Revista A Propósito - nº5 - março 2016

Page 1

a prop贸sito | Mar莽o 2016

1


Somando riqueza, dividindo renda Há 30 anos, a cultura da cana-de-açúcar dá suporte à economia do município e a APLACANA une e fortalece o produtor rural

Márcio Miguel O espírito empreendedor e inovador do produtor rural de Monte Aprazível transformaram nosso município. A partir da década de 60, a agricultura brasileira, especialmente a paulista, passa por uma crise de identidade. Ocorre o brutal êxodo da população para os grandes centros, diminuindo sensivelmente a disponibilidade de mão-de-obra que, somada questões conjunturais e abertura de novas fronteiras agrícolas, inviabilizaram o cultivo de lavouras tradicionais da região como café, algodão, arroz e pecuária leiteira. Nossos produtores tiveram o tino de perceber a necessidade de inovar, ousar e acreditar na tecnologia e no apelo do desenvolvimento de uma nova matriz energética e se lançaram, de forma patriótica e com responsabilidade ambiental, na empreitada que libertou o país da dependên-

2 Março 2016 | a propósito

cia do petróleo, “energia suja”. Esse pioneirismo, fora da região Mogiana, dos nossos produtores trouxe um novo ciclo de desenvolvimento para o município, saindo na frente de todos os outros, criando uma agricultura moderna, com eficiência tecnológica e produtiva. Nessa “revolução”, teve papel preponderante a Associação dos Plantadores de Cana de Monte Aprazível. Não só o cultivo industrial da cana foi introduzido na região. Surgiu também, o associativismo, um conceito praticamente desconhecido na região à época, e ainda hoje pouco usual. Foi através da APLACANA que o produtor se fortaleceu, pode negociar preços tanto da matéria prima que produz, como dos insumos de que necessita, ter acesso às informações técnicas e dispor de cultivares adequado ao plantio. Unidos em torno da associação, defendeu seus direitos e melhorou suas relações trabalhistas. Hoje, graças à eficiência de nossos

associados, da nossa agricultura, Monte Aprazível, na região de Rio Preto, têm uma das maiores massa salarial rural e salários acima da média, beneficiando o comércio e a prestação de serviço, o que soma riqueza e divide renda para todos.

Márcio Miguel é advogado, presidente da APLACANA e da Câmara de Vereadores de Monte Aprazível


EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO Nos anos 30 e 40 do século passado, em uma área maior que a Bélgica, dois municípios se destacavam. Rio Preto pela hegemonia de centro político e comercial e Monte Aprazível pela pujança econômica de suas lavouras de café e algodão, que atraiam concessionárias de automóveis e tratores, comércio em geral, profissionais liberais. Mias tarde, em 42, não por acaso, centro educacional com a instalação do internato e externato de Padre Nunes. Se hoje Monte Aprazível não é mais a segunda cidade em importância econômica na região, não há motivos para lamentações inócuas e buscar culpados. Situações circunstanciais, como o surgimento de novos municípios, as aberturas de novas fronteiras agrícolas, o êxodo rural inevitável e a transição de uma economia agrícola para as atividades industriais e de serviço mudaram o cenário da região, surgindo outros municípios que assumiram a posição de vanguarda. A cidade conservou muito dos tempos áureos. Um setor produtivo agrícola empreendedor, eficiente e tecnológico e uma população com alto índice de educação formal média e inigualável em se tratando de ensino universitário, o que reflete em mão de obra preparada. Falta, porém, o emprego. Mas, não interessa o emprego a qualquer custo. Não interessam o salário vil e o emprego bruto, a produção insustentável social e ecologicamente. O que Monte Aprazível necessita é fazer aflorar sua vocação produtiva. Façam-se quantas doações de terrenos até se esgotar quantos terrenos existirem e só atrairemos empresários picaretas e fabricantes de lajotas. Por artificial A vocação do município é agrícola, como são os vizinhos, e fora dela não há saída. Embora, nada mudará apenas com a monocultura, seja ela qualquer, a canavieira, principalmente. Uma agropecuária diversificada, com intenso suporte tecnológico, é capaz de abastecer o mercado hortifrutigranjeiro e fornecer matéria prima que atraia a agroindústria. Temos mil pequenas propriedades que se transformarão em mil pequenas empresas geradoras de salário e renda, com vagas para mulheres. Assim, se criam os empregos, sem poluir, sem aumentar a população, sem deteriorar a qualidade de vida urbana e os serviços públicos. Para reafirmar a vocação do município, bastam vontade política das autoridades municipais e interesse da sociedade organizada em suas entidades de classe. A revista A Propósito é uma publicação de A Voz Regional Edição: Carlos Carmello e Elcio C. Padovez Diagramação: Victor Manfredo Fone: (17) 3275-2313 | e-mail: avozregional2@gmail.com

Foto da capa: autor desconhecido - Poloni, então distrito de Monte Aprazível - Década de 1930.

SUMÁRIO O DESBRAVAMENTO - 4-9 FAMÍLIAS Fernandes - 10 Carmello e Polotto - 12-15 Junqueira - 16-17 Ceneviva - 18 Miguel - 19 Minuci - 21 Quitério - 22 De Souza - 23

ANÁLISE - 24-26 COMUNIDADE - 29 ATUAÇÃO PARLAMENTAR - 30-34 FALA POVO - 36-37 PERFIL - 38-39 FATOS & CAUSOS - 41 IDEIAS E BOBAGENS - 42

a propósito | Março 2016

3


O DESBRAVAMENTO CARLOS CARMELLO

O PREFEITO SOCIÓLOGO

A

ntonio Tavares de Almeida foi um homem muito refinado intelectualmente. A vivacidade e a curiosidade de seu espírito eram incomuns para uma região pontuada por analfabetos e homens rudes. Tavares nos deixou um legado impagável, sem o qual não saberíamos decifrar como nos tornamos o que somos, social e etnicamente, nestes primeiros anos do século XXI. Formando em 1920 pela Faculdade de Direito do Recife, o pernambucano Antônio Tavares de Almeida foi nomeado comissário de polícia em São Paulo, em 1925, estado que exerceu o cargo de delegado em Santa Izabel, Mogi Guaçu, Taquaritinga, Catanduva, Potirendaba e Monte Aprazível. Em 1928, foi eleito vereador em Monte, e um ano depois, escolhido pela Câmara para exercer o cargo de prefeito. Naqueles tempos, o mandato de

4 Março 2016 | a propósito

prefeito era anual e escolhido indiretamente pelos vereadores. Após o fim do mandato de vereador, em 1931, atuou nos anos seguintes como advogado na cidade, onde morou, pelo menos, até 1933. Em Rio Preto, teve intensa vida social, profissional e política. Foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de 1941 a 1947, membro do núcleo local da Associação Brasileira de Escritores e presidente do Automóvel Clube em 1944 e 1945. Militante do Partido Comunista do Brasil (PCB), Tavares de Almeida foi candidato a deputado federal em 1948 pelo Partido Socialista. A estratégia de se candidatar por outro partido era muito comum entre comunistas, já que o PCB lançou o também pernambucano e amigo de Tavares, Coutinho Cavalcanti, e o grupo teria mais chances. Coutinho foi outro homem de inteligên-

cia ímpar na região. Eleito, exerceu também o cargo de secretário da Agricultura e estudioso da reforma agrária. Suas ideias eram tão revolucionárias que foram aproveitadas até por Che Guevara, durante a revolução em Cuba (1959). A fantástica contribuição de Tavares para a cultura brasileira foi como sociólogo e escritor. Autor da trilogia Oeste Paulista – a experiência etnográfica e cultural, Oeste Paulista – a experiência camponesa desde 1943, Oeste Paulista – esboço de organização de uma sociedade agrária e Aspectos da Criminalidade Sexual no Sertão Paulista e O Projeto do Código do Processo Penal Brasileiro. Nas páginas seguintes, o leitor terá acesso a algumas das observações de Tavares de Almeida sobre o nosso mundo físico e social durante um século a partir do desbravamento da região, em 1840.


Para Tavares, as cidades paulistas eram todas iguais, planejadas por loteadores, sem a inventividade dos grupamentos espontâneos

A paisagem Antonio Tavares de Almeida não gostou do que viu, e classificou a região de natureza sem relevo. “É uma região sem beleza. Não surpreende nem arranca exclamação. As cidades têm a mesma geometria, riscadas pelas empresas loteadoras. Os mesmos jardins com árvores horrendamente versalhesas. A mesma igreja, de mau gosto. Nem natureza, nem arte, delas todas se guarda uma só imagem sensorial.” Se a paisagem impressionou negativamente o homem refinado das artes, a característica única de ocupação da região apaixonou o sociólogo. “Se invés de um esteta a percorre um sociólogo, ela descortina paisagem que o deslumbra. Nem natureza, nem arte. Vida.” A ocupação Os primeiros povoadores foram chamados por Tavares de Almeida de “bandeirante tornado”, o descente mineiro do paulista dos séculos XVII e XVIII, que se embrenhou nas minas em busca do ouro. Esgotadas as minas, a economia mineira estava fundada na pecuária, atividade exigente de grandes áreas. As sucessões familiares retalharam o latifúndio e as novas gerações tinham pouco espaço. Além do espaço físico, a Revolução de 1842 na província abriu ódios e rancores na população e finalmente, casais adúlteros e amancebados precisavam estar longe de padres para constituir nova família. Aqui, o mineiro não tinha intenção de grandes empreitas agrícolas. Era uma vida de engorda

do gado nas pastagens nativas, a criação de porcos, lavoura primária para subsistência e pomar para o regalo, em terra sem qualquer escrituração. Geralmente, se estabelecia em pequenas posses. A gente vinda de Minas era, majoritariamente, branca e mestiça, poucos pretos e caboclos. Legenda Raposo) Descendentes de bandeirantes como Raposo Tavares retornaram de Minas para povoar a região

Descendentes de bandeirantes como Fernão Dias retornaram de Minas para povoar a região

O isolamento Por cerca de cinquenta anos, a região viveu no mais primário ruralismo patriarcal. Nada existia de citadino e não se fazia presente o Estado, nem a Lei nem a Igreja, esta, no período imperial, um organismo do Estado. Se a igreja não estava presente, a fé nunca foi ausente. Sem nome de família, todas as mulheres eram Maria, tendo como aposto de Jesus, do Carmo, das Dores, do Rosário, da Conceição. Nenhuma Aparecida, a padroeira ainda não era moda.

