Fundinho cultural 34 internet

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"Quem sabe pode muito; quem ama pode mais." Chico Xavier

FUNDINHO MARÇO 2016 nº 34 - ano XIV

CULTURAL

CONGADO: Folclore Tradição e Fé. Festa anual no Fundinho

"Quem fica na memória de alguém não morre." NESTA EDIÇÃO: . . . .

Herbert José de Sousa (Betinho)

Adelia Lima . Aricy Curvello . Betânia Cortes . Cristiane Alcântara . Deferson Melo . Djanira Pio . Diego Mendes de Souza Guido Bilharinho . Helena Ortiz . Ivone Vebber . Jaqueline Batista . Joab Romed . Joaquim Branco . Lena Menicucci . Lia Finzer . Leuza Martins Costa Lourdinha Barbosa, Luciano Belo Pereira . Lupin . Marlene Sônia Crosara . Mariú Cerchi Borges . Marília Alves Cunha . Mauro Ferreira Neusa Gonçalves Travaglia . Oscar Virgílio Pereira . Patrícia Omena . Roseana Murray . Sandra Pacheco de Freitas . Stella Masson . Terezinha Maria Moreira Thomaz Willian Mendoza Harrel . Vanderlei Alves de Souza . Vera Bernardino . Wang Min Hsiung .


Helvio Lima - Editor * Ilma Fontes

Foto: Vanderlei Alves de Sousa.Uberlândia.Mg.2016

Thomaz Willian Mendoza Harrel

A gaiola existencial Estou pensando sobre muita coisa. O tempo passa rápido demais! Ja tá chegando a hora de fazer a declaração de imposto de renda. Renda? Que piada! Assistí “A Grande Ilusão” ontem à noite. Fantástico! Tem muito bom cinema rodando por aí no meio do mar de lama que a televisão espalha. É pior que Mariana em dimensão e magnitude e tão cheio de comerciais que você acaba por esquecer o que estava assistindo, prá começar. Estão promovendo a esquizofrenia generalizada! Quanto homem aranha, de ferro, de barro e outras fantasias bobagísticas! Quanto homem esmurrando o outro até virar meleca sangrenta! Alguém Já pensou nisso? A TV paga é para o quê? A gente paga para ter a nossa consciência estuprada? Acho que vivemos nos deixando cercar por uma gaiola existencial. Assisti recentemente um documentário sobre a vida do recém falecido músico David Bowie. A vida dele foi uma luta constante para não se deixar cair nessa gaiola existencial. Me identifiquei muito com ele. Mais grave ainda foi o documentário sobre a vida de Amy Winehouse. De início até me perguntei porque eu queria assistir a vida dessa talentosa garotinha irreverente e debochada? Ao longo da narrativa fiquei em lágrimas ao ver um ser de raríssima sensibilidade e talento, sendo engaiolada num inferno que incluía álcool e drogas que ajudavam-na a fugir dessa gaiola da fama e do dinheiro. Marcante foi vê-la muda e incapaz de abrir a boca na sua última apresentação na Sérbia, poucos dias antes de amanhecer morta.

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Roseana Murray

Djanira Pio

“São as águas da delicadeza que movem o mundo. Uma palavra amorosa, um gesto, uma carícia, fazem a Terra mais azul e mais leve, trazem à pele a memória mais antiga: Também somos um grão de estrela e de infinito”

Última Estação

Joaquim Branco

Do livro Olhares - RgEditores

Dias de luz

Pode ser que a paisagem esteja sob o impacto do momento *enfrentamentos contumazes, que atordoam todas os lugares.... Prefiro contemplar a suave paisagem desta planície incomum. O rio pleno, depois das águas, dividindo em muitas, a cidade. São milhares os que atravessam as pontes para chegar. Bairros antes do rio, bairros depois do rio, entre claras manhãs e soluções possíveis de poesia, pelo menos. O horizonte plano, feito a compasso, a cidade se declama em paz. Este, o lugar onde eu nasci.

Na fila dos desamparados todos tem cabeça branca. Os ombros são arqueados carregam o peso do tempo. O rosto marcado pelos infortúnios e os olhos tristes dos abandonados. Ficam ali na fila, silenciados como cordeiros escolhidos e separados para o sacrifício.

FOTOS DA CAPA: Sandra Pacheco de Freitas - Uberlândia - MG

MARLENE CROSARA e a história de uma ilustre família ítalo-brasileira Há mais de quarenta anos conheço esta ilustre amiga uberlandense, oriunda de uma família que muito contribuiu para o progresso da cidade. Marlene Sônia Crosara nasceu no centro de Uberlândia e há oito décadas ali reside. Um ser humano admirável, comunicativa, solidária e um depoimento sincero. A jovialidade e a modernidade do pensamento de uma pessoa autêntica e a sua notoriedade no trabalho nos Correios, o positivismo de suas palavras, os sorrisos, muitos amigos, o amado meio familiar e a religião vivida através dos exemplos de seu dia a dia. O início do itinerário desta grata personagem se desenvolve em torno do lugar onde nasceu, na efervescência das proximidades da estação ferroviária e seu movimento intenso, no final das décadas de trinta, qua-

renta e cinquenta. As suas mais gratas lembranças nos registros de memória, sua vivência na Rua José Andraus, antiga travessa dos Crosaras. Entre o burburinho de dezenas de familiares, em um conglomerado de casas construídas por seu avô italiano, criador das Oficinas e Fundição Irmãos Crosara, para abrigar todos os membros de sua família unida, o calor humano em meio aos bons exemplos de solidariedade e amor. Com tantos netos do vovô as lembranças são as melhores possíveis

FUNDINHO CULTURAL - Ano XIV – nº 34 MARÇO 2016 - Editor: Hélvio Lima - Assessoria: Adélia Lima - Diagramação: Niron Fernandes - 99149-7727 Impressão: Gráfica Scanner-3212-4342 - Fotos internas: Acervos particulares, Isabela Lima, Sandra Pacheco de Freitas e Vanderlei Alves de Sousa- Tiragem: 5.000 exemplares End. para correspondência: Rua Felisberto Carrejo, 204 – Fundinho - Fone: (34) 3234-1369 – Cep. 38400-204 – Uberlândia-MG “Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião do jornal”

helviolima@outlook.com- Facebook fundinhocultural

Marlene, fale-nos de seus pais, irmãs, avós, a família Crosara e as suas mais gratas lembranças – Vovô Cesário Crosara nasceu na Itália mas só se casou no Brasil. Seu 1º casamento foi com a mãe de meu pai, nascida na Itália. Sua 2ª esposa, descendente de italianos. Ambas tiveram 13 partos. Em minha casa éramos das menores famílias: papai, José Crosara, minha mãe, Conceição de Araújo Crosara, eu, Marilene (com um filho,

nas iniciou a Crosara & Cia. com seus filhos mais novos. Adquiriu terrenos na Rua José Andraus e foi construindo casas para os filhos que iam se casando, conforme o costume italiano. Ele abrigava em sua casa todos os parentes que aqui vinham à procura de emprego. Seu aniversário era uma grande festa onde recebia com o mesmo carinho as autoridades, italianos recém-chegados e toda a sociedade uberlandense.

nora e um casal de netos e Marislene (com 1 filha que desde bebê vivia com meus pais e comigo, e 2 filhos casados recentemente). Com tantos netos do vovô as lembranças são as melhores possíveis: meninos e meninas brincavam juntos sem malícia. Como o maior movimento de carros era apenas na chegada dos trens, a “rua era nossa”. Ao sairmos de um aniversário combinávamos a próxima residencia. Era grande a amizade e o respeito entre adultos e crianças. E a importância de seu avô, Cesário, e a Fundição Irmãos Crosara? – Vovô Cesário foi um homem de visão e muito trabalhador. Em 1927 tomou um trem com destino a Anápolis-Go na tentativa de instalar a família. Com parada obrigatória para almoço dos passageiros, na maioria caixeiros-viajantes, na cidade de Uberlândia, vovô Cesário se aproximou de uma parte alta da estação da Mogiana, de onde ele tinha uma ampla vista da cidade, retirou sua bagagem do trem e aqui se estabeleceu. Montou uma oficina de conserto de máquinas agrícolas com os filhos mais velhos, as Grandes Oficinas e Fundição Irmãos Crosara, na Av. João Pessoa, onde meu pai foi fundidor. Anos mais tarde, com algumas máqui-

Era bem movimentado aqueles lados da cidade, próximos à Estação Ferroviária, como foi sua vivência naquele lugar? – Na cidade todos se conheciam. Com a mudança da Estação da Mogiana, que naquela época interrompia a Av. Afonso Pena, era bastante grande o fluxo de “carros de praça” e charretes que transportavam a maioria dos caixeiros-viajantes. O trajeto descia a Afonso Pena, Cel. Antônio Alves Pereira e João Pinheiro, com destino ao Setor Hoteleiro (Hotel Central e Hotel Goiano). Éramos, então, aconselhadas a não falar com estranhos. Com certeza aí nasceu a fama de nós uberlandenses sermos pessoas “fechadas”. Um fato pitoresco era o Atelier Fotográfico do Salim Suaid Filho (o Salinzinho) na Cel. Antônio Alves, quase esquina da Afonso Pena. Ele conseguiu uma residência bem defronte ao Atelier. Seus filhos eram bem miúdos e muito levados atravessavam a rua como foguetes, sem nada olhar. Constantemente os carros que vinham da Mogiana freiavam bruscamente, já sabíamos que um dos filhos do Salizinzinho quase fora atropelado. Um conhecido dele certo dia lhe disse que por pouco não tinha vindo morar naquela rua, mas sabendo que “todos os anjos da guarda daquela rua estavam por conta dos filhos do Salinzinho” ele resolveu não se mudar. 

