997, ano em que, por lá, aportou ainda como estudante de jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), integrando a equipe de pesquisadores que avaliava a rede Fórum Carajás. Nos doze anos subsequentes, atuando com trabalhadores rurais e populações tradicionais, ele testemunhou os passivos sociais e ambientais provocados pela ação dos governos, grandes projetos e latifundiários naquela região. Parte desses anos de militância e observação está em Pororoca pequena: marolinhas sobre a(s) Amazônia(s) de cá, o segundo livro do jornalista, selecionado entre mais de 800 projetos em edital do Banco da Amazônia. É também a edição impressa e ampliada da versão digital de 2009. Aliando o zelo com dados e fontes, característico da atividade acadêmica, a uma narrativa menos hermética, própria do jornalismo, Rogério Almeida produziu uma obra que introduz o leitor no conflagrado universo rural amazônico. E faz isso por meio de uma perspectiva dos debaixo, “os esquecidos da história”, os trabalhadores rurais, com quem o autor convive em vilas, quilombolos,

Laís Teixeira

Laboratório capacita peritos forenses

Helder Ferreira

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Autor do livro, o jornalista Rogério Almeida destaca as consequências socioambientais do desenvolvimento na Amazônia aldeias, projetos de assentamento, ocupações e reservas extrativistas. Pororoca Pequena traz 20 ensaios e cinco entrevistas sobre temas amazônicos considerados “matéria viva e incandescente” pelo jornalista Lúcio Flávio Pinto. Os ensaios estão organizados em quatro capítulos, nos quais o autor registra as formas de resistência das “gentes sem aletramento” em luta contra empreendimentos

públicos ou privados, quando não juntos na batizada “parceria públicoprivado”. Trata-se de um livro de síntese voltado para qualquer leitor interessado em conhecer a agenda do desenvolvimento na Amazônia e suas consequências socioambientais. Ao apresentar um painel dos problemas fundiários das regiões oeste e sudeste da Amazônia Oriental brasileira, Pororoca pequena credencia-se ao uso

em sala de aula, tanto por professores como por estudantes dos ensinos médio e superior. Segundo Rogério Almeida, a publicação é apenas um sopro sobre a vastidão de delicados cenários que conformam as dinâmicas econômicas, socioculturais e políticas da região. “Espera-se que possa ser produtiva como fonte de pesquisa e debate. Ainda que modesta”, diz.

Material coletado auxilia na identificação dos suspeitos

Capítulos narram a luta e a resistência contra o latifúndio

A Genética Forense utiliza conhecimentos e técnicas em prol de processos judiciais nas ocorrências que envolvam a identificação de suspeitos em casos de violência sexual (estupros, atentado violento ao pudor, atos libidinosos); de cadáveres carbonizados ou em decomposição; de corpos mutilados; de peças ósseas e órgãos humanos ou a investigação de paternidade, entre outros. Quanto à metodologia, são recolhidos fragmentos no local do crime, como sangue, sêmen e saliva. Em seguida, o DNA é extraído e dividido em fragmentos,

Na primeira parte de Pororoca pequena, Rogério Almeida, mestre em planejamento pelo NAEA/UFPA, trata de questões estruturais, como o ressurgimento da malsinada Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), a agência de incentivos fechada após escândalos de corrupção; os planejamentos equivocados para o sudeste do Pará e os passivos socioambientais decorrentes da mineração, em Juruti, e da produção de energia, em Estreito, no Maranhão.

que serão ordenados por tamanhos, por meio da eletroforese, e transferidos para uma membrana de náilon a fim de se obter uma melhor visualização. Formam-se segmentos de DNA marcados, por meio de processos de radioatividade ou fluorescência. Por fim, forma-se um padrão com bandas de diferentes tamanhos, que podem ser comparadas com o de outros indivíduos. O ramo mais conhecido da Genética Forense é a identificação humana pelo DNA, usada, comumente, nos testes de paternidade. A meto-

dologia empregada nesses casos e na identificação de suspeitos de crimes é a mesma, segundo o professor Sidney Santos. “A diferença é que, em testes de paternidade, o material coletado é mais abundante e limpo. Na cena de um crime, há uma quantidade de DNA menor e nem sempre é livre de impurezas, o que dificulta a realização do exame”, afirma. Cursos – O LGHM oferece cursos de pós-graduação em nível stricto sensu (Mestrado e Doutorado) nas seguintes linhas de pesquisa: Paleoge-

nética; Genética Médica; Genética de Populações Humanas da Amazônia; Doenças Neurodegenerativas; Doenças Complexas: Hipercolesterolemia Familiar, Diabetes Tipo II, Obesidade e Doença Arterial Coronariana. O coordenador do laboratório ressalta que a procura pelos cursos vem crescendo a cada ano. “Há uma grande curiosidade das pessoas pela área. Atualmente, há programas, séries e filmes que tratam ou usam a genética e o exame forense nos roteiros e isso chama bastante a atenção”, pontua Sidney Santos.

