vértice | bárbara brodbeck

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vértice

O CONTEXTO

O projeto propõe a criação de um abrigo de amparo integral, sigiloso e seguro para mulheres vítimas de violência doméstica, com estadias temporárias de até três meses. Por se tratar de um equipamento de proteção, o endereço não é divulgado ao público e o acesso ocorre exclusivamente por meio de encaminhamento realizado por órgãos oficiais da rede de apoio, como delegacias especializadas, centros de referência ou serviços de assistência social. Mesmo sendo um espaço de natureza anônima, a escolha do terreno urbano se deu de forma estratégica: optou-se por inserir o edifício de forma discreta e integrada à malha da cidade, evitando localizações isoladas que poderiam representar maior insegurança às usuárias. A implantação busca mimetizar o edifício no entorno urbano, garantindo que sua presença não revele a função do abrigo, preservando a confidencialidade e promovendo a sensação de normalidade e pertencimento.

O abrigo foi pensado para oferecer acolhimento integral a mulheres em situação de risco, proporcionando um ambiente protegido onde possam se reestruturar física e emocionalmente. Mais do que moradia temporária, o espaço oferece suporte psicológico, jurídico, social e educativo, com infraestrutura completa para auxiliar no processo de reconstrução da vida com dignidade, autonomia e segurança.

O projeto está localizado na rua Federação, 2055, em um lote de acesso único.

condicionantes legais:

A escolha deste tema se justifica pela carência de equipamentos de acolhimento específicos para mulheres vítimas de violência no Vale do Paranhana, região à qual pertence o município de Taquara. Essa ausência também se verifica em territórios vizinhos, como o Vale das Hortênsias, o Litoral Norte e parte da Serra Gaúcha, evidenciando a necessidade urgente de uma estrutura regional que ofereça abrigo temporário e suporte especializado a mulheres em situação de vulnerabilidade.

A implantação do abrigo em Taquara busca suprir essa lacuna, aproveitando a posição estratégica do município dentro da malha regional e sua estrutura urbana consolidada. O terreno escolhido está localizado na Rua Federação, nº 2055, em uma zona urbana de uso misto, o que permite que o edifício se integre de forma discreta ao tecido da cidade — uma solução que oferece segurança e preserva a confidencialidade das usuárias, ao mesmo tempo em que evita o estigma ou a sensação de isolamento associada a locais afastados.

Além disso, a proximidade com instituições públicas essenciais fortalece a funcionalidade do abrigo: em um raio de 700 metros estão situados a Defensoria Pública, o Fórum, um posto de saúde com atendimento 24 horas e a Promotoria de Justiça. Essa relação direta com o entorno urbano garante acesso facilitado a serviços jurídicos, de saúde e de assistência social, ampliando a rede de suporte às mulheres acolhidas.

o Vale do Paranhana, das Hortênsias, Litoral e Serra. Essa rede viária eficiente garante deslocamento rápido às instituições de apoio da cidade, facilitando o encaminhamento e suporte às mulheres acolhidas.

A violência doméstica contra mulheres no Brasil segue sendo uma grave questão de saúde pública e uma das mais persistentes violações dos direitos humanos, atravessando barreiras sociais, econômicas e culturais. Apesar dos avanços legais conquistados nas últimas décadas, os índices de agressão e violência contra mulheres continuam em níveis alarmantes, refletindo tanto a naturalização da violência de gênero quanto as dificuldades estruturais do Estado em oferecer proteção efetiva às vítimas. Os registros de agressão cresceram 9,8%, enquanto os casos de violência psicológica aumentaram 33,8% e as ameaças, 16,5%, evidenciando que a violência se manifesta de forma contínua e em múltiplas dimensões.

em 2023, o país registrou 1.467 vítimas de feminicídio e 540.255 medidas protetivas de urgência as vítimas são majoritariamente negras (71,1%) entre 18 e 44 anos (63,6%) os autores do crime são majoritariamente homens (90%) parceiros atuais (63%) ou ex parceiros (21,2%)

