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12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012

Laís Teixeira

Entrevista JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXVI • N. 107 • Setembro, 2012

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Rosyane Rodrigues

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expansão da oferta de cursos e vagas na Universidade Federal do Pará (UFPA) foi analisada na Dissertação da técnicoadministrativa Maria Páscoa Sarmento de Sousa, do Campus de Soure. A pesquisa desenvolve um corpo conceitual, com base nos Programas Expandir e de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), e relembra os passos da Universidade Multicampi, previstos no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). Mediante consulta a planos, programas, legislações, resoluções, documentação arquivada e entrevista com dirigentes máximos e intermediários, Maria Páscoa traçou, sob orientação da professora Rosa Azevedo Marin, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), a trajetória de crescimento de nove campi da UFPA no interior do Estado. Em entrevista ao Beira do Rio, a autora detalha o estudo. Beira do Rio - Qual o principal objetivo do seu Trabalho? Maria Páscoa – Compreender como a UFPA utilizou os subsídios dos Programas federais Expandir e de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), elaborados pelo Ministério da Educação (MEC), para garantir a composição do quadro docente dos seus campi universitários no interior do Pará, entre 2001 e 2010. As políticas públicas foram implementadas na UFPA, no interior de uma política de gestão, iniciada a partir do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI-UFPA/2001-2010), chamada Universidade Multicampi. Adotamos, como referencial empírico, os nove primeiros campi criados: Abaetetuba, Altamira, Bragança, Breves, Cametá, Castanhal, Marabá, Santarém e Soure. Beira do Rio – Qual a importância da analise construída na sua Dissertação? Maria Páscoa – Verificou-se que as políticas de expansão do MEC foram utilizadas pelas Instituições de Ensino Superior (IES) dentro de duas filosofias de gestão: a universidade multicampi e a vocação

regional – as quais, no nosso entendimento, propiciaram a construção de um desenvolvimento assimétrico entre as unidades acadêmicas regionais, tanto em termos de infraestrutura física e humana, quanto em termos acadêmicos. Isso fez com que determinados campi crescessem em termos de oferta de vagas e diversificação de cursos de graduação e até mesmo de pós-graduação, tais como Marabá, Castanhal e Bragança, enquanto outros se mantiveram quase que estagnados e mesmo regrediram quanto à oferta de vagas e cursos regulares, a exemplo de Soure. Beira do Rio – Quais foram os seus principais resultados? Maria Páscoa – O Expandir foi usado para criar ou fortalecer cursos de bacharelado em áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento regional por meio da consolidação dos polos de excelência, propostos desde o III Projeto Norte de Interiorização (PNI), nos campi de Bragança, Castanhal, Marabá e Santarém. Administrativamente, porém, as discussões relativas à implementação da política envolveram apenas uns poucos gestores. A comunidade universitária e a sociedade civil local não foram envolvidas na escolha dos cursos que deveriam ser consolidados ou implantados em tais polos.Já o Reuni foi eminentemente utilizado pelas IES como forma de consolidar a pós-graduação na capital e os cursos de licenciatura no interior. A análise dá conta que as decisões envolveram, primeiramente, uma pactuação externa, pois foram negociadas com o governo do Estado e com as comunidades dos municípios; depois, precisaram ser negociadas internamente com os coordenadores de campi, os quais apresentaram suas demandas em conformidade com áreas de interesse das comunidades que representavam ou com seus próprios interesses. Assim, com exceção do Campus de Soure, os demais campi conseguiram ofertar cursos novos ou consolidar cursos preexistentes, num processo de expansão que, desta vez, foi acompanhado de infraestrutura humana e financeira. Beira do Rio – Quais as principais diferenças entre o modelo de interiorização antes utilizado pela UFPA e a gestão Universidade Multicampi, implantada pelo PDI 2001-2010?

Maria Páscoa – Talvez a principal diferença resida na situação conjuntural e na estratégia de implementação, pois o Projeto de Interiorização foi implementado quase sem apoio do MEC e, por conseguinte, não previa, inicialmente, a oferta regular de cursos no interior e, sendo assim, prescindia de quadro docente efetivo naqueles locais. Já o Universidade Multicampi foi implementado, pelo menos desde 2003, com apoio do Expandir e do Reuni. Já havia quadro docente e cursos permanentes nos campi, deste modo, as políticas públicas ajudaram na consolidação dos quadros docentes e na oferta de novos cursos nos campi do interior. Beira do Rio – A seu ver, quais falhas das políticas de expansão da UFPA devem ser corrigidas e como elas podem ser melhoradas? Maria Páscoa – Entre as falhas que aponto na política de expansão da UFPA, nos últimos dez anos, estão aquelas diretamente relacionadas à consolidação dos campi, pois percebemos, primeiramente, uma estratégia de consolidação efetiva de apenas alguns polos. Outra questão é que parecia não haver uma política estratégica de desenvolvimento para cada uma destas unidades a partir de suas realidades e dos contextos sociais e econômicos nos quais estão inseridas, pois um campi que está inserido no Marajó é muito diferente de um campus inserido no sudeste do Pará ou no nordeste do Estado. Assim, para cada unidade, deveria haver um plano de desenvolvimento e consolidação/expansão diferenciado. Tal plano deveria ser construído pela Reitoria, pela comunidade acadêmica dos campi e pela comunidade local. Beira do Rio – Qual a relação entre a expansão do ensino superior e o desenvolvimento social? Maria Páscoa – Entendo que a educação superior é fundamental para o desenvolvimento econômico e social das populações. Mas deve-se considerar, na ação universitária, antes de tudo, a necessidade de atender aquilo que Walterlina Brasil aponta como fundamental: garantir a pertinência científica das universidades nos espaços onde estão inseridas. Essa pertinência passa pela necessidade de se fazer uma relação entre o conhecimento produzido na academia e aquilo que a sociedade precisa ou espera que a universidade faça.

Espaço ITEC Cidadão é um dos exemplos em que há predominância da cobertura vegetal na Cidade Universitária

Sazonalidade

Ribeirinhos da Amazônia adaptam-se à maré alta

Cultura

Figurinos são alvo de estudo na ETDUFPA Pesquisadora analisa o processo de construção das vestimentas usadas nos espetáculos, entre elas, as do artista Mestre Nato. Páginas 6 e 7.

Imposto

Populações do Pará e Amapá apostam no plantio do açaí durante as cheias dos rios (lançantes). A "açaização do

estuário amazônico" é pesquisada pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) . Página 4.

Acervo do Pesquisador

Segundo estudo, programas federais foram consolidados sem estratégia

Lei Kandir não tem aspectos constitucionais Dissertação do ICJ revela que a isenção do ICMS, imposta pela União, causou perdas estimadas em R$ 9 milhões para o Pará. Página 3.

Hipertensão

Alexandre Moraes

Assimetria marca o crescimento dos campi

om base na cobertura vegetal de Belém, evidenciada por meio de imagens de satélite, a Faculdade de Geografia e Cartografia (FGC) da Universidade Federal do Pará (UFPA) traçou o novo mapa verde da capital paraense. Trata-se do Projeto "Estudo e Valorização das Áreas Verdes Urbanas", desenvolvido pela professora Luziane Mesquita, que analisou seis distritos urbanos. Os resultados mostraram que, no Distrito do Guamá (Dagua), formado por bairros como Terra Firme, Condor, parte do Jurunas, Batista Campos, Cidade Velha, entre outros, o Índice de Cobertura Vegetal está em 4,33% - valor abaixo da média internacional, estipulada em 30%. Já o Distrito do Entroncamento (Daent), formado por bairros como Souza, Marambaia, Val-de-Cães, entre outros, apresenta a melhor cobertura vegetal da cidade, com Índice de Cobertura Vegetal de 54,28%. A Cidade Universitária José da Silveira Netto também faz parte do estudo, cujos resultados apontaram Índice de Cobertura Vegetal de 32,28%. Página 5.

Alexandre Moraes

Verde formata o espaço urbano

Enfermagem investiga rede de apoio social Projeto de Pesquisa identifica as mudanças no estilo de vida dos ribeirinhos

Entrevista

Obra de Mestre Nato inspira estudo

Maria Páscoa observa a influência dos Programas Expandir e Reuni para a reestruturação dos campi. Página 12.

Opinião Professor Helder Aranha defende a adoção de Tecnologia da Informação para microempresas. Página 2.

Estudo revela que ações de pessoas próximas auxiliam os pacientes a continuar o tratamento. Página 10.