Condenados por crimes violentos serão sumetidos a teste A Lei nº 12.654/2012, aprovada pela presidente Dilma Rouseff (PT), determina que os condenados por crime praticado com violência de natureza grave serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético mediante extração de DNA. O processo deverá ser feito “por técnica adequada e indolor”. Ainda segundo a regra, os dados deverão ser armazenados em um banco de dados de perfis genéticos a ser gerenciado por uma unidade oficial de perícia criminal, não podendo ser revelados traços somáticos ou com-

portamentais das pessoas, exceto a determinação genética de gênero, de acordo com as normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos. “Isso será uma mudança de paradigma, porque, se considerarmos a população carcerária do Pará, que é de aproximadamente doze mil detentos, ao coletarmos o DNA apenas dos que foram condenados por crime violento, já teremos um banco de dados robusto que estará à disposição da Justiça”, ressaltou o professor Sidney Santos.

Frutos – Na polícia técnico-científica do Pará, há três doutores em Genética Forense, todos formados pelo LGHM/UFPA. Os doutores Teresinha Palha, Elzemar Ribeiro Rodrigues e Pablo Abdon da Costa Frances, formados também pelo laboratório, estão à frente das pesquisas em Genética Forense no Pará e no Amapá. Assim como o professor Sidney Santos, eles publicam, constantemente, artigos sobre a área em revistas científicas renomadas mundialmente, os quais podem ser acessados no site “Pubmed” (http://

www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed), serviço da US National Library of Medicine (Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, em tradução livre). Para o futuro, o coordenador do LGHM planeja a criação de uma turma única de Mestrado em Genética Forense. “Queremos formar mais doutores em Genética Forense e também em outras áreas em que o LGHM atua. A criação de uma turma única de mestrado surge como uma das alternativas para chegarmos a esse objetivo”, afirmou o professor.

Em “Araguaia-Tocantins: território em disputa”, a segunda e mais densa parte, o autor “traça a audaciosa saga dos pequenos produtores rurais por aí imigrados em confronto com o latifúndio especulativo e ilegal”, como resume o cientista Jean Hebétte, prefaciador da obra. Vêm à tona 20 anos de luta pela terra na região, regida pelo diapasão do extrativismo ao longo dos séculos, onde, hoje, carvoarias ardem a floresta para abastecer as empresas siderúrgicas do Pará e do Maranhão. Em meio a histórias

de violência contra os trabalhadores rurais, há relatos de experiências inclusivas exitosas, principalmente na área da educação, por exemplo, a criação da Escola Família Agrícola, dedicada aos filhos de assentados, e a formação de profissionais em cursos superiores em funcionamento nos assentamentos rurais desde 2006. Aparentemente, o terceiro capítulo, “Belém, a cidade”, parece deslocado da temática fundiária do livro. Rogério Almeida explica, porém, que ela dialoga com o universo

rural na medida em que parte da população da cidade é formada por “desterritorializados” por conta de algum grande projeto na Amazônia – edificação de hidrelétrica, portos, rodovias, ferrovias, extrativismo mineral e plantação de monoculturas. Na periferia da capital, esta população recria formas de resistências culturais, sociais e econômicas, resultando em experiências como as do Coletivo Rádio Cipó, no bairro Pedreira, um celeiro de artistas que pontifica uma série de grupos urbanos de carimbó.