O terreno está situado a poucas quadras de importantes instituições e equipamentos públicos fundamentais para o funcionamento eficiente do abrigo. Essa proximidade estratégica facilita o acesso das mulheres acolhidas a serviços essenciais.

e a maioria dos feminicídios acontecem em casa (64,3%)

Esses dados evidenciam que, apesar da concessão de 540.255 medidas protetivas de urgência em 2023, a existência desses mecanismos ainda não é suficiente para garantir a segurança das

O terreno possuí uma elevação de 1,15m

ocorre

do passeio,

estabilizando-se

vista fachada do terreno vista fundos para frente
vista frente para fundos

LANÇAMENTO DE PROJETO

TOPOGRAFIA E VEGETAÇÃO

Volumetrias implantadas de forma a preservar a vegetação existente

ABERTURAS

Aberturas voltadas ao pátio interno. Recuo das edificações em relação aos limites do lote para favorecer ventilação cruzada e uso de vegetação nos muros laterais criam um corredor verde de respiro visual.

ZONEAMENTO

1. Projetar infraestrutura de amparo integral, contemplando todas as fases do recomeço.

2. Implantar as volumetrias de forma a garantir a preservação da vegetação local.

3. Setorizar as atividades garantindo privacidade, com percursos fluidos e integrados que conectem todos os ambientes.

4. Criar um pátio interno de baixo impacto, que contemple a vegetação existente.

5. Garantir privacidade visual com elementos de fachada que assegurem privacidade visual sem comprometer a iluminação natural.

SETORIZAÇÃO

Organização programática em dois volumes principais em barra orientadas na profundidade do lote: um volume íntimo, insolação norte, com dormitórios em dois pavimentos; e um volume social, insolação sul, com atendimentos, administrativo e área educacional. Ambos conectados internamente por um volume de acolhimento voltado à rua.

MATERIALIDADE

Fachadas com chapas metálicas perfuradas no segundo pavimento garantem a privacidade das mulheres sem impedir a ventilação. Na fachada do

rua.

PROGRAMA

6. Priorizar a segurança por meio de controle rigoroso dos acessos.

7. Oferecer unidades de dormitórios variadas, adaptadas a diferentes faixas etárias e necessidades.

8. Promover ventilação cruzada e iluminação natural para conforto ambiental.

9. Assegurar acessibilidade para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida.

10. Aplicar estratégias de eficiência energética nas instalações e sistemas.

CONEXÕES

Criação de pátio interno de baixo impacto, integrando os volumes e promovendo percursos fluidos do íntimo para o social. Sacadas e varandas nos quartos reforçam a conexão com a paisagem sem comprometer a privacidade.

SISTEMAS EFICIENTES

de estratégias passivas e ativas: ventilação e iluminação

edificação.

Acolhimento: ambiente de recepção e triagem para recepção das mulheres.

Atendimento social: espaço destinado ao acompanhamento das demandas sociais, como acesso a benefícios, articulação com a rede de proteção e planejamento de saída.

Atendimento enfermagem: espaço destinado ao atendimento de urgências e cuidados básicos de saúde.

Atendimento psicológico e jurídico: espaços para atendimentos individuais e sessões de aconselhamento.

Cozinha: espaço para o preparo das refeições oferecidas diariamente.

Refeitório: ambiente coletivo para realização das refeições, podendo também ser utilizado como espaço multifuncional para encontros e atividades diversas. Espaços administrativos: áreas para a equipe técnica, de segurança e de apoio. Espaço de apoio infantil: playground e sala para atividades. Espaço educativo para promoção da autonomia: sala destinada a atividades educacionais e de capacitação, visando o fortalecimento da autonomia das mulheres. Dormitórios: espaços de moradia temporária, com tipologia compartilhada para 8, 4, 3 e 2 mulheres; e idoso, pne e cuidados especiais com sanitários individuais. Rouparia: espaço para armazenamento e distribuição de roupas e itens pessoais das mulheres. Lavanderia: espaço destinado à lavagem e cuidados com as roupas, proporcionando autonomia às mulheres para os cuidados com seus pertences Área de convivência: ambientes de estar internos de interação comunitária. Pátio interno: espaços de estar externos para contemplação, socialização e relaxamento.

escada de acesso técnico

abrigo aquecedores de passagem

cruzada.