História na Charge Estreiam, a partir desta edição, ilustrações de Walter Pinto acerca de fatos da história do Pará. Página. 2


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012 –

Multicampi kkk

OPINIÃO Helder Aranha

É

relevante compreender a adesão ao comércio eletrônico por parte de micro e pequenas empresas (MPEs) fornecedoras no Estado do Pará, particularmente, quanto à seguinte questão: quais os fatores que impedem essas empresas de aderir ao novo modelo de comercialização eletrônica operacionalizado por grandes empresas compradoras? Como exposto por Solomon, a fundamental vocação e destinação das empresas de pequeno porte é para a animação econômica e o protagonismo social das comunidades locais, com repercussões na alavancagem das economias regional e nacional. É o que ocorre no Pará, particularmente, no entorno dos municípios polo dos projetos industriais capitaneados pelas grandes empresas mineradoras, por exemplo. Os últimos dez anos têm marcado intensos debates visando à reconstituição da cadeia produtiva, desta vez, visando a sua verticalização no próprio Pará. As principais empresas com-

A História na Charge Walter Pinto

No comércio realizado por estas, grande parte das operações é realizada eletronicamente, utilizando ambiente web e aplicações de TI, especificamente, voltadas ao comércio eletrônico. Tradicionalmente, MPEs têm grandes dificuldades em transitar em ambientes dessa natureza, no que se conhece como barreiras de adoção de Tecnologia da Informçação (TI) em MPEs. Ainda assim, o número de MPEs que utilizam TI vem aumentando, o que é explicado principalmente pela diminuição progressiva dos custos de aquisição tecnológica, pela busca de vantagem competitiva, pela exigência de parceiros e, até mesmo, por exigências legais. Há pesquisadores que garantem que os sistemas de informações das MPEs, normalmente, são manuais, ou, quando informatizados, englobam apenas tarefas de substituição de papel por meio digital. Notaram também que o planejamento e o custo inadequado do projeto de TI, bem como a resistência de funcionários

impedem uma melhor compreensão e adoção dessas aplicações. Hão de se considerar, ainda, as dificuldades tecnológicas. Estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) deste ano informou que, nas cidades do norte do Brasil, apenas 10,9% das residências têm acesso à banda larga, percentual que cai para 1,1% nas áreas rurais. A utilização de aplicações de TI pode contribuir muito para o desenvolvimento das MPEs, com a ressalva de que tal tecnologia não terá valia nenhuma se não houver investimento na capacitação de recursos humanos habilitados à operacionalização desses aplicativos, o que, via de regra, se converte em um fator reverso e complicador. Por isso, ações nessa direção devem ser pautadas em diagnósticos sólidos, ações efetivas e políticas públicas de inclusão digital. Helder Aranha - Professor da UFPA e Mestre em Gestão da TI

walterpinto.oliveira@gmail.com

A

partir desta edição, o jornal Beira do Rio inaugura a seção História na Charge, que se propõe, pela via do humor, reinterpretar a história da Amazônia. Mais do que provocar o riso, a charge nos jornais desempenha uma importante função crítica dos acontecimentos cotidianos, desde que Manoel de Araújo Porto-Alegre publicou a primeira, em 1837, no Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro. Walter Pinto, o cartunista encarregado da seção, publicou em diversas jornais brasileiros, entre os quais O Pasquim, Correio Braziliense, Diário de Pernambuco, O Nanico, Bandeira 3 e A Província do Pará, neste último ocupando as funções de chargista, diagramador e repórter, além de editor de uma página de humor gráfico. Em 1985, ingressou no quadro de jornalistas da antiga Assessoria de Imprensa da UFPA. No mesmo ano, participou da fundação do jornal Beira do Rio, do qual foi editor e, atualmente, é repórter. Walter Pinto também graduou-se em História e tornou-se mestre em História Social da Amazônia.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA cientificoascom@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-8036

UFPA incentiva a produção de leite

aranha@ufpa.br

Urgente: TI para MPEs pradoras dessa cadeia vêm, assim, progressivamente, adotando várias iniciativas de incentivo para avançar no processo de qualificação e certificação das MPEs fornecedoras. O Programa de Desenvolvimento de Fornecedores da Federação das Indústrias do Pará (PDF/Fiepa) tem feito relevante trabalho nesse sentido. Este processo de qualificação constatou que as referidas MPEs, num cenário não tão destoante da realidade brasileira, apresentavam dificuldade em atender aos padrões exigidos pelas empresas compradoras. A dificuldade mais relevante, além das tradicionalmente existentes (precária compreensão de princípios básicos de gestão de negócios, dificuldade de acesso a crédito e capitalização), foi de entendimento quanto ao gerenciamento das informações (e suas respectivas tecnologias de aplicação) específicas do sistema de fornecimento, inclusive, com resistência à utilização de sistema padronizado utilizado pelas compradoras.

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Instituto de Medicina Veterinária assiste produtores de Rondon do Pará Acervo do Pesquisador

Alexandre Moraes

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Programa de extensão rural da UFPA capacita pecuaristas do sudeste do Estado, com base na agricultura familiar, a fim de melhorar a cadeia produtiva leiteira Yuri Coelho

A

economia da Região Norte é constituída, basicamente, por atividades ligadas ao setor primário, com destaque para o extrativismo e a agropecuária – principalmente, a bovinocultura, com cerca de 20 milhões de cabeças. As atividades ligadas à cadeia produtiva do leite também têm um papel importante no Pará. Para se ter ideia, o Estado é o décimo primeiro em produção de leite, no País; e o segundo, na Região Norte, perdendo apenas para Rondônia. Inúmeros empregos são gerados nessa cadeia produtiva. Por isso, é importante que a Universidade invista em pesquisa e difusão de conhecimento nessa área, em especial, nos campi próximos a

municípios de base econômica agropecuária. Preocupada com a formação dos gestores de terras amazônicas, aqueles que lidam diariamente com o plantio e a agropecuária na Região Norte, a Universidade Federal do Pará (UFPA) possui inúmeros projetos que auxiliam na organização e no aproveitamento de recursos por meio da sustentabilidade e da agricultura familiar. Um programa de extensão rural que ilustra bem esse modelo de evolução foi desenvolvido por professores do curso de Medicina Veterinária, do Campus de Castanhal, denominado “Capacitação de Pecuaristas Familiares e Difusão Tecnológica em Propriedades Rurais que Atuam na Bovinocultura Leiteira na Região do Sudeste Paraense”. O Projeto tem

como objetivo maximizar a produção de leite na região do sudeste do Estado, tendo como foco o município de Rondon do Pará. O Projeto de Extensão tem dois anos de existência e, em linhas gerais, atende diretamente cinco propriedades rurais em Rondon do Pará, as quais devem se tornar propriedades demonstrativas, no futuro, para os demais produtores da região. A expectativa é apoiar os produtores que trabalham na cadeia produtiva do leite, melhorando a produção com base na agricultura familiar, por meio da capacitação dos pecuaristas e da transferência de tecnologias a fim de desenvolver sistemas de produção equilibrados nos âmbitos social, econômico e ambiental. O Projeto é coordenado pelos professores

Ricardo Pedroso Oaigen, Carlos Magno Chaves Oliveira e Felipe Nogueira Domingues e conta com o apoio de acadêmicos do curso de Medicina Veterinária da UFPA, sendo sete bolsistas de extensão, além de acadêmicos de pós-graduação. O Projeto foi aprovado com recursos no Edital Programa de Extensão Universitária do MEC (Proext/MEC) 2012, um dos poucos contemplados dentro da UFPA, no ano passado. O Programa tem o objetivo de apoiar as instituições públicas de ensino superior no desenvolvimento de programas ou projetos de extensão que contribuam para a implementação de políticas públicas. Abrange a extensão universitária com ênfase na inclusão social.

Capacitações estimulam o desenvolvimento sustentável Todo mês, a equipe do Projeto realiza visitas técnicas nas propriedades relacionadas para o devido assessoramento técnico. Ocorrem, também, capacitações, no turno da noite, no Parque de Exposições do município, para cerca de 30 produtores rurais, na forma de palestras técnicas ministradas por técnicos especializados (médicos veterinários, zootecnistas e agrônomos). Outro ponto de destaque é o apoio do gover-

no local. “Temos uma parceria com a Prefeitura Municipal de Rondon do Pará para concessão de apoio financeiro para o Projeto, de um técnico agrícola e de infraestrutura local”, afirma o professor Ricardo Oaigen. Essas ações têm a intenção de capacitar cada vez mais pessoas, promovendo o desenvolvimento sustentável na região sudeste do Pará, crescendo em produtividade, porém mantendo a harmonia com a natu-

reza. Desde o início do Projeto até agora, já foram realizadas dezenas de visitas técnicas em cada uma das cinco propriedades rurais atendidas. Além disso, foram realizadas outras ações de extensão rural que já capacitaram, em média, 200 produtores locais. As atividades de extensão visam melhorar a assimilação do que foi aprendido nas palestras técnicas por meio dos dias de campo, nos

quais o produtor pode ver de perto e colocar em prática o que aprendeu, ou por meio do Simpósio Regional de Bovinocultura Leiteira, que ocorre, anualmente, em julho, ou por meio de palestras técnicas nas áreas de nutrição animal, sanidade dos rebanhos, melhoramento genético, bem-estar animal, reprodução animal, higiene e inspeção de produtos lácteos e gerenciamento técnico-financeiro de sistemas de produção leiteiros.

