Bahia Setembro

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De jornalista Freelancer a historias infantis, como se produze este cambio e que lhe está a aportar? A vida é um fio condutor onde tudo faz sentido, mas só o percebemos mais tarde. Sempre fui pensadora com um olhar diferente e sempre me dei com pessoas mais velhas que ouvia atentamente para aprender os seus ensinamentos. Claro que a sensibilidade apura a curiosidade e a imaginação leva-nos mais longe. Eu nasci no paraíso que se transformou no inferno quando vivi um ano debaixo de fogo em Luanda. O choque e a mudança para um país tão diferente como Portugal amadureceu-me muito cedo e criou dentro de mim um pequeno Eu especial que me sussurra aquilo que escrevo desde os 8 anos. Encenava algumas dessas A vida é um histórias que escrevia à mão em cadernos fío condutor A4, ilustradas com desenhos meus, juntamente com os irmãos e amigos no sótão de onde tudo faz uma casa antiga na Foz do Douro – a qual sentido foi destruída com o crescimento de um hotel. Tinha vista para o castelo e para o mar. Foi a casa onde mais sonhei! Apenas deixei de escrever diários quando nasceram os filhos, reinventando os velhos contos de menina para lhes contar de luz apagada antes de adormecerem. Fiz uma viagem de regresso à infancia, misturando a realidade com a ficção e criando contos que abrem caminhos para os bons sentimentos e sempre educando na arte. Não são moralistas, mas moralizam pois sensibilizo para um mundo melhor com respeito pela diferença. O jornalismo acompanha-me desde os 21 e absorveu-me durante 13 anos em redacção e em simultâneo com o trabalho de freelancer. Com os filhos tudo mudou! Basicamente, vivo para eles. Os seus livros estão ilustrados por artistas plásticos portugueses, é este um jeito de introduzir ás crianças na literatura e na arte? Sim. Os livros são sempre ilustrados por grandes artistas portugueses que me apoiam por se identificarem com o projecto (penso), uma vez que relaciono os contos com a sua obra e/ ou vida. Admiro-os como uma espécie de deuses e, esse, parece-me um olhar de criança que, segundo os meus filhos, mantenho. O design é de Susana Leão Machado. Estão a ser apresentados os livros nas escolas? Como sou recebidos pelas crianças? Disponibilizo-me e tenho apresentado os livros em escolas de Ponte da Barca, Barcelos, Braga, Murça, Porto, Estarreja, Cascais que me recebem com muito calor, representando as minhas histórias com recurso a outras artes como a música, o teatro, o vídeo. Costuma dizer-se que as crianças são o melhor do mundo e é verdade. Para além das escolas e outras instituições onde os artistas expoem, faço apresentações de Norte a Sul em livrarias como a Almedina, Barata/ Leya, Bulhosa/ Leitura, 100ª Página, El Corte Inglés, Fnac, Index, Ler Devagar, entre outras. Até agora tem publicados cinco títulos, pensa seguir no mundo infantil ou tem previsto alguma outra obra de corte diferente? Pretendo sim continuar a publicar livros de literatura infanto-juvenil, apesar de me interessar muito por figuras femininas da História e de pensar debruçar-me um dia sobre elas. Em finais de Dezembro, entrego a tese de doutoramento com base na literatura de viagem que gostaria muito de publicar. A tese de mestrado sobre ambientes de casas nobres do norte de Portugal também aguarda edição. São livros caros e pouco comerciais por isso as universidades escondem tantos trabalhos científicos maravilhosos que, infelizmente, não chegam a todos.

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Conto com participações em alguns livros a propósito de artes decorativas e com cinco títulos publicados na área da literatura infanto-juvenil: dos 8 aos 80 com pintura de Graça Morais e Paula Rego e com ilustração de Armanda Passos, Emília Nadal, Graça Martins e Gracinda Candeias (seis histórias poéticas para os mais novos lerem aos mais velhos); a árvore que falava. o menino do deserto com desenhos do escultor Paulo Neves (dois contos que ficam de pernas para o ar por terem duas capas e que falam da viagem de um menino que se completa com o livro de José); grande feiticeiro amarelo com ilustração de Júlio Resende (um conto sobre as mulheres de Goa cobiçadas por um cavaleiro, dono da grande muralha da China, de 1001 cavalos brancos e de 1001 escravos, que deixa tudo por um sorriso que o faz feliz); num tempo em que os animais falam com ilustração de Gracinda Candeias (contos para dramatizar que misturam crianças do campo e da cidade, animais domésticos e selvagens, numa quinta de linho azul onde todos se unem pelos bons tratos); viagens de José pelo mundo dos sonhos com pintura de Armando Alves e José de Guimarães e com ilustração de António Barros (juntamente com um menino de 5 anos), Paulo Neves e Rui Paiva (cinco contos em torno dos continentes e da mitologia dos povos, com mapa mundi). A recaudação das três obras que está a apresentar, vai destinada a Tomás Hugo Mendonça. Conte-nos a história desta criança e como está a responder a gente? Sim. Metade das vendas reverte a favor da causa do Tomás que nasceu sem uma mão e cujo sofrimento dele e da familia pode ser minimizado com uma artificial que é dispendiosa. Não é fácil ser diferente num mundo em que tudo é tema de chacota por isso as pessoas são cada vez mais arrogantes. Na prepotência escondem as fraquezas e julgam-se melhores e mais protegidas. Este é um acto de coragem dos pais do Tomás que expoem a sua familia, mostrando que se pode ser feliz sem uma mão ou sem um olho se houver amor e união. Obviamente, ninguém fica indiferente (parece-me). Se bem que os Portugueses sejam normalmente generosos e preservem ainda muitos valores nobres. A crise económica afecta a merca de livros, ou lesse máis para fugir dos problemas? Afecta, mas os livros estão nas bibliotecas para serem emprestados e eu ofereço a quem tem necessidade. O mesmo deve acontecer com outros autores. Tenho oferecido o livro Viagens de José pelo mundo dos sonhos a muitos alunos que se deparam com a morte de um avô ou de outro ente querido. José fica sem o avô e as saudades levam-no a viajar pelas suas lendas em torno da mitología dos 5 Os libros continentes. Provavelmente, com a esperança estão nas de encontrar um deus que faça o milagre. Quando regressa à sua floresta no norte de bibliotecas Portugal, reencontra o avô e descobre que o para serem verdadeiro amor é eterno porque vive para sempre dentro de nós. Eu nunca escrevo que o emprestados avô morre, mas sentimos que ele partiu para outro mundo de onde pode voltar com a vontade e com o pensamento. Tem previsto divulgar o seus trabalhos na Galiza? Gostaria muito até porque me identifico com o Galego que é a raíz da Língua Portuguesa hoje tão maltratada. Estou aberta a propostas, mas não tenho contactos nem na Galiza nem noutra região de Espanha. Pensa que aproveitamos de jeito correto a nossa cultura comum para compartir creatividade e economía?Esta revista é exemplo disso e louvo-vos pela iniciativa, mas podíamos fazer mais.


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