Jornal A União

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É tempo de camarão na culinária brasileira Página 28

A UNIÃO

João Pessoa, Paraíba - DOMINGO, 19 de agosto de 2012

Curiosidade

Jornal de Hontem

Jambo, manga e caju da “Cidade Jardim” PÁGINA 30

Navegadores fenícios podem ter passado pela Paraíba PÁGINA 26

Paraíba

História do Estado é pontilhada de curiosidades não citadas em livros Hilton Gouvêa

A

hiltongouvea@bol.com.br

história da Paraíba é pontilhada de curiosidades não citadas nos livros didáticos. Somente a perspicácia de escritores do quilate de Horácio de Almeida, Brandônio e outros, trouxeram à tona verdades nuas e cruéis, pouco divulgadas até hoje e, por isso mesmo ignoradas, pela maioria dos leitores. A data de publicação desta matéria é oportuna, pois foi por essa época, nos meados do século XVII, que os insurretos da Paraíba e Pernambuco começaram a luta contra o jugo holandês. Em Historia da Paraíba I, o respeitável Horácio de Almeida conta que Paulus de Linge, o último governador holandês da Paraíba, forçado pelos ataques dos insurretos, recolheu-se ao Forte de Cabedelo com pouco mais de 600 homens, o que restava da sua guarnição e, de lá, fugiu para a Holanda. Os índios Tapuias – Tarairiús e Cariris – , aliados dos flamengos, chegavam em bandos à Capital, pois haviam sido chamados pelo governador. Vendo este recolhido ao forte e o povo levantado em armas, voltaram logo para os sertões. De onde vieram. Essa situação, que era de grande perigo para os holandeses, iniciou em 2 de setembro de 1645, no Acampamento do Tibiri. No dia 11 de setembro do mesmo ano,

houve o famoso combate do Inhobim (a atual Lucena). Os insurretos bateram os holandeses, que registraram uma baixa de 77 homens. Dias mais tarde, num assalto ao Forte de Santo Antônio, os neerlandeses perderam 60 homens e muitas armas. Era hora da capitulação total ou da negociação. Os chefes dos insurretos paraibanos mandaram emissários ao Forte de Cabedelo a fim de negociarem com Linge a rendição por dinheiro. Já havia um precedente em Pernambuco, meses atrás, quando o comandante Hoogstraent, do Forte de Santo Agostinho, havia se rendido por boa quantia de florins e cruzados, com a conivência de seus superiores, Kaspar van der Ley e Albert Geritizs. Fernão Rodrigues de Bulhões, amigo de Linge, foi escolhido como emissário. Em sucessivas viagens ao Forte, Bulhões acertou o negócio por 19.000 florins. O segredo transpirou no meio das negociações e Paulus de Linge, querendo salvaguardar a própria reputação, prendeu e mandou enforcar Bulhões, alegando que ele era espião. Por essa época morre Servais Carpentier no Recife, o primeiro governador holandês na Paraíba. Elias Herckman já havia morrido antes, em 8 de janeiro de 1644. Fatos assim, contribuíram para enfraquecer o poderio holandês em Pernambuco e na Paraíba. Após o enforcamento de Bulhões, em 16 de setembro de 1646, cerca de 200 índios Tapuias entram na Paraíba e acometem de

surpresa o engenho Santiago Maior, de André Dias de Figueiredo e mataram mais de 80 pessoas. Thevet, um historiador francês, descreve assim um costume de adoção, entre os índios de língua tupi: “Uma virgem engravidou por encantamento. E, pelas leis indígenas, a criança não poderia ficar sem pai. Então, todos os homens da aldeia se reuniam no terreiro e cada um apresentava suas armas à criança. Aquele de quem o bebê tomasse as armas seria o seu pai adotivo”. Jaguarari, um bravo índio de Baía da Traição (PB), foi preso em 1625. Com seu nome português – Simão Soares -, ajudou Jerônimo de Albuquerque a na Conquista do Maranhão. Conspiraram contra ele e a coroa portuguesa mandou colocá-lo a ferros, na Fortaleza dos Reis Magos, no Rio Grande do Norte. “Na cela, ele fez os seus protestos: “Aqui me vêdes nu e com os sinais ainda frescos dos ferros que durante oito anos suportei, por ter me comunicado com os holandeses, em Baía da Traição, no intento de tirar minha mulher e filhos que lá estavam”. Horácio de Almeida diz que Jaguarari, mesmo assim, não traiu os portugueses. Jagurari era sobrinho de Antônio Felipe Camarão, outro potiguara de valor. Camarão, segundo Horácio, esteve prestes a passar para o lado holandês. Tal não aconteceu por causa da intervenção de Matias de Albuquerque, que o agraciou com o hábito da Ordem

“Algumas tribos Tapuias tinham o costume de matar e comer os doentes incuráveis”

de Cristo, 40 mil réis de renda e patente de capitão-mor dos potiguaras, com outros 40 mil réis de soldo. O holandês Nieuhof, em seus contatos com os Cariris afirmou que a idade de Janfuhy, um dos chefes desta poderosa nação, era de 120 anos quando o encontrou, em 1648. Ele tinha 50 mulheres e 60 filhos. Algumas tribos Tapuias tinham o costume de matar e comer os doentes incuráveis. Horácio Almeida revela que a ocupação holandesa na Paraíba durou 10 anos e nove meses. A cidade foi tomada a 27 de dezembro de 1634 e libertada a 2 de setembro de 1645. “Não se conta o período de 1645 a 1654, pois, durante ele, os holandeses estiveram encurralados na Fortaleza do Cabedelo”, completa o historiador.


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