Simpósio de Bovinocultura reúne Academia e profissionais

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional Coordenação Luiz Cezar S. dos Santos; JORNAL BEIRA DO RIO Edição: Thaís Braga; Reportagem: Glauce Monteiro (1.869-SRT/PA)/ Marília Jardim/Mayara Albuquerque/ Paulo Henrique Gadelha/Pedro Fernandes/Rosyane Rodrigues (2.386-SRT/PE)/Thaís Braga (2.361-SRT/PA)/Walter Pinto (561-SRT/PA)/ Yuri Coelho; Fotografia: Alexandre Moraes/Laís Teixeira; Secretaria: Silvana Vilhena; Beira On-Line: Leandro Machado; Revisão: Júlia Lopes/Cintia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

O bom andamento do II Simpósio Regional de Bovinocultura Leiteira, realizado nos dias 26 e 27 de junho deste ano, mostra que o projeto de extensão está preparado para um segundo semestre repleto de atividades. A realização da segunda edição do evento foi resultado da parceria entre a UFPA, a Associação dos Amigos do Leite de Rondon do Pará (Amileite) e da Prefeitura Municipal de Rondon do Pará. Contou com cerca de 150 participantes, entre produtores rurais, acadêmicos das Ciências Agrárias e profissionais do setor. Para o professor Ricardo Oaigen, a UFPA tem desenvolvido um

papel importante na produção leiteira na região do município de Rondon do Pará. “Vários projetos estão sendo desenvolvidos nas áreas de sanidade, genética, nutrição e reprodução dos bovinos. O norteador desses projetos é o Programa de Bovinocultura Leiteira, que tem uma grande equipe responsável pelas atividades”. O Simpósio, por exemplo, é organizado por alunos de graduação do quinto período da Faculdade de Veterinária. “O Projeto tem um grande potencial para fomentar a produção local de leite e derivados por meio do aumento da produtividade dos rebanhos e da utilização de tecnologias

de ordem nutricional, reprodutiva e genética. Também são implantados controles zootécnicos e financeiros para mensuração dos indicadores de desempenho”, afirma Ricardo. Os professores envolvidos no Projeto consideram a integração de atividades de ensino, extensão e pesquisa fundamentais para o desenvolvimento e a formação técnica e humana do futuro profissional que irá atuar na cadeia produtiva do leite. Consumidor – Quem também se beneficia com o melhoramento das atividades agrárias que envolvem a produção de leite é o consumidor fi-

nal, pois, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal seria que se consumissem diariamente, pelo menos, três porções de lácteos (seja leite líquido, iogurte, queijo, coalhada), realidade à qual o brasileiro e, mais ainda, o paraense não se adequaram. Segundo pesquisas, o consumo de leite pela população brasileira é metade do que deveria ser, o que preocupa nutricionistas, já que o leite é a principal fonte de cálcio, substância que ajuda na formação e na prevenção óssea do organismo e contribui para evitar a osteoporose, além de estimular o crescimento de crianças e adolescentes.


10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012 –

Imposto

Hipertensão

Objetivo é entender como pessoas próximas ajudam a controlar a doença Alexandre Moraes

C

om o objetivo de estudar a forma como a rede de apoio social de pessoas com hipertensão arterial funciona, a professora Roseneide Tavares, da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA), desenvolveu o Projeto “Vivenciando a Rede de Apoio Social de Pessoas com Hipertensão Arterial numa Comunidade na Amazônia”. O trabalho é resultado da tese de doutorado, realizada por meio do Programa de Capacitação Docente do Projeto de Doutorado Interinstitucional (Dinter), promovido pela UFPA e pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob a orientação da professora Denise Guerreiro. Atualmente, as doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de mortalidade no Brasil, apesar de ter-se observado uma tendência lenta e constante na redução das taxas de mortalidade cardiovascular, explica Roseneide Tavares. O aumento do tempo médio de vida e mais a exposição aos fatores de risco, como tabagismo, inatividade física, hipertensão, diabetes, aumento no nível do colesterol, entre outros, são considerados a principal razão para a ocorrência da doença, informa a professora. O estudo foi realizado na Unidade Municipal de Saúde (UMS) Satélite. A partir da identificação das pessoas com hipertensão arterial na Unidade, outros cenários, como os domicílios, também foram utilizados para a realização de entrevistas. Os entrevistados foram pacientes com hipertensão arterial e as outras pessoas que integram a rede de apoio social dos portadores da doença. No total, foram 49 entrevistas, com 35 pessoas: 22, hipertensas; cinco, familiares; cinco, profissionais de saúde e três representantes de instituições da comunidade (Igreja Católica, Pastoral da Saúde e Federação Espírita Paraense). A abordagem qualitativa foi

Projeto estimula mudança de hábito

Doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte no Brasil escolhida para o estudo com a intenção de compreender o apoio que as pessoas com hipertensão arterial recebem, conhecer a interação com os participantes da rede e, também, perceber como ocorre o apoio para o tratamento e os cuidados necessá-

rios. Para isso, foi utilizada a Teoria Fundamentada nos Dados (Grounded Theory), caracterizada por ser indutiva e dedutiva, que se baseia na análise sistemática de dados, cuja intenção é desenvolver uma teoria sobre um fenômeno.

Ações visam à permanência no tratamento Segundo a professora, há uma necessidade de se definir ações que possibilitem a permanência das pessoas com hipertensão no programa de combate à doença, uma vez que, por se tratar de agravos crônicos, o tratamento é contínuo, logo, não pode ser interrompido – o que nem sempre acontece. Isso também influenciou na definição da pesquisa. “A adoção de práticas que possam minimizar os fatores de risco para a hipertensão arterial é um importante passo para a pessoa tratar ou prevenir as complicações da doença, entretanto é necessário ter atitude para mudar antigos comportamentos ou adotar novos hábitos”, explica. Roseneide Tavares afirma que as redes sociais são determinantes nas condições de enfrentamento das

necessidades de saúde das populações e estratégicas para a articulação de vários setores sociais – Organizações Não Governamentais (ONGs), instituições filantrópicas, movimentos populares, órgãos e serviços estatais nas áreas de saúde, bem-estar, entre outros – a fim de formular ações conjuntas. “As redes sociais e o apoio social proporcionam um aporte qualitativo tanto para a pessoa como para os demais componentes da rede que oferecem o apoio. Para as pessoas com hipertensão arterial, especificamente, consideramos que a participação na rede pode ser um fator contribuinte para a efetivação do tratamento”, afirma. Os resultados encontrados com a pesquisa apontam que viver com hipertensão arterial gera de-

mandas que iniciam a mobilização e a formação da rede social de apoio, originando ações na tentativa de possibilitar o atendimento. “O controle da doença, o atendimento na unidade de saúde, a prevenção e o controle das complicações, todos são pontos positivos da rede. Mas também há os pontos negativos ou as lacunas, como a dificuldade de a pessoa chegar a alguns especialistas; a falta de remédio em alguns períodos na unidade; a falta do controle das complicações, pela própria pessoa, ou a dificuldade financeira para manter uma atividade física. A rede também pode se mostrar ineficaz no sentido de não atender as necessidades do portador da doença. Tais lacunas precisam ser contempladas”, afirma.

As VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial apontam a necessidade de mudanças no estilo de vida para auxiliar o tratamento dos fatores de risco associados a doenças. São eles, redução e controle de peso; redução na ingestão de sódio; realização de atividades físicas; redução ou abandono da ingestão de álcool; aumento da ingestão de potássio por meio de frutas e vegetais; suplemento de cálcio e magnésio e redução e controle do colesterol, entre outros. Além do uso de determinados medicamentos, diariamente, dependendo do caso. Com os resultados encontrados pelas entrevistas, a pesquisadora criou um Modelo Teórico, ou seja, uma teoria para explicar como se forma a rede de apoio social de pessoas com hipertensão arterial. A partir disto, foi criado um Modelo de Cuidado, que permitirá mapear a rede de apoio social dessas pessoas e identificar os resultados positivos ou negativos desta rede no atendimento à doença. Posteriormente, serão traçadas intervenções de enfermagem para o atendimento das lacunas e a manutenção do apoio oferecido. A avaliação final informará se as intervenções de enfermagem deram resultado. Segundo a professora, por meio disso, é possível que o enfermeiro tenha em mãos um instrumento que possibilite o atendimento de pessoas com hipertensão arterial mais adequadamente. Ele parte, principalmente, do princípio de que a alternativa para a melhoria do tratamento da doença se dá pela mudança do modo de pensar das próprias pessoas sobre sua doença. “A gente precisa sair desta mesmice de só ficar falando e dando uma lista de orientações para todas as pessoas. Acreditamos que contribuir para o atendimento das demandas não está sustentado em determinações de fazê-las modificar seus hábitos, mas em ajudá-las a tomar uma decisão melhor, compreendendo e considerando o que é importante”, afirma Roseneide Tavares.

Premiação A Tese Vivenciando a Rede de Apoio Social de Pessoas com Hipertensão Arterial numa Comunidade na Amazônia ganhou o Prêmio Menção Honrosa no XVI Congresso Médico Amazônico, realizado este ano. O Projeto também foi aprovado no Programa de Incentivo ao Recém-Doutor (Pard), da UFPA. A pesquisadora, no momento, realiza a validação da teoria defendida na Tese, na mesma Unidade de Saúde pesquisada. As atividades seguem até dezembro deste ano.

