Antologia de poetas contemporâneos

Antologia de poetas contemporâneos Miguel Torga, Eugénio de Andrade e Ana Luísa Amaral

Trabalho realizado por: Beatriz Costa, nº7 Guilherme Alves, nº14 Joaquim Costa, nº18

Prefácio A poesia está presente na cultura humana desde as primeiras entradas na maioria das populações letradas, tem vindo assim a sofrer várias alterações não só a nível de estrutura formal, como nos temas por ela abordados, acompanhando assim o evoluir da História, da Cultura e da Literatura.

No início da poesia portuguesa, isto é, na idade média prevaleceram as cantigas trovadorescas, textos poéticos em galego-português compostos para serem cantados, ficando mais conhecidos por cantigas, podendo variar entre cantigas de amor, de amigo ou de escárnio e maldizer, e ao longo das épocas a poesia adaptou-se a várias correntes como o Renascimento, o Maneirismo, o Classicismo e o Modernismo chegando até aos dias de hoje com a poesia contemporânea. A poesia contemporânea começou a destacar-se na segunda parte do século XX, com poetas e poetisas como Miguel Torga, Eugénio de Andrade, Ana Luísa Amaral, Sophia de Mello Breyner, entre outros.

Nesta pequena antologia de poetas contemporâneos destacamos poemas de Miguel Torga, Eugénio de Andrade e de Ana Luísa Amaral, por se debruçarem sobre as mesmas temáticas: arte poética, figurações do poeta, representações do contemporâneo e tradição literária; consta também uma nota biográfica de cada poeta e um poema da autoria de cada elemento do grupo.

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Arte poética Temática que aborda uma reflexão sobre a composição poética, isto é explora o próprio trabalho poético, a essência da poesia.

Arte poética Fecho os olhos e avanço E começa o poema.

Rodeiam-me os fantasmas Fugidios Dos versos que persigo.

A regra é caminhar E chegar sem saber.

De tal modo é cruzada A encruzilhada Onde o milagre pode acontecer.

Mas sendo, como é, de cabra cega O jogo E é um destino jogá-lo, É sempre incerto que o princípio.

Tacteio no vazio Da expressão Seguindo, E ganho quando sinto a salvação No próprio gosto de me ir iludindo.

Para Miguel Torga a criação de um poema é um acaso fortuito.

O poeta vê-se numa perseguição com os “fantasmas” dos versos e afirma que pode ser a qualquer altura que se dê o milagre conseguir criar o poema.

O poeta compara a criação de um poema e o jogo da cabra cega para demonstrar que em ambas as atividades a sorte é fulcral para se ter sucesso, quase como uma adivinhação.

Miguel Torga

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Agora as Palavras Obedecem-me agora muito menos, as palavras. A propósito de nada resmungam, não fazem caso do que lhes digo, não respeitam a minha idade.

Provavelmente fartaram-se da rédea, não me perdoam a mão rigorosa, a indiferença pelo fogo-de-artifício.

Eu gosto delas, nunca tive outra paixão, e elas durante muitos anos também gostaram de mim: dançavam à minha roda quando as encontrava.

Com elas fazia o lume, sustentava os meus dias, mas agora estão ariscas, escapam-se por entre as mãos, arreganham os dentes se tento retê-las. Ou será que já só procuro as mais encabritadas?

Eugénio de Andrade

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Neste poema é retratada a forma de como as palavras surgem ao poeta quando este está a compor algo. O sujeito poético refere o presente da relação difícil com as palavras que não lhe obedecem, resmungam e não lhe mostram respeito, contrastando com o passado onde estas terão gostado dele, relação que terá sido harmoniosa. A interrogação final aponta para uma justificação alternativa para a desobediência das palavras, assentando na possibilidade de ter sido o poeta quem mudou, uma vez que passou a procurar as palavras mais difíceis.

Na sua poesia, o poeta é concebido como se o seu trabalho fosse semelhante ao de um artesão, com um processo de seleção e combinação de palavras, numa busca incessante da depuração da linguagem e da construção da musicalidade do poema.

Técnica vs. Artesanato Vou falar de uma coisa: Comprei um computador, aparelho de larga inteligência e letra certa.