Jornalista e lideranças explicam a tensão no meio rural O livro traz, ainda, cinco entrevistas realizadas pelo autor, com “testemunhas significativas da nossa história recente”, como ressalta Jean Hébette. O editor do Jornal Pessoal, Lúcio Flávio Pinto, avalia que a cobertura feita, hoje, pela grande imprensa sobre a Amazônia é muito pior do que na época do regime militar. Ao verem a região apenas como o lugar onde ocorrem fatos insólitos e inéditos, os editores não conseguem fazer uma cobertura sistemática, como houve no tempo em que os grandes jornais e revistas mantinham correspondentes locais. O jornalista adverte: “antes, o

grileiro tinha o seu parceiro no 38. Hoje, descobriu que o Judiciário, por desconhecimento, insensibilidade, omissão ou conivência, é o seu principal parceiro na Amazônia.” Batista Afonso, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Marabá, concorda que a justiça estadual mantém relação estreita com o latifúndio, “sem falar nas Polícias Militar e Civil. Aqui, sempre foi comum a expedição de liminares de reintegração de posse, como se diz na região, nas coxas”. Mesmo após a criação das varas agrárias, Afonso observa que a pouca experiência dos juízes com questões

fundiárias fazem com que se repitam antigos procedimentos. Longe da ação da imprensa e com a conivência da justiça, grandes grupos empresariais agem impunemente na Amazônia. É o caso da mineradora norte-americana Alcoa, responsável pelo desmatamento de 800 hectares de floresta, derrubada de centenas de castanheiras, soterramento de igarapés e contaminação das cabeceiras de rios, em Juruti, conforme revela Gerdeonor Pereira, liderança camponesa do oeste do Pará. Se a fase de luta pela titulação das terras ancestrais ainda não foi

totalmente superada, não há dúvida de que entrou em novo patamar com a agenda pela legalização das associações quilombolas e por políticas de geração de renda. Com apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), os quilombolas estão desenvolvendo ações no setor de produção de alimentos defumados e de derivados da castanha. Apesar dos avanços, os problemas ambientais continuam existindo, afinal, trata-se de área de atuação da Mineração Rio do Norte, empresa multinacional que extrai daquele solo, há mais de 30 anos, a bauxita.


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março/ Abril, 2013

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março/ Abril, 2013 –

Informática

Laís Teixeira

Literatura

EM DIA

Cursos promovem a inclusão

C

Coordenadora do Projeto SAPLI, professora Giselle Ribeiro, identificou que os estudantes de Letras têm baixa capacidade de pensar o texto literário criticamente

SAPLI desperta o prazer da leitura

Recuperação da memória poética aguça o senso crítico dos estudantes Mayara Albuquerque

O

Projeto “SAPLI: sociedade dos amigos da prática literária e as novas perspectivas para a formação do leitor” nasceu durante as pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação do Instituto de Letras e Comunicação da Universidade Federal do Pará (ILC/UFPA), que resultou na Dissertação intitulada Lendas amazônicas literárias ou não literárias: os suspiros agonizantes da arte, defendida em setembro de 2003. Coordenado pela professora Giselle Ribeiro, a finalidade do projeto é contribuir para a formação acadêmica dos estudantes do curso de Letras, bem

como apresentar novas propostas de aprendizagem da leitura aos professores e alunos do ensino público de nível fundamental e médio. A história dos estudos literários apresenta, hoje, muito mais a deformação do que, propriamente, a formação de leitores, considerando-se o baixo desempenho da capacidade de pensar criticamente o texto literário. É o que pensa Giselle Ribeiro. Nesse sentido, o projeto lança um olhar aos alunos que entram na Universidade, mais especificamente no curso de Letras, desconhecendo o prazer de ler. Segundo a professora, tal fator se deve ao fato de os estudantes, antes de entrarem no ensino superior, não

terem sido habituados às leituras literárias em sala de aula ou porque os textos desse gênero foram mal conduzidos e, obrigatoriamente, encaminhados ao pensamento restrito de informações superficiais. Por isso, de acordo com Giselle Ribeiro, faz-se necessário o engajamento da Universidade na base de formação do leitor nos níveis anteriores – ensino fundamental e médio – a fim de que se possa entender e procurar soluções para o problema atual do curso de Letras: alunos apáticos e professores frustrados com os resultados negativos dos trabalhos realizados. O projeto pretende, antes de tudo, resgatar o gosto pela escuta

ou leitura literária. “Em tempos muito remotos, vivíamos um momento muito maior de aproximação com a arte poética, porque nossos pais, avós ou até mesmo vizinhos reservavam um espaço para nos contar histórias que também já lhes tinham sido contadas e foram guardadas na memória. Assim, o projeto pretende a recuperação da nossa memória poética, porque acreditamos que a convivência com a arte poética nos faz seres pensantes e críticos, e o início pode ser este: o da escuta, para depois vir o momento da leitura e, posteriormente, o momento da escrita, numa formação mais plena do leitor”, afirma a coordenadora.

