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LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012 2 2 4 4 6 7 8 8 9 11 13 17 28 32 35 36 38

Editorial Saber envelhecer por Joaquina Cadete Phillimore Atividades da AAAIO e suas sócias Museu de Macau por Maria Helena Cavaco Exposição de presépios por Maria Helena Cavaco Roupa de bebé para Mueda por M. Margarida Pereira-Müller D. Januário Torgal celebra missa pascal no lar da AAAIO Banco Alimentar contra a Fome – Arroja Uma insigne viajante... por Joaquina Cadete Phillimore 9 de Março, Dia da Antiga Aluna por M. Margarida Pereira-Müller Escolas com educação diferenciada e em regime de internato por Joaquina Cadete Phillimore Pela causa e pela Casa por Ana Maria Pinto Soares Hoeppner Relatório das atividades da AAAIO no ano de 2011 Relatório de contas por Renato Cordeiro Demonstração de resultados Almoço de curso por Teresa Magalhães Museu Nacional dos Coches por Maria Helena Cavaco

40 Agenda 41 41 45 49 52

O que é feito de ti, AA? Isabel Oliveira Marques por Helena Caixeiro e Eduarda Caixeiro Teresa Cunha Lopes por M. Margarida Pereira-Müller Salomé de Almeida por Manuela Barbosa Por aí... por Salomé Pereira de Matos

54 In Memoriam 55 Porque as lágrimas queimam por Lurdes Guerreiro 56 56 57 57 58 58 59 60 61 62 63 64 65 65 66 67 67 68 69

Notícias do IO O 8.º ano do IO no Adventure Park (Parque Aventura) Visita de estudo à fábrica de papel Renova Classe Especial de Ginástica representará Portugal na Gala União Europeia de Ginástica Concurso de Admissão ao Instituto de Odivelas – Infante D. Afonso – 1.ª fase Felizmente Há Luar! na Malaposta Visita de estudo guiada ao Parque Natural Sintra-Cascais Balanço da Semana das Línguas, Culturas e Artes do Instituto de Odivelas de 2012 IV Festival dos Três Estabelecimentos Militares de Ensino Que situação...! por Sílvia Catarina e Inês Liziário Comemoração do Dia Mundial da Árvore e da Floresta no Instituto de Odivelas Mais uma vitória em Voleibol Festa de Carnaval do Instituto de Odivelas 2012 Menção Ouro no 4.º Gym for Life para O Instituto de Odivelas Instituto de Odivelas na Rádio Renascença Antiga Aluna ganha maior Bolsa Europeia de Investigação Cantar as Janeiras Noite cultural no Instituto de Odivelas Campeonato de Esgrima do Exército de 2011 – Resultados

70 À Conversa Com... 70 Triformasdarte por Joaquina Maria Cadete Phillimore 73 Destaque 73 Maria Joaquina Madeira, coordenadora do Ano Europeu para o Envelhecimento Ativo e Solidariedade entre Gerações por Joaquina Cadete Phillimore 76 76 79 81 83 85 87

Ideias Soltas A obesidade na terceira idade por Joana Oliveira, Maria Ana Carvalho e Ana Rito Já circumnadou uma ilha? por M. Margarida Pereira-Müller Lagosta à sombra do embondeiro por M. Margarida Pereira-Müller Paleta de cores vivas por Maria de Lourdes Sant’Anna O tempo, companheiro do nosso destino por Noémia Leitão O meu 25 de abril por Eduarda Caixeiro

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EDITORIAL

EDITORIAL

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Joaquina Cadet e Phillim ore – AA Nº 193/196 0

A arte de envelhecer

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m 2012, celebra-se o Ano Europeu para o Envelhecimento Ativo e Solidariedade entre Gerações, donde nada mais apropriado que refletir um pouco sobre o modo como encaramos esta fase da vida. Fase da vida nem será a expressão mais adequada já que o envelhecimento é um processo que se inicia na conceção e termina na morte e que é diferente de velhice que, essa sim, é a fase da vida entre a idade adulta e a morte.

Neste início do século XXI, em que se prevê a inversão da pirâmide etária – em 2021, haverá 127.4 idosos para cada 100 jovens com menos de 14 anos – forçoso é que se comece a pensar em como se deve preparar um envelhecimento saudável.

Agostinho da Silva, sábio ancião (por oposição a velho no sentido depreciativo do termo), escreveu em As Aproximações “…Lembrai-vos de viver antes de quererdes saber o para quê; e verificareis que, tendo vivido, a pergunta deixa de ter sobre vós o seu peso terrível.” Este pensamento mostra uma filosofia de vida baseada no presente que tantos se esquecem de viver de tão preocupados que estão em relembrar o passado que já passou e temer o futuro que poderá nem chegar.

“Pensar como podemos e devemos preparar a velhice… evitará muita tristeza e situações desagradáveis”

Francesco Alberoni, jornalista e sociólogo italiano refere, num artigo de 23.10.2011, intitulado “Para nos mantermos sempre jovens temos de abrir o coração e a mente” e cito:

“Velho é quem não evolui. Para permanecer psicologicamente jovem, o exercício e as operações estéticas servem de pouco. É preciso um coração e uma mente abertos, aceitar a humanidade em todas as suas formas, observar, estudar o que é novo, tentar compreendê-lo, não seguir a manada, não seguir as modas, não se deixar arrastar pela corrente, pensar pela própria cabeça, viver as emoções, procurar o que é intenso e essencial e rejeitar o resto. E ainda …Basta cultivar as nossas qualidades humanas. Há muitas pessoas que ficam psicologicamente velhas com trinta anos porque se encerram em hábitos, preconceitos e horizontes ideológicos, não aceitando o que é novo ou diferente.”

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EDITORIAL

Saber envelhecer não se reduz a esforços para manter, a qualquer custo, um corpo desajustado à idade cronológica, mas sim aceitar que envelhecer faz parte da vida e que podemos, em qualquer altura, começar, melhorar ou melhor ainda manter uma vida saudável. A Direção Geral de Saúde no seu portal www.dgs.pt disponibiliza muitas ferramentas que podem ajudar cada um de nós a saber envelhecer e os que já estão na velhice a saber vivê-la plenamente. A título de exemplo cito o excerto da pg 30 do Guia para as pessoas idosas (1) com o título “A idade não é uma doença”: “Muitos idosos mantêm um bom estado de saúde. Continuarmos a sentir-nos bem e saudáveis na velhice, depende, em grande parte, de cada um de nós. Ninguém permanece saudável sem nada fazer por isso…”. E nos tempos que correm, há, como nunca, uma oferta direcionada a esta faixa etária que vai desde o exercício físico adaptado, à aprendizagem de línguas (estudo canadiano divulgado em 2010 apontou que o bilinguismo pode ajudar a atrasar, em até cinco anos, o aparecimento dos sintomas de Alzheimer), ao lazer especializado, à informática. A maior parte de nós evita pensar no envelhecimento. Contudo, agir no sentido de tomar medidas preventivas é determinante para vivermos uma velhice com qualidade. Pensar como podemos e devemos preparar uma velhice sem depender inteiramente dos filhos ou de outros familiares ou amigos evitará muita tristeza e situações desagradáveis. Não falo da saudável e desejável entreajuda que deverá sempre existir entre gerações, mas sim de um “laissez faire laissez passer” esperando que tudo corra da melhor maneira e que, às vezes, traz dissabores que poderiam ter sido evitados. Há opções que, vistas a anos de distância, podem fazer a diferença. Dou como exemplo, para reflexão, dois casos, um mais comum do que seria desejável e outro bastante incomum que fazem ainda a diferença na vida das respetivas pessoas. O primeiro diz respeito a quantos, pensando deter sempre a vitalidade inicial, não pensaram ou não quiseram fazer nem um pé-de-meia nem, como era uso, à época, descontar para os serviços competentes prevendo assim uma reforma adequada (mesmo em tempo de crise como a que atravessamos). O outro caso foi-me relatado recentemente e mostra uma Mulher visionária, com apenas 24 anos, nos anos 40 do século passado. Já de casamento marcado e com viagem prevista para acompanhar o futuro marido em África, percebeu que se trabalhasse mais cinco meses, antes de pedir uma licença sem vencimento, ficaria, vitaliciamente, com todos os direitos que a empresa empregadora proporcionava. Não hesitou e essa opção, excecional à luz da época vigente, veio-se a revelar vital nos direitos que tem, em termos de saúde, por exemplo. Exorto pois Todas e Todos os que preparam um envelhecer saudável e feliz e Aquelas e Aqueles que já vivem essa fase da vida que não se esqueçam que somos nós os responsáveis principais das nossas opções, ainda que possa haver situações que as favoreçam ou dificultem. Falo, por exemplo, do facto de não haver respostas compatíveis com a esperança de vida, quer em equipamentos sociais quer, em número suficiente, em reais respostas de saúde. E se alguma vez sentirem saudades do passado, não faz mal, sigam o conselho de Carlos Drummond de Andrade: “Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar” e fica feito!!! Consultar: www.dgs.pt http://envelhecer.org/ LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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ATIVIDADES

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Maria Helena Cavaco – AA Nº 218/1954

Museu – Centro Científico e Cultural de Macau

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erminámos o ano de 2011 com a visita ao Centro Científico e Cultural de Macau. Este museu está situado na Junqueira, uma zona de Lisboa rica em palácios (dos Marqueses da Ribeira, Burnay, de Lázaro Leitão, etc.). O edifício onde se encontra instalado o Museu – pertenceu, no século XIX, à Quinta Burnay, onde se desenvolveram várias obras sociais e teve como epílogo, após o 25 de Abril, o IARN (Instituto de Apoio aos Retornados do Ultramar). A guia que acompanhou o nosso grupo começou a visita mostrando-nos a última bandeira portuguesa, que o general Rocha Vieira (governador de Macau de 1991-1999) arreou pela última vez e pudemos simultaneamente observar o retrato deste General da autoria do pintor Pinto Coelho em 1999.

Continuando a visita ao museu foi-nos explicada a origem da palavra Macau. Diz a lenda que nasce do nome de uma jovem, que viajava num barco de pescadores e quando se levantou uma tempestade ela conseguiu que esta se acalmasse e evitou o naufrágio. Ao chegar a terra subiu aos céus num halo de luz e em homenagem à que consi-

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deraram uma deusa A-Má foi construído um templo nessa baía. Quando os Portugueses chegaram e perguntaram o nome do local, os Chineses responderam, A-Má, que em cantonês se diz A-Ma-Gao. Em breve esta palavra se transformou em Macau. Um dicionário português-chinês com mais de 2000 termos com as diferentes grafias prendeu a atenção do nosso grupo. Toda esta visita se desenrolou numa atmosfera de penumbra, que se identificava com o aspeto oriental que nos circundava. Imagens de grande beleza e pormenor das diferentes religiões da China (budismo, confucionismo, taoísmo) estão exibidas e foram-nos descritas. Os biombos Namban (palavra que significa bárbaros do sul e foi o termo com que os japoneses designaram os europeus) são para lá da sua beleza, um exemplo de como contar uma história. Normalmente as suas pinturas estão relacionadas com as viagens marítimas ou com cenas de comerciantes em que “os europeus” são sempre representados com um grande nariz. O requintado tratamento do reverso confirma que

se destinavam a espaços de grande cerimonial. Foi-nos, em seguida, mostrado o grande acervo deste museu no que toca a porcelanas chinesas e a Guia chamou a atenção dos nossos residentes para algumas peças: os leques em marfim, os diferentes cachimbos utilizados para o ópio, instrumentos musicais e trajes lindamente bordados.

Terminámos mais uma visita, que muito agradou aos nossos residentes e às voluntárias que os acompanharam.

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Maria Helena Cavaco – AA Nº 218/1954

Exposição de Presépios

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inda dentro da última Quadra Natalícia, visitámos a exposição de Presépios do Mestre José Franco, inaugurada pelo Presidente da República na Galeria dos Viveiros no Palácio de Belém. Acompanhadas pela Guia Mafalda, que reconheceu algumas das nossas residentes de uma anterior visita a este Palácio, atravessámos o Jardim da Cascata onde nos deu algumas explicações sobre as esculturas deste jardim.

O Mestre José Franco é conhecido de todos e a sua casa na Sobreda onde, com a sua arte, nos dava a conhecer as aldeias dos arredores de Lisboa, o trabalho rural, moinhos movidos a água, atividades da pesca, tudo executado em barro da sua região, tendo sido visitada por várias gerações. Foi pois deste oleiro que pudemos observar inúmeros presépios, quase todos da coleção da família. Só um dos presépios é que tinha as figuras dispersas, todos os outros eram em sino ou em castelo. A expressividade das figuras, em que nenhuma se repete, foi observado por todos os nossos residentes. Em todo este trabalho teve parte ativa a sua mulher. Era ela que fazia as tintas, dum modo artesanal, juntava os pigmentos e os diluentes que depois eram aplicados nas figuras. Após a sua morte é notória a diferença das cores, como nos fez notar a nossa Guia. Como o dia estava soalheiro, os residentes que não estavam cansados ainda foram apreciar a magnífica vista sobre o Tejo que se nos apresenta dos jardins deste palácio.

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Roupa de bebé para Mueda

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ara muitas de nós, Mocimboa do Rovuma é um nome familiar. Os nossos pais estiveram lá durante a guerra colonial. Para mim, Mocimboa do Rovuma, Mueda, Tenente Valadim eram locais onde a guerra colonial significava mesmo guerra. Onde havia muitas ações dos “turras”, como eram chamados os elementos da guerrilha que lutavam pela independência de Moçambique (e das outras colónias). Lugares inóspitos, no meio do mato onde as famílias não tinham lugar.

Ao tornar-me adulta, comecei a interessar-me por esses momentos da minha história familiar que era ao mesmo tempo parte da história de Portugal. Este ano, resolvi ir até Mueda e Mocimboa do Rovuma para aclarar de vez as minhas fantasias. Na preparação da viagem, reli todos os aerogramas que o meu Pai nos escreveu de Mocimboa do Rovuma e fiz várias investigações quer nos arquivos militares quer na internet. Queria ir visitar esses lugares mas não queria ir de mãos vazias. Afinal, era como “ir à terra”, pois lá “vivi” através dos aerogramas do meu Pai entre novembro de 1969 e meados de 1971 – e ninguém vai à terra sem presentes. Através da AAAIO recolheram-se 20 kg de roupa de bebé. A Lufthansa associou-se à ação e ofereceu uns sacos com chinelos. Foi assim equipada com dois grandes caixotes que partimos de Lisboa no início de fevereiro. Porém, ao chegarmos a Mueda, começou a cair uma chuvada típica da época húmida que transformou parte da picada entre Mueda e Mocimboa do Rovuma num verdadeiro rio. Que fazer? A estrada estava intransitável e assim se manteria nos próximos dias. Nós só tínhamos mesmo aquele dia. De repente lembrei-me que tinha visto um sinal para o Hospital Rural de Mueda. Fomos até lá. Falámos com a direção do hospital na pessoa do Senhor Macassar Cheia, chefe da contabilidade, e lá deixámos os 20 kg de roupa de bebé da AAAIO e os chinelos da Lufthansa. Ficaram felizes ao ver tanta roupa linda, em parte nova. Não cumprimos a nossa missão. Mas ajudámos um grupo de bebés que frequenta o Hospital de Mueda e assim indiretamente a população de Mocimboa do Rovuma.

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D. Januário Torgal celebra missa pascal no lar da AAAIO

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ceitando um convite feito pela Presidente da Direção, D. Januário Torgal, Bispo das Forças Armadas, prontamente se disponibilizou para visitar a Nova Casa e celebrar uma missa – uma honra para a AAAIO

e a Nova Casa.

Na homilia, D. Januário dirigiu-se principalmente aos residentes do lar enfatizando a benesse de poderem usufruir do carinho e da assistência tão cheias de Amor e Solidariedade, o espírito e calor tão humano e requintado prestado por quantos trabalham na nossa Casa, tentando suavizar as

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amarguras da incapacidade e dos condicionamentos que a idade já avançada lhes inflige. Ao visitar as nossas instalações depressa se apercebeu do espírito e da obra realizada, que muito o impressionou. Elogiou as instalações modernas e de gosto requintado o que aliás “outra coisa não seria de esperar das meninas de Odivelas”.

Banco Alimentar contra a Fome - Arroja m dezembro, o cabaz do Natal foi distribuído pela última vez nas antigas instalações do bairro da Arroja onde anteriormente funcionou o ATL “Ser Cidadão em Odivelas”.

Presentes estiveram os dois funcionários da AAAIO, voluntários e a funcionária da JFO, Cândida Silva que nos apoiam na elaboração e distribuição dos cabazes além da Presidente da Direção e da Vogal Madalena Carvalhosa Pessoa.

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No final do mês de maio, o BACF da AAAIO passou para as novas instalações cedidas pela CMO, também na Arroja, onde com melhores condições e acessibilidades poderá prosseguir a sua misssão de solidadiredade para com a população carenciada daquela zona.


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J oaquina Cadet e P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

Uma insigne viajante…

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o anedotário que sempre envolve os políticos, contava-se que, quando o presidente Hailé Salassié da Etiópia fez uma visita de estado a Portugal em 1957, o Presidente Américo Tomás, à despedida, lhe teria dito: “Adeus insigne viajante” ao que Salassié teria respondido: “Adeus insigne ficante…”

Não me lembro como começou, mas entre mim e a Guida Pereira Müller está instituída, por graça, esta forma de despedida, cada vez que ela viaja e confesso que, dadas as vezes que o faz, me começo a preocupar com a minha insignificância!

A Guida e a família são uns verdadeiros globetrotters e o que admiro neles e nela em particular, por ser quem conheço há mais tempo (desde sempre), é o espírito com que organizam as suas viagens. Tendo já visitado os cinco continentes, partem com uma curiosidade intelectual e somática que os faz viver intensamente todos os momentos de cada viagem. E, Em qualquer aventura, quando voltam, trazem para partilhar com os Amigos e quem mais quiser ver o que importa é partir, um pedaço dos países que visitaram nas não é chegar fotografias, nos escritos, nos objetos de texturas variadas, nos pratos típicos que logo ensinam a confecionar, transmitindo os odores percecionados, conseguindo, assim, estabelecer fortes sinestesias. Não foi diferente a viagem ao Tibete, no ano de 2010 e, mais uma vez, partilharam conosco na nossa sala do Conventinho, a exposição sobre esta viagem, há muito desejada e que ainda permitiu uma ida à Expo em Xangai. Percorremo-la “com todos os sentidos” e ouvimos as explicações entusiasmadas de Hans Jurgen Müller que acompanharam o vídeo que nos transportou a lugares e a situações, algumas extraordinárias como a Roda de Oração que contem mantras (orações tibetanas). O objetivo é fazê-la rodar, permitindo a quem não sabe ler “rezar” e pôr em movimento a energia, beneficiando assim da sua ação. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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Caso não tenham podido visitar a exposição, podem ler um outro relato na revista Fugas (link) ou no blogue da Margarida “Assim vai o Mundo” (http:// assimvaiomundo.blogspot.com). Melhor do que eu, escreveu Miguel Torga, no seu poema Viagem, sobre a forma como vejo estes insignes viajantes:

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“Aparelhei o barco da ilusão E reforcei a fé de marinheiro. Era longe o meu sonho, e traiçoeiro O mar... (Só nos é concedida Esta vida Que temos; E é nela que é preciso Procurar O velho paraíso Que perdemos). Prestes, larguei a vela E disse adeus ao cais, à paz tolhida. Desmedida, A revolta imensidão Transforma dia a dia a embarcação Numa errante e alada sepultura... Mas corto as ondas sem desanimar. Em qualquer aventura, O que importa é partir, não é chegar.” In Câmara Ardente


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9 de Março Dia da Antiga Aluna omo todos os anos, a AAAIO celebrou a data da sua fundação, 9 de março de 1919, comemorando o Dia da Antiga Aluna no IO. Ao final da tarde do dia 9 de março, reuniram-se na chamada Sala do Teto Bonito, o antigo refeitório das freiras, algumas dezenas de antigas alunas, convidados, alunas e professoras do IO.

A sessão comemorativa começou com umas palavras de boas vindas do diretor do IO, Coronel José Serra. Joaquina Cadete Phillimore, presidente da Mesa da Assembleia Geral, falou de seguida, abordando uma temática muito pertinente: uma educação diferenciada e em regime de internato. Faz ainda sentido nos tempos atuais uma escola só feminina e em regime de internato, com as características do IO? Muitas são as vozes a favor. Segundo vários investigadores, “as escolas em regime de internato propiciam um ambiente equilibrado […] uma vida diária mais calma, que respeita o ritmo psicológico e biológico das crianças e adolescentes que estudam e vivem nessas escolas, durante alguns dias por semana. […] No plano curricular, um colégio interno proporciona a não dispersão das alunas, e permite usufruir de um amplo Este ano homenageámos leque de atividades extra curriculares, três Antigas Alunas sem deslocações que fazem perder tempo e energias. No plano de desempenho muito dedicadas académico, turmas mais pequenas […] à nossa Associação permitem que os professores conheçam bem cada uma das jovens a seu cargo, o que nem sempre é possível em escolas com turmas de dimensão exagerada”. Joaquina Cadete Phillimore terminou a sua alocução concluindo que muitos são os benefícios dum ensino diferenciado e em regime de internato. Ana Maria Pinto Soares Hoeppner, presidente da direção da AAAIO, falou sobre a Casa e a Causa, tendo feito o louvor às três Antigas Alunas que este ano foram homenageadas pela sua dedicação à nossa associação: Fernanda Ruth Jacobetty Vieira, AA 152/1955, Maria Emília Canelhas Pinhão, AA 82/1951, e Maria Helena Caldeira, AA 341/1958. As três caracterizam-se por serem sócias empenhadas e ativas. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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Seguiu-se a entrega dos prémios Maria das Neves Rebelo de Sousa. A sua neta, Mariana Rebelo de Sousa entregou o prémio às melhores alunas do 6º, 9º e 12º anos do ano letivo passado: 6º Ano M. Beatriz Rainha M. Antunes dos Santos

(Nível 5)

9º Ano Ana Marques Gorjão

(Nível 5)

12º Ano Ana Luísa Freire Nascimento

(20 valores)

Este ano houve ainda a entrega do prémio que o Rotary Club de Odivelas atribui ao melhor aluno do concelho que em 2010/11 foi uma aluna do IO: Ana Luísa Freire Nascimento. A sessão comemorativa do 93º aniversário da AAAIO terminou com um momento musical a cargo de Susana Moody que deliciou a assistência com duas canções medievais de D. Dinis. Paralelamente esteve patente na Sala de Recreio uma exposição sobre as atividades da AAAIO, organizada pela AA Fernanda Ruth Jacobetty Vieira.