A cruz precedia as choupanas dos futuros povoamentos. Padres, nem pra milagre, o mais próximo do eclesiástico era o benzedor, o “cantador” de terço, função exercida pelo fundador Capitão Porfírio. As relações sociais eram inexistentes e, muito raramente, os encontros se davam nas festas votivas aos santos. O forasteiro A região só conheceria o Estado. Já a Lei e o catolicismo de Roma, somente a partir de 1890, com a instauração da República, o café e o imigrante. Pode parecer improvável, mas o primeiro estrangeiro a aparecer por aqui não foi o colono europeu, e sim o sírio, empreendedor nato. Dos 12 empreendimentos comerciais da incipiente Rio Preto, os sírios estavam à frente em oito deles. Além dos sírios estabelecidos, outros patrícios se lançaram ao sertão como mascates, de sítios em sítios, e acabaram por se estabelecer nas vilas que começaram a brotar. Apesar de pioneiros, não formaram comunidade tão numerosa. O café veio avançando e trazendo italianos, espanhóis e portugueses. Esses grupos étnicos somados chegaram a superar o tamanho da população brasileira. Com o algodão, viriam os japoneses. Tavares de Almeida identificou diversas outras etnias de migrantes, como alemães, austríacos, franceses, russos, poloneses, iugoslavos, lituanos, húngaros, romenos, norte-americanos, embora em número muito reduzidos.

a propósito | Março 2016

5


O cruzeiro era o único símbolo de Roma presente na região, a fé se manifestava nos nomes da mulheres, todas marias, sem sobrenome de família

O sírio chegou antes do europeu à região e teve papel muito importante ao implantar por aqui o comércio e suprir as necessidades das fazendas como mascate

6 Março 2016 | a propósito


O paulista Com o café, os fazendeiros paulistas descobriram o mais profundo sertão e para ele trouxeram o capital e o advogado. As terras que não conseguiram comprar tomaram com a grilagem (processo de usurpação com escrituras falsas). Os caboclos mineiros e alguns baianos originais acabaram como empregados no desmate para formação de novos cafeeiros nas terras que eram suas. Tavares se insurge contra o estatuto criminoso da grilagem e contra aqueles que o defendia, como o ilustre jurista Francisco Morato e o sociólogo Oliveira Viana, que viam nele aspectos de desenvolvimento. Sem deixar de considerar a injustiça da usurpação da terra, apontava a grilagem, ainda, como um crime contra o patrimônio coletivo. “O grileiro foi um esbanjador da riqueza da terra de que se apropriou, para sacrificá-la pelas derrubadas imprevidentes, crestá-la ao processo perdulário das queimadas, esgotar-lhe a fertilidade pelo plantio abusivo, sem cuidado para proteger o solo da erosão e despreocupado do destino dela, repetir em novos tratos de floresta virgem esse extermínio de vida e riqueza do país, foi e é a obra criminosa que anda louvada como sendo o desenvolvimento do sertão paulista. Pode-se dizer que seus autores eram homens sem compromisso para com

Porfírio fundou Monte Aprazível, mas o ano de 1898, como data, é um chute

o futuro.” Tavares condenou os advogados que arquitetaram as mutretas jurídicas para o roubo de terra, mas observou a possibilidade de se fazer carreira e fortuna honestas na profissão, afinal “a valorização da terra dava para tudo”. O Capitão Como comunista e nacionalista que era, Tavares de Almeida teve, presumidamente, reação ambígua diante de Porfírio Pimentel, o fundador de Monte que não conheceu. O sentimento era de admiração e cautela não só para o Capitão, mas também a João Bernardino de Seixas Ribeiro e ao negro Pedro Amaral, os três maiores líderes políticos de todos os mineiros que habitavam a região. Tavares os tinha por nenhuma cultura e pouca instrução, mas homens de ação. Aprovava-lhes o nacionalismo, mas condenava neles os excessos que beiravam o ódio ao estrangeiro. Mesmo tementes, ultrajavam padres italianos e portugueses que criticavam o casamento civil e os serviços cívicos implantados pela República, o que, para um espírito refinado, já era violência. O Capitão, como vereador, chegou a “extravagância” de indicar multas aos sírios por “falar língua turca” e ao brasileiro “que ouvir e não der parte ao fiscal.” O Capitão Porfírio Pimentel teria fundado Monte Aprazível em 1898, data sem confirmação documental. Ainda em 1894, Porfírio foi

eleito para a primeira legislatura da Câmara de Rio Preto, com um voto a menos do primeiro colocado, o citadino Pedro Amaral. Portanto, devia possuir base eleitoral densa fora de Rio Preto e, provavelmente, fundado o povoado de Água Limpa, antigo nome de Monte, antes de 1894.

Protesto de pequenos proprietários contra juiz que validou o esbulho de suas terras por grandes fazendeiros

Imensidão vazia Segundo Tavares, Jaboticabal era a última fronteira a separar a região noroeste do Estado. Uma área delimitada pelo que seria hoje o município de Catanduva, marcada pelas margens esquerdas dos rios São Domingos e Turvo a leste, Grande ao norte, Paraná a oeste até a foz do Tietê. Um quinhão de terra bem maior que a Bélgica, desconhecido do império brasileiro. Em 1869, o tenente Taunay, mais tarde visconde, em expedição por aqui, depois de Itapura, uma colonização do Exército, só encontrou “um punhado de palhoças miseráveis” que lembrasse uma povoação e profetizou que não teria futuro. Errou feio. O arremedo de povoado estava na fazenda do mineiro João Bernardino de Seixas. Era Rio Preto que prosperou, Itapura desapareceu. O primeiro registro da população dessa vasta região é de 1888, tendo a igreja como fonte, e apontou 5.333 almas. O censo de 1890, o primeiro oficial da República, apontou 6.586 pessoas. Assim, o monte-aprazivelense existiu antes de a cidade ser fundada pelo Capitão Porfírio.

a propósito | Março 2016

7


VIÚVOS

DIVORCIADOS

TOTAIS

SOLTEIRAS

CASADAS

VIÚVAS

DIVORCIADAS

TOTAIS

Brancos (%)

1.439 (65,02)

730 (66,06)

31 (62,0)

1 (25,0)

2.207 (65,27)

1.172 (65,47)

874 (68,44)

88 (62,41)

5 (83,33)

2.139 (66,55)

4.340 (65,89)

Pretos (%)

169 (7,63)

108 (9,78)

4 (8,0)

2 (50,0)

283 (8,40)

105 (6,87)

98 (7,68)

11 (7,81)

-

214 (6,66)

497 (7,53)

Cablocos (%)

122 (5,52)

63 (5,70)

7 (14,0)

1 (25,0)

193 (5,72)

117 (6,54)

80 (6,26)

17 (12,05)

-

214 (6,66)

407 (6,20)

Mestiços (%)

483 (21,83)

204 (18,46)

8 (16,0)

-

695 (20,61)

396 (22,12)

225 (17,62)

25 (17,73)

1 (16,67)

647 (20,13)

1.342 (20,38)

TOTAIS (%)

2.213 1.105 50 4 3.372 (100,00) (100,00) (100,00) (100,00) (100,00)

TOTAIS

COR

CASADOS

MULHERES

SOLTEIROS

HOMENS

1.790 1.277 141 6 3.214 6.586 (100,00) (100,00) (100,00) (199,99) (199,99) (199,99)

A BABEL

N Homens e mulheres de várias partes do mundo se lançaram ao mar para ocupar o sertão do Brasil

a primeira década do século XX, a população de Monte era quase que totalmente de mineiros e a partir daí passa a ser cidade majoritariamente de forasteiros, cessando o fluxo dos desbravadores mineiros. Em 1912, a estrada de ferro chegara a Rio Preto, onde, antes dela, já viviam alguns sírios e poucos italianos. A abertura de novas fronteiras agrícolas para o

8 Março 2016 | a propósito

café e com os negros libertos 24 anos antes se fazia necessária a mão de obra estrangeira. Inicia-se o fluxo de italianos, portugueses e espanhóis e, em menor escala, japoneses, esses para assumirem as rocas de algodão, a partir de 20. Surgem os burocratas e os profissionais autônomos como médicos e advogados. A capital fervilhava e o sertão era rejeitado pelos profissionais liberais

paulistanos. Para exercer cargos burocráticos, advocacia e medicina vieram mineiros, baianos e pernambucanos. Em 1931, a exceção dos vereadores, dos dez cargos públicos, incluindo o de prefeito, nove eram exercidos por forasteiros, o único paulista era o cartorário. Dos seis médicos, cinco eram forasteiros nacionais e um italiano. Nenhum advogado era paulista. O monte-aprazivelense, então, foi forjado nesse caldo de cultura diverso, de gente das muitas partes do Brasil e do mundo. Assim, o que somos hoje foi construído com as trocas feitas no passado entre nativos e forasteiros, emergindo nossos traços culturais e comportamentais em que se destacam a hospitalidade e a interação, observadas por Tavares de Almeida em seu ensaio sociológico. Nas páginas seguintes, descendentes das famílias pioneiras contam como se deu essa integração.


PEGADAS NO SERTÃO A vida de Tavares de Almeida ganhou mais alguns capítulos insinuantes, como a transferência forçada a Santa Isabel e São Paulo. Sua filha, Maria Hermínia, continua esta história

“M

eu pai era um homem de ideias muito avançadas”. De uma maneira simples e direta, a professora da USP e socióloga Maria Hermínia resume o espírito e a obra de seu pai. Segundo ela, que ouviu muitas histórias de Tavares de Almeida pela boca de sua mãe, o ex-prefeito de Monte Aprazível se casou em 1936, e permaneceu em Rio Preto até 1948, quando um problema político o obrigou a deixar a cidade.

“Ele era uma pessoa de ideias progressistas e, como muitos intelectuais, no final do estado Novo (1945), se aproximou do Partido Comunista, que fora uma força importante na luta contra a ditadura Varguista. Meu pai foi candidato a deputado federal, pelo Partido Comunista, em 1946. Não se elegeu mas teve uma votação razoável para a época. Promulgada a Constituição de 1946, que estendia alguns direitos trabalhistas ao trabalhadores rurais, ele começou a fazer advocacia pro bono para os

trabalhadores que buscavam obter alguns desses direitos. As duas atividades lhe granjearam a antipatia de alguns poderosos locais. Assim, em 1948, foi transferido para Santa Isabel por pressão política. Logo a seguir foi para São Paulo, trabalhar na Procuradoria Geral do Estado”, recorda a socióloga. Para Maria Hermínia, que esteve poucas vezes na região, a última delas a convite do ex-prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo, o estilo libertário e questionador do pai a ajudou a seguir o caminho das Ciências Sociais. “Queria ter feito Medicina ou Letras, mas desisti. Certamente, meu pai me influenciou, indiretamente, ao criar em mim uma sensibilidade para a observação social, bem como para a história. Ele foi uma espécie de sociólogo amador. Seu único livro, Oeste Paulista, mostra muita intuição sociológica e um esforço por buscar evidências empíricas da questão que tratava de estudar. Ele, na verdade, fez um estudo de caso pioneiro sobre a formação social da região de Rio Preto, submetida a um forte impacto da imigração estrangeira”. Antonio Tavares de Almeida viveu até os 80 anos, e morreu em 1971.