Ciranda propõe discussões para combater a “literofobia” Atendendo aos objetivos do projeto, o grupo resolveu promover a criação de um evento que fortalecesse suas ideias apontando problemas e procurando soluções para o processo ensino-aprendizagem da literatura. Para isso, o “I Ciranda literária: Quem tem medo de Literatura?” buscou conduzir o ensino da arte literária favorecendo a criatividade e o desempenho do leitor-aprendiz para uma possível demarcação do início de estratégias de trabalho e de valorização dos dois

elementos essenciais no processo: o educador e o aprendiz, em interação mútua. Segundo a coordenadora do programa, o principal objetivo da Ciranda Literária é “encontrar, reconhecer e estabelecer contato com um dos nossos medos, o que os estudiosos da área chamam de ‘literofobia’, característico dos que têm medo de leitura, aqui representado pelo medo de ler textos literários”. O evento trouxe para o público discussões em

forma de palestras com professores e doutores em Letras. Na Ciranda Literária, foi debatida a dificuldade dos alunos em ler textos, principalmente, em voz alta. “Sempre que o aluno é convidado a ler um texto, ele se recusa, ou a voz treme, ou ele lança o texto vorazmente como quem quer se livrar da tarefa da leitura. Parece que esse aluno sofre demasiadamente durante a leitura. Vem daí a importância em discutir este assunto”, explica.

A programação foi feita para que os amantes ou apenas os que gostam de literatura tenham um dia de intimidade e prazer com a escrita literária. Durante o evento, ocorreram palestras com professores e colaboradores do Projeto SAPLI. Entre os temas das palestras, estavam “A coleção de medos de Chapeuzinho Amarelo e o lugar da literatura”; “O prazer de ler pelo coração e para dias de medo, um dia de folga” e “Possíveis leituras de poemas de Jacques Prévert”.

Atividades visam à intimidade com a produção literária Giselle Ribeiro explica que “literofobia” é o medo adquirido muito antes da entrada na universidade, o que, entretanto, permanece com alguns alunos durante a vida acadêmica. “O professor tem o papel de ajudar o aluno a superar esse medo”, afirma. Para a professora, o projeto é como um grito de socorro, já que tanto a universidade quanto a sociedade, de forma geral, têm vivenciado um momento de turbulência, de crise da

leitura. Ela destaca que a ausência de livros e da leitura dentro de casa tem fortalecido, consideravelmente, essa crise. “É neste sentido que vejo a importância do SAPLI, um projeto que visa à retomada do contato mais íntimo com a produção literária, fazendo da escola o espaço da redescoberta do prazer do texto, procurando mudar um pouco a paisagem local, em que temos o que eu chamo de deformação

de leitores”, explica. O projeto conta com sete voluntários, alunos da graduação de Letras, que têm o trabalho de, por meio da retomada das formas de leitura que tiveram durante a própria formação e com os conhecimentos teóricos sugeridos e lidos, descobrir as melhores formas de leitura para essa nova geração de leitores. Depois que o grupo elege escola para acompanhar o trabalho dos professores

com textos literários, propõe leitura de outros textos para as crianças. Por enquanto, o grupo trabalha na Escola de Ensino Fundamental Santos Dummont, no Guamá. Para o futuro, o SAPLI pretende aumentar o número de escolas atingidas, além de promover a criação de um Laboratório de Literatura, espaço que atenderá a professores do ensino fundamental e médio para a troca de ideias sobre a aproximação de textos literários.