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J oaquina Cadet e P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

Escolas com educação diferenciada e em regime de internato*

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umprimento as Individualidades presentes que mais uma vez quiseram associar-se a este importante dia para nós, cumprimento a Mesa, em particular o Sr. Diretor do IO que tanto acarinha a nossa Associação, cumprimento Susana Dinis Moody, filha de uma professora do IO que tem acompanhado gerações de alunas e por fim, the last but not the least as queridas alunas, antigas e atuais.

No dia em que se comemora o 93º aniversário da AAAIO, enquanto AA, mantenho o que afirmei, no ano passado, que a mesma tem de ser sempre um elo entre o passado e o futuro desta casa. É por esta razão que todo e qualquer assunto que diga respeito ao Instituto de Odivelas constitui naturalmente motivo de interesse ou preocupação para a AAAIO. Assim, este ano vou aprofundar um assunto que já aflorei no editorial da 1ª Laços de 2012, a saber: a continuação ...a passagem pelo IO dos três EME, e, no caso que nos interessa em particular do Instituto de Odivelas. consolidou amizades

e cumplicidades...

Que fique bem claro que não é da competência direta da AAAIO a advocacia da manutenção do IO, mas é certamente da nossa competência colocarmo-nos ao lado da Direção desta casa, exercendo até algum magistério de influência junto de várias instâncias, opinião pública incluída, nesta matéria.

Sobre o assunto, temos ouvido várias opiniões, alguns dislates e a pergunta que se coloca não é “porquê um colégio feminino com tutela militar (mas que tem uma grande percentagem de alunas oriunda de famílias que não estão ligadas à vida militar) mas sim se faz sentido, no século XXI, uma escola só feminina e em regime de internato, com as características do IO.

* Discurso proferido no dia 9 de Março. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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Comecemos pela questão do internato, uma vez que é opcional e só as alunas e os Pais, que querem ou podem, optam por esse regime. Lançámos a discussão numa página de AAIO, no facebook (FB) e podemos dizer que a mesma foi, no mínimo, animada. Não é difícil entender que, quer pôr as filhas numa escola interna quer frequentá-la, não é uma decisão fácil. A separação física da família para as mais novas, a adaptação a um ambiente e regras novos não são de somenos e a pergunta que muitas fizeram é se não se obteriam os mesmos resultados e experiências numa escola apenas em regime externo. Algumas das AA que discutiram o assunto no FB consideraram e cito “que o internato demite a mãe do seu papel de acompanhar os filhos e de ser um pilar na sua educação” (o que me surpreendeu, uma vez que no sec XXI, seria mais adequado falar também do Pai) ou ainda que só se justificaria “para adolescentes que vivessem longe, ou que tivessem família ausente”. Outras, no entanto, consideraram que “não era de todo uma demissão da mãe e se o colégio for bom é uma oportunidade como outra qualquer. Aprende-se a fazer sacrifícios logo de pequeninas, o que muitas pessoas não sabem o que é”, concluindo uma delas que “nos quatro anos que estivera no IO, dos 9 aos 13, sempre sentira a mãe, irmã e irmão muito presentes na sua vida.” Outras ainda consideraram “os externatos mais saudáveis” e que, sem pôr em causa a preparação que o IO nos deu 14

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e dá, “as nossas filhas devem saber adaptar-se às coisas boas e menos boas da sociedade e que é, no seio da família, em conjunto com as escolas, que se devem formar as pessoas”. Ainda colocam, no entanto, a hipótese de, no caso de famílias “descaracterizadas”, ou que precisem de tomar essa opção, um colégio interno poder ser uma alternativa, mas sempre uma alternativa! O ano passado, no dia da AA, abordei a hipótese do IO poder ser uma espécie de escola imã (magnet school) (Laços 2/2011) por isso, desta vez, achei que seria atual falar do regime de internato e com educação diferenciada, ou seja separada por sexos. Partindo das opiniões acima, que agradeço e que enriquecem a discussão, considero, e baseio-me, não apenas em conceções próprias mas também em investigação nesta matéria, que, em geral, as escolas em regime de internato propiciam um ambiente equilibrado. Sabemos todos que há exemplos de má conduta em internatos por parte de quem deve zelar pelos educandos e educandas, mas, felizmente, não é o caso do IO. Podemos ainda considerar que o regime de internato, propiciando uma vida diária mais calma, respeita o ritmo psicológico e biológico das crianças e adolescentes que estudam e vivem nessas escolas, durante alguns dias por semana. Para além disto, numa época em que assistimos diariamente, pelos mais diversos motivos, a um crescendo de famílias menos “organizadas”, digamos assim, considero que uma escola inter-


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na efetivamente pode contribuir para estruturar algumas jovens cuja família, também por motivos vários, parece ter dificuldade em o fazer. No plano curricular, um colégio interno proporciona a não dispersão das alunas, e permite usufruir de um amplo leque de atividades extra curriculares, sem deslocações que fazem perder tempo e energias. No plano de desempenho académico, turmas mais pequenas, como as que o IO ainda tem, permitem que os professores conheçam bem cada uma das jovens a seu cargo, o que nem sempre é possível em escolas com turmas de dimensão exagerada. No plano pessoal, praticamente todas as AAIO são unânimes em afirmar que o IO consolidou as amizades e as pequenas cumplicidades. Não querendo fulanizar, dou o meu testemunho em que, devido à mobilidade do meu Pai, igual à de outros militares à época, fiz os quatro anos da escola primária, hoje 1º ciclo, em três escolas diferentes e as amigas que tenho são essencialmente do tempo em que andei no Instituto. No plano familiar, o tão falado afastamento da família já não é um problema real. As alunas telefonam amiúde aos Pais e irmãos, aos amigos que estão fora, correspondem-se por mail e através das redes sociais. E, no caso do IO, entram no domingo à noite, saem quarta à tarde voltam na quinta de manhã para sair para fim de semana na sexta à tarde. Convenhamos que não é o mesmo afastamento que algumas de

nós enfrentaram quando entraram no IO, num qualquer dia 7 de outubro e só voltaram a casa para as férias de Natal. Passemos agora a outro assunto polémico, nos dias de hoje, o ensino diferenciado, ou seja separado por sexos, e volto a repescar algumas opiniões expressas por AAIO nas redes sociais. Umas de forma mais contida escreveram: “Não creio que haja vantagens na separação de géneros, a sociedade não é assim. Não sei se em termos de desenvolvimento terá algumas vantagens eu não as consigo ver” e “… colégios só femininos ou só masculinos já não fazem muito sentido no século XXI, creio que todos ganhamos com a aprendizagem mista” .Outras, num estilo mais radical, afirmaram “…educação SEM separação de géneros! Numa família não se separam os filhos e as filhas, assim também deve ser na sociedade”. Mas também houve as consensuais que disseram “… em todo o caso penso que disciplina e respeito pelo “outro” são fundamentais em qualquer contexto e a única forma de evitar o caos.” Os académicos defensores do ensino diferenciado, como David Chadwell, que esteve há pouco tempo em Portugal, e Carol Gilligan, entre outros, alegam que o mesmo promove a igualdade de educação para as jovens, no caso que nos interessa, porque melhora o seu rendimento académico em disciplinas em que elas tendem a atrasar-se (matemática, ciências, tecnologia) e favorece uma maior participação feminina em profissões tradicionalmente ocupadas pelos homens. Em Portugal, além do IO, nos últimos 35 anos, também os LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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colégios Fomento fazem educação diferenciada, com base no princípio que rapazes e raparigas crescem em ritmos diferentes. Também os interesses e forma de olhar o mundo e a vida são diferentes. Os países onde se tem feito mais investigação são aqueles onde há uma tradição de escolas com ensino diferenciado, aliado ao regime de internato. Falamos dos EUA e do Reino Unido, por exemplo. Numa entrevista ao New York Times, o director do secundário da Masters School de Nova York refere “que o período em que os jovens estudam separados corresponde à idade mais crítica na vida de um adolescente”. Nos Estados Unidos e no Reino Unido há mesmo uma fórmula mista em que jovens do sexo masculino e feminino estudam juntos na primária e no secundário, e em classes separadas nos conflituosos 13 aos 16 anos de idade. Falamos aqui de escolas públicas como as escolas imã atrás citadas, já que, em regime de internato, a separação por sexos se mantém ao longo de toda a escolaridade ministrada nestes colégios. (A título de curiosidade, Michelle Obama estudou numa escola imã). Carol Gilligan, já citada, professora da Universidade de Nova York e autora de vários livros sobre psicologia feminina na adolescência afirma que “…as raparigas de 11 anos têm confiança em si mesmas e aos 16 estão confusas”, e está convencida de que “serão mais criativas e audazes se, nesta etapa, beneficiarem de uma educação diferenciada”.

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Podemos ler num texto de 2011 do Conselho Independente de Escolas do Reino Unido (Independent Schools Council 2011) dez razões para escolher uma escola feminina. Para não ser fastidiosa, menciono apenas quatro, a saber: Sucesso académico é superior em escolas só femininas; Confiança – A investigação levada a cabo junto de professores e professoras concluiu que a participação nas aulas e a confiança demonstrada pelas alunas era maior quando estavam em escolas de educação diferenciada; Liderança – Numa escola com educação diferenciada, as alunas aprendem a ser líderes em diversas situações o que constitui uma excelente preparação para uma carreira futura; Fuga a estereótipos – Numa escola com educação diferenciada, as alunas são preparadas para várias saídas profissionais e não apenas para as carreiras ditas femininas, o que é bem patente no Instituo de Odivelas. Estas são, certamente, algumas razões que gostaríamos que continuassem a ser as que levam Pais, Mães e candidatas a alunas a escolher esta escola que tem como lema duc in altum (cada vez mais alto) e que conduzem à excelência por que TODAS pugnamos. Odivelas, aos 9 de Março de 2012


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Ana Maria Pinto Soares Hoeppner – AA Nº 318/1952

Pela causa e pela Casa

P

ela Causa e pela Casa se fez a centenária História deste nobre Mosteiro de S. Dinis de Odivelas, erigido em 1295 segundo uma lenda, por causa do incidente ou acidente ocorrido durante uma caçada de El-Rei D. Dinis em terras do Alentejo. Este magnífico refeitório das freiras é, mais uma vez, testemunha da celebração do aniversário da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas. Celebração esta que dedicamos às AA como o Dia da Antiga

Aluna.

Nunca é demais reavivar a memória, precisamente, para memória futura. Esta Casa data de 1295 como referi. Dessa época, apenas restam uma parte da igreja do convento com os seus túmulos, os claustros, a porta gótica do século XIV, a Casa do Capítulo com as sepulturas das Abadessas, a Cozinha adjacente O Laço que une a este refeitório das freiras onde nos as “meninas de Odivelas” encontramos, e as muitas histórias e lendas que pairam nestas terras de ajuda-as a defender caça de El-Rei D. Dinis.

as prioridades desta Casa e a valorização da Mulher

O convento de S. Dinis de Odivelas foi-se tornando cada vez maior e mais poderoso. Aqui se acolheram muitas jovens, donzelas da corte e não só que, por vontade própria, por vocação ou não, aqui encontraram o conforto religioso e a cultura desejada ou a condenação duma vida longe da família e dos sonhos dum amor contrariado, até impossível, mas poupadas, por outro lado, às agressões e injustiças duma sociedade em que a Mulher pouca valia tinha.

Aqui passaram rainhas e princesas deixando valiosos legados históricos e materiais, outras menos abastadas ou apenas pela vocação dedicando as suas vidas à oração e às tarefas do mosteiro. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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E aqui viveram, empenhando-se pela Causa e pela Casa que as acolheu. Os séculos iam passando, assistindo-se ao desenrolar da vida e estrutura dum convento, que à época de D. João V, atingiu o seu auge de riqueza e poder com a Abadessa Madre Paula. Ficaram as memórias, os diários, os azulejos, as receitas e a não menos famosa “marmelada de Odivelas”. Encerrado o convento em 1886 com a morte da última Abadessa, novos destinos estavam marcados. E, como a História se repete, é novamente um Rei que se sensibiliza pela condição das viúvas e órfãs de oficiais da Corte, falecidos nas guerras do Ultramar. Ficaram desamparadas e sem meios financeiros e era preciso ampará-las. A Rainha D. Maria Pia, mãe do Rei D. Carlos e do Principe D. Affonso, alertada para a situação, delega em seu filho, D. Affonso a tarefa de apoiar as viúvas e órfãs dos militares. A 9 de março de 1899, o rei D. Carlos assina o Decreto de aprovação do Estatuto do Instituto Infante D. Afonso e “aos 14 de janeiro do ano de 1900 .... com a presença de Sua Majestade El-Rei e Senhor D. Carlos I, Sua Majestade a Rainha e Senhora D. Amélia, Sua Majestade a Rainha D. Maria Pia e Sua Alteza Sereníssima o Senhor Infante D. Affonso, inauguraram os mesmos Augustos Senhores, sob a sua alta proteção, o Instituto Infante D. Affonso, 18

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destinado a educação de orphãs, filhas de oficiais da Armada e dos Exércitos do Reyno e do Ultramar. Nesse dia, as duas Rainhas quiseram servir o jantar de festa às primeiras dezassete alunas, o qual teve a ementa seguinte: sopa de pão à portuguesa, croquetes de galinha, peixe cozido com molho de manteiga, frango com ervilhas, vitela assada, salada de alface e espinafres, geleia de laranja e macedónia de frutas. Vinho de Colares e branco do Alfeite. No dia seguinte realizou-se uma dessas brilhantes festas que reuniu a Côrte, a diplomacia, a aristocracia, o alto funcionalismo, a gente de dinheiro, a melhor sociedade.” E, nasce assim, em 1900, o Instituto Infante D. Afonso. Nasce com toda a pompa, circunstância e proteção. D. Maria Pia ofereceu uma imagem de Nossa Senhora em jaspe com coroa de prata e determinou que fosse usado o emblema da Cruz de Aviz. Toda a Família Real dedicava grande ternura às educandas. As alunas sabiam apresentar-se – distintas de maneiras, aprumadas, eram simples e alegres e de aspeto sadio. D. Maria Pia foi a última rainha a pisar as pedras deste Mosteiro de Odivelas.


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Porquê, então, 9 de Março – Dia da Associação? Em 1986, a Presidente da Direção da AAAIO, Virgínia Paccetti, uma das grandes impulsionadoras da nossa Causa entre 1961/1987, instituiu o Dia da Antiga Aluna, escolhendo esta data pela ligação intrínseca com o nosso Instituto. Existindo já a data oficial do Instituto Infante D. Afonso a 14 de janeiro, haveria de se escolher uma data que nos ligasse ao nosso colégio. E a escolha caiu precisamente na data da aprovação do Rei D. Carlos a 9 de março de 1899. A AAAIO foi fundada em 1919 pelo Diretor do colégio, Coronel Francisco Ferreira de Simas e manteve a sua sede nesta Casa até 1941. Foi com o propósito de preservar os laços das alunas entre si e uma ligação com o colégio, que este grande pedagogo se empenhou na construção de um laço que nos unisse, nos mantivesse sempre próximas e na defesa desta notável Casa. Transmissoras dos valores maiores e da formação adquirida, preparadas para a vida académica e familiar, enfrentando o mundo cheio de surpresas seríamos, certamente, as mulheres lutadoras de amanhã. A AAAIO é a associação de mulheres mais antiga em Portugal. Nunca foi extinta, apenas sofreu um interregno entre 1941 e 1955. Com a ajuda da Diretora do IO, Dra. Deolinda Santos, foi possível, então, abrir novamente as portas deste Instituto às AA que, a partir daí, todos os anos no dia 14 de janeiro aqui se reviam, abraçavam, riam e choravam de alegria pelo reencontro

no seu colégio. Aliás, o que sucedeu este ano com o acolhimento digno e caloroso da nova direção do IO. Hoje, comemoramos cheias de júbilo, gratidão e muita esperança que muitas mais celebrações se venham a seguir, dada a recetividade e a disponibilidade da atual Direção, na pessoa do seu Diretor, Coronel José Bernardino Serra. O 9 de março, no entanto, só começou a ser festejado na sede da AAAIO, a partir de 1986, no antigo Pavilhão de Caça do século XIX em Odivelas, onde funcionava a CASA para as AA e o nosso lar. Em 1987, para a celebração da efeméride, a nossa saudosa AA 132/1945, Rosa Lobato Faria, dedicou ao Infante D. Afonso os versos “Rimance do Duque do Porto”. De 2004 até hoje, comemoramos esta data aqui, nesta nobre e imponente sala o que muito nos honra. É, portanto, desde 1900, que aqui, nesta secular CASA se estuda, cresce, aprende a saber o que é a disciplina, o rigor, o dever, a lealdade, a organização, a camaradagem, se brinca e chora com as amigas e se encontra nas professoras, na direção e pessoal do colégio, a compreensão e a ajuda que, por vezes, fora destas paredes nem sempre está ali ao nosso lado. As mentalidades e a sociedade evoluíram, também as diretrizes do IO se foram reformando e adaptando ao progresso e às exigências culturais, tecnológicas e sociais. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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Todas nós, através dum século – o IO celebrou 113 anos – aprendemos a dar valor aos anos aqui passados porque foi aqui que despertámos para a vida, nos instruimos e nos tornámos Mulheres. Tal como as freiras do convento, houve as que vieram por gosto, outras “forçadas” por circunstâncias familiares, mas acabaram por se empenhar pela Causa e pela Casa onde viveram os primeiros anos da sua adolescência que as formou e as preparou para o resto da vida. Mesmo as que guardam recordações menos boas do colégio, não deixaram de manter o contacto e a amizade com as suas companheiras de carteira, da camarata, dos jogos, da vida escolar e das suas confidências. Tudo o que aqui aprenderam deu-lhes uma maneira diferente de estar na vida. Duma maneira ou outra, o laço verde do nosso emblema, decretado pela Rainha D. Maria Pia, ficou marcado nas nossas memórias. E é pela Causa e pela Casa que a AAAIO mantem viva as suas atividades e a sua ação de solidariedade. A interligação entre atuais e AA é cada vez maior e mais pertinente, o que nos torna mais fortes, mais coesas, mais esclarecidas, combativas e progressistas, nesta época cada vez mais conturbada e confusa na definição das prioridades e dos valores maiores.

a preciosa e incomensurável participação da AAACM e da Equipa de Arquitetos e Engenheiros que altruisticamente asseguraram o projeto e a construção da nossa Nova Casa, no Quartel da Formação, no Largo da Luz. Só com sinergias destas, é hoje possível realizar projetos e alcançar as metas alvejadas, aliadas a muita determinação e perseverança. Nós, as AA, estamos aqui para acompanhar, ajudar e defender as prioridades desta CASA com um passado histórico brilhante que manteve sempre a proteção, a valorização e a defesa das Mulheres. Saíram daqui muitas que contribuíram para o progresso da Cultura, da Ciência, das Letras, da Tecnologia, da alta Finança, do Cinema e das Artes, dos meios de comunicação, e que na sua vida familiar lutaram e lutam pela sua própria Causa e pelo reconhecimento dos direitos das Mulheres na nossa sociedade. Lembrando apenas alguns nomes como, Maria João Andermatt, Amélia Dias, Aida Vidigal, Virgínia Pacetti, Maria das Neves Rebelo de Sousa, Isabel Gago, Raquel Ribeiro, Ana Sousa Dias, Isabel Caixeiro, Conceição Chitas de Brito, Ana Maria Lobo, Guida Migães... centenas de tantas, tantas outras que, atualmente, em Portugal e em vários cantos do mundo são uma referência e por excelência. A “menina de Odivelas” é diferente.

É precisamente pela Causa e pela Casa que a AAAIO tem sido alvo de inúmeros gestos de solidariedade a nível financeiro e técnico, basta salientar, uma vez mais, 20

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Tornaram-se conhecidas pela sua eficácia, trabalho árduo, empenhamento, caráter, maneira de estar na vida e


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muitas delas, para além das suas carreiras profissionais ou timoneiras das suas famílias, apoiaram e apoiam o IO e a AAAIO precisamente pela CAUSA e pela CASA.

to, cimentados numa experiência colegial e nos valores antes assimilados, complementando assim a formação duma juventude ainda à procura do seu caminho e da maneira de enfrentar a vida.

É neste dia que, todos os anos, agradecemos às que se dedicam a esta sinergia das duas Casas e reconhecemos publicamente algumas que mais se destacaram nas últimas décadas.

Mas há também que dar a oportunidade aos bons professores que ainda existem no neste país para que possam, no espírito desta CASA, encontrar a realização plena da sua difícil mas nobre missão de ENSINAR E EDUCAR.

Hoje, serão alvo da nossa gratidão três AA que se distinguiram nas suas atividades e pelos seus percursos de vida académica e de solidariedade. Duas foram professoras do IO, ambas na área das Artes, a outra reconhecida pelo seu trabalho abnegado e dedicado à associação durante 10 anos, pela interligação com o colégio e disponibilidade constante e assídua nos programas de Voluntariado e de Solidariedade implementados no nosso lar. A AAAIO tem hoje um Lar moderno e digno com capacidade para 42 pessoas, na maior parte AA dos três Estabelecimentos Militares de Ensino, onde as vivências dum passado comum são relembradas e avivadas as memórias da época escolar e duma adolescência já bem longínqua. Três AA estão hoje em evidência, que tal como as antecessoras, serão o exemplo para as atuais alunas poderem chegar “CADA VEZ MAIS ALTO” Seria louvável que mais AA se candidatassem a professoras ou funcionárias do colégio, pois o diálogo e a cumplicidade entre elas e as educandas seriam, decer-

Reconheço as burocracias e os condicionamentos atuais, mas em tempo de crise, algumas soluções poderão ser encontradas a bem da CAUSA e da CASA. Mas é preciso ter vontade e coragem para tal! Einstein escrevendo sobre a crise salientava que “a crise traz progressos, criatividade, invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias”... sem crise não há desafios, sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia, sem crise não há mérito. É na crise que aflora o melhor de cada um”. Nós, AAAIO, continuaremos atentas, ativas e defensoras dos princípios e dos ideais dos valores maiores. De mãos dadas com a nossa Casa Mãe, seguindo o nosso lema de “SER AMIGA É SER IRMÔ poderemos ser o garante da formação duma nova geração mais consciente, responsável, determinada e solidária que irá, por certo, lutar PELA CAUSA E PELA CASA. Poema da Tchilay “1900 Dezassete Meninas”

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Fernanda Ruth Jacobetty Vieira AA 152/1955 É a benjamim duma grande família dedicada às Artes.

desilusão chegou logo ao fim de duas semanas quando soube que o IO não tinha ballet. Fernanda Ruth gostava mesmo de dançar!