Maria Hermínia,, filha única de Tavares de Almeida, é pós-doutora e sociolóloga da USP.

a propósito | Março 2016

9


FAMÍLIAS HOMERO FERNANDES

FAMÍLIA FERNANDES O português Joaquim viveu em Monte Aprazível desde 1932, atuando como mecânico, encanador e eletricista para criar seus filhos com educação esmerada Joaquim Fernandes, com a mulher Maria Siqueira de Abreu

J Certidão de Registro de Joaquim, emitida pelo Estado de Portugal

oaquim Fernandes era natural de Coimbra, Portugal. Nascido aos 15 de dezembro de 1903, veio para o Brasil em 1912, então com 9 anos, na companhia de seus pais e demais familiares, fixando residência a principio em São Paulo. Na capital fez seus estudos primários e cursou na Escola Técnica Getúlio Vargas o curso profissionalizante de ajustador mecânico. Depois de uma passagem com a família por Barretos, mudou-se, em 1932, para Monte Aprazível,

empregando-se como mecânico como comunista, o que resultou numa das mais antigas oficinas numa prisão domiciliar que lhe da cidade. causou profunda tristeza e consEm 1934 Joaquim casou-se trangimento. com Maria Siqueira de Abreu, Entre suas atividades em união da qual nasceram os fi- Monte Aprazível, Joaquim foi lhos Ulysses, Homero, Diógenes o primeiro perito da Delegacia e Luzia, aos quais com muito sa- de Polícia local, designado por crifício deu educação primorosa, Portaria como responsável pela proporcionando-lhes funções e avaliação das provas de habilicargos importantes na vida públi- tação de motoristas, função que ca e privada de Monte Aprazível. ocupou, em caráter voluntário, Em 1940 Joaquim passou a durante vários anos da década de exercer a profissão em um barra- 50. cão ao lado de sua casa, permaEm 1995, aos 92 anos, vitima necendo até 1944, quando encer- de doença pulmonar Joaquim rou as atividades de sua pequena veio a óbito. Ele viveu em Monempresa em conseqüência dos te Aprazível 63 anos. Na cidade reflexos da crise econômica que ainda residem alguns de seus afetou a população brasileira du- familiares, como filhos, netos e rante a 2ª guerra mundial. bisnetos. A partir de então Joaquim passou a trabalhar como encanador e eletricista, profissão que exerceu durante 30 anos, com dignidade, competência e honestidade. Ficou conhecido como o melhor profissional de Monte Aprazível durante as décadas de 50, 60 e 70, sendo o mais requisitado por centenas de moradores da cidade, inclusive pelos prefeitos Lavinio Lucchesi, Calimério Bechelli, Geraldo Berardo e Wilson Leal, com os quais mantinha amizade cordial e de respeito mutuo. Em 1964 por admirar Luiz Carlos Prestes, primeiro presidente do extinto Partido Comunista Brasileiro, foi denunciado Os filhos Ulysses, Homero, Diógenes e Luzia

10 Março 2016 | a propósito


a prop贸sito | Mar莽o 2016

11


FAMÍLIAS CARLOS POLOTTO CARMELLO HÉLIO CARMELLO POLOTTO

SÉCULO DE COMPADRIO E PARENTESCO Há 98 anos em Monte Aprazível e 130 anos de Brasil, as famílias Polotto e Carmello, através de compadrio e uniões matrimoniais, formaram um dos maiores núcleos de parentesco da cidade

Oriundas da mesma região da Itália, o Veneto, mas de províncias diferentes, as famílias Polotto e Carmello chegaram ao Brasil com os pioneiros da imigração, antes ainda da libertação dos escravos evento político e social que tornou a utilização da mão de obra européia imperativa. No Brasil, na região de São Carlos, os membros das duas famílias passam a manter contato social nas lavouras de café onde trabalhavam como meeiros, estabelecendo, inicialmente, relações de compadrio e, na primeira geração de filhos brasileiros, relações matrimoniais que acontecem até hoje. São oito gerações dos Carmello no Brasil, seis delas de brasileiros e dentre os Polotto são sete gerações, seis nativas.

Os descendentes das duas famílias, além das relações matrimoniais de seus membros, nas primeiras gerações, mantiveram relações endógenas (dentro do mesmo grupo étnico) com membros das famílias Lourenção, Amadeu, Pazeto, Basso, Petean, Pinatti, Catan, Mangolin, Barravieira, Rossi, Pivaro, Marcato, Marcon, Longo, Scriboni. Na primeira geração, mesmo as uniões fora da nacionalidade italiana, foram com latinos portugueses como os Rodrigues, Marques, Simões, Venâncio, Monteiro, formando, talvez, a mais numerosa parentela do município, com cerca de mil nascimentos ao longo de quase cem anos, com mais de duzentos deles morando ainda na cidade.

Antonio Polotto deixou a Itália aos 12 anos, em 1888, contratado para lavoura de café em Descalvado; seguiu os passos do consogro Teonisto, se estabelecendo nas Canoas em 1919 12 Março 2016 | a propósito


Os Carmello O mais antigo registro da presença dos Carmello na Itália data de 1506 e na Província de Treviso (o equivalente brasileiro ao município), a família estabelece-se no século XVIII, no último terço dos anos 1700, com o patriarca Agostino, casado com Giovanna Storer. Consta na igreja da comuna (distrito) de San Cipriano de Roncadi, o nascimento de Gio Batta, em 11 de abril de 1807 e o casamento com Franca Cibini, em fevereiro de 1827. Dos 17 filhos do casal, o quarto, Marco, nasce em 25 de abril de 1834. Em 1859, os estados italianos foram unificados, mas o reino de Veneza permaneceu sob o domínio do império austro-húngaro. Se o ambiente de guerras e disputas políticas fazia da Itália um lugar ruim para se viver, no Veneto era muito pior, fazendo da região o maior fornecedor de migrantes para as Américas, alguns anos mais tarde. Marco e Maddalena Ferraro casaram-se em 23 de novembro de 1859 e habitaram a casa de número 30 de San Cipriano, onde nasceram os filhos Fedele, Agostino, Pasqua, Luigi, Teonisto Gio Batta, Lorenzo, Giuseppe. Em janeiro de 1879, a casa 30 foi destruída por um incêndio e Marco perde nele o filho Lorenzo. Na mais completa miséria, ele muda-se para a vizinha Musestre, onde nascem as gêmeas, Francesca e Domenica, esta morta logo em seguida. Em fevereiro de 1888, Marco, com os filhos, desembarca em Santos, passa pela Hospedaria do Imigrante e segue para a legendária fazenda São José, em Santa Cruz das Palmeiras. O filho Teonisto, 22 anos depois da chegada e aos 38, casado com Carolina Zampieri, em 1919, adquire com os filhos, Albino, Júlio, Ângelo, João, José e Augusto, uma propriedade em Monte Aprazível, no bairro das Canoas. Júlio veio com a mulher, Maria Gioconda Polotto, Albino se casaria com Maria Basso, Ângelo com Idalina Scriboni, João com Idalina Monteiro, José com Maria Massideli e Augusto com Catarina Amadeu.

Teonisto Carmello, casado com Catarina Zampieri, veio para o Brasil em 1888, aos 16 anos, com o pai Marco, e se mudou para Monte em 1919, com os filhos Albino, Julio, João, José, Ângelo e Augusto

Os Polotto Antonio Polotto nasceu em 1 de agosto de 1869, na comuna de Mestre, região pantanosa da província de Veneza, de agricultura impraticável. Aos 12 anos, com o irmão mais velho, Ângelo, foi contratado para trabalhar em uma fazenda de café em Descalvado, o primeiro e mais importante núcleo de atração de mão de obra estrangeira em São Paulo. Em 1889, casa-se com Tereza Basso, e da união nasceria os filhos brasileiros Antonieta, Rosina, Amélia, Pedro, Maria Gioconda, Ida e João. Os caçulas, Alfredo e Assunta, nasceriam na Itália. A ideia de Antonio não era permanecer no Brasil, mas fazer fortuna e retornar. A cada boa colheita no Brasil, retornava para a propriedade dos pais, Benedecto e Antonieta, vivendo agora em Uderso, com os filhos João e Catarina. Acabado o dinheiro, Antonio, filhos e filhas, ainda crianças, se empregavam em fazendas da Áustria e Alemanha durante as colheitas. Retornavam para Uderso na entressafra e, diante da pobreza, tinham como alternativa, novamente, “fazer a América.”

A Primeira Guerra na Europa interrompe esse ciclo de idas e vinda e Antonio se resigna em ficar no Brasil. Na mesma época, a filha mais velha, Antonieta, volta à Itália com a família de Ângelo Petean, casada com um dos seus filhos, Carlo. A chegada de Antonio Polotto em Monte Aprazível é imprecisa, mas se dá, provavelmente, meses depois da chegada do consogro Teonisto Carmello, em 1919. O irmão Ângelo já estava estabelecido em Itápolis e, em 1924, os irmãos, João e Catarina, migram para o Brasil, se estabelecendo em Monte Aprazível, no bairro Taquaruçu, na propriedade dos Quitério. Gente extremamente religiosa, os Polotto tiveram participação ativa na construção da igreja das Canoas, em 1942. Ainda hoje, a maioria dos descentes de Antonio, falecido em 1938, vive em Monte Aprazível. Todos os filhos de João se mudaram para Rio Preto, depois de curta passagem por Tanabi, na década de 50 do século passado.

a propósito | Março 2016 13


Filhos, neto e bisneto de Maria Polotto e Júlio Carmello

UNIÃO DE FAMÍLIAS Maria Gioconda e Júlio foram os primeiros descendentes de Antonio Polotto e Teonisto Carmello a se unirem em laços matrimoniais. O casal veio para Monte Aprazível acompanhando o patriarca Teonisto Carmello, em 1918, estabelecendo-se no bairro das Canoas. Joconda, o oposto do cordato e pacato marido, não teria convivência pacífica com a sogra Carolina Zampieri, mulher de personalidade forte tanto quanto a nora. Júlio, com Maria, deixa a casa dos pais e irmãos para se estabelecer bem próximo, em pequena porção de terra. No local, além

14 Março 2016 | a propósito

da agricultura, monta uma venda, onde para abastecê-la ia para Rio Preto em carroção de bois. À medida que os negócios prosperavam, adquiria pequenas porções de terra. Juntamente com outros moradores da redondeza, irmãos e cunhados, participou ativamente a construção da capela e mais tarde passou a ser proprietário do local onde estavam construídas igreja e escola, em uma área total de 26 alqueires. Mulher muito ativa, Gioconda fez da família um matriarcado, onde ela dirigia os negócios, com ajuda do filho varão, Mario, até o

casamento deste, em 1946, aos 21 anos, com Rosa Lorenzetti. Na década de 60, Maria e Júlio mudam-se para Engenheiro Balduíno, já tendo à frente dos negócios, o caçula, Antônio. No final dos anos 70, mudam-se para a sede do município, onde falecem, ele em 1980, e ela em 1982. O casal teve os filhos Dejanira, Olga, Mário, Mafalda, Zulmira, Reinaldo, Antonio, Julio e Aparecida, que lhes deram 40 netos, 79 bisnetos e 35 trinetos. Dos 9 filhos, estão vivos e residem em Monte Zulmira, Antonio e Júlia, e Aparecida, reside’ em Araraquara.


Íria Carmello e Orlando Polotto

NOVELO FAMILIAR Uniões endogâmicas entre as famílias Polotto e Carmello, todas obedientes à legislação civil e ao interdito religioso, acontecem há um século, a partir da união entre Julio Carmello e Gioconda Polotto, em 1919. Em 10 de outubro de 1950, Mario Carmello recebe na estação férrea de Engenheiro Balduíno, chegados da Itália, o casal Irene e Antônio Petean, cunhados de sua tia Antonieta Polotto Petean. Orazio e Otorino, filhos de Antonio e Irene, mais tarde, casam-se com as primas maternas de Mário, Ana Polotto Marcato e Maria Polotto. Orlando Polotto, irmão de Maria e primo de Mario e Ana, era casado com Íria Carmello, prima de Mário. Marta Petean, filha de Maria e Otorrino, casa-se com Hélio Polotto, filho de Orlando e Íria.