Pesquisa estuda efeitos da Lei Kandir

Isenção do ICMS, estabelecida pela União, viola a autonomia do Estado Mayara Albuquerque

A

Lei Complementar Federal n.º 87, de 13 de setembro de 1996, conhecida como Lei Kandir, estabeleceu normas gerais para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de competência dos Estados e do Distrito Federal, bem como para a isenção genérica de produtos e serviços destinados à exportação, abrangendo produtos primários e semielaborados. Com o objetivo de fazer a análise jurídica e dos efeitos fiscais causados pela Lei, no Estado do Pará, o estudante Victor Souza, do Programa de Pós-Graduação em Direito, da Universidade Federal do Pará (UFPA), desenvolveu a pesquisa Renúncia Fiscal Heterônoma de ICMS na Exportação no Estado do Pará, sob a orientação do professor Calilo Jorge Kzan Neto. A relação entre Estados e União sofreu profundas alterações durante a década de 1980, especialmente, após a retomada das eleições diretas para governador, contextualiza Victor. O fortalecimento dos Estados e municípios refletiu no progressivo aumento desses entes federados na partilha de receitas, processo completado pela promulgação da Constituição Federal de 1988. Entretanto a segunda metade da década de 1990 inaugurou uma nova fase do federalismo fiscal brasileiro, com o poder central fortalecido pelo sucesso do Plano Real e pela deterioração das finanças estaduais. Victor Souza explica que o peso da tributação na composição do custo da produção, em geral, e das exportações, em particular, fez da desoneração do ICMS uma opção

Alexandre Moraes

Enfermagem investiga rede de apoio social

Mayara Albuquerque

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Exportação de matéria-prima e semielaborados passou a ter isenção de imposto com a implantação da Lei Kandir cômoda que surgiu pela deturpação na interpretação da Constituição Federal com lei complementar para regulamentar o ICMS. Dessa forma, a União obteve força política suficiente para impor condições aos Estados, de forma que estes aceitassem, ao menos no plano político, a Lei Kandir, que impôs renúncia fiscal heterônoma, inicialmente, na modalidade de isenção do ICMS para exportação no que tange a bens primários e à matériaprima e, posteriormente, ratificada pela imunidade tributária determinada pela Emenda Constitucional (EC) 42/2003. Segundo o autor da Dissertação, a parcela de autonomia dos

Estados-membros em uma Federação se expressa pela parcela de poder que lhe é garantida e reservada mediante a divisão de competências não abrangidas pelo governo federal. À União cabe, limitadamente, instituir normas gerais sobre esses impostos. “A Constituição previa, originalmente, que, sobre os produtos industrializados, não seriam cobrados ICMS na exportação e excluía os semielaborados e os de matéria-prima. A imunidade tributaria é uma norma de estrutura, ou seja, uma norma que estabelece competência. O Estado do Pará tem competência para tributar ICMS e é somente a ele que cabe legislar sobre isso”, explica.

O estudo teve como objetivo destacar, sob a ótica do federalismo, esta renúncia fiscal heterônoma para exportação como possível instrumento de usurpação de competência tributária dos Estados membros e do Distrito Federal. “Parti do pressuposto de que a Lei Kandir é inconstitucional, pelo menos no que tange à renúncia fiscal que ela determinou no Pará, altamente prejudicado com esta isenção heterônoma. Por que heterônoma? Porque ela não é do ente autônomo, foi heteronomamente que a União impôs esta isenção forçada. Nesse aspecto, a Lei viola a autonomia federativa de Estado, que é garantida pela Constituição”, afirma.

Cofres do Pará sofrem perdas estimadas em R$ 9 bilhões A Lei Kandir também estabeleceu a compensação financeira aos Estados exportadores. No período analisado pela pesquisa, o Pará possuía o sexto maior coeficiente de exportação do Brasil, sendo a maior parte desse índice composta de matéria-prima e semielaborados. “Os coeficientes de exportação presentes no anexo da Lei Kandir não, necessariamente, representam o volume e percentual de exportação dos Estados. O coeficiente de exportação é estático, enquanto o volume de exportação dos Estados é dinâmico, ocorrendo, por vezes, perdas fiscais que os Estados não teriam, caso a exação de ICMS sobre a expor-

tação não tivesse sofrido a renúncia fiscal heterônoma”, afirma. De acordo com Victor Souza, durante o período de vigência da Lei Kandir e da EC 42/2003, o Estado do Pará acumulou perdas fiscais que não foram compensadas pela União. Victor afirma que, na época da criação da Lei, no governo Fernando Henrique Cardoso, o discurso usado foi que a Lei era essencial para manter a balança comercial favorável. Entretanto o pesquisador argumenta que tal discurso não é valido. “Na verdade, os produtos industrializados, que vale a pena exportar, porque incentivam a indústria local, já eram isentos de ICMS pelo texto

original da Constituição. Excluíam-se os semielaborados e a matéria-prima, porque não viabiliza concorrência em matéria-prima. Se só o Pará exporta mogno, bauxita, alumina, entre outros, com quem ele iria concorrer? Ou seja, a demanda seria a mesma e a Lei não veio para aumentar o número de exportação, e sim para preencher interesses econômicos específicos.” Segundo estimativas da Secretaria de Fazenda do Pará, a perda média mensal de receita decorrente da desoneração das exportações foi de 14% em relação à arrecadação corrente. Além disso, segundo estudo realizado pelo Tribunal de Contas do

Estado do Pará (TCE), as perdas fiscais para os cofres do Estado acumularam, de 1997 a 2010 – período de vigência da Lei Kandir –, a soma de R$ 21 bilhões de reais. Entretanto Victor Souza diz que, considerando outras variantes, o estudo do TCE tem equívocos na elaboração do cálculo. Segundo o pesquisador, a tabela aponta para um valor menor, de R$ 9 bilhões. “Esse dinheiro, certamente, seria utilizado na aplicação de direitos fundamentais, como educação, saúde, lazer, moradia, entre outros, tendo em vista, principalmente, a vinculação da receita de impostos para direitos fundamentais”, contesta.

Norma evidencia incoerência com a Constituição Federal O estudo realizado por Victor Souza concluiu que a Lei Complementar demonstra total incompatibilidade com a Constituição Federal, tendo em vista que, indo muito além de sua competência, desonerou da exportação todos os produtos e serviços em contrariedade patente ao texto constitucional vigente à época.

Com base na pesquisa, o pesquisador afirma que a Lei Kandir é, portanto, inválida por violar o conteúdo constitucional e por tratar de matéria que extrapola sua competência. Ele afirma que o mesmo se pode dizer da EC 42/2003, posto que altera e desfigura o pacto federativo realizado na Constituição, o qual afirma que

não se pode restringir competências, somente aumentá-las. Para o autor, o estudo é importante por permitir que se abram portas para uma luta para a derrubada da Lei. “Espero que a pesquisa possa servir de base para um procurador do Estado, por exemplo, entrar com uma ação de inconstitucionalidade

no Supremo Tribunal Federal. Sendo uma produção acadêmica, há um embasamento teórico que poderia agilizar ou pleitear a derrubada da Lei. Acredito que lutar contra fatores que prejudicam nosso Estado é de extrema importância para a Universidade e deve estar entre seus papéis”, finaliza.


4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012 –

Sociedade

Atividades agrícolas se ajustam à maré alta T

radicionalmente, março é o mês de marés altas em várias cidades do Estado do Pará. Esse fenômeno, muitas vezes, ocasiona diversos transtornos à vida de várias famílias, sobretudo, das que moram à margem de rios, pois, dependendo da magnitude das marés, algumas precisam abandonar suas casas e alterar suas atividades econômicas. Essas questões são estudadas no Projeto de Pesquisa “Adaptações Socioculturais de Caboclos no Estuário Amazônico do Brasil para Eventos Extremos de Maré”, desenvolvido pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA). “Esta iniciativa foi elaborada para avaliar como as populações ribeirinhas do Pará e do Amapá adaptam o seu estilo de vida e os seus sistemas agrícolas aos eventos extremos de grandes marés, chamados também de lançantes”, explica a professora e pesquisadora do NAEA, Oriana Almeida, coordenadora do Projeto. “Esta avaliação será feita de forma comparada, analisando-se a economia familiar e o processo de adaptação de ribeirinhos de algumas comunidades dos dois Estados, localizadas no estuário do Rio Amazonas.” O trabalho começou a ser exe-

Acervo do Pesquisador

Estudo avalia economia familiar e adaptação de ribeirinhos da Amazônia

Projeto de Pesquisa do NAEA avalia o estilo de vida e os sistemas agrícolas de comunidades do Pará e do Amapá cutado em fevereiro de 2012 e tem previsão para ser concluído em 2015. Assim, muitos dados ainda serão gerados. De acordo com a pesquisadora, a equipe do Projeto estuda como essas marés têm variado ao longo dos

últimos anos, ou seja, se estão aumentando ou diminuindo e, dependendo dessa variação, de que forma elas provocam necessidades de adaptação das comunidades ribeirinhas. A análise inicial de dados climáticos, que

serão complementados pelos dados do próprio Projeto, é feita na Universidade da Columbia, localizada em Nova Iorque, nos Estados Unidos, pela pesquisadora Kátia Fernandes, integrante do Projeto.