Fascinaram-me os bips, a linguagem decifrada e tensa, as letras (quase todas) a caberem.

Pensei: que bom será sem precisar de folha, Os meus poemas na fase inicial pelo écran.

E comecei na escrita: um toque leve, em intermédio bips, e a palavra fugindo desabrida.

Perseverei (que os tempos urgem e a poesia já não doce folha de linhas, já não parado, antes segura e galopante técnica).

Mas faltava-me o risco, os meus traços por cima das palavras, a minha mão precária a entender os refúgios, os dedos viciados pelo lápis.

Faltava a minha raiva pela folha, o meu carinho às vezes, embarcações macias e barulho de remos.

Primeira, o sujeito poético pretende focar a técnica (computador) e as suas conveniências e benefícios; no fim pretende mostrar o seu gosto particular pela ação artesanal (escrita no papel).

Depois de um elogio inicial ao computador, o sujeito poético afirma-se dependente do lápis, ou seja, do “artesanato”, da ação artesanal e que sem ela não consegue produzir e é esse contraste que a conjunção adversativa “Mas”, na quarta estrofe realça.

O sujeito poético pretende com este poema apresentar as suas as suas críticas positivas e negativas à escrita com computador e à produção artesanal de poemas deixando claro que para ele é necessário a produção artesanal de forma a que a sua arte poética tenha toda a sua amplitude.

Vou falar de uma coisa: Bips só no trabalho, o écran certo E que vivia o papiro, o pergaminho, as pregas pelo tempo, a raiva toda dos riscos e a poesia conquistada a vício.

Ana Luísa Amaral

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Figurações do Poeta Temática que vislumbra, sob vários pontos de vista, o poeta enquanto criador, representando a figura do poeta, o seu trabalho, o porquê de o fazer e a forma de o fazer. Esta forma poética reflete sobre o papel do poeta no mundo, no poema e na vida em geral.

Majestade Passa um rei - é o Poeta.

Não pela força de mandar, Mas pela graça mágica e secreta De imaginar.

O ceptro, a pena - a lançadeira cega De tear de versos O manto, a pele - arminho onde se pega A lama dos caminhos mais diversos

O poeta aos olhos de Miguel Torga é visto como um rei por possuir uma imaginação incrível e fértil. Em vez de um ceptro, este “rei” empunha uma pena com a qual cria inúmeros versos.

Mas, apesar de ser rei ainda assim possui um destino humilde de ser um “monstro humano”.

Miguel Torga

Urgentemente É urgente o amor. É urgente um barco no mar. É urgente destruir certas palavras, Ódio, solidão e crueldade, Alguns lamentos, Muitas espadas. É urgente inventar alegria, Multiplicar os beijos, as searas, É urgente descobrir rosas e rios E manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz Impura, até doer. É urgente o amor, é urgente permanecer.

Eugénio de Andrade

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O poema retrata a importância em pessoas se deixarem guiar pelas coisas boas da vida, que vão à procura da felicidade e que ponham um fim à guerra e a toda a tristeza que nos rodeia. Retrata como é importante destruir o ódio, a solidão e a crueldade, destruir “as espadas”, sendo estas um símbolo de guerra e violência. E, posteriormente, refere a necessidade urgente de construir a felicidade, a alegria, “é urgente descobrir rosas”, símbolo de beleza, harmonia e amor.

Este poema é inserido nesta temática pois o poeta tendo a necessidade de viver num mundo melhor, num mundo repleto de felicidade e amor eliminando as coisas negativas nele presente, intervém no mundo através da sua poesia, tornando-o mais harmonioso.

Malmequeres e polígonos A mesma folha.

De um lado, analisar, do outro - eu.

Mas o lado primeiro também eu. Outro eu.

E o que vacila entre os dois lados (que não é o que escreve, não querendo, nem o que malquerendo, move mão) - eu também. Outro eu.

Eu, terceiro e secante com os outros dois lados Malmequer. Mequermal.

No fim das pétalas, é sempre a mesma folha com dois lados

A poetisa confronta-se com a questão do fazer poético como descentramento do sujeito, o que acarreta formas de enunciação ambíguas entre a ficção do eu e a sua figuração.