É inevitável que uniões com descendentes de duas famílias tão grandes se perpetuem e aconteçam sem que as gerações mais novas se dêem conta de suas ancestralidades comuns. É o caso do jovem casal Andressa Bianchi e João Vitor do Amaral. Ela, filha de Dalva Catan, é neta de Mafalda Polotto Carmello, bisneta de Júlio Carmello e Gioconda Polotto e trineta de Antonio Polotto. Ele, filho de Vera Lucia Marques, é neto de Maria Aparecida Polotto, bisneto de Alfredo Polotto e trineto do mesmo Antonio, trisavô da mulher, que também é bisavô de Hélio e Marta e avô de Mário. E Mario é tio de Dalva, a mãe de Andressa, e primo de Maria Aparecida, avó de João Vitor. Carlos Polotto Carmello

a propósito | Março 2016 15


FAMÍLIAS ODÉCIO ANTÔNIO JUNQUEIRA

A SOLIDARIEDADE TECIDA HÁ 280 ANOS Os Junqueira usam bengala, ou pelo menos as colecionam. Caçam veados e onças, criam cavalos manga larga, guardam cartas, testamentos e inventários de seus antepassados como se fossem relíquias e estão sempre atentos ao nascimento ou a morte de outros Junqueira em qualquer lugar do país onde estejam. E estão em muitos. Os Junqueira cultuam o passado e a memória da família desde que foi iniciada neste país entre 1760 e 1770, quando nasceu o primeiro Junqueira filho, o Patriarca. Até então eles não existiam, a não ser em Portugal, onde não se chamavam Junqueira e nem ao menos tinham sobrenome.

Foto da segunda capela de Monte, que deu lugar a atual

Coronel Junqueira

F

oram cortados muitos lotes de terras, com glebas maiores e menores para a formação de sítios e fazendas no sertão de Rio Preto. É importante dizer que de São José do Rio Preto até o rio Paraná, mesma extensão de 250 km em linha reta era o chamado sertão desconhecido, onde tudo era mata virgem. Já existia Mirassol e Tanabi estava iniciando. Em 1900 já havia o povoado Bom Jesus, que passou a chamar-se Água Limpa, nome dado por estar situada ao lado do ribeirão de água cristalinas que levou o nome de Córrego Água Limpa.

16 Março 2016 | a propósito

A notícia de terras produtivas e de uma região nova de terras férteis e de muito futuro chegou aos ouvidos de Gabriel Higino de Andrade Junqueira, o Coronel Junqueira, que imediatamente se interessou e veio conhecer a região da alta araraquarense. Saiu de Três Corações, em Minas Gerais, em 1908, chegando ao Arraial Bom Jesus cheio de interesse em aqui estabelecer sua família e suas propriedades. Passou a verificar terras e lugares para adquirir onde fosse melhor para sua família que ficara em Três Corações. Veio só e encontrou aqui um grande amigo, Orácio de Freitas, que lhe deu muitas aten-

ções e até mesmo casa para ficar, pois aqui não havia nada. Em 1911 veio definitivamente com sua família vendendo sua Fazenda da Serra em Minas Gerais. Era casado com Cândida de Andrade Junqueira com quem teve os filhos Torquato, José de Andrade, Ana Augusta, André Onilio, Gabriel Sesalpino, Elpidio, Aristides, Maria Cândida , Genésio e Geni. Gabriel Higino de Andrade Junqueira vendeu suas propriedades em Três Corações e passou a adquirir fazendas bem localizadas em Monte Aprazível. Adquiriu 1.700 alqueires em direção a fazenda Cachoeira, com início onde hoje


é a Vila Araújo, Rua Washington Luiz, doou parte para ser o cemitério local, indo daí até o Cultivado, onde é a fazenda dos herdeiros de Elpídio Junqueira, Edmundo, Nilse e Darci. Dividiu essa grande

gleba em sítios, pedindo aos compradores que formassem cafezais e pastagens para o bem de Água Limpa. Trabalhando nos campos e matas Gabriel Higino passou a pensar no progresso da cidade.

Atuação política Segundo informações de seu primeiro neto, Gabriel José Junqueira, em 9 de fevereiro de 1912, o coronel Junqueira criou o 1º posto policial e Monte Aprazível foi elevada à categoria de Distrito Policial. Em 18 de dezembro de 1914, Gabriel Higino criou o posto de registro de pessoas, Distrito de Paz, pela Lei nº 1438, pertencendo ainda a São José do Rio Preto, com o nome de Água Limpa. Em 23 de dezembro de 1924, Gabriel Higino de Andrade Junqueira, com seus amigos fiéis Amador de Paula Bueno, Bento Mendonça, José de Andrade Jun-

queira, Indalécio Fermino e João Batista criaram o município com o nome de Monte Aprazível, pela lei nº 2.008. É importante anotar que Amador de Paula Bueno foi eleito o primeiro prefeito de Monte Aprazível e que José de Andrade Junqueira foi o primeiro presidente da Câmara Municipal de Monte Aprazível. É importante citar ainda que o Coronel Gabriel Higino de Andrade Junqueira, com seu grupo de amigos, tirando dinheiro do próprio bolso, criou para Monte Aprazível o posto para registro de pessoas, que futuramente passou a ser o 1º Cartório, o posto policial, pois

Ao centro, o Coronel Gabriel Junqueira, na inauguração das Escolas Reunidas

não havia segurança na localidade, criou a primeira Escolas Reunidas, a época localizada onde atualmente é a Cergatti, criou o Município de Monte Aprazível, em 1924, tendo sido seu primeiro prefeito Amador de Paula Bueno e primeiro presidente da Câmara, José de Andrade Junqueira e criou, em 1927, depois de muitas viagens a São Paulo, Jaboticabal e São José do Rio Preto a Comarca de Monte Aprazível, então a maior do Estado de São Paulo. Não podemos negar o imenso amor que o Coronel Junqueira possuía por Monte Aprazível, onde sua dedicação foi demonstrada em todos os setores, para o desenvolvimento, crescimento e progresso de nossa cidade. Pena que hoje Coronel Junqueira não esteja mais aqui para ver o que a semente lançada por ele, com seu suor, transformou esta maravilhosa Monte Aprazível que tanto amamos.

Coronel Gabriel Higino de Andrade Junqueira

Odécio Antônio Junqueira é bisneto de Gabriel Higino de Andrade Junqueira

a propósito | Março 2016 17


FAMÍLIAS DULCE CENEVIVA

A FORÇA DA EDUCAÇÃO Os Ceneviva construíram uma história familiar baseada no diálogo para ter um lugar no mundo

N

ascemos da união de duas pessoas fortes, firmes, diferentes e que se completavam. Parece que juntos eram invencíveis. Se somados seriam o ser quase perfeito. Meu pai José Ceneviva Netto, o forte, o alegre, o briguento, aquele a quem todos recorriam, o advogado brilhante, o professor de educação física bonitão. Cheio de amigos, o rei das rodinhas de conversas. Falava muito e alto. Mistura de calabrês com siciliano. Queria juntar gente em casa, muita comida, muita festa. Era do palco, o centro das atenções. Minha mãe Ruth de Carvalho Ceneviva, a sensata, controlada, que não se exaltava. A Educadora fenomenal, que teve em suas mãos gerações de crianças, moços e adultos pelos quais fez mais em nível de Educação do que qualquer pessoa faria hoje em dia. Gostava de ler, analisar, pensar, escrever. Falava pouco e firme. Mistura de português com mineiro. Gostava de se cercar de poucas pessoas. Era dos bastidores, o cérebro por trás do corpo. Família extremamente positiva. A gente sempre teve uma

José Ceneviva Netto

18 Março 2016 | a propósito

A professora Ruth com os filhos e netos

relação saudável. Tudo podia ser dito e a qualquer hora. Não tinha coisa de adulto e coisa de criança: tudo era assunto de família. Falávamos, conversávamos horas e horas a fio em torno da mesa da cozinha. Nos finais de semana o papo começava no café e ia até o jantar. As coisas aconteciam ali, naquela mesa no fundo do quintal. Concordávamos, discordávamos, ficávamos de mal e de bem, tudo sem sair do lugar... Eu diria que a família nos fez sentir que temos um lugar no mundo, nos ensinou a exigir respeito e respeitar. Nos ensinou a questio-

Ruth de Carvalho Ceneviva

nar, a querer saber os motivos, a discordar do óbvio. Nos ensinou que ser honesto não é virtude, é obrigação. Nos ensinou a lutar para vencer, e quando perdemos a nos refazer logo e recomeçar a luta. Nos ensinou que valores são passados de geração em geração e que o nome é o nosso bem mais precioso. Podíamos ousar, alçar vôos e cair, porque sempre teríamos um local de pouso certo, que era a nossa casa. Nossa família nasceu em 0209-1946 , dia do casamento de meus pais. Estabeleceram-se em Monte Aprazível. Nascemos nós três: Ana Maria, José Armando e eu, Dulce. Nos casamos: Ana Maria com Berardo, José Armando com Raquel, e eu, Dulce, com o Jonas. Juntos tivemos seis filhos, cada um de nós um casal de filhos lindos, corajosos, cheios de garra e coragem. A prova de que pé de mamão não dá jaca, e que o fruto nunca cai muito longe da árvore. Ana e Berardo já deram ao Seu Zé e Dona Ruth, cinco bisnetos. Garanto que se vivos fossem, teriam orgulho da semente que plantaram.


FAMÍLIAS RITA GALLO

SÓLIDAS RAÍZES A união das famílias Miguel e Pinatti criou a descendência que mais representa os “Pais fundadores” de Monte Aprazível

A

história da família Miguel remonta a Silvério Miguel nascido em 1882, em Vila Facaia, Portugal, mesma localidade em que veio a se casar com Elvira Barreto. Em busca de melhores oportunidades desembarcaram no Brasil em 1913, com o primeiro filho, Vitório Miguel, então com

5 anos de idade. No Brasil, a princípio se instalaram em Jaboticabal, onde possuíram 21 alqueires de terra e um engenho de açúcar e pinga. Em 1916, vieram para Monte Aprazível, onde adquiriram terras na fazenda Taquaruçu, local em que trabalhavam com lavoura de café, grãos e gado.

Já adulto, Vitório conheceu Jesuína Ribeiro, filha de Francisco Ribeiro e Vergínia Pinatti, moradores da fazenda Taquaruçu desde 1908. Com ela, se casou e teve 8 filhos: Elizeu, Genésio, Leonardo, Ildo, Francisco, Adelso, Ivone e Ilza. Seus descendentes até hoje residem e trabalham em Monte Aprazível.

Vitório Miguel, chegado em 1916, e Jesuína, do ramo Pinatti, em Monte desde 1908

Certidão emitida em Portugal comprova a ascendência portuguesa e o brasão, acima, as origens fidalga dos Miguel

a propósito | Março 2016 19


Dom Bosco, 74 anos educando e formando cidadãos O Colégio e Faculdade Dom Bosco são resultados da intenção social de seu criador, o educador Padre José Nunes, com o objetivo missionário de educar o jovem e formá-lo cidadão. Instituições sem fim lucrativo, com mensalidade de baixo custo e uma política generosa de concessão de bolsas, possibilitam o acesso de crianças e adolescentes de família de rendas média e baixa ao ensino fundamental e médio de qualidade e do jovem trabalhador a cursos superiores. O relatório de justificação de caráter filantrópico de 2015, enviado ao Ministério da Educação, comprova que os alunos bolsistas, com benefícios integrais e parciais, somam metade dos alunos matriculados.