Oriana Almeida. Conforme a coordenadora, culturas de plantio e colheita, como as de milho, feijão e mandioca, precisam, por um determinado tempo, dependendo do tamanho das lançantes, ser substituídas por outras atividades. Nos últimos anos, as famílias têm expandido áreas de açaí, por razão do aumento de preços deste produto, e, possivelmente, reduzido áreas de culturas anuais. Entretanto, conforme os pesquisadores, muitas famílias ainda necessitam aprender e se integrar dentro do sistema burocrático e, assim, buscar obter essas rendas disponíveis pelo governo. Esse processo nem sempre é simples, pois vários

ribeirinhos não possuem uma série de documentação requerida, como Carteira de Identidade e Cadastro de Pessoa Física (CPF). “Esses documentos são o primeiro passo para obtenção de benefícios, como aposentadoria, bolsa escola e seguro desemprego”, complementa. Além de verificar a variação do tamanho das marés nos últimos anos, o Projeto de Pesquisa vai analisar de que forma esses eventos estão associados a outros fatores climáticos – que influenciam na vida social e econômica das populações tradicionais ribeirinhas. De acordo com Oriana Almeida, o objetivo final é criar um sistema de alerta de longo prazo. “Com esse sistema,

pretende-se informar ao ribeirinho o que esperar em termos de probabilidade de ocorrência de altas marés em estações críticas do ano. Esse alerta será dado por meio de sistema de rádio. Assim, as comunidades poderão se preparar para esses eventos extremos”, considera. Após o sistema de alerta começar a operar, será possível, então, avaliar de que forma as famílias, que vivem às margens dos rios, se adaptam ao aumento das marés. Como forma complementar, as comunidades terão conhecimento sobre as lançantes e as mudanças climáticas por meio de cartilha educativa, com linguagem simples e adequada à população.

Marégrafos captarão dados para formar sistema de alerta A iniciativa conta com a parceria de algumas organizações e instituições locais de ensino e pesquisa. Uma delas é o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), no Campus de Abaetetuba, região nordeste do Estado. Duas comunidades do município são utilizadas para as pesquisas de campo do Projeto. Há, também, estudos em duas comunidades de Ponta de Pedras, no Marajó, e, ainda, em duas cidades do Amapá: Mazagão e Ipixuna. Segundo a coordenadora, para o andamento das atividades, alguns

Vídeo produzido pela UFPA mostra como utilizar o veículo de comunicação Glauce Monteiro

Açaí é alternativa para obter renda durante as lançantes A partir das pesquisas de campo já realizadas e também pelo conhecimento acadêmico sobre o assunto, é possível formular algumas hipóteses, no que diz respeito a uma possível alteração no regime de marés. “Pelo que se tem observado, o açaí é uma das alternativas encontradas para a obtenção de renda. Em algumas comunidades, relatos de produtores sinalizam que o aumento das marés inviabiliza a prática do plantio e da colheita de alguns produtos agrícolas. Se os dados mostrarem que esse aumento é generalizado, mais famílias irão plantar açaí. Este processo de expansão é denominado de 'açaização do estuário amazônico'”, explica

"ABC": o que eu faço com a TV digital?

equipamentos ainda serão adquiridos. Um deles é o marégrafo, instrumento que registra automaticamente o ciclo diurno das marés em um determinado ponto localizado na costa. Esse registro chama-se maregrama. Os instrumentos serão inseridos na infraestrutura da Marinha, outra parceira do Projeto, tanto no Pará quanto no Amapá. Os marégrafos irão coletar dados (previsão e medição do tamanho das marés), os quais servirão, por exemplo, para o sistema de alerta voltado aos ribeirinhos. “Quando o Projeto for concluído, esses instrumentos irão permanecer na Marinha

para a coleta de dados de longo prazo, uma vez que análises de mudanças climáticas exigem dados de longo prazo”, diz a docente. Colaboração – O Projeto conta com a participação do professor Sérgio Rivero, do Programa de PósGraduação em Economia da UFPA; do doutor Miguel Pinedo Vasquez, da Universidade da Columbia, nos Estados Unidos; da meteorologista brasileira Kátia Fernandes, que faz pós-doutorado na Universidade da Columbia; do pesquisador Nathan Vogt, do Instituto de Pesquisas Espa-

ciais (Inpe); do professor canadense Peter Deadman, da Universidade de Waterloo, no Canadá; e do professor Eduardo Brondízio, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.

Há, ainda, alunos de graduação e de pós-graduação da UFPA e de outras instituições que também colaboram produzindo pesquisas relacionadas ao âmbito do Projeto. O financiamento da iniciativa é oriundo do International Development Research Centre (IDRC), Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Internacional, do Canadá.

O que é TV digital? O que vai mudar na forma de ver televisão com a tecnologia HDTV (TV de alta definição, do inglês High Definition Television)? Essas e outras perguntas foram a inspiração para o Programa "ABC Digital", desenvolvido durante a disciplina Laboratório de Telejornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Facom). A professora Maria Ataíde Malcher e os alunos de graduação produziram um vídeo de caráter experimental que leva ao público informações sobre a TV digital. A narrativa do vídeo, que está disponível na internet (http://www. dailymotion.com/video/xd1olp_abcdigital_shortfilms), é conduzida por um apresentador-personagem que "está assistindo à nova TV". A partir de algumas situações que se passam no sofá da sala de estar, o apresentador simula o uso de uma série de ferramentas e faz a opção por assistir a programas que exemplificam as possíveis diferenças que a programação da nova TV terá. Vencedor do Prêmio Expocom 2010, realizado durante o XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), em Caxias do Sul (RS), o vídeo tem como proposta tornar compreensível algumas das mudanças que a nova TV poderá trazer ao dia a dia do telespectador, a partir de exemplos didáticos e simulações de uso. "Criamos em laboratório um momento em que o usuário poderia interagir com o programa transmitido. Em outro, simulamos como seria a inserção de produção independente na grade de programação. Também pensamos como a publicidade seria incorporada dentro de reportagens a partir da TV digital. Mostramos um

Alexandre Moraes

Sazonalidade

Paulo Henrique Gadelha

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Pesquisadores da Faculdade de Comunicação analisam as funcionalidades da TV digital em relação à analógica telespectador que redescobre todos os usos de seu controle remoto: a possibilidade de avançar, voltar ou parar um programa a que está assistindo, como fazemos com um filme, por exemplo", explica. Ainda de acordo com a orientadora do trabalho, "a TV digital é a possibilidade de darmos um salto qualitativo em relação aos meios de comunicação massivos brasileiros. Se conseguirmos perceber todas as potencialidades do novo padrão de televisão, como a interatividade, a convergência de mídias e a demo-

cratização do acesso, poderemos ter, realmente, mudanças profundas na forma de fazer, ver e ter TV, e com elas, ampliar as próprias potencialidades humanas", acrescenta a pesquisadora Maria Ataíde Malcher. Após a experiência com a construção do vídeo, o "ABC Digital" se tornou projeto de pesquisa, que, mesmo sem fomento, já produziu artigos e resumos para anais de eventos de caráter regional, nacional e internacional, bem como a publicação de capítulo de livro. "Para alcançarmos todas as potencialidades, precisamos

nos apropriar do conhecimento sobre o que é a TV digital e o que podemos fazer com ela. Precisamos ter acesso a essa nova tecnologia na mesma proporção que temos em relação à televisão analógica e, acima de tudo, discutir e saber como utilizar todos estes recursos em prol da melhoria da qualidade de vida das pessoas. Isso tudo faz com que a TV digital seja muito mais que um aparelho e faz com que um dos primeiros passos desse processo seja a reflexão sobre a 'pedagogia' da televisão digital", argumenta.

Novo padrão permite mais espaço para programação local Uma das características do novo padrão de televisão é a existência de "espectros", espécie de subcanais de televisão. Na nova TV, cada emissora poderá transmitir conteúdos em um canal principal e ainda terá uma série de espectros. A empresa de televisão terá a concessão do canal 3, por exemplo, mas poderá também irradiar sua programação pelas frequências 3.1, 3.2, 3.3 e assim por diante. "Com os espectros, haverá tanto espaço a ser preenchido que a tendência é uma abertura maior para transmissão de programas locais

dentro das grades de programação, que ampliarão também os tipos de programas para além do telejornalismo. Esperamos, da mesma forma, que produções independentes, como documentários, possam ganhar visibilidade dentro desse processo. O uso de vídeos amadores e informações da internet em telejornais é o início dessa tendência", prevê a professora da Facom. Para Maria Ataíde Malcher, essas alterações podem não ser imediatas, mas são características que permitem "reinventar a forma de

ver televisão". "Para isso, porém, é preciso profissionais preparados que acompanhem a transição de tecnologia e tenham as competências necessárias para liderar essa reinvenção. É muito mais que uma mudança de procedimentos para repórter, editores e para a equipe multidisciplinar que trabalha em televisão. É uma mudança de mentalidade", acredita. A doutora em Comunicação destaca, ainda, a polêmica que gira em torno de como será a distribuição dos canais e espectros da TV digital. No Brasil, nenhuma emissora é pro-

prietária do canal em que transmite sua programação. Elas possuem uma autorização do Estado para usar, temporariamente, esses espaços. "Entre os debates, estão: Quem terá acesso a concessões dos inúmeros canais criados pela tecnologia HDTV? Os espectros de cada canal serão concedidos a instituições diferentes ou serão, automaticamente, associados à mesma empresa que possui a concessão do canal principal? O tema é complexo, porque envolve questões políticas, sociais, econômicas e culturais", pondera.

