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Campinas, 16 a 29 de maio de 2016 - ANO XXX - Nº 656 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Foto: Reprodução

A ponta do iceberg 5 a9

O processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e o cenário que se projeta com o governo Michel Temer, empossado dia 12, são analisados por dez intelectuais de diferentes áreas. Se os entrevistados divergem quanto à legalidade do impeachment, é consensual entre eles que Temer e o país enfrentarão um período de incertezas e turbulência.

Antonio Marcio Buainain Augusto de Campos Cícero Romão de Araújo Eduardo Fagnani Francisco de Oliveira José Arthur Giannotti Leandro Karnal Rogério Cezar de Cerqueira Leite Simon Schwartzman Walquíria Leão Rego

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Quando a ciência sobe ao pódio olímpico Pesquisa lança luz sobre danos na retina

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Mimetismo de borboletas é desvendado por cientistas

Processo para testar o ‘mundo de RNA’

A obra de Maneco Músico, pai de Carlos Gomes

Cientistas criam pele à base de silicone

E a sombra na estrela não era obra de ETs

TELESCÓPIO

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TELESCÓPIO

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br Foto: Andrew Tomkins/Divulgação

Micrometeorito de 2,7 bilhões de anos extraído de rochas na Austrália

O mundo de RNA O “mundo de RNA” é a hipótese de que a vida na Terra começou a partir da replicação de moléculas de RNA, ou ácido ribonucleico. Essas moléculas, capazes de fazer cópias de si mesmas, teriam aberto o caminho para o surgimento da vida baseada em DNA e em proteínas que hoje domina o planeta, e que ainda faz uso de RNA em papéis essenciais. Embora amplamente aceita como modelo teórico, a hipótese enfrenta obstáculos práticos, entre eles a dificuldade de se produzir alguns dos ingredientes do RNA por rotas que dispensem a intervenção de seres vivos. Artigo publicado na revista Science sugere solução para parte dessas dificuldades, apresentando um processo abiótico capaz de gerar grandes quantidades das bases adenina e guanina – ingredientes tanto do RNA quanto do DNA. De acordo com nota divulgada pela revista, o resultado demonstra que “adenina e guanina podem ser facilmente sintetizadas, e com rendimento razoável, pela rota FaPys – a condensação de formamidopirimidinas (FaPys) com açúcares. As FaPys são criadas a partir de ácido fórmico e moléculas simples chamadas aminopirimidinas, que por sua vez são formadas a partir de moléculas prebióticas, que já foram detectadas no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, pela missão europeia Rosetta”. Os autores do artigo, vinculados à Universidade de Munique, apontam que esses ingredientes estavam presentes em cometas e na atmosfera primitiva da Terra.

Mais de mil novos planetas Uma análise da probabilidade de o Telescópio Espacial Kepler, na Nasa, lançado em 2006 para detectar planetas em órbita de outras estrelas, ter produzido falsos positivos – isto é, apontado erroneamente a presença de novos mundos – validou 1935 observações, sendo que 1284 delas ainda aguardavam confirmação. Com isso, esses 1284 planetas entram, oficialmente, no catálogo de mundos extrassolares detectados. O artigo com a validação dos dados do Kepler, e que aponta ainda a presença

de mais de 400 falsos positivos na base de dados, aparece no periódico The Astrophysical Journal. De acordo com nota divulgada pela Nasa, cerca de 550 dos planetas recém-validados podem ser rochosos, como a Terra, e nove deles se encontram dentro da zona habitável de suas estrelas. Com esses nove, a lista de mundos rochosos potencialmente habitáveis conhecidos chega a 21.

Nada de ETs Em outubro do ano passado, uma série curiosa, e aparentemente inexplicável, de flutuações no brilho observado da estrela KIC 8462852, localizada a cerca de 1,4 mil anos-luz, na constelação do Cisne, levou alguns cientistas a imaginar se ela poderia estar sendo alvo de um gigantesco projeto de engenharia alienígena – especulou-se que talvez estivesse sendo encerrada numa Esfera de Dyson, uma tecnologia hipotética proposta pelo físico americano, nascido no Reino Unido, Freeman Dyson, em 1960. Em tese, uma Esfera de Dyson permitiria a uma civilização avançada aproveitar até 100% da energia de seu sol. A atenção gerada pela anomalia de KIC 8462852 levou o projeto SETI – que busca por sinais de vida inteligente fora da Terra – a apontar seus radiotelescópios na direção da estrela, mas nada foi detectado. Agora, artigo publicado no Astrophysical Journal põe em dúvida parte dos dados que levaram à especulação sobre a Esfera de Dyson em primeiro lugar. Uma das principais fontes da hipótese havia sido um trabalho anterior, no mesmo Astrophysical Journal, sugerindo que o brilho da estrela havia caído cerca de 20% ao longo do século 20, uma observação consistente com a ideia de que “alguma coisa” estava sendo construída ao redor do astro e, aos poucos, absorvendo sua energia. O novo trabalho se debruçou sobre as bases de dados usadas para concluir que a estrela vinha perdendo brilho, e constatou que o mesmo fenômeno podia ser observado em vários outros astros do mesmo registro. Isso sugere, segundo os autores, que a queda de brilho é muito provavelmente um efeito criado pelo registro em si – talvez envolvendo a calibragem dos instrumentos usados – e não por um fenômeno real que venha afetando a estrela ou sua vizinhança.

Meteoritos do passado

Memes no Twitter

Os mais antigos micrometeoritos já recuperados, datados de 2,7 bilhões de anos atrás, sugerem a presença de uma grande concentração de oxigênio na alta atmosfera terrestre do passado distante. Esse resultado contrasta com a hipótese de que a atmosfera da Terra primitiva era extremamente pobre em oxigênio até 2,4 bilhões de anos atrás. Os autores do estudo, publicado na revista Nature, argumentam que os dados sobre a ausência de oxigênio na atmosfera primitiva referem-se a baixas altitudes. “Até hoje, nenhum método foi desenvolvido para tirar amostras da alta atmosfera do arqueano”, escrevem. A chamada Era Arqueana se estende de 4 bilhões a 2,5 bilhões de anos atrás. Os micrometeoritos analisados têm de 8,6 a 50 micrômetros de diâmetro. Os autores, de instituições britânicas e australianas, analisaram a composição química das amostras, encontradas na Austrália, e modelaram suas interações com a atmosfera terrestre.

Pesquisadores da Universidade de Indiana (EUA) puseram no ar o site Observatório de Mídias Sociais, ou Observatory on Social Media (OSoMe, sigla em inglês que, sugerem seus criadores, deve ser pronunciada como a palavra “awsome”, que significa “fantástico” ou “espantoso”). O Observatório reúne uma série de ferramentas de livre acesso para analisar a propagação de memes e hashtags pelo Twitter. Um artigo que descreve o sistema está disponível, em versão de pré-publicação, no site PeerJ. Quem estiver curioso para testar as capacidades do OSoMe pode acessar as ferramentas em http://osome. iuni.iu.edu/ .

