João Afonso- pressura e afanosa pluma

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pressurosa e afanosa pluma

João Afonso

Biblioteca Pública & Arquivo Regional de Angra do Heroísmo


Ex-libris de João Afonso. Arranjo de Rogério Silva. Zincogravura. 1986. ``Col. particular Jácome de Bruges Bettencourt.


pressurosa e afanosa pluma

João Afonso catálogo da exposição Biblioteca Pública & Arquivo Regional de Angra do Heroísmo

2014


AGRADECIMENTOS Ana Lúcia Almeida, Álvaro Monjardino, Aranda e Silva, Fátima Rodrigues, Fernando Leal, Ivo Machado, Leonildo Martins, Luís Filipe Vieira, Luís Mendes Brum, Lurdes Teles, Manuel Francisco Costa Júnior, Maria João Afonso Galvão Telles, Luís Rafael Martins do Carmo, Paula Leal, Pedro da Luz Brito do Rio, Valdemar Mota, Victor Cardoso e Vitor Brasil. Agradecimento especial Ao escritor Manuel Machado pelo patrocínio deste catálogo. Instituições Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Direção Regional da Cultura, Loja das Molduras, Museu de Angra do Heroísmo, Museu das Flores, Museu do Pico, Ourivesaria Teles e Rádio Club de Angra.

FICHA TÉCNICA Direção Marcolino Candeias Comissário Jácome de Bruges Bettencourt Coordenação José Avelino Santos Recolha bibliográfica Berta Lima, Daniela Oliveira, Filomena Lourenço e Jacinto Silveira Pesquisa, seleção e processamento de textos Graça Vaz Cardoso, José Avelino Santos e Vanda Belém Revisão de textos Graça Vaz Cardoso, Jácome de Bruges Bettencourt, José Avelino Santos e Vanda Belém Digitalização das imagens José Avelino Santos, Miguel Oliveira e Rui Lima Contactos com entidades externas Graça Vaz Cardoso, Jácome de Bruges Bettencourt, José Avelino Santos e Marcolino Candeias Maquetização e edição gráfica do catálogo Nova Gráfica, Lda. Montagem da exposição Francisco Sales, Graça Vaz Cardoso, José Avelino Santos, Nívea Rosa, Paulo Freitas, Rui Lima, Vanda Belém e Zulmira Simões Autor e Editor: BIBLIOTECA PÚBLICA E ARQUIVO REGIONAL DE ANGRA DO HEROÍSMO Título: João Afonso: pressurosa e afanosa pluma ISBN: 978-972-96986-6-8 Depósito Legal: 375152/14 Tiragem: 500 ex.


João Afonso: pressurosa e afanosa pluma

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Um terceirense devotado à sua terra

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João Afonso: percurso biobibliográfico

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O homem

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O profissional

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O jornalista

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A obra

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Álbum de família

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Sumário


João Afonso. 1967. ``Col. particular João Afonso.


JOÃO AFONSO: PRESSUROSA E AFANOSA PLUMA Justifica-se a exposição que se apresenta sobre a figura de João Afonso — justa e modesta homenagem — pelos resultados de um laborioso e longo percurso de vida, sobretudo como jornalista interventivo, mas também como bibliotecário e investigador, consagrado à defesa e à promoção de variadas causas, que em seu juízo reputou de interesse para a sua cidade, para a sua ilha e até de interesse para os Açores. Quem conheceu João Afonso em vida ativa há de recordar e reconhecer-lhe a pressurosa e afanosa atitude que imprimia ao seu quotidiano, atento e sagaz quanto aos acontecimentos, interessado em tudo, habilíssimo de pena e ágil na escrita, reservado e retraído, aventuroso e mordaz e, nas relações, que cultivou com fascínio, cortês e subtil. Em defesa do que entendeu serem os interesses da sua terra, lutou, com muito empenho e desvelo, pela criação de condições para o desenvolvimento do turismo, pela criação de uma carreira da TAP com escala nas Lajes, pela vinda da RTP para os Açores, pelo investimento de capitais da emigração no desenvolvimento da ilha Terceira. De par, dedicou-se à divulgação do scrimshaw e da baleação açoriana, o que levou à sua valorização, numa altura em que este tema não era ainda visto entre nós como um assunto cultural, mas como matéria de interesse turístico. Trabalhou também pela aproximação da emigração terceirense à sua terra de origem, em especial a da Califórnia; desse empenho nasceu a geminação de Angra do Heroísmo com a cidade «terceirense» de Tulare, situada no coração do Vale de San Joaquín, retirando-se daí o benefício económico da construção do primeiro Hotel de Angra. Ao mesmo tempo, insistia em chamar a atenção para a importância de filhos da terra, então ainda mal conhecidos, como Vitorino Nemésio e António Dacosta, entre outros. Mas em algumas outras causas também esteve envolvido. Em todas, usou da sua condição de chefe de redação do Diário Insular, de que foi cofundador e de cujo título é autor, como um instrumento fundamental. Porém, soube fazê-lo de forma que os holofotes iluminassem as razões das suas causas e não a pena que as defendia. Ao longo de tão largas andanças, cultivou numerosas relações, sempre com esmero e zelo; delas, resultou numerosa epistolografia, trocada com figuras como Alfred Lewis, Art Coelho, António Dacosta, Azeredo Perdigão, Bruno Carreiro, Francisco José Barcelos, Frederico Lopes, George Monteiro, Ivo Machado, Jacob Tomás, James Merrill, Jorge de Sena, José Agostinho, Manuel Machado, Mayone Dias, Martinho da Fonseca, Mary Theresa Vermete, Onésimo Almeida, Pedro da Silveira, Rogério Silva, Stuart C. Sherman, Vitorino Nemésio, etc, etc, etc, sem contar com a que trocou com titulares de cargos públicos do Governo dos Açores, como Reis Leite e António Ornelas Mendes. Ao iniciarmos os trabalhos para esta exposição, ainda em vida de João Afonso, contávamos com a sua concordância e cooperação para explorarmos este filão de valor incalculável. O seu desaparecimento, porém, derrotou-nos o intento e foram baldados todos os esforços para encontrar o rasto dessa correspondência — mau grado os trabalhos

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do Comissário da exposição, Jácome Paim de Bruges Bettencourt, Cônsul Honorário da República de Cabo Verde, seu íntimo amigo, e de sua filha, Drª Maria João Afonso Galvão Telles, trabalhos, esforços, empenho e dedicação que a ambos penhoradamente agradeço. Frustrados os intentos de revelar o âmbito e a riqueza desta personalidade através da sua correspondência, pôde ainda o Comissário da exposição dispor da iconografia existente na residência de João Afonso, cujas portas gentilmente lhe franqueou sua filha; à equipa da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo, encarregada de montar tecnicamente esta mostra, ficou o encargo de com essa iconografia e com alguma outra carreada por amigos, como Pedro da Luz Brito do Rio e o poeta Ivo Machado, trabalhar arduamente a numerosa documentação dispersa existente nas coleções da instituição. A todos, o meu reconhecido agradecimento. Por fim, um caloroso agradecimento, com aplauso, ao escritor Manuel Machado, que fez questão de custear este catálogo, pela amizade que o ligou a João Afonso.