om o objetivo de aprimorar a relação universidade-sociedade, além de dar continuidade à criação de elementos que motivem e incentivem os alunos a prosseguir os estudos, sem atrasos, foi criado o Projeto “Viva! Universidade”. As ações, que já duram cinco anos, promovem a inclusão social por meio de cursos. A coordenação está a cargo do professor Agostinho Castro, da Faculdade de Engenharia da Computação da Universidade Federal do Pará (UFPA). Segundo o coordenador do trabalho, o “Viva! Universidade” foi divido em três fases: na primeira, foi realizada a criação de uma casa popular para repassar, de forma didática, conceitos de eletricidade; já a segunda e terceira fases consistiram em cursos desenvolvendo as temáticas de sistema e manutenção de computadores. A capacitação é realizada pelos estudantes de Engenharia da Computação e envolve alunos de ensino médio da Escola de Ensino Público Paes de Carvalho, além da comunidade em geral, por meio do infocentro localizado dentro da UFPA. Ações – O professor Agostinho Castro explica que a intenção principal do trabalho é a formatação de recursos educacionais que incentivem e permitam a percepção de conceitos por meio da prática, ou seja, de uma forma que o aluno consiga “ver” os conceitos estudados sendo aplicados em situações do cotidiano. Para isso, o projeto criou “casas cidadãs”, cujo objetivo era mostrar experimentos

Acervo do Pesquisador

Atividades são desenvolvidas na Paes de Carvalho Mayara Albuquerque

A Universidade Federal do Pará (UFPA) concedeu o título de professor emérito do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) ao reitor do Centro Universitário do Pará (Cesupa), o médico João Paulo do Valle Mendes. Trata-se da maior comenda universitária conferida pela UFPA a professores já aposentados que atingiram alto grau de projeção no exercício de sua atividade acadêmica.

A UFPA, por meio do Núcleo universitário no município de Mocajuba, pertencente ao Campus de Cametá, localizado no Baixo Tocantins, recebeu a doação do prédio "Sérgio de Almeida Maneschy", que passará a sediar as atividades do curso na região. A doação foi feita pela Prefeitura de Mocajuba, por meio de parcerias firmadas com a Instituição. O nome do prédio é uma homenagem in memoriam ao irmão do reitor da UFPA, pela atuação política no interior do Estado do Pará. Protótipo de uma casa popular serve para explicar os conceitos de eletricidade

Biblioteca

sobre os conceitos de eletricidade e automação residencial na maquete de uma casa padrão brasileira, em que pudessem ser estudadas as noções de instalação elétrica e o funcionamento dos principais eletrodomésticos. A casa foi construída com material reciclável e de baixo custo, como isopor e canudinhos reciclados. O grupo também produziu cartilhas didáticas e práticas, apresentando os conceitos de eletricidade (instalação elétrica), internet e princípios de sistemas de automação residencial para os alunos da escola de

O novo site da Biblioteca Central já está no ar. Os usuários podem acessar vários serviços e produtos, com destaque para o Repositório Institucional (RIUFPA), o Manual de Normalização e o Sistema de Ficha Catalográfica (Ficat). Outra novidade é a assinatura da coleção de livros eletrônicos da eBook on EBSCOhost - Academic Complete Collection (Ebsco), com 92 mil títulos em todas as áreas do conhecimento para acesso e download com permissões.

ensino médio. Além de apresentarem conceitos teóricos, constavam, ainda, na cartilha, todos os procedimentos e materiais necessários para a criação dos protótipos das casas. As atividades foram desenvolvidas no Laboratório de Monitoramento Inteligente e Comunicações (LAMIC-EngComp) pelos alunos que participam do projeto de extensão. Após isso, o projeto da “casa” foi transferido, por meio de um acordo feito com a Universidade, para a Escola Paes de Carvalho, a fim de que os alunos pudessem reproduzi-la.

princípios de funcionamento do computador e os periféricos, bem como problemas e soluções comuns nesses equipamentos por meio da desmontagem de um computador que se encontra em perfeito estado de funcionamento. Após o desmonte, com a identificação de cada componente, há a remontagem do computador e o respectivo teste de funcionamento. Segundo relatos do professor Alberto Miranda, da Escola Paes de Carvalho, por meio do projeto, os alunos de ensino médio que participaram dos cursos ficaram mais motivados dentro das atividades escolares. Além disso, o professor Agostinho Castro ressalta que a ideia começou a tomar conta da po-

pulação discente da Faculdade, pois um aluno matriculado na atividade também teve a iniciativa individual de promover e ministrar um curso em uma escola de ensino médio. Outros alunos da disciplina também se interessaram pelo formato da ação e buscam estabelecer contatos para a viabilização dos cursos em outras escolas, acrescenta o coordenador do trabalho. Agostinho Castro destaca, ainda, a importância social do trabalho. “Nossos alunos podem começar a olhar pelos problemas sociais da nossa região e tentar amenizá-lós. Podem inventar um aplicativo capaz de rodar em celulares acessíveis ou inventar uma internet de baixo custo”, diz.