O ideal do santo João Bosco, através da obra de Padre Nunes, tornou a nossa faculdade uma das mais conceituada e fez de Monte Aprazível a cidade com o maior índice de portadores de diploma universitário da região.

20 Março 2016 | a propósito


FAMÍLIAS RITA GALLO

A FORÇA DO TRABALHO Clarinda e Natalino tiveram 10 filhos, 26 bisneto e um trineto e dedicaram à vida a eles, ao trabalho e à devoção religiosa

N

atalino Minuci, filho de imigrantes italianos da região de Gênova, nascido em Monte Alto, casou-se com Clarinda Pinto Duarte, nascida na cidade de Porto Ferreira, em 27 de julho de 1933, na cidade de José Bonifácio. Em 1945, mudou-se para Monte Aprazível com a mulher e seis filhos, Zumira, Maria Alice, Iraci, Nelson, José Carlos e Ademar para trabalhar na roça como lavrador. Em 1958, depois de alguns anos como saqueiro, foi registrado na função de maquinista na máquina de benefício de café Bassan e Companhia, de propriedade de Marcelo Bassan, da qual somente se desligou por ocasião de sua aposentadoria. A esposa Clarinda, de prendas domésticas, ajudava o marido no orçamento doméstico lavando roupas para tradicionais famílias aprazivelenses, na catação de grãos de café beneficiado, vindo posteriormente a trabalhar como copeira no escritório na mesma máquina de Marcelo Bassan. Em Monte Aprazível, nasceram os quatro filhos mais novos do casal, Osmar Roberto, Regina e Toninho Minuci. Os filhos foram criados com extrema necessidade. Católicos fervorosos, dedicaram a vida ao trabalho e à comunidade do Senhor Bom Jesus, da qual Clarinda recebeu em, 1986, certificado de Honra ao Mérito pela perseverança na devoção ao Sagrado Coração de

Trabalhador muito simples, Natalino Minuci deu sólida educação aos 10 filhos e legou a Monte Aprazível honrados cidadãos

Jesus. Natalino gostava muito de esportes, acompanhava o futebol amador da cidade e incentiva todos os filhos a praticarem. O filho Toninho chegou a passar uma temporada na Catanduvense, mas preferiu ajudar a família com emprego regular e se dedicar aos estudos. Natalino também prezava as amizades, firmando sólidos laços com os companheiros saqueiros e da máquina como Ângelo Molena, Pedro Altomare, Nelson Chocolate, Nelson Leão, Branco, Pico, Dilo, entre outros. Relação de parentesco Em Monte Aprazível, a família, através do casamento de seus filhos e netos, acabou por ampliar muito suas relações de parentesco com as famílias Domingues, Dias da Silva, Prado, Batista, Blasques, Duarte, Catan, Lugato e Junqueira/Pinatti, Montanare, Guarezemin, Oliveira, Macedo, Araujo, Maturana, Filiar, Faragutti, Ama-

deu, Trombim, Camacho, Duarte, Simonato, Calvo, Pereira Pires, Pires e Coelho. Os descendentes de Natalino e Clarinda ajudaram e até hoje ainda ajudam no desenvolvimento de Monte Aprazível, visto que atuam em diversos segmentos profissionais como advocacia, serviços bancários, medicina, alfaiataria, magistério, engenharia, medicina, odontologia, fábrica de móveis, comércio de confecções e corte e costura. Em 1996, em reconhecimento à participação de Natalino e da família Minuci no desenvolvimento do município, a Câmara de Vereadores homenageou o patriarca com o nome na principal avenida do Distrito Industrial de Monte Aprazível: a Avenida Natalino Minuci. Dos 10 filhos de Clarinda e Natalino Minuci nasceram 23 netos, 26 bisnetos e um trineto. Natalino faleceu em 10 de agosto de 1985 e Clarinda em 11 de março de 1991.

Os Minuci se reúnem nas bodas de ouro do casal; a Igreja reconheceu em certificado a devoção de Clarinda ao Sagrado Coração

a propósito | Março 2016 21


FAMÍLIAS CARLOS CARMELLO

O SENHOR DO TAQUARUÇU Afrodescendente, Antônio Quitério de Oliveira adquiriu grande extensão de terra onde cultivou café e criou gado e porcos

D

oze anos depois da abolição dos escravos, em 1888, nascia em Bebedouro, a última fronteira cafeeira antes do sertão de Rio Preto, o afrodescendente Antonio Quitério de Oliveira. Em 1918, muito jovem e casado com a mineira Maria Soares, chega a Monte Aprazível para “fazer o sertão”, “sem nada”, como observa a filha Palmira. Quitério iniciou a vida na região como carreiro e com muito trabalho e aproveitando as oportunidades que o sertão oferecia, foi comprando terras, até juntar mais de duzentos alqueires, no espigão leste do

Taquaruçu, até o vale do Canoas a oeste, seguindo ao norte onde hoje é o distrito de Engenheiro Balduíno. “Minha mãe contava que a igreja de Balduíno foi construída em terra que fora nossa”, conta Palmira. Em 1919, nasceria a primeira filha do casal, Aparecida. Ao todo foram dez filhos, Laurita, Palmira, Américo, Benedito, Adelino, Francisco e José, Juca e Antonia, adotada. Palmira, professora aposentada e casada com o argentino Carlos, permanece morando em 10 alqueires remanescentes da fazenda do pai. Na propriedade, Antonio Quitério criava gado e foi o

maior criador de porcos da região, criação que ocupava uma área de 10 alqueires, e claro, cultivava o ouro de São Paulo, o café. “A fazenda tinha uma colônia de trabalhadores muito grande e uma vez chegou uma família de italianos, dos Polotto, e não tinha casa vazia na colônia e o meu pai os acomodou em casa”, lembra Palmira. Antônio Quitério foi um homem muito alegre, de bom humor contagiante. Foi um divulgador da cultura popular e religiosa com seu grupo de Catira e companhia de reis. Foi um dos importantes construtores da Igreja de Santos Reis.

Quitério, com a mulher e os filhos, chegou a possuir mais de duzentos alqueires no Taquaruçu

22 Março 2016 | a propósito


FAMÍLIAS DANILO CÉSAR DE SOUZA

DE BRAÇOS ABERTOS A população de Monte Aprazível, 118 anos depois, continua hospitaleira e generosa com o forasteiro

N

as páginas anteriores vimos o tanto que a população de Monte Aprazível foi generosa com quem vinha de fora. E nada mudou. A cidade continua recebendo bem quem quer crescer com ela. Eu nasci em uma fazenda de Olímpia, onde meus pais eram meeiros. Fiz de tudo, desde os 12 anos, cortei e bati arroz, quebrei milho, apanhei laranja, derricei, rastelei e abanei café. Mas eu queria mais para minha vida, queria o estudo que meus pais não podiam me dar. E Monte Aprazível podia me dar isso. Vim para Escola Agrícola, onde ganhei o apelido de Calango, em 2003, fazer o curso de meio ambiente e assim que cheguei percebi que não sairia mais daqui. Me formei, arranjei trabalho no laboratório da destilaria Moreno, trabalhei também no laticínio, prestei concurso para a Vigilância Sanitária, onde

Danilo é um forasteiro que se sente totalmente integrado à vida da cidade

estou até hoje na prefeitura, acumulando o cargo de Coordenador da Feira do Produtor. Nos meus tempos de fazenda, em Olímpia, e no curso de meio ambiente, na escola agrícola, adquiri consciência ecológica e sou um militante, defendendo a sustentabilidade, a diversificação e a agricultura familiar. Criei, com um grupo de amigos,

o Partido Verde na cidade e hoje sou presidente do PRÓS. Atuo nos mais diversos conselhos municipais e o meu ingresso na política é uma forma de contribuir com a cidade que me acolheu. Eu me casei em Monte Aprazível e tenho dois filhos. Eu tenho todos os motivos para amar Monte Aprazível e nenhum para sair daqui.

A Voz Regional parabeniza Monte Aprazível pelos seus 91 anos de emancipação política Também aproveitamos para divulgar a foto vencedora do Concurso Fotográfico, realizado em nossa rede social. Parabéns, Valdinei Fernandes

a propósito | Março 2016 23


ANÁLISE CLAUDIO COLETTI

A CIDADE SONHADA

M

onte Aprazível, no dia 10 de março, completou 118 anos. Monte Aprazível, atualmente, reúne a maioria das condições ideais para ser a cidade sonhada por qualquer cidadão para se morar, viver bem, com dignidade. Para chegar a esse ponto, é necessário que algo mais aconteça. Precisa da implantação de políticas que criem possibilidades de geração de mais emprego e renda. Isso só será alcançado com o incentivo à abertura e sustentabilidade de novos negócios, novos empreendimentos, mais prestação de serviços. Essa política já é sucesso em muitas de cidades do interior do Estado de São Paulo. Umas se destacam por produzir sapatos infantis, pequenas fábricas especificas na área de confecções, produção de móveis, produção de doces sofisticados, peças para a indústria automobilística. Tem cidade se especializando na formação de profissionais para o futebol, basquete, vôlei e preparação de professores para as mais diversas atividades desportivas. A cidade precisa definir o seu rumo. Tem material humano para isso. As estruturas exigidas para o funcionamento de uma cidade moderna estão prontas. Com poucos acertos e pequenos

24 Março 2016 | a propósito

investimentos seriam colocadas em condições de serem disponibilizadas aos interessados. É excelente a posição logística de Monte Aprazível. Está ligada a todos os municípios da região por moderna malha rodoviária. Sem problemas no setor das telecomunicações. Localizada bem próxima de São José do Rio Preto, hoje uma das cidades mais importantes do Brasil. Distante apenas 484 quilômetros da capital paulista. Para avançar, Monte Aprazível necessita da atenção e cuidado dos seus eleitores sobre os candidatos a prefeito e vereadores de outubro. Faço votos que escolham gestores dispostos a incentivar as iniciativas empreendedoras, líderes comprometidos com todas as possibilidades econômicas disponíveis na cidade, que valorizem a educação, a formação técnica, o potencial da população. É também necessário que aprazivelenses sejam menos egoístas, não pensem apenas nos seus negócios, em seus interesses pessoais. Os interesses da coletividade devem preponderar. Jovens, senhores e senhoras, participem mais da vida dos partidos políticos. Assim, poderá ser alcançado o almejado desenvolvimento sustentável.