Nasceu na fortaleza de Moçâmedes em Angola onde o pai era comandante e viveu sempre com adultos (tem uma diferença de 18, 15, 13 e 8 anos dos irmãos) “o que não é fácil quando se é criança”.

No colégio não se sentiu feliz mas não pediu para sair, tendo ficado para sempre a ele ligada, às colegas e professoras. Acabado o liceu no colégio Académico na alínea H de Arquitetura, fez o exame de admissão à Faculdade de Belas Artes e inscreveu-se no curso de Escultura.

A família materna era toda dada às Artes e às Letras e o pai tocava guitarra clássica e cantava o fado de Coimbra. A Arte corria no sangue da Fernanda Ruth. Em 1955 entrou no IO. Veio para o colégio porque lhe disseram que havia aulas de ballet, mas a grande 22

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Gostou do curso tendo trabalhado com grandes mestres. Fez belas esculturas como a “Fuga”, a tese do Curso Geral de Escultura, sobre a tragédia de 67 em Odivelas e Loures


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e a “Alegria de viver”, a tese final do Curso Complementar ou Superior de Escultura. É autora de inúmeros trabalhos como medalhas e maquetas para monumentos no Continente e em África. Colaborou noutras obras como a estátua de Santo António da Praça de Alvalade. Em 1976 recebe um convite aliciante para professora do IO, tomando o lugar da professora Maria José Estanco que, entretanto, se reformara. De novo no IO, mas como professora, dedicou-se de alma e coração às meninas de Odivelas, ensinando-lhes tudo o que sabia, motivando-as para fazer sempre mais e melhor, abrindo-lhes caminhos novos. Incentivava as alunas a participar em concursos internacionais em que obtiveram sempre os melhores prémios. Durante 12 anos lecionou História de Arte nos cursos de Verão para as alunas francesas da Légion d’Honneur – intercâmbio que foi iniciado pela diretora do IO, Dra. Deolinda Santos – com execução prática da pintura de painéis de azulejos e peças de faiança. Ensinava com gosto e achava que “o êxito como professoras é medido pelo êxito das nossas alunas”. No 80º aniversário do IO, foi-lhe solicitado pela Direção criar uma medalha comemorativa que, por ter sido muito apreciada, lhe foi pedido fazer ampliação para peça escultórica. Concebeu também um programa de recuperação da quinta entre muitos outros.

A par das suas atividades docentes tinha tempo ainda para fazer recitais de canto e poesia em escolas e museus com as suas colegas Manuela Machado e Teresa Buceta Martins, iniciativa da Juventude Musical. Reformou-se em 2006 não perdendo os laços com o colégio, pois tinha uma grande empatia com as suas alunas e é uma grande defensora dos três Estabelecimentos Militares de Ensino. Nos últimos quatro anos tem sido a representante da AAAIO no Núcleo Impulsionador das Conferências da Cooperativa Militar (NICCM) nas reuniões, conferências e organização das exposições referentes aos três colégios sendo também coautora do respetivo DVD que sairá muito em breve. Começou muito cedo a colaborar com a AAAIO. Era o elo de ligação entre as Duas Casas, pois conhecia bem por dentro a dinâmica de ambas as instituições. Em 1991 concorreu ao concurso público, limitado às AAs para a criação duma bandeira para a AAAIO tendo sido a vencedora, tornando-se, assim, a autora da nossa bandeira (ver capa da Laços 2/10). Desde 1992 colabora na revista LAÇOS. Criou um modelo da capa da revista, tendo igualmente sido a autora de quase todas até 2009. Participou igualmente em vários artigos, muitos deles ligados à temática do IO e/ou às Artes.

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É autora dum suplemento da revista Laços nº 1/1996 editado para celebrar o dia do Fundador, Coronel Ferreira de Simas. Organizou diversas atividades culturais, como o primeiro Dia da Antiga Aluna em 1986 com visitas guiadas ao mosteiro de São Dinis, os Encontros com as Musas, e um coro com as residentes do lar em parceria com professoras e alunas do IO, além de várias exposições incentivando colegas suas ou AA dedicadas às Artes. É autora de diversos painéis com o historial do colégio e da vida associativa que têm sido expostos não só no IO como nas instalações da AAAIO. Nos últimos anos, colaborando mais exaustivamente com os membros das associações congéneres na promoção e valorização dos três EME, tem sido uma presença importante na defesa da Causa e da Casa onde estudou e lecionou. Fernanda Ruth incorpora bem o espírito da AA – sempre interessada e ativa. Maria Emília Canelhas Pinhão AA 82/1951 Maria Emília Canelhas, mais conhecida entre as colegas como a Milita, entrou no IO em 1951 onde permaneceu cinco anos. Continuou o liceu, na secção de Letras do liceu Maria Amália Vaz de Carvalho e complementou os seus estudos em inglês e francês respetivamente no Instituto Britânico e Instituto Francês tendo obtido os respetivos certificados de Cambridge e 24

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Toulouse. Cursou ainda na Escola Pittea onde fez um curso de secretariado. Trabalhou em várias empresas como secretária das direções no Turismo Meridiano, Agrovete, Luso Sintética, no GEA (Gabinete de Engenharia e Arquitetura) entre outras. Filha de militar, toda a sua vida se movimentou nesta grande família militar que, na década dos anos 50 era muito unida, coesa, partilhando dos mesmos ideais. Casou com um oficial da Marinha de quem tem quatro filhos, e foi sempre uma mãe dedicada, paciente e boa educadora. Em 1996, numa época difícil da sua vida, recebe um convite da Presidente da Direção, Maria Rosete Milheiro para trabalhar na AAAIO com Responsável do Lar. Tinha todas as condições para poder dar o apoio necessário na nossa CASA, não só pelo seu caráter, pela sua postura, as grandes virtudes que a caraterizam, bem como pela sua experiência a nível administrativo, contato social e ligação com o IO. Durante 10 anos organizou o lar tendo a seu cargo não só o planeamento dos recursos humanos e o respetivo controle de tarefas, mas também a elaboração das ementas, controle de armazéns e stocks, programação das atividades lúdicas, das festas, dos passeios tendo mesmo, várias vezes, conduzido a nossa carrinha na falta de motorista, e também elo de ligação entre o IO e a associação.


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Foi sempre uma presença marcante, no dia-a-dia, junto das residentes do lar, pois a sua preocupação constante era proporcionar-lhes o bem-estar e ampará-las nos momentos de maior fragilidade. Era muito considerada pela sua educação, sensibilidade e pela resolução pronta em situações mais delicadas. Várias vezes representou a direção em cerimónias especiais. Durante as várias mudanças do Lar tanto para o forte de São João das Maias como recentemente para a CASA NOVA, no Quartel da Formação, foi um dos pilares na organização de tão difíceis empreitadas que requeriam uma presença constante, sentido de orientação, dinâmica e disponibilidade. Em 2006 reformou-se, tendo cessado as suas funções com Responsável do Lar mas continua a prestar o seu serviço de Voluntariado até hoje. É uma das mais antigas voluntárias, ativa e assídua da associação merecendo grande respeito, consideração e ternura não só por parte dos residentes que a estimam muito como das suas colegas que desde sempre a conhecem pela sua dignidade e generosidade. A Milita é o exemplo da AA presente, trabalhadora, amiga, apaziguadora, gentil e prestativa que qualquer uma de nós gostaria de ter como Amiga e Irmã. Helena Caldeira Martins AA 341/1958 Entrou no Instituto de Odivelas em 1958 (aluna nº 341). Ingressou no Lar Univer-

sitário no ano 1965, prosseguindo os estudos na Secção Preparatória às Belas Artes na Escola António Arroio, tendo concluído a licenciatura em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, em 1971. Como artista plástica expõe, em 1972, com o grupo de finalistas de Belas-Artes de Lisboa na Sociedade Nacional de Belas – Artes de Lisboa. De 1985 a 1990, participou em várias exposições coletivas (4º salão de Arte de Lagos; Colagem, Tapeçaria, Gravura e Objeto na Sociedade de Belas Artes; exposição conjunta com a pintora Fátima Ventura no LNEC; exposição conjunta com a Escultora Gabriela Oliveira no Centro de Turismo de Portalegre). Dedicou a sua atividade profissional ao ensino. Foi professora de Educação Visual no 2º e 3º ciclos e orientadora de Estágio Profissional de Professores nesta área, em 1975-1976, na Escola Preparatória de Torres Vedras. Colaborou em publicações de índole pedagógica na divulgação de algumas experiências escolares, nomeadamente: na revista – “Escola Democrática” e, como associada da APEC (Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual), no “imaginar”. Em 1992, ingressou no Instituto de Odivelas como professora e reencontrou professoras antigas alunas como colegas de profissão, tendo-se reforçado os laços de convívio e amizade, imbuídos pelo mesmo espírito de misLAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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são e em prol do ensino de excelência na Casa Mãe. Participou em atividades escolares em cooperação com colegas de outras disciplinas, no âmbito da Área Escola e Área de Projeto, na organização e montagem de exposições de fim de ano letivo e em exposições pontuais e temáticas, quer a nível de outras Instituições culturais e locais, quer ao nível da comunidade escolar em ligação com o Lar da AAAIO. Além da sua atividade docente, nos últimos anos (até 2009), ano em que se aposentou, desempenhou outras funções complementares, tendo colaborado na implementação de equipamentos no espaço museológico, organização e exposição de conteúdos do futuro Museu para dar a conhecer a História do Instituto de Odivelas (Infante D. Afonso). Este trabalho foi desenvolvido em estreita coordenação com a Professora e AA Cesaltina do Nascimento Silva Nº 229/1939, que, de forma inexcedível, sempre se dedicou a este projeto e às causas da Associação das Antigas Alunas e o Instituto de Odivelas. Na colónia de férias no Forte de Santo António, orientou ateliers práticos de expressão plástica e atividades recreativas com as alunas, promoveu visitas locais, nomeadamente ao Museu do Mar em Cascais. Como antiga aluna do Instituto de Odivelas, chegou à AAAIO, em 1971.

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Participou numa exposição coletiva de Pintura, cujos donativos de venda reverteram a favor da Associação. Em 1991, participou “no concurso público, limitado a antigas alunas”, com um projeto de logótipo para a “criação duma bandeira que representasse e transmitisse o espírito associativo”, sob a Direção da Maria Rosete Fernandes Milheiro, à data sua Presidente. Tem sido corresponsável pela decoração natalícia do Lar da AAAIO: inicialmente na Casa mãe, sita em Odivelas, em colaboração com a antiga aluna Manuela Coimbra (Mié) e nos anos subsequentes, nas instalações provisórias (Forte de São João das Maias em Oeiras) depois, na Casa Nova, com a professora e pintora, Fátima Ventura (antiga professora do Instituto de Odivelas). Ainda em Odivelas, outros eventos festivos, como o “CHÁ DA PRIMAVERA”, foram intervenções no jardim da velha Casa, como descreve na revista Laços, Maria de Lourdes Sant’Anna AA Nº 278/1936… “Por entre a verdura das plantas e os troncos de tons castanho-esverdeado das velhas árvores centenárias, as flores de papel sobressaíam “vaidosas” na ostentação da sua profusão de cores. E aconteceu arte, também…” Colaborou com Manuela Coimbra (Mié) na conceção e concretização das figuras dos Santos Populares, sendo, hoje como no passado, uma referência e presença emblemática decorativa no espaço festivo que, na revista Laços, segundo Maria Noémia de Melo Leitão – AA Nº 245/1931, Presidente da Mesa da


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Assembleia Geral e antiga professora do IO, escreveu … “Os Santos Populares tutelaram o nosso encontro, postos no seu trono enfeitado ao jeito ingénuo e popular das cores quentes, espalhadas por todo o lado, animando o enquadramento humano que saboreava a sardinha fresca, bem assada – objetivo do nosso encontro…” Em contexto de aula, muitos foram os presépios realizados pelas alunas no uso de múltiplas técnicas e meios de expressão, expostos no espaço escolar e alguns oferecidos ao Lar das Antigas Alunas num gesto de solidariedade para com as utentes. Em 2006 – na mesma perspetiva pedagógica, as alunas do 6º ano 2ª turma desenvolveram um projeto sobre o tema “Solidariedade” e escolheram como espaço de intervenção o Forte de São João das Maias em Oeiras. De forma autónoma desenvolveram um conjunto de iniciativas, a destacar: visita às instalações, convívio com as senhoras, representação de uma peça de teatro, escrita e encenada por elas, culminando na entrega de uma pintura sobre tela, e recebida carinhosamente

pela Presidente Ana Maria Soares Hoeppner – AA Nº 318/1951. Este projeto foi partilhado com a professora de moral, Maria Luísa Monteiro Silveira, antiga aluna nº 31/1958. Em 2009, foi uma das responsáveis pela preparação e montagem da exposição comemorativa do 90º Aniversário, no dia 9 de Março – dia da Antiga Aluna, para dar a conhecer o coletivo de antigas alunas, professoras e funcionárias do sector administrativo que no passado e no presente trabalharam no Instituto de Odivelas, e simultaneamente, uma mostra significativa de atividades escolares, desenvolvidas pelas alunas e professoras (antigas alunas) na especificidade da diferentes disciplinas. A convite da direção da Revista Laços participou com alguns artigos: “AA, o que é feito de ti? – O ensino foi uma missão de prazer – Uma conversa com Helena Caldeira”, por M. Margarida Pereira-Müller, “Recordando a Mié”, “Reflexos de memória”, em homenagem à Pintora e Professora Maria Aurélia de Carvalho Henriques, e à antiga aluna, Maria Manuela Coimbra, também professora.

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Relatório das atividades da AAAIO no ano de 2011 No passado dia 31 de março, reuniu-se, em sessão ordinária, a Assembleia Geral da nossa Associação com a presença de 27 associadas. Após as saudações e a escolha, prevista nos estatutos, de dois elementos para a mesa em substituição da Vice-presidente e da Secretária da Mesa da AG, a Presidente da Mesa deu a palavra à Presidente da Direção que apresentou o Relatório de Atividades da AAAIO no ano de 2011, tendo-se seguido a discussão e votação do Relatório e Contas da Gerência do ano 2011 e a leitura do parecer do Conselho Fiscal. Na sequência do plano de Ação e Atividades apresentado para o triénio de 2011/2013 cumpre-nos apresentar à AG os factos e as situações mais relevantes e importantes ocorridos durante o ano de 2011. Casa Nova Começo por mencionar um dos pontos do relatório de contas – empréstimos ao Montepio Geral/pagamentos do ISS – por este ser da maior importância na estabilidade financeira das nossas contas. Em 2011, houve a necessidade de recorrer a um empréstimo para fazer face ao final da obra, que foi negociado por três anos. Em meados de 2011, o ISS saldou uma das verbas ainda contempladas no programa Pilar, o que veio possibilitar a continuação de obras não acabadas. Foi, nessa altura, sugerido pela Presidente do Conselho Fiscal, a liquidação da dívida do empréstimo ao banco mas a Direção achou por bem não saldar os empréstimos que foram negociados à época com juros favoráveis e pelo facto da verba em questão ainda 28

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remanescente estar planeada até ao final de 2013. Segue-se o Relatório de Contas. A finalização das obras de acesso ao teatro D. Luis Filipe não puderam efetuadas O gruposer que visitou pelos impedimentos apresentados pela Dia exposição reção da AAACM, nomeadamente, a saída da locatária do teatro só em Setembro do ano transato e a falta de consenso paisagístico entre os membros daquela direção. No entanto, procedeu-se a uma limpeza geral dos espaços comuns depois da queda de alguns troncos na sequência dum vendaval. Efetuaram-se alguns melhoramentos na zona dos quartos e salas para otimizar os serviços e a comodidade do/as residentes e uma melhor racionalização dos serviços (refeições leves, enfermagem, etc). O chão da sala do Conventinho foi finalmente substituído e recuperado após cinco longos meses de trabalhos o que transtornou o ritmo e a programação das atividades programadas para aquela sala.


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Graves problemas a nível do sistema elétrico ocasionaram paragem dos elevadores, faltas de energia noutras zonas vitais que apenas se foram pontualmente reparando, pela falta de assistência do subempreiteiro, apesar das insistências feitas pelo responsável da Constrope e das diligências do Eng. Ayala Botto, Coordenador da Obra e do Engenheiro Gilberto de Sousa da Fiscalização. Estes problemas nunca chegaram a ser totalmente resolvidos pelas constantes alterações do projeto de eletricidade por exigências da EDP. O Projeto de Águas foi finalmente aprovado pela EPAL depois de ajustamentos feitos com a Direção da AAACM na distribuição dos contadores para os diferentes consumidores existentes no terreno. A dinâmica da utilização da Nova Casa junto das associações congéneres foi incentivada tendo havido interesse e mesmo inscrições de familiares dos respetivos AA. A Nova Casa tem sido um alvo de referências muito positivas, estando a ser muito bem aceite e procurada pelos associados. Associadas As atividades socioculturais foram dum modo geral seguidas conforme a calendarização, apesar do condicionamento da utilização da sala do Conventinho. As comemorações do 14 de Janeiro e 9 de Março no IO foram celebradas com certa contenção, não deixando, a AAAIO, de manter a sua programação e dignidade que se impõe a estas sessões. Os convívios do Chá da Primavera/Sardinhada, Magusto e festa do Natal foram vividos na maior das naturalidades, alegria e grande participação das AA com atuação de grupos de folclore e animação organizados pelas voluntarias que apoiam a assistência às/aos utentes do lar. Para o Chá da Primavera foi organizada uma

tômbola, com prémios vindos de diferentes quadrantes e que rendeu 1225 . Foram confecionadas compotas e bolachas cuja venda reverteu para a AAAIO. Organizaram-se Tardes de Leitura, uma Exposição de Fotografias (Viagem a Moçambique de AA Margarida Pereira-Müller) Encontros de Curso, aniversários de AA, Encontros com a Gastronomia entre outros. As conferências e atividades com a SHIP mais uma vez foram organizadas pela AA Luisa Alice Santos Pereira sob o tema “Quem quer livrar-se do livro?” que mais uma vez teve a participação de grandes especialistas na matéria. Foram feitas algumas angariações de fundos segundo as exigências mais prementes, como uma máquina de lavar louça e termo acumulador para a zona da Sala Jardim entre outras pequenas aquisições. A promoção do voluntariado junto das sócias foi incentivada tendo-se verificado uma adesão até de AA mais jovens. O estreitamento das relações com as associações congéneres verificou-se principalmente na elaboração e colaboração do projeto de dinamização dos três EME pelo Núcleo Impulsionador das Conferências da Cooperativa Militar (NICCM) no qual a ação ativa e dedicada da AA Fernanda Ruth Jacobetty foi notória pela sua assídua presença nas sessões de trabalho, seminário e palestras proferidas bem como na coorganização da exposição que esteve patente no Museu Militar e na elaboração do DVD sobre os três colégios. A divulgação da vida associativa, a cargo da Vice-Presidente, AA Margarida Pereira-Müller, foi muito intensa, notando-se cada vez maior interesse das AA pelas atividades e intervenções da AAAIO nos vários setores, não esquecendo a participação LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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também muito ativa da Presidente da Mesa da Assembleia Geral, AA Joaquina Cadete Phillimore, sempre atenta às redes sociais e à comunicação no que respeita principalmente o IO. A revista Laços ganhou mais colaboradoras, apresentando, cada vez mais, melhor qualidade e diversidade dos artigos. Lar A organização dos recursos humanos do lar sofreu algumas modificações com o aumento da ocupação sucessiva das camas livres tendo chegado ao final do ano com a lotação esgotada das 42 camas. Houve uma reestruturação e adaptação dos turnos, a meio do ano. Com a saída da Encarregada de Lar os serviços desta área foram distribuídos pelas Assistentes Sociais Paula Santos e Andreia Martins, João Pereira da Secretaria e Rececionistas/Segurança. Procedeu-se a uma completa reestruturação do serviço de enfermagem a partir de setembro. Em dezembro, optou-se por contratar uma enfermeira a tempo inteiro fazendo parte dos quadros, depois de ouvida a opinião da médica Dra. Elisabete Rodrigues, dado que o sistema por turnos não deu o resultado esperado pelas falhas constantes de falta de passagem de testemunho entre as enfermeiras contratadas. O serviço de receção/motorista e segurança foi reforçado com a admissão de mais um elemento de modo a garantir a presença dum funcionário, das 08 da manhã até às 23h, dando apoio às entradas, portões de acesso, controle de visitantes e pessoal além de outros serviços externos inerentes às funções que lhes são adstritas.

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As atividades lúdicas e culturais do programa semanal dos utentes foram intensificadas com uma adesão mais participativa das voluntárias, com programas bem definidos e elaborados pela AA Helena Cavaco, coordenadora do grupo de voluntárias que tem feito um excelente trabalho com a orientação da Assistente Social, Andreia Martins e tiveram grande impacto junto dos residentes. Além das visitas guiadas de ½ dia a museus, jardins, exposições, mantiveram-se as sessões de cinema pela mão do residente Sr. Francisco Cabral que tem sido o grande animador desta atividade. Mantiveram-se os concertos da Antena 1, no Teatro D. Luis Filipe às 5as feiras, onde estão sempre reservados 10 lugares para os utentes da Nova Casa. A equipa de voluntárias está cada vez mais sólida e organizada, dando cada AA com o melhor das suas capacidades, a ajuda e carinho tão necessários nas conversas com as utentes, acompanhamento a consultas, etc. Encontraram-se sempre novas atividades para interessar os residentes quebrando assim as rotinas e a monotonia. As férias de verão no Forte de Santo António além de curtas foram um pouco atribuladas pela queda sem graves consequências dum dos utentes e pelo facto de o portão da entrada principal se ter danificado deixando o forte sem segurança. Asseguraram o apoio a Presidente da Direção, a AA Elsa Portela Ribeiro além da funcionária Maria Clara já com experiência na organização, no apoio e na assistência que é necessária no forte. Outras AA apareceram para proporcionar passeios pela linha da costa. Também não faltou o apoio da funcionária do IO, Ana Marçal que nos providenciava o pão fresco diário.