Ideia é expandir as atividades para outras escolas Segundo o coordenador do projeto, o grupo tem como planos futuros alcançar mais alunos de ensino médio, além do treinamento de outros estudantes de Engenharia da Computação e a criação de novos cursos. “Nós já temos outros cursos formatados como

Emérito

Doação

Alunos usam internet e desmontam as máquinas Após a realização das “casas cidadãs”, o projeto começou a implantação de cursos para a população. Os cursos, divididos em Rede de Computadores e Manutenção de Computadores, têm caráter teórico e prático e buscam a transferência de conceitos e técnicas relacionadas ao assunto para dois públicos distintos: população em geral e alunos do ensino médio. Cada curso conta com a duração de 20 horas e com cerca de 15 alunos por turma. Segundo o professor Agostinho Castro, no curso de redes de computadores, é mostrado o funcionamento da internet, dos cybercafés e das redes sociais. Já no curso sobre manutenção de computadores, são abordados os

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Programação e Web Design. Nossa expectativa é criar novas turmas nas escolas e passar a ministrar os cursos durante os dois turnos, para, assim, alcançarmos cada vez mais pessoas”, explica. O projeto também pretende estender, no futuro, suas atividades a

outras escolas. Prêmio: O Projeto “Viva! Universidade” foi contemplado com o Prêmio Jovem Extensionista em 2010 e em 2011, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex/UFPA).

Conexão A Rede Social I Conect, construída pelo Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá), com o objetivo de conectar projetos e práticas inovadoras com demandas do setor produtivo já está disponível para receber conexões. Podem participar pesquisadores, representantes de laboratórios e de empresas de base tecnológicas residentes ou externos ao PCT Guamá. Para criar um perfil, basta acessar a página eletrônica da rede, disponível no endereço: http:// iconect.pctguama.org.br/iconect/ paginas/publico/inicio.jsf.

Geperuaz O Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia (Geperuaz) promove, este mês, diversas atividades, por meio do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Ciências da Educação (ICED). Os encontros visam fortalecer a produção do conhecimento e os debates em torno de questões relevantes para a educação no Brasil e na região. Informações em: http://www. ascom.ufpa.br/links/eventos/Folder_ Programa%C3%A7%C3%A3o_ GEPERUAZ-MAR%202013.pdf.


6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março/ Abril, 2013

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Março/ Abril, 2013 –

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Migração

Processos migratórios de brasileiros para a Guiana Francesa instigam pesquisa

Moradores dos estados Amapá, Pará, Maranhão se deslocam para Oiapoque, no extremo norte, a fim de ingressar no país vizinho - às vezes, clandestinamente

Centro de Caiena, capital da Guiana Francesa, abriga imigrantes brasileiros, os quais entram no país de forma clandestina estendem-se já desde 2005, quando Rosiane defendeu o seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre o tema e, posteriormente, a sua Dissertação. Na metodologia, a estudante faz pesquisas documentais, teóricas e entrevistas com migrantes que estão na Guiana, alguns, há mais de 30 anos. Rosiane estima ter entrevistado mais de 50 pessoas tanto nas

fronteiras quanto em locais como boates e praças. “Os entrevistados fixos ficaram em torno de 50, em seis casas diferentes, cada uma com média de 8 a 15 moradores, divididos entre crianças e adultos. Houve outros migrantes entrevistados uma ou mais vezes em boates, praias, festas, praças e em trânsito nas áreas de fronteiras, entretanto esses não são possíveis contabilizar.”

A naturalidade dos migrantes é variada. Podem ser amapaenses, paraenses, maranhenses, mas a principal fronteira de entrada na Guiana é pelo Oiapoque, ponto mais alto do Brasil. Segundo Rosiane, o motivo mais alegado para a viagem ao outro país é a tentativa de aumentar a renda para sustentar a família remanescente no Brasil.