O volume de acolhimento avança em direção à rua, enquanto a fachada cega do volume ao lado permanece recuada.

Entre as árvores, é possível visualizar o bloco de dois pavimentos que se revela discretamente por trás do volume translucido do acolhimento, surgindo de forma sutil à medida que o olhar percorre o conjunto.

Entre o contraste da fachada de pele translucida e o volume vizinho em concreto cego, uma rampa curva suavemente conduz o usuário até o volume de acolhimento que se organiza ao redor de uma árvore preservada, formando um jardim interno de chegada.

Este primeiro espaço atua como uma zona de transição e privacidade, onde ainda não se revela o interior do abrigo, mas já se garante que quem está dentro não seja exposto ao olhar da rua.

Ao atravessar esse volume inicial, o visitante se depara com o pátio interno central. À direita, encontra-se o volume social, que abriga os espaços de convívio e atendimento; à esquerda, o volume íntimo, destinado aos dormitórios. Entre eles, o espaço aberto atua criando conexões peatonais por meio de caminhos que permeiam a vegetação preservada.

Fachada sul divisa

foi feito da seguinte forma: número de pessoas × consumo diário × 2 dias, resultando em 20.000 litros, somados a 10.000 litros adicionais reservados exclusivamente para combate a incêndio, conforme exigência normativa. O total de 30.000 litros será atendido por um reservatório superior único, localizado na cobertura do volume social, acima dos sanitários, garantindo abastecimento por gravidade em caso de falhas no fornecimento. Complementando o sistema, o projeto inclui uma cisterna enterrada de 10.000 litros para captação da água da chuva, destinada exclusivamente à irrigação dos jardins. Essa solução reforça as estratégias de sustentabilidade da edificação, reduzindo o consumo de água potável e promovendo o uso consciente dos recursos naturais.

O sistema de aquecimento de água do abrigo combina soluções sustentáveis e eficientes, integrando coletores solares, aquecedores de passagem a gás e abastecimento por GLP. O sistema solar é composto por 12 coletores planos de 2,5m² e um reservatório térmico de 3.000 litros, localizados na cobertura do volume social acima dos sanitários, responsável por pré-aquecer a água dos chuveiros, garantindo uma economia de até 70% no consumo de gás. Nos dias de menor insolação, o aquecimento é complementado por três aquecedores de passagem. O mesmo sistema de GLP abastece a cozinha, que prepara duas refeições diárias para 40 pessoas. Com isso, estima-se um consumo médio diário de 23 kg de gás. O abrigo conta com quatro botijões de 45 kg, garantindo autonomia de aproximadamente sete dias. Os botijões são armazenados em abrigo técnico externo, conforme normas de segurança. A estrutura do edifício foi concebida com o objetivo de garantir racionalidade construtiva, economia de materiais e flexibilidade espacial. As duas volumetrias principais, dispostas em barra, seguem uma modulação estrutural de 7,5m x 7,0m de vão. Nestes volumes, adotou-se a utilização de laje tipo cogumelo( 1 ) com 30cm de espessura com reforços internos nas regiões de encontro com os pilares. Essa solução dispensando o uso de vigas. O volume de acolhimento, que conecta os dois blocos principais, possui vãos de 7,5m x 5,5m e adota o mesmo sistema de laje cogumelo( 2 ), garantindo uniformidade técnica e estética ao conjunto. Os pilares foram dimensionados conforme a carga atuante: nos volumes com dois pavimentos,

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