Portfólio Koky Busnadiego

KOKY BUSNADIEGO

Minha família sempre me apoiou muito, meus pais me incentivavam a dançar e me levavam desde criança para as portas dos bailes e me deixavam dançando em cima do capô enquanto me olhavam e me cuidavam, e dali eu peguei gosto e aos 12 anos comecei a me montar. Eu comecei a sair de casa com uns 14 anos e meu pai bancava onde eu morava, porque eu não queria que a minha vida louca atingisse a vida deles e sempre houve um respeito muito grande entre nós, pai, mãe e filho, eles sempre foram minha base.

“Minha vó materna que me deu o apelido de Koky e pegou.”

O show que eu tive mais dificuldade de fazer aquilo que havia idealizado foi justamente o show que ganhei o título de Drag Queen, eu queria uma roupa de luzes que era muito difícil de fazer, meu pai era rádio técnico e ele me ajudou na construção, eu pedi algo que tivesse um peito todo de luzes que juntasse no colar de cristais que eram de um lustre antigo e que essas luzes ligassem na parte do cabelo, daí um dia meu pai chegou, me mostrou a roupa toda iluminada de rosa neon e me perguntou se era aquilo que eu queria, eu na hora me agarrei a roupa e a ele e comecei a chorar, quase estraguei a roupa, mas fiquei contente porque era exatamente como queria. Quando fui apresentar e tirei minha roupa de cima mostrando a roupa iluminada eu só escutei um “Uau! Matou a pau!” e eu já me senti, foi a única coisa que eu escutei, mas eu já sabia que tinha valido a pena, daí foi, ganhei o concurso.

Eu gasto em média R$ 150 reais com maquiagem para cada show e uns dois mil, dois mil e pouco para montar cada roupa. As pessoas me dão muito material e eu mesmo vou fazendo tudo, eu tenho também patrocinadores e empresas para os shows de fora, eu só preciso levar um ofício e todo mundo colabora.

O apoio só começou a ficar profissional quando o Pompilho me convidou para ser recepcionista do Miss Pelotas Gay no Caixeral, na época nós trabalhávamos na TV Pelotas e essa foi minha primeira montagem oficial com cachê e para um evento importante.

O Pompilho fazia desfile em todo o Rio Grande do Sul das fantasia que ele confeccionava e eu fazia parte da equipe e já me destacava depois do desfile dançando e brincando, aproveitando a festa.

“Eu costumo fazer a construção artística do show sozinha, primeiro escuto a música e a que me arrepiar é a que escolho. Vou montando a roupa e já vou me arrepiando mais, vai dando um frio na barriga, quando vejo o show está pronto.”

Não tenho uma equipe específica, as vezes levo um ajudante para me ajudar com o figurino.

Em todos os meus eventos e nas montagens das minhas roupas busco a colaboração do coletivo, sempre tive o apoio da minha família, mas quando a coisa ficava muito cara eu me vestia de Drag as 14h da tarde e ia de porta em porta pedindo colaboração e doação e todo mundo ajudava tranquilamente, eu sempre fui muito bem acolhida e essa prática se transformou, pelo menos para mim em algo como “não era só uma bixa”. Porque as pessoas olham para a gente e dizem “ai é Gay!” e ponto, cheio de reticências, cheio de pensamentos maldosos e dessas coisas.

Antes de mim tiveram outros personagens, porque sempre tem alguém que começa e abre muitas portas.

Tem uma coisa que é incrível, porque eu me monto há anos e o nervosismo ainda é o mesmo, eu começo a tremer e fica ansiosa, mas quando pego meu puncake que é a primeira coisa que uso eu me olho no espelho, me analiso e digo para mim mesmo, vamos lá! Daí já vai chegando a Koky Drag que é uma energia diferente, um humor diferente, um humor mais picante, até porque eu mesmo sou tímido se você me chamar para dançar agora eu não danço, mas se tiver de Drag subo até na catacumba, é uma transformação incrível!

Eu gosto de trazer a brasilidade nas minhas apresentações então escolho músicas brasileiras porque não é todo mundo que entende as músicas em inglês, as vezes as pessoas escutam e sentem a música pela vibração, mas não sabem ao certo o que ela significa, usar músicas em português é mais fácil para interagir com o público e para fazer as brincadeiras mais maliciosas que são tão próprias de um Drag Queen.

Utilizo músicas em espanhol também, já usei as da Talia e da Queni Porto por exemplo.

Geralmente o Show das festas tem quatro músicas, onde as duas primeiras são do show, a terceira é para interação com a aniversariante e os familiares e a quarta para interação com o público em geral.

“A minha meta com meus show é sempre o respeito e não a vulgaridade.”

Eu sou a primeira e única Drag Queen do Uruguai aqui na fronteira, as pessoas lá se impressionam e me perguntaram quando me apresentei porque eu usava as minhas roupas e não aquele padrão de peitinho de fora e bunda com tanga, daí eu respondi que era porque eu era uma Drag Queen Atualmente como não temos mais os concursos presente aqui na cidade monto em média um figurino novo por ano para os eventos que participo, mas eu escolho o show que vou apresentar de acordo com as características da festa, então varia muito.

O benefício que eu recebo disso tudo é a energia para eu seguir adiante, porque as vezes é muito pesado e é isso que me mantém. Às vezes eu sinto a necessidade de fazer eventos para relaxar e para sentir essa energia boa e seguir em frente.

“Eu depois das apresentações gosto de ir para casa descansar, eu chego sento-me, coloco meus pés para aquecer na lareira e vou retirando a maquiagem aos poucos e relembrando de cada momento do evento, conforme vou relembrando vou sentindo que valeu a pena e se eu tiver um dinheirinho no bolso melhor, eu fico satisfeita.”