Padre Nunes Monte hoje é bem diferente da cidade que deixei aos 17 anos de idade. Foi precisamente no dia 6 de janeiro de 1948, uma segunda-feira. Fui para São Paulo, via Araraquarense, com as pretensões de continuar os estudos que iniciei no Ginásio Dom Bosco. Monte que deixei era um município coberto inteiramente de cafezais, a riqueza maior do Brasil. Cafezais que na época eram tocados especialmente por imigrantes italianos e espanhóis. Era sede da maior comarca do estado de São Paulo. Tinha uma das mais produtivas agências do Banco do Brasil, tal a força econômica do café. A cidade tinha uma referência: o fazendeiro milionário Basileu Estrela. Era um “paizão”. A Santa Casa de Misericórdia só existia, e ainda hoje continua existindo, por ações dele. O político mais influente, badalado, era o médico Jorge Carneiro de Campos, protegido dos interventores do Estado, Fernando Costa e Ademar de Barros. Era período da dita-

dura Getúlio Vargas, com uma guerra de alcance mundial, destruindo a Europa e o Japão. O contestador da política dominante em Monte era o jornalista português Constantino de Carvalho, por meio do seu semanário A Cidade. A economia local era impulsionada pelas famílias italianas Maset, Maionchi e Macri. As ruas da cidade eram de terra batida. Saneamento bá-

A escola fundada por Padre Nunes tem como meta educar e formar cidadãos

sico inexistia. Todo fundo de quintal tinha uma privada, bem como um poço para se tirar água. Divertimento e lazer se resumiam ao cinema do Dida e do Nacibo, aos banhos no rio São José e nas Malvinas, ao jogo de sinuca no Bar Spolon, bocha no Troleis e os jogos do GEMA. Outra atração eram os encontros da juventude, nos domingos, à noite, na Rua Brasil, no quarteirão entre as farmácias do Purini e Farias. No início da década de 40, eis que surge em Monte o padre salesiano José Nunes, trazido do Mato Grosso para fundar o Ginásio Dom Bosco, com o apoio da prefeitura. Este foi o farol aceso que iluminou e pavimentou o futuro de Monte Aprazível. A partir de 1960, começou a aparecer na cidade um bom número de aprazivelenses portando diplomas de ensino superior. Era o resultado imediato do colégio do padre Nunes, o qual funciona até os dias atuais, contribuindo sobrema-

Padre Nunes deixou um legado educacional que mudou o perfil da população de Monte

a propósito | Março 2016 25


neira para o crescimento cultural da cidade, que começou então a ganhar ares mais sofisticados, intelectualizados. A cidade foi se transformando, modernizando. Passou a ter serviços de água e esgoto de excelente qualidade. Suas vias públicas foram pavimentadas. O serviço de energia elétrica chegou até a zona rural. Deu-se um fim no “ buracão” que ameaçava engolir a cidade e a represa foi construída. A qualidade das residências melhorou. Com o advento do álcool no Brasil, os milhões de pés de café do município foram derrubados para dar lugar a cana de açúcar. Duas usinas foram

instaladas, e houve geração de mais empregos temporários, a maioria deles ocupados por não residentes na cidade, trazidos do Nordeste do país. A dúvida que paira hoje é se a substituição do café pela cana foi a melhor escolha. O futuro bem próximo dará esta resposta. Ao longo das sete últimas décadas, o município teve bons e péssimos prefeitos. No meu entendimento, pelo legado que deixou, pela sua visão de futuro, tomo a liberdade de apontar o melhor entre eles: o prefeito Lavinio Lucchesi. Considero positivo: Os sistemas educacional e de saúde

com alguns reparos, e poucos investimentos, poderão ser considerados além dos padrões, mesmo dentro do Estado de São Paulo. O analfabetismo na cidade está próximo de zero. Não posso, porém, deixar de registrar também duas decisões equivocadas, a meu ver. Uma foi a derrubada da belíssima casa dos Paca (esquina de Tiradentes com Osvaldo Cruz) para dar lugar ao monstrengo que ainda hoje enfeia o centro da cidade. A outra foi a infeliz demolição do coreto que existia no centro do bem cuidado jardim. No seu lugar foi construído um chafariz, hoje transformado num elefante branco.

Pelos dados que apresentamos ouso afirmar que Monte Aprazível disponibiliza para seus moradores uma qualidade de vida acima da oferecida pela maioria das cidades brasileiras. Pela qualidade dos seus serviços, o seu IDH é alto (índice de 0,808). A expectativa de vida

de seus moradores chega a 73,31 anos, muito acima da média nacional. Para tornar a cidade anda mais aprazível impõe-se que se escolha bem os novos prefeito, vice-prefeito e vereadores, nas eleições de 2 de outubro próximo.

Nível superior Partindo do embrião Ginásio Dom Bosco, estão em pleno funcionamento, vitoriosos, os cursos das Faculdades de Educação, Ciência e Artes. São cerca de 1.300 estudantes, distribuídos por cinco cursos de ensino superior, todos eles com boa avaliação pelo Ministério da Educação. São cursos referenciados no interior do Estado de São Paulo, pela qualidade do ensino ministrado. Os alunos, em sua maioria, residem em municípios próximos de Monte. A cidade dispõe de dois semanários, sendo que a Voz da Regional circula em sete cidades vizinhas. Funcionam na cidade duas emissoras de rádio. Chegam os sinais de todas as redes de televisão operando no Brasil. E grande número de assinantes da Folha de São Paulo e do Estado de São Paulo.

26 Março 2016 | a propósito

Do pré ao superior, o estudante pode passar toda vida escolar na mesma escola


a prop贸sito | Mar莽o 2016 27


RESGATAR A SAÚDE Precisamos de uma nova revolução no atendimento médico como Basileu Estrela fez na década de 40

E

m 1942, ao criar a Santa Casa de Monte Aprazível, o Coronel Basileu Estrela, que não era médico, provocou uma revolução na saúde de Monte Aprazível. Naquela época, o atendimento público em saúde, mesmo que limitado, geralmente, às doenças infecto-contagiosas, era privilégio dos moradores de capitais. No interior do país, o atendimento era exclusivamente particular. Um hospital filantrópico para atender os mais pobres foi um serviço fantástico, o mais importante que se deu nos 44 anos da cidade de então. Passados 74 anos, não podemos dizer que o atendimento médico no Brasil e em Monte Aprazível não melhorou nada e que é tão precário quanto antes. Melhorou e muito, mas é preciso uma nova revolução. E essa revolução deve acon-

28 Março 2016 | a propósito

tecer nos municípios. A municipalização transferiu para os municípios a responsabilidade do atendimento básico, ou primário, que é o atendimento ambulatorial, consultas, inclusive com especialistas, exames de baixo custo, fornecimento de medicamentos, encaminhamentos e transportes dos casos de maior complexidade, cuidados com a vigilância sanitária e o controle de vetores de doenças, como o mosquito da dengue, zica e chicungunia e uma série de outros procedimentos. Para oferecer o serviço básico de atendimento, os municípios contam com, no mínimo, 25% do total do que arrecada. É uma responsabilidade muito grande, mas dá para fazer mais e melhor, de acordo com a realidade de cada município. O SUS, em tese, é uma ideia brilhante, a do atendimento gra-

tuito e universal, para todo mundo. Porém, o seu gigantismo e burocratismo o tornam pouco ágil e caro. Por seu lado, os municípios, ao não darem resposta eficiente à sua responsabilidade, comprometem mais o sistema e sua ideia de atendimento regionalizado das complexidades, no caso, os hospitais públicos de Rio Preto. Os municípios não podem mais empurrar essa realidades de deficiência com a barriga. Os municípios precisam assumir a sua responsabilidade com eficiência no atendimento básico. Faz-se necessário modificar a realidade com ideias revolucionárias como teve o Coronel Basileu com a Santa Casa. E é justamente a mesma Santa Casa que deve ser o centro dessas novas ideias. Nelson Montoro


COMUNIDADE GILBERTO DOS SANTOS

UM BAIRRO CONSTRUÍDO COM MUITA RAÇA

A

Vila Aparecida, o mais populoso bairro de Monte Aprazível, foi construído na raça. Com a raça de seus moradores, há 63 anos, em uma época em que não havia ordenamento da ocupação do solo, com os lotes vendidos e os moradores que se virassem com a infraestrutura. Com a força da amizade e da união, construíram tudo, até os locais de fé, como igrejas. A história desse bairro e de seus moradores fica ainda maior, quando se observa o momento em que ocorre, de

profunda transformação no Brasil, de transição de uma economia agrária para a industrial. O lavrador saído do campo encontrou sérias dificuldades de trabalho na cidade, mas soube vencer o desafio e deu sua valiosa contribuição para o desenvolvimento de Monte Aprazível. Registramos aqui, os nomes de algumas famílias pioneiras para que se registre na história o ato de bravura e determinação que perpetraram. Estiveram presentes nos primeiros momentos do bairro famílias, especialmente na construção da

igreja, sob o comando do Padre Altamiro, as famílias Ciriaco, Lopes, Marques, Zucoloto, Barriveira, Bianchi, Thomé, Santos, Garcia, Cordeiro, Carvalho, Gangane, Rodrigues, Francisco Pereira, Balero, Flausino, Roberto, Feijó, Souza, Alves de Resende, Fernandes, Cruz, Bizarri, Freitas, Gouveia. Quando nem existia a igreja, Padre Altamiro rezava as missas em um barracão na Praça.

Gilberto dos Santos

a propósito | Março 2016 29


ATUAÇÃO PARLAMENTAR

O MAGISTÉRIO E A POLÍTICA COMO PAIXÕES

M

onte Aprazível é dos raros municípios em que as mulheres têm intensa participação política, especialmente no Legislativo. Nos últimos 30 anos, as mulheres nunca deixaram de ser representadas, com um total de 10 mandatos. Na atual legislatura, a vereadora Professora Adriana tem honrado essa participação exercendo o mandato de forma eficiente, dignificando a confiança do eleitor. “Consciente da responsabilidade, tenho me dedicado ao cargo vivenciando os problemas da cidade e colocando sempre os interesses do município, acima de disputas partidárias e divergências políticas”, ressaltou a vereadora. Professora Adriana tem participado de todos os debates no plenário, com moderação e sensatez, apresentando indicações, sugestões e ideias exequíveis ao poder Executivo e viabilizado recursos e verbas para obras. Dentre as várias propostas da vereadora Professora Adriana, destaca-se pela importância social, a criação do cursinho pré-vestibular gratuito, cujo objetivo é oferecer aos estudantes da rede pública a mesma oportunidade que têm os estudantes do ensino pago de disputar uma vaga em fa-

30 Março 2016 | a propósito

culdades. Professora Adriana é autora do projeto do Parque Ecológico da Matinha, para o qual conseguiu verba de R$ 250 mil. O Parque da Matinha possibilita a preservação de um bioma natural, com exemplares da Mata Atlântica, em área urbana, o que amplia a sua importância já que será utilizada pela população, também, como espaço de lazer. Para tornar mais ágil os trabalhos do Conselho Tutelar, a Professora conseguiu a doação de um veículo novo.

Vida privada O sonho de se tornar professora, exigiu muito sacrifício da jovem Adriana de Oliveira. Ainda menina, começou a trabalhar como babá dos filhos de Izilda de

Carvalho. Lembrança que a enche de satisfação e orgulho, pois foi a influência da professora despertou nela a vocação para o magistério e, particularmente, a paixão pela matemática. Ainda com muito sacrifício, cursou a Universidade Estadual de Londrina, à noite e trabalhava durante o dia para se manter. Ao retornar formada, em 1995, conseguiu emprego como monitora em uma escola de Rio Preto. Logo em seguida, a sua qualificação a levou para assumir o cargo de professora no Dom Bosco. Adriana sempre acreditou ser possível transformar as condições de vida das pessoas e passa a se interessar pela política e se filiou ao Partido dos Trabalhadores. Em 2012, disputou uma vaga para a Câmara. “Exercer o mandato de vereadora está sendo uma experiência fascinante, estou aprendendo muito com o cargo e podendo me dedicar à minha cidade.” Hoje, a vereadora é filiada ao PSD.

