30 Migmatitos e granitos: o exemplo do granito do Pedregal
culas e veios pegmatíticos, no geral concordantes com a foliação regional. Na zona marginal do Rio Douro, no contacto com o granito do Pedregal, ocorrem rochas bandadas de carácter gnaisso-migmatítico passando lateralmente a micaxistos estaurolíticos. O bandado das rochas gnaissso-migmatíticas é marcado por leitos quartzo-feldspáticos predominantes e sem foliação, alternando com níveis micáceos subordinados com foliação evidente. A associação mineral do granito do Pedregal consiste em quartzo + biotite + plagioclase + feldspato-K + zircão + apatite + monazite + rútilo ± silimanite ± alanite, e moscovite secundária. Associada à moscovite secundária e à silimanite ocorre hercinite rica em Zn. O granito do Pedregal tem uma textura holocristalina de grão fino a médio; os limites intergranulares evidenciam reequilíbrios texturais no estado sólido, mais consistente com uma textura metamórfica do que com uma textura tipicamente ígnea. O quartzo tem tendência subédrica a anédrica, e quando incluso em outros minerais assume uma forma globular. Frequentemente, os cristais de quartzo mostram inclusões de silimanite e agulhas de rútilo. A moscovite é abundante na rocha e marcada pela presença de duas gerações: uma, moscovite subédrica precoce com bordos simplectíticos, com intercrescimento e inclusões de quartzo (Fig. 3) e outra moscovite mais tardia, com birrefringência anómala e inclusões de silimanite e hercinite (Fig. 4).
As inclusões de zircão e monazite estão presentes em ambos os tipos de moscovite. A plagioclase é essencialmente albítica e as maclas polissintéticas, características deste mineral, encontram-se mascaradas pela presença de moscovitização. A plagioclase é mais abundante que o feldspato potássico, porém este último apresenta maiores dimensões. A biotite é frequentemente subédrica e ocorre sob a forma de cristais alongados, com pequenas inclusões de zircão, e quando evidencia cloritização são visíveis agulhas de rútilo (Fig. 5). Pontualmente, pequenos cristais de biotite anédrica estão associados à primeira geração de moscovite. O estudo geoquímico revela que o granito do Pedregal é peraluminoso (parâmetro A/CNK varia entre 1,18 e 1,62), com uma assinatura magnesiana e alcalina a alcalino-cálcica. Os resultados geoquímicos mostram baixos teores SiO2 (65 a 69 wt%) e elevado teor de Zr (389 a 435 ppm). Os valores de Zr poderão ser explicados pela abundância de inclusões de zircão na moscovite e na biotite. Este mineral também ocorre disperso na rocha. O granito tem elevado teor em terras raras, com um perfil ETRL (elementos de terras raras leves) não fracionado entre o La e o Nd, um forte fracionamento entre o Nd e Eu, e uma anomalia negativa em Eu bem pronunciada. O fracionamento das terras raras pesadas (Tb-Lu) é semelhante ao granito de duas micas do maciço do Porto (Almeida, 2001). A falta de fracionamento das terras raras leves poderá ser explicada pela presença de monazite (Bea, 1996).
Figura 3 –Microfotografia (NX): moscovite com inclusões de zircão e halos pleocróicos associados, e inclusões de quartzo. Figure 3 – Photomicrograph (NX): muscovite with zircon pleocroic halos and quartz inclusions.
Figura 4 – Microfotografia (NX): moscovite com inclusões de silimanite fibrolítica. Figure 4 – Photomicrograph (NX): muscovite with fibrolitic sillimanite.