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“Ser Cidadão em Odivelas” – BACF As obras de acabamento das novas instalações cedidas pela CMO, no bairro da Arroja, foram executadas mas, infelizmente, não se pôde instalar o contador de eletricidade dado que os projetos nunca chegaram a ser disponibilizados pela própria Câmara. Assim não se efetuou a mudança, sobrecarregando o orçamento com mais ½ ano de renda a pagar ao proprietário das atuais instalações onde funciona o BACF. O cabaz do Natal, apesar da escassez de géneros, não deixou de ter o bacalhau, o azeite e o bolo-rei tradicionais, graças à ação de angariação de fundos da funcionária da JFO, Cândida Silva, da nossa colaboradora Florinda Afonso e dos odivelenses generosos e solidários. IO As comemorações do 14 de Janeiro e 9 de Março decorreram sob grande tensão dadas as relações problemáticas com a Direção vigente do IO. Em julho, após a nomeação da nova Direção, a AAAIO apresentou os cumprimentos ao novo Diretor, Coronel Bernardino Serra, disponibilizando-se para uma colaboração estreita e ativa sempre nos interesses do bom nome do colégio e de uma estratégia de sinergias que nos une cada vez mais. O momento político e de crise é grave no que concerne a reestrutura escolar e os

nossos três EME sendo o alvo principal da mesma, deverão com o apoio associativo respetivo, defender o interesse das suas escolas. O centenário da AA Ilda Vieira foi festejado uma semana depois da tomada de posse do novo Diretor tendo o mesmo solicitado à AAAIO a organização da festa que se realizou no IO. Começou assim um ciclo de relações abertas com planos de remodelação na qual a AAAIO poderá vir a ter uma ação mais direta e ativa. As estreitas relações mantidas com a Associação de Pais e Encarregados de Educação resultaram numa campanha a nível de chefias militares que terminou com a substituição da então Diretora do IO. Município/Junta de Freguesia de Odivelas Houve uma grande participação da AAAIO nas Comemorações dos 750 anos da morte de D. Dinis, umas realizadas no IO, outras no próprio Município e Biblioteca D. Dinis em Odivelas. Também às celebrações da capital da Lusofonia em Odivelas a AAAIO marcou a sua presença por membros da direção. Nova Casa da AAAIO, 2012/03/31

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Renat o Cordei ro *

Relatório e contas do exercício de 2011

N

os termos legais e estatutários, a Direcção da Associação das Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, vem submeter à apreciação da presente Assembleia, o Relatório e Contas referente ao exercício de 2011. Na generalidade os objetivos foram conseguidos, mas muito trabalho e dedicação está para vir, sendo necessária a união de todos os que acreditam no objetivo desta estimada Associação.

É com agrado que vos apresento as contas de mais um ano, referentes à atividade desenvolvida, justificando o que de mais relevante se registou. Desde a passagem para as novas instalações, todo o trabalho da associação tem vindo a reorganizar-se, ajustando-se para esta realidade, que permite alcançar os objetivos que todos os membros desta associação pretendem alcançar. Hoje temos uma estrutura capaz de dar resposta a quem precisa, e com a crescente equipa de colaboradores que vamos acolhendo na realização do nosso propósito, tem possibilitado um conforto muito satisfatório para todos aqueles que tanto precisam.

Atividade financeira Numa forma geral, este ano de 2011, gerou uma receita que até agora nunca tinha sido alcançada, totalizando um valor global de proveitos o valor de 862.919,83 . Neste contexto as receitas operacionais cifraram-se nos 663.676,76 , os proveitos financeiros este ano cifraram-se nos 210,30  e os proveitos extraordinários, atingiram os 199.032,77 . No que respeita aos gastos, houve um acréscimo de 117.297,74  representando um crescimento de cerca de 15,79% em relação ao ano anterior, sendo que o valor com maior relevo é o fornecimento e serviço externo, com um acréscimo de 48.381,31  alcançando os 186.092,10 , justificado com o aumento da atividade. * Contabilista da AAAIO.

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No caso dos custos extraordinários, a variação de 34,84% é justificada pelo acréscimo de apoio na campanha solidária do Banco Alimentar contra a fome, bem como com os gastos financeiros à Constrope. Em resumo, os resultados do trabalho realizado, culminaram num resultado positivo de 2.981,92 . Aos valores acima referidos, devemos salientar também alguns desvios verificados ao orçamento de 2011. Neste contexto, os proveitos gerados durante o exercício que findou, representaram um aumento de 87.373,52  do orçamentado demonstrando um impato percentual de 11,27% em relação ao orçamento. Nos custos, a evolução registada ascendeu aos 80.225,11 , variando na casa dos 10,29% em relação ao orçamento. O objetivo deste documento é relatar os valores anualmente registados e transmitir a boa aplicação das verbas que nos foram confiadas para alcançar a satisfação dos objetivos que ao longo dos anos nos temos proposto. Associadas A razão de ser da nossa Associação está no elo de ligação que une as Antigas Alunas do Instituto de Odivelas, que para isso a criaram e contribuem com quotas e donativos com o objetivo de fazer face às múltiplas despesas da Associação. A receita originada pelas quotas e ações de apoio atingiu os 17.590,00 . Tendo um custo associado a esta receita de 8.876,10 .

Lar Os valores de receitas das mensalidades cresceram 76,13% face ao ano anterior, atingindo os 486.287,29 . Também foi conseguido este ano um apoio extra de diversos particulares, que alcançou os 27.043,55 . Na Rubrica de comparticipações e Subsídios de Exploração, foi registado um valor de 130.305,92  tendo diminuído cerca de 4,88% em relação ao ano de 2010. Tal como nos anos anteriores, têm vindo a realizar-se campanhas de solidariedade, como a do Banco Alimentar contra a Fome e Entreajuda gerando uma movimentação não monetária. No entanto, para fazer cumprir algumas obrigações fiscais, nos últimos anos, têm que se quantificar estes valores, que este ano atingiram 160.545,93 . Os custos totais do Lar alcançaram 840.257,80 , dos quais 377.048,33  são custos com o pessoal. Em relação ao ano anterior esta rubrica teve um incremento 20,65%, originado pelos frequentes ajustes do pessoal às crescentes necessidades sentidas. De salientar que a estimativa orçamental efetuada para custos com o pessoal, teve um desvio de 5,56%. Os géneros alimentares utilizados nas refeições servidas tiveram um acréscimo de 26,44%, ascendendo a 45.295,33 . Também uma componente importante para o funcionamento desta instituição, LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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são os serviços contratados a terceiros e registados na rubrica de F.S.E., que totalizaram um valor de 166.412,99 , onde se encontra registado, entre outros, electricidade, água, combustíveis, comunicações, despesas com reparações, contabilidade, médicos, advogada, enfermagem e outros prestadores de serviços. BACF/SCO A grande despesa neste projecto reporta-se aos fornecimentos e serviços externos, que ascendeu os 10.804,01 . Banco Alimentar e campanhas de solidariedade Continua a prestar-se apoio a famílias carenciadas, que todas as semanas recebem géneros alimentares de primeira necessidade, totalizando um

contributo de 160.945,93  (rubrica BACF/Entreajuda). Despesas de capital Em termos estruturais do balanço, as contas não registaram alterações significativas. A situação patrimonial da Associação tem vindo, gradualmente, a equilibrar-se. Os meios libertos ainda não conseguem liquidar todas as responsabilidades, no entanto e mantendo-se o panorama a situação patrimonial, de curto prazo, desta instituição torna-se estável. Neste resumo procurámos apresentar uma imagem mais aproximada do que foi a atividade da Instituição durante 2011, no entanto, em apêndice encontra-se um conjunto de mapas financeiros que podem ajudar a explicitrar algumas questões.

O estudo «Bilinguismo: consequências para a mente e o cérebro», publicado na revista médica «Trends in Cognitive Sciences», indica que o envelhecimento das pessoas fluentes em dois idiomas é menos suscetível a doenças como Alzheimer.

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ASSOCIAÇÃO ANTIGAS ALUNAS INSTITUTO ODIVELAS

Largo D. Dinis – Casa do Capelão /I.O. – 2675-336 Odivelas

GLOBAL DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS POR NATUREZAS POC 61 62

CUSTOS E PERDAS Custo das merc. vendidas e das mat. consumidas: Fornecimentos e serviços externos ............................................................

Exercícios 2010 2011 53.846,14 57.916,02 137.710,79 191.556,93 186.092,10 244.008,12

641+642 643 a 648

Custos com o pessoal: Remunerações ................................................................................. Encargos sociais ..............................................................................

289.879,27 51.856,06

66 67 63 65

Amortizações e ajustamentos do exercício ................................................. Provisões ................................................................................................... Impostos ................................................................................................... Outros custos e perdas operacionais (A)

47.284,36 0,00 2.405,46 45,00

68

Juros e custos similares.............................................................................

24.846,25

69 86 88

71+72 75 74 77 73+76 7812 + 7815 + 7816 + 783 7811 + 7813 + 7814 + 7818 + 785 + 786 + 787+788+789+784 79

(C) Custos e perdas extraordinários................................................................. (E) Impostos sobre o rendimento do exercício.................................................. (G) Resultado liquido do exercício .................................................................... PROVEITOS E GANHOS Vendas e prestações de serviços ............................................................... Variação da produção ................................................................................ Trabalhos para a própria empresa ............................................................. Subsídios à exploração .............................................................................. Reversões de amortizações e ajustamentos ............................................... Outros proveitos e ganhos operacionais ..................................................... (B)

152.433,73 0,00 136.093,27

Rendimentos de títulos negociáveis e outras aplicações financeiras: .........

0,00

Outros juros e proveitos similares .............................................................. (D) Proveitos e ganhos extraordinários............................................................. (F)

1,21

Resumo: Resultados Operacionais: (B) – (A)........................................................................................... Resultados Financeiros: (D – B) – (C – A) ................................................................................ Resultados Correntes: (D) – (C)............................................................................................... Resultados Antes de Impostos: (F – E) ..................................................................................... Resultados Líquidos: (F) – (G) .................................................................................................

341.735,33

47.284,36 2.450,46 583.027,08 24.846,25

318.056,32 58.992,01 46.110,76 0,00 1.303,98 0,00

9.752,38

377.048,33

46.110,76 1.303,98 668.471,19 9.752,38

607.873,33 134.766,84 742.640,17 0,00 742.640,17 1.204,48 743.844,65

678.223,57 181.714,34 859.937,91 0,00 859.937,91 2.981,92 862.919,83

276.099,18 0,00 0,00

486.287,29 0,00 0,00

288.527,00 564.626,18

132.755,92 0,00 44.633,55

177.389,47 663.676,76

0,00

1,21 564.627,39 179.217,26 743.844,65

2010

210,30

210,30 663.887,06 199.032,77 862.919,83

2011 -18.400,90 -24.845,04 -43.245,94 1.204,48 1.204,48

-4.794,43 -9.542,08 -14.336,51 2.981,92 2.981,92

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  

M a r i a Te r e s a M a g a l h ã e s ( M a g a l h ó ) – A A N º 3 3 4 / 1 9 7 2

Almoço em Vila Nova de Gaia

F

acebook… Publiquei uma fotografia de um magnífico dia de sol de março na Ribeira, em Vila Nova de Gaia, a emoldurar um grupo de lindas (e jovens) amigas, com a mera coincidência de serem Antigas Alunas do IO.

Sem esperar, recebo uma mensagem da Joaquina Cadete a desafiar-me “não queres escrever na Laços sobre o almoço?” Mas...é (apenas) um almoço de amigas! Que mais há a dizer? Além do facto estranho de ficarmos sempre numa mesa estrategicamente destacada das demais, seja qual for o restaurante, e pelo facto de sobrarem sempre sobremesas…mas é o que se esperaria neste tipo de reunião. Um dia magnífico, Francesinhas (tinha mesmo de ser…), um passeio no rio e umas Caves de Vinho do Porto. Mas é “isto” que nos move?

Iniciámos há 40 anos uma jornada à qual ninguém ficou indiferente

De facto, o que nos faz colocar na nossa agenda esta romaria anual? O que nos faz sentar naquela mesa e retomar temas que parecem ter ficado apenas pendurados “no outro dia”? Estes almoços são o alcançar de um sonho de adolescentes, visitar o futuro no sítio em que

parámos. É isso. Estamos no futuro a relembrar temas e histórias esquecidas na nossa vivência, mas que fazem parte do ontem de uma “irmã” que se lembra e as faz saltar para a ribalta diretamente do passado. Neste presente que é futuro, saltamos para o passado numa máquina do tempo generosa, a que não resistiram quezílias nem mal entendidos, e que nos permite partilhar a nossa vida hoje, com base em estruturas cimentadas ao lado destas magníficas meninas-mulheres que estão sentadas ao meu lado. 36

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Em outubro, completam-se 40 anos que iniciámos uma jornada à qual ninguém ficou indiferente e da qual fazem parte, entre outros, estes pontos de encontro a que nos dirigimos felizes. É dia de romaria, em que a esperança é renovada no reencontro de velhas amigas que nos mantêm jovens na amizade.

Minhas queridas, às presentes, às que ainda não tiveram oportunidade e às precocemente ausentes – sempre presentes e relembradas –, obrigada por fazerem parte da minha vida e por termos embarcado juntas nesta jornada. “Cada vez mais alto” Gosto disto.

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Maria Helena Cavaco – AA Nº 218/1954

Museu Nacional dos Coches

V

oltámos novamente ao Palácio de Belém, desta vez para visitar “O Picadeiro Real”. Este Picadeiro foi transformado em Museu por vontade da Rainha D. Amélia, preservando assim a valiosa coleção dos coches da Casa Real. Este museu é o mais visitado do país e acolhe uma notável coleção de coches, fabricados em Portugal, França, Áustria e Itália, dos séculos XVII ao XIX, sendo de realçar o conjunto do séc. XVIII como o melhor do mundo, devido à variedade artística e ao número de exemplares.

A Guia, ao longo do percurso, explicou-nos a evolução técnica dos transportes de tração animal e dos diferentes tipos de decoração que ornamentavam estas viaturas. A título de curiosidade, a Guia chamou-nos a atenção para o significado etimológico de coche e berlinda e das diferenças entre ambos. Coche vem do húngaro Kotz, nome da cidade onde se começou a construir este tipo de transporte de tração animal, no séc. XVI, enquanto que Berlinda vem de Berlim, surge mais tarde no séc. XVII a suspensão é feita por duas fortes correias de couro. Durante o trajecto a Guia tornando esta visita interativa ia pedindo aos residentes para identificarem o tipo de viaturas, a decoração, qual seria a influência (espanhola, alemã?) o que tornou esta visita mais viva. O coche mais antigo deste Museu pertenceu ao rei D. Filipe II (Filipe III de Espanha) que o utilizou na sua visita a Portugal, em 1619. Um modelo arcaico que corresponde ao tipo de veículo utilizado já em finais do século XVI. Dentre todo este acervo podemos destacar o coche mandado construir pelo rei D. João V para a Casa Real Portuguesa, com um imenso trabalho de talha dourada.

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AT I V I D A D E S D A A A A I O E S U A S S Ó C I A S

Por toda a estrutura do coche, tanto nos trabalhos de madeira, como nos de bronze cinzelado, aparecem cabeças de jovens mulheres conhecidas por espagnolettes. O jogo do rodado também está recoberto a talha, nas molas de suspensão aparecem as espagnolettes e nas rodas os 12 signos do Zodíaco. Em destaque ao fundo deste picadeiro encontramos três coches barrocos (o coche do Embaixador, o Coche dos Oceanos e o Coche da Coroação de Lisboa) faziam parte do conjunto de coches temáticos que integraram o cortejo da Embaixada enviada pelo Rei D. João V ao papa Clemente XI. O rei D. João V queria mostrar ao papa o grande poder e riqueza da coroa portuguesa e tinha como objetivo a criação do patriarcado para Lisboa. O mais imponente e o que mais atraiu o nosso grupo foi o Coche dos Oceanos. No coche as duas figuras da frente simbolizam a ligação dos oceanos Atlântico e Índico (representam a passagem do cabo da Boa Esperança feita pelos portugueses), atrás Apolo glorifica o feito, ladeado pelas figuras da Primavera e do Verão. Este coche foi profundamente restaurado entre 1995 e 1998 (com o apoio do BES). Alguns dos nossos residentes tinham na memória a vinda da Rainha de Inglaterra a Portugal e manifestaram curiosidade quando a Guia lhes mostrou a carruagem, “A Carruagem da Coroa”, que foi utilizada nessa visita em 1957. Terminámos esta visita com o coche (Landau) do regicídio. Esta viatura

transportava a Família Real, no Cais do Sodré, com a capota aberta, após o regresso do Paço Ducal de Vila Viçosa. São visíveis as marcas das balas que mataram o Rei D. Carlos I e o Príncipe D. Luís Filipe e feriram D. Manuel. É considerável a coleção de arreios de tiro e de cavalaria, selas. Todos os nossos residentes já conheciam este museu, alguns do tempo da sua juventude mas, deram por bem empregue esta visita que viram, obviamente, noutra perspetiva. Para finalizar a visita a Guia falou-nos com entusiasmo do Novo Museu dos Coches, que irá complementar o Antigo Picadeiro. O novo Museu dos Coches está a ser construído no espaço das antigas Oficinas Gerais do Exército. O projecto é da autoria do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, que nos avisa: Quem está habituado a ver os coches no ambiente barroco do antigo picadeiro vai encontrá-los, no novo edifício, num espaço branco onde a ideia é que brilhem ainda mais. «Não vamos criar nada de novo. Vamos fazer brilhar mais aquilo que já é brilhante, como quem desembrulha». Todo o espólio de mais de 50 coches que se encontra no Paço de Vila Viçosa passará a integrar este Museu, assim como todos os arreios, etc. que se encontram nas reservas por falta de espaço O novo edifício está pensado para não criar uma separação entre coleção e depósito, garantindo a proteção da totalidade da coleção de forma visitável. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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AGENDA

Pa r a f i c a r i n f o r m a d o s o b r e t o d a s a s a c t i v i d a d e s d a A A A I O p a r a 2 0 1 2

Agenda Data

Hora

Atividade

Local

15h

Visita ao PanteĂŁo Nacional

Informaçþes na AAAIO

23 de junho de 2012

13h30

Festa dos Santos

Nova Casa, Largo da Luz, Lisboa

25 de julho de 2012

15h

Visita Ă Estufa Fria

Informaçþes na AAAIO

22 de agosto de 2012

15h

Visita ao Museu Bordalo Pinheiro

Informaçþes na AAAIO

27 de setembro de 2012

18h

Recital de poesia com NatĂĄlia Hasse Fernandes

Sala do Conventinho

13 de junho de 2012

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Helena Ca i xei ro – AA Nº 177/ 1964 Eduarda Ca i xei ro – AA Nº 176/ 1971

Entrevista a Isabel Oliveira Marques – AA 352/1981

E

stamos no Museu da Água. Podes explicar-nos um pouco que lugar é este, onde trabalhas? Este espaço é a Estação Elevatória a Vapor, dos Barbadinhos, um núcleo do Museu da Água e a EPAL é a empresa Mãe. O Museu da Água tem quatro núcleos – este, a Mãe de Água, a Patriarcal e o Aqueduto.

Como vieste cá parar? Comecei por trabalhar na EPAL, na Direção de Clientes. Depois surgiu uma vaga aqui no Museu para fazer assessoria à antiga Directora do Museu, que era a Dr.ª Margarida Ruas e acabei por vir assessorar o Departamento de Relações Públicas.

Penso que a pessoa

Neste momento é essa a tua que sou hoje também função? Neste momento não é, porque se deve aos anos ela já não se encontra cá, é outra em que estive lá pessoa que ocupa esse lugar e eu já não faço assessoria. Estou noutro departamento que trata do aluguer de espaços pertencentes à EPAL. Como os núcleos são históricos, temos espaços que podemos alugar para a realização de eventos, como jantares de empresa, filmagens, conferências, apresentação de livros, etc. Na verdade tem espaços muito bonitos. E trabalhaste sempre na EPAL? Estudaste em que área? Não, não trabalhei sempre. Fiz o Curso de Ciências da Comunicação e especialização em Relações Públicas e Publicidade. Primeiro fui account manager numa empresa que era a Planet e que já não existe e depois é que fui para a EPAL e já aqui estou há treze anos.

O QUE É FEITO DE TI, AA?

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O QUE É FEITO DE TI, AA?

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O QUE É FEITO DE TI, AA?

Olha, estivemos a investigar e vimos que entraste para o Colégio em 1981. Nasci em 1971 e entrei para o 5º Ano, que era o antigo 1º Ano do Ciclo, em 1981, tinha 10 anos. Quando é que saíste? Saí no 9º Ano, não fiquei até ao 12º Ano. Que lembranças é que tens do Colégio? São boas? Gostaste de lá estar? Para ser sincera enquanto lá andava tinha alguma dificuldade em estar no Colégio. Acho que isso aconteceu com muitas de nós. Sabes, como era a mais nova de quatro irmãos e tinha duas irmãs que lá andavam, a primeira saiu quando eu entrei e, a outra é dois anos mais velha e esteve no Colégio ao mesmo tempo que eu. Eu senti imensas saudades da minha mãe e isso dificultou a minha adaptação ao Colégio. Voltar ao Domingo para lá era muito difícil, chorava, fazia umas fitas, mas depois quando lá estava, a verdade é que me divertia imenso. E o que eu guardo na memória é que foram, posso dizê-lo, os melhores anos da minha vida, felizes e muito divertidos. Depois 42

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de lá ter passado fiquei realmente com esse sentimento – os melhores anos da minha vida. Qual é a tua opinião acerca do Colégio? Aquilo que passamos lá, acho que a maioria dos miúdos, hoje em dia, não tem a noção do que é viver só com as amigas e ter aquele espírito de solidariedade que é muito difícil encontrar cá fora. É como uma família. E não é o ir à escola quatro ou oito horas por dia, aquilo é viver 24 horas por dia, 5 dias por semana, com as amigas, porque se sai à 6ª feira e se regressa no Domingo e, no fundo há uma vivência quase mais forte do que com a família, do que estar com o Pai e a Mãe. Criam-se laços muito fortes entre nós. Eu tinha amigas dessa época que nunca mais tinha visto e, agora, com o Facebook, encontrámo-nos e foi uma alegria inexplicável. E uma coisa que eu senti quando reencontrei as minhas amigas, foi que, apesar de estarmos sem falar e sem nos vermos há não sei quantos anos, parecia que tinha sido ontem. Estás nalgum dos grupos de AA do Facebook?