Televisão não é só um eletrodoméstico, diz pesquisadora Diante de um contexto de transição tecnológica, é possível que se construa mais um "hiato" de gerações, colocando de um lado os que dominam o uso das tecnologias e, do outro, quem está à margem dessa rede, prevê Maria Ataíde Malcher. Isso porque, de acordo com a professora, "a relação entre a tecnologia

e a cultura é indissociável". "Se um salto acontece no meio tecnológico é porque houve uma 'demanda’ social que impulsionou esse avanço e é a percepção que as pessoas terão sobre essa descoberta que lhe indicará o papel que desempenha e o lugar que ocupa no nosso dia a dia", assegura. A pesquisadora lembra, por

exemplo, que o brasileiro sente um estranhamento ao assistir a novelas produzidas por outros países da América Latina. "Isso acontece porque há uma série de características que entendemos como padrões no Brasil, como o tipo de narrativa, o diálogo, as vestimentas, a maquiagem, os cenários, as locações externas

ou internas, os ângulos de câmera e outros. Ao nos depararmos com esses padrões, que são culturais e, historicamente, estabelecidos, temos a ideia de distanciamento. Essa situação apenas demonstra que a TV é, em primeiro lugar, um elemento de nossa cultura mais que um eletrodoméstico", reforça.


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012 –

Meio Ambiente

Tecnologia

Pedro Fernandes

A

presentar alternativas que garantam a melhoria contínua dos processos de desenvolvimento de software das empresas. Esse é um dos objetivos do Projeto SPIDER (Software Process Improvement: Dvelopment and Research, disponível em www.spider. ufpa.br), coordenado pelo professor Sandro Ronaldo Bezerra Oliveira, do Instituto de Ciências Exatas e Naturais (ICEN) da Universidade Federal do Pará (UFPA). A melhoria dos processos ocorre por meio do uso de ferramentas de software livre – alternativas que podem ser adaptadas de acordo com as demandas da organização ou empresa –, dispensando a aquisição de softwares não proprietários. O objetivo é fazer com que as empresas criem os seus produtos (softwares) a partir de um processo de desenvolvimento mais alinhado, homogêneo e com maior qualidade. “Primeiro, nós fazemos o diagnóstico dos processos de desenvolvimento de software na empresa. Este diagnóstico serve para que possamos olhar como a instituição funciona, qual a situação dela, qual o nível de caos em que ela se encontra, ou seja, verificar quais os seus pontos fracos. Uma vez definido o diagnóstico, nós montamos um plano de ações e propomos algumas melhorias para as organizações. Essas melhorias envolvem desde

Alexandre Moraes

Produtos são criados a partir de processos mais alinhados e homogêneos

A

Equipe do ICEN auxilia a implantação de softwares em empresas para que prestem melhores serviços à comunidade os processos de desenvolvimento de software até os processos organizacionais, de recursos humanos, como a contratação de pessoal”, explica o professor Sandro Bezerra. O Projeto foi institucionali-

zado em 2009, no ICEN, e possui como corpo integrante alunos da graduação da Faculdade de Computação da UFPA; dos cursos de Bacharelado em Ciência da Computação e de Bacharelado em Sis-

e conhecidas no mercado. O Projeto SPIDER realiza transferência de tecnologia ao mercado, à indústria e a instituições de ensino, treinamentos presenciais (capacitação e consultoria) e pesquisas multidisciplinares, as quais estão inseridas em diversas linhas de pesquisa. Entre elas, tecnologias de processos de software e qualidade de software. O Projeto atua tanto na adaptação de ferramentas de software livres existentes no mercado como na criação de novos softwares não proprietá-

rios, visando atender as demandas das empresas da área de desenvolvimento de software. Para isso, os integrantes do Projeto pesquisam ferramentas de software livre nos repositórios da internet e fazem a avaliação. Quando verificado que tais ferramentas podem agregar valor às empresas, ou seja, podem melhorar a implementação do programa de melhoria (MPS. BR), são utilizadas. E quando preciso, serviços e funções podem ser retirados, incluídos ou customizados. Em último caso, é concebida uma nova ferramenta para implantar

Novas práticas melhoram a prestação de serviços Para desenvolver um software, o SPIDER ouve as necessidades da empresa e, depois, cria um projeto de desenvolvimento de software. Depois, o código fonte. “Depois de criado o código fonte, nós testamos e validamos o produto de software. Não podemos fornecer ao mercado softwares que estejam errados. Se estiverem errados, as informações que irão ser sistematizadas também estarão erradas. Por isso, uma vez criados, os programas precisam ser testados e homologados”, explica o professor. O SPIDER conta com uma

Pesquisadores elaboram nova cartografia de Belém Marília Jardim

temas de Informação; do Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PPGCC) e do Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEE).

Projeto transfere técnicas para indústrias e para instituições A implementação de ferramentas de software livre de suporte aos processos organizacionais de desenvolvimento de software obedece as recomendações do modelo de maturidade MPS.BR (Melhoria do Processo de Software Brasileiro), política do governo federal que visa ao avanço da qualidade do desenvolvimento de software e ao atendimento às necessidades das empresas. O uso dessas ferramentas reduz o tempo e os custos para desenvolver produtos, melhora a prestação de serviços e torna as empresas mais competitivas

Áreas verdes são mapeadas

equipe especializada, que atua diretamente nos segmentos industrial e acadêmico, propondo melhorias nos processos das empresas que desenvolvem softwares, sem mudar a cultura organizacional nelas existente. Os principais resultados do SPIDER são trabalhos publicados em periódicos nacionais e internacionais, bem como artigos apresentados em eventos científicos da área da Ciência da Computação, no País e no exterior. Além disso, também gera dissertações de mestrado, teses de doutorado, trabalhos de iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso da graduação.

No âmbito empresarial, o SPIDER realiza atividades de melhoria nos processos de software de duas instituições de ensino de Belém, o Instituto Federal do Pará (IFPA) e o Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa), e em três organizações de desenvolvimento de software, a Cobra Tecnologia (Empresa do Banco do Brasil), a I2 Tecnologia (Empresa de Pernambuco) e a Pronto Digital (Empresa prestadora de serviços à TIM Brasil). O objetivo é implantar boas práticas de desenvolvimento de software nas empresas para que prestem bons serviços à comunidade.

as boas práticas de desenvolvimento de software descritas pelo modelo de maturidade. “Como são softwares livres, temos disponível o seu código fonte, o que nos permite realizar possíveis adaptações. O SPIDER está preparado para fazer três tipos de aplicações. Primeiro, usamos a ferramenta que já existe no mercado, na íntegra, sem fazer manutenção alguma. Segundo, nós adaptamos as ferramentas que já existem para agregar valor à instituição. E, quando preciso, construímos novas ferramentas”, esclarece o professor.

Premiação Em maio deste ano, o SPIDER foi premiado com o 2° lugar no ciclo 2011 (Prêmio Dorgival Brandão Júnior) do Programa Brasileiro de Produtividade e Qualidade em Software (PBQP-SW), mantido pela Secretaria de Política de Informática (Sepin) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). São financiadores a Universidade Federal do Pará (UFPA), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

chegada do verão amazônico é marcada por dias muito quentes em todo o Estado. Em Belém, o calor poderia ser amenizado, naturalmente, pela cobertura vegetal das árvores da cidade. Porém, algumas áreas da capital paraense não possuem áreas verdes suficientes para regular a temperatura e deixar o ambiente mais agradável. O Projeto “Estudo e Valorização das Áreas Verdes Urbanas na Cidade de Belém-PA”, coordenado pela professora Luziane Mesquita, da Faculdade de Geografia e Cartografia (FCG) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA), pesquisou as áreas verdes e o índice de cobertura vegetal dos distritos da cidade de Belém. O estudo tinha como finalidade a formação de recursos humanos na área de Educação Ambiental, sob a perspectiva geográfica, e a elaboração de uma nova cartografia das áreas verdes de Belém a partir de imagens de satélite de grande escala. A pesquisa foi desenvolvida em 2011, quando foram mapeados os locais e foi feita a análise dos mapas no Laboratório de Análise da Informação Geográfica (Laig) da FGC. Este trabalho, junto com a análise de imagens de satélite de Belém,

