

CHARA
POTA
Aventuras na Ponta do Trovao
TEXTO DE FRANCISCO FIDALGO FÉLIX
ILUSTRAÇÕES DE RUI CARVALHO
FICHA TÉCNICA
Título: O Regresso da Charapota, Aventuras na Ponta do Trovão
Edição: Arméria - Movimento Ambientalista de Peniche
Textos: Francisco Fidalgo Félix
Ilustrações: Rui Carvalho
Design: Laranja Criativa
Data da publicação: abril 2025
INTRODUÇÃO À EDIÇÃO DIGITAL
Uma vez que fiquei com a responsabilidade de conceber algo para os mais jovens sobre a divulgação do Corte Geológico da Ponta do Trovão, onde se inclui o Prego Dourado do Toarciano (Jurássico Inferior), optei pela escrita de conto infantil, baseado nas várias experiências que fomos fazendo junto dos mais novos. A designação de “Charapota” deriva precisamente de um dos primeiros passeios efetuados neste contexto, com turma do 3.º ano da Escola Básica do Filtro, realizado no dia 6 de maio de 2013. Nessa ocasião, os alunos da professora Susana Roquete atribuíram o nome de “Charapota” à nave que os transportou.
No decorrer do ano letivo 2023/2024, os alunos do 11.º AV e 12.º AV, da Escola Secundária de Peniche, sob orientação da professora Patrícia Santos, foram convidados a ilustrar o texto. Dos 15 trabalhos apresentados neste âmbito, o júri, constituído pelas professoras Diane Herholdt, Elisa Silva, Liliana Vitorino e Maria José Gonçalves, selecionou as três melhores propostas, a saber: 1.º prémio – Karoline Ramos; 2.º prémio – Rui Carvalho e 3.º prémio – Fabiana Furtado.
Para além das lembranças atribuídas, as ilustrações da Karoline Ramos figuram na primeira edição impressa do conto infantil. As de Rui Carvalho, 2.º classificado, integram esta edição digital. De seguida, indicam-se os nomes dos restantes alunos que participaram no concurso: Ana Norberto, Beatriz Henriques, Catarina Almeida, Guilherme Pires, Lara Catarino, Madalena Amâncio, Margarida Leitão, Maria do Mar Farricha, Maria Dias, Matilde Rosa, Sofia Brás e Soraia Correia.
À professora Margarida Martins agradeço as sugestões relativamente à primeira versão do conto infantil disponibilizado.

Registe-se que o apoio da direção da Associação Arméria foi fundamental para a concretização deste projeto. Saliento também o envolvimento da Escola Secundária de Peniche, nomeadamente através da dinâmica associada aos programas ambientais Eco-Escolas e Escola Azul, para se atingirem os objetivos subjacentes a este empreendimento. Recorde-se o apoio dado pelo Município de Peniche à primeira edição impressa da história.
Francisco Fidalgo Félix
Vice-presidente do Conselho Diretivo da Arméria – Movimento Ambientalista de Peniche
Trata-se de mais um contributo para a promoção da Educação Ambiental entre os mais jovens, especialmente junto das crianças que residem no nosso território. Dada a importância internacional do Corte Geológico da Ponta do Trovão e o suporte utilizado, pretende-se também divulgar o conto infantil pela lusofonia.
Jorge Maia
Presidente do Conselho Diretivo da Arméria – Movimento Ambientalista de Peniche
Chamo-me Arméria, vivo aqui, próximo da Ponta do Trovão, e com as minhas irmãs formo um tufo que vai resistindo aos ventos e à maresia.
Colocaram-me no emblema da Arméria – Movimento Ambientalista de Peniche – por ser uma planta muito apreciada pelos habitantes deste território.