Adriana é filha de Marlene Santa Rosa e Orival Gonçalves de Oliveira, irmã Pérola, médica neurologista. É casada com o empresário Marcelo Ramos e mãe de Laura, de 8 anos.


ATUAÇÃO PARLAMENTAR

O ESPAÇO DA JUVENTUDE A cidade precisa criar políticas que contemplem os jovens e a família como fomento ao emprego, esportes e cultura

E

sperança, coragem, força, determinação, alegria, sonhos....todas essas palavras podem ser relacionadas com a juventude. Quando passamos pela juventude temos em especial uma vitalidade e um entusiasmo que precisam ser canalizados para o bem, seja ele profissional, educacional ou social. Nos jovens está também a esperança de um mundo melhor, mais igualitário, com mais respeito e dignidade. Os jovens são capazes de contribuir para as artes, para a política e profissionalmente. Eu mesmo posso testemunhar isso e se tenho até aqui uma carreira política marcada por ser um político atuante e trabalhando sempre com seriedade e respeito ao próximo, ela se iniciou na adolescência, com a militância no Diretório dos Estudantes como presidente de Grêmio Estudantil, e teve prosseguimento no movimento na faculdade de Direito que cursei. Seria impossível falar de juventude sem mencionar as raízes em que sustenta toda essa vitalidade, que é a família, no pai com seu trabalho digno, na mãe que não esquecendo do seu lar busca ainda ajudar nos sustento familiar. Tive o prazer de fazer grandes

projetos que foram bem sucedidos, como o Projeto Primeiro Passo em que 200 jovens se capacitaram e ingressaram no mercado de trabalho, projeto reconhecido pelo governo do estadual como de grande relevância social. Outro projeto em que estou envolvido é no combate às drogas, também de muita relevância social pelo drama que as drogas desencadeiam na vida familiar e em todo o conjunto da sociedade. Temos visto nos últimos anos que ao invés de empresas se instalarem em nosso município, elas tem nos deixado por falta de incentivo da municipalidade, diante disso, venho lutando para criação de um novo distrito industrial para geração de mais indústrias, mais empresas, mais oportunidades para o trabalhador, para o jovem e para as mulheres. Nosso município está carente de emprego e só a criação de um novo distrito industrial e uma política voltada para incentivar empresas a se instalarem nele poderemos mudar esse cenário. Durante meus mandatos tenho lutado por mais oportunidades de emprego e esse esforço precisa ser ampliado com projetos de novas empresas. Prezo muito a família, daí meu empenho na criação de programas

nas escolas para se combater as drogas. Defendo políticas voltadas aos bairros para atender jovens e a família através da descentralização, com criação nos bairros de pólos culturais e esportivas e de capacitação. Mas, essas iniciativas isoladas pouco mudam o panorama. É preciso que o município crie políticas para as famílias, onde encontram-se as crianças, jovens, os pais, de maneira ampla e geral. Esse é o grande desafio, ou melhor, é responsabilidade e obrigação dos futuros prefeitos formularem essas políticas. Fui nomeado Diretor Regional de esporte em 2011 o mais jovem onde permaneci até 2015, quando fui transferido para a regional da Secretaria da Justiça do Estado como Diretor de Núcleo. São cargos que muito me orgulham, pois são cargos de confiança do governador Geraldo Alckmin. Principalmente na regional de esportes pude desenvolver vários projetos destinados a jovens e adolescentes não só em Monte Aprazível, mas em dezenas de municípios da região.

Renato Jubilato

a propósito | Março 2016 31


ATUAÇÃO PARLAMENTAR

A FIBRA DOS CANAVIEIROS

N

os anos 60 e 70, na região, o campo passa por dificuldades com a decadência de culturas tradicionais como o café e o algodão, provocando o êxodo rural, atraindo para as cidades uma multidão de trabalhadores que não tinha onde ser absorvida. Em um raio de cem municípios, foram os produtores

32 Março 2016 | a propósito

rurais de Monte Aprazível que encontraram a saída, com o estabelecimento, de forma pioneira, da agroindústria do etanol. Em meados dos anos 90, com o programa do álcool em crise, os produtores de Monte Aprazível persistiram no negócio e já no ano 2000, o setor se revigora, nova indústria aqui

se instala, várias outras foram entram em atividade na região. Assim, os produtores de Monte Aprazível garantiram a continuidade do desenvolvimento e progresso econômicos da cidade e região.

Lelo e Cláudia Maset


a prop贸sito | Mar莽o 2016 33


ATUAÇÃO PARLAMENTAR

O TRIBUNO Detentor de 8 mandatos consecutivos, 36 anos de exercício da vereança e 23 como assessor parlamentar, Pierin Maset ainda sente falta da Câmara

A

os 86, paciente de câncer desde 2012, Pierin Maset, primeiro filho brasileiro do casal de italianos Josefina e Ângelo Maset, protestou contra a proibição médica de continuar dando assessoria parlamentar para câmaras da região. “Eu queria ficar com pelo menos uma, a de Macaubal, a primeira das 14 que cheguei a ter como assessorada, mas não teve jeito, tive de largar.” Não é para menos. Desde os 23 anos, em 1953, quando assumiu seu primeiro mandato como a vereador em Monte Aprazível, Pierin se dedica às leis. Foram oito mandatos ininterruptos como vereador, durante 36 anos, até 1988, quando foi aprovado por concurso para o cargo de diretor jurídico da Câmara de Monte, paralelamente, passou a prestar assessoria parlamentar para câmaras da região. Só deixou o cargo de diretor por imposição da aposentadoria compulsória quando o servidor completa 75

34 Março 2016 | a propósito

Pierin com a mulher Dilma

anos. Dos 36 anos em que atuou como vereador, 20 deles Pierin não recebeu pelo cargo, já que o subsídio foi instituído somente em 1973. Ao comentar sobre a remuneração de vereador hoje, Pierin mantém a ponderação, marca de sua atuação ao longo da vida pública. “Antigamente, havia o idealismo, era-se vereador para contribuir com a sociedade. Mas hoje os vereadores são mais preparados, a maioria tem curso superior e isso conta muito nos dias de hoje”. Sem nunca ter redigido um discurso, Pierin é lembrado como o maior orador a ocupar a tribuna do legislativo de Monte. Ficou célebre o discurso que pronunciou como orador na formatura de sua turma de Direito em Rio Preto. Na presença de militares e no auge da ferocidade do regime, defendeu o retorno à democracia e ao estado de direito, uma condenação clara à ditadura militar. Vencedor de eleição após eleição para vereador, o poder

nunca lhe subiu à cabeça. Tentar vôos mais altos, que seria natural para um vereador vitorioso, nunca o atraiu. “Minha paixão é pelo legislativo, nunca considerei os convites para ser vice e não aderi a teses de que deveria me candidatar para prefeito.” Sem salário e mesmo depois com salário, Pierin ganhava a vida como comerciante de móveis, eletrodomésticos e revenda de veículos, em sociedade com os irmãos. E mesmo com tantas ocupações, sobrava-lhe tempo para se instruir. É formado em Ciências Contábeis e Direito. O recorde de mandato e tempo de permanência na Câmara de Pierin, sem qualquer deslize desabonador, dificilmente será igualado em Monte ou qualquer outra câmara da região. Já sua capacidade de contribuir, de somar e o ato de dignificar a função pública devem ser objetivos a ser perseguido por todo aquele que está ou pretende se iniciar na carreira política.


a prop贸sito | Mar莽o 2016 35


FALA POVO

Como Monte Aprazível não vive só de passado, a revista A Propósito foi às ruas para saber o que a população da quase centenária cidade espera para os próximos anos, tanto na infra-estrutura quanto na situação política, e também, na construção de novas vagas de emprego e opções de lazer e cultura para os mais jovens ou os que ainda virão por ai.

ELIDA CRISTINA GRADELLA SIMÕES, 54 ANOS, “Estou desacreditado dos governan- PROFESSORA APARECIDO DONIZETE SOARES, 58 ANOS, PEDREIRO

LAMARTINE ORSATI, 63 ANOS, CABELEIREIRO “Espero que a cidade receba melhorias na saúde e na educação, e que seja um local de mais justiça e que os governantes sejam exemplos e olhem por nossa juventude, que está se perdendo nas drogas. Espero também que a cidade receba mais empresas que gerem emprego para a população”.

tes em todos os níveis de governo. São muitas promessas não cumpridas. Mas espero que Monte Aprazível melhore, e consiga mais indústrias e empregos. Também espero que a construção civil melhor, já que foi muito abalada com a crise financeira”.

“Espero que sejam feitos investimentos na área industrial, na geração de empregos, infra-estrutura da área urbana com moradias, lazer para os jovens e terceira idade, valorização dos pequenos empresários e agricultores, ampliação dos investimentos em especial nas áreas da educação e saúde”.

FRANCISCO APARECIDO RODRIGUES, 59 ANOS, PADRE DA IGREJA MATRIZ SENHOR BOM JESUS

MANOEL HIPÓLITO PEDREIRA, 66 ANOS, PASTOR DA IGREJA “Espero que a cidade desenvolva PRESBITERIANA RENOVADA

“Espero que Monte Aprazível continue a ser uma localidade acolhedora, bonita e fraterna e que a gente tenha governantes preocupados com o bem-estar da população”.

36 Março 2016 | a propósito

JOSÉ CABRERA FLORES, 50 ANOS, EMPRESÁRIO

uma agroindústria de sucesso para que gere empregos tanto no campo quanto na cidade e que Monte encontre novas vocações, novos caminhos para a geração de emprego, porque estamos precisando. Eu torço muito por Monte Aprazível”.

“Gostaria que nossa cidade pudesse progredir mais, se fortalecer mais e que o povo fosse mais bem cuidado. Desejo que nossos administradores tenham mais amor pelos munícipes e que o povo busque mais a Deus, porque bem aventurada é a cidade onde Deus é o senhor”.


YOLANDA SERA JUNQUEIRA, 86 ANOS, APOSENTADA “Desejo que a cidade cresça e que as cabeças pensem. Desejo também a reativação da destilaria Água Limpa e um comércio tranquilo, porém, pujante. Desejo que a nossa faculdade, marco histórico de quase 50 anos, continue dando oportunidades aos jovens e que nossa política esteja sempre pronta a novos empreendimentos. Espero também que o esporte seja promovido, já que é uma atividade importante tanto para o físico como para a mente”.

JULYCE MAYTÁ MARTINS DA SILVA, 19 ANOS, ESTUDANTE DO 3º ANO DE DIREITO

LUIZ ANTÔNIO ZIDIOTI, 57 ANOS, FUNCIONÁRIO PÚBLICO MUNICIPAL

“Espero que a cidade ofereça melhorias tanto na área da Saúde, como na educação e infra-estrutura. Espero também que tenha ambientes melhores, com mais oportunidades de lazer e entretenimento para os jovens”.