O QUE É FEITO DE TI, AA?

Sim, estou num deles. Consegui reunir uma série de amigas, fizemos um jantar e foi espetacular. É pena que no Facebook, não seja um único grupo, porque não faz sentido nenhum haver não sei quantos grupos. Voltaste ao colégio desde que saíste? Não, ainda não voltei, mas tenho imensa pena e quero lá voltar. Saíste em 86? Saí em 86 ou 87. O colégio que encontraste era diferente do que te contavam as tuas irmãs? Sim, sim. A minha irmã mais velha ficou até ao antigo 7º Ano, que era o último e, ela às vezes quando conversávamos dizia-me que “isso no meu tempo não era assim”. Ela apanhou o 25 de Abril? Não me lembro se apanhou, mas ela é do tempo da tua irmã Margarida. Ela é de 74, então a tua irmã deve ter apanhado toda a mudança. Tens filhos? Tenho dois. Um rapaz e uma rapariga. Ela, é a mais velha com 15 e o rapaz tem 7.

Muito, muito. Completamente. Eu saí no 9º Ano e quando cheguei cá fora reparei que a diferença era muito grande. Nós saímos muito bem preparadas. Se continua assim, não me importava nada que a minha filha lá estivesse. Ela frequenta uma escola particular, está no 10º ano e é completamente diferente. Há outra coisa importante e, por isso entendo porque os meus pais estavam tão descansados. Ali estávamos protegidas e tínhamos uma excelente educação e preparação para a vida. Além da parte afetiva, toda a parte pedagógica que ali existe, a Puericultura, Culinária, Costura, Música preenchiam grande parte da nossa preparação. Toda esta riqueza educativa não existe cá fora. Outro aspeto é que não apanhávamos chuva, não fazíamos um almoço. Agora as meninas já ajudam a levantar as mesas e, isso, também é uma mais-valia. No meu tempo, não fazíamos isso, mas tínhamos as nossas tarefas na camarata e nas salas de aula, que contribuíam para a nossa preparação. Também tínhamos à mão tudo o que necessitávamos, não apanhávamos transportes nem nada.

Achas que conseguias matricular a tua filha no Colégio e separar-te dela? Sim. Acho que os filhos são nossos, mas também não o são e devemos pensar no melhor para eles e, acho que o Colégio nos deu e ainda dá uma preparação excelente.

Não tinha pensado nisso. Mas nos anos que lá andamos não damos valor a essas coisas. Só mais tarde avaliamos o que tivemos. Vamos para lá pequeninas e como nos falta uma parte, a nossa Mãe, criamos defesas, aprendemos a ser disciplinadas, a respeitar os outros elementos fundamentais para a nossa formação.

Sentiste que essa preparação te ajudou na tua evolução como pessoa?

Agora também existe uma componente militar que no meu tempo não havia. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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No meu também não, mas havia aulas de esgrima com a Conceição Leal. Que engraçado, não imaginava. Voltando ao Museu da Água, vocês organizam visitas aos núcleos? Sim, aqui no museu temos a parte pedagógica, que é o Serviço Águas

Livres, que funciona com as escolas, mas temos também visitas de lares de 3ª idade e Centros de Dia. Além disso temos a parte das exposições que vão mudando. É uma alternativa para as visitas que as senhoras no nosso lar fazem aos museus. E o que achas da Associação ter uma revista? Acho ótimo, porque assim uma pessoa sempre pode estar a par do que vai acontecendo e saber de outras antigas alunas.

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Achas que a tua formação no Colégio teve muita influência na tua formação posterior? Imenso. Eu acho que o Colégio me marcou a todos os níveis, a todos níveis mesmo. Penso que a pessoa que sou hoje também se deve aos anos em que estive lá. E aprendi imenso. Tal como já disse, aprendi a camaradagem e a solidariedade que tínhamos umas com as outras, a parte de formação da pessoa está muito vincada e por outro lado a parte pedagógica também foi muito importante. Em qualquer coisa que eu faça no meu dia-a-dia está qualquer coisa que eu aprendi no Colégio. Para além do que nos contaste, o que é que gostas de fazer? Gosto de fazer ginástica, gosto muito, para além de um hobby é uma coisa que faz muito bem, gosto de ler, gosto de ir para a praia quando está bom tempo mas a coisa de que eu gosto mesmo, mesmo, mesmo é de estar com a minha família. A sério, gosto mesmo de estar com os meus filhos e aproveitar cada minuto, e de estar com os meus pais, os meus irmãos e o meu marido… Cada vez dou mais importância a isso. Eu acho que terminamos lindamente. Agora vamos tirar umas fotografias…


O QUE É FEITO DE TI, AA?

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Teresa Cunha Lopes, cidadã do mundo com alma lusa e coração mexicano

A

o lermos o percurso académico de Teresa Cunha Lopes, AA nº 101/1968, ficamos sem fôlego e completamente esmagadas por tanta diversidade e bem marcado por uma grande energia e alegria de viver. Apesar de Teresa ser um ano mais nova do que eu, tenho de confessar que não me lembro nada, mesmo nada dela no colégio. Encontrámos há uns 15-18 meses no ciberespaço. E o seu otimismo e dinamismo chamaram-me à atenção. Quem é esta portuguesa, menina de Odivelas, a viver no México?

O amor levou-a para a América Central, onde chegou a 15 de julho de 1992. Mas foi a paixão académica que a levou pelo resto do mundo. “O meu percurso académico é sinuoso, um pouco porque a vida de emigrante nos obriga a uma constante adaptação ao mercado de trabalho, outro tanto porque cada dez anos parece que tenho outras curiosidades e outros interesses”, comenta, bem-humorada, Teresa. Depois de sair do colégio, foi para Paris tirar o curso de História, opção História da Arte e Arqueologia (Etnologia Pré-histórica) na Sorbona (Paris I), a que se seguiu logo uma pós-graduação (DEA y Doctorat de 3ème Cycle).

Todas as grandes vidas são feitas com muito trabalho

Regressou à pátria, tendo começado a trabalhar na Universidade do Minho, não na sua área, mas em História Antiga (Grécia e Roma) “o que me levou a pedir uma bolsa para a École Pratique des Hautes Études para fazer uma tese de doutoramento com o Professor Marcel Detienne, especialista em Antropologia da Grécia Clássica”. O tema era “Os fundamentos sacro-religiosos das estruturas do poder. Um estudo comparativo entre a Grécia Antiga e o Japão”. No quadro desta tese foi dois anos para a Universidade Imperial de Gakushuin, Tóquio (Japão), para trabalhar com o Professor Atsuhiko Yoshida.

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Voltas da vida. No Japão conhece um mexicano, Luís, por quem renuncia ao seu trabalho em Braga e vai para o México. Aí entra para a Faculdade de Direito da Universidade Michoacana de São Nicolau de Fidalgo (UMSNH). Sem possibilidades de trabalhar em História – um déjà vu –, leciona matérias de História do Direito e Direito Romano. Começou a interessar-se por Direito. Fez o Mestrado em Filosofia do Direito e depois um o Doutoramento em Direito com uma tese sobre o Direito de Privacidade e Proteção de Dados Pessoais em Internet. Pelo caminho, “fui trabalhando em questões relacionadas com a Sociedade da Informação (Redes Sociais) e por esta razão fiz uma especialidade em Economia Global Eletrónica e um mestrado em Sociedade da Informação e do Conhecimento (estos dois últimos no sistema de e-learning)”.

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Com um percurso tão agitado, não admira que o seu dia-a-dia seja frenético. Com uma vertente letiva superior às das universidades portuguesas e como titular da área de Ciências Sociais do Centro de Investigações Jurídicas e Sociais (CIJUS) da Faculdade de Direito da UMSNH coordena projetos e o trabalho dos bolseiros do CIJUS. Mas Teresa não se fica por aqui. “Também tenho a coordenação do Corpo Académico “Direito, Estado e Sociedade Democrática” e sou investigadora do Sistema Nacional do Conselho Nacional de Investigação e Tecnologia (CONACYT)”. Alegria de viver. Trabalhar no que se gosta. “Basicamente trabalho com um grupo de amigos(as) e investigadores, bastante consolidado, em que temos que produzir e publicar resultados de investigação e formar recursos humanos. Desta colaboração nasceu o Seminário Internacional Permanente sobre “Equidade e género nos países iberoamericanos” e o Seminário Internacional Permanente “Transformações Jurídicas e Sociais no Século XXI”. Todas as grandes vidas são feitas com muito trabalho. Teresa entrou para a UMSNH por concurso aberto e público e, assim, de concurso em concurso, foi encontrando os espaços de trabalho e promoção – “a via crucis dos concursos”. A entrada no Sistema Nacional de Investigadores é também por concurso, sobre a avaliação da produção de investigação dos últimos três anos. O mesmo com o Corpo Académico que é parte de outro sistema nacional, o de PROMEP-SEP. “Ser Titular da Área de Ciências Sociais do CIJUS é um cargo por eleição interna entre os investigadores do CIJUS


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(Conselho Académico) e ratificado pelo Conselho Técnico da Faculdade”. Apesar de em adolescente ter querido ser astronauta, Teresa Cunha Lopes gosta muito de dar aulas – “sei que é estranho e que a maior parte dos professores universitários gostam de trabalhar em investigação e dão aulas por obrigação. O meu caso é ao contrário: gosto de dar aulas e faço investigação por obrigação”. De tal maneira que nunca pensou em mudar de profissão. Tem muitos momentos compensadores. Gosta de trabalhar em equipa e com alunos, mas tem “ódio” às intermináveis reuniões e ao tempo que tem que dedicar à “batalha” pelo dinheiro para os projetos, publicações e para os bolseiros. Mesmo que pareça que toda esta vida profissional se construiu com uma perna às costas, tal não é assim. Teresa já passou por alguns momentos muito difíceis, principalmente no ano 19992000, em que teve que sair da UMSNH. Uma porta fecha-se, mas abre-se uma janela. Nesse ano, teve a oportunidade de trabalhar com o Governo do Estado de Michoacán no chamado Projeto Michoacán 20-30 e na Universidade Católica D. Vasco de Quiroga. “Duas experiências que recordo, hoje com muito carinho e com as quais ganhei o grupo de amigos que tenho na atualidade. É interessante que esses momentos difíceis foram os que precisamente me obrigaram a mudar o rumo e a construir um presente que é bastante agradável”. Com uma vida tão preenchida, terá tempo para outras atividade? Teresa lê

muito e… é uma dependente da Internet ... Mas “gosto também muito de fazer turismo interno: descobrir aldeias, montes, caminhos e, principalmente praias mexicanas. E confesso que não resisto a um fim de semana gastronómico ou de explorar os diversos “tianguis” (mercados tradicionais). Tenho uma paixão pela Cidade do México e pelo Lago de Patzcuaro”. E ocupa, também, o tempo livre com algumas atividades como o programa de rádio “Mesa de Análisis

político de los Viernes “em AIMICH e a coluna de opinião nos jornais. Mais de 30 anos passaram desde o tempo do colégio – “os meus melhores anos (outro período que recordo com o mesmo sentimento é o período de Tóquio), com amigas e um clima tipo “Os Três Mosqueteiros”. Vantagens em escolas só femininas? E em colégios internos? As escolas só femininas têm grandes vantagens “porque os ritmos de desenvolvimento entre homem e mulher são diferentes e LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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os códigos sociais, infelizmente, levam por vezes a uma autocensura” e opção por comportamentos de acordo a estereótipos, que não deixam espaço para uma verdadeira liberdade de buscar e potenciar ao máximo as nossas capacidades. Quanto aos colégios internos, estes podem solucionar alguns problemas, como a distância a um centro de educação de boa qualidade, mas “penso que o contacto diário com a família é muito importante”. Para um dos seus filhos, o Pedro Emiliano, ainda ponderou a hipótese de o inscrever no Colégio Militar, mas com a distância era complicado.

Mas como se sente uma portuguesa no México? “Portugal e o México são países que compartilham uma herança comum: o cristianismo (na versão católica) e raízes ibéricas (apesar de estas coincidências, também Portugal e Espanha são tão diferentes, como dizia Miguel de Unamuno: “Em Portugal, as revoluções fazem-se com flores, em Espanha com sangue) … mas, no México a outra raiz, a indígena, é muito forte e por consequência existem profundas diferenças na maneira de ver os outros, a vida e, principalmente, o tempo e o destino, a morte”. Na superfície são semelhantes, mas profundamente diferentes.

Movimento Vida Ascendente

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VA-MCR é um Movimento de Cristãos Leigos de Portugal, membro da VMI – Vie Montante Internationale (presente em 50 países, nos cinco continentes)

Correio: Vida Ascendente - MCR Igreja de Nª Sª Rº de Fátima Av. Marquês de Tomar 1050-154 LISBOA

Cristãos leigos, homens e mulheres, que atingiram a idade da reforma profissional e querem viver em grupo o seu compromisso de baptizados.

Pessoalmente: Edifício anexo à Igreja - Porta 3 - 2º

Com a VA-MCR dão sentido à reforma/ /aposentação. Constituídos em grupos estes cristãos procuram viver à luz do Evangelho os compromissos e desafios atuais da sociedade

Email: vida.ascendente@sapo.pt

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Telefones: 217 269 822 / 927 427 624

Sítios: www.vidascendente.org www.mcreformados.org


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N

Manuela Barbosa*

Salomé de Almeida o dia 26 de Novembro de 2011, tive o grato prazer de apresentar na Sala do Conventinho da Nova Casa da AAAIO, o livro “O Balão do Menino Jesus”. Este livro, com ilustração de Joana Banhudo, apresenta uma poesia para crianças, recuperada agora da minha memória, onde permaneceu bem viva cerca de seis décadas.

Essa poesia foi-me ensinada pela minha professora da 2ª classe, Salomé de Almeida, professora que deixou na minha memória de criança, admiração, enlevo e gratidão. Era uma professora de quem se gostaUma aluna do início va logo. Deixava transparecer no seu dia-a-dia uma grande competência e do Instituto de Odivelas exigência, mas ao mesmo tempo a que se distinguiu a ensinar sua sensibilidade, afabilidade, genee a escrever histórias rosidade e pedagogia eram evidentes e constituiam uma corrente de atracção para crianças para as suas alunas. O respeito e ternura que lhe tínhamos eram enormes e no meu caso, mesmo depois de ter deixado a Escola de João de Barros, onde a conheci e fui sua aluna, visitei-a durante anos até ao término da sua carreira. Falando ainda hoje com ex-colegas desses tempos e que também foram suas alunas, como é o caso de Berta Garcia também curiosamente antiga aluna do IO, todas são unânimes em a considerar uma professora exemplar, com conceitos pedagógicos ainda pouco comuns nesses tempos e uma intuição especial que deixou para sempre na nossa memória um sentimento de afectividade e admiração. Mas quem foi então Salomé de Almeida? Passados que são tantos anos após a minha instrução primária foi muito interessante fazer hoje essa pesquisa, tornando-a pública como homenagem à sua memória.

* Ex-Investigadora-Sénior do INETI – a autora escreve usando a antiga ortografia. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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Salomé de Almeida, de seu nome completo, Ermelinda Salomé Paiva Gouveia Neves, nasceu em Luanda a 22 de Outubro de 1893. Seu pai, José Gouveia Neves, Tenente do Exército, nasceu igualmente em Luanda em 1854. Sabe-se que entrou no Instituto de Odivelas em 1902, com 9 anos, onde foi a aluna nº 21 A e onde frequentou os cursos do Liceu e do Magistério Primário. Não há registo da data em que saiu do IO. Depois disso deve ter regressado a África, pois há notícia de ter sido professora do ensino primário na Guiné e em São Tomé, terra natal de sua mãe, Joana da Costa Paiva. Posteriormente deve ter regressado à Metrópole, talvez por os pais terem falecido. Tendo ficado viúva do seu primeiro marido, Fernando do Vale Teixeira, em 1938, volta a casar em 1940 com Gaspar Severino de Almeida. Passa mais uma vez a exercer as suas funções de professora do ensino primário, dando a 2ª e 3ª classes agora na Escola de João de Barros, um colégio particular iniciado na década de 40 em Campo de Ourique. Para além do ensino programático acarinhava a “Arte de Dizer” e as suas lições nesta matéria enriqueceram-nos a todas nós, dando-nos preparação para a comunicação na nossa futura vida profissional. Salomé de Almeida era uma referência na nossa Escola e por isso mesmo 50

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respeitada por todos, corpo docente e alunas. Quando este Colégio fechou no início dos anos sessenta, Salomé de Almeida ainda foi leccionar para a Escola de Pedro Nunes, também em Campo de Ourique, de onde se aposentou. Tive o grande privilégio de ser aluna desta Senhora na Escola de João de Barros, nos anos de 1947 e 1948. Salomé de Almeida foi também um destacado nome da literatura infantil dessa época distante, nome bem conhecido das crianças portuguesas dos anos 40 e 50 pelas histórias que escrevia ou que adaptava e que alimentavam o seu imaginário, deixando certamente indeléveis memórias em várias gerações. As Colecções BÉBÉ e CAROCHINHA da Empresa Literária Universal (15, Rua da Hera, 17 – Lisboa) e ainda a Colecção CONTOS DE ENCANTAR (série Joaninha) da Livraria Clássica Editora, também em Lisboa, eram essencialmente os seus suportes de divulgação. A Colecção CAROCHINHA quando relançou a sua nova colecção de contos ilustrados com 10 gravuras, pela Livraria Civilização ( Rua do Almada 107-Porto) fazia-lhe o maior elogio: “Salomé de Almeida, a conhecidíssima escritora da literatura infantil, vem contar, na nova COLECÇÃO CAROCHINHA, naquela sua linguagem tão do agrado dos pequeninos, muitas e lindas histórias que os irão deliciar. Parabéns, pois, às crianças de Portugal!”


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As Histórias de Calanga a Feiticeira, Maria Tonta, o João Pateta, o Leão Doente, o Feiticeiro Fogo, a Bela e o Monstro, o Príncipe Careca, El-Rei D. Salamaleque I e tantas outras fizeram as nossas delícias nos tempos em que a janela para o mundo das aventuras era apenas aberta com os livros que líamos antes de adormecer. “Falam os Animais” foi outro grande título da escritora, distinguido em 1946 com o “Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho” do SNI. Pondo os animais a falar ensinava de uma forma simpática e divertida o nome dos sons que estes emitiam e o cuidado que devíamos ter com eles. Salomé de Almeida não criou apenas histórias originais, adaptou também para a língua portuguesa muitos contos tradicionais e conceituados de outros países como o Soldadinho de Chumbo, Contos dos Irmãos Grimm, de Perrault e de Hans Christian Andersen, abrindo assim uma frincha de internacionalização num país fechado sobre si próprio. Na Biblioteca Nacional existem mais de 30 entradas de títulos com o seu nome. É obra! No entanto a sua vontade de comunicar, escrever e de divulgar era tão forte que com regularidade publicava ainda contos infantis na Revista “Menina e Moça”, veículo literário da MPF. Deixou-nos em Janeiro de 1969. A sua história terminou aqui, mas a sua memória persiste em todos aqueles que tiveram o gosto de aprender com ela. Curiosamente o seu nome chegou

à internet e alguns dos seus livros encontram-se à venda neste meio de comunicação global, disponibilizados por consumidores dessa época, o que é inequivocamente um sinal da sua dimensão cultural. Salomé de Almeida foi uma mulher progressista para a sua época, não só pelo seu interesse pelo estudo, como pelo seu interesse pelo Teatro e Arte de Dizer, como ainda por se ter afirmado como uma mulher com personalidade na sua vida pessoal, que deixou obra, que soube vencer certas barreiras do seu tempo, mas acima de tudo porque foi uma Professora, digna desse nome, com grande vocação para o seu mister, competente, afectiva e generosa, interessando-se sempre pela ajuda ao próximo na tentativa de diminuir o sofrimento alheio. Certamente que a qualidade do sistema de ensino do Instituto de Odivelas de então, também teve a sua quota parte de responsabilidade na dignidade e mérito da obra de Salomé de Almeida. Agradeço à Direcção da AAAIO nas pessoas de Ana Maria Hoeppner, Maria Antónia Serpa Soares e Margarida Pereira-Müller a oportunidade que me proporcionaram e a ajuda prestada na pesquisa de dados sobre Salomé de Almeida. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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O QUE É FEITO DE TI, AA?

Salom é Pereira de Mat os – AA Nº 174/ 1999

Por aí...

C

om uns tenros e despreocupados 21 anos decidi partir. Parti sem as lágrimas de quem deixa família e amigos para trás, sem a mágoa de quem abandona a pátria, sem Velhos do Restelo, sem nostalgia. Parti com o mesmo entusiasmo e curiosidade infantil com que, anos antes, me tornei uma Menina de Odivelas.

Este poderia ser uma história, um pouco ao estilo de um conto de fadas, com o toque de fantasia que lhe caberia por direito, ou um relato monótono, insípido e sem qualquer magia de um qualquer emigrante. Opto por contá-la no meu desajeitado jeito literário: umas vezes com o rigor e objetividade de um procedimento científico, outras salpicando com uma réstia de ingénua imaginação. E assim… era uma vez. Após oito áureos anos no Instituto de Odivelas, ingressei na Universidade de Lisboa, no curso de Física, e após concluída a licenciatura mudei-me para a Universidade de Edimburgo onde estou neste momento como estudante de doutoramento em Astronomia, no Real Observatório de Edimburgo. Tornara-se então oficial o meu estatuto de emigrante e de cidadã do mundo, “uma menina do mundo com asas abertas” – como diz a minha mãe. A rotina de uma estudante de doutoramento não sofre necessariamente de monotonia, já que os rituais semanais sempre oferecem bastante variedade. E, entre o trabalho de investigação, envolvendo componente prática e uma viagem de pesquisa literária constante, as aulas dadas na universidade, as discussões férteis com investigadores e outros alunos de doutoramento e as palestras de frequência regular que decorrem no Observatório, pode dizer-se que se pratica diariamente um exercício de autodisciplina, alimento perfeito para a mente e para o espírito. Também não faltam as oportunidades de viajar e conhecer as caras daqueles cujos nomes, em garota, lia nos livros e ouvia falar nos meios de comunicação social. É uma experiência deslumbrante, um contacto fascinante com oportunidades de crescimento únicas no caminho da construção de mais e melhor conhecimento. Ter sido uma Menina de Odivelas durante oito anos fez parte do início desta caminhada; um muito obrigada a todos os que me ajudaram a crescer assim…

Sou “uma menina do mundo com asas abertas”...