Este poema representa a situação de desconforto de ser ao mesmo tempo e na “mesma folha” de papel, vários eus: “eu”, “Outro eu” e ainda “Eu, terceiro e secante/com os outros dois lados”

(e um outro em Purgatório: nem inferno, nem céu) Ana Luísa Amaral

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Representações do contemporâneo No tema representações do contemporâneo o poema surge como projeção, como captação de uma imagem do quotidiano.

Dies Irae Apetece cantar, mas ninguém canta.

Apetece chorar, mas ninguém chora.

Um fantasma levanta A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.

Apetece fugir, mas ninguém foge.

Um fantasma limita Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.

Apetece matar, mas ninguém mata.

Um fantasma percorre Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! Maldição do tempo em que vivemos, Sepultura de grades cinzeladas, Que deixam ver a vida que não temos E as angústias paradas!

Miguel Torga

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Está presente neste poema a revolta de Miguel torga para com a ditadura militar.

Quase todos os versos começam com o verbo “apetece”, simbolizando o desejo do povo em ser livre, mas, devido a opressão e abuso de poder por parte dos governantes a liberdade é inalcançável.

Adeus Já gastámos as palavras pela rua, meu amor, e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.

Gastámos tudo menos o silêncio.

Gastámos os olhos com o sal das lágrimas, gastámos as mãos à força de as apertarmos, gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.

Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro; era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar. Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.

E eu acreditava.

Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos, era no tempo em que o teu corpo era um aquário, era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes.

Hoje são apenas os meus olhos. É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.

Quando agora digo: meu amor, já se não passa absolutamente nada.

E no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.

Dentro de ti não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse: as palavras estão gastas.

Neste poema a relação amorosa é apresentada retrospetivamente por um dos apaixonados que, revendo-a numa perspetiva crítica, se despede de um “Tu” com argumentos que salientam o excesso de palavras (e de gestos) trocadas entre ambos no passado recente que antecede o momento do “adeus”.

O emprego anafórico do verbo “gastar” ao longo do poema revela a perceção da inutilidade do que foi dito e de todos os esforços despendidos por ambos para salvar o que o “Eu” vê como irremediável e, ainda, o cansaço, a frustração, o desejo de afastar definitivamente o Tu. Prisioneiros das palavras amorosas, desmoronaram quando o paraíso criado pela magia das palavras abre brechas, deixando o mundo real entrar, condenando a relação ao seu doloroso “gasto”.

Sujeito poético sente um vazio ao perceber que tudo o que tinham para dar um ao outro eram apenas palavras amorosas e quando estas se gastaram não restou nada. Após tudo o “eu” sente-se insuportavelmente vulgar por os seus olhos serem “apenas” os seus olhos e não “peixes verdes” como haviam sido.

Este poema é então inserido nesta temática por retratar as trevas e crueldade do quotidiano em que se encontra agora, após o fim da relação.

Adeus.

Eugénio de Andrade 9

Lugares Comuns Entrei em Londres num café manhoso (não é só entre nós que há cafés manhosos, os ingleses também, e eles até tiveram mais coisas, agora é só a Escócia e parte da Irlanda e aquelas ilhotazitas, mais adiante) Entrei em Londres num café manhoso, pior ainda que um nosso bar de praia (isto é só para quem não sabe fazer uma pequena ideia do que eles por lá têm), era mesmo muito manhoso, não é que fosse mal intencionado, era manhoso na nossa gíria, muito cheio de tapumes e de cozinha suja. Muito rasca.

Claro que os meus preconceitos todos de mulher me vieram ao de cima, porque o café só tinha homens a comer bacon e ovos e tomate (se fosse em Portugal era sandes de queijo), mas pensei: Estou em Londres, estou sozinha, quero lá saber dos homens, os ingleses até nem se metem como os nossos, e por aí fora...

E lá entrei no café manhoso, de árvore de plástico ao canto.

Foi só depois de entrar que vi uma mulher sentada a ler uma coisa qualquer. E senti-me mais forte, não sei porquê, mas senti-me mais forte.