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A infância vivida na Rua José Andraus, onde nasceu, e as histórias marcantes . – Eu nasci na Travessa José Andraus nº 28, rua de terra e de pouco movimento, na colônia de casas que vovô havia construído para seus filhos. A amizade era grande entre os de todas as idades. Ao término do horário de serviço na Oficina a rua ficava repleta de adultos que jogavam peteca em times mistos. A criançada se esbaldava e até um grupo de teatro se constituiu. Bem cedinho um padeiro nos trazia numa carroça com cavalo, o pão do café da manhã e depois do almoço, outro para o café da tarde. Também um verdureiro com sua carroça vinha nos trazer legumes, frutas e verduras fresquinhas. Dançávamos no Clube Italiano e no Lambreta Moto Clube Como era a vida em Uberlândia, os costumes da época, nos idos da década de quarenta e cinquenta? – Meu pai era “sistemático”, mas tinha

mente à frente do seu tempo. Minha mãe era meio brava, mas se ele desse o sim ela não costumava discutir. Ele confiava em mim. Ao me entregar a chave da casa, aos quinze anos, ele só me disse:” olha o que você vai fazer com ela”, ou seja, olha a reponsabilidade. Outra coisa que ele dizia era que toda mulher deveria trabalhar, ao menos para “saber dar valor ao dinheiro do marido”. Não tínhamos carro, mas aprendi e dirigi a caminhonete da Oficina por muitos anos sem Habilitação. Fui a primeira mulher uberlandense a dirigir, e nem era um carro. Íamos ao cinema todo fim de semana, fazíamos footing na Afonso Pena em frente ao Cine Teatro Uberlândia e Praça Tubal Vilela. O interessante é que naquela época não tínhamos a menor malícia ao ver que as pessoas de pele branca caminhavam de um lado da Av. Afonso Pena, enquanto as de pele escura, não só os negros, caminhavam no passeio oposto. Dançávamos no Clube Italiano, no Lambreta Moto Clube (recebi prêmio em duas ocasiões como acompanhante em gincanas do Clube), no Uberlândia Clube e principalmente nas grandes festas do Praia Clube. Madru-

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gávamos para a reserva de mesas, (rsrs). Bons tempos. Onde estudou, os professores e colegas inesquecíveis. – Meu Curso Primário foi no Externato Dr. Duarte, das excelentes Professoras Olga, Aurora e Dinorá Del’Fávero. No Ginásio Osvaldo Cruz, do Liceu de Uberlândia, no curso ginasial conheci os incríveis e inesquecíveis professores Eudóxio Casassanta Pereira , de Matemática e Miss Johen Carneiro, de Língua Inglesa, além do grande Diretor Milton de Magalhães Porto. Tentei o Curso Normal no Colégio Nossa Senhora por um ano, mas optei por retornar ao Liceu no Curso de Contabilidade. Bem mais tarde voltei aos estudos na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, já da UFU, cursando Português/Inglês. Após tantos anos afastada dos estudos, ali fui incentivada pelo Professores Saint’Clair Neto (de Língua Portuguesa), José Pires de Oliveira (Latim), e o Prof. Oswaldo Vieira Gonçalves. Quanto aos colegas, tantos foram, que me é impossível enumerá-los. Ao

completarmos 50 anos de Formatura do Curso de Contabilidade (éramos 60 alunos) conseguimos reunir no Praia Clube cerca de oitenta por cento dos colegas, além de três professores. Foi inesquecível. Uma pessoa importante em seu caminho. - Uma única pessoa? Meu pai, porque me amou, corrigiu, incentivou e confiou em mim. Amizades encantadoras com crianças e idosos na Filatelia E as memórias em seu trabalho nos Correios? Como era antigamente este trabalho e a sua importância para a cidade? - De Funcionalismo Público à Empresa Pública (CLT), nos 29 anos que passei nos Correios, por todos os setores (até acompanhar um Carteiro para medição de seu perímetro e substituição de Gerente em férias). Enfrentamos a transição e a profunda modernização para Empresa Pública e o regime de CLT, após dois Cursos em Escolas Técnicas dos Correios. Claro que a meca-

nização dos serviços e a Administração do Coronel Haroldo foram determinantes mas costuma-se dizer que “nos Correios só a entrega da correspondência pelo Carteiro ainda não se conseguiu mudar”. Amizades encantadoras com crianças e idosos na Filatelia, empresários e viajantes nos balcões de atendimento e o carinho com os companheiros de trabalho que se empenhavam em servir esta cidade. Quem eram seus ídolos da juventude, no cinema, um filme eterno... e na música? – Frequentando muito os cinemas, gostava de filmes românticos com casais insuperáveis, musicais com incríveis bailarinos (como Fred Astaire, Gene Kelly, Cid Charisse, etc); Doris Day e Barbra Streisand; mais tarde os filmes de James Dean, Elvis Presley e Alain Delon. Morando no centro da cidade, como transcorre sua vida e como encara o dia a dia na Uberlândia de hoje? - Hoje sou uma pessoa caseira, busco bem mais o espiritual. Trabalho na Pastoral do Dízimo da Catedral, na Renovação Carismática Católica e minha vida social é familiar e bastante intensa, já que a Família Crosara é muito grande e também a Araújo Grama. Os idosos hoje tem preferência por morar na região central para ficarem próximos de tudo (supermercados, hospitais, farmácias, etc.). Em contrapartida, a poluição sonora à vezes chega ao exagero de não escutarmos a TV. São motos possantes, pick-ups carregadas de auto-falantes, a qualquer hora do dia ou da noite, e a farra de quem sa i da s ca sa s n otur nas em altas horas. -

Um livro: a Bíblia Uma música: A Ave Maria Um filme : O Rei e eu, com Yull Briner Uma cor : azul Um mito: Jesus Cristo Um sonho : vivermos todos como irmãos Uma palavra: Amor Uma frase: “Queira ser sempre o melhor no que você faz, mas jamais melhor que os outros.”

Marília Alves Cunha

Dia da Mulher

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ai bem longe o dia em que Schopenhauer, filósofo alemão do século 19 escreveu: “A mulher é um animal de cabelos longos e ideias curtas”. Para ser sincera, algumas parecem que teimam em não contrariar o filósofo. Longe também as mulheres da Antiga Grécia, nas quais Chico Buarque exortava que mirássemos, em mágico e lindo poema: mulheres “que temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas, secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas”. Aliás, os homens atuais não são guerreiros forjados a ferro e aço, dispostos ao heroísmo e a morte em guerras. Não há necessidade. No mundo moderno, aperta-se um botão e tudo vai pelos ares. E as mulheres costumam secar sim, à custa de dietas milagrosas ou coisas piores, já que a ordem do dia é ser magra e bonita a qualquer preço para acompanhar o padrão de beleza estipulado como ideal. Não há dúvidas que progredimos bastante desde os tempos de nossas avós. As mulheres vão ocupando espaços na política, nas universidades, nas empresas, nas artes, nas profissões liberais e à medida que crescem se apossam de lugares seus de pleno direito, pois para isto houve uma conjugação de esforço, vontade e luta contra preconceitos e discriminações que já não podem mais fazer parte do dia a dia de qualquer país que se pretende civilizado. Apesar disto, ocorrem constantemente fatos estarrecedores e chocantes de violência contra a mulher. A Lei Maria da Penha, ao completar sete anos, parece ser ignorada pelos agressores que passam por cima de todas as medidas protetivas que pretendem coibir a violência doméstica. Mulheres continuam sendo presas fáceis de homens possessivos, ciu-

mentos, que induzem ao terror e insegurança com promessas de vingança e sofrimento, homens que não aprenderam a respeitar e amar as mulheres e só conseguem entender o código da brutalidade, da macheza que esconde complexos e frustrações, da força bruta, sinônimo de tibieza de caráter e personalidade. Hoje em dia, as mulheres denunciam mais os maus-tratos, talvez pela criação das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, talvez até pelo desespero de sentir e ver que sua vida transformou-se num inferno, que não existe mais saída, que se esgotaram todas as desculpas, que é preciso o grito de socorro que as tire de um martírio prolongado, que as aniquila, que pode matar ao final. Determinações legais para proteger as vítimas e afastar agressores existem, mas para terem eficácia, devem ser usadas ao extremo. Caso contrário, a impunidade, que comanda este país, passará incólume, perpetuando a destruição das famílias e a morte violenta de mulheres por covardes agressores. Gosto muito de ser mulher, independente, livre para escolher caminhos. Mulher que ama, ri com vontade, chora copiosamente por um filme triste, por uma música, por um animal que sofre, por um amigo que parte e até, às vezes, ao contemplar um entardecer tristonho, quando flores se fecham e pássaros procuram abrigo. Mulher frágil e forte, meiga e agressiva, mistura corajosa e doida de emoções e sensibilidade, capaz de lutar com a força de um leão pelo que ama e crê, capaz de gestos impressionantes de doação, compreensão e ternura. Feminina, sem perder a ousadia, sem perder a juventude que teima em permanecer na alma, apesar da passagem do tempo e das marcas que vai deixando.