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O QUE É FEITO DE TI, AA?

Quanto a Edimburgo é uma cidade pequena e encantadora, onde nas ruas se cruzam pessoas dos quatro cantos do mundo, onde se escutam diferentes línguas, uma cidade histórica e simultaneamente moderna, mas sem o ritmo frenético de uma grande capital europeia. Uma cidade que reflete a multifacetada cultura escocesa: desde a recortada paisagem pelas montanhas e vales que lhe cobrem todo o território, até ao alegre ambiente que se vive dentro de um pub onde as gargalhadas se regam com um trago de whisky, e onde a facilidade de acesso a eventos culturais e artísticos diversificados é uma marca da valorização do conhecimento. Na rua principal da cidade, a atmosfera é turística. Ouve-se o som da gaita de foles em cada loja e esquina e não falta o homem usando o tradicional kilt, exibindo os seus dotes musicais enquanto é alvo dos flashes das máquinas fotográficas dos transeuntes em troca de uns pennies.

contadas e recontadas de um passado sanguinário da luta pela independência, luta esta que ainda hoje sucede nos palcos de uma sociedade moderna onde as armas são outras. Os escoceses escondem por detrás de um sotaque carregado a amabilidade de um povo

O povo escocês tem ainda a sua história bem presente, não só na preservação do património deixado pelas gerações anteriores como também nas memórias

Ainda tenho muito que aprender desta terra e da sua gente. Fica como convite uma viagem a esta cidade da cultura que é Edimburgo e a toda a Escócia.

que sabe acolher com um sorriso e de braços abertos.

A arte de envelhecer consiste em conservar a esperança André Maurois (1885-1967)

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IN MEMORIAM

I N MEMO RI A M

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Infelizmente não somos eternos e é sempre com pesar que dizemos adeus a colegas e residentes

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Maria Teresa Bonneville Nesbitt Rebelo da Silva AA Nº 19/1949 a 12 de Maio de 2011

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Maria Cristina Dinis Antiga professora de Português e Francês do IO a 3 de maio de 2012

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Isabel Maria Gago AA Nº 81/1922 a 8 de maio de 2012

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IN MEMORIAM

Lurdes Gu errei ro – AA Nº 113/ 1967

Porque as lágrimas queimam*

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heguei naquele dia… aqueles olhos abraçavam o Mundo… uma menina que pedia “colo”!!! Não é fácil manter um diálogo com quem quase não fala… mas foi tão boa a conversa reduzida ao Código do Coração. “En passant”, partilho alguns instantes de ternura.

Um dia, quando a tigela da sopa estava a 2/3 e o apetite era nulo, veio a fruta. Olhando-me fixamente com aquele olhar de mar, disse-me: “faz bem à saúde”… respondi “mas a sopa também”… de imediato, com a antiga altivez, retorquiu: “tais toi”! No dia em que lhe levei uma rosa perguntou-me, acariciando-a… “pourquoi?” ao que respondi… “parce que je vous aime”… Naquele momento senti-me invadida por uma onda de ternura azul… menina aos meus olhos mas sempre uma Mulher de corpo inteiro. Senti que o nosso último encontro foi mesmo o derradeiro. Segurou-me na mão, entrelaçou os seus dedos nos meus, tocou-me no rosto, passou a mão nos meus cabelos, beijou-me… foi a despedida… A notícia apanhou-me de supetão… o coice da saudade bateu no meu peito… a dor da ausência tomou o meu corpo…

aqueles olhos abraçavam o Mundo…

Como iria eu voltar a entrar na nossa Casa e encontrar o seu lugar vazio? Aquela alma imensa já não tinha espaço num corpo tão franzino… tinha de seguir Viagem… hoje “banha-nos” com olhos de Céu!

* Texto de homenagem à Professora Henriqueta Louro. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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NOTÍCIAS DO IO

NOTÍCIAS DO IO

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O 8º ano do IO no Adventure Park (Parque Aventura)

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o dia 11 de abril de 2012, no âmbito da disciplina de Educação Física, as alunas do 8º ano, deslocaram-se ao Adventure Park (Parque Aventura), situado no Pinhal da Paiã (Pontinha), para a prática de atividade física “radical”. Integradas numa paisagem de pinheiros, as alunas percorreram o circuito de arborismo “Descobertas” que incluía “slide” e vários obstáculos a ultrapassar. As alunas passaram uma tarde repleta de aventura e de movimento e experienciaram momentos de grande animação e de boa disposição. Acompanharam as alunas, a professora de Educação Física, Teresa Martins, e a diretora de turma do 8º 2ª, Margarida Cunha.

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As alunas do 8º ano evidenciaram um comportamento excelente envolvendo-se, de forma entusiasmada e responsável, nas atividades propostas, respeitando plenamente as regras de participação, de segurança e de utilização adequada do equipamento, previamente explicadas pelos monitores do Parque Aventura.


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Visita de Estudo à Fábrica de Papel Renova

Classe Especial de Ginástica representará Portugal na Gala União Europeia de Ginástica

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visita de estudo à «RENOVA – Fábrica de Papel do Almonda, S.A.», realizada no dia 19 de março de 2012, contou com a participação das alunas das turmas: 8º1ª, 8º2ª, 10ºCCS, 10ºCLH, 11ºCCS e 11ºCLH, no âmbito das disciplinas de Geografia (8º ano), Geografia A e Economia A (10º e 11º anos). As alunas foram acompanhadas pelas professoras Teresa Abrantes, Isabel Ataíde e Margarida Cunha e pelo professor Fernando Trino. Para além da visita guiada à fábrica RENOVA, foi aproveitada a viagem para obser var e explorar lugares e paisagens dos quais se destacam: a serra de Aire e Candeeiros, a nascente do rio Almonda e o Jardim Municipal de Torres Novas. Por último, é de realçar, ainda, o excelente comportamento das alunas que cumpriram as normas previamente divulgadas pela RENOVA, tendo participado ativamente durante toda a visita de estudo, o que permitiu relacionar conhecimentos teóricos e práticos.

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Classe Especial de Ginástica do Instituto de Odivelas foi convidada pela Federação de Ginástica de Portugal para representar Portugal na Gala União Europeia de Ginástica (UEG) que decorrerá no dia 18 de Julho, integrada no programa do 8º EuroGym – Coimbra 2012. Mais um enorme motivo para gritar bem alto: Cada Vez Mais Alto! Cada Vez Mais Alto! Cada Vez Mais Alto!

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Concurso de Admissão ao Instituto de Odivelas – Infante D. Afonso – 1ª fase

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o passado dia 27 de março teve lugar a 1ª fase do Concurso de Admissão ao Instituto de Odivelas (IO). Da parte da manhã, as Candidatas ao 5º, 6º, 7º, 8º, 9º e 10º ano de escolaridade realizaram a Prova de Aptidão Cultural, com-

posta de duas provas escritas: Português e Matemática. Na parte da tarde, realizaram-se as Provas de Aptidão Física e foram efetuadas as Inspeções Médicas. No dia 30 de março, realizaram-se as Provas de Avaliação Psicológica.

Felizmente Há Luar! na Malaposta

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o dia 16 de março, um grupo de alunas do 12º ano assistiu, no Centro Cultural da Malaposta, ao espetáculo Felizmente Há Luar! Acompanharam-nas a Senhora Subdiretora e as Professoras Ilda Pascoal e Mª do Carmo Dias. Apesar da exiguidade do espaço e dos parcos recursos cénicos, os atores, estudantes do Ensino Secundário e Universitário, interpretaram os seus papéis com alma e muito talento e o resultado final foi um trabalho de grande qualidade que agradou a todas.

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NO T Í CI AS D O I O

Visita de Estudo Guiada ao Parque Natural Sintra-Cascais

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visita de estudo guiada ao Parque Natural Sintra-Cascais decorreu no dia 20 de março de 2012 com as alunas das turmas 10ºCCT, 10ºCCS, 10ºCLH e 11ºCCT, no âmbito das disciplinas de Biologia/Geologia do 10º e 11º anos CCT e Geografia dos 10º anos de CCS e CLH, acompanhadas pelas senhoras professoras Carla Gouveia, Teresa Abrantes e Teresa Pericão e pela engenheira Lia Mergulhão. As alunas destacaram-se pelo excelente comportamento, interesse manifestado e conhecimentos revelados. Também o Instituto de Odivelas foi elogiado pela qualidade de ensino que ministra.

Foi possível ver os vários ambientes geológicos, bem como as espécies que habitam e as caraterísticas que marcam o litoral ao longo das várias paragens e dos percursos visitados (alguns exemplos: Boca do Inferno, dunas consolidadas em Oitavos, praia do Guincho, Cabo da Roca, Praia Grande do Rodízio, esta última para observação de pegadas dos dinossauros).

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NO T Í C I A S D O I O

Balanço da Semana das Línguas, Culturas e Artes do Instituto de Odivelas de 2012

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A maioria das atividades decorreu, em simultâneo, numa das amplas salas de recreio do IO, o que favoreceu o convívio entre as alunas, a entreajuda e a partilha de saberes. E os diferentes trabalhos produzidos testemunham o entusiasmo das

ntre os dias 28 de fevereiro e 6 de março, decorreu a Semana das Línguas, Culturas e Artes do Instituto de Odivelas (IO). Colaboraram na sua organização e dinamização, os grupos disciplinares do Departamento de Línguas e os grupos de Educação Visual e de Música. As várias atividades propostas às alunas e demais intervenientes da comunidade

escolar tiveram como objetivo promover a criatividade, numa perspetiva interdisciplinar e num ambiente que se pretendeu lúdico e produtivo.

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participantes. Ainda no âmbito desta semana, há a destacar a feira do livro estrangeiro que se prolongou até ao dia 9 de março, bem como a conferência “A Presença dos Clássicos na Poesia Portuguesa do Século XX”, proferida pela Professora Doutora Ana Alexandra Alves de Sousa da Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e destinada a todas as alunas do Ensino Secundário.


NO T Í CI AS D O I O

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IV Festival dos Três Estabelecimentos Militares de Ensino

o passado dia 23 de março de 2012, teve lugar o IV Festival dos Três Estabelecimentos Militares de Ensino (3EME): Colégio Militar (CM), Instituto de Odivelas (IO) e Instituto dos Pupilos do Exército (IPE), no Pavilhão Multiusos de Odivelas. Estiveram presentes: a Alta Entidade, a Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, os Diretores do CM, do IO, do IPE e demais entidades convidadas. Pais, encarregados de educação e familiares, professores e funcionários militares e civis, alunos e alunas, assistiram ao evento. De destacar, igualmente, a grande afluência do público em geral, bem como a forma entusiástica como os alunos dos três EME aplaudiram a atuação dos participantes ao longo da noite cultural e desportiva.

de Portugal ao acontecimento desportivo de maior relevo em todo o mundo, nomeadamente, a antiga aluna Maria Isabel Joglar, (AA 362), que foi atleta olímpica na modalidade Tiro de Pistola nos Jogos Olímpicos de Los Angeles de 1984. De referir a presença das antigas alunas: Luísa Lino, (AA 140), Isabel Pereira, (AA 377), e Maria Teresa Martins, (AA 217 e professora de Educação Física e de Voleibol no IO), que fizeram parte da equipa de Voleibol Campeã Nacional de Juniores, em 1980. De acordo com título do IV Festival: “Ginástica encontra-se com a Música”, seguiu-se a atuação dos grupos de Coros dos três EME e da Orquestra Ligeira do Exército, das classes

O tema do IV Festival dos três EME foi os Jogos Olímpicos do passado ao presente e, neste propósito, foram homenageados antigos alunos dos três EME que foram atletas olímpicos, ou que se destacaram no desporto a nível nacional. Procedeu-se à cerimónia de entrega de lembranças a alguns desses antigos atletas e, durante o Festival, foram recordados todos aqueles que levaram o nome LAÇOS 2/12 – fevereiro-maio 2012

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de Ginástica do CM, do IO e do IPE, e da classe de Taekwondo do IPE. O encontro gímnico contou, também, com a atuação de ginastas do Ginásio Clube de Odivelas, da Federação de Ginástica de Portugal, do Ginásio Clube Português e da Associação de Ginástica de Lisboa. Numa ação de solidariedade e de responsabilidade social, os três EME encetaram uma campanha de recolha de géneros alimentares a serem entregues a famílias carenciadas. O donativo foi entregue, por

ocasião deste IV Festival, pelos Diretores do CM, do IO e do IPE, a representantes de três instituições de solidariedade social do concelho de Odivelas. Já no final do evento, as associações desportivas participantes receberam uma lembrança e a Presidente da Câmara Municipal de Odivelas fez uma oferta a cada um dos Diretores dos três EME. Com a entoação do Hino Nacional, deu-se por encerrado o IV Festival dos Três Estabelecimentos Militares de Ensino.

“Que situação…!”

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o passado dia 12 de Abril as alunas do 11º e 12º ano, inscritas na opção de Instrução Militar, juntamente com os alunos do 11º ano do Colégio Militar, embarcaram nas viaturas de caixa aberta do Exército em direção à Tapada de Mafra. Foram quatro dias em que passámos várias experiências, descobrimos novas sensações, fizemos novas amizades, aprendemos mais sobre a vida militar, aprendemos a dar valor a bens que nós considerávamos adquiridos e a outros que nos eram indiferentes. Nestes quatro dias levámos as nossas emoções ao limite, sentimos ansiedade, medo, cansaço, ódio, receio, dor, curiosidade. Também tivemos alguns momentos de desespero e outros de descontração e convívio, e esses ficaram bem marcados em cada um de nós. Ao longo da experiência aprendemos a dar mais valor à camaradagem e espírito de corpo, pois,

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foram estes os valores que nos permitiram ultrapassar as nossas dificuldades e fizeram com que chegássemos ao fim. Foi com orgulho que chegámos ao Colégio Militar e limpámos as armas que nos acompanharam ao longo de toda esta experiência, e com isto percebemos que com a ajuda dos nossos camaradas conseguimos ultrapassar todas as dificuldades. “A dor é momentânea, e o orgulho é para SEMPRE!” Sílvia Catarina – A. Nº 276

| Inês Liziário – A. Nº 274


NO T Í CI AS D O I O

Comemoração do Dia Mundial da Árvore e da Floresta no Instituto de Odivelas

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o passado dia 21 de março de 2012, comemorou-se o Dia Mundial da Árvore e da Floresta no Instituto de Odivelas (IO). Segundo o programa previsto, da responsabilidade das professoras Marina Aguiar e Teresa Martinho, ainda no dia 20 de março, data do início da primavera, as alunas do Ensino Secundário visionaram o filme “A Árvore da Vida”.

de plantação de um jacarandá no Claustro da Moura. O Diretor do IO apresentou as boas vindas a todos e congratulou-se com a iniciativa da CMO, no âmbito do previsto no protocolo existente entre a CMO e o IO: o trabalho, da responsabilidade da autarquia, de tratamento e de manutenção dos jardins dos Claustros, o Principal e o da Moura, espaços verdes e, igualmente, espaços de

Já no dia 21 de março, as alunas do 2º Ciclo e do 10º ano CCT, plantaram árvores na Quinta, com a presença do Dr. Miguel Teles, da organização “Plantar uma Árvore”. As alunas do 2º e do 3º Ciclo visionaram o filme “Irmão Sol, Irmã Lua” e, no Refeitório geral, um Coro de alunas do 6º ano, sob orientação da professora Natércia Simões, apresentou “Cantar a Árvore e a chegada da Primavera”, na presença da Direção e de Professores. Pelas 15H30, de acordo com uma iniciativa proposta pela Câmara Municipal de Odivelas, (CMO), com a presença da Presidente da Edilidade, de Vereadores, de Funcionários da CMO, do Diretor do IO, de Professores, de Funcionários civis e militares do IO e de todas as Alunas, procedeu-se à cerimónia

recreio das alunas do IO, no seu dia a dia escolar. A Presidente da CMO agradeceu as palavras do Diretor e sublinhou a importância de um monumento nacional como é o antigo Mosteiro de Odivelas, cuja fundação remonta à Idade Média e ao reinado de D. Dinis, estar aberto, graças ao supracitado protocolo, à edilidade e à comunidade, atra-

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vés, nomeadamente, das visitas de escolas do concelho e do público em geral a tal núcleo do património histórico português. De seguida, as alunas do 5º ano, sob orientação da professora Filipa Fraga cantaram, tocaram flauta e ofereceram ao Diretor do IO, um texto e um desenho alusivos ao momento comemorativo. A Presidente da CMO, coadjuvada por algumas das alunas presentes, procedeu, então, à plantação do novo, e agora terceiro, jacarandá do Claustro da Moura. Às 17H30, e na presença da Subdiretora do IO, foram inauguradas, na Sala de Recreio das alunas do 2º Ciclo, as Exposições de trabalhos de alunas: “A Árvore da Minha Imaginação” e “Do Jardim Bíblico à Cidade do Futuro”, organizadas pelas professoras Marina Aguiar e Teresa Martinho, com a colaboração das professoras Dulce Salgado

e Teresa Viegas. Estiveram presentes Pais, Familiares e Encarregados de Educação das alunas. Com imaginação e criatividade, através da expressão plástica e da expressão escrita, as alunas do IO prestaram homenagem à Árvore e contribuíram, simultaneamente, para o alargamento do “pulmão verde” da Terra.

Mais uma vitória em Voleibol

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o dia 3 de março realizou-se mais um torneio do Desporto Escolar no escalão de Infantis A e B. Mais uma vez as nossas alunas Infantis B venceram os seis jogos que disputaram ficando em 1º lugar do torneio.

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Festa de Carnaval do Instituto de Odivelas 2012 -roupa, a coreografia, a seleção musical e o cenário, de acordo com temas variados e originais.

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o passado dia 16 de fevereiro, decorreu no Ginásio mais uma Festa de Carnaval no Instituto de Odivelas (IO) organizada, como é habitual, pelas alunas do 11º ano, e que contou com a presença do Diretor, de professores e de funcionários. Todas as turmas apresentaram as máscaras, o guarda-

As alunas do 11º ano projetaram, igualmente, fotografias da sua vivência no IO, desde o seu 5º ano até à atualidade e, como é tradição, representaram quadros de crítica e de humor dirigidos a todos aqueles que de perto as acompanham no dia a dia escolar, incluindo as alunas, do 5º ano ao 12º ano.

Por fim, foram entregues, entre outros, prémios como o de originalidade, o de melhor coreografia e o de melhor cenário. O Diretor enalteceu a iniciativa e o trabalho de todas as alunas, destacou de forma especial as alunas organizadoras do evento e congratulou-se com o ambiente de animação e de boa disposição proporcionado a todos os que participaram na Festa de Carnaval de 2012.

Menção Ouro no 4º Gym For Life para o Instituto de Odivelas

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Classe Especial de Ginástica obteve a menção OURO no Gym for Life 2012, realizado no passado sábado na Amadora. Mais um enorme motivo para gritar bem alto: CADA VEZ MAIS ALTO! CADA VEZ MAIS ALTO! CADA VEZ MAIS ALTO!

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Instituto de Odivelas na Rádio Renascença

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riado em 1900 para apoiar as filhas de oficiais falecidos, o Instituto de Odivelas está cada vez mais a ser uma opção para pais que procuram a disciplina perdida nas escolas públicas. A Renascença foi tentar saber como é que, 112 anos depois, o instituto alia a tradição aos novos tempos. Neste estabelecimento, cada vez que o director ou um professor entra numa sala de aula as alunas levantam-se de imediato. O respeito aliado à disciplina e ao rigor é uma marca do instituto ou não estivéssemos numa escola militar. Valores de que, segundo o director, o coronel José Serra, a instituição não abdica para continuar a formar as mulheres do futuro e que estão a atrair muitos pais: “As inscrições ainda não abriram e já há 50 candidaturas”. Aqui os programas são cumpridos sem atrasos. E, além das disciplinas normais, há aulas de higiene, puericultura e, para as que querem, instrução militar. José Araújo é pai de uma aluna e acredita ter tomado a melhor decisão.

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Antiga Aluna ganha maior Bolsa Europeia de Investigação “

Cantar as Janeiras

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historiadora da língua está a fazer uma recolha de correio privado português e espanhol entre o século XVII e o início do século XIX. Rita Marquilhas ganhou 1,8 milhões de euros e propôs disponibilizar online, com informação contextual, os facsímiles de 7000 cartas pessoais que foram confiscadas pelo Tribunal da Inquisição e, mais recentemente, pela Casa da Suplicação, para servirem de prova em julgamentos. (...) O Conselho Europeu de Investigação atribuiu bolsas a 294 dos 2284 projectos que concorreram à edição de 2011, uma percentagem de 12%, num valor total de 660 milhões de euros. Candidataram-se 20 projectos portugueses, o que dá um sucesso nacional de 10%.” Parabéns à antiga aluna do Instituto de Odivelas.

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o dia 06 de janeiro de 2012, deslocaram-se ao Estado-Maior do Exército três delegações dos Estabelecimentos Militares de Ensino, a fim de cantar as tradicionais “Janeiras” a S. Exª o Chefe de Estado-Maior do Exército. O evento decorreu nas Caves Manuelinas do Museu Militar, com cada delegação a apresentar dois temas relacionados com a época festiva em curso, finalizando com o cântico de Boas festas, entoado em conjunto por todas as delegações. No final, S. Exª o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Artur Pina Monteiro, agradeceu a iniciativa, retribuindo os votos de boas festas e próspero Ano Novo, seguindo-se um pequeno convívio com os alunos dos Estabelecimentos Militares de Ensino presentes.