Era uma tribo de vinte e três homens e ela sozinha e depois eu

Lá pedi o café, que não era nada mau para café manhoso como aquele e o homem que me serviu disse: There you are, love.

Apeteceu-me responder: I’m not your bloody love ou Go to hell ou qualquer coisa assim, mas depois pensei: Já lhes está tão entranhado nas culturas e a intenção não era má, e também vou-me embora daqui a pouco, tenho avião quero lá saber

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Há neste poema um lado propositadamente incompleto, aberto, próximo do esboço, da ideia de ir para um café, passar a tarde a escrever com uma música de fundo, reparando nas conveniências, nas pessoas que passam, tirando retratos desses rostos nas letras que mutilam a folha em branco.

São várias as observações do que rodeia a escritora e de forma a darnos um retrato do café, fazendo assim com que gente se transporte para o local e saiba o que ela está a sentir.

E paguei o café, que não era nada mau, e fiquei um bocado assim a olhar à minha volta a ver a tribo toda a comer ovos e presunto e depois vi as horas e pensei que o táxi estava a chegar e eu tinha que sair.

E quando me ia levantar, a mulher sorriu Como quem diz: That’s it

e olhou assim à sua volta para o presunto e os ovos e os homens todos a comer e eu senti-me mais forte, não sei porquê, mas senti-me mais forte

e pensei que afinal não interessa Londres ou nós, que em toda a parte as mesmas coisas são Ana Luísa Amaral

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Tradição Literária Temática que retoma temas como a vida, o amor e a natureza. É também caracterizada pela retoma de estruturas formais, como o soneto, estróficas, como o terceto e a quadra, e metricamente, como redondilhas. No entanto, a tradição literária também faz referência a autores e textos da literatura portuguesa e estrangeira, tratando-se assim de intertextualidade

Sísifo Recomeça...

Se puderes, Sem angústia e sem pressa.

E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro, Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado, Vai colhendo Ilusões sucessivas no pomar.

Sempre a sonhar E vendo, Acordado, O logro da aventura. És homem, não te esqueças!

Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga

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Miguel Torga usa a personagem Sisifo da obra “Ulisses” de forma a incentivar-nos a ser ambiciosos e nunca desistirmos.

Canção Tinha um cravo no meu balcão; Veio um rapaz e pediu-mo – Mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão; Veio um rapaz e pediu-mo – Mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço, Só não dei o coração; Mas se o rapaz mo pedir – Mãe, dou-lho ou não?

Eugénio de Andrade

O poema demonstra uma série de pedidos por parte de um rapaz: um cravo (simbologicamente representando a liberdade), um lenço de mão e o coração, questionando-se então se o dará também, se o rapaz lho pedir.

Esta composição poética tem marcas que nos remetem para a tradição da lírica medieval. O poeta recorre aos artifícios das cantigas de amigo para recriar uma pequena história de amor. Como nas cantigas de amigo existe uma figura que ouve os anseios do sujeito poético, sendo neste caso a mãe. É comum aos dois estilos o refrão, e os sentimentos de dúvida, a ansiedade e o despertar dos amores.

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Soneto científico a fingir Dar o mote ao amor. Glosar o tema tantas vezes que assuste o pensamento.

Se for antigo, seja. Mas é belo e como a arte: nem útil nem moral.

Que me interessa que seja por soneto em vez de verso ou linha devastada?

O soneto é antigo? Pois que seja: também o mundo é e ainda existe.

Só não vejo vantagens pela rima.

Dir-me-ão que é limite: deixa ser.

Se me dobro demais por ser mulher (esta rimou, mas foi só por acaso) Se me dobro demais, dizia eu, não consigo falar-me como devo, ou seja, na mentira que é o verso, ou seja, na mentira do que mostro.

E se é soneto coxo, não faz mal.

E se não tem tercetos, paciência: dar o mote ao amor, glosar o tema, e depois desviar. Isso é ciência!

Ana Luísa Amaral

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Ana Luísa Amaral relaciona-se com a tradição de maneira ambivalente, ora respeitando-a ou desviando-se dela (nunca a abandonando), apropria-se dela, de maneira pessoal e criativa.