Marcolino Candeias

João Afonso: pressurosa e afanosa pluma

Diretor da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo

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UM TERCEIRENSE DEVOTADO À SUA TERRA Conheci, pessoalmente, João Afonso, no Verão de 1962, quando ele interveio na compra, para meu pai, de uma caixa antiga, terceirense em sucupira quando esta se encontrava para restauro na oficina de mestre “pão de rala” nos baixos da Casa do Jardim, na altura sede do Clube Musical Angrense. Não obstante já fosse leitor de escritos seus no Diário Insular que a minha família sempre assinou, tanto em Lisboa como no Faial. Quando João Afonso ia ao Faial, visitava a nossa casa, daí nascendo uma Amizade que se consolidou e durou até à sua morte e, por inerência, passou à Maria João e Carlos (Carlos Henrique Archer Galvão Telles) sua filha única e genro. Ela licenciada em Serviço Social, funcionária da Segurança Social, e ele funcionário superior aposentado da antiga Petrogal. No seu nonagésimo aniversário publiquei uma biografia que agora não pretendo repetir, até porque mais do que escrevi é referido neste catálogo. Será mesmo difícil falar dos vastíssimos contributos que desenvolveu em prol da terra que indiscutivelmente amou e também pela sua extensão. João Afonso tirou, sem dúvida, partido do saber escrever adquirido logo na escola primária, para o que foi ajudado e influenciado pela avó D. Maria Cândida da Purificação Dias e a mãe D. Maria da Glória Zulmira Dias Afonso, ambas naturais de Fajãzinha, Lajes das Flores, que foram competentes professoras. Começa a escrever muito cedo, ou seja, em finais de 1935, em A Vida Académica, aos 12 anos, ainda estudante liceal. Em 1938 é administrador desta publicação da Associação Escolar do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo, quando frequentava já o Curso Complementar, secção de Letras. Em 1946, toma posse como bibliotecário da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, cargo que exerceu até ao final de 1956, para ser integrado no quadro da recém criada Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo, de onde se reforma em 1991 como técnico superior principal. Daqui o contato permanente com tudo o que se vai publicando no país e a ânsia de saber fazem dele um homem culto, em permanente atualização nos múltiplos domínios do seu interesse. Ainda nesse ano é cofundador do Diário Insular, seu Chefe de Redação, onde se mantém até finais de 1978, e o que deixou nas páginas desta publicação sobressaiu sempre pelo seu inegável valor para a Ilha Terceira e os Açores. A sua atividade cultural ao longo da segunda metade da década de 40 e nas seguintes, é imparável e diversificada. Fez parte da Comissão Organizadora do Grupo Amigos da Terceira, coordenando a publicação de um belíssimo guia histórico-turístico. Integra os elencos diretivos dos primórdios da existência do Rádio Club de Angra, tendo a seu

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cargo a Nota de Abertura diária. Paralelamente, nesta estação vai fazendo palestras e colaborando em peças de teatro radiofónico, tão ao gosto dos ouvintes dessa época. Simultaneamente, para além do jornalismo culto que praticava, vai publicando trabalhos, uns relacionados com a sua vida de bibliotecário, outros de natureza histórica ou até de poesia, onde alcança menções honrosas e prémios. João Afonso entre 1958 e 1961 é Chefe de Redação da A.N.I. – Agência Nacional de Informação, em Lisboa, no Palácio Foz, por convite governamental. Em 1960, com Pássaro pedinte e ruas dispersas, prefaciado por Vitorino Nemésio, arrecada o Prémio Nacional de Poesia do S.N.I. – Secretariado Nacional de Informação. Entre 1961 e 1965 é Diretor interino da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo, instituição que, agora, justamente, o homenageia. Registe-se que evita comprometer-se com o regime, pelas suas simpatias monárquicas. Foi um dos três assinantes iniciais do semanário O Debate, na Terceira. Os outros eram o Visconde das Mercês e D. João Brito do Rio. Porém, é “convidado” pelo Comandante Distrital da Legião Portuguesa a frequentar o Curso Básico nº 1/57, tipo B. A propósito, em 13 de maio de 1996, é cofundador da Real Associação da Ilha Terceira, cuja escritura notarial é assinada nesse dia, em Angra do Heroísmo.

João Afonso: pressurosa e afanosa pluma

Em 1970, fez parte da mesa administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Angra, dando ordem ao seu arquivo e incentivando o sequente depósito na B. P. A. D. A. H. – Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo, para além de transcrever e dar à estampa o texto do ato fundador, em 15 de março de 1492, do nosso Hospital de Santo Espírito, o primeiro dos Açores.

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Não podemos esquecer o seu dinamismo como vice-presidente da Comissão Regional de Turismo, demonstrado na defesa da escala da TAP pelas Lajes, em que usa como grande reforço o poder do Diário Insular, assim como o grande empenho que pôs na construção da Estalagem da Serreta, bem como a sua esforçada participação nos corpos dirigentes da Turotel e consequente construção do Hotel d’Angra, em que entusiasmou investidores como o seu amigo comendador Manuel Mancebo, de Tulare, que subscreveu ações nesse projeto e no da nova Praça de Touros da Terceira. É solicitado bastas vezes a colaborar com as autoridades civis, militares e eclesiásticas, pelo que o Governador Civil do Distrito Autónomo de Angra, Teotónio Machado Pires, chama-o para colaborar nos programas de logística relacionados com a Cimeira Nixon – Pompidou – Marcelo Caetano, que se realizou na Terceira em novembro de 1971. João Afonso, em dezembro de 1973, participa, em representação do Diário Insular, numa reunião dos órgãos de informação açorianos, em Ponta Delgada, no Solar da Graça, em que estiveram presentes, pela A União, Valdemar Mota, e pelo RCA, João de Ávila.