Tecendo Transformações na Maturidade Na juventude, dar-se conta a tempo das vantagens da velhice e, na velhice, preservar as vantagens da juventude – São ambos uma única e mesma dádiva. (Goethe - 1826) Atualmente nosso campo social se depara perplexo com uma expectativa de vida cada vez mais longa e os paradigmas antigamente usados para definir o que seria nossa velhice estão cada vez mais questionáveis. Envelhecer hoje não significa mais aposentar-se e parar. Cada dia mais frequente está permanecer ativos, atuantes observadores e experientes sujeitos com mais de sessenta anos. Contudo, em nossas observaçoes e experiências, constatamos que essas mesmas pessoas, ao atingirem a idade de sessenta anos ou mais, iniciam um processo de mudanças drásticas ou gradativas em suas vidas e tais mudanças exigem delas uma nova adaptação, uma nova forma de enxergar a si e aos que lhes cercam, necessitando um espaço para pensar estas novas realidades. Porém, este espaço nem sempre é obtido, e as mudanças vão surpreendendo as pessoas, deixando-as em um ambiente solitário, ou controlado por filhos algumas vezes perdidos e receosos. Em muitos casos, quando sobrevem a viuvez, a aposentadoria, a morte de alguns amigos, casamentos de filhos, mudanças de cidade, o indivíduo mais maduro se vê em desamparo afetivo, podendo, em muitos casos desenvolver um processo depressivo, melancólico ou até mesmo de pânico. Se pensarmos que a estes eventos psicossociais também se somam limitações físicas e de saúde, teremos uma população que precisa não só empoderar-se, como também de um suporte da família e da sociedade que permita o exercício de uma longevidade ativa, saudável e plena. Acreditamos que a vida deve ser vivida como um novelo a ser tecido: sabe-se que ele vai acabar um dia, mas enquanto ele se desenrola, não perde a qualidade de sua tecitura. Assim entendemos a vida ativa na maturidade: uma vida que toma novas formas como o fio do novelo que é tecido e transformado. Ateliê do LongeVIVER

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Betânia Cortes

Helena Ortiz

Tomar posição é agir contra o caos

ETTORE SCOLA

Numa das últimas edições deste periódico, abordei neste espaço o que qualifico de Sujeito tanto faz tanto fez, analisando uma de suas principais características, que é o comodismo. Essa espécie de parasita social, cujo mote de vida é o “dexa queto”, filosofa prolificamente sobre a inutilidade de se acreditar em alguma coisa, mas, com o intuito, na verdade, de divulgar a sua mais querida crença: a de que, estando fadado ao fracasso, ninguém mais sábio que o homem que não perde tempo querendo mudar o mundo. Hoje, vou tratar das consequências dessa tomada de posição diante da vida, ou seja, da política do “deixa queto”. Política sim, porque a escolha dessa maneira de viver influencia diretamente na qualidade de vida de toda a coletividade. No entanto, apesar dessa singular importância, o sujeito que arroga esta prática, se sente à vontade para propagá-la por onde vai, e até ufanar-se de tê-la como propósito. A pergunta óbvia então a fazer é: por que tal comportamento é aceitável

socialmente, sendo ele tão prejudicial à comunidade? Por que a ideia de mudar o mundo é uma utopia, e as utopias são temerárias, terreno pantanoso habitado por loucos? Por que questioná-lo significa criticar a si mesmo? Acredito que são todas essas variáveis e muitas outras para as quais nos falta, agora, a oportunidade, de discuti-las. Mudar o mundo, para mim, não é tarefa de super-heróis. É tarefa do cotidiano, como pedir ao vizinho que não deixe seu lixo no chão do passeio em dias incompatíveis com a coleta pública. Resíduos espalhados nas ruas, como é sabido, facilitam a proliferação do aedes, mosquito que está matando pessoas e provocando anomalias em fetos. Portanto, com esta atitude simples você pode salvar vidas. Ah, mas posso ganhar inimizades. Sim, mas qual o benefício de ter como amigo um vizinho que está colocando a sua saúde e a de sua família em risco? Tomar posição contra os abusos ambientais, buscando conhecer por que

essas práticas ainda subsistem apesar de todos os danos que provocam, não é uma ação responsável de quem deve se precaver e evitar situações previsíveis? Para ficarmos em apenas num único exemplo, você está acompanhando o caso Samarco/Vale? Já sabe por que a tragédia ocorreu? Sabia que ela podia ter sido evitada? Somos doutrinados a acreditar que tomar posição é criar problemas desnecessários. Na verdade, a tomada de posição é o que nos garante dar o próximo passo, que é exigir que nossos direitos sejam preservados, o principal deles o direito à vida. É claro que ao olhar para os erros do vizinho, você deve primeiro voltar-se para suas próprias ações, o que não é fácil. Não é fácil, mas conviver com o caos urbano, a falta de respeito às normas básicas de convivência social, com o atropelo das leis ambientais é, certamente, muito mais difícil. Na prática, tem definido de maneira cruel o destino de crianças que anda nem nasceram.

Foto: Jaqueline Batista

Esculturas Adelia Lima

Alexandre Heilbuth Algumas coisas dão susto na mesmice dos dias. Certa vez fui a uma loja de material de construção. Parei um pouco ali, na seção de esquadrias e fiquei olhando tudo e nada... meio distraído mesmo. Senti alguém me cutucar a perna. Vireime, olhei para baixo. Era uma menininha de uns quatro ou cinco anos, vestidinho vermelho e olhos grandes. Disse séria: - Eu queria comprar uma janela. - Ah!... E qual janela você quer comprar? - perguntei. A resposta veio de pronto:

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Conversa no alpendre - Uma que eu possa abrir e ver o mar. Naquele momento chegou o pai, então contei a ele: - Sua filha me disse que queria comprar uma janela pra ver o mar. O pai, um senhor de óculos redondos e barba rala, fez um sinal com o dedo para que eu me aproximasse. Ao pé do ouvido confidenciou-me: - É verdade. Fomos a quatro lojas e não encontramos uma janela assim. Fiquei mudo por um instante, depois resolvi entrar na brincadeira. - Sei como é isso. Também andei por umas quatro ou cinco lojas procuran-

do uma porta e não encontro. Mas não serve qualquer porta. Quero uma que eu possa abrir e sair correndo... para o abraço do mar. Ele sorriu largo, deu três tapinhas em meu ombro e disse: - Vá em frente, amigo! - Vá em frente você também! – repeti solidário. E foram embora de mãos dadas e sem pressa. Fiquei olhando sumirem na esquina e pensei cá comigo: É mesmo muito tênue a linha que separa esses três tipos de gente: loucos, poetas e crianças.

(1931-2016)

Tributo ao talentoso DEFERSON MELO Entrevistado por Lourdinha Barbosa Bailarino, professor, coreógrafo, ator, músico, performer, figurinista, criador nos palcos, nas artes, na vida Obrigada, Deferson, pelo artista que é! Deferson Melo respondeu a entrevista do Fundinho Cultural. Queremos homenageá-lo, no entanto ganhamos mais este presente. Confiram!!! Fundinho Cultural: - Você começou sua carreira nas artes, sendo bailarino e logo professor de dança? Como foi o início desta história?

