astroPT Ago2011

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COSMOLOGIA

Volume 1, Edição 8

A Transferência de Energia nas Estrelas (cont.)

O

tipo de processo responsável pela

que o Sol. À medida que a massa da estrela dimi-

transferência de energia depende fun-

nui, o seu tipo espectral atravessa os tipos G, K e

damentalmente da densidade do gás

finalmente M. A diminuição da massa tem outra

(plasma) e da forma como varia a temperatura do

consequência que é a diminuição da temperatura

centro da estrela até à fotosfera. Em estrelas

do núcleo da estrela. O resultado é surpreenden-

como o Sol, com uma temperatura nuclear na

te em termos da restrutura interna da estrela. A

ordem dos 14 milhões de Kelvin, a transferência

zona radiativa, que no Sol ocupa 70% do seu raio,

de energia é feita por dois processos distintos. Do

encolhe cada vez mais à medida que a temperatu-

núcleo até cerca de 70% do raio do Sol, existe

ra no núcleo diminui até que desaparece por

uma zona “radiativa” em que a energia é transfe-

completo em estrelas com cerca de 50% da massa

rida através do fluxo de fotões de alta energia,

do Sol. Assim, nas estrelas de tipo M a transferên-

raios gama e X provenientes do núcleo, que trans-

cia de energia dá-se quase exclusivamente por

ferem parte da sua energia para as partículas e

convecção, desde o núcleo até à fotosfera. Uma

núcleos atómicos que formam o plasma desta

movimentação tão vigorosa do plasma produz dá

região. A densidade nesta região, apesar de bas-

origem a uma actividade magnética muito intensa

tante inferior à do núcleo, é suficientemente ele-

com grandes manchas estelares e “flares” inten-

vada para fazer a vida difícil aos fotões que ten-

sos, fenómenos típicos das estrelas deste tipo

tam chegar à fotosfera solar. De facto, em média,

espectral. Também as estrelas jovens semelhan-

um fotão demora cerca de 3 milhões de anos a

tes ao Sol no início da sua vida na sequência prin-

atravessar esta região até transferir a sua energia

cipal têm regiões convectivas mais profundas o

para o plasma da região adjacente. Por cima da

que, em parte, explica a sua maior actividade

região radiativa, nos 30% mais exteriores do raio

magnética. Por exemplo, a estrela alfa da conste-

solar, existe uma região “convectiva” em que a

lação da Coroa Boreal, Alphecca ou Gemma, é

energia é transferida através da colisão entre áto-

binária. A primária, uma estrela de tipo A seme-

mos, resultando em movimentos de convecção

lhante a Vega ou Sirius, é orbitada em cada 17

do plasma. O plasma, aquecido pela radiação que

dias por uma estrela de tipo G muito jovem e acti-

chega da região radiativa, sobe em direcção à

va e que é uma fonte de intensos raios X. À medi-

fotosfera arrefecendo na viagem e voltando a

da que envelhecem na sequência principal, a zona

afundar-se subsequentemente. É um processo

convectiva destas estrelas torna-se menos pro-

semelhante ao que observamos quando fervemos

funda (e a velocidade de rotação diminui) redu-

água numa panela no fogão.

zindo a actividade magnética.

Podemos agora pensar no que se passa com as

No outro sentido da sequência principal, no senti-

estrelas na sequência principal menos maciças

do das massas mais elevadas, acontece algo mais

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