Em 3 de novembro de 1984, D. Aurélio Granada Escudeiro, Bispo de Angra, nomeia uma comissão para a celebração dos 450 anos da Diocese, da qual faz parte João Afonso e, em 3 de setembro de 1988, com Monsenhor Augusto Cabral, Padre José Barcelos Mendes, Padre Manuel Coelho de Sousa e Valdemar Mota, João Afonso constitui a Comissão Pró­ ‑Monumento ao Beato João Batista Machado que leva a bom termo esta incumbência. Em 16 de fevereiro de 1990 é, com o Padre José Barcelos Mendes e Valdemar Mota, novamente chamado pelo Bispo diocesano a integrar a Comissão Diocesana para a Comemoração dos 5 Séculos de Evangelização e Encontro de Culturas. D. Aurélio volta a chamar o padre Barcelos Mendes, João Afonso e Valdemar Mota para constituírem a equipa responsável pelo programa da visita do Papa João Paulo II à sede da diocese, em maio de 1991. Entretanto, vão saindo da sua mão trabalhos de monta, que originam livros que se refere mais adiante, em sítio próprio. Está presente, assim, em quase tudo o que diga respeito à cultura, inclusivamente em ações promovidas pelo Instituto Histórico da Ilha Terceira e Instituto Açoriano de Cultura, integrando direções destas instituições e colaborando nos seus boletins. Faz palestras como a de 5 de agosto de 1983, em Angra, no Colóquio Internacional “Os Açores e o Atlântico”, sob os auspícios da XVII Exposição de Arte, Ciência e Cultura (Conselho da Europa) ou a de 11 de agosto de 1986, na 1ª Semana de Cultura Popular Atlântica. Penso que João Afonso foi um dos intelectuais açorianos que mais cultivou relações de amizade, daí resultando uma notável epistolografia. Para se fazer uma ideia direi que só as cartas de Pedro da Silveira são às centenas e ele não escrevia menos de quatro páginas em cada uma… Valerá a pena estudar e explorar tal manancial. Marcolino Candeias, no seu texto, refere, e bem, vinte e duas personagens e eu acrescento mais algumas, mas com a certeza de que serão muitas mais. Mas, aqui vão mais alguns nomes de correspondentes: Cecília Meireles, Francis Millet Rogers, Jacqueline Carpine-Lancre, Júlio Pomar, Monsenhor Júlio da Rosa, Luís Saldanha, Fernando Rui Côrte-Real, François Hubert, Miguel de Figueiredo Côrte-Real, António Medeiros e Almeida, Marilyn Salvador, David Mourão-Ferreira, David Stuart Leslie, Clara Sá Cruz, José Pereira da Costa, Aldegice e Alberto Machado da Rosa, Rui Galvão de Carvalho, Cândido Pamplona Forjaz, Gonçalo Ribeiro Telles, José Mousinho Figueiredo, Tomás da Rosa, Rogério Gonçalves, Margarida Ribeiro, Margarida Tamegão, António Machado Pires, António Valdemar, Tomás Duarte Júnior, Manuel Oliveira Neto, Breno de Vasconcelos, Francisco Carreiro da Costa, Henrique Brás, Ricardo Madruga da Costa, Miriam Dacosta, Helena Vaz da Silva, Armando Côrtes-Rodrigues, Agnelo Ornelas do Rego, Frederico Machado, Manuel Luciano da Silva, Rafael Ávila Azevedo, António Mega Ferreira, Vasco Graça Moura, Vitor Câmara, Eduino Moniz de Jesus, Mécia de Sena, Charles Michael Robertson, Dutra Faria, Ramiro Valadão, Mário Matos e Lemos, Bernardete Falcão, Patrícia Bensaúde, Ermelindo Ávila, David d’Almeida, Santos Barros, Álamo Oliveira, Álvaro Monjardino, Luiz Fagundes Duarte, José Enes, Artur da Cunha

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Oliveira, Manuel de Sousa Mancebo, Helter Martins, Valdemar Mota, Vasco Rocha Vieira, Aud Korbol, Donald Warrin, Francisco Medeiros, etc., etc. Talvez seja interessante a relação de museus ligados ao mar que visitou demoradamente e não foram poucos: Museu da Sociedade de Geografia, Museu da Marinha (Lisboa), British Museum, Victoria and Albert Museum (Londres), Peabody Whaling Museum (Salem), Kendall Whaling Museum (Sharon), American Merchant Marine Museum, Greenwich Maritime Museum (Inglaterra), Maritime Museum (Plymouth), Maritime Museum (San Francisco), Musée de la Pêche (França-Bretagne-Concarneau), Musée Océanographique (Mónaco), Mystic Seaport Museum (Mystic), Nantucket Whaling Museum, Naval Museum (Washington), Sandfjordmuseene (Noruega), Whaling Museum (New-Bedford), Museu Marítimo de Macau, Museu de Vasa (Suécia, Estocolmo), Museu da Pedra de Dighton (Mass.), Ecomusée de la Bintinais (Rennes), Museu do Peter (Horta), onde muitas ideias recolheu para o “seu” Museu dos Baleeiros (Lajes do Pico, Açores). Foi a João Afonso, quem ouvi chamar de Scrimshaws, pela primeira vez, aos dentes de cachalote gravados pelos baleeiros. Isto nos anos sessenta, quando meu pai, lhe mostrou, no Faial, os que possuía. Não nos podemos esquecer que João Afonso, ao longo das suas investigações e aprofundados estudos, se tornou no mais brilhante especialista da baleação açoriana, como o atesta o seu livro/álbum Mar de baleias e baleeiros (1998). Como será fácil perceber-se, os artigos de jornais e revistas são “às carradas”, pelo que num trabalho destes não seria fácil inventariá-los, embora na sua maior parte mereçam tratamento especial. Lembro também que foi correspondente do Diário de Notícias, de jornais da diáspora e colaborou em dezenas de títulos dos Açores, Continente, Brasil, Estados Unidos da América e Canadá.

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É de recordar o carinho que pôs no projeto da primeira geminação que o Município de Angra estabeleceu com a cidade de Tulare (Califórnia).

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Muito mais haveria a dizer sobre o legado deste terceirense devotado à sua terra, mas certamente outros o farão.

Jácome de Bruges Bettencourt Comissário da exposição


ANO 1923

1933 1935 1938 1941 1944 1946

JOÃO AFONSO PERCURSO BIOBIBLIOGRÁFICO A 27 de agosto nasce João Dias Afonso na freguesia da Sé, filho de Joaquim Luís Afonso, comerciante, natural do concelho de Miranda do Douro e de D. Maria da Glória Zulmira Dias Afonso, professora primária, natural da ilha das Flores. É o primeiro de 4 filhos. Matricula-se no Liceu Nacional de Angra do Heroísmo, concluindo o Curso Complementar dos Liceus, secção de Letras, no ano letivo de 1939-1940. A 20 de dezembro edita o seu primeiro texto, impresso no jornal liceal A Vida Académica, a pedido de Guilherme Gomes Filipe e Manuel Gonçalves Pereira, intitulado «Um pequeno sonhador». Administrador do jornal da Associação Escolar do Liceu A Vida Académica. Matricula-se na Universidade de Coimbra, Faculdade de Direito. Publica Os Açores no Turismo do Atlântico : uma campanha jornalística. Nomeado a 24 de janeiro bibliotecário interino da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Nomeado bibliotecário definitivo da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo a 27 de junho, função que exerce até à transição para a Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo.