2016 não é bem um ano novo, é uma continuação do que já vinha acontecendo. A mudança aconteceu só no calendário. Muitas mortes irremediáveis, muitas promessas que não se cumpriram, muitas decisões que novamente adiamos. Tudo isso, no entanto, é pouco e pequeno, quando penso na carreira do cineasta Ettore Scola. Eu, que ainda tenho locadora perto (uma raridade!) passei o fim de semana vendo Concorrência desleal, La noite des Varennes e Um dia muito especial. Todos eles têm pontos em comum: Roma, a gente pobre de Roma, os valores éticos, a história, o fascismo, o amor e, já naquele tempo, a solidão (a tortura física e moral ) dos homossexuais e das mulheres. Em todos, a compaixão. É impressionante ver como os filmes daquele tempo, tão baratos, tornaram-se eternos, enquanto outros, para os quais são necessários muitos milhões de dólares, passam como um cometa que foi visto mas ninguém lembra. Os cineastas dos anos 50 e 60 eram intelectuais, pensavam o mundo, e tinham que fazer filmes com cuidado, sem provocar as iras do fascismo. Os de hoje, não sei. Perseguem o sucesso. Mas qual sucesso? O de mídia? Sucesso é fazer filmes que até hoje são novos e nos emocionam a ponto de nos tornarem jovens também. Addio, nunca, Ettore Scola. Helena Ortiz

. Blog Integrada e Marginal

"Na alma ninguém manda... Ela simplesmente fica onde se encanta" Fernando Pessoa

Deferson Melo: - Bom, meu começo não foi na academia e sim no espaço do meu quarto até a sala... da sala até a cozinha...do quintal, enfim do movimento que executava entre estes lugares. Meu começo é orgânico.

ministrar aulas no curso superior de Dança e Artes Cênicas pelo estado do Paraná (Teatro Guaíra). Neste momento Curitiba pensava a Dança pela lógica da dança Moderna e pela dança Clássica....eu neste ambiente propus a mistura

FC - Hoje, como é ser um profissional independente de Artes Cênicas? Qual área nestas Artes, você gosta mais de atuar? - Ser um profissional de artes cênicas nesta lógica de pensamento deste país é muito difícil.....não há espaço para o artífice. Pensando em escolha da área que gosto mais de atuar...., minha escolha está na mistura cooperada entre elas. Eu sou um artista da mistura. FC - Deferson, fale-nos da sua participação no Projeto Arte na Comunidade2 “que tinha o objetivo de levar o teatro como incentivador para as novas gerações de uma grata prática mineira: a contação de histórias. ”Este projeto já está sendo realizado, como está o andamento dele? - Este projeto eu só participei no início dos ensaios mas logo eu saí....volto a segunda pergunta: nesta lógica de pensamento que o mercado atua não há espaço para o artífice. FC - Sabemos que você foi um dos artistas da dança entrevistado em Curitiba no Projeto “Sujeitos Dançantes” realizado pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP) com proponência de Gladis Tridapalli e equipe de pesquisa e produção formada por alunos egressos da instituição. Que criações ou contribuições valiosas, como são as suas, foram enfocadas neste trabalho? - Eu fui morar em Curitiba em 1989/ 1990 após passar em um concurso para

como semente de um novo pensamento em dança. Eu provoquei uma confusão na cabeça da dança desta época em Curitiba. Este é o motivo por estar nos Sujeitos Dançantes.... a confusão que criei abriu na cabeça dos alunos o desejo de novas possibilidades. Minha contribuição em Curitiba foi de Artista Educador. FC - No espetáculo musical Parangolé do Grupo EMCANTAR, você atuou na direção artística, apresentando uma ”nova releitura das canções e brincadeiras que aparecem no kit Parangolé (canções, filme e livro) mesclando as linguagens cênicas e musical”. Que sentimentos você teve ou descobriu, quando inseriu o “novo” neste seu trabalho? - Novo é o encontro...e Parangolé é fruto do encontro das necessidades do Encantar com a minha vontade de criar para que tem vontade hahahaha.

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FC - Você, Deferson, foi o artista responsável pelos Figurinos no espetáculo musical Escutatória, além de colaborar na concepção do mesmo. Estar neste exercício artístico seria apurar a escuta artística de um universo cultural visitado? Conte-nos... - Eu adoro fazer uma visita, talvez seja isso um propósito...estar disponível a tudo que pode acontecer resultado de um encontro. FC - Em 2015, você nos ofereceu uma opereta: O Palhaço, a Rosa e a Bailarina, espetáculo de rara beleza e mestria. Fale-nos sobre o desenvolvimento de sua pesquisa para a realização deste trabalho. - Falar é difícil...prefiro Dançar hahahaha. A Opereta é uma resposta dos maravilhosos encontros que tive na minha formação: ópera, música contemporânea, teatro, dança clássica, moderna e a pessoal, artes visuais, moda e todas as ideias que esbarraram em mim no percurso de lá prá cá, de cá pra li, de li para aculá. A Opereta é atualidade dentro de mim FC - Você acredita numa transformação de sensibilidade coletiva, humana, de uma nova maneira de olhar o mundo, em lidar com ele através dos espetáculos, da arte? Uma possível mudança cultural? - A mudança já começou....e a arte é um espaço de experimentação destas novas lógicas de pensamentos. O mundo real é uma criação que pode escolher ser de qualquer cor ou cores. Podemos despertar um novo mundo real. Sobre políticas públicas para as artes no município....eu só digo que tudo virou pequenas lojas de marketing. Por isso defendo a diminuição do consumo do público e uma atenção maior às relações de cooperação entre iguais.

Wang Min Hsiung

Tive o privilégio de trabalhar e conviver com Leusa, no Colégio Estadual e na Universidade Federal de Uberlândia. Era responsável, prestativa, solidária, excelente amiga! Sempre com um sorriso acolhedor! Profundamente religiosa, viveu para servir! Terezinha Maria Moreira “Leusa era extremamente educada, elegante e gentil. Companheira de trabalho, na UFU, era amiga de todos no Instituto de Letras e Linguística. Ótima professora, dedicada e acessível. Muito religiosa e caridosa, participou ativamente das ações assistenciais do Centro Espírita que frequentava, chegando a exercer a presidência da entidade. Sempre disponível – sobretudo nos momentos mais difíceis! – Leusa e Terezinha Hortêncio foram as primeiras a chegar à minha casa, para o velório da mamãe. Leusa plantou bondade e deixou enorme saudade!” Maria Terezinha da Cunha “Não me lembro de quando a conheci. Leusa é uma daquelas pessoas que entram devagarzinho em nossa vida... Sempre delicada, prestativa, atenciosa, toma lugar e parece que sempre esteve ali. Foi não só uma colega de trabalho sincera e competente, mas uma amiga com quem podia contar.” Vânia Maria Bernardes Arruda Fernandes “Membro integrante, desde a fundação, do Centro ‘Divulgação Espírita Cristã’. Atuou com fidelidade aos princípios cristãos: amor, bondade, respeito, conquistando uma grande admiração de todos que conviveram com ela. Muitas saudades!” Florita do Nascimento Machado “Tia Leusa: Professora de Português que ensinou mais do que a gramática; ensinou a pronunciar as palavras que expressam amor ao próximo e o caminho da caridade. Foi mãe sem ter dado à luz, pois seus milhares de filhos se espalham no seio da família e da comunidade, sobretudo aquela carente de pão, amor e caridade. Deixa como legado para todos nós o caminho iluminado pelo seu sorriso, seu amor ao próximo e sua eterna persistência em servir sempre. Oxalá façamos corretamente a lição de casa deixada pela nossa mestra!” Alberto Martins da Costa “Sinto-me muito honrada em participar desta homenagem à inesquecível amiga Leusa, com quem tive a oportunidade de conviver uma vida inteira. Uma pessoa tão altruísta, espiritualizada, com tanta riqueza e beleza interior! Sua existência proporcionou um excelente aprendizado a todos nós, que a conhecemos.” Maria de Lourdes Pereira Melo

