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Beth Barone

Portfolio

Beth Barone apresenta seu trabalho fotográfico na OLD esticando os limites da linguagem fotográfica, buscando inovações e novas maneiras de pensar o suporte. Você usa a fotografia de diversas formas diferentes. Você acha que há um limite para a fotografia? Você considera a fotografia sua principal forma de expressão? Segundo Vilém Flusser a câmera fotográfica é uma máquina com possibilidades limitadas de uso e o fotógrafo um funcionário desse aparelho. Demorou para eu perceber o quanto essa ideia era provocativa e o quanto fugir do lugar comum e criar algo novo dependeria de um entendimento do que é arte contemporânea – na qual a fotografia já tem seu lugar assegurado - e de um bom conhecimento da história da fotografia e da arte. Se pensarmos que fotografia é uma linguagem usada para expressar ideias, então acredito que não há limites. Hoje eu utilizo tanto a fotografia pura quanto a associação dela com outras linguagens como a pintura e a música, mas a fotografia ainda é minha principal forma de expressão.

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Em Amnésia você busca imagens antigas para dar novo significado a elas. Como foi o desenvolvimento deste trabalho? Como foi feita a seleção das imagens?

A série Amnésia – que conta hoje com 4 trabalhos - traz à tona uma discussão em torno da fotografia como objeto de memória. Muito já se questionou sobre a fotografia ser, de fato, um registro fiel da realidade e hoje já existem diversos estudos sobre o quanto as fotos de família são posadas, o quanto as de jornalismo tendem a expressar a ideia de uma mídia específica, o quanto a de publicidade tenta fazer um produto mais bonito do que ele é... Além disso, comecei a refletir sobre o fato de que eu fotografo para poder esquecer, assim como faço anotações em agendas para poder tirar da mente o dia de pagar uma conta, por exemplo. Então a fotografia acaba por nos libertar da lembrança e me pareceu interessante começar a abordá-la como um objeto de esquecimento. Para desenvolver esse trabalho comecei me apropriando de fotos de álbuns de família e apliquei a elas operações distintas, como ampliações que destacam o seu desgaste temporal, a exploração de novos suportes e relacionando-as com outras linguagens. Na seleção das imagens levo em consideração a estrutura da mesma, o arranjo das linhas e das formas, aquilo que possa contribuir com a poética do que escapa, do que foge, da passagem do tempo. Com a seleção dos 2 primeiros trabalhos no Prêmio Porto Seguro de Fotografia 2009, comecei a acreditar que estava no caminho certo e continuo a desenvolver esse assunto até o presente momento. nota-se o quanto a presença do monitor aumenta nesses locais. Então ou você estuda o autor e sua obra e sai de casa aberto a experimentar algo novo ou você terá que usar dessa monitoria para ter algum entendimento daquilo que está sendo mostrado.

Seu trabalho usa do desfoque, da seleção através da cor, abrindo os significados de uma única imagem. O quão sensorial pode ser para você uma fotografia? Te interessa deixar o significado e a leitura de suas imagens em aberto para o espectador?

Há também o recorte, o reenquadramento dentro do seu trabalho. Você busca direcionar o olhar de quem vê suas imagens ou o deixar curioso sobre aquilo que ele não consegue ver na fotografia?

Deixar o significado para o espectador é uma tendência da arte. Não vivemos mais uma época em que se vai a uma galeria de arte para ver algo apenas bonito. Estar aberto para sentir um trabalho – ou até interagir com ele - é um comportamento esperado de quem frequenta os espaços de arte hoje. Como nem todos estão preparados para isso

Não tenho nenhuma ideia pré-concebida acerca desse assunto. Aquilo que conceitualmente for mais importante para o trabalho é o que será feito. É como se isso não dependesse muito de mim, mas sim do rumo que o trabalho vai tomando em sua concepção.

Você não se limita a um uso “tradicional” da fotografia. Você está sempre buscando novas possibilidades dentro do seu trabalho? Quem influenciou a sua produção?

Acredito que meu interesse pela fotografia já veio antes do meu contato com uma câmera. A faculdade de psicologia com o estudo da percepção humana, dos sentidos, da Gestalt, da teoria da psicanálise, do homem e dos seus símbolos universais, os testes projetivos... tudo isso despertou meu interesse pelas imagens. Logo após a faculdade, estudei desenho artístico e fotografia. Mais adiante, quando ingressei numa escola de artes para trabalhar como professora de fotografia houve um contato enriquecedor com professores e profissionais de arte, o que culminou, em 2005, com meu ingresso num núcleo de discussão de arte contemporânea que frequento até os dias atuais. Acredito que aqui foi o ponto onde tudo se fundiu. De fato, hoje mantenho minha mente sempre atenta com novas possibilidades de trabalhos. Faço uma pósgraduação em Artes Visuais, leio livros que abordem o pensar fotográfico e procuro me manter atualizada com a produção artística nacional e internacional. É certo que tudo isso tenha influencia na minha produção pessoal.

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