1948

1949 1950 1951 1952 1953

João Afonso, em conjunto com Rafael Moniz, Viegas da Silveira, Costa Jr., José Vieira da Costa, Henrique Barcelos e Guilherme Gomes Filipe, funda o jornal Diário Insular, cujo título é da sua autoria. Do grupo fundador, foi João Afonso o último a estar até 1 de novembro de 1978. Em conjunto com mais 24 elementos, constitui o Grupo Amigos da Terceira, fazendo parte também da Comissão Organizadora. O Grupo tinha como objetivos divulgar as belezas naturais da ilha e promover o conhecimento dos monumentos históricos, bem como das manifestações artísticas desta ilha. Cumpre o serviço militar obrigatório no Batalhão Independente de Infantaria n.º 17 de Angra do Heroísmo, de 1 de outubro a 1 de junho de 1949, passando à disponibilidade no posto de alferes. Publica Fátima, a imagem peregrina e a ilha Terceira. Membro do elenco diretivo do Rádio Club de Angra. Tinha o encargo da Nota de Abertura. Casa no Funchal, com Rahyra Leonissa da Silva Santos, professora do ensino primário elementar. Publica Guia prático, histórico e sentimental da ilha Terceira. Nasce, a 14 de maio, a filha, Maria João Santos Afonso. Publica Etnografia agrícola : pão, carne e vinho na ilha Terceira. Membro do elenco diretivo do Rádio Club de Angra. Obtém o 2º prémio no concurso Jogos Florais que decorreu no Rádio Club de Angra, na modalidade de poesia lírica, com A canção do mar. Foi-lhe atribuída a Rosa de Ouro. Recebe menções honrosas nas modalidades de quadra popular e poesia heroica. Faz parte do Conselho Consultivo do Rádio Club de Angra.

Publica Medieval, utilizando o pseudónimo A. d’O (Álvaro d’ Orey). 1954 Na sequência das comemorações garreteanas e por solicitação do presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, João Afonso entrega na mesma o original do livro Garrett e a ilha Terceira, em homenagem a Garrett que considerava a ilha Terceira «sua pátria verdadeira». A Câmara deliberou louvar João Afonso «... pelo bom desempenho do seu trabalho e ainda pela acção meritória que tem tomado nos preparativos das comemorações garretteanas, a realizar...». Discursa, ainda, no descerramento da placa na casa na rua de S. João, nº 87, onde viveu Almeida Garrett.

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1954 Publica A Biblioteca Municipal de Angra do Heroísmo: apontamentos históricos dos seus 75 anos. Rebuscos sobre outras bibliotecas. Publica Garrett e a ilha Terceira: centenário garretteano: memorial. 1955 Publica Enotesco: treze poemas; Catálogo da exposição bibliográfica, iconográfica e de recordações de Garrett e profere uma conferência na Casa dos Açores no Rio de Janeiro intitulada Orgulho de açoriano. Membro do elenco diretivo do Rádio Club de Angra. 1956 Publica Descrição em pormenor do que foi a batalha da Salga e romaria da Serreta e Historical, sentimental and practical guide to the island of Terceira. 1957 Frequenta o Curso Básico nº 1/57, tipo B da Legião Portuguesa no Comando Distrital da Legião Portuguesa de Angra do Heroísmo. 1958 Louvado pelo diretor da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo «… pelo zelo, dedicação e competência profissional que tem posto na execução de todos os serviços a seu cargo, revelando inteligência, espírito de iniciativa…». Entre 1958 e 1961 é chefe de redação da A N I – Agência Noticiosa de Informação, em Lisboa. 1959 Discursa, em Lisboa, nas comemorações do I Centenário de Garrett. 1960 Publica, em Lisboa, Pássaro pedinte e ruas dispersas, arrecadando o Prémio Nacional de Poesia do S N I – Secretariado Nacional de Informação. 1961 Exerce as funções de diretor interino da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo entre 31 de maio e 30 de abril de 1965. 1962 Publica Beato João Baptista Machado: elementos para uma biografia. O texto serviu de base a uma conferência sobre o tema.

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1964 Prefacia o catálogo da exposição do Museu Regional de Angra do Heroísmo Gravadores portugueses contemporâneos: 26 artistas; publica Apontamentos para a escolha de objectos de Arte existentes nos Açores susceptíveis de serem considerados num inventário parcial; organiza e publica À Excelentíssima Senhora Dona Maria Madalena Azevedo Perdigão este alfenim e sua receita manda em grata lembrança a Academia Musical da Ilha Terceira; prepara e publica a informação preambular, notas e bibliografia a Subsídios para um ensaio sobre a açorianidade de Luís da Silva Ribeiro.

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1965 Publica em coautoria com Francisco Ernesto de Oliveira Martins Elementos para a Fundação Calouste Gulbenkian solicitados […] Presidente Dr. José de Azeredo Perdigão a 21 Jan. 1965 - inventário de uma colecção de faiança e porcelana artística inglesa, continental e chinesa reunida na ilha Terceira por F. Ernesto de Oliveira Martins. 1967 Publica Antero de Quental e o pensamento da revolução nacional. 1968 Obtém dispensa de serviço para «… estagiar em Museus e Bibliotecas da Nova Inglaterra com vista a investigação histórica e bibliográfica […] relacionadas com o Museu dos Baleeiros, Bibliografia Geral dos Açores…». Publica Açores comunicações aéreas: na hora das decisões: o Diário Insular face ao problema e Açores actualidade em busca de futuro: inquérito necessário. 1969 Publica Beato João Baptista Machado, mártir do Japão e Defesa do património tradicional dos Açores: as festas do Espírito Santo e a excelência da sua tradicionalidade. Este texto serviu de base a uma conferência em Ponta Delgada.