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Para LEUSA MARTINS DA COSTA, com carinho! “Eu a conheci: professora de Língua Portuguesa no C.E.U. .Ser humano de excelente desempenho profissional. Convivemos nesta escola durante algum tempo, até que um dia fomos para a UFU. No Curso de Letras, ela trabalhava com Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Dedicada, competente e amável. Fala mansa, sorridente e, sobretudo, espiritualista. Dedicava parte de seu tempo ao impecável trabalho de ajuda ao próximo. Leusa, vejo você, em outro plano, com sua peculiar elegância, bondade e capacidade de amar. Saudades!” Odete Maria Álvares “Leusa Martins da Costa, mestra e amiga! O que dizer sobre você, a não ser coisas boas? Sua competência e carisma, como professora de Francês, na Faculdade, e seu companheirismo adorável em BH, quando fomos prestar concurso para preenchimento de vagas no C.E.U. (‘Museu’). Você é dessas pessoas que não esquecemos! Muita amizade, muito amor!!!” Therezinha Guerreiro Vidigal “Leusa, amiga, colega sempre presente na equipe, com serenidade, competência, compartilhando nossa missão de transmitir conhecimentos necessários à formação de mentes, para um futuro próspero e dignificante. Extrapolando o lado profissional, podia-se contar com suas mensagens de luz, de otimismo, de coragem, nos momentos em que o vigor e o entusiasmo pela missão fraquejavam. Tenho certeza de que, em outra dimensão, Leusa continua sua missão, com simpatia, competência e amor!!!” Válmir Pereira Caixeta “Leusa, não nos despedimos. O que importa? A dimensão terrestre é apenas mais uma das muitas que se possa ter. Façamos de conta: você se ausentou e, a qualquer hora, o telefone vai tocar e combinaremos a vinda do Sr. Cote que recolherá as coisas para o Bazar do Tibery. Foi uma honra e privilégio ter sido sua aluna e colega de profissão. Sempre a vi como excelente profissional, imbuída de profundo sentimento social, altruísta e amiga de todos, dos pobres e dos desvalidos. Leusa, apareça através de sua intensa luz para nos inspirar e orientar. Você vive agora e se renova permanentemente no obra que realizou.” Maria Teonila de Faria Alvim “Falar da Tia Leusa não é difícil, aliás é muito prazeroso. Sempre elegante, linda e na sua pequena estatura, aos nossos olhos, se tornava ‘gigante’ quando o assunto era fé, amor e caridade. A nossa eterna professora de Português, que ministrou, como ninguém, a gramática, o estímulo à leitura e à conjugação do verbo, também nos ensinou a buscar sempre, na prática do bem, o aprendizado para nossa evolução espiritual. Exemplo, admiração, carinho, orgulho e a saudade do amor que fica!!!” Míriam Martins da Costa Pompeu

Falar e reviver... Falar de leusa é falar de: Ternura, que acalenta os reveses da vida... Generosidade, de quem partilhou o pão, atenuando a miséria. Amor, que termina no coração, daqueles que semeiam virtudes. Assim foi leusa em sua convivência terrena. Reviver os bons momentos é preciso. Era leusa amante da música. Lembro-me que em sua juventude, no vigor de seus verdes anos, entoava com uma belíssima voz canções espanholas, sob a percussão de castanholas. Era a alegria em sintonia com a arte de cantar. Eu tive o privilégio de com grande afinidade ser sua cunhada, amiga e colega. Trabalhávamos juntas na escola estadual (museu) até que ela foi para a UFU, ministrar aulas de português no curso de letras. Embora praticássemos religiões diferentes, eu a admirava muito pelas suas obras, como espírita convicta. Obras essas que ficaram gravadas no seu relicário. Pois é tia leusinha, como se referem a você minhas filhas. Você partiu... Foi iluminar o céu junto das estrelas, junto da nossa estrela Maior. Está nas mãos de Deus é sempre presente em nossas lembranças, na dor de imensa saudade. Nilda Sousa Costa Leusa Martins da Costa. Não há como discorrer sobre a personalidade dessa pessoa tão querida que carinhosamente chamamos de tia Leusinha, sem incorrer numa curiosa ambiguidade que essa descrição revela. Uma frágil figurinha, de pequena estatura e porte franzino, cuja saúde sempre requereu cuidados, dedicou sua vida a trabalhar com a força de um gigante a serviço da população carente de Uberlândia. Na ocasião de seu falecimento, presidia a Divulgação Espirita Cristã, a conhecida Instituição “tio Côte” onde sempre esteve a serviço dos mais necessitados, arrecadando e distribuindo pão, amor, e divulgando carinhosamente os ensinamentos de Jesus. Por vezes faltava-lhe saúde, mas nunca disposição para estar presente junto aos demais colaboradores e dirigentes da casa nos dias da tradicional sopa, na famosa distribuição de natal, dia das crianças, entrega de enxovais para as “gravidinhas”, quase nunca faltando nas peregrinações onde levavam mantimentos e faziam leitura de mensagens nas casas dos menos favorecidos. A fé em Deus era sua inesgotável fonte de energia que manifestava-se na grandeza do amor que tinha ao próximo. Cecília Sousa Costa Leuza nos presenteava a cada Natal com lindos cartões de mensagens espirituais edificantes. A lembrança da delicadeza que caracterizava esta querida amiga e colega ficará para sempre. Luiz e Neuza

Luciano Belo Pereira Como vejo o FUNDINHO Moro nele há 28 anos, no 15º andar de um prédio na Praça Coronel Carneiro. Quando lhe deram esse topônimo, “Fundinho” a Vila do Arraial já se mostrava bem maior e a beira do rio insuficiente para novas moradias. A Vila foi se expandindo até virar a Vila de Uberabinha e depois a cidade de Uberlândia. Assim, aquele conjunto de casas do Vilarejo à beira do rio, passou a configurar a beira baixa da encosta do Rio Uberabinha. Teve a primeira Igreja na praça onde hoje é a Biblioteca Pública, os diversos armazéns, o adro e o cemitério da Igreja, a rodoviária, depois a cadeia, o hospital, a delegacia, etc. A cidade mais crescia e para lembrar aquele início aquele, deram o nome de Bairro do Fundinho. Não satisfeito com a postura municipal, novas moradias foram substituindo os antigos casaréus. Tem hoje residências que, embora não tenham o padrão luxuoso de outros bairros, tem quase sua vida própria. Reconhecimento disso é que os limites da Rua Coronel Severiano foram se expandindo junto aos limites da Rua Tiradentes. Estas mesmas ruas foram se transformando em lojas de alto “Grif”. Agora, nesses limites tem várias farmácias, restaurantes para o dia-a-dia, cozinha Italiana, Mexicana, e Japonesa para a noite, além dos “Selveserves”, para mais de dez. As transformações mostram toda sua vivência. É entre os mais numerosos bairros da cidade o Único a ter o seu jornal, o Fundinho Cultural. Não podendo ir além pelo espaço, que recorram ao Antônio Pereira da Silva. O Dr. Luciano Belo Pereira, médico veterinário, escritor, emérito colaborador do jornal Fundinho Cultural, uma das pessoas mais ilustres do Bairro Fundinho, no alto de sua sabedoria, aos 98 anos de idade.

Matéria organizada por Terezinha Maria Moreira

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Mariú Cerchi Borges

Oscar Virgilio Pereira

Augusto Cezar e a eleição da primeira Câmara Municipal de Uberabinha

Como não nos encantar com o espetáculo LA FERRETTI? Em alguns momentos da apresentação, parecia que não estávamos em Uberlândia. Com a sala quase totalmente lotada, o público ali presente parecia endossar o seu aval a essa iniciativa do tributo à talentosa Edmar Ferretti. Durante quase duas horas de espetáculo, o que desejávamos mesmo era saber, cada vez mais, a trajetória dessa artista que, por sorte, desde 1981, veio parar em Uberlândia. Formada em canto pelo Conservatório Musical Heitor Vila- Lobos –S.P, foi professora de piano, por vários anos, neste mesmo conservatório. Foi bolsista do curso de Aperfeiçoamento Pró-Arte do Conservatório Musical de Genebra. Intérprete de inúmeras composições de Camargo Guarnieri foi solista da missa Diligeti desse renomado compositor. Foi premiada como melhor “Cantor Erudito da Associação Paulista de Críticos de Arte.” Desde 1981, assumiu o coral da UFU já conhecido e aclamado pelos apreciadores do canto, tanto de nossa cidade como de tantas outras cidades do Brasil. Corajosamente, com parcos recursos, montou várias óperas nas quais pode contar, sempre, com a pianista Maria Célia e talentosos valores artísticos da cidade. Ao longo do espetáculo, alternadamente, projeções no telão mostravam o ontem e o hoje da vida da Edmar. Amigos, parentes, alunos, colegas traziam flashes da sua vida. Num deles,

Stela Masson Lia Finzer

“No momento em que a internet permite que todos falem, permite que um grande número de imbecis fale”.