Quanto à ideia da migração, Rosiane diz surgir de outras pessoas que já estão no país. “Quem vive nessas fronteiras e segue para a Guiana leva seus produtos justamente porque pessoas do seu país, que vivem ali, precisam disso. Existem brasileiros que vão de Belém e de Macapá, levam comida, sandálias, roupas e entram clandestinamente no departamento, ou pelo mar, ou pela estrada”. Juntamente com os produtos, também vão as culturas de cada um dos migrantes, o que faz com que a feira seja mais um espaço multicultural. Entretanto os grupos de migrantes se classificam e assumem territorialidades: os brasileiros são identificados como trabalhadores da construção civil; os migrantes do Haiti são varredores de rua e os próprios franceses “brancos metropolitanos”, trabalhadores do governo, “[...], mas todos trabalham no mesmo ponto e aí você encontra uma diversidade imensa. Ao mesmo tempo em que essa diversidade é designada pelo governo francês como um mosaico de populações, um espaço onde

Acervo do Pesquisador

Migrantes do Brasil assumem postos na construção civil

Brasileiros levam roupas e alimentos para vender na Guiana Francesa realmente se vê o lema da bandeira francesa [Igualdade, Liberdade e Fraternidade], podemos perceber que é um espaço territorializado, um espaço de conflito que não é um mercado apenas de comercialização, mas sim um lugar de alteridade”, analisa

Rosiane. Os conflitos são grandes e um dos principais é com a ilegalidade. A maior parte dos migrantes brasileiros na Guiana entrou de forma clandestina. Quando já estão no país, eles encontram maneiras de contornar

essa clandestinidade: alguns se casam com cidadãos franceses ou assumem filhos de franceses para conseguir os documentos de moradia. Esses documentos provisórios também podem ser conseguidos para trabalho. Nestes casos, os migrantes devem apresentar, periodicamente, para as autoridades francesas provas de que ainda estão trabalhando no país, já aprenderam ou estão estudando a língua local. Caso não preencham essas e outras exigências, o documento de residência no país não é renovado e a pessoa volta a ser clandestina. De acordo com Rosiane, o monitoramento é bastante forte e é frequente ver, nas ruas de Caiena carros de polícia levando imigrantes ilegais para deportação. “Ainda assim a população de migrantes é grande e eles dizem que, se, hoje, forem presos e deportados, amanhã, dão um jeito de voltar a entrar clandestinamente no país, porque precisam recuperar o dinheiro perdido, o que eles deixaram, então, existe a necessidade de voltar”.

As relações dos imigrantes com os seus familiares que ficaram no Brasil também mudam, conta Rosiane Martins. Segundo ela, essas pessoas passam a ser visitas dentro de casa, pois a distância e o tempo longe fazem com que elas se tornem quase estranhas para seus familiares. Alguns migrantes, mesmo continuando a mandar o dinheiro, constroem outras famílias na Guiana. “Muitos deles dizem que não conhecem mais a sua família. Então, o dinheiro deles é necessário, mas a presença constante já não é mais tão agradável. Outros acabam se envolvendo com drogas - o crack é uma das drogas mais comuns lá - e esquecem a família aqui, no Brasil. São poucos que mantêm esse vínculo e conseguem voltar para o espaço da casa como um lugar agradável”, explica. Ao longo de todo esse processo migratório, novas identidades e novos agrupamentos de pessoas acabam surgindo. Os clandestinos, por exemplo, autointitulam-se "clandecos". Segundo Rosiane, um "clandeco" não é apenas um brasileiro, mas é o brasileiro clandestino, que se diferencia do legal, pois pode ser deportado a qualquer momento. “Ele está num outro espaço, ele está num outro lugar. Eles se dizem clandecos no trecho, que é esse lugar transitório onde eles vivem. São várias identidades acionadas de acordo com a situação e o momento pelo qual eles estão passando”. A identidade nacional também é alterada por causa desses fluxos

Acervo do Pesquisador

Travessia ajuda os familiares que residem na fronteira

Caiena proporciona melhores condições de vida, na visão dos brasileiros que se arriscam na travessia clandestina migratórios. Os brasileiros não são vistos na Guiana como dançarinos de samba, o Brasil não é o país do carnaval, da bossa nova e das mulatas. Lá, a música de brasileiro é o techno brega, a banda brasileira é o Calypso, as mulheres daqui se vestem de maneira mais sensual, o biótipo do brasileiro é aquele das pessoas que vêm do Norte.

“Existem esses estereótipos do que é ser brasileiro. Tem também a identidade do latino, quando em oposição a um africano ou a um asiático, por exemplo,” acrescenta Rosiane. Em suma, de acordo com Rosiane, apenas 25% dos imigrantes entrevistados por ela conseguiram, de fato, uma vida melhor na Guiana

Francesa. Entretanto a migração não subsidia apenas aqueles que viajam, mas também aqueles que moram às margens da rota de migração e, a partir dela, tiram seu sustento abrindo lojas, hotéis, supermercado, mercearias, “todos à beira da estrada e só existem por causa da migração”, finaliza.