1970 Integra, como vogal, o grupo de trabalho de Turismo, da Comissão de Planeamento da Região dos Açores, sendo presidente desta Comissão Deodato Chaves de Magalhães e Sousa. Publica Exposição sobre política aérea dos Açores; O Hospital de Angra nos séculos XV e XVI e prefacia Exposição de desenho e pintura de Margarida Tamegão. 1971 Como Vice-presidente da Comissão Regional de Turismo, participa no grupo de trabalho Problemas de desenvolvimento de novas zonas turísticas, durante uma semana, no Continente português. Participa, em Ponta Delgada, em reuniões do grupo de trabalho ad hoc de Turismo da Comissão de Planeamento da Região dos Açores entre os dias 3 e 5 de julho e 13 e 15 de setembro. Publica Quando o futuro vai sendo o presente: contributo aos estudos preparatórios da Carta de Ordenamento Turístico do Território (Açores). 1972 Participa, em Ponta Delgada, numa reunião do grupo de trabalho ad hoc de Turismo da Comissão de Planeamento da Região dos Açores e profere uma conferência na Universidade do Texas, Califórnia, intitulada Açores e arquitetura popular. 1973 Como Vice-presidente da Comissão Regional de Turismo participa no I Congresso Nacional de Agências de Viagens e Turismo em Moçambique e em Angola, a 30 de outubro e 12 de novembro, respetivamente. Publica Terceira, S. Jorge, Graciosa. 1974 Prefacia a obra de Frank Barcelos A showing of scrimshaw. 1975 Publica Açores, actualidades e destinos: artigos de Vitorino Nemésio e comentários por João Afonso. 1976 Por despacho do Secretário de Estado da Cultura, do Ministério da Comunicação Social, de 17 de agosto, é equiparado a bolseiro por 30 dias para «… proceder à recolha de elementos relativos à presença de açorianos, madeirenses e cabo-verdianos nas frotas baleeiras que operaram no Atlântico, Índico e Pacífico no século XIX... ». Publica From Angra to Tulare, a nossa cidade-irmã. Entre 1976 e 1981 faz várias deslocações em serviço de pesquisa cultural a bibliotecas, arquivos e universidades portuguesas, New Bedford, Cambridge - Massachusetts, Providence, North Dartmouth, San Diego, Honolulu, Londres, Exeter, Peymouth, Truro, Liskeard, entre outras. 1977 Profere uma conferência na Harvard University, intitulada Movimento Cultural dos Açores, Bibliografia. Nomeado representante da Secretaria Regional da Educação e Cultura na Comissão Instaladora do Museu da Baleia na vila das Lajes, ilha do Pico, por despacho do Secretário Regional da Educação e Cultura, nº 28/77, de 1 de junho, com o objetivo de dinamizar a Comissão Instaladora. Entre 1977 e 1980 é equiparado a bolseiro por despacho do Secretário Regional da Educação e Cultura. 1978 Obtém equiparação a bolseiro do Estado, de 1 de março a 30 de abril, para prosseguir as pesquisas no Whaling Museum, de New Bedford. Neste mesmo ano é encarregado de elaborar a Bibliografia Geral dos Açores, tendo, para tal, dispensa das tarefas que realizava na então Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo, por despacho nº 32/78, de 10 de maio, do Secretário Regional da Educação e Cultura. Este trabalho visava alargar ao máximo os elementos coligidos até ao fim do século XIX na Bibliografia Açoriana, de Ernesto do Canto. Desloca-se aos Estados Unidos da América, entre 6 e 13 de junho de 1978, para efetuar estudos na Public Library de Providence com o patrocínio do Cônsul de Portugal em face da credencial passada pelo Secretário Regional da Educação e Cultura. Profere uma conferência no Consulado Geral de Portugal, em San Francisco, e em Southeastern Massachusetts University, intitulada Perfil açoriano de Vitorino Nemésio. Publica O trajo nos Açores, bem como Açores de outrora na ilha Terceira daqueles tempos. 1979 Profere uma conferência na Brown University, intitulada Para a História baleeira dos Açores.

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1980 Destacado em missão de serviço no Gabinete de Apoio à Reconstrução – G.A.R., na sequência do terramoto de 1 de janeiro deste ano. Obtém equiparação a bolseiro, de 1 de março a 30 de abril, para prosseguir o levantamento bibliográfico para a Bibliografia Geral dos Açores e para pesquisar e recolher elementos no estrangeiro, nomeadamente no Whaling Museum, na “Nicholson Collection” da Public Library, de Providence, nas bibliotecas da Brown University e na Free Public Library, de New Bedford e ainda fazer uma abordagem ao cartório comercial do mercador Thomas Amory, no Estado de Rhode Island, que foi cônsul da nação inglesa na ilha Terceira. Publica Açores em novos papeis velhos; Thomas Amory, mercador nos Açores; Cantigas do terramoto para ler e passar e prefacia Eu fui ao pico piquei-me de Álamo Oliveira. 1981 Está em Lisboa a trabalhar, de 12 a 25 de abril e de 26 de abril a 10 de maio, em Inglaterra na qualidade de equiparado a bolseiro. Por despacho do Secretário Regional da Educação e Cultura, nomeado Técnico Superior de 2ª Classe, (Jornal Oficial, nº 20, II série, de 3 de junho de 1982). 1982 Publica o desdobrável Museu dos Baleeiros; Memoração Ribeiriana e prefacia a versão portuguesa de Vóvòzinha Laureano de Art Coelho. Entre 1982 e 1986 desloca-se várias vezes em serviço a bibliotecas e museus dos Açores, Lisboa, Coimbra, Évora, Braga e Porto e no estrangeiro: Smithsonian Institute, Washington, Kendal Museum de Sharon, Whaling Museum de Nantucket, Maritime Museum de San Francisco e Library of Congresso de Washington. 1983 Prefacia a obra À pesca da baleia: 4 contos baleeiros: Açores - Cabo Verde e o catálogo da exposição Manuel Joaquim de Andrade. 1984 Equiparado a bolseiro para efetuar estudos e pesquisas bibliográficas em diversas instituições nos Estados Unidos da América. Publica O livro de ‘’Spike’’: comendador Manuel de Sousa Mancebo e A nossa boa Angra em busca do ano 2000 - no património mundial: UNESCO Florença - 7 Dezembro 1983. 1985 Desloca-se à Califórnia, de 12 a 19 de setembro de 1985, em virtude de ter recebido um convite da «TulareAngra do Heroísmo Sister City Foundation». Em Tulare participa nas manifestações de Angra/Tulare, onde foram apresentadas diversas edições de livros açorianos. Nesta ocasião, profere uma conferência de índole histórica. Aproveita também esta deslocação para contactar, em Fresno, com o colecionador de scrimshaws açorianos, Jacob Tomaz, para tentar a cedência da sua coleção para o Museu dos Baleeiros. Publica Uma iluminura de Jonas e a Baleia: algumas curiosidades; prefacia Melodia íntima e poemas de Eiramá de Maduro Dias e profere uma conferência na ilha do Pico, intitulada A ilha do Pico e a baleação. 1986 Profere uma conferência no Conselho da Europa - Projeto nº 10, intitulada: A importância das fontes documentais existentes no (nos) arquivo (arquivos)para estudo da história do séc. XVI e relações com o Novo Mundo; publica A importância das fontes documentais existentes no (nos) Arquivo (Arquivos) para estudo da história do séc. XVI e relações com o novo mundo. Esta publicação teve tradução em inglês. 1987 Obtém dispensa de serviço para «… estagiar em Museus e Bibliotecas da Nova Inglaterra com vista a investigação histórica e bibliográfica […] relacionadas com o Museu dos Baleeiros, Bibliografia Geral dos Açores e um livro sobre as relações históricas entre Portugal e os Estados Unidos desde o século XVIII». Para este trabalho beneficiou de uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian e de um subsídio da Direção Regional do Turismo. Nesta viagem, durante o mês de abril, procede à investigação, seleção e recolha de material iconográfico para os seus livros, bem como para o Museu dos Baleeiros. Na Nova Inglaterra contactou com as instituições: Kendall Whaling Museum, Free Public Library em New Bedford; Kendall Whaling Museum (Sharon) Essex Institute e Peabody Museum (Salem), Mystic Seaport Museum em Mystic. No Whaling Museum em New Bedford encomenda a reprodução das cerca de 60 fotografias constantes dos Annals of the Dabney Family, custando cerca de 200 dollars.


