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Bienal do Livro, parte I — em busca do digital na Bienal e mil questionamentos Editora Pipoca Geral

Foi até curioso! Nós fomos até Bologna, mas não pudemos ir à Bienal Internacional do Livro de São Paulo… Coisas da vida, em alguns momentos, não podemos nos desdobrar. Mas, tudo bem, porque também a vida tem seus caminhos alternativos, e foi por meio deles que, mesmo a distância, participamos desse evento. Talita Camargo* e Beatriz Camargo** foram os nossos olhos e ouvidos nessa Bienal. Lá foram elas, e trouxeram um monte de informações legais pra gente poder seguir em frente em nosso caminho de pensar sobre as ilustrações nos livros infantis, sobre eventos literários (projeto secreto para o próximo ano!) e, claro, sobre o mundo dos livros digitais infantis. Diante da programação enooooorme dessa Bienal, estes foram os nossos focos. Mas nem só de mesas e palestras se faz uma Bienal! O ambiente da feira, em si, também era de nosso interesse. Já tem exposição de livros digitais nos estandes? Que soluções físicas as editoras estão utilizando para apresentar seus conteúdos digitais? Desses conteúdos, o que está sendo exposto na feira? E, mais especificamente, o que tinha de conteúdo digital infantil? Essa foi a edição da Bienal que contou com menos expositores, mas a programação cultural e teórica foi intensa. Quando tivemos acesso a todo o material que as nossas meninas coletaram, percebemos que há muita coisa para ser tratada… Então, vamos dividir este post em dois. Hoje, o foco vai ser na feira, propriamente dita. Depois, colocaremos o foco nas mesas e palestras. Em busca do digital na Bienal e mil questionamentos Apesar de a produção de livros infantis no universo digital estar caminhando pelo mundo afora (seja no formato ePub 3, como os nossos, seja como App), esta Bienal foi igual a todas as outras: só livros impressos… É uma pena! É lindo ver as crianças em contato com tantos e tantos livros, sim, isso é fundamental. Mas já dissemos aqui muitas vezes e repetiremos quantas mais for preciso: digital e impresso podem ser amigos! Ambos podem conviver em paz e enriquecendo-se! Poxa, Bienal Internacional do Livro de São Paulo, o maior evento literário do país, e basicamente as únicas referências ao digital foram os e-readers??? Cadê o conteúdo infantil literário para esses dispositivos? E então soubemos que, em um estande de e-reader, as crianças estavam brincando com joguinhos em plena Bienal do Livro…é triste isso, pois o foco do evento eram os livros!