As portas da minha vida Um dia eu escolhi a porta larga e me joguei na multidão da vida. Era muita festa, muita bonança, muita gente bonita! Os carros importados brancos eram brilhantes e pareciam brinquedos de conto de fadas. Não tive dúvida, larguei a faculdade federal e passei a viver ali com a tal da “high society” de uma cidade que chamavam de maravilhosa. Eu seduzia, dançava, bebia champanhe, jogava charme, me entregava e comia caviar. Mal tinha feito vinte anos e tinha certeza que aquele ali era meu lugar. Era tudo tão fácil e tão fascinante que da piscina do condomínio, com uma taça na mão, eu me lembro de dar risada de quem tinha escolhido a porta estreita: “Coitados! Não sabem o que é vida! ” O tempo foi passando, vi muita máscara cair, muita vida se reduzir a pó e me joguei num poço profundo que havia por lá. Passava noites em claro, whisky sem guaraná... E quando eu achei que já não tinha mais saída, consegui o que dizia naquela música da Elis: “Se eu quiser falar com Deus, tenho que aceitar a dor; tenho que comer o pão que o diabo amassou; tenho que virar um cão; tenho que lamber o chão dos palácios, dos castelos suntuosos do meu sonho...Tenho que me ver tris-

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tonho, tenho que me achar medonho...” Parece que minha alma saiu pelo terceiro olho, estendeu a mão para o meu corpo e me deu a oportunidade de sair de lá e de escolher novamente uma das portas. Quando vi aquela pequenininha que eu não havia enxergado no passado, sorri e entrei correndo, sem nem olhar para trás. Aqui tem pouca gente, mas todo mundo valoriza o caminho. Aqui somos guerreiros e apreciamos a estrada muito mais do que “ambicionamos” a chegada. Somos de dentro pra fora, somos semelhantes, somos irmãos, damos as mãos...aqui eu conheci a verdadeira felicidade. Embriagome de pão com manteiga e café fresco, alimento minha alma...eu danço, eu aprecio a lua e o céu, agradeço por cada raio de sol. Sou eu, sou minha, sou amor. Entrai pela porta espaçoso o caminho os que entram por apertado o caminho encontrem.

estreita; porque larga é a porta, e que conduz à perdição, e muitos são ela. E porque estreita é a porta, e que leva à vida, e poucos há que a Mateus 7:13,14

Umberto Eco, pensador e filósofo italiano, morto em 19/02/2016

Molière, dramaturgo francês que viveu no século XVII e que até hoje é considerado um dos mestres da comédia satírica, usou suas obras para criticar os costumes daquela época. Atribui-se a ele a afirmação de que a máscara dos tiranos não resiste a uma boa gargalhada, e daí se conclui que opressores não toleram humoristas. 400 anos após a morte de Molière, vemos cada vez mais se confirmar a tese desse autor, que escreveu O Doente Imaginário, entre outras obras clássicas: sempre que um tirano ou seus pares são personagens de qualquer crítica humorística, reagem sem qualquer senso de humor (que, digase de passagem, é sinal de inteligên-

LA FERRETTI a própria Edmar conta que, aos cinco anos de idade, soltava sua voz cantando os seus primeiros cantos sem sequer saber, para quantos e quantos cantos, por esse mundo afora, esse seu cantar a levaria! Com descendência italiana, o seu amor à música parecia confirmar que a música, a arte, a estética, o belo que se enraizaram no seu modo de ser, fazem parte mesmo do DNA dos italianos. A iniciativa de se montar esse tributo a Edmar veio da soprano Danielle Rocha. Graças a ela, tivemos a oportunidade de ver subir, ao palco do Teatro Municipal, a mais alta elite artística de nossa cidade. Trechos de óperas como La Traviatta, Cavalleria Rusticana, Il Guarany e Norma trouxeram para o palco os tenores: Flávio Arciole, Flávio Carvalho, Rogério Soares e as sopranos Sandra Zumpano, Poliana Alves, Miriâ Morais, Danielle Rocha, Anna Cássia Neves. Ao piano, a renomada Maria Célia, que vem se superando a cada apresentação nos diversos eventos da cidade. Também, com surpreendente performance, Ernane Machado e Thiago de Freitas deram o seu show no teclado. A orquestra de Câmara, mereceu expressivo destaque na LA Traviata e Intermezzo de La Cavalleria Rusticana. O Coral da UFU, pupila dos olhos da Edmar Ferretti, abrilhantou-nos com um selecionado reper-

tório do canto lírico. Impossível destacar o que foi melhor nas apresentações desta noite. Mas, a emocionante entrada do coral da UFU, na apresentação do Bridisi de La Traviatta, marcou a apoteose da programação: “La tazza, La tazza e Il cântico ó’bella e Il riso. I questo paradiso ne scopra Il nuovo di. Ah! ah! ne scopra Il di” Ao final da noite, sob calorosos aplausos, a homenageada sobe ao palco e, fechando com chave de ouro o espetáculo declama, emocionada, os seus agradecimentos através dos versos de Renata Pallottini: “As coisas de sonhar não são palavras. Como dizer que era violeta o pomar percorrido? Se num certo momento fui levada ao jardim do sol posto onde te contemplava a ti, serena luz, Alba serena! Parabéns Danielle Rocha e Cleytton e toda elite artística de Uberlândia que, com vocês, compuseram uma noite inesquecível. Mariù Cerchi Borges - Professora

Rir, pra não chorar cia), escrúpulo ou limite. No Brasil, assim como em muitos países - incluindo a Itália do escritor Umberto Eco, citado acima - política e tirania são como fome e vontade de comer, uma coisa leva à outra. Para conseguir seus intentos, muitos políticos impedem que os demais cidadãos tenham seus direitos respeitados. Cercear a liberdade de expressão através de ameaças e difamação é tirania. E uma forma bem moderna de exercê-la, que Molière jamais poderia imaginar, é através das redes sociais. Vitrine de quem tem e de quem não tem o que dizer, as redes publicam de tudo, inclusive as inverdades de políticos desprovidos de caráter, que usam a imunidade parlamentar como arma para caluniar pessoas que,

com humor, conseguem fazer rir (pra não chorar), dos atos espúrios praticados “livremente” nos cargos públicos. Modismo dos novos tempos, a injúria via Facebook carece de leis específicas, pois advém de uma tecnologia cuja utilização ainda não foi plenamente dominada pelos usuários – novas versões surgem velozmente, ampliando suas aplicações. Mas independente de leis, respeitar os limites da verdade sempre existiu na “versão analógica” para pessoas éticas e de princípios morais. A face tirânica da comunicação na internet é ter que suportar usuários desprovidos dessa versão. Que assim como nas peças de Molière, podem nos levar da comédia ao drama, em apenas um ato.

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Mauro Ferreira

Guido Bilharinho

E a linda música de O Cinema Independente dos EE.UU. Deus preencherá DRUGSTORE COWBOY nossa alma Olhe além de si mesmo! Acreditamos que todos nós, fazemos todos os dias, as mesmas coisas, consequência de uma vida atribulada e cheia de armadilhas criadas pela rotina de nossas vidas. Mas, há um dia que devemos desarmar nossos corações, nossos espíritos, ao olhar profundamente dentro de nós. Talvez consigamos descobrir o mundo ao redor de nossa própria vida, fora de nossa casa ou do nosso ambiente de trabalho. Sairemos em busca do sol, do ar, da beleza que é viver. E lhe perguntamos: Se abrirmos uma janela que dê para o nosso jardim? Haverá luz, sol, e até um pequenino beija-flor voando ao nosso redor, em busca do nectar das flores. Mas, se sairmos caminhando ou dirigindo o carro, percorrendo maiores distâncias, e entrarmos em um bairro distante e carente da cidade, qual a paisagem que contemplaremos? Ao sairmos de nossa rotina confortável veremos: Uma favela, ruas sem calçamento ou esgoto. Casas com fossas descobertas e muitas vezes acima da cisterna de onde retiram água para uso doméstico. Praças com inúmeras crianças de rua a penetrar no mundo do abandono. Juventude em situação de risco. Jovens ou adultos em caminhos deprimentes e sem rumo. Homens e mulheres desvalidos pedindo esmolas, dormindo ao relento, completamente sozinhos no mundo. Veremos o triste espetáculo do mundo contemporâneo, as lutas racistas, a fome nas mais diversas regiões geográficas do universo, as tristes guerras fratricidas dizimando ideais e humanidade. A tecnologia ainda não chegou a encontrar soluções, através da internet, aos relacionamentos afetivos entre as criaturas humanas. Ainda é necessário que as pessoas se encontrem, se toquem, se contemplem e troquem sinais de afeto, de esperança e de compreensão. Ao contrário da tecnologia que busca equacionar, vemos os quadros negativos que o mundo nos oferece, obras primas do horror da anti-arte. Cumpre-nos julgar o porquê destas situações. Somos espectadores da vida, dos acontecimentos, ou somos agentes? Sou um acomodado ou sou um mero participante na ciranda da vida? Colaborador anônimo

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Uma das características mais notáveis do cinema independente dos Estados Unidos é sua temática contemporânea. Outra, sua problematização. Ou seja, não se escorrega pela falsificação da vida e escamoteação de seus dramas. Ao contrário, vai-se direto e fundo em algumas das mais graves questões que assoberbam a sociedade atual do país. Como em geral (ou totalmente) esse cinema é realizado por jovens, em torno deles e seus dilemas é que se alicerça sua filmografia. É o caso de Drugstore Cowboy (Idem, EE.UU., 1989), de Gus Van Sant (1953-), responsável, também, pelo bom Garotos de Programa (My Own Private Idaho, 1991) e pelos fracos Até as Vaqueiros Ficam Tristes (Even Cowgirls Get the Blues, 1994) e Um Sonho Sem Limites (To Die For, 1995). Drugstore Cowboy é da linhagem de Garotos de Programa, versando aspectos cruciais do vazio existencial de grande parte da juventude estadunidense do pós-guerra do Vietnã, despida de princípios e destituída de ideais, que chafurda na droga e na sua direta consequência, o crime, a princípio de furto, depois de roubo e, em seguida, de agressões físicas, quando não de morte. Van Sant atinge o centro nervoso da motivação do drogado, captando, de maneira desataviada, seu comportamento e maneira de atuação, construindo quadro abrangente do ambiente que cria em torno de si e no qual se revolve. Radiográfica e despretensiosamente, indo ao cerne da questão, giza todo um modo de vida a que se chega por vias e desvios múltiplos. Como filme sério que é e não mero produto industrial, nele não há efeitos apelativos. A violência (parca) que focaliza não advém de propósito comercial, resultando do contexto. À seriedade alia-se a autenticidade numa realização não capitalista, já que executada apenas com os recursos necessários à sua efetivação e não como produção industrializada destinada ao consumo e ao lucro.