1987 Aproveita esta viagem para proferir 3 palestras em Montreal, Otawa e Toronto, a convite do Prof. Doutor Victor Pereira da Rosa e de elementos das Comunidades açorianas no Canadá. 1988 Como membro da Comissão Instaladora do Museu dos Baleeiros e delegado da Direção Regional dos Assuntos Culturais, desloca-se a Lisboa para equipar o museu e para a edição da medalha comemorativa da abertura oficial do mesmo museu. Desloca-se a Ponta Delgada a fim de tratar de assuntos relacionados com a estátua do Beato João Baptista Machado. A pedido da Direção Regional do Turismo, desloca-se à cidade da Horta para apoiar o Dr. François Hubert, conservador do Ecomuseu de la Bintinais em Rennes, que se deslocou aos Açores para colaborar na estrutura museológica do Museu do Vinho. Publica Numa casa da Angra seiscentista ou o que nela havia para uso e de cómodos. 1989 Entre 25 de janeiro e 20 de fevereiro e 16 e 28 de novembro desloca-se aos museus Whaling Museum de New Bedford e Kendall Whaling Museum de Sharon para pesquisar e discutir com especialistas da temática baleeira o conteúdo do seu trabalho para o Livro das baleias. Condecorado, pelo Presidente da República, Mário Soares, com a Ordem do Infante D. Henrique, Grau de Oficial. Publica Gato ao pôr do sol e prepara o catálogo da exposição Açores vistos por quem os visitou. 1991 Faz parte da Comissão de Receção do Papa João Paulo II na ilha Terceira. Nesta qualidade é recebido pelo Papa no paço episcopal de Santa Catarina, a 11 de maio. Aposenta-se da função pública a 28 de setembro. Reconhecido pela Portuguese – American Federation pelo contributo dado à cultura luso-americana. 1996 Escreve o texto da contracapa do livro A cerâmica terceirense de Jácome de Bruges Bettencourt. 1997 Fica viúvo de D. Rahyra Leonissa da Silva Santos, professora da Escola do Magistério Primário de Angra do Heroísmo. Participa na Feira do Livro de Frankfurt. 1998 Publica Mar de baleias e de baleeiros. 2002 Escreve Home is an island e um maço de versos de Alfredo (Alfred) Luiz (Lewis) [Texto policopiado]. 2003 Traduz e publica Tempo, pessoa, coisas : em poemas do catalão para português de Joan Brossa e prefacia a 2ª edição de Notas de etnografia de Frederico Lopes (João Ilhéu). 2004 Galardoado, em 6 de janeiro, com a medalha de honra do município angrense. Prefacia A comunidade no canal de Tomaz Duarte Jr. 2005 Recebe a chave da cidade de Tulare pelo contributo para a geminação Angra-Tulare. 2014 Último texto manuscrito de João Afonso (19 de fevereiro). Neste texto, responde à solicitação de Jácome de Bruges Bettencourt, como Comissário da Exposição João Afonso: pressurosa e afanosa pluma, e manifesta a sua vontade de colaborar na exposição que estará patente ao público de junho a setembro de 2014. Morre, em Angra do Heroísmo, a 22 de fevereiro.

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O HOMEM

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Durante os trabalhos preparatórios da exposição, nos quais João Afonso colaborava ativamente, o texto acima foi o último que escreveu – 19 de fevereiro de 2014. ``Col. particular João Afonso.

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João Afonso. C. 1925. ``Col. particular João Afonso.

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``Diário Insular. Angra do Heroísmo. (18 jul. 1950), p.1, col. 3.

Comunhão solene de João Afonso. C. 1933. ``Col. particular João Afonso.

Rahyra Leonissa da Silva Santos, a filha Maria João e João Afonso. ``Col. particular João Afonso.


Insígnia da Ordem do Infante D. Henrique, Grau de Oficial. ``Col. particular João Afonso.

João Afonso é galardoado com a Medalha de Honra do Município de Angra do Heroísmo. 6 de janeiro de 2004. ``Col. particular João Afonso.

João Afonso recebe do Presidente da República, Mário Soares, a insígnia acima representada, por ocasião do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Ponta Delgada, 10 de junho de 1989. ``Col. particular João Afonso.

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No dia em que João Afonso é galardoado com a Medalha de Honra do Município Angrense. Da esquerda para a direita: João Afonso, Jácome de Bruges Bettencourt e Francisco Ernesto de Oliveira Martins. ``Col. particular Jácome de Bruges Bettencourt.

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João Afonso com o Papa João Paulo II, em 11 de maio de 1991. Paço de Santa Catarina, Angra do Heroísmo. ``Col. particular João Afonso.


João Afonso desencadeia diligências para estabelecer laços duradouros entre as cidades de Angra do Heroísmo e Tulare, Califórnia. Como corolário dessa aproximação, o município angrense, em 10 de março de 1966, deliberou aceitar o convite do “City Council” de Tulare para participar no programa americano de Cidades-Irmãs.

``Diário Insular. Angra do Heroísmo. (11 mar. 1966), p.1.

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João Afonso. Retrato de Martinho da Fonseca, 1955. ``Col. particular João Afonso.


João Afonso. Retrato de Victor Câmara, 1984. ``Col. particular João Afonso.

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O PROFISSIONAL

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Em 27 de janeiro de 1946, João Afonso é nomeado Bibliotecário da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Em resultado da sua ação, é louvado pela Câmara, enquanto Bibliotecário Municipal, em 1954. Transita para a Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo, em 1956.

Cadastro do funcionário da Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Angra do Heroísmo, João Afonso.

João Afonso, na qualidade de diretor interino da BPADAH, acompanha a visita do Presidente da República, Américo Thomaz, aos depósitos do Arquivo de Angra, em 1962. ``BPARAH, Governo Civil, envelope nº 4, foto nº 3.