Maioria aprova papers ‘piratas’ Genética da educação O nível de realização educacional – definida como o número de anos completados de educação formal – de uma pessoa depende fundamentalmente de fatores ambientais, como acesso à escola, estrutura familiar e classe social, mas um estudo publicado na revista Nature sugere também a presença de um componente genético. O estudo de associação de genômica ampla (GWAS, na sigla em inglês) foi realizado com uma amostra de cerca de 300 mil indivíduos de ascendência europeia, e cujo grau de realização educacional foi avaliado a partir dos 30 anos de idade. Foram encontradas 74 variações genéticas associadas a esse grau. O trabalho também identifica genes, presentes nessas regiões de variação, que se expressam preferencialmente no sistema nervoso e no período pré-natal. O trabalho foi realizado pelo Consórcio de Associação entre Ciência Social e Genética (SSGAC), e os dados estão disponíveis online: http://ssgac.org/Data.php .

Pele de silicone Artigo publicado no periódico Nature Materials descreve um fino revestimento transparente de silicone que pode ser aplicado sobre a pele humana. Aderido à pele, esse revestimento alisa rugas, elimina bolsas sob os olhos e recria a elasticidade da pele jovem. Aplicada sob a forma de gel, essa “segunda pele” permanece colada à pele natural por até 16 horas. Uma versão preliminar do produto já se encontra no mercado de cosméticos desde 2014, mas um dos autores do artigo recente, Robert Langer, do MIT, disse ao site do grupo Nature que o cosmético representa uma “versão muito preliminar” do material descrito no novo paper. Além do potencial uso estético como “maquiagem transparente”, os autores do trabalho sugerem que o polímero poderá ser útil em aplicações médicas, dando origem a uma nova geração de curativos.

Enquete online realizada pelo site da revista Science e encerrada no início de maio mostra que quase 90% dos 11 mil respondentes aprovam o uso do site Sci-Hub, que oferece cópias piratas gratuitas de artigos publicados na literatura científica. Enquetes online enfrentam graves problemas metodológicos: geralmente só respondem a elas pessoas que têm uma opinião muito marcada sobre o assunto e, dependendo da natureza do site em que são publicadas, há forte pré-seleção do público. Para tentar minimizar esses efeitos, a Science apresentou, além do resultado geral, um recorte específico de respondentes com mais de 51 anos, ou que nunca usaram o Sci-Hub. Mesmo nesses grupos, o site conta com amplo apoio, de 84% e 79%, respectivamente.

Publiquem seu DNA Carta publicada simultaneamente nas revistas Science e Nature da última semana pede que pesquisadores não deixem de publicar, em bases públicas, os dados de sequenciamento de DNA que produzem. Assinada pelos membros do Comitê Consultivo da Colaboração Internacional de Bases de Dados de Sequências de Nucleotídeos (INSDC, na sigla em inglês), a mensagem diz que “desejamos lembrar à comunidade de pesquisa a importância de depositar dados completos de sequência de DNA nessas bases de dados, no momento da publicação dos resultados (...) Acesso à base de dados do INSDC é grátis e sem restrições, permitindo a pesquisadores planejar experimentos e analisar os dados existentes”. A carta afirma, ainda, que os dados depositados “formam parte do registro científico e são citáveis na literatura”.

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Rachel Meneguello Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Gabriela Villen, Valerio Freire Paiva e Eliane Fonseca Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3383-2918. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju


3 Campinas, 16 a 29 de maio de 2016

Ciência que sobe ao pódio Foto: Divulgação

Pesquisas da FEF contribuem para o desenvolvimento de modalidades olímpicas e paralímpicas MANUEL ALVES FILHO manuel@reitoria.unicamp.br

raças às contribuições da ciência, o lema olímpico “mais rápido, mais alto e mais forte” transformou-se em vaticínio. O conhecimento gerado pelas pesquisas científicas tem sido aplicado, entre outros aspectos, para qualificar comissões técnicas e aperfeiçoar treinamentos de atletas, situação que tem permitido a quebra constante de marcas, em diferentes modalidades esportivas. No Brasil, a Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp tem tradição na realização de estudos aplicados ao esporte, notadamente o olímpico e paralímpico. Não à toa, uma delegação com dezenas de integrantes da FEF, formada por professores, pesquisadores e estudantes, estará presente nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, que ocorrerão entre os dias 5 de agosto e 18 de setembro. De acordo com o professor Marco A. C. Bortoleto, não é possível precisar quantos membros da Faculdade atuarão nos dois eventos. “Algumas pessoas estarão envolvidas com atividades diretamente ligadas às competições, enquanto outras trabalharão como voluntárias em áreas de apoio”, complementa. Essa participação expressiva, diz o docente, reflete em boa medida a trajetória da FEF, que completou recentemente 30 anos. “A Faculdade tem tradição em colaborar com o desenvolvimento do esporte de alto rendimento no país. Nos últimos 15 anos, a aproximação entre universidade e clubes, federações e confederações tem se intensificado. Entretanto, acreditamos que ainda há muito espaço para parcerias”, considera. A colaboração da FEF para o desenvolvimento do esporte brasileiro pode ser mais claramente percebida nas modalidades paraolímpicas, como destaca o professor José Irineu Gorla. Segundo ele, o Comitê Paralímpico Brasileiro foi criado em 1995. Paralelamente, foi criado o Departamento de Estudos da Atividade Física Adaptada (DEAFA). “Como o esporte paralímpico era uma experiência nova, nós ajudamos a

O professor José Irineu Gorla: “Nestas duas décadas, temos usado o conhecimento gerado pelas nossas pesquisas para ajudar no desenvolvimento de diversas modalidades”

A professora Laurita Marconi Schiavon: “Ainda hoje há técnicos que impedem as atletas de beberem água nos treinamentos, sob a alegação de que elas engordariam”