O filme é drama, mas, não “dramatiza” as situações e muito menos a problemática de suas personagens, enfocando-as, ao contrário, nos limites de sua manifestação e de conformidade com sua natureza, portanto, sem deturpações, exageros e manipulações. Por isso, não configura espetáculo, mas, reconstituição ou recriação de dado concreto da realidade. O drama das personagens não é só delas, mas, de largas camadas da juventude contemporânea, não só dos Estados Unidos, mas, de todo o mundo, causado, em grande parte, quando não só, pelo vazio existencial produzido pela sociedade consumista, desprovida de ideais, motivações e desejos que não sejam o consumo, as aparências e a ostentação. Em Drugstore, como em Garotos de Programa, enfoca-se o reverso das exterioridades, ou seja, justamente a face que se procura geralmente encobrir e enfeitar, falsificando a realidade. Os filmes comerciais fogem da verdade. O cinema independente, inversamente, a entroniza, fazendo dela seu leit-motiv, sua razão de ser e seu objetivo. Drugstore Cowboy é tão preciso que até mesmo a atitude do protagonista de se recuperar faz-se de maneira racional e desdramatizada, como prolongamento natural de situação pessoal que alcança ponto máximo de saturação. Nem por isso os ventos que antes semeara deixam de se transformar em tempestade. Se o filme é antes documento ou radiografia de uma época do que obra esteticamente burilada ou elaborada, nem por isso deixa de compor uma estética da simplicidade. Das coisas como elas são. (do livro Cinema Contemporâneo dos Estados Unidos, em preparo) Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba/Brasil, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura (poesia, ficção e crítica literária), cinema (história e crítica), história do Brasil e regional.

O dia em que o ônibus chorou ANACRHÔNICAS DA FRANCA DO IMPERADOR Endereço atual da sede da SRF em Uberlândia: Rua Cireneu Menezes- 39 Vigilato Pereira Telefones de contato: Joaquim: (34) 3224-0193 32360520 Lourdinha:(34)3235-3661 999791302 *Site oficial da SEDE CENTRAL em váriaslínguas: www.yogananda-srf.org *Site Uberlãndia: http:srfuberlandia.com.br *Página no facebook: SRF”Grupo de Meditação Paramahansa Yogananda em Uberlândia-MG

A Self-Realization Fellowship é uma organização sem fins lucrativos fundada por Paramahansa Yogananda em 1920, com o objetivo de divulgar entre as pessoas de todas as nações e credos o conhecimento de técnicas científicas que permitem ao homem atingir o conhecimento pessoal e direto com Deus. Os Centros, Grupos e Círculos de meditação espalhados pelo Brasil e pelo mundo possibilitam aos estudantes e simpatizantes a oportunidade de meditarem juntos.

Marlene Alves da Cunha Um requinte de pessoa, amava os animais, principalmente o Zé, o Mané e o Gugu, seus bassês queridos. Vasta cultura, refinamento e bom gosto conhecia o mundo e Foto: Isabela Lima amava a arte. Devolvia às pessoas imensas doses de carinho, o sabor verdadeiro da amizade e da ternura. Uma personalidade marcante ofereceu sua solidariedade ao jornal FUNDINHO CULTURAL, do qual era assídua leitora. Viveu no bairro Fundinho e ao mesmo tempo em Ipanema, no Rio de Janeiro. Ela partiu para etéreas paisagens mas a sua essência permanecerá conosco, sutil aroma da verdadeira amizade.

Se Macondo não existe, sendo uma invenção literária de Garcia Márquez, Franca também tem seus dias de realismo fantástico, em que não se acredita que certas coisas aconteceram. Meu irmão Gonzaga se lembrou da história que minha mãe contava e investigou até descobrir o nome do filme. Por volta de 1954 foi exibida em Franca a película “Filhos de Ninguém”, um dramalhão italiano que ocupou as telas do velho cine Santo Antônio, que funcionava naquele tempo bem diante da estação ferroviária. Após o término da primeira sessão às nove da noite, no resfolegante ônibus urbano que vinha do bairro da Estação para o centro da cidade carregando dezenas de espectadores, à exceção do motorista que não sabia o que fazer, todos choravam sob o impacto emocional do filme que haviam acabado de assistir. Um dos passageiros daquela viagem era meu pai, que havia deixado minha mãe com os filhos em casa e foi sozinho assistir ao filme, pois era um cinéfilo inveterado naqueles tempos anteriores à televisão ser introduzida nas casas brasileiras. O cinema italiano do pós-guerra, quando a Itália lutava para se reerguer economicamente e o neorrealismo (movimento que buscou representar a realidade social e econômica da época) de grandes diretores como Roberto Rossellini, Vittorio de Sica e Luchino Visconti já estava em cena. O cinema italiano era capaz de alternar filmes extraordinários com dramalhões no mais puro estilo novelesco mexicano, caso do filme “Filhos de ninguém”, cuja história era mais ou menos a que segue.

“Guido é o rico proprietário de uma pedreira de mármore e Luisa, filha de um de seus funcionários. Os dois se amam, mas a mãe de Guido desaprova esse amor por causa da diferença de classe social. Quando Luisa dá à luz um filho de Guido, sua mãe faz raptar a criança e fez Luisa acreditar que a criança morreu em um incêndio. A partir desse momento Luisa decide se tornar uma freira, e Guido, acreditando que a criança havia morrido no incêndio, decide se casar com outra mulher para satisfação da mãe burguesa. Os anos passam, e quando sua mãe está prestes a morrer, revela a Guido que o neto está vivo”. Daí pra frente, só lágrimas, que encheriam baldes. O drama estreou nos cinemas do Brasil em 1952 mas, naquela época, Franca já enfrentava problemas como hoje em termos de qualidade da Sétima Arte, tudo demorava muito para chegar aqui (a maioria esmagadora dos filmes exibidos atualmente nas salas de cinema de Franca são blockbusters dublados com temática infanto-juvenil que impedem os jovens de desenvolver recursos linguísticos cada vez mais necessários na vida contemporânea, como lembra Edésio Fernandes) e, quando chegava, se era da Condor Filmes, tome molecada gritando “chiiiiit, chiiiiiiit”, para espantar o pássaro da tela. O fato é que o final dramático do filme era extremamente comovedor, apelava aos mais profundos sentimentos da plateia que chorava copiosamente, o que levou ao episódio do ônibus lacrimejante que ficou na história da minha família. Mauro Ferreira é arquiteto

CAFÉS DE CLASSE ESPECIALSpecilatyCoffeeBrazilianDISTRIBUIDORES AUTORIZADOS: Rua Johen Carneiro, 380- Bairro LídiceFones: +55-34-3231-8565

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Joabe Romed

Neuza Gonçalves Travaglia

Diego Mendes Sousa

Aricy Curvello – Mais que os Nomes de Tudo Um passeio pela arte Desejando fugir da rotina de todos os dias, sonhamos em escapar para destinos longínquos ou exóticos e os buscamos avidamente. O que nos falta ver antes de morrer? A aurora boreal, ilhas perdidas em algum oceano? Esquecemo-nos da arte. A arte que nos permite um olhar novo, de surpresa e espanto para o cotidiano. Numa tarde quente e sem graça a arte me pegou de surpresa enquanto olhava distraída para minha casa. Assustei-me ao topar com uma revoada de pássaros azuis de vários tons, de cores brilhantes; pássaros exóticos de olhos vivos , poses inusitadas ou juntinhos combinando o próximo ninho. A mulher nua sob um véu diáfano verde claro, elegantemente sentada, pensando, despertou a minha vaidade. Para onde vão aqueles garotos segurando despreocupadamente gaiolas abertas numa rua, rodeados por pássaros de sonhos azuis? Peixes adornam São Francisco que brinca com pássaros e ora. Rogai por nós! Torres de igrejas escondendo sinos seculares que de vez em quando despertam em sonoridades diversas chocandose pelos ares. Casarios antigos coloridos sob céu azul. E essa garotinha tirando notinhas repicadinhas no seu pianinho? Tlim...tlim...tlim... Ai meu ouvido, menina! Um gato branco fugindo de uma vassoura verde. Onde mais alguém veria isto? A mesa posta para o café da manhã de um dia qualquer, sugerido por um calendário indefinido. Que dia é hoje?