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``Despacho SREC/77. «Jornal Oficial. II Série», 28 (77-12-30) 264 (85).

``Despacho SREC/78. «Jornal Oficial. II Série», 19 (78-06-15) 252.

«Desde Setembro (primeiro em férias lá fora: Cascais, Funchal, Água de Pena, depois (em Angra e no Pico) o mesmo ritmo: a Bibliografia, o Museu e, em qualquer sítio (lugar de musas também) a versão, bem árdua, do James Merrill. Este escreve-me de Atenas, aonde não voltará porque a poluição e a decadência – disse – são enormes. Deseja-me êxito na versão do seu extenso poema: a Balada “The Summer People” que me pus a traduzir há um ano e acabei agora».

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``Col. particular João Afonso. Caderno de notas, p. 3.

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«No Pico: nova sessão em outubro, com oito dias de preparativos; mais 13 dias em novembro para que José Leite inaugure “Dados de Informação Baleeira”. Na sua fala de abertura, ele soleniza: trata-se – disse – do registo de baptismo do Museu dos Baleeiros. Gosto da imagem. Mas preveni os lajenses de uma realidade dura a de que há muito a fazer e de que a “fábrica da ferrugem” (aludia aos problemas museológicos de restauro, reparação e preservação) envolve um trabalho aplicado e contínuo. […] Sinto compensações. Não leio jornais e só de soslaio olho a TV. Respondo a cartas (Warrin – que telefonou também, trazendo-me da California o gosto de uma colaboração a dar à tarefa “Alfred Lewis” que o Álvaro (Monj.) me endossou, por intermédio dele, Warrin). Escrevo cartas (À Maria, por intermédio de quem vão chegar os “Annals” da Família Dabney, assunto em que me meti, junto do Kugler, implicando a larga visão do José Leite, dando-me autorização no sentido de comprar para troca com o Wh. Museum, os Portugalliae Monumenta).» ``Col. particular João Afonso. Caderno de notas, p. 5-9.


Em 1980, escrevia: «A Bibliografia Açoriana atingiu 12221 títulos recolhidos, “obra”de pouco mais de dois anos, a que desconto 12 semanas a utilizar as bolsas de estudo da Gulbenkian lá fora, as deslocações em serviço e, claro, as férias.» ``Col. particular João Afonso. Caderno de notas, p. 106.

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João Afonso com o Presidente da República, Ramalho Eanes e Helder Dinis no Museu dos Baleeiros, set. 1983. ``Col. Museu do Pico.

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João Afonso na inauguração do Museu dos Baleeiros. ``Col. Museu do Pico.

Mensagem do Presidente da República, Mário Soares, no Livro de Honra do Museu dos Baleeiros, 3 de junho de 1989. ``Col. Museu do Pico.

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O JORNALISTA

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João Afonso dedica grande parte da vida à atividade jornalística. O seu constante interesse pela informação que circulava traduziu-se numa profusão de artigos, sobre diferentes temáticas, divulgados em diversos órgãos de comunicação. João Afonso assumiu cargos de direção no Diário Insular (cofundador, diretor interino e chefe de redação), no Rádio Club de Angra (vários elencos diretivos) e na Agência Nacional de Informação (chefe de redação).

Artigo de João Afonso

Diretor Interino

Chefe de Redação

«O Diário Insular de hoje, [16 de fevereiro de 1981] no seu 35º aniv., começa a fazer a verdadeira história do mesmo, revelando-se contra os que (“o”) se diziam fundadores. O que o dizia só surgiu quando o jornal estava congeminado. Aqui, deixo eu também o nome dos unicos e verdadeiros fundadores. Além de quem lhe deu o nome (eu proprio): O Rafael Moniz, o Viegas da Silveira, o Costa Jr, o José Vieira da Costa e o H. Barcelos, além de Gomes Filipe que enterrara “A Pátria” […]. Do grupo, fui eu o ultimo a estar: até 1 de Nov. de 1978.» ``Col. particular João Afonso. Caderno de notas, p. 118-119.

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``Diário Insular. Angra do Heroísmo. (5 fev. 1980), p.1, col. 3-4.


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Eram apreciadas as Gazetilhas que frequentemente publicava nos jornais locais. A ilustração acima apresenta a Gazetilha Delírios no campo da televisão e o artigo Ler por alto.


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João Afonso no Café Internacional (Rua da Palha, nº 50, Angra do Heroísmo) com Jácome de Bruges Bettencourt (à esquerda) e António Deodato Ferreira (à direita). Neste local redigiu muitas das Gazetilhas. ``Col. particular Jácome de Bruges Bettencourt.

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Amália Rodrigues no Rádio Club de Angra em 1953. Da esquerda para a direita: João Afonso, Amália Rodrigues, Guilherme Luís Pinto Enes (locutor do RCA), ao fundo, Belmiro Rocha (operador de som). ``Col. particular Ivo Machado.


``Diário Insular. (28 ag. 2013), p. 12.

«Tudo é capaz de ter compreensão escrita.» ``A União. (12 jan. 2004), p. 7, col. 2.

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A Obra

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«João Afonso mereceria que o tomássemos pelo contrário dos simples exploradores dos recursos tonais da linguagem, tantas vezes peritos nas modas ou andaços do estilo. Uma coisa é ter praça assente na literatura do verso, outra conseguir que ele faísque e nos dê instantes de luz.» ``NEMÉSIO, Vitorino – Prefácio. In AFONSO; João - O pássaro pedinte e ruas dispersas. Lisboa : Panorama, 1960. P. X-XI.

Os escritos apresentados neste catálogo são uma seleção da obra de João Afonso.

Primeiro texto impresso a pedido de seus colegas Guilherme Gomes Filipe e Manuel Gonçalves Pereira. Tinha 12 anos. ``A Vida Académica. (20 dez.1935), p. 4, col. 2.

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João Afonso «publicou três opúsculos de poesia intitulados Enotesco, […] Pássaro pedinte e ruas dispersas (com prefácio de Vitorino Nemésio), […] o que o faz arrecadar o Prémio Nacional de Poesia do S.N.I., e Cantigas do terramoto para ler e passar, […] bem como numerosos ensaios e estudos sobre temas de história, literatura e etnografia dos Açores.» ``BETTENCOURT, Jácome de Bruges - João Afonso vida e obra no seu 90º aniversário [Em linha]. [Biscoitos] : s. n. 02 ag. 2013. [Consult. 14 abr. 2014]. Disponível em WWW:«URL: http://bagosdeuva.blogspot.pt/2013/08/joao-afonso.html».