Tenho orgulho nas minhas flores cor de rosa, que muitos insetos apreciam, nomeadamente as formigas. Elas também nos ajudam, pois algumas sementes ficam esquecidas nas tocas e depois germinam. Daqui, também posso ver de longe as minhas primas que vivem no arquipélago das Berlengas.
Meus amigos, sei que vêm de uma escola onde vos ensinam assuntos muito interessantes, mas comigo vão viajar até ao passado.
Sabem que, no dia 25 de julho de 2016, vieram aqui uns senhores muito importantes colocar um Prego Dourado?
Não, não é de ouro, mas representa uma grande distinção para Peniche, ou seja, é o melhor local do mundo para compreender certos acontecimentos do Jurássico Inferior.



Fechem os olhos e vão entrando para a nave cósmica Charapota. Apertem bem os cintos que vamos partir, mas não tenham medo, e gritem bem alto: “Um, dois, três, a Charapota vai voar mais uma vez”.


Das partes laterais do aparelho desenrolaram-se umas asas enormes com um feitio idêntico às dos gansos-patolas, que por aqui passam em migração. O barulho foi ensurdecedor!
Quando abrimos os olhos estávamos a sobrevoar um mar.
O mostrador do comandante da nave indicava que tínhamos recuado 184 milhões de anos.

Antes de mergulhar nas águas da Bacia Lusitânica, as asas transformaram-se em potentes barbatanas e ouviu-se um ligeiro chapinhar.

As luzes acenderam-se e os meninos e as meninas começaram a observar pelas vigias.
– Tantas lulas! – gritou a Jacinta. – E ali um polvo com concha de caracol. – disse com entusiasmo o Januário.



O fundo do mar estava coberto de algas verdes, castanhas e vermelhas. A Charapota passou rente ao fundo e a Arméria pediu para prestarem atenção aos bivalves enterrados na lama e aos braquiópodes que estavam pousados numa alga muito recortada.

– Olhem para aquela zona plana do lado direito. – referiu a Arméria.
– Estão ali uns animais estranhos a esconderem-se nas tocas, enquanto outros varrem o fundo à procura de alimentos. Também vi passar um náutilo. – disse o Joaquim.


– Cuidado vem uma avalanche do lado do Bloco das Berlengas. – avisou alguém.
O comandante Jorge carregou com rapidez no painel de controlo e as pesadas barbatanas deram origem a umas estruturas mais leves, como as peitorais de um peixe-voador. Depois a turma gritou: “Um, dois, três, vamos lá para cima outra vez”. A nave saiu suavemente do mar e aterrou exatamente na Ponta do Trovão.

A Arméria mandou sair os jovens viajantes, ainda surpreendidos com o que tinham presenciado. Nisto, apareceu a professora Joana que, com ajuda de uns pósteres, relacionou os animais observados na descida ao mar do Jurássico com os fósseis observados nas camadas que constituem as rochas da zona. Mostrou como viviam as amonites e as belemnites.
Explicou que, se tivessem continuado a viagem, ainda veriam a extinção de alguns animais marinhos, o que aconteceu numa época em que a Terra estava zangada e havia muitos vulcões em erupção.
Ainda foi possível espreitarem uma rocha cónica que os penicheiros chamam “Boneca”.
E a professora Joana ainda teve tempo para dizer que do outro lado da baía existem vestígios de atividade vulcânica. No entanto, essas rochas vulcânicas presentes na Papôa, não são do Jurássico.

– A Charapota poderia ir lá num instante. – referiu o João. Olhou e já não a viu. O comandante Jorge também tinha desaparecido.
Depois a professora indicou que a Ponta do Trovão faz parte da Reserva da Biosfera das Berlengas e é um dos pontos principais do Geoparque Oeste.
Os meninos fizeram uma grande roda à volta da Arméria e agradeceram a fantástica visita de estudo. A Arméria, com as lágrimas a correrem pelas finíssimas folhas, despediu-se e pediu aos meninos que não deixem estragar a Ponta do Trovão. Os alunos das outras escolas também querem ver os fósseis. E atenção, atenção, nada de lixo no chão! No regresso à escola a alegria foi muita, mas tiveram muito cuidado durante o caminho.