Ivone Vebber ÁRIES: tempo de decisões, iniciativas, liderança.Evite impulsividade. Cultive paciência ao defender suas idéias. Cor:Rosa n sorte: 9 TOURO: tempo de reflexão, não tome decisões agora. Empatia com sofrimento alheio.Pode decorar ou reformar seu lar. Cor: índigo n.sorte: 7 GÊMEOS: Tempo de curtir amizades, independência, novos conhecimentos.Evite rebeldia.Boas surpresas no trabalho. Cor: violeta n.sorte: 4 CÂNCER: Tempo de colher o que plantou, Justiça, prestigio,popularidade...Boas chances nos negócios. Cor: bege n sorte: 8 LEÃO: Tempo de expansões ou viagens, busca da verdade,otimismo,recuperação,...Reavaliações na vida afetiva e familiar. Cor: azul celeste n.sorte: 3

Obrigada, Adélia Lima e Hélvio Lima por essa viagem. Uberlândia, 26 de fevereiro de 2016.

Teresinka Pereira REFLEXO

No poço vê-se refletida uma loucura de amor. A Lua presa na água brilha seu canto como um pássaro cego.

POEMAS DE ARICY CURVELLO: QUEM?

FLUIR

Tudo é cru e tudo universo Mais se renova do que perece? Não o real o que enxergamos? O mais está sempre mais longe? Sinal mais longe, mais que o som,

há o tempo gravado nas portas atrás das portas no umbral de memória há o tempo indecifrável há o tempo e há os homens as pedras e o que nelas se busca ler

MARILYN pequenas orelhas louras lábios de olhos azuis

Então: quem disse de cada coisa o verdadeiro nome?

1964-1985

LIBRA: Tempo de união ou parceria,convívio social, beleza ou estética, filantropia,...Não se envolva em competições. Cor: verde claro n.sorte: 6

DES-CONFORME

ESCORPIÃO: Tempo de cuidar da rotina, saúde, trabalho, limpeza.De analisar seus atos .Concentração favorecida. Cor: azul n.sorte: 5

você é um dia só (eu sou existência?)

nos brancos campos da aurora, esquecimento e memória demasiados para aqui e agora.

SAGITÁRIO: Tempo de brilhar socialmente, de lazer,poder, convívio com filhos ou crianças,....Carreira e publicidade favorecidas . Cor: laranja n.sorte: 1

você o espetáculo que se desmancha eu as manchas

ENFIM

você abre gestos ao vento : eu abro as veias a - penas

(muitos amam com o só corpo)

VIRGEM: Tempo de transformações, perdas necessárias, intensidade, reflexão,...Cuide mais de si do que dos outros. Cor: castanho n.sorte: 9

São Francisco, rogai por nós mais uma vez! E esse casal apaixonado que se beija, num abraço indelével de argila? Humm!! A Virgem viajando pelas montanhas, as dobras do manto num movimento tão perfeito que se pode mesmo sentir o vento oferecendo resistência ao seu andar apressado certamente vai ajudar a prima prestes a dar à luz. O filho protegido pela mãe carinhosa ... O que há na arte que nos leva para longe do cotidiano ou nos faz mergulhar nele com olhos e sentimentos diferentes? Que nos faz refletir? Ver a maravilha do mundo e da vida naquilo que nos parece assustadoramente comum?

ARICY CURVELLO é mineiro [Uberlândia], nascido em 1945. Aricy Curvello inaugurou sua poética com Os Dias Selvagens Te Ensinam (1979), seguido por Vida Fu(n)dida (1982) e Mais que os Nomes do Nada (1996), onde sobressai o longo poema O Acampamento, que foi traduzido e publicado em espanhol, francês, inglês e italiano. Seus melhores poemas estão assinalados no livro 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (Edições Galo Branco, 2007). Aricy Curvello é dono absoluto da metalinguagem. Isto porque sua poesia é linguagem minada de razão, e aparentemente destituída de tons emocionais. Mas sua poesia tem sentimento e força, embora gerada do pensamento, da inteligência de sua fruição de palavras, sempre palavras. Há originalidade e experimentação em todos os seus versos. 50 Poemas Escolhidos pelo Autor. Rio de Janeiro: Edições Galo Branco, 2007. (Volume 25 da Coleção 50 Poemas Escolhidos)

CAPRICÓRNIO: Tempo de convívio familiar, lembranças,emotividade, charme .Evite alcoólicos ou remédios fortes..Valorize sua intuição. Cor: branco n.sorte: 2 AQUÁRIO: Tempo de contato com irmãos ou colegas, intermediações, comunicação, questionamentos,...seja mais seletivo nas amizades. Cor: amarelo n.sorte: 5 PEIXES: Tempo de economizar.Cultive realismo,prudência ,mas não a teimosia. Sensitividade acentuada,...Cuide da dieta. Cor: verde n.sorte: 6 De tudo que há de mal, nõ sei se é a doce ilusão, nem um pouco racional, que nos traz tanto temor.

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CIDADES CILADAS a cor incolor a dor indolor

não mais amador

com qualquer ser e coisa eu rimarei amor por amor

há trovões sobre a noite há relâmpagos alguns sonhos sobre o passado o futuro o presente e o tempo um só no limiar jamais atravessado sinais em cinzas dores ilegíveis há pátrias e não se leva a pátria embaixo dos sapatos nem pudeste em algumas palavras alguma vez chamar companheiros agora impossíveis de chamado outra vez há a lua metálica na vidraça e a janela inundada amanhece outra vez

Diego Mendes Sousa é poeta, narrador e crítico. Reside atualmente em Teresina (PI)

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Cristiane Alcântara

Entre Warhol, Mário de Andrade e Anita Malfatti Numa discussão entre Andy warhol e Mário de Andrade a voz de Anita Malfatti bem baixinha falaria mais alto. Certeza disso! No meio de tanta confusão, eu gostaria de trocar umas idéias com ela, bagunçar o cabelo do Warhol pra ver se aquilo era peruca ou de pedir pro Mário de Andrade ler uma de suas odes pra mim. Enfim, mas queria mesmo era pedir uns conselhos à Anita Malfatti. Eu queria saber o que ela sentia quanto não sabia o que fazer da sua arte, onde guardar os tubos de tinta usados, a quantidade de desenhos que acabam se perdendo, onde guardar tanta inspiração e tão pouco tempo. Pra eles deve ter sido mais fácil, o tempo era mais longo. Queria saber por quantos dias ela chorou depois de ter lido o artigo do Lobato, queria saber se ela jogava fora os pincéis muito usados, se sujava sempre os cabelos com tinta e se costumava jogar seus croquis fora. Pois é, queria saber também onde ela guardava tantos Texto e ilustração: Cristiane Alcântara, designer e ilustradora. Atualmente sentimentos e se seus quadros Para conhecer mais de seu trabalho, visite: www.cristianealcantara.com conseguiam juntar todos.

vive em São Paulo.

Mônica Cunha

Passeio

Foto: Sandra Pacheco de Freitas

Vera Bernardino Quando vejo um amanhecer fico plena de esperança... e ela me leva nas suas asas mágicas a acreditar que no vôo de um passarinho azul, está implícita a mensagem de que tudo está no lugar e tempo certos. De nós, pequenos contribuintes da vida, espera-se apenas a coragem de continuar seguindo o rastro de luz que o sol oferece, sem rótulos, sem bandeiras, apenas deixando o vento nos mostrar o caminho. Se a confiança nos nortear, seremos capazes de sermos grandes, dentro do infinitamente pequeno mundo interior.... BOM DIA!

Há muitas casas no Fundindo. E aos domingos gosto de passear por elas. Algumas mudam. Outras estão do mesmo jeito. Cada detalhe. Bem cuidadas. Outras nem tanto. Esse abandono me dói porque fui criada por essas ruas. Aprendi a pedalar. A ir para escola sozinha e ficar atenta ao caminho e a quem passava por ele. E até hoje faço isso. Caminho por este lugar que cresci e escolhi para viver. E vou fazendo bordado a cada jornada. A casa rosa que tem muro baixo - ainda bem!!e dá para ver o pequeno canteiro com roseiras altas. Tem a casa de esquina e sua parede de verde. O flamboyant que deixa seus galhos fazerem sombra aos que estão do lado de fora e passam apressados. Tem casa que é loja com floreira na janela. Com pé de manga e romã. E tem praça também. Onde procuro um banco para sentar e observo gerações.Uma brinca de bola. A outra sorri pela saudade e gratidão de acompanhar o melhor que a vida tem.


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