NÃO CANTO PARA OS OUTROS A penumbra que é do haver sido - E houve de ser mesmo, por acontecido – suporta a náusea de uma vaga incerta é um exílio, no próprio reduto. Não canto para outros (ou talvez eu cante) Não canto para mim (mas eu sou, cantando) Picados tivessem sido e a tempo os olhos do haver visto Face de mim mesmo numa evasão de exílio não sou eu um outro nem de mim eu sou.

Aros de corrente e sangue a correr eu, assim, me sou. Penumbra de esperança e vida encoberta nessa face estou toda a vida é certa.

``AFONSO, João – O pássaro pedinte e ruas dispersas. Lisboa : Panorama, 1960. P. 36.

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«Ao longo de meio milénio de confinamento a ilhas, onde a vida em comunidade seguiu por ciclos de abertura ao mundo e de isolamento que ora as impeliam para uma evolução, mais ou menos precipitada, ora as preservavam em situações conservadoras de usos e costumes de arreigada tradicionalidade, o vestuário tomou nos Açores modos de estabilidade própria, ganhando uma imagem de fixação que não foi facilmente atingida por soluções de continuidade.» ``AFONSO, João - O trajo nos Açores : subsídio para estudos de vestiária antiga. Angra do Heroísmo : Instituto Histórico da Ilha Terceira, 1978. P. 11.

«“Açores em novos papeis velhos”, recolha de uns trinta e tal ensaios de “pequena história”, esparsos por jornais, vão sair em volume. Talvez duzentas páginas além das palavras introdutórias de José Leite escritas nas Furnas. É a primeira colectânea do género na Colecção Gaivota. Resolvi aditar-lhe a parte final da conferência de 14.III.77 na Universidade Harvard, para que se registe a “campanha” então iniciada para se obter os “Annals of the Dabney Family in Fayal” o que tratei à base de troca com o Whaling Museum de um ex. dos 5 volumes dos “Portugaliae Monumenta Cartographica.”» ``Col. particular João Afonso. Caderno de notas, p. 103.

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``Col. particular JoĂŁo Afonso. Caderno de notas, p. 92-93.

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«“Cantigas do Terramoto” (na insónia de 23 de jan. – entre a uma da manhã e as 4 da madrugada 102 “stanzas”. […] Edita-se rapidamente o folhetinho “Cantigas do Terramoto”. Em 13 dias de fevereiro esgotam-se os 500 (600) exemplares.» ``Col. particular João Afonso. Caderno de notas, p. 94-95.

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«É que, por vinte vezes já – entre vinte e trinta vezes – tenho andado e permaneci, até, por Américas do Norte, desde o Leste ao Pacífico com a Califórnia de cima abaixo e o Havai, desde o Colorado e Texas até Nevada; fui ao Brasil (com a mágoa de não haver alcançado os Açorianos do Brasil sulino); meti-me por Europa e alguma África; e sempre encontrei e me encontrei com açorianos, açorianos da saudade, estes e aqueles no anelo da pátria de origem, alguns bem estranhos a esta pátria comum que é a Língua Portuguesa.»

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``AFONSO, João – Palavras de um andador. In CONGRESSO DE COMUNIDADES AÇORIANAS, 3, 1991. Açores: Comissão Preparatória do III C.C.A., 1995, p. 494.

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«Estou em crer que se vai ficar, com o mesmo, a dispor de um panorama assaz vasto de baleação em geral e destas ilhas em particular, utilizando materiais não só de origem pessoal como os que seleccionei entre autores nossos ou estrangeiros (um tanto daqueles que me tem sido dado conhecer).» ``Museu do Pico. Carta de João Afonso ao diretor do Museu dos Baleeiros, Francisco Medeiros. Angra do Heroísmo, 28 fev. 1997.

João Afonso com o presidente da Câmara de São Roque do Pico, Manuel Joaquim Costa, no lançamento de Mar de baleias e baleeiros, em 1998.


``In Os Açores e o Atlântico. Angra do Heroísmo : Instituto Histórico da Ilha Terceira, 1984, p. 177-203.

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``Islenha, Funchal. ISSN 0872-5004. Nยบ 28 (jan./jun. 2001).

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Autor: Art Coelho Tradutor: João Afonso

``Col. particular João Afonso. Caderno de notas, p. 16.

«João Afonso alinha no diapasão de que “um verdadeiro escritor deixa uma marca inconfundível naquilo que escreve”. Remete para os outros a resposta à pergunta se o escritor João Afonso já deixou marca. Limita-se a continuar a escrever. Com correção – “Faço questão!”.». ``ROCHA, João – A escrever o mundo com visão rasgada. A União. Angra do Heroísmo. (12 jan. 2004), p. 7, col. 4.

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``Col. particular JoĂŁo Afonso. Caderno de notas, p. 120.


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Álbum de família

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Da esquerda para a direita: José Nuno Dias Afonso; Maria da Glória Zulmira Dias Afonso (mãe); João Afonso; Joaquim Luís Afonso (pai); Manuel Dias Afonso e sentada, Maria de Fátima Dias Afonso. ``Col. particular João Afonso.

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Na 1ª fila, da esquerda para a direita: Manuel Dias Afonso; Maria Cândida da Purificação Dias (avó materna); Maria de Fátima Dias Afonso; Maria da Glória Zulmira Dias Afonso (mãe); José Nuno Dias Afonso. Na 2ª fila, da esquerda para a direita: Joaquim Luís Afonso (pai); João Afonso. ``Col. particular João Afonso.


Casamento de João Afonso com Rahyra Leonissa da Silva Santos. ``Col. particular João Afonso.

Na 1ª fila, da esquerda para a direita: Maria João Afonso (filha); Maria da Glória Zulmira Dias Afonso; Joaquim Luís Afonso. Na 2ª fila, da esquerda para a direita: João Afonso; Rahyra Leonissa da Silva Santos; Maria de Fátima Dias Afonso e José Nuno Dias Afonso. ``Col. particular João Afonso.

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Da esquerda para a direita: João Afonso; Rahyra Leonissa da Silva Santos e Maria João Afonso (filha). 1992. ``Col. particular João Afonso.

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João Afonso comemora 84 anos. Na 1ª fila, da esquerda para a direita: Maria de Fátima Dias Afonso; João Afonso; Isabel Maria Corte-Real e Amaral; Fernanda Bruges Bettencourt; Carlos Galvão Telles. Na 2ª fila, da esquerda para a direita: José Nuno Dias Afonso; José Álvaro Afonso (sobrinho) e Jácome de Bruges Bettencourt. ``Col. particular Jácome de Bruges Bettencourt.


Ex-libris de João Afonso. Xilogravura de Ruy Palhé da Silva. 1993. ``Col. particular Jácome de Bruges Bettencourt.


João Afonso visto por Mateo Alzina Oliver. ``Col. particular João Afonso.

Governo dos Açores Secretaria Regional da Educação, Ciência e Cultura Direção Regional da Cultura


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