“Assim como todo mundo espero que Monte Aprazível melhore nos próximos anos, que cresça e progrida cada vez mais, com geração de emprego e renda e melhoria da qualidade de vida da população”.

a propósito | Março 2016 37


PERFIL ELCIO C. PADOVEZ

CORRIDA DA LONGEVIDADE Frederico Fischer, o corredor profissional mais velho do Brasil em atividade, não se intimida com seus 99 anos e segue firme e forte nas pistas

O

companheira do experiente corredor. A vida esportiva do descendente de alemães começou no Clube Tietê, e desde o início, Frederico demonstrou que tinha herdado o espírito aventureiro do pai, que saiu da pequena Herrenberg, no início do século XX, para tentar a vida no Brasil com o trabalho em frigoríficos. Enquanto a maioria dos atletas se interessava por uma só modalidade, Fischer se encantou logo pelo decathlon, que reúne 10 diferentes provas do atletismo, desde a corrida até o lançamento de disco e martelo. Junto com o esporte, ele conciliou a carreira de contador, até se aposentar dos cálculos, no início de 1970. Ainda nesta época, Frederico

Fischer se tornou presidente da Associação Atlética dos Veteranos de São Paulo, fundada em 1943. “Havia um mito de quem tinha mais de 40 anos era considerado velho para a prática da atividade física. Algumas pessoas nos viam treinar na rua ou no parque e gritavam: vocês são loucos! Daqui a pouco, cai um velho duro ai. Eu nunca senti nada. Pelo contrário, ser esportista sempre foi uma grande vantagem para mim, para alimentar meu lado competitivo e manter o peso”. Seu Fischer já mediu 1,88 m, mas hoje, se equilibra em 1,80 e cerca de 95 kg. E se engana que ele vive de dieta. “Não sou um glutão, mas não me privo de uma boa comida. Gosto de macarronada, arroz e feijão”.

Ricardo Soares

tempo é um mero detalhe na longa e movimentada vida de Frederico Fischer. Aos 99 anos, o corredor mais velho em atividade no Brasil da um leve sorriso quando as pessoas, espantadas, perguntam a ele o segredo de ele continuar correndo e viajar o mundo para disputar competições de atletismo para veteranos. “Hoje, eu corro e treino mais pela saúde e pela preservação, mas como tenho um espírito muito competitivo, a pista sempre me chama”. E assim tem sido desde o início dos anos 1940, quando Fischer, filho dos alemães Fritz e Lina, foi apresentado ao mundo do esporte, e também, à atleta Teresa, que há 68 anos, é esposa e

38 Março 2016 | a propósito


O alemão papa títulos Seu Fischer, que há 28 anos vive na brisa do mar de Peruíbe, onde recebe filhos, netos, bisnetos e também, tataranetos, só abandona a casa próxima ao mar para ir competir. E desde 1979, tem sido assim. O primeiro Mundial de Atletismo que ele participou foi em Hannover (Alemanha). Em 2011, na edição de Sacramento (EUA) entrou para o Livro dos Recordes por ter feito o recorde mundial nos 100 metros, categoria 95-99 anos. Seu tempo? 20s42. E no último Mundial, disputado em agosto de 2015, em Lyon (França), o alemão tropical, mesmo baleado de uma dengue, conseguiu faturar 4 pratas e 1 ouro. Apesar do espírito competitivo, Frederico ainda está em dúvida se encara uma longa via-

Frederico Fischer, aos 99 anos, ainda compete em mundiais de atletismo para veteranos. Sua carreira começou em 1940

gem até Perth (Austrália) para a disputa do Mundial entre 26 de outubro e 8 de novembro. Além da distância e várias horas de avião, outro ponto que o incomoda das empreitadas internacionais é o fato de o atleta ter que custear todas as despesas, que para a Austrália, giram em torno de U$ 3 mil. “Viagens longas já não enfrento com tanto entusiasmo. Mesmo que eu decida não ir desta vez, vou continuar treinando e se possível, melhorar um pouco a condição física. Sempre de manhã, já que à tarde, cuido da esposa, que sofre de artrose. Acordo bem cedinho, faço alongamentos e um trote, que pode chegar a 4km, e para finalizar, corro cerca de 5 piques deslanchados e continuados de 50m na areia”.

a propósito | Março 2016 39


40 Mar莽o 2016 | a prop贸sito


FATOS & CAUSOS

Dênis Fontes

CARLOS CANHEO

B

oaventura Antônio Pereira, o “Tula”, foi pioneiro na colonização de Monte Aprazível. Mineiro, veio para Monte em 1911, com a numerosa família para desbravar duzentos alqueires, no lado esquerdo do Córrego Água Limpa, abandonando mesma quantidade de terras em Monte Azul, ocupada por usucapião mais tarde, conforme consta de certidão do Cartório. Em sua extensa propriedade havia um local denominado “tuia”, que foi palco de um fato inédito, protagonizado por um grupo de idealistas, no início dos anos quarenta, época difícil da ditadura Vargas. A “tuia” ocupava uma área de mais ou menos quarenta mil metros. Era um verdadeiro pomar, com frutas das mais variadas espécies, predominando as gigantescas mangueiras da variedade espada. Era um legado dos Tulas aos viajantes que descansavam à sombra das majestosas árvores frutíferas e à população da cidade interessada em colher frutos sem serem molestados, como se estivessem no

O APARELHO quintal de suas casas ou em um enorme parque público. No local, uma casa abandonada serviu de residência por muitos anos a uma viúva, conhecida por “preta Teodora”. Essa senhora foi uma heroína, que criou sua numerosa prole sozinha, tirando o sustento da terra bruta. Filhos criados, com a graça de Deus, mudou-se para a cidade grande. A casa abandonada passou a ser utilizada como um “aparelho” (local clandestino de reunião ou moradia de dissidentes políticos). E, assim, a casa da velha Teodora, passou a ser utilizada por simpatizantes do líder comunista, Luiz Carlos Prestes. O comunista teve inúmeros simpatizantes em Monte Aprazível, como em todo lugar. Dentre eles, Sebastião da Silva Bastos, Joaquim Guimarães, Ofélia do Amaral Botelho, Antonio Siqueira e outros. Certa tarde, os simpatizantes citados e outros anônimos do “vermelho” estavam reunidos, quando discursava Sebastião Bastos para uma platéia de umas quinze pessoas. Falava sobre

um sucedido assentamento em terras devolutas na região de Andradina, local de onde chegara. A platéia ouvia extasiada. O assunto era interessante. Do lado de fora, debruçado numa das folhas da janela, espiando por uma fresta, estava um menino de uns onze anos, hoje titular do quarto cartório de Notas da cidade de S. Paulo, que também demonstrava curiosidade e interesse naquela reunião secreta, cheia de idéias que enlevavam sua fantasia de adolescente sonhador com um mundo de igualdades e justiça social, quando a janela se abriu pela pressão de seu braço. Alguém lá de dentro imaginou e gritou: “É a polícia”! Foi uma correria desenfreada, cada um para um lado. O professor Raul Vieira Luz voltou ao local dois dias depois para buscar sua “barata Ford 1929”. Ninguém prestou atenção ao menino, Osvaldo Canheo, que, assustado, também correu sem saber que, com aquele seu gesto desatento, prestou um grande serviço à força de repressão e desmantelou o “aparelho”.

a propósito | Março 2016 41


IDEIAS E BOBAGENS VÍTOR A. (DE ADOLFO) VALENTIM

A INVENÇÃO DO ROCK PAULEIRA

B

etinho da Lata nasceu antes da depressão e da formatura de Freud, que estabeleceria, bem mais tarde, a psicanálise. O desconforto neurológico dele, na época, era conhecido como neurastenia, mas no bairro rural das Canoas, da Monte Aprazível de 1898, não era doença de homem. Padecer de depressão em uma família italiana com nono, pais, seis irmãos, cunhados, tios e primos e trinta mil pés de cafés à meia, era vagabundice e viadagem, ou vagabundagem e viadice, tanto faz. Eram sovas de criar bicho, o menino chorava e o conselho tutelar não via. Era um menino arredio. Na escola, sofria bullyng dos amiginhos e cascudos da professora, a alemã dona Rueth Müller. Só se dava bem com dois negrinhos vizinhos, os irmãos Jimi e Janis, filhos de Salú, o benzedor da redondeza, para quem o padre Brito e

42 Março 2016 | a propósito

Betinho da Lata comprometeu a carreira cheirando raspas de jatobá

os médicos Nelson e Nivaldo torciam o nariz. A primeira música que Betinho ouviu foi Luar do Sertão. Uma experiência apavorante. Foi na quermesse inaugural da Capela do Sagrado Coração das Canoas, com a afamada dupla Nhô Moço e Calça Larga, com acompanhamento de Ângelo Pivaro no pandeiro. Decidiu que poderia tirar um som melhor e começou a bater lata. Enfiava a cabeça numa lata de banha vazia e batia nela (na lata, algumas vezes na cabeça) com dois porretinhos de peroba rosa, incomodando os moradores num raio de 10 quilômetros, ferindo os ouvidos dos Marques, Marcato, Polotto, Carmello, Lourenção, Cavassani, Catan, Pivaro, todas as raças das redondezas. Os irmãos Janis e Jimi achavam aquilo o máximo. Os três passavam horas ouvindo o canto das cigarras, cheirando jatobá ralado, fumando canudo de mamona seco e

tirando som debaixo de uma jaqueira no terreiro da dona Olga Santiago. O benzedor Salu acabou contratado pela Universidade Johns Hopkins para assumir a cadeira de medicina alternativa e terapias exóticas. Embarcou para os Estados Unidos com os filhos Janis e Jimi. Inspirados no som de Betinho da Lata, tiveram curta mas fenomenal carreira como Jimi Hendrix e Janis Joplin. Ainda mocinho e livre da depressão, Betinho buscou as pazes com a música formal no conservatório da professora Áurea Neves Rodrigues. Não levava jeito. Depois de uma plástica no rosto, sobrou pelanca para continuar ele mesmo e fazer o menino Lucas, filho da Luciana Gimenez. De cara nova, tornou-se empresário de sertanejos universitário. Está enrolado com a Justiça por shows sem licitação no Juninão do ano passado.


OS VEREADORES FAZEM HISTÓRIA

Monte Aprazível comemora em março 91 anos de emancipação política, com a criação do município, em 1925. Muito devemos aos homens daquela época que lutaram pela autonomia administrativa, para tornar Monte Aprazível independente de Rio Preto, mas especialmente aos cidadãos Amador de Paula Bueno, Bento Carlos de Mendonça, Indalécio Antonio Pereira, João Batista Alves, João Pedro de Oliveira e José de Andrade Junqueira. Foram os primeiros vereadores, sendo que Amador de Paula Bueno, es-

colhido como o primeiro prefeito. Até 1937, eram os vereadores, quem realmente governava, à figura do prefeito cabia apenas executar as determinações estabelecidas pelos vereadores. Hoje, a Câmara não tem mais poderes tão grandes de intervir no Executivo, mas os vereadores continuam fazendo a história do município, fiscalizando e acompanhando os atos do Executivo, sugerindo ações e, principalmente, discutindo com a sociedade os rumos de nosso desenvolvimento.

Márcio Miguel - presidente, Edgard Vicente, Gilberto dos Santos, Gilmar da Funerária, João Roberto Camargo, Lelo Maset, Marcelo Faria, Professora Adriana, Renato Jubilato.

a propósito | Março 2016 43


44 Mar莽o 2016 | a prop贸sito


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.