EXCLUSIVO João Pessoa, Paraíba - QUARTA-FEIRA, 29 de maio de 2013
A UNIÃO
Ronildo Monteiro
Coordenador de projeto da Concern
Projeto incentiva autonomia para mulheres no Cariri Nádya Araújo
A
Especial para A União
Concern Universal Brasil é uma instituição privada, sem fins lucrativos, de apoio e promoção social, voltada para a consolidação dos princípios da justiça social, da solidariedade e dos direitos humanos, ligada à Concern Universal, com base na Inglaterra, que apoia ações de desenvolvimento social em toda América Latina. O “Projeto Autonomia Mulheres do Cariri” que recebe apoio da Concern, vem contribuindo nos processos que estabelecem as condições instaladas para proporcionar o aumento da renda das famílias impulsionando sua influência na melhoria da política de geração de renda no Semiárido paraibano. Ele está sendo implementado na região do Cariri, área caracterizada por ser uma localidade de chuvas escassas e atualmente encontra-se em processo de desertificação. Esses fatores desfavorecem a produção econômica local e contribuem para a perpetuação da pobreza, comprometendo de maneira global a qualidade de vida da população. Para amenizar esse quadro, o projeto está atuando junto a cerca de 20 grupos produtivos, de mulheres trabalhadoras rurais, com a perspectiva de atender diretamente até 600 integrantes. Ao todo participam do projeto oito municípios do Cariri paraibano, são eles: São João do Tigre, Camalaú, Congo, Monteiro, Prata, Sumé, São Sebastião do Umbuzeiro e a previsão é de que o município de Soledade passe a fazer parte em breve. Na entrevista a seguir Ronildo Monteiro – coordenador do “Projeto Autonomia Mulheres do Cariri”, conta como a ação está mudando a vida nessas comunidades.
De onde este projeto nasceu? O Cunhã e o Centro Oito de Março, organizações feministas desde 2002, a convite do Projeto Dom Helder Câmara, começaram a atuar na região do Cariri desenvolvendo trabalhos na perspectiva de atuação junto a mulheres, através do empoderamento, disseminação de informação e direitos. Ao longo dos anos foram sendo inclusos mais parceiros e com a ligação estreita entre Concern Universal e o Cunhã foi reconhecida a possibilidade de se trabalhar um projeto ligado diretamente a geração de renda para essas mulheres. Ao todo quantas mulheres participam do projeto? Envolvidas com as atividades do Projeto, temos atualmente cerca de 400 mulheres, numa perspectiva de atingir 600 integrantes, até o fim de 2014. O projeto envolve mulheres que produzem a renda Renascença, que beneficiam o pescado, grupos de pesca, outras que fabricam as vassouras ecológicas, que utilizam a garrafa PET como matéria prima, e mulheres que atuam em hortas orgânicas.
Quais serviços são oferecidos pelo projeto? O projeto subsidia a realização de formações e capacitações de qualificação para o trabalho, e de encontros temáticos referentes às atividades produtivas, de melhoria dos produtos, de gestão básica para os empreendimentos, de inovações e boas práticas. Além da parte técnica, o projeto trabalha no fortalecimento das
articulações com parcerias para o acesso a crédito, para difusão de tecnologias adequadas, para a difusão das organizações das mulheres e suas atividades produtivas, para a incidência política apresentando proposições de políticas públicas para as instâncias públicas municipais, estadual e federal. É também de responsabilidade do projeto a organização de mobilizações sociais para informar e sensibilizar a população local sobre os direitos das mulheres, tais como, relações de gênero e temas ligados à violência contra a mulher. Assim como difundir campanhas da reconhecimento do trabalho das mulheres rurais.
O projeto é voltado para o público feminino do interior do Estado, houve algum motivo especial para trabalhar exclusivamente com mulheres? O Cunhã, que é uma das organizações executoras do projeto, já desenvolvia trabalhos na perspectiva de atuação junto a mulheres da região. A problemática da renda e da não valorização do trabalho feminino foram os grandes gargalos encontrados para a estruturação do projeto. As atividades práticas são antecedidas de oficinas, processos de formação e qualificação que proporcionem a preparação das mulheres para garantir um desenvolvimento sustentável de suas atividades de geração de renda.
Qual o grande feito que você destaca como fruto desse projeto? Podemos destacar histórias de grupos que auxiliamos, como
As mulheres do grupo Agripesca hoje relatam que podem comprar o que desejam com o dinheiro e que as relações com os maridos melhoraram
por exemplo, das mulheres que trabalham o beneficiamento da traíra, no município de Camalaú. Em 2011, elas que trabalharam com o desfilamento da carne, conseguiram comercializar 833 kg. Já em 2012, fecharam o ano com a produção de mais de
duas toneladas de traíra beneficiada, um crescimento de 240%. As mulheres do grupo Agripesca hoje relatam que podem comprar o que desejam com o dinheiro, que as relações com os maridos melhoraram pela valorização do trabalho feminino e apoio dos homens. Podemos notar que esta ação já é consolidada e que vem trazendo grandes benefícios para a população local. Existe alguma meta a ser batida nos próximos anos? Até o final de 2014 o projeto pretende aumentar a produção e comercialização dos produtos feitos pelos grupos em 25%, isso com as mulheres organizadas e articuladas participando de forma ativa e qualificada nas tomadas de decisões sobre políticas de geração de renda. Até o prazo final do
Projeto serão atendidas 600 mulheres e suas famílias, ou seja, cerca de três mil pessoas. Outra meta ousada é manter as participantes e a população desses municípios onde atuamos, informadas sobre os direitos das mulheres e políticas de geração de renda, ao todo são aproximadamente 83,4 mil pessoas.
Caso alguém tenha o interesse de participar deste projeto, o que deve fazer? O Projeto é destinado a mulheres participantes de grupos produtivos da região do Cariri. Quem estiver dentro destes critérios pode procurar o Cunhã ou a Concern, além de buscar informações junto aos grupos já participantes. As próprias mulheres já indicam interessadas que são convidadas a participar das atividades e se organizar produtivamente.