Atleta em ação durante evento teste para os Jogos Paralímpicos do Rio

consolidá-lo. Nestas duas décadas, temos usado o conhecimento gerado pelas nossas pesquisas para ajudar no desenvolvimento de diversas modalidades. Não por outra razão, 80% das pessoas que trabalham hoje no Comitê Paralímpico passaram pelas salas de aula e laboratórios da FEF”, informa. A contribuição citada por Gorla tem reflexo direto nos resultados obtidos pelo Brasil nas Paralímpiadas. Atualmente, o país é a sétima potência mundial. A meta é encerrar os Jogos Paralímpicos do Rio na quinta colocação. “Não é um objetivo fácil de ser atingido, mas vamos batalhar por isso”. O grupo de pesquisa coordenado pelo docente tem contribuído, nos últimos dois anos e meio, com a avaliação do Futebol de 7, que é praticado por atletas com paralisia cerebral. Vários dos orientandos de mestrado e doutorado de Gorla estão envolvidos na preparação e na classificação funcional dos atletas paralímpicos. “Como cada atleta tem um nível de deficiência causado pela paralisia cerebral, nós usamos evidências científicas para classificá-los em diferentes categorias”, esclarece. Mais recentemente, os pesquisadores também têm ajudado no desenvolvimento da Bocha Paralímpica, modalidade que aparece bem posicionada no quadro de medalhas conquistadas pelo Brasil. Na Bocha Paralímpica, informa Gorla, também existem diversas categorias, visto que há atletas com diferentes tipos de limitações. “Alguns jogam utilizando a cabeça e outros, com os pés. Temos que pensar em tipos de treinamentos voltados às especificidades de cada atleta”, diz. O grupo coordenado pelo professor João Paulo Borin também tem oferecido suporte ao esporte paralímpico, mais especificamente ao Futebol de 5, praticado por atletas com deficiência visual. O trabalho feito pelos pesquisadores é semelhante ao que realizam com a Seleção Brasileira de Basquete Feminino, que disputará os Jogos Olímpicos. As atividades, desenvolvidas conjuntamente com a equipe do professor Paulo Cesar Montagner, procuram compreender tanto os conteúdos dos treinamentos quanto a relação entre o estímulo e a recuperação dos atletas. “Nós monitoramos tudo durante o treino: deslocamento, salto etc. Depois, quantificamos esse movimento e quantificamos também qual é o período de recuperação física dos atletas até o próximo estímulo. Essas abordagens contribuem para aprimorar o treinamento e também para evitar eventuais lesões nos atletas”, pormenoriza Borin. Tanto ele quanto Bortoleto entendem que embora a relação da ciência com o esporte olímpico seja positiva, ela ainda não atingiu o mesmo estágio da colaboração entre academia e esporte paralímpico. “O esporte tradicional é praticado há muito mais tempo e carrega alguns mitos e crenças que são difíceis de serem superados. A relação entre pesquisadores e treinadores, por exemplo, sem-

pre carrega algum nível de tensão, visto que a nossa missão é identificar eventuais falhas e propor soluções. Nós entendemos que não é fácil para um treinador que já formou vários campeões ter que admitir, eventualmente, que seus métodos estão ultrapassados”, pondera Borin. Esse tipo de diagnóstico, segundo a professora Laurita Marconi Schiavon, ocorre com certa frequência, inclusive em modalidades com bastante tradição no cenário olímpico, como a ginástica artística. “Ainda hoje há técnicos que impedem as atletas de beberem água nos treinamentos, sob a alegação de que elas engordariam. Está cientificamente comprovado que isso não corresponde à realidade. Aliás, o consumo reduzido de água traz prejuízos ao rendimento das atletas. Como elas costumam ingerir doses extras de cálcio devido a fraturas por estresse e bebem pouca água, é comum que desenvolvam cálculos renais”, exemplifica. O mais importante na relação entre cientistas, dirigentes e integrantes de comissões técnicas, pontuam os professores da FEF, é que haja a compreensão mútua de que todos têm o mesmo objetivo, ou seja, promover o avanço do esporte de alto rendimento no país. “É preciso ficar claro que nós da acadeFotos: Antoninho Perri

O professor Marco Bortoleto: “Nos últimos 15 anos, a aproximação entre universidade e clubes, federações e confederações tem se intensificado”

O professor João Paulo Borin: “Não tenho a menor dúvida de que o Brasil ainda não está entre essas grandes potências porque não conseguiu disseminar a interação entre esporte e ciência”

mia não queremos tirar o lugar de ninguém. Nosso trabalho consiste em desenvolver estudos que contribuam tanto para a formação de recursos humanos qualificados quanto para o aprimoramento da prática esportiva”, sentencia Bortoleto. De acordo com ele, a despeito desse tipo de dificuldade, o diálogo entre as partes segue avançando. “A tendência é que a cooperação cresça, dado que é o tipo de parceria que proporciona ganhos para todos os envolvidos”. Tanto Bortoleto quanto Laurita desenvolvem pesquisas relacionadas à ginástica artística. Nos Jogos do Rio, eles comporão a equipe que organizará as competições das três modalidades da ginástica: artística, rítmica e de trampolim. Bortoleto, que é membro de um dos comitês técnicos da Federação Internacional de Ginástica, atuará como responsável pelos árbitros e especialistas que trabalharão durante as competições. “Se houver algum problema com nota ou julgamento, por exemplo, eu serei o responsável pela medição”. Já Laurita, que também é árbitra internacional de ginástica artística, vai atuar diretamente na equipe de resultados e de possíveis pedidos de revisão das notas dos ginastas durante a competição. “Somente a ginástica movimentará 1.200 pessoas, entre atletas, treinadores e equipes médicas, de 74 países. Vamos ter bastante trabalho”, diverte-se Bortoleto. Os docentes da FEF são unânimes em afirmar que um dos fatores que fizeram com que alguns países se transformassem em grandes potências esportivas é justamente o aproveitamento dos conhecimentos gerados pela ciência nas áreas de gestão, organização e treinamento esportivos. “Não tenho a menor dúvida de que o Brasil ainda não está entre essas grandes potências porque não conseguiu disseminar a interação entre esporte e ciência”, analisa Borin. O docente acredita que uma boa maneira de incrementar essa relação e ampliar os resultados seria cada universidade que mantém linhas de pesquisa na área da educação física trabalhar junto a duas ou três modalidades. “Isso proporcionaria um grande avanço. Vale lembrar que precisamos abandonar a ideia de que temos que ser campeões em tudo. A segunda colocação ou uma boa classificação também são importantes. Temos que entender o avanço do esporte como um processo. É preciso compreender, ainda, que numa competição podemos ser derrotados simplesmente porque o adversário foi melhor”, diz. Além dos quatro docentes e seus orientandos, a equipe coordenada pelo professor Júlio Gavião também estará no Rio, atuando mais especificamente nas Paralimpíadas, assim como muitos outros graduandos, pós-graduandos e ex-alunos da FEF. “Isso mostra que a Unicamp estará muito bem representada nesse que é um dos mais importantes eventos esportivos e econômicos do calendário internacional”, afirma Bortoleto.