Acervo do Pesquisador

SPIDER auxilia empresas de software

EM DIA

Cobertura vegetal na UFPA está em torno de 33%, índice acima da média feitas em 2006, cedidas pelo Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), permitiu a elaboração do “Atlas de Áreas Verdes de Belém”, documento que contém as imagens e as considerações das áreas mapeadas. A professora Luziane observa que a crescente perda de áreas verdes de Belém ocorre em função de alguns fenômenos comuns aos grandes centros urbanos, como a expansão horizontal da cidade, o aumento de área construída, a pavimentação de ruas, a verticalização

na área central, o aumento na frota de veículos, que leva à poluição do ar e à poluição sonora. “A ausência de áreas verdes na cidade causa desequilíbrio ambiental, como desregulamento da temperatura da cidade e intensificação das ilhas de calor. Além disso, a arborização de vias públicas embeleza a cidade e, em parques, promove a sociabilidade dos moradores ao redor dessas áreas. A arborização também mantém a preservação de espécies nativas da Amazônia”, ressalta.

de Índice de Cobertura Vegetal por habitante. “Se eu chego próximo ou abaixo de 5%, a gente considera um deserto florístico por conta da ausência de áreas verdes. Quem anda pelo Guamá sabe do desconforto e das altas temperaturas, pois o efeito da ilha de calor é muito intenso”, explica a professora Luziane. O Daent é o maior distrito da área continental da cidade e apresenta o maior Índice de Cobertura Vegetal: 54,28% e 289,82 m² por habitante. A localização de áreas de proteção ambiental, como o Parque Ambiental do Utinga e muitos terrenos militares, impediu o avanço da população sobre essas áreas.

“Nesse distrito, quando a gente divide a área de cobertura vegetal por habitante, o número extrapola a média internacional”, afirma a professora. Fazem parte do Daent os bairros Souza, Marambaia, Valde-Cães, Mangueirão, Castanheira, Águas Lindas, Aurá, Curió-Utinga, Guanabara e Universitário. A Belle Époque beneficiou o distrito mais antigo de Belém, o Dabel. O planejamento da urbanização dessa área com espécies exóticas, principalmente as mangueiras, e a localização de espaços como o Jardim Botânico da Amazônia e o Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi amenizam a temperatura.

"Caminhadas" promovem a educação ambiental Atividades de educação ambiental também integram o Projeto. Os encontros, conhecidos como “Caminhadas Geoecológicas na Cidade Universitária”, reúnem alunos de Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas dos bairros Marambaia e Guamá. Também são ministradas oficinas no Bosque Rodrigues Alves. Além de fazer parte do Projeto, as Caminhadas também são uma atividade permanente da FGC. Escolas interessadas em participar devem entrar em contato com a Faculdade.

A Universidade Federal do Pará (UFPA) disponibiliza o Serviço de Informação ao Cidadão (SIC). O site reúne informações sobre convênios, ações, programas, servidores, despesas, licitações, contratos, entre outros dados. Para acessá-lo, basta ir ao www.portal.ufpa.br e clicar no banner localizado ao lado direito da página, cujo nome é "Acesso à Informação".

Sustentabilidade

Baixa cobertura vegetal aumenta calor no Guamá

Durante o trabalho, foram mapeados seis dos oito distritos urbanos da área continental de Belém: o Distrito Administrativo de Belém (Dabel), do Guamá (Dagua), da Sacramenta (Dasac), do Entroncamento (Daent), do Bengui (Daben) e de Icoaraci (Daico). O Dagua, formado pelos bairros Montese (Terra Firme), Condor e parte dos bairros Jurunas, Batista Campos, Cidade Velha, Guamá, Cremação, Canudos, São Brás, Marco e Curió-Utinga, apresenta Índice de Cobertura Vegetal de 4,33% e 1,8 m² por habitante das regiões estudadas. Esse número por habitantes está abaixo da média internacional, que é de 12m²

Transparência

Trote – A Cidade Universitária José da Silveira Netto também foi alvo de mapeamento específico, que se tornou tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de um dos participantes do Projeto. Intitulado Biodiversidade: Sistema de Áreas Verdes na Cidade Universitária, o TCC mapeou o sistema de estacionamento, as ruas e avenidas e o sistema de bosques do Campus e concluiu que o Índice de Cobertura Vegetal é de 32,28%. “O Índice está acima da média de 30%, ideal para o equilíbrio da temperatura do ambiente. Grande

parte do microclima e das condições ambientais adequadas da Cidade Universitária vem da implantação dos bosques, muitos criados a partir do ‘trote ecológico’, idealizado pelo professor aposentado da UFPA e ambientalista Camilo Vianna, na década de 1990”, lembra Luziane. A previsão é que o Atlas de Áreas Verdes de Belém seja atualizado a partir de imagens de satélite mais recentes “Assim, poderemos rever o aumento ou a diminuição das áreas verdes de Belém e as consequências ambientais dessas mudanças.”

Será realizado, de 24 a 26 de outubro, o II Congresso Amazônico de Desenvolvimento Sustentável, na Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Palmas (TO). O evento é uma iniciativa do Fórum de Pesquisa e Pós-Graduação de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, que congrega 22 Programas de Pós-Graduação da Amazônia. Entre eles, o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), responsável pela Secretaria Executiva do Fórum.

Livros Estão disponíveis novas publicações do Laboratório de Ecologia do Desenvolvimento (LED), do Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará (PPGTPC/UFPA). "Contextos Ecológicos do Desenvolvimento Humano", volumes 1 e 2, refletem as pesquisas realizadas pelo grupo. Informações podem ser encontradas no site do LED http://www.ufpa.br/led/ ou no site da Editora PakaTatu http://www. editorapakatatu.com.br/.

Enade O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), vai disponibilizar, de 15 de outubro a 18 de novembro deste ano, o Questionário Socioeconômico para estudantes de graduação que vão fazer o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), em novembro. O documento estará disponível no site www.inep.gov.br. Os alunos também poderão consultar o local de prova e imprimir o Cartão de Informação.

Extensão Está prevista para 21 de setembro a divulgação de aceite dos trabalhos para a 15ª Jornada de Extensão Universitária. Na data, também serão conhecidos os selecionados para participar como ouvinte, para prestar serviços e para trabalhar como voluntário. Todos terão até o dia 30 do mesmo mês para enviar a documentação exigida à Pró-Reitoria de Extensão (Proex). O evento será realizado de 20 a 22 de novembro.

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6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2012 –

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Cultura

Escola de Teatro e Dança acompanha a criação de figurinos em espetáculos de Belém

Projeto investiga a construção das vestimentas utilizadas pelo elenco durante apresentações, as quais devem externalizar a personalidade das personagens

Modelos concebidos por Mestre Nato inspiram Dissertação

Aliado à coreografia, à maquiagem e à iluminação, os figurinos contribuem para a encenação dos atores nhecer o processo criativo adotado. Segundo a professora, para montar o arquivo, também seria importante conseguir os registros dos desenhos dos figurinos, que nem sempre são guardados por seus criadores. Cada espetáculo é formado por um conjunto de elementos que se complementam. Precisa ter o figurino, o cenário, a iluminação, a

sonoplastia, o ator e o diretor. Sem esses elementos, o espetáculo não funciona. Na encenação, o figurino é um elemento visual que apresenta o personagem e as suas características. Auxilia o ator a compor a personagem, tornando-a verossímil ao espectador, explica Ézia Neves. "O figurino é individual. É feito especificamente para cada personagem.

Cada um de nós tem uma personalidade. A mesma coisa acontece com a personagem. Ao olhar para a roupa do ator, o espectador é induzido a entender a personalidade da personagem. A roupa da personagem tem que ‘falar’ a personalidade dele. Um figurino benfeito e bem montado contribui, em 50%, com o trabalho do ator."