Conheça a rota da imigração para a Guiana Francesa Pa r a c o n s e g u i r i m i g r a r clandestinamente à Guiana Francesa, os brasileiros precisam enfrentar uma verdadeira aventura na selva. Em primeiro lugar, é preciso chegar ao Oiapoque, o que, por si só, já é uma aventura, como conta Rosiane Martins, que realizou a travessia em uma de suas pesquisas de campo. A cidade fica a 566 quilômetros de Macapá, capital do Amapá. Aqueles que procuram a imigração precisam c hegar à capital do Estado e, de lá, pegar um ônibus para o extremo norte do Brasil. De acordo com Rosiane, a estrada que leva ao Oiapoque tem um trecho de aproximadamente 160 km de estrada de terra e bastante acidentada, o que faz com que a viagem chegue a durar mais de 10 horas. Nem todas as pessoas que fazem o percurso têm o objetivo de chegar à Caiena. Homens e mulheres vão para trabalhar em garimpos que existem em outras cidades do Departamento, as mulheres, muitas

Desta cidade até Caiena, que fica no litoral norte da Guiana, o caminho é feito a pé, atravessando floresta densa. “São horas de caminhada. Existem pessoas que se perdem pelo caminho e é comum ouvir histórias sobre alguns que morreram atravessando a mata ou o oceano, em um processo de travessia que se assemelha a outros ocorridos na fronteira com os EUA, e países europeus”, explica Rosiane.

Wilson Dias/ Agência Brasil

O

Brasil é um país que, desde a época da escravidão, atrai estrangeiros para trabalhar em suas terras. É o caso das comunidades de italianos e alemães que foram trazidos para “embranquecer” e, por isso, melhorar, qualitativamente, o trabalho nos cafezais e lavouras. As migrações entre Estados também são comuns, como no caso de nordestinos que vão para o eixo Rio de Janeiro/São Paulo ou maranhenses que vêm para o Pará, em ambos os casos, buscando melhores padrões de vida. A migração também acontece do Brasil em direção a outros países e foi sobre esse tipo de deslocamento que a doutoranda em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará, Rosiane Martins, escolheu pesquisar em sua tese. O trabalho de Rosiane é mais especificamente voltado para as migrações de brasileiros em direção à Guiana Francesa, departamento ultramarino da França, localizado no extremo norte do Brasil. “Esse projeto de doutorado tenta entender como funciona o fluxo de pessoas e de mercadorias para a Guiana Francesa - que acontece principalmente de forma clandestina - pois ele contribui para fomentar a economia no Estado do Amapá e alimenta a economia de vários Estados do mundo inteiro, porque a Guiana atrai imigrantes de vários lugares: asiáticos, africanos, sul-americanos e europeus”, explica Rosiane. As pesquisas são feitas em diferentes lugares do Departamento, desde as áreas de fronteira até o Mercado Central e a Feira Central de Caiena, capital da Guiana, e

Acervo do Pesquisador

Dilermando Gadelha

Paraenses usam rabetas para atravessar do rio Oiapoque à Guiana Francesa vezes, vão trabalhar como cozinheiras, comerciantes ou prostitutas nestes garimpos. Após chegarem à cidade do Oiapoque, o destino é incerto, pois embora as pessoas estejam cercadas pelo suporte dado por suas redes sociais e migratórias, elas não têm a

travessia programada. Lá, elas são auxiliadas por algum “atravessador” por meio de breves acertos geralmente feitos às margens do rio que separa o Brasil do departamento francês. A travessia acontece de barco para Saint-Georges do Oyapoque, primeira cidade da Guiana Francesa.

Esse caminho não é feito apenas uma vez por muitos dos imigrantes. Rosiane diz conhecer um senhor que, no espaço de um ano, chegou a ser deportado da Guiana Francesa 10 vezes. “Assim, o movimento de travessia é repleto de histórias de vida e morte encontradas ao longo da fronteira. O migrante antevê um quadro de dificuldades que, possivelmente, serão encontradas durante a vida ou até que ele consiga estabelecer-se”, analisa a doutoranda Rosiane Martins.


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