4 Campinas, 16 a 29 de maio de 2016

Sinais promissores Estudo abre caminho para terapias de regeneração de danos na retina Fotos: Divulgação

Equipamentos usados nas pesquisas desenvolvidas na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação: campo elétrico induz a regeneração de células fotorreceptoras

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

m campo elétrico pode ser usado para induzir células fotorreceptoras, as responsáveis por captar a luz que chega ao fundo do olho e convertê-la em sinais visuais para o cérebro, a mudar de forma e a se mover, mostra a tese de doutorado “Photoreceptors in Electric Field” (Fotoreceptores em Campo Elétrico), defendida na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp por Juliana Guerra Hühne. O resultado abre caminho para o estudo do uso de campos elétricos em terapias de regeneração de danos na retina. “No contexto do nosso trabalho, o campo elétrico poderia ser utilizado para dirigir a migração ou induzir a regeneração de células fotorreceptoras na direção das áreas danificadas ou degeneradas em diversos tipos de doenças da retina, como degeneração macular aguda ou retinite pigmentosa, por exemplo”, disse a pesquisadora, que atualmente mora em Dresden, na Alemanha, onde dá sequências às pesquisas, e respondeu às questões do Jornal da Unicamp por e-mail. Na realização do estudo descrito na tese, foi utilizada uma linhagem de células fotorreceptoras de camundongos. Com a aplicação de um campo de 5 V/cm (volt por centímetro) ao longo de um período de cinco horas, constatou-se que as células se deformavam e se moviam em direção ao cátodo, o polo de origem da corrente elétrica. A pesquisadora conseguiu também observar a movimentação das estruturas internas da célula em resposta ao campo. O núcleo, em especial, moveu-se para a “parte de trás” da célula, isto é, na direção oposta ao movimento geral causado pelo campo. “Os mecanismos que controlam a posição do núcleo em uma célula que migra ainda não são completamente entendidos, mais estudos são necessários para esclarecer essas questões”, disse a pesquisadora. “Acredita-se que o posicionamento do núcleo na região posterior da célula, oposta ao movimento, se desenvolve de forma quase passiva, em consequência da extensão celular, devido ao movimento de outras organelas e proteínas intimamente relacionadas à migração celular”. Outra possível explicação estaria no fato de o núcleo ter carga elétrica negativa, por causa do alto conteúdo de DNA, o que induziria um movimento na direção do eletrodo positivo, o anodo. “Campos elétricos com intensidade variando de 2,5 a 8 V/cm são utilizados para desfibrilação cardíaca e marca-passo”, exemplifica Juliana, para dar uma ideia da intensidade do campo usado em sua pesquisa. “Campos elétricos que desempenham papéis fisiológicos no desenvolvimento, regeneração e cicatrização de feridas variam de 0,10 a 10 V/cm”.

tam partículas dotadas de carga elétrica, os íons. “Alterações desses potenciais transepiteliais, durante o desenvolvimento do embrião, cicatrização de feridas e regeneração, em especial, criam os chamados campos elétricos endógenos, que são gradientes de tensão de longa duração, constantes e de corrente contínua”. Na maioria das vezes, explica ela, esses sinais elétricos surgem a partir de variações no funcionamento de bombas iônicas – sistemas celulares que transportam íons pela membrana – ou pelo vazamento de íons em células individuais ou de camadas de células, como o epitélio, quando ocorre um ferimento, por exemplo. “O gradiente iônico resultante causa fluxo de corrente e estabelece o gradiente de tensão. Dessa forma, todas as células, e não apenas as células neurais, produzem um potencial de membrana que é específico para o seu tipo e que também é específico para o seu grau de diferenciação”, prossegue Juliana.

CÂNCER

Além do uso de campos elétricos para guiar o movimento das células, outras aplicações vêm sendo estudadas. “Pesquisas na área de regeneração de membros também têm sido conduzidas. Com a premissa de que se você pode alterar o potencial de uma célula, você pode mudar a forma como ela cresce, e que alterando o potencial elétrico de muitas células, você pode causar o crescimento de uma estrutura específica, pesquisadores fizeram crescer com sucesso olhos em caudas de rãs”, exemplificou. “Já na área da engenharia de tecidos, as principais aplicações de campos elétricos se concentram na formação e caracterização de tecidos artificiais e de suas células componentes, auxiliando tanto na formação da matriz extracelular artificial, como na micromanipulação das células com campos elétricos”, disse. “Existem também estudos mostrando a diferenciação de células-tronco através da aplicação de campo elétrico. Células-tronco apresentam o potencial de se desenvolverem em outros tipos celulares, em determinadas condições. Até agora, extensa literatura já validou o papel do campo elétrico na regeneração de tecidos, mostrando o grande potencial da utilização de materiais condutores e campos elétricos em engenharia de tecidos, em particular para a reparação e regeneração de ossos, nervos e tecidos cardíacos”. A conclusão da tese de Juliana aponta, ainda, a possibilidade do uso de campos elétricos no combate ao câncer. “Diversos estudos envolvendo aplicação de campos elétricos e câncer têm sido realizados, na tentativa de produzir tanto diagnóstico como tratamento”, afirmou a pesquisadora. “Esses estudos investigam os mecanismos de controle e de propagação das células cancerígenas, e baseiam-se no fato de que as células cancerígenas transformadas são perturba-

das eletricamente. Elas têm uma carga de superfície negativa maior do que as células normais e, geralmente, o seu potencial de membrana é consideravelmente mais despolarizado”. Ela conta, ainda, que uma empresa israelense divulgou recentemente resultados promissores de pesquisas laboratoriais e de testes em humanos envolvendo a aplicação de campos elétricos contra tumores. “Essa empresa tenta desenvolver um dispositivo que usa campos elétricos fracos para destruir células cancerígenas, mas sem lesionar as células normais”, descreve. “Campos elétricos de baixa intensidade foram utilizados para interromper a divisão das células cancerígenas e retardar o crescimento de tumores cerebrais. O dispositivo está em ensaios clínicos de fase final nos Estados Unidos e na Europa para glioblastoma, um câncer cerebral letal. A sua eficácia também está sendo testado na Europa contra o câncer de mama”.

PRÓXIMOS PASSOS

Juliana espera que os resultados apresentados em sua tese venham a ter aplicação terapêutica no futuro. “Campos elétricos já têm sido utilizados para aplicações terapêuticas, especialmente, na cicatrização de feridas e regeneração de tecidos, como tecido ósseo e cartilagem, por exemplo”, disse ela. “Estudos sobre a estimulação elétrica para promover a união óssea mostraram resultados clínicos promissores, utilizando dispositivos tanto externos como implantáveis. Outros estudos demonstraram que a estimulação elétrica aumenta a migração de células do menisco e a reparação de tecidos integrativa”. “No contexto do nosso trabalho, o campo elétrico poderia ser utilizado para dirigir a migração ou induzir a regeneração de células fotorreceptoras na direção das áreas danificadas ou degeneradas em diversos tipos de doenças da retina, como degeneração macular aguda ou retinite pigmentosa, por exemplo”. Especificamente sobre seu trabalho com células fotorreceptoras, ela diz que “antes de partir para estudos ‘in vivo’, estudos ‘in vitro’ mais detalhados ainda são necessários. Pretendemos, primeiro, investigar a polarização de formações células complexas, envolvendo camadas de células em tecidos e estimulação em mais dimensões, utilizando eletrodos especiais, para depois iniciarmos estudos em animais”.