Neste poema a poetisa estabelece um vínculo com a tradição ao mesmo tempo que se opõe a ela subverte, modificando-a e, consequentemente, renova-a.

Tratando-se de poesia portuguesa é impossível não se reparar na intertextualidade com a temática do “fingimento artístico” de Pessoa, a poesia que tem “ciência” de que está “a fingir”; e ainda no título nos deparamos com herança clássica: soneto (de Petrarca, Dante e Camões) e a herança do maior poeta modernista português: Pessoa.

Ana Luísa Amaral ao retornar ao uso das formas e dos temas clássicos confronta um paradigma instaurado pela poesia modernista, a regra de não ter regra: “Que me interessa que seja por soneto / em vez de verso ou linha devastada? / O soneto é antigo?

Pois que seja: / também o mundo é e ainda existe” A autora transita entre as tradições antigas e as (já tradições) modernas, estabelecendo, assim, uma nova poesia, que não é rígida nem na forma de seguir a tradição, nem na forma de romper com ela. Melhor dizendo: a poeta dialogará com as tradições, subvertendo as regras na sua maneira de não as seguir estritamente. Escreve um soneto, mas é um soneto “coxo” e com linguagem coloquial.

Miguel Torga – Biografia Miguel Torga (1907-1995) foi um escritor português, um dos mais importantes poetas do século XX. Destacou-se também como contista, ensaísta, romancista e dramaturgo, deixando mais de 50 obras publicadas.

Miguel Torga, pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha, nasce em Vila Real, Portugal, no dia 12 de agosto de 1907. Proveniente de uma família humilde, com 10 anos parte para a cidade do Porto para trabalhar em casa de familiares.

Em 1918 é mandado para o seminário de Lamego, onde estudou Português, Geografia e História, Latim e os textos sagrados.

Depois de um ano decidiu que não queria ser padre.

Em 1920, Miguel foi para o Brasil para trabalhar na fazenda de café, de um tio, em Minas Gerais mas rapidamente o seu tio apercebeu-se da sua inteligência e em 1925 regressou a Portugal acompanhado do mesmo que financiou os estudos do sobrinho em Coimbra. Durante três anos frequenta o Liceu e em 1928 matricula-se na Faculdade de Medicina.

Inicia sua vida literária e publica seus primeiros livros de poemas, “Ansiedade” (1928), “Rampa” (1930), “Tributo” (1931) e “Abismo” (1932). Em 1933 conclui a licenciatura.

Em 1934, publica “A Terceira Voz”, quando passa a usar o pseudônimo que o imortalizou. Escreveu uma vasta obra, em poesia, prosa, romance e teatro.

O pseudónimo Miguel Torga é caracterizado como um rebelde que recusa a conformar-se com as injustiças e abusos de poder sendo maior parte das suas obras um meio do mesmo expressar o seu descontentamento para com tais situações.

A sua morte dá-se a 17 de janeiro de 1995 em Coimbra.

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Eugénio de Andrade – Biografia Eugénio de Andrade pseudónimo de José Fontinhas nasceu a 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, no Fundão, e faleceu a 13 de Junho de 2005. Aos 10 anos, mudou-se para Lisboa com a mãe e frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro tendo escrito os primeiros poemas em 1936, apesar de só ter publicado a sua primeira obra, ”Narciso”, três anos mais tarde. Em 1942 é que o poeta se tornou mais reconhecido com o seu livro “Adolescente”, mas só em 1948 é que se deu a sua consagração com a publicação do livro “As mãos e os frutos”, merecendo assim aplausos por parte de críticos como Vitorino Nemésio ou Jorge Sena. A obra poética de Eugénio de Andrade é maioritariamente lírica, sendo considerada por José Saramago como um “poesia do corpo a que se chega mediante uma depuração contínua”.

Apesar do seu enorme prestígio enquanto poeta, Eugénio de Andrade vivia distanciado da vida social, literária ou mundana, tendo o próprio justificado as suas raras aparições públicas com “essa debilidade do coração que é a amizade”. Em 1991, foi criada a Fundação Eugénio de Andrade, no Porto. Para além de residência do poeta, esta instituição teve como objetivos o estudo e a divulgação das obras do poeta, assim como a organização de eventos de lançamentos de livros, recitais ou encontros de poesia.