Em vigor desde 2011, a Pesquisa visa catalogar os processos criativos dos figurinistas de Belém por meio de fotos, gravações de vídeo, artigos e matérias publicadas na mídia local sobre os espetáculos. Com o auxílio desse material, será criado um acervo da produção de figurinos realizada na capital do Pará, durante o ano. A ideia é que o acervo englobe a produção atual e, além disso, resgate um pouco da memória recente desta produção na cidade. Porém isso nem sempre é possível, já que grande parte dos figurinistas não guarda os registros de seus figurinos. O foco da Pesquisa são os espetáculos atuais. No entanto, na medida do possível, é feito o resgate do passado recente dessa produção. "Essa é uma das possibilidades do Projeto. Para isso, terei que contar com a colaboração dos figurinistas, pois resgatar o passado é mais trabalhoso do que registrar o momento atual. Além disso, a maioria dos figurinistas não costuma registrar os seus próprios trabalhos, o que dificulta acharmos imagens, arquivos de desenhos e da criação dos figurinos", conta a professora. Em geral, há carência de registros e pesquisas sobre figurinos em Belém. Em razão disso, os inte-

Acervo do Pesquisador

Estudo visa ao resgate da memória recente das produções

A escassez de estudos sobre a produção de figurinos em Belém também foi um dos motivos que levou a figurinista Graziela Ribeiro Baena a desenvolver sua Dissertação, intitulada Mestre Nato em Narrativas Costuradas: Estudos de Princípios de Criação dos Figurinos em "O Auto da Barca do Inferno" e "A-MOR-TE-MOR". O trabalho foi defendido em 2012, no âmbito do Programa de Pós--Graduação em Artes (PPGArtes), da Universidade Federal do Pará (UFPA), e teve a orientação da professora Benedita Afonso Martins. O objetivo foi investigar a criação de figurinos do alfaiate, costureiro, cenógrafo, figurinista e artista plástico Raimundo Nonato da Silva, Mestre Nato, para dois espetáculos teatrais. O "Auto da Barca do Inferno", uma montagem da Usina de Teatro da Universidade da Amazônia (Unama), 2001, dirigido por Paulo Santana, e "AMOR-TE-MOR: Fragmentos Amorosos de Cem Anos de Solidão", espetáculo realizado pelo curso de Formação de Atores da Escola de Teatro e Dança da UFPA, 2002, dirigido por Karine Jansen e Wlad Lima. A fim de descobrir as particularidades do universo da criação de figurinos artísticos, em Belém, Graziela Baena traçou o percurso profissional e pessoal de Mestre Nato, um notável artista plástico, cuja formação artística se deu de forma independente, sem a intervenção de orientações formais. "O Mestre Nato é um artista que mistura

Alexandre Moraes

E

m Belém, diversos grupos artísticos realizam espetáculos de teatro, dança e performance a cada ano. Essas produções englobam um conjunto de elementos, como figurino, cenografia, maquiagem e iluminação. Todos eles contribuem de modo significativo para reforçar a encenação. Todavia registros e pesquisas sobre tais produções ainda são escassos. Dada essa falta de registros sobre a produção de figurinos em Belém, a professora Ézia Neves, da Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA), desenvolve o Projeto de Pesquisa "Figurinos e Figurinistas em Belém". O objetivo é acompanhar e registrar, a cada mês, a produção de figurinos para diferentes tipos de espetáculo na capital do Pará – principalmente, teatro e dança. "Desde que eu comecei a me envolver com figurino, vejo que as pessoas criam os figurinos, mas não registram as criações ou não arquivam os processos criativos. As temporadas de espetáculo duram pouco e o registro não é feito. Então, a ideia é fazer um arquivo da criação anual de figurinos na cidade", explica a professora. Para isso, Ézia Neves acompanha os espetáculos que acontecem durante o ano, na cidade, e cataloga o trabalho dos figurinistas e das pessoas que assinam o figurino. Além disso, fotografa ou grava o espetáculo, em seguida, entra em contato com o figurinista, às vezes, com o diretor do espetáculo, e entrevista-os para co-

Acervo do Pesquisador

Pedro Fernandes

Pesquisa analisou figurinos de Mestre Nato (na foto) para as peças "O Auto da Barca do Inferno" e "A-MOR-TE-MOR" artes plásticas com costura. O método dele é experimental. Ele não tem só o conhecimento teórico. Os resultados que obtém são frutos de experimentos, de testes e de improvisos. Convivendo com ele, eu conheço a prática dele e aprendo sobre o percurso de criação

dele", explica Graziela Baena. As etapas da Pesquisa sobre as produções de Mestre Nato contaram com o levantamento de literatura sobre o tema definido em bibliotecas, sites, jornais e periódicos, investigando, também, publicações referentes à realidade

local, capazes de oferecer subsídios para a pesquisa de campo. Em seguida, Graziela Baena analisou fotos e vídeos de arquivos dos espetáculos, ouviu relatos do próprio Mestre Nato, dos diretores dos espetáculos e de alguns atores que vestiram os figurinos.

Obras refletem a história do figurinista, aponta a pesquisa A primeira parte da Dissertação conta a história de Mestre Nato, seu percurso "traçado em ziguezague". A infância no bairro Guamá; o despertar para a juventude, quando vive a efervescência noturna do bairro na periferia da cidade; a ida para o Rio de Janeiro e suas incursões na alfaiataria, no artesanato, no universo hippie e na arte; o retorno a Belém e sua inserção no campo da Moda e da Arte. A formação artística e as obras

de Mestre Nato são reflexos dessas experiências. "Eu me considero um artista plástico. Mas eu comecei a minha profissão como alfaiate, trabalhando como aprendiz em uma alfaiataria em Belém. Um dos meus sonhos, quando jovem, era ser um grande estilista. E comecei a me dedicar à costura. No Rio de Janeiro, conheci o sindicato dos alfaiates, fiz o curso e me aperfeiçoei em alfaiataria, em corte de

roupas femininas. Mas não deu certo e abandonei. Então, decidi voltar a Belém. Trabalhei durante oito anos com a Lele Grelo, a melhor estilista da cidade na época. Depois disso, continuei fazendo arte, misturando pintura e costura. E continuo até hoje", conta Mestre Nato. "A história do Mestre Nato inspirou o título deste estudo, Narrativas Costuradas, cujo significado representa o entrelaçamento entre dois

elementos que se fundem na profissão de figurinista, técnica e sensibilidade. Considero o Mestre Nato um artista que se destaca por esta prática híbrida, que representa muito bem o que é a criação artística. Misto de técnica, experimentação, intuição e emoção. Mestre Nato é uma figura que domina a técnica da alfaiataria e, a partir disso, constrói sua poética como alfaiate, artista plástico, cenógrafo e figurinista", afirma Graziela Baena.

Trajes usados na adaptação de Gil Vicente simulam nudez

Ideia é saber como se inicia o processo de criação do figurino, se pela escolha do tecido ou pela visão geral da peça ressados na área têm dificuldade em encontrar informações sobre a produção de figurinos e sobre os figurinistas da cidade. Nesse sentido, a pesquisa reunirá um acervo sobre a produção de figurinos em Belém, o qual servirá de suporte e fonte de informações, tanto para os figurinistas quanto para os interessados na área, bem como

para os alunos do curso Técnico em Figurino, da ETDUFPA. Sobre o futuro do Projeto, a professora Ézia Neves afirma que a ideia é renovar a pesquisa a cada ano e continuar o registro dos espetáculos. "Será um registro contínuo. Todo ano, são criados novos espetáculos na cidade. Por isso, a ideia é que essa

pesquisa seja renovada e sejam catalogados os espetáculos que ocorrerem a cada ano. A ideia é conhecer os processos criativos de cada figurinista, saber, por exemplo, se eles iniciam a partir do tecido que escolhem para a roupa ou de uma imagem ou do ensaio do espetáculo. Isso também é considerado."

Na segunda parte do trabalho, Graziela Baena analisa os "trajes" confeccionados por Mestre Nato para o espetáculo montado pela Usina de Teatro da Unama, em 2001, "O Auto da Barca do Inferno", adaptação da obra do autor português Gil Vicente e dirigido por Paulo Santana. Para criar o figurino do espetáculo, Mestre Nato usou tecido, espuma (enchimento) e manta acrilon. O resultado foram "macacões", peças que mostravam desenhos dos detalhes do corpo humano e simulavam a nudez. A volumetria das roupas aumentava os corpos dos atores, ajudando, assim, a ocupar visualmente o espaço cênico.

"O Paulo Santana me convidou para fazer o figurino. Eu nunca havia trabalhado com figurino. Mas adorei a ideia, porque sempre tive o sonho de dar movimento à minha obra. E ele me ajudou a realizar esse sonho, a dar vida à minha criação. Eu conheci o material que ele tinha. Ele estava acostumado a trabalhar com cetim, seda e outros materiais caros. Eu, ao contrário, vinha de uma arte reciclável, feita a partir do aproveitamento de lixo. No meu atelier, fiz várias experimentações. Trabalhei com algodão cru, tinta acrílica, pintei o figurino, dei as formas e volumes necessários às peças. A proposta deu

certo. E foi um figurino muito barato", conta Mestre Nato. Na terceira parte, Graziela Baena avalia o processo de criação do figurino do espetáculo "A-MOR-TEMOR: Fragmentos Amorosos de Cem Anos de Solidão" tendo como base entrevistas com Mestre Nato, com as diretoras Karine Jansen e Wlad Lima, acervo fotográfico e material videográfico, este último fornecido pelas diretoras. Para confeccionar o figurino de "A-MOR-TE-MOR", Mestre Nato usou folhas secas de castanheira nos trajes do espetáculo. A montagem tinha como intenção resgatar o aspecto rústico da vida humana. Para isso,

havia imagens recortadas e coladas nas peças, buscando diferenciar os personagens. "Eu fui convidado pela Karine Jansen e pela Wlad Lima para fazer o figurino de "A-MOR-TE-MOR". De início, eu não tinha ideia. Mas eu não queria me deixar influenciar pela proposta de figurino para "O Auto da Barca do Inferno". Eu queria descobrir outra proposta. Então, fui assistir ao ensaio do espetáculo e, a partir do que vi e ouvi, pensei em fazer uma experimentação com folha de castanhola. O resultado ficou muito bonito e eles fizeram muito sucesso com o espetáculo", finaliza Mestre Nato.


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