CÉLULAS E ELETRICIDADE

Quem só conhece biologia até o nível do ensino médio talvez imagine que a eletricidade só é importante para certos tipos de células, como os neurônios, que transmitem impulsos nervosos, e as do coração. Juliana diz que essa é uma visão “incompleta”. “Neurônios, assim como células musculares, são exemplos de tecidos com características especiais de excitabilidade, capazes de gerar potenciais de ação. Potencial de ação é uma variação de tensão rápida e autorregenerativa, que ocorre através da membrana celular”, descreveu ela. “Porém, existem também os potenciais transepiteliais, que ocorrem principalmente devido à distribuição polarizada de canais iônicos nas células epiteliais”, um tipo de célula que reveste órgãos e cavidades internas do organismo. Canais iônicos são passagens na membrana celular por onde transi-

Publicação Tese: “Photoreceptors in Electric Field” Autora: Juliana Guerra Orientador: Sérgio Mühlen Unidade: Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) Na foto menor, Juliana Guerra Hühne (centro), autora da tese, no dia da defesa, e em Dresden, na Alemanha


5 Campinas, 16 a 29 de maio de 2016

Dez visões sobre o impasse político Foto: José Cruz/Agência Brasil

CARLOS ORSI carlos.orsi@reitoria.unicamp.br

e os aspectos legais e éticos do processo movido contra a presidente afastada Dilma Rousseff ainda inspiram controvérsia, tanto entre o público quanto no meio acadêmico e intelectual, a crise política parece ter produzido pelo menos um consenso: o de que tempos difíceis e perigosos aguardam o governo Michel Temer e, em consequência, o Brasil. Isto é o que se depreende da série de depoimentos colhidos pelo Jornal da Unicamp junto a dez intelectuais de destaque da cena nacional. Foram ouvidos, ao longo das últimas semanas, Antonio Marcio Buainain, do Instituto de Economia (IE) da Unicamp; o poeta, tradutor e escritor Augusto de Campos; Cícero Romão de Araújo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP; Eduardo Fagnani, do IE-Unicamp; Francisco de Oliveira, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e da FFLCH-USP; José Arthur Giannotti, do Cebrap e da FFLCH-USP; Leandro Karnal, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp; Rogério Cezar de Cerqueira Leite, engenheiro, físico e professor emérito da Unicamp; Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade; e Walquíria Leão Rego, do IFCH-Unicamp. Os depoimentos foram dados num período conturbado, ao longo do qual ocorreram eventos dramáticos como o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, por decisão unânime do STF, a breve reversão do processo de impeachment por seu sucessor, Waldir Maranhão e, por fim, o afastamento da presidente eleita pelo Senado, no último dia 12. Algumas das falas reproduzidas abaixo refletem o calor dos acontecimentos. A reportagem perguntou aos entrevistados sua opinião sobre a natureza do processo contra a presidente e suas perspectivas para o futuro do país. Confira, abaixo, as respostas:

Como o sr(a). vê, tanto do ponto de vista legal quanto do impacto institucional, o processo de impeachment conduzido contra a presidente Dilma? Foto: Antonio Scarpinetti

Com Lula ao fundo, Dilma Rousseff fala a apoiadores em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, após receber notificação de afastamento do cargo, no último dia 12

partilhada pela população em geral, que não tem consciência da importância de se respeitar o orçamento. Nesse quesito, o governo tem uma certa razão ao tentar minimizar o ocorrido, uma vez que, aos olhos da população, o desrespeito desta lei é mesmo pouco relevante. E a verdade é que a própria oposição não se preocupou em mostrar à população a gravidade do crime representado pela violação da LRF, e preferiu construir o caso pelo impedimento em cima da notória incompetência da presidente, e da corrupção que envolve lideranças importantes dos partidos da base aliada, que são fatos graves, mas que, em nosso ordenamento, não suficientes para justificar o impedimento. E a oposição não se preocupou em esclarecer a população sobre a natureza do crime contra a responsabilidade fiscal porque não é do interesse dos políticos em geral difundir a boa prática de que gastar irresponsavelmente é crime. Vai que pega a moda de respeitar orçamentos e regras! Dá para imaginar um mundo no qual as universidades estaduais tivessem que aceitar a dotação de recursos definida pelas regras da autonomia, e os limites para o pagamento da folha de pagamento?! Eu não consigo! Então, temos um paradoxo: para o impedimento vale o crime fiscal, um crime que a presidente de fato cometeu, mas para a população ela está sendo impedida por “crimes” que de fato não cometeu, porque ser incompetente e colocar o país na maior crise já vivida não é, em nossa legislação, crime. Foto: Lia de Paula/MinC

Antonio Marcio Buainain

inha visão é de que houve transgressão inequívoca da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), por meio das pedaladas, ou créditos suplementares, ou como se queira chamar essas manobras que ferem o espírito e o texto legal. E essa lei é muito importante para a República, porque coloca limites para as ações dos governantes, tem o objetivo de impedir que decisões de gasto sem lastro deixem heranças malditas para os governantes e gerações futuras. Se a LRF tivesse sido observada em todos os níveis, federal, estadual, nos municípios, nas empresas e autarquias, o Brasil não estaria na crise em que se encontra hoje. Portanto, considero que houve crime de responsabilidade: há uma lei, uma lei importante, que foi violada pela Presidência da República. Argumentar que ela apenas assina decisões técnicas, chanceladas por pareceres do seu staff, significaria aceitar que o presidente não é responsável por nada, uma vez que toda decisão, antes de chegar à mesa presidencial, é precedida de um processo técnico e avaliativo longo e complexo. Mas quem toma a decisão é o chefe do Executivo, e não seus assessores. Infelizmente, tenho a impressão de que essa percepção da importância da lei da responsabilidade fiscal não é com-

Augusto de Campos

u expressei várias vezes, desde meados do ano passado, em várias entrevistas e manifestações públicas, a minha convicção de que não há base legal para o impeachment. Acho que é uma armação, onde apenas se dá aparência formal à deposição da presidente legítima. Posso falar com alguma autoridade porque, além de poeta e escritor, com mais de 65 anos de atividade, fui também procurador do Estado durante quase 40 anos, e trabalhava justamente na área de interpretação da Constituição em relação às leis vigentes. Acho que é totalmente inconsistente o pretenso fundamento do impeachment — prática costumeira, de natureza operacional-financeira, utilizada pelos governantes que precederam o atual, e ainda corrente em vários Estados da Federação. E considero contrária aos princípios do direito e da ética a votação que acolheu a iniciativa do processo, e que envergonhou o país pelas demonstrações de ignorância e primitivismo dos deputados favoráveis ao impedimento,

as quais chegaram a incluir o louvor à tortura, ferindo os mais comezinhos princípios dos direitos humanos. Assim como muitos juristas e intelectuais, considero esse impeachment um golpe indireto, um golpe branco, com as aparências formais de legalidade. Aos 85 anos, depois de ter vivido os tempos execráveis do golpe da ditadura militar, não esperava ter que assistir ao espetáculo deplorável da farsa política com que agora nos defrontamos. Foto: Reprodução