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Noite Cultural no Instituto de Odivelas

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o passado dia 20 de janeiro de 2012, pelas 20h30, decorreu no Instituto de Odivelas (IO) uma “Noite Cultural” organizada pelas alunas do 12º ano com o objetivo de angariar fundos para o Baile de Finalistas e que contou com a presença da Direção, antigas e atuais professoras, antigas e atuais alunas, pais, encarregados de educação, familiares das alunas e público em geral. Coube à antiga aluna Catarina Moura a apresentação, bem humorada, de todo o evento cultural. Na Sala do Teto Bonito, a aluna Alda Semedo apresentou-se ao piano numa atuação exemplar. Manuela Machado, antiga professora de Drama Educativo e Teatro, e Amélia Pinto, antiga professora de Piano e de Educação Musical, proporcionaram um momento magnífico e de elevada qualidade artística e pedagógica, igual aos muitos momentos com que habituaram gerações e gerações de alunas. Ouviram-se temas de Chopin, Schumann e poemas de Camões e de Fernando Pessoa. Seguiu-se a excelente atuação da harpista de origem húngara Eva Bodo Guerra.

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No intervalo, passou-se pelo Claustro da Moura, iluminado com dezenas de velas que realçaram a beleza arquitetónica do espaço, ao Ginásio. Aqui, as alunas finalistas serviram a todos os presentes caldo verde, arroz doce e outras saborosas iguarias. Depois, no palco do Ginásio, atuaram as alunas Alda Semedo, Patrícia Lavado, Sara Ferreira e Sofia Marques e a banda “Secret Soul”, composta pelas alunas Alda Semedo, Mariana Ruivo, Patrícia Mano e a antiga aluna Patrícia Gomes. De seguida, um par de dançarinos de Danças de Salão da Associação de Dança de Moscavide, e campeão nacional juvenil, atuou com grande expressividade e mestria. Gustavo Pinto Basto, antigo aluno do Colégio Militar (CM), cantou fado e apresentou-se com a sua banda composta por atuais alunos do CM, proporcionando a todos momentos animados, especialmente às alunas que, de forma entusiasmada, acompanharam cantando, dançando e batendo palmas. Gustavo Pinto Basto cantou, ainda, acompanhado de atuais e antigos alunos do CM, um tema composto quando frequentava o CM e, no final da atuação, referiu os laços que unem alunos do Colégio Militar, do Instituto Pupilos do Exército e do Instituto de Odivelas, citando as respetivas divisas: “Um por todos e todos por um”, “Querer é poder” e “Cada vez mais alto”.


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As alunas do 12º ano agradeceram a quem assistiu à “Noite Cultural” e aos participantes e destacaram a ajuda e a disponibilidade da Direção e funcionários, essenciais na organização e na realização do evento. O Diretor agradeceu a presença de todos e, em especial a dos convidados, congratulou-se com o sucesso da iniciativa, com o exem-

plo de trabalho e de interajuda das alunas do 12º ano e enalteceu o espírito colegial de irmandade e de partilha que existe entre alunos dos estabelecimentos militares de ensino, considerando-o uma lição de vida no presente e no futuro. No final, foi entoado o grito “Salvé nosso Instituto! Cada vez mais alto!”

Campeonato de Esgrima do Exército de 2011 – Resultados A ajuda e colaboração entre as alunas foram fatores essenciais para os resultados obtidos.

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ealizou-se, nos dias 8 e 9 de dezembro de 2011, o Campeonato de Esgrima do Exército – 2011, na sala de armas “COR CAV Ferreira Fernandes”, no Centro Militar de Educação Física e Desportos” em Mafra. O campeonato englobou as provas de Espada Feminina, Espada Masculina, Sabre Feminino e Sabre Masculino, com a participação de 55 atiradores, dos quais estiveram presente seis alunas do Instituto de Odivelas (IO).

Três das alunas do IO conquistaram o pódio da classificação geral. Graças ao empenho de todas, o Instituto recebeu o prémio de “1ª Equipa de Espada Feminina”. É de felicitar as alunas pela sua participação e empenho no campeonato. Levantar às 6h30 horas da manhã em pleno feriado de 8 de dezembro é de “louvar”! Obrigado pelo esforço!

Apesar do espírito apreensivo devido à idade das restantes atiradoras, as alunas do IO participaram com bastante motivação e força de vontade. Com o decorrer dos jogos, as alunas foram ganhando confiança e vontade de vencer. LAÇOS 2/12 – fevereiro-maio 2012

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À CONVERSA COM...

À CONVERSA COM...

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J oaquina Cadet e Phillim ore – AA N º 193/ 1960

Triformasdarte*

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uando se descobre um blogue chamado Triformasdarte, não estranhamos que a autoria também seja tripartida. As Autoras, três amigas, Manuela Machado, Helena Caldeira e Isabel Cordeiro (Isabel Serra) estão todas ligadas ao IO quer por terem sido ou serem ainda lá professoras ou ainda “acumularem” o serem antigas alunas como é o caso da Helena Caldeira. É um concerto a seis mãos em que uma poetisa, uma pintora e uma diseuse se complementam e

fazem magia. Para vos dar a conhecer este trabalho tão rico e interessante, nada melhor que falarmos com as próprias. JCP – Como surgiu a ideia de um blogue como Triformasdarte (T) e em que consiste? T – Triformasdarte significa três formas ... é um concerto de expressão artística, três registos de linguagem: poesia, imagem e intera seis mãos pretação.

em que uma poetisa, uma pintora e uma diseuse se complementam e fazem magia...

Temos vindo a desenvolver este processo de criação, tentando-o de uma forma articulada e convergente.

Triformasdarte foi o formato que escolhemos para dar visibilidade a esta experiência conjunta de conteúdos, coordenados por Manuela Machado, desde o início. Esta triplicidade – lúdica e pedagógica – é matriz de “ESBORRATA-TE no gesto que foste”, o livro que lançaremos em breve.

* As autoras escrevem usando a antiga ortografia.

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À CONVERSA COM...

JCP – Quem pode colaborar? T – Futuramente, gostaríamos de alargar este projecto a outros participantes, interessados nestas formas de Arte e que apreciem a presença da Música, não só como suporte de conteúdos mas também com o objectivo da sua divulgação. JCP – Estão satisfeitas com a recetividade que a página criada no Facebook tem tido? T – Parece-nos que Triformasdarte tem sido lido, visto e ouvido, com agrado – facto que nos causa grande satisfação. Gostaríamos que os “visitantes” deste espaço continuassem a manifestar criticamente o seu ponto de vista, sugestões e opiniões diferenciadas. Ajudar-nos-iam, assim, a perceber melhor o impacto dessa projecção pública e seriam sempre bem vindos. Aparentemente, pode pensar-se que a selecção de conteúdo e a articulação dos mesmos, entre si, é um reportório fácil de gerir. Mas não! Este trabalho/prazer exige critérios anteriormente seleccionados. Pretende-se que, neste nosso blogue Triformasdarte – Leia_Veja_Ouça, seja visível uma vivência articulada de três formas de expressão, construída em harmonia, ou noutras palavras, em uníssono.

A escolha de textos, a convergência destes com a interpretação vocal de Manuela Machado, e a selecção de temas musicais que melhor se adaptem ao clima pretendido e melhor possam interagir (nunca esquecendo a presença das imagens e a presença dos textos “in other words”) constituem “parcelas” de uma descoberta de pensar/sentir reflectido. Naturalmente que competirá aos leitores/ouvintes de Triformasdarte ajuizar se essa reflexão conjunta tem sido bem sucedida ou não. JCP – Agora tem outra página no Facebook, intitulada Música. É uma especialização do Triformasdarte? Não lhe chamaremos, de forma alguma, ”especialização”!

O grupo Música é um espaço onde se partilha o prazer dessa Arte, com o objetivo de aprender e divulgar, tendo em vista o enriquecimento cultural mútuo. A música clássica tem estado sempre muito presente neste espaço – o que me causa um grande prazer. Os excelentes critérios dos membros e os seus ensinamentos têm trazido bastante qualidade a este “cantinho” como, por LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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À CONVERSA COM...

vezes, costuma ser chamado, desde que o criámos. Naturalmente que se tenta ir ao encontro desta partilha – “importando” e/ou “exportando” excertos que nos pareçam de qualidade. Também o grupo “Do Texto Poético à Imagem” tem sido uma experiência muito gratificante. A divulgação de vários escritores portugueses e estrangeiros e de algumas das suas obras ou excertos tem sido outro prazer acrescido, dada a multiplicidade de figuras e obras “trazidas” e “levadas ” para outros murais, de conteúdos apelativos. Ainda acrescento que ouvir e ler poesia, tem sido e será um dos objectivos deste espaço. Concluo, referindo que o facto de termos criado estes dois grupos/espaços, não significa que não se encontrem fora dos seus “muros”, publicações com muita qualidade.

Esperamos que esta conversa tenha despertado a curiosidade dos nossos leitores e leitoras de visitar este blogue e de ler, ver e ouvir as propostas que nos são feitas. E ainda de recordar a nossa professora de Arte de Dizer (nome que então se dava aos professores de Teatro) que entrou no IO, no ano em que o meu curso foi finalista, 1967, tendo-nos ensaiado para a representação da peça da festa de fim de ano, Alceste de Eurípedes. Para saber mais, consultar: http://triformasdarte.blogspot.com https://www.facebook.com/media/set/?set=a.368 507883188655.84101.100000883394403&ty pe=1#!/groups/227235807359657/ https://www.facebook.com/media/set/?set=a.368 507883188655.84101.100000883394403&ty pe=1#!/groups/213140282114023/

Não importa se a estação do ano muda... Se o século vira, se o milénio é outro. Se a idade aumenta... Conserva a vontade de viver, Não se chega a parte alguma sem ela.

Fernando Pessoa

Nota: As Autoras agradecem os vários contributos que enriquecem as páginas já citadas do Facebook e a colaboração de Ana Maria Chaves com as suas excelentes traduções, no blogue.

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J oaquina Cadet e P hi l l i mo re – AA Nº 193/ 1960

À conversa com Maria Joaquina Madeira

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o ano em que se comemora o Ano Europeu para o Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações, não podia a AAAIO deixar de ouvir a Coordenadora do mesmo, Maria Joaquina Ruas Madeira, licenciada em Serviço Social pela Escola Superior de Serviço Social de Lisboa.

Embora aposentada, não resiste a um bom desafio e aí a temos, ativa e empreendedora como sempre, disposta a dar o seu melhor a esta causa. O convite que lhe foi feito tem obviamente muito a ver com o seu percurso profissional de que destacamos os seguintes cargos e funções: Diretora Geral de Ação Social no Ministério do Trabalho e da Solidariedade (1991-2000); gestora do Eixo 5 – Desenvolvimento Social do Programa – Emprego, Formação e Desenvolvimento Social – POEFDS (2000-2003); responsável pela Ação Social (2003-2005) no Conselho Diretivo do Instituto de Segurança Social; Presidente do Conselho Diretivo da Casa Pia de Lisboa (janeiro 2006 a “Os portugueses estão agosto 2010).

a envelhecer cada vez

Conheci Maria Joaquina Maem melhores condições…” deira, já lá vão algumas luas, e talvez o facto de sermos homónimas e de termos andado sempre muito próximas profissionalmente, fez com continuássemos a acompanhar o trajeto uma da outra. Mais uma vez, os nossos percursos se cruzam, já que neste momento, pertenço aos corpos sociais da AAAIO que tem objetivos semelhantes aos deste ano europeu. JCP – Como está a ser o desafio que aceitou?

DESTAQUE

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D E S TA Q U E

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D ESTA Q UE

MJM – Muito interessante e muito desafiante como a própria pergunta sugere. O tema do Envelhecimento Ativo é uma questão de sociedade, isto é, vem questionar o tipo de sociedade de hoje, no sentido em que esta foi um modelo que atirou para um território de exclusão os mais velhos, entendidos como não produtivos ou inúteis. Uma sociedade marcadamente “IDADISTA”, com estereótipos e mitos sobre a velhice, como se, pelo facto de terem idade, os cidadãos deixassem de ser pessoas com dignidade própria e autonomia. O Ano Europeu (AE) vem afirmar que a idade não retira ao cidadão os seus direitos de cidadania plena e que ela pode constituir uma nova oportunidade de saúde, segurança e qualidade de vida. Alerta para o facto de que podemos, desde mais novos, influenciar a qualidade do nosso envelhecimento, com comportamentos saudáveis, cercando-nos de amigos e familiares e participando na comunidade, com trabalho útil e necessário ao progresso social e económico. JCP – Acha que os portugueses sabem envelhecer? MJM – Os portugueses estão a envelhecer cada vez em melhores condições. Com mais saúde, mais poder económico, com mais cultura e mais qualidade de vida. Há uma “nova” geração de seniores a partir dos 55 anos que tem muitos e diversificados interesses, que 74

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quer continuar a aprender, a relacionar-se, a conviver. Veja-se o caso das Universidades Seniores. Há 10 anos, 10.000 seniores participavam nestas Universidades. Em 2011, este número era de 35.000. Não podemos, no entanto, ignorar que são também os mais velhos que são mais afligidos pela pobreza, as doenças crónicas e o isolamento social. Mas é preciso afirmar que cerca de 80% das pessoas de 65 e + anos envelhece com qualidade social, integrada nas suas redes familiares e sociais e participante na sociedade, nomeadamente em ações de voluntariado ou como cuidadores dos seus mais próximos. JCP – Como encara a solidariedade intergeracional? MJM – A “Solidariedade entre Gerações” é um tema forte do AE, que importa transformar em ação concreta. Não teria sentido falar deste tema há 30 ou 40 anos, uma vez que as gerações cresciam em grande proximidade, fazendo-se a transmissão de valores e de conhecimentos de forma natural e espontânea. Hoje assim não é, pois as famílias fraturaram-se e as gerações separaram-se. Os mais jovens e os menos jovens não estabelecem laços, desconhecem-se e não se reconhecem como “valores” a respeitar. A solidariedade entre gerações tem agora de fazer parte de uma agenda de trabalho, no sentido em que se tem de favorecer


D E STAQ UE

o encontro de gerações, a começar, exatamente, pelos mais novos – na família, na escola, nas universidades, no trabalho. Sem solidariedade entre gerações, o envelhecimento ativo, isto é, saudável, seguro, participativo e feliz, não irá realmente acontecer e as sociedades, sem coesão e solidariedade, não crescem nem progridem. JCP – Por fim, qual gostaria que viesse a ser o seu contributo para esta causa, no final deste mandato? MJM – O que está em causa é, de facto, o contributo deste Ano Europeu para a melhoria do bem-estar dos cidadãos e para o progresso desta sociedade em que vivemos. Claro que muitas das iniciativas não se esgotam no Ano e algumas propostas que temos, de caráter legislativo e outras, poderão só vir a ser realizadas mais tarde. O que interessa é levantar questionamentos, lançar pontos de reflexão, sugerir o debate e animar para a participação de todos, para a ação concreta e para a implementação de medidas que perdurem para além do AE e que gerem compromissos e mudança para

uma SOCIEDADE PARA TODAS AS IDADES. O AE aposta no seu contributo para derrubar estereótipos sobre as pessoas mais velhas, aproximar as idades e ajudar a construir uma sociedade mais coesa e com mais humanidade.

Agradecemos a Maria Joaquina Madeira a disponibilidade demonstrada e desejamos que, efetivamente, este Ano Europeu para o Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações possa deixar rasto a vários níveis: normativo, de compromisso social e de verdadeira solidariedade entre as várias gerações.

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IDEIAS SOLTAS

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J oana Oliveira, Maria Ana Car valho e An a Ri to

Como prevenir a obesidade na terceira idade?

A

terceira idade é a etapa da vida que se inicia na população com idade igual ou superior a 65 anos1.

Estilos de vida e obesidade na terceira idade Com o aumento da esperança média de vida, surgem mais complicações como a artrite (inflamação das articulações), diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, entre outros2. Estas condições nestes últimos anos têm sido acentuadas pelo aumento da obesidade na população idosa3. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define obesidade como um excesso de gordura corporal, com implicações para a saúde4.

Principais causas do aumento da obesidade na terceira idade O processo de envelhecimento provoca mudanças na composição corporal. Com o avanço da idade, há a tendência para a redução da quantidade e da qualidade muscular paralelamente ao aumento da massa gorda5. Para além disso, com o crescimento da população idosa, tem aumentado a solidão, o isolamento social e as dificuldaPrática de refeições des na preparação das refeições, saudáveis e aumento estando estes fatores também associados ao aumento da obesidade da atividade física na terceira idade6. Outros motivos em idosos que têm mostrado influenciar são: falta de dentição/uso de próteses dentárias, acesso limitado a alimentos saudáveis, dificuldades económicas, depressão, fatores psicológicos, falta de informação e conhecimento sobre alimentação saudável, escolhas alimentares pouco saudáveis (por exemplo, alimentos ricos em gordura), doença e o uso de medicamentos, deficiências físicas (por exemplo, visão debilitada) que impedem a própria capacidade de comprar alimentos

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saudáveis e de prepará-los, sedentarismo e mudanças na estrutura familiar, na disponibilidade de tempo das famílias e na disponibilização de serviços de alimentação mais adequados7. Prevenção da obesidade na terceira idade Durante muitos anos a grande preocupação da investigação médica foi a longevidade5. O esforço dos cientistas organizava-se, e ainda se organiza, em torno do desejo de viver o maior número de anos possível. Atualmente é cada vez maior a preocupação com a qualidade de vida e, mais recentemente a preocupação com o aumento da obesidade na população idosa8. O conceito de “envelhecimento ativo” é o processo que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos idosos e, as oportunidades na saúde, a sua participação na sociedade e segurança4. Para este conceito ser alcançado é necessário planear, implementar e avaliar programas, projetos e atividades e o apoio de instituições, empresas, grupos e indivíduos da comunidade local, tendo como objetivo “proteger” a população idosa de uma situação que se vai tornando cada vez mais grave, a obesidade9. As políticas e os programas de envelhecimento ativo reconhecem a necessidade de: 1. Encorajar a educação alimentar nos idosos mais independentes. A educação alimentar nos idosos é essencial na prevenção da obesidade, permitindo-lhes a promoção de práticas alimentares saudáveis:

Realização de pelo menos 5 refeições diárias (pequeno-almoço, merenda da manhã, almoço, merenda da tarde, jantar) e de preferência a horas certas;  Realização de jejuns noturnos não superiores a 8-9h;  Não comer em excesso;  Ingerir, mastigar e ensalivar os alimentos calmamente;  Cortar, moer ou triturar os alimentos em pequenos pedaços;  Beber pelo menos 6 a 8 copos de água por dia, mesmo que não se sinta sede. Não substituir a água por bebidas alcoólicas e refrigerantes. Ingerir em substituição da água, chás ou infusões, desde que sem adição de açúcar;  Ingerir pelo menos 5 porções de fruta e hortícolas;  Preferir o peixe, carnes brancas e magras, em vez das carnes gordas e vermelhas. Retirar a gordura visível presente na carne;  Evitar consumir alimentos fritos e assados com muita gordura, fumados e enchidos;  Aumentar a ingestão de cereais e derivados integrais e incluir leguminosas (exemplo: lentilhas, ervilhas, favas, feijão, grão) na alimentação;  Aumentar a ingestão de cálcio através do consumo de laticínios magros como o leite, o iogurte e o queijo;  Evitar consumir queijos com mais de 30% de gordura;  Diminuir o consumo de açúcar e produtos açucarados;  Diminuir a quantidade de sal na confeção dos alimentos. Para melhorar o sabor dos alimentos usar ervas aromáticas e especiarias;   Praticar pelo menos, 30 minutos diários de atividade física mo

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derada (caminhadas é um ótimo exemplo);  Evitar as bebidas alcoólicas e não fumar;  Se existir perda lenta e progressiva da memória ou da concentração, utilizar alimentos mais moles, logo mais fáceis de serem cortados6. A prática de refeições saudáveis pelos idosos pode ser possível através da ida a consultas regulares ao nutricionista, aconselhamento alimentar, folhetos, cartazes, sessões de grupo, comunicação social, entre outros10. 2. Apoiar e auxiliar os idosos mais dependentes. Os idosos dependentes de familiares ou que estejam a viver em lares, hospitais ou em instalações de cuidados especializados, também não podem ser esquecidos quanto à prática de uma alimentação saudável. É muito importante que os profissionais destas instituições estejam capacitados a realizar bons cuidados alimentares, adequados para cada idoso9. 3. Criar espaços saudáveis pelos municípios e medidas governamentais. Com a finalidade de satisfazer os interesses e necessidades dos idosos, torna-se fundamental que as autarquias promovam atividades dirigidas a esta faixa etária e também à generalidade da população. Aumentar a atividade física em idosos pode ser difícil, mas é muito importante na manutenção da saúde e deve ser incentivada sempre que possível11. É recomendada atividade física de baixa a moderada intensidade, prevenindo desta forma quedas, lesões musculares, 78

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sobrecarga cardíaca e nas articulações. Exemplo: natação, hidroginástica, caminhadas. Durante a atividade física é necessário: hidratar, estar atento à frequência cardíaca e respiratória, em caso de dor suspender a atividade (dor = limite), alongar antes e após os exercícios e utilizar roupas e calçados adequados12. Referências Bibliográficas

1

Bonfim, C.; Teles M.; Saraiva, M.; Cadete, M.; Quaresma, M. & Veiga, S. (2006). População Idosa, Análise e Perspetivas. A Problemática dos Cuidados Intrafamiliares. Lisboa: Direcção-Geral da Ação Social.

2

Flood, M. & Newman, A. (2007). Obesity in older adults: Synthesis of findings and recommendations for clinical practice. Journal of Gerontological Nursing, 33: 19-35.

3

Federal Interagency Forum on Aging (2006). Older Americans update 2006: Key indicators of well-being. Disponível on-line: www.aginastats.gov/agingstats.net/. Último acesso em 27-03-2012.

4

World Health Organization (2002). Active Ageing A Policy Framework. Disponível on-line: http://whqlibdoc. who.int/hq/2002/WHO_NMH_NPH_02.8.pdf. Último acesso em 26-03-2012.

5

Bray, J. (2008) Handbook of Obesity. Dekker: New York.

6

Escott-Stump, S. & Kathleen, M. (2008). Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. Saunders Elsevier.

7

Rodrigues, S.; Franchini, B.; Graça, P. & Almeida M. (2006). A New Food Guide for the Portuguese Population. Journal of Nutrition Education and Behavior, 38: 189-195.

