A página violada: da ternura à injúria na construção do livro de artista

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sabe disso e sofre as consequências do convívio em um ambiente periférico aos maiores eventos do librismo. Especificamente no caso do mercado de objetos artísticos, persistem as categorias com sucesso em vendas: gravura, pintura, escultura e desenho, em qualquer ordem. Seus livros têm o privilégio de possuir uma estética diferenciada que perturba o conforto do olhar preguiçoso. Como todo fazedor de livros que não se pode ler, Lenir tem poucas vendas. Mas esse é um problema que merece certamente ser debatido, mas talvez em outro espaço. Que fique, por hora, registrada a sua mágoa. Sobre o Livro bebendo água ela nos diz: “Existem nele várias marés para sugerir um corpo quase ao final do espaço e do tempo”. O livro de Lenir de Miranda é um corpo e uma alma. É um sistema de dualismos: abrir e fechar, mostrar e esconder, ler e não ler, olhar e tocar, etc. (Esses dualismos são nossos conhecidos.) Uma dança dos materiais e das energias que por eles são geradas e que entre eles circula. Como no fecho do Livro induzido, onde, dentro da carcaça preta de um pequeno reator elétrico, um espelho seguro apenas por ímãs nos convoca para um resumo dos segredos da energia intelectual e da percepção. Pode-se dizer que os livros de artistas pertencem a um mundo onde os corpos não morrem, pela absoluta impossibilidade de perderem suas almas.

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