Cícero Romão de Araújo

u acho que o que estamos vivendo hoje não é uma simples crise de governo, é uma crise de regime. Não significa que a democracia esteja em questão. Há uma crise de regime porque há sinais claros de que o sistema político, como um todo, está desgastado e sob enorme pressão. Não está conseguindo produzir alternativas que, relegitimando o conjunto, conduzam a uma saída para as várias crises sobrepostas que o país está vivendo, especialmente a relacionada ao desgaste interno do sistema partidário-eleitoral. Agora, o fato de haver uma crise de regime não significa que a democracia esteja em perigo. Há uma polarização enorme, mas as principais forças políticas do país não querem partir para outro jogo, senão os compatíveis com a própria democracia. Por isso não acho o termo “golpe de Estado” adequado para descrever o que está acontecendo. A rigor, um golpe de Estado visa mudar a natureza do regime, liquidar as liberdades democráticas e instituir um regime autoritário. Isso não está posto. O que não significa que tudo esteja correndo normalmente: ao contrário, é uma situação muito anômala. Um regime democrático pode produzir decisões equivocadas e até muito injustas: “golpes abaixo da cintura”, como se diz (o que é diferente de golpe de Estado), medidas sórdidas – por exemplo, essa sucessão de coisas a que estamos assistindo neste momento. Acho que a justificativa do pedido de impeachment é frágil, jurídica e politicamente muito frágil: de fato, a debilidade de um governo, sua baixa popularidade, a crise econômica, etc., não justificam, no presidencialismo, um pedido de impeachment. E as razões que foram alegadas no processo iniciado na Câmara dos Deputados – as tais pedaladas fiscais etc. –, parecem antes um pretexto para justificar a derrubada do governo por uma maioria antigovernista ocasional. Não me parece um bom presságio para o que virá a seguir. (Continua na página 6)


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Campinas, 16 a

‘Os termos, em política, envolvem s Foto: Antoninho Perri

(Continuação da página 5)

Como o sr(a). vê, tanto do ponto de vista legal quanto do impacto institucional, o processo de impeachment conduzido contra a presidente Dilma?

Rogério Cezar de Cerqueira Leite

Foto: Marcos Santos/USP Imagem

Foto: Antoninho Perri

José Arthur Giannotti

Eduardo Fagnani

o ponto de vista da gestão orçamentária, está provado que não há crime de responsabilidade. Juristas que ignoram a dinâmica do capitalismo estão criminalizando a gestão macroeconômica num contexto de crise estrutural. Como disse recentemente um senador da República, o objetivo não é o impeachment de Dilma Rousseff, mas o “impeachment de Keynes”. Entre 1999 e 2013, o Brasil fez superávit primário – sem despesas financeiras – de cerca de 3% ao ano, em média. Foi um dos poucos países do mundo que fez isso. A dívida líquida em relação ao PIB caiu de 60% para 33%. A crise do capitalismo pós 2007 restringiu as possibilidades da economia doméstica. Um déficit primário de 0,6% a 1,5% do PIB – obtido em 2014 e 2015 – é irrelevante na comparação internacional. Diversos países têm déficits superiores a 7% do PIB desde 2008. O impacto institucional do golpe será dramático. Uma irresponsabilidade assombrosa do poder econômico nacional e internacional que, mais uma vez, não respeitou o veredicto das urnas. Marionetes desses interesses, políticos da oposição jogam na lata do lixo o interesse nacional em favor de objetivos pragmáticos de curtíssimo prazo. Nossa democracia é extremamente frágil. O último ciclo foi iniciado há menos de 30 anos. A nova fratura da democracia poderá ter efeitos devastadores por muitos anos, interditando o futuro e o processo civilizatório nacional. Foto: Antoninho Perri

processo é, a meu ver, totalmente normal quando há vácuo de poder. Sabemos que a presidente Dilma Rousseff ganhou a eleição, mas não levou. Apresentou-se na reeleição com um projeto de continuidade que negou tão logo propôs o ajuste fiscal, e assim por diante. Deixando de lado os pormenores mais ou menos ridículos do confronto entre o governo e oposição, importa que o processo decisório ficou emperrado, e tudo se dissolve no ar. Até mesmo aquele “projeto de novo capitalismo” que os ideólogos inventaram para dar nome à bagunça causada pelo intervencionismo esdrúxulo da política econômica. O processo político passa pelo impeachment para que se forme um novo grupo governante, seja do lado que for. O ponto de partida é uma acusação de um crime de responsabilidade ou de algum outro semelhante. Como todo processo criminal, uns acreditam na inocência, outros na culpa da vítima, mas a decisão agora não é tomada pelo juiz, mas pelo Congresso: é o modo de mostrar que o vencedor tem força para iniciar um novo governo. Todos os passos têm seguido os trâmites determinados pelo STF. Aonde está o golpe? Impressiona, porém, como os atores tendem a transformar as leis e os regimentos em alavancas para abrir espaços que lhes beneficiem. A despeito da ambiguidade de qualquer lei, cada uma exige uma zona de definição que precisa ser compartilhada para que o processo jurídico-político funcione. As zonas cinzentas não transformam tudo numa diarreia generalizada. Mas se cada ator pode intervir no processo, sem levar em conta sua articulação no sistema, instala-se a mais pura anomia. O que fez o impávido Waldir Maranhão? Este país nem sempre foi considerado sério. Não corremos, porém, o risco de virar um país de palhaços?

iscordo do processo de impedimento da presidente. Inicialmente, porque é institucionalmente ilegítimo, pois as assim chamadas “pedaladas” eram uma prática tradicional, realizada não somente pelos governos anteriores como também pelo próprio vice-presidente Michel Temer, que no caso do impedimento, será o próximo presidente da República. Não há nada mais obscenamente estapafúrdio do que você tirar da Presidência uma pessoa reconhecidamente honesta e passar para as mãos de outra que efetuou as mesmas transgressões e que, além do mais, é indiciada em muitos outros processos. Foto: Antonio Scarpinetti