8

Torres, M. & Marques, E. (2008). Envelhecimento ativo: um olhar multidimensional sobre a promoção da saúde. Estudo de caso em Viana do Castelo. VI Congresso Português de Sociologia, 233: 1-12

9

Boyle, M.A. & Holben, D. (2006). Community nutrition in action: an entrepreneurial approach. Thompson Wadworth.

10

Yetman, H. (2003). Food and Nutrition policy at the local level: Key factors that influence the policy development level. Critical Public Health, 13 (2): 125-138.

11

Lang, T.; Rayner, G.; Rayner, M.; Barling, D. & Millstone E. (2005). Policy Councils on Food, Nutrition and Physical Activity: the UK as a case study. Public Health Nutrition, 8 (1): 11-19.

12

Okuma, S. (1998). O idoso e a atividade física (4ª Edição). Campinas: Papirus.

13

Lei n.º 75/2009 de 12 de Agosto. Diário da República nº 155 – I Série.


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M . M a r g a r i d a Pe r e i r a - M ü l l e r – A A N º 2 4 4 / 1 9 6 7

Já circumnadou uma ilha?

A

comunidade de Helgoland, uma pequena ilha alemã no Mar do Norte, organiza anualmente uma festa desportiva que se resume a nadar à volta da ilha. A ilha não é tão pequena assim e as águas do Mar do Norte são geladas. No entanto, sempre que lia no jornal a notícia sobre esse acontecimento desportivo ficava com vontade de participar. Um dia hei-de fazer, pensava eu ano a pós ano.

Pois este ano, circumnadei uma ilha. Não Helgoland, não no Mar do Norte, mas no Oceano Índico. Quando cheguei à pequena ilha Medjumbe, propriedade do Grupo Rani Resorts, pensei: É hoje o dia. Tomei essa decisão ainda no avião, ao sobrevoar a ilha. Ali estava ela, pequenina com os seus 18 hectares, 1000 metros de comprimento e 350 metros de largura, perdida no meio dum mar de corais, rodeada de águas azuis turquesas tão translúcidas que tudo o que estava no seu fundo se via do avião. E o banco de areia na sua ponta lembrava um longo véu de noiva. Victor Fernandes, diretor-geral do Medjumbe Private Island Resort, recebeu-nos pessoalmente na pista. Num pequeno carro de golfe, levou-nos os poucos metros até à entrada do hotel onde nos esperava o resto da sua equipa. Foi-nos oferecido um pano húmido para nos refrescarmos, uma deliciosa espetada de fruta tropical e um colorido cocktail de fruta, uma especialidade do barman Adamo. Medjumbe é uma das três dezenas de ilhas que pertencem ao arquipélago das Quirimbas e que estão espalhadas na costa do Norte de Moçambique, entre a baía de Pemba e o rio Rovuma. O xeque saudita Adel Aujan, dono do Grupo Rani, deve também ter-se apaixonado por esta pérola, elegante com um rasto de areia no final. Comprou-a e em 2005 construiu um resort para férias exclusivas.13 chalés simples mas muito sofisticados foram plantados na praia de areia branca, suficientemente afastados uns LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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dos outros para que os seus ocupantes não se sintam. Apesar de terem à sua frente todo o Oceano Índico com as suas cálidas águas (e quando digo que as águas são quentes é porque elas são mesmo quentes: 30º no verão, 25º no inverno), cada chalé tem ao lado uma pequena whirlpool privada. Podem perguntar: mas o que se faz numa ilha tão pequena? Não se fica com ataques de claustrofobia? Não, a ilha é um mimo e os funcionários do resort tudo fazem para que o cliente se sinta bem, como em casa – ou melhor do que em casa. Quem vem para Medjumbe quer viver o sossego, quer relaxar, quer parar a corrida do dia a dia, quer deixar o tempo correr como a areia a escorrer por entre os dedos, calma e suavemente. Pode nadar-se placidamente nas águas azuis turquesa que se esbatem à frente do seu chalé. Pode passar-se umas horas deitado na rede, a ouvir os sons da praia vazia. Ou horas a fio a procurar conchas na praia de areia mais branca do que a farinha de trigo. E há conchas lindas, grandes e pequenas, brancas e coloridas, lisas e com ondinhas. Pode fazer-se snorkeling e descobrir que há uma variedade inimaginável de feitios e cores de peixes. Pode ir-se à pesca de alto mar e pescar peixes enormes daqueles que pensa que só se veem nos filmes. E claro, no spa, a sul-africana Daniella tem uma “ementa” de massagens para nos fazer renascer, que vão da simples massagem das costas às massagens 80

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com pedras quentes, aos workshops de massagens para recém-casados, durante os quais ela os ensina as técnicas básicas de massagens para relaxar. Querendo ainda mais privacidade, pode ir até Quissanga, a ilha vizinha, ainda mais pequena, inabitada, mas que já pertence também ao Grupo Rani. O hotel prepara-lhe o cesto de piquenique que inclui uma manta aos quadrados para pôr na areia, comida de fazer crescer água na boca e uma garrafa dum bom vinho. À noite, pode deitar-se na areia e ficar a olhar o céu estrelado. As Quirimbas O arquipélago das Quirimbas é sem dúvida um dos segredos mais bem guardados de Moçambique – uma longa faixa de 250 km de ilhas tropicais onde se junta uma grande riqueza marítima com uma grande riqueza histórica. Nas suas águas, os 1500 km² do Parque Nacional das Quirimbas dão abrigo a tartarugas, golfinhos e baleias assim como uma grande variedade de peixe. Culturalmente, as Quirimbas são igualmente importantes, com a sua grande mistura de influências árabes, holandesas, portuguesas, chinesas e indianas, tendo conhecido grande importância nos séculos XVI, XVII e XVIII com o comércio de escravos. Mas mesmo no paraíso, chega a hora de nos despedirmos. Vamo-nos embora mas levamos para sempre no nosso coração esta pequena ilha que nos acalentou a alma.


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M . M a r g a r i d a Pe r e i r a - M ü l l e r – A A N º 2 4 4 / 1 9 6 7

Lagosta à sombra do embondeiro eixáramos a confusão de Pemba havia somente 25 minutos. A avioneta de três lugares já sobrevoara um mar com uma água totalmente cristalina com uma tão grande variedade de tons azuis e verdes que nos roubara a respiração. O mar parecia uma gigante tela.

Lá em baixo, na pequena pista de Matemo, esperavam-nos amavelmente Karen e Jason du Plessis, os diretores-gerais do Matemo Island Resort. Assim que descemos da avioneta, recebemos uma toalhinha fresca que nos alivia o calor que logo se faz sentir assim que pomos os pés em terra. À nossa frente uma tabuleta, rodeada com as bandeiras de Moçambique, do Grupo Rani e do aldeamento, dava-nos simpaticamente as boas vindas. Ainda mal chegáramos e já nos sentíamos em casa. Uma camioneta aberta, pintada de cores alegres, levou-nos para o edifício principal, passando por muita vegetação tipicamente africana. Um potente embondeiro fixou-se imediatamente na minha lente fotográfica mental. À entrada, um grupo de funcionários recebeu-nos efusivamente saudando-nos e oferecendo-nos um cocktail de frutos, bem fresquinho. Ao pôr-do-sol, acedendo ao convite para um aperitivo antes do jantar, tivemos a oportunidade de conversar com Karen e Jason sobre Matemo e o grupo Rani que acima de tudo pretende oferecer verdadeiros santuários ecológicos em ambientes de luxo mas de grande simplicidade para que o cliente possa vivenciar a 100% o destino. Os resorts do Grupo Rani disponibilizam aos seus clientes alojamento de luxo a nível mundial em localizações de grande beleza e biodiversidade naturais, de riqueza LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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histórica e com oportunidades únicas e exclusivas e aventura e desporto – ou somente para relaxar e descansar. Matemo Island Resort tem 24 chalés, situados em cima da praia, com casa de banho completa mais um duche exterior, protegido por uma paliçada que nos permite tomar banho tendo por cenário as águas maravilhosas do Oceano Índico. Teve-se o cuidado de assegurar que os edifícios se integrariam nas envolvências naturais. Coberturas de macúti dão aos chalets um charme rústico; a sofisticação das habitações vem não só dos mármores usados nas casas de banho mas também das madeiras de Zanzibar e dos tapetes vindos do Dubai. Na varanda, podemos repousar em confortáveis cadeiras de verga ou numa simpática rede. Se preferirmos estar quase em cima do mar, podemos levar para a praia as chaises-longues que também nos são disponibilizadas. Os produtos de toilete da marca Maria Garcia, com um aroma muito suave, deixam o quarto com uma fragância muito agradável. Matemo é um das 34 ilhas coralinas do arquipélago das Quirimbas, descritas pela primeira vez pelo cronista António Bocarro em 1634, e que lembram pérolas atiradas ao mar junto à costa norte de Moçambique. Segundo as lendas locais, o nome vem da arte de fazer as casas com pedras e caniço ou maticar, no dialeto local (se bem que em Português maticar significa latir). Tem 28 km de comprimento e 7 82

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de largura, por onde se espalham sete aldeias, habitadas maioritariamente por crianças – é que a população é 90% muçulmana, tendo cada homem duas, três, quatro ou até cinco mulheres. Os seus habitantes vivem essencialmente da pesca. Mal o sol nasce, os homens saem nos seus dhows, embarcações à vela, já usadas pelos árabes antes da chegada dos portugueses, regressando a meio da tarde com muito peixe e marisco. As mulheres ficam em terra e tratam das suas machambas, pequenas hortas de milho, mandioca e outros vegetais, que consomem e vendem ao hotel. Karen e Jason du Plessis desfazem-se em amabilidades, tentando tornar a nossa estada verdadeiramente inesquecível. Na primeira noite, propõem-nos um jantar numa pequena plataforma mesmo junto ao mar sob um céu repleto de estrelas. É-nos servida uma deliciosa sopa de abóbora com coco, camarão e peixe-pedra grelhado. No dia seguinte ao almoço, almoçámos à sombra do grande embondeiro centenário cujo enormes ramos abrigam numerosos pássaros e borboletas. A lagosta grelhada soube-nos ainda melhor. Para relaxarmos, Joanne, a massagista da unidade, que irradiava calma e harmonia, leva-nos até ao spa, propondo-nos uma massagem feita com produtos Moya, feitos à base de plantas africanas. Incrivelmente bela e original, Matemo oferece diversas atividades no meio dum grande palmeiral. Ideal para quem quer quebrar a rotina diária, a pequena ilha de Matemo, com somente 8 km de comprimento e 3 km de largura, oferece dias sem pressa e despreocupados.


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Maria de Lurdes Sant’Anna – AA Nº 278/1936

Paleta de cores vivas

1.

Devaneio Palavras são sons de músicas, sem música, que nos lembram o marulhar das águas, os gritos estridentes ou roucos das gaivotas, a corrida veloz da pequena ave que, ao entardecer, procura o abrigo da árvore que a aguarda. E é tanta a ternura que a pequena ave deixa nos seus volteios que fico tonta só de a olhar e tentar seguir as suas linhas que porém logo desaparecem, a fazerem-me esquecer o ritmo que me acompanha e que procuro não perder. Um dia, quando eu não souber já ler senão aquilo que as aves escrevem no céu ao passarem em voos sem cuidados… E, então, num imenso adeus eu quero apenas escutar o silêncio e Deus. 2. Verdemilho Verdemilho, verdemilho? Não, não conhecia… A senhora que ao meu lado comunicava comigo demonstrou um pequeno espanto… É aqui ao pé de Aveiro… Sabe, vivia numa casinha térrea com um grande terreno cheio de flores. “A nossa casa era térrea também, mas diziam que era uma casa de pescadores” A maré que vai e vem “E sim, também havia três canteiros com e o jantar faz-se na riba flores…” Eu tinha hortênsias brancas. Conhece? donde se alcança a “As nossas eram azuis e vermelho ferimensidão azul, numa rugem, no canteiro que acompanhava o muro, da casa ao portão. E sabe que o tom ebulição constante… ferrugem é provocado por qualquer ferro enterrado na terra junto ao pé da planta?” Não, não sabia… Uma resposta sumida como quem não gosta de ficar aquém. E o Vouga ficava aqui ao pé… “Da minha casa, do terraço, eu via o mar, azul, azul. E ouvia-o quando bramia em tom carregado, ou quando as ondas mansas vinham até nós, a tornar sonhadora a sua presença…” E lá fiquei a sonhar os bons tempos de outrora e deixei de ouvir as saudades dum verdemilho desconhecido… Ou seria apensa milho verde? Não sei, não sei porque continuava em Porto Covo naquela casinha de pescador, em cujo LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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terraço o sol queimava o meu corpo e eu sonhava sob o seu bafo quente e à noite ouvia o rumor manso das ondas, das ondas procurando a areia macia para repousar. 3. O meu amigo Mussa Chamava-se Mussa, o menino do jardim e tinha talvez 13 anos além dum sorriso permanente no seu rosto que com o meigo olhar nos dizia a todos como era um menino feliz, sem outros cuidados, senão o cuidar do jardim. E connosco esteve a trabalhar cerca de dois anos. Ali aprendeu a apreciar as flores. A gostar do verde de cada árvore. A imaginar novos canteiros ziguezagueando pela relva ou rodeando a alta palmeira. Ali, ali, senhora, e a sua mão estendida indicava-me a sua ideia. Tinha destinado aquele dia para adubar alguns dos canteiros. Mas como o adubo era animal – que não usava mas de que me haviam oferecido um saco – perguntei ao meu pequeno ajudante se tinha alguma ferida. E à sua resposta deitou-se na terra o estrume que levantou poeira e também o comprido avental do Mussa mostrando enorme ferimento num dos joelhos. Ainda hoje, tantos anos já lá vão! Ainda hoje lembro a mesma angústia do meu pequeno ajudante e menino do jardim perante a enorme seringa que o enfermeiro do posto médico empunhava na sua direção. E não sei qual de nós se sentiu mais atemorizado, se o Mussa perante a figura sinistra do enfermeiro a cami-

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nhar inexorável na sua direção, se eu própria sem saber como responder ao medo que os olhos do meu menino do jardim me transmitiam como um pedido de proteção sem voz. Ainda hoje me recrimino por não ter explicado ao Mussa o porquê daquela ida ao posto médico num repente, sem a explicação que ele, meu amiguinho, me merecia. 4. Férias à beira-mar Lembrar o tempo de férias à beira mar é viver de novo as boas horas ali vividas. Desde manhã, sai-se de casa e só se lá volta à noite; come-se por fora, o café é tomado na esplanada olhando a maré que vai e vem e o jantar faz-se na riba donde se alcança a imensidão azul, numa ebulição constante… Quanto à noite, bem, não se adormece antes das 2, 3 da madrugada. Porquê? Não, não são insónias, bem pelo contrário. É que nas noites anda-se nas ruas noite dentro e quando achamos que é a nossa hora de sono, nem pensar antes das 3 da madrugada, à hora a que fecham as discotecas, os bares, e os gritos, os risos, até mesmo as injúrias invadem a cidade. A apetecida pausa aparece e o sono surge então… Porém a ilusão dura breve… Porque logo vêm as gaivotas com os seus gritos roucos, a imitar o choro dos bebés, o ladrar dos cães, o riso da mulher… Como são boas as férias à beira-mar!


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Maria Noémia de Melo Leitão – AA Nº 245/1931

O tempo – companheiro do nosso destino

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tempo, não obstante ser um companheiro tão próximo (até intimo) de todos os instantes, não favorece a nossa análise. Através dos séculos tem sido motivo de estudo, quer por homens devotados à ciência emergente, quer por filósofos, entre eles Kant, que lhe dedicaram uma especulação determinada.

O tempo invade, na sua essencialidade, o macrocosmos e o microcosmos. Por isso nos sentimos arrastados, vergados à sua força dominadora. Somos tempo porque ele nos enrola como uma onda gigantesca. Se quisermos saber donde deriva a palavra tempo, vemos que vem do latim tempus. Porém, os romanos foram buscar ao étimo kronos a forma chronos que passou, depois, para a nossa língua. Através da sua complicada mitologia, os gregos procuravam sempre encontrar uma explicação para conceitos determinados e determinantes, atribuindo a Kronos – um deus inefável – a rotação dos astros, o aparecimento dos dias e das noites, numa sucessão imparável. Relacionado com O tempo flui Kronos, encontramos algumas palavras como um curso de água, do nosso léxico, como, por exemplo entre outras, cronologia, cronómetro, crónica. não regride à origem… Derivada diretamente do latim tempus usamos a palavra tempo que, como tantas outras, enriquecem a nossa língua, obedecendo a uma evolução semântica. No decorrer de uma conversa, a mais despretensiosa, quantas vezes invocamos, avocamos o tempo? E, ao fazê-lo, não o usamos apenas no sentido cronológico, mas também no sentido biológico, psicológico, meteorológico e não só. Qualquer que seja o sentido em que enquadramos o conceito tempo, há um que se nos impõe, isto é, quando lhe atribuímos a força de chronos. Chronos, como tal, é esmagador, faz parte de nós mesmos, experimentamos a sua tirania. LAÇOS Número 2/12 – fevereiro-maio 2012

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Desde a nossa conceção, e ao longo da nossa existência até ao momento da morte, o tempo cronológico é uma realidade insuperável que nos arrasta inexoravelmente, no seu rodopio. É um dominador implacável, submete-nos à sua irreversibilidade e, assim, vamos caminhando, ora com alegria e exuberância, ora com os traços visíveis do que já não somos. O tempo flui como um curso de água, não regride à origem, e, entre rápidos e o leito tranquilo, lança-se no mar, quer numa suave distensão que se espraia lentamente, quer em movimentos convulsivos que o precipitam nas águas profundas dos oceanos. O filósofo grego Heráclito dizia que “não podemos mergulhar duas vezes na mesma água e do mesmo rio”, quando dissertava, justamente, sobre a irreversibilidade do tempo. Os gregos, porém, deixaram-nos, também o conceito de um tempo flexível, oponente ao tempo rígido e irreversível. Chamaram-lhe Kairos, dominados pelos homens e mulheres, na sua dimensão e intensidade, conduzindo-os, tanto ao sofrimento, penumbra e escuridão, como à luz e à felicidade. Embora, transitoriamente, o tempo cairológico permite a nossa evasão, liberta-nos pela

criatividade e pelas recordações que a memória retem. É um tempo de parar no tempo, aí ficando a pairar a saudade de algum acontecer; é um tempo de chorar mágoas, de sofrer ou se alegrar na lembrança longínqua ou próxima do que nos faz desejar a vida. É um tempo de vaguear pelo espaço infinito do sonho, de percorrer caminhos já caminhados, de deixar que a inspiração crie personagens, as mais diversas, e que, através delas, se revivam momentos de um amor ansioso e avassalador. É um tempo domável, lúdico, brinquedo das nossas vivências, de devaneio, às vezes de loucura, de fuga à amarga realidade do hic et nunc*. Por tudo isto é, ainda como tal, um tempo enganador. Porém o Kronos, no decurso da nossa vida, vai-se insinuando, fazendo-nos descer à realidade da existência feita da sucessão dos dias e dos anos que nos transportam rumo a paragens ignotas. Sentimos a distância dos sonhos; a realidade ressalta na sua dimensão que ajustamos à nossa forma de existir e, numa amálgama de Kairos e Kronos, entretemos os nossos dias sem brilho.

* Aqui e agora

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Eduarda Caixeiro – AA Nº 176/1971

O meu 25 de Abril or qualquer fenómeno que desconheço, não são muitas as lembranças que guardo dos cinco anos que passei no IO, ao ponto de não me recordar de conviver com a minha irmã mais nova que ali coexistiu comigo durante os meus dois últimos anos. No entanto, há um conjunto de recordações que ficou firmemente ancorado na minha memória e que consigo localizar no tempo. Uma delas é o episódio que passo a descrever.

No dia 24/04/1974, numa aula de ginástica, para a qual – confesso – não tinha muito jeito, ao executar um qualquer exercício, sofri uma distensão ao nível do externo que me deixou incapaz de mexer-me, mal podendo respirar. Nem sei bem como, dei comigo deitada de costas, numa cama da enfermaria, onde não se encontrava mais ninguém. Apenas o terço difundido pela rádio e que se ouvia como música de fundo ou a vinda das empregadas a trazerem-me as refeições interrompia o meu ensimesmamento dolorido e o Como se “perde” meu olhar fixo no tecto.

uma revolução

Passou a noite, e o dia seguinte foi, talvez, dos dias mais compridos da minha vida, culminando num episódio estranhíssimo para quem conheceu a vida do colégio naqueles tempos.

Não sei se conseguem imaginar, uma adolescente de 15 anos, deitada numa cama, hora após hora, desperta e sozinha, sem conseguir mexer o tronco, a olhar para o tecto sem ter com quem falar e sem um livro, uma televisão, um rádio, nada. Ao longe ouvia o alvoroço inusitado de conversas entre as empregadas (enfermeira?) que de fugida vinham dar-me as refeições. A falta de outros sons era quase palpável. Ao fim do dia, já tarde, surgem finalmente algumas visitas e para meu grande espanto era um grupo formado pela directora D. Deolinda Santos, por um médico, irmão de alguém na hierarquia do colégio, e uma terceira pessoa, penso que a D. Amália. Vários factos estranhos e de espantar:

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era proibido entrar no colégio, com qualquer tipo de alimentos; – O manifesto nervosismo que todos apresentavam e que na altura não entendi, assim como o inusitado da hora e da própria visita. Quando saíram voltei a ficar sozinha até ao dia seguinte, em que, sentindo-me já capaz de movimento, declarei-me curada e pedi para regressar às aulas, onde fui encontrar as mais extraordinárias notícias sobre uma “revolução”.

– Fui observada por um médico (homem) que inclusivamente me levantou a camisa de dormir para examinar o externo; – A directora levava-me uma prenda: um frasco de doce ou mel, inimaginável numa época em que nos

Ao longo dos anos, contei algumas vezes este episódio e o que o torna ainda mais engraçado foi o facto da minha irmã mais nova só recentemente ficar convencida de que não tinha estado comigo na enfermaria e passado por tudo isto, quando lhe demonstrei que nessa altura ainda não tinha entrado para o colégio.

No dia 27 de setembro de 2012, pelas 18h00, na sala do Conventinho, a antiga Professora de Inglês e Alemão do IO, Natália Hasse Fernandes, dará, a convite da AAAIO, um recital em que lerá poemas de sua autoria.

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