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Ana Luísa Amaral – Biografia Nasceu em Lisboa a 5 de abril de 1956 e vive, desde os nove anos, em Leça da Palmeira.

Tem um doutoramento em poesia de Emily Dickinson e as suas áreas de investigação são Poéticas Comparadas, Estudos Feministas e Estudos Queer.

Integra a direção do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa; tem várias publicações académicas em Portugal e no estrangeiro; é autora, juntamente com Ana Gabriela Macedo, do Dicionário de Crítica Feminista.

Está representada em inúmeras antologias Portuguesas e estrangeiras dando-lhe a possibilidade de efetuar várias em leituras em países estrangeiros e muitas das suas obras foram transformadas em peças de teatro e leituras encenadas.

Foram-lhe oferecidos prémios como o Literário Casino da Póvoa, o Grande Prémio de Poesia APE/CTT, o P.E.N. Clube Português de Novelística, e mais recentemente, em 2018, o Prémio Internazionale Fondazione Roma: Ritratti di Poesia.

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Poema – Guilherme Ode ao fagote Na madrugada de uma quarta-feira Faça sol ou chuva, nada me para.

Quase como uma vontade inata Apresso-me para onde cantara.

Danzi e Pierne, ambos do romântico.

AH! Que inspiração, que ânimo.

Tento então musicar as ornamentações Mas quanto mais me aventuro, mais são as complicações.

Na água mais cristalina molho a palheta Pois o que toco não é corneta.

Não, é um instrumento que encanta até D. Quixote Obviamente refiro-me ao fagote.

Um prestigiado das maneiras Agraciado de todas as maneiras Enquanto os restantes Apenas por Eiras.

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Poema – Beatriz Até ja Tinha-me por completo, nos teus braços eu era fogo, era corpo, era alma, era vida.

Assim que me largaste apaguei, fiquei gelada o inverno tomou conta de mim, contigo, levaste parte de mim.

Não chorei, apenas sorri, sabia que voltaria a encontrar-te, sabia que eras tão meu, como eu tua, sabia que estava tão apaixonada por ti, como tu por mim.

Sabia isso pela forma que os nossos corpos se colavam, como os nossos lábios se acariciavam, como os nossos olhos se cruzavam sussurrando mil ternuras.

Custou deixar-te ir, mas foste, prometendo-me que voltaria a encontrar-me nos teus braços.

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Poema – Joaquim Incerteza da vida O futuro é incerto, e Só o nosso coração o sabe, e a menos que a cabeça o aldrabe, ele o saberá sempre.

Isso é certamente.

Olhamos pela janela, sentimos o frio que possa estar lá fora.

Vemos naquele carro uma amolgadela.

Assemelha-se à nossa vida A mente divaga e só queremos ir embora.

Tudo isto é certo como incerto.

Na nossa vida não há certezas, mas basta que o coração esteja aberto para que tudo melhore e a nossa alma não chore.

O pior já passou, Não é o que costuma dizer?

Agora, bem já eu estou Agora é só ver o percurso da vida E o que está prestes a acontecer.

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Referências Bibliográficas Cardoso, Elsa; Silva, Pedro; Rente, Sofia. (2017). Outras Expressões. Rua da Restauração,365: Porto Editora Padlet (15-05-2018). Miguel Torga / Site. https://padlet.com/marisaalexandra3/3alt7yrwbscr Wikipédia. (14-05-2018). Miguel Torga / Site. https://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Torga Padlet (01-06-2018). Ana Luísa Amaral / Site. https://padlet.com/amaliamc70/ojx4f334c41w Wikipédia. (24-05-2018). Ana Luísa Amaral / Site. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Luísa_Amaral Padlet (26-05-2018). Eugénio de Andrade / Site. https://padlet.com/martinsjoaomaria/pbpsoukastra Wikipédia. (18-05-2018). Eugénio de Andrade / Site. https://pt.wikipedia.org/wiki/Eugénio_de_Andrade

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