Simon Schwartzman

u acho que o processo de impeachment é completamente normal e legal. Foi feito de acordo com o que está previsto na Constituição. E o crime de responsabilidade está configurado, de acordo com o entendimento da Câmara dos Deputados, que tem a autoridade para definir isso. As alegações de golpe são completamente infundadas – é um argumento de retórica, que não tem nada a ver com a realidade. É um processo perfeitamente legal, sancionado pelo Supremo Tribunal Federal, votado pelos deputados, sem problema nenhum. Foto: Antonio Scarpinetti

Foto: Antonio Scarpinetti

Walquíria Leão Rego Francisco de Oliveira

rata-se de um golpe de Estado, mas o Brasil é sempre muito inventivo. É um golpe de Estado constitucional, está previsto na Constituição. Não é nada original. Temos por hábito copiar muito os Estados Unidos – [Richard] Nixon renunciou para evitar o impedimento, mas o Brasil é mais realista. No caso de Fernando Collor, por exemplo, ele renunciou, assim como Nixon, para evitar o impedimento, mas o Congresso assim mesmo o destituiu. O que importava era cassar os direitos políticos, o que naquele momento só era possível por meio do impea chment. Na verdade, Dilma já havia perdido força política, e o PT não saiu em sua defesa no primeiro momento. Não haveria o que evitasse esse desfecho.

Leandro Karnal

s termos, em política, envolvem sempre um jogo de forças e poder. Os dois lados que estão se enfrentando têm projetos políticos distintos, mas têm em comum o fato de que podem travestir de justiça, constitucionalismo, fidelidade às leis, distribuição de renda – mas o que está em jogo é poder. E toda política é orientada em nome de um jogo de poder, um poder que se tenta de todas as formas, a todo instante. Então, utilizar a expressão “impeachment por pedalada fiscal” ou utilizar a expressão “golpe” são argumentos retóricos dos dois lados, para justificarem só e unicamente o que desejam, que é a questão do poder. Poder é o grande objetivo da política. Se para isso é preciso fazer acusações de golpista ou de pedófilo, isso é secundário. A verdadeira grande questão diz respeito ao poder.

ão sou jurista, mas leio os juristas, dialogo bem com eles, leio sempre que posso suas análises e a maioria esmagadora considera ilegal o impeachment da presidente Dilma. Além do que, conheço muitos professores de Direito, de várias partes do país. Então, digamos, não sou a pessoa adequada para falar do ponto de vista estritamente jurídico. Falo apenas como cidadã de uma democracia constitucional. Sabe-se que o impeachment é, fundamentalmente, um processo político, mas que exige sólida fundamentação jurídica. Não está disponível apenas para satisfazer apetites de poder de certos setores políticos. Afinal, constitui uma figura do Estado de Direito, que por definição é um estado organizado por normas jurídicas. Em nosso caso presente não só é ilegal, por tudo que já li, como pelas provas que foram apresentadas a favor da inocência da presidenta: ela não cometeu crime de responsabilidade. Além do quê, créditos suplementares como causa de impedimento de uma presidenta eleita legitimamente seria um casuísmo absurdo, pois semelhante prática administrativa foi feita por governos anteriores e nunca suscitou esse tipo de dúvida, esse tipo de problema. O argumento a que os golpistas têm recorrido denota um cinismo, uma desfaçatez inacreditável.


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a 29 de maio de 2016

sempre um jogo de forças e poder’ Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Placar indica a votação no Senado que afastou Dilma por 180 dias

Tentam sofismar grosseiramente. Ah, mas o instituto do impeachment está previsto na Constituição. Bom, também está previsto na Constituição que o Brasil pode declarar guerra. Está previsto na Constituição que o governo pode declarar estado de sítio. O cinismo está em ocultar, do argumento, as condições em que tais preceitos podem ser acionados. Não se sai declarando guerra e estado de sítio a torto e a direito. A questão dos créditos suplementares foi o pífio pretexto que arrumaram. Levaram a cabo, desde as eleições, uma politica de enfraquecimento do governo, obstruindo na Câmara sistematicamente, através das tais pautas-bombas, qualquer medida governativa. Em síntese, não deixaram a presidenta governar. A isto tudo se soma a aliança perversa com a mídia, com os grandes meios de comunicação, e uma parte significativa da Polícia Federal e do Judiciário. É um golpe muito articulado, se apossaram de todos os recursos de poder. Não tenho a menor dúvida de que há um golpe, pois não há crime de responsabilidade. A presidenta não o cometeu e eles sabem disso. O que querem de verdade é interromper o projeto de um governo popular, assim como fizeram com Getúlio Vargas em 1954, e em 1964 com o presidente João Goulart. É disto que se trata. Aliás, praticamente são as mesmas forças políticas que protagonizam o golpe de agora. Sequer escondem que se apossam da mesma linguagem lacerdista de vestal da moralidade publica: mar de lama invade o país. Caos governativo, etc e tal. Do ponto de vista conceitual, pode-se dizer que já estamos mergulhados em casuísmos jurídicos e arbítrio desenfreado, portanto estamos vivendo em Estado de Exceção. Destruiu-se nosso Estado de Direito. Basta ver o arbítrio realizado com essas prisões, as delações premiadas que vazam seletivamente para a mídia, as conduções coercitivas, a humilhação pública dos simplesmente citados pelos delatores. Como não conseguiram derrotar o projeto popular pelo voto, demonstram sua fúria destrutiva recorrendo a vários instrumentos de arbítrio, visando a destruição de certas forças políticas. Para tanto, não hesitam em manipular informações, aterrorizar a população através de um massacre midiático se utilizando de técnicas manipulatórias nazistas. Perderam qualquer pudor na sanha ensandecida de eliminar da cena pública seus adversários políticos. Ou seja, não visam apenas derrotar o projeto, mas sim destruí-lo completamente. Foi isso que fizeram em 1964, com a ajuda dos militares que, no contexto da Guerra Fria, eram seu mais eficiente instrumento de Estado. Utilizaram-no e, agora, utilizam-se de instrumentos como a PF, e uma parte do Ministério Público. Neste arco de aliança, destaca-se tragicamente a grande imprensa, que com as honrosas exceções se constituiu no ator fundamental deste atentado à democracia. Se você prestar atenção, basta acompanhar as falas dos comentaristas, os noticiários por rádio e televisão, o massacre mental começa às 5h da manhã e vai o dia inteiro. Seu cardápio se compõe de injúrias e calúnias a certo partido e a certas figuras. Como faziam os nazistas, que se referiam à esquerda se utilizando fartamente da acusação sem provas, repetindo dia e noite palavras como ladrões, bandidos, corruptos. A literatura sobre isto é farta e está presente em nossas bibliotecas. Outro ângulo importante de ser destacado nesta história é a demonstração cabal do desrespeito absoluto ao voto popular, à soberania popular. Que estão dizendo ao povo? Seu voto não vale nada. Qualquer maioria congressual, formada pelos métodos mais ilegais e imorais, qualquer grupo de empresários de grande poder, pressiona, e nós derrubamos o presidente que você elegeu. Estão desmoralizando o voto. E, assim sendo, demonstrando, mais uma vez, sua prepotência de donos do país e dos sentimentos públicos. É bom lembrar que no dia seguinte à eleição já começaram a pedir recontagem dos votos, anulação das eleições, e, no ponto culminante da desfaçatez, que se diplomasse o candidato derrotado e não o vencedor. Então, desde o início, deram provas eloquentes de que não aceitavam os resultados eleitorais. Romper com as regras básicas do jogo democrático só tem um nome: golpe. A grande mídia envenenou de tal modo a classe média – que por sua própria posição social, tende a ter horror do povo. Sua tendência principal é olhar

