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O Phoneblock, um celular desmontável em módulos. Em caso de defeito, troca-se apenas a peça danificada

para suas famílias e, por fim, os supermercados, que conseguiram enxergar um caminho no qual são, ao mesmo tempo, sustentáveis e socialmente responsáveis. Afinal, sustentabilidade é oportunidade e não oportunismo. É algo coletivo, que prima pelo bom senso, pela capacidade de agregar pessoas e valores. Quer um exemplo? Ok, então vamos falar de Dave Hakkens e o seu Phoneblock - um novo e revolucionário conceito de aparelho de telefone celular. Ele é feito em módulos ou blocos. São várias peças separadas, como tela, bateria, antena, alto falante, microfone etc. No caso de um defeito, troca-se apenas a parte que deu enguiço. Além disso, ele pode ser ‘construído’ de acordo com suas necessidades. Se você, por exemplo, tem problemas auditivos, opta por um alto-falante maior e mais poderoso. Se viaja muito, uma bateria melhor e mais potente e por aí vai. Mais de 20 milhões de pessoas já acessaram o site de Dave, o que chamou a atenção da Motorola, que pretende desenvolver o produto, que terá código aberto, com quase cinco mil pessoas já ajudando no seu aprimoramento. Hoje, o número de celulares convencionais não para de crescer. Segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT), já existem mais aparelhos do que seres huma-

nos. E para fabricá-los, a indústria necessita de insumos como o tântalo, um mineral imprescindível para telefones móveis, computadores e tablets. Uma das maiores jazidas de tântalo está na África, em países como o Congo. A extração de insumo é, em sua maior parte, ilegal, clandestina, comandada por grupos armados que já causaram mais de cinco milhões de mortes nos últimos 15 anos. A selva é destruída impiedosamente para a abertura das lavras; crianças são cooptadas para trabalhar nos poços sob regime de escravidão; e o dinheiro da venda do tântalo, para as indústrias, abastece uma rede de corrupção e guerrilha. Nós, aqui no Brasil, não vemos nada disso, nem sequer somos suficientemente informados pelos meios de comunicação - assim como também não sabemos como são feitas as sacolas retornáveis na China ou no Vietnã. Mas fato é que o problema existe, já foi reconhecido pela ONU e até mesmo pela Comissão de Valores dos Estados Unidos. A Comissão determinou que todas as empresas que utilizam estanho, tântalo, tungstênio e ouro devem agora comprovar a origem do insumo, sob pena de exclusão da Bolsa de Valores. O primeiro relatório deve ser mostrado ao público no próximo dia 31 de maio. Uma boa ideia. Vamos ver se basta...

*O autor é jornalista especializado em desenvolvimento sustentável

Beach&Co nº 142 - Abril/2014

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