Agora, pensem na quantidade de crianças que vão àBienal. É provável que muitas delas, talvez a maioria, tenha acesso, ao menos, a um smartphone de algum adulto da família. Será que elas sabem que existe a opção de ler livros em smartphones ou será que conhecem apenas os joguinhos? Será que sabem que há livros infantis para tablets também? Alguém pode dizer que elas escolhem os joguinhos…Mas escolhas só acontecem quando existem opções, não é mesmo? Então, um evento literário desse porte seria um ótimo espaço para que, além do contato com os livros impressos, as crianças pudessem ter contato também com diversos livros digitais! Assim, ao saber que eles existem como opção de uso da tecnologia, elas poderiam selecionar o que querem fazer com um aparelho em mãos. E, ainda, com seus próprios critérios críticos, fariam uma seleção que seria muito mais rica, já que passaria a contar com livros em mais formatos. Tecnologia sem conteúdo não anda (ou não deveria andar), mas conteúdo sem tecnologia certamente anda. Não causa estranheza que, com o aumento a venda de e-books e tablets, o mercado editorial continue produzindo pouco conteúdo? De fato, isso parece uma recusa dos profissionais da área… Por exemplo, também em São Paulo, temos o Museu da Língua Portuguesa. Ele é voltado à língua, às palavras e é um museu, ele conta histórias… E, vejam bem, é todo tecnológico! Porque uma coisa enriquece a outra. O digital e o analógico não podem ser excludentes, eles são complementares. O que nós vemos como um problema é que a produção de conteúdo literário apenas no modo analógico pode, sim, afastar as crianças da leitura. O nosso palpite é que elas podem acabar tendo menos interesse no conteúdo analógico como opção primária de busca, pois são nativas digitais, o que faz toda a diferença. Dadas as mudanças de cenário do mundo, em que a tecnologia se torna cada vez mais presente na vida de todos e cada vez mais cedo, por que não evitar o caminho da tecnologia sem conteúdo? Talvez seja esse o grande papel de vilã atribuído à tecnologia; mas, vejam, a tecnologia não tem culpa, pois —repetimos — sozinha ela não faz nada! Cabe a nós, humanos (e não robôs, rs), criar conteúdos que permitam o seu bom uso. Mas não foram só esses questionamentos que passaram pela nossa cabeça. Vamos pegar um exemplo de atividade para o público infantil que foi montado na feira: a Praça das Palavras. Lá, era possível montar frases com palavras soltas, espalhadas pelo chão ou penduradas em um varal. Não sei se é porque estamos acostumadas a pensar no modo digital, mas imaginem que legal se essa atividade tivesse uma interação virtual que gerasse um produto final! As frases poderiam ser parte de uma atividade cuja proposta seria a criação de uma história coletiva, e as crianças poderiam escolher também elementos de ilustração. E essa história poderia ainda ser salva em algum formato básico e enviado para elas mesmas… Pensem que legal! Seria colocar as crianças como criadoras de um produto cultural. É uma pena que a gente ainda não tenha podido participar de eventos para propor atividades assim, mas ainda vamos chegar lá!


Vejam só que bonitas essas frases da foto e imaginem que história linda elas poderiam montar!! Pensem em sons e imagens que ajudassem a criar esse cenário…

Gostamos muito de contação de história, seja da maneira tradicional ou não. Mesmo! Mas já que estamos nos propondo a pensar em como incluir o digital nas atividades de incentivo à leitura, por que não contar uma história com um cenário digital que estimule a interação das crianças? São só exemplos do que passa pela nossa cabeça quando vemos eventos que poderiam ser enriquecidos pelo digital. Podem dizer que atividades assim funcionam bem no analógico. Sim! Vamos concordar! Mas sabemos que muitas coisas podem articular o analógico e o digital para atingir um objetivo principal, que tem de estar sempre relacionado ao conteúdo — a forma é só o atrativo. Existe um interesse natural do ser humano pela novidade, e isso permite tornar ainda mais interessante o que já está dando certo. Vale destacar que não sabemos se em outros lugares do mundo tais iniciativas acontecem. Na feira de Bologna, pelo menos, não acontece, pois é uma feira fechada ao público, não existindo nem espaço pra esse tipo de interação. O que vimos lá, porém, foi um espaço com tablets disponíveis, nos quais era possível ver aplicativos e livros premiados, e eles foram julgados a partir do conteúdo, e não da tecnologia por si só. Infelizmente, não é a primeira vez que comentamos de eventos que focam mais a tecnologia que o conteúdo, o que nos entristece e, mais do que isso, nos preocupa… O que sabemos é que, na nossa cabeça, o estande da Pipoca em uma feira pode ser tão lindo e ativo, que nos dá um pouco de comichão saber dessa estaticidade. Estandes são físicos e o nosso produto é virtual. Ainda assim, achamos que uma coisa não atrapalha a outra, pelo contrário, aproxima. O que atrapalha, por enquanto, é não termos dinheiro fazer acontecer essas coisas fantásticas que ficamos imaginando, rs! Por Suria e Isabela


******* * Talita Camargo é formada em jornalismo pela PUC-SP e em produção editorial pela Universidade Anhembi Morumbi; é pós-graduada em comunicação organizacional e relações públicas pela Faculdade Cásper Líbero. Talita focou sua paixão pelos livros em seu blog, No Mundo Editorial, onde abre espaço para discussões e novidades do mercado. ** Beatriz Camargo é estudante de jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi. Apaixonada pelas palavras desde quando as descobriu, trabalha com textos publicitários e pretende seguir sua caminhada pelo mundo da comunicação.


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