Foto: Valter Campanat/Agência Brasil

O presidente interino Michel Temer discursa durante posse de ministros ocorrida no último dia 12, no Palácio do Planalto

para cima da escala social. Os exemplos destas construções midiáticas são inúmeros. Basta examinar um pouco como são feitas as fotografias e os textos que falam da presidenta e de figuras como o ex-presidente Lula. Um fotógrafo estrangeiro observou isto e ficou escandalizado. Tudo somado, temos diante de nós uma configuração complexa. Os analistas terão que relacionar cada elemento dela para fazer uma boa análise sociológica. Não é simples, não.

Foto: Lia de Paula/MinC

Se consumado o impeachment, quais suas perspectivas para o futuro? Foto: Antonio Scarpinetti

Antonio Marcio Buainain

ejo o futuro de maneira muito pessimista. Acredito que a verdadeira dimensão da crise ainda não veio à tona. O iceberg ainda não mostrou todo o seu volume, apenas uma ponta robusta: 11 milhões de desempregados, empresas fechando, Estados incapazes de pagar seus funcionários, desânimo... A crise é maior do que se pensa. E, do mesmo modo que a oposição que defende o impedimento não se interessou em revelar a natureza do crime de responsabilidade fiscal, também não se preocupou em construir uma base política sólida para implementar as políticas que serão necessárias para tirar o Brasil da crise. A base do vice-presidente Michel Temer é uma geleia mole e disforme, que não dá condições de se fazer as reformas necessárias, e nem para apenas mitigar os efeitos da crise. Unir forças contra a presidente Dilma tem sido uma tarefa fácil, tamanha a inabilidade política e a incompetência dela como executiva. Quero saber se será suficiente para manter a união pelas reformas. Porque já se vê, dentro da base, gente falando que não vai aceitar mudanças na lei trabalhista, na Previdência. A base já revela sua fragilidade. Isso fica evidente, por exemplo, no recuo da boa intenção de cortar ministérios. Talvez se possa dizer, com ironia, que o vice-presidente acabará tendo de aumentar os ministérios, para atender a todos. Acredito que o impedimento da presidente é necessário, porque um crime grave, cujo resultado é a situação atual, foi cometido. O processo é legal. Mas não haver a construção de uma base programática é problemático. Dentro da base, cada um tem uma receita para o país. Não há um time escalado, não há um plano claro – cada ator entra em campo pensando em fazer seu jogo particular, o que é receita para um novo 7 a 1. Contra o país.

Angusto de Campos

ão sei o que pode acontecer. Precisaria ter bola de cristal. Mas eu vejo tudo com muita apreensão, porque está claro que assoma o poder o mesmo grupo que sempre esteve associado às faixas mais conservadoras e reacionárias da nossa sociedade. De certa forma deu-se, voluntária ou involuntariamente, uma espécie de conspiração, que envolveu todas as áreas institucionais. E a grande mídia teve muita responsabilidade nisso. Sou inteiramente favorável a que se penalizem malversadores dos dinheiros públicos, que se obtenham restituições e reparações de danos daqueles que se comportaram desonestamente. Mas o que ocorreu nos últimos tempos ultrapassou toda a medida. Houve uma inversão de valores jurídicos e éticos relevantes. Citem-se a complacência e a heroicização de delatores intimidados, a imprensa a divulgar antieticamente matérias que ainda estavam sub judice, acarretando inversão de princípios básicos do direito como a presunção de inocência, de sorte a inculpar o denunciado antes de julgado. Acho que houve muito direcionamento também da Justiça. Procedimentos seletivos, em relação a pessoas, partidos e momentos políticos, com apressamento de alguns casos e retardamento de outros. Apesar de louvar a punição dos empresários que superfaturaram produtos e receberam lucros ilegítimos, assim como a dos políticos que se deixaram seduzir por eles, é evidente que isso também não foi invenção do último partido que estava no poder, por isso mesmo mais vulnerável a corrupção, mas sempre foi uma prática, infelizmente, costumeira da política brasileira. Se fizermos uma análise retrospectiva, vamos encontrar os mesmos defeitos e a mesma contaminação entre empresas e políticos de toda sorte e de todos os partidos em todos os governos anteriores. Louve-se o Judiciário por seu combate à corrupção. Mas que se condenem os seus excessos, quando desrespeita os direitos humanos, ameaçando impelir o nosso país para um regime policialesco e inquisitorial incompatível com os valores democráticos. O que ocorreu foi na verdade uma grande manobra política, iniciada feroz e implacavelmente pela oposição derrotada e inconformada, com o objetivo de destituir a presidente vitoriosa. Mas, para o escárnio da história, os oposicionistas chegam ao poder como meros coadjuvantes, apêndice subalterno da mediania majoritária de sempre. A meu ver, o arremedo de impeachment perpetrado coloca o Brasil num declive de retrocesso no concerto das nações latino-americanas, onde até aqui tinha reconquistado posição proeminente, não só pelo seu poder econômico e sua grandeza territorial e populacional, mas pela suposta consolidação de sua democracia. (Continua na página 8)


8 Campinas, 16 a 29 de maio de 2016

(Continuação da página 7)

Se consumado o impeachment, quais suas perspectivas para o futuro?

‘É falsa a visão de que

haverá uma trégua’ Foto: Juca Varella/Agência Brasil

Foto: Reprodução

Dilma Rousseff saúda apoiadores de seu governo, em frente ao Palácio do Planalto, dia 12, depois de ser afastada do cargo por 180 dias

Cícero Romão de Araújo

ão vejo razões para otimismo. O governo que deve começar em breve carrega os mesmos problemas estruturais que o anterior, isto é, os problemas que levaram ao tremendo desgaste da presidência de Dilma Rousseff. Em boa parte, a conjunção de forças que se formou contra o governo saiu de dentro dele mesmo, e vai continuar aí, mesmo depois do afastamento da presidente. Não podemos esquecer que, além da crise econômica, uma medida enorme da debilitação de seu governo tem a ver com a Operação Lava Jato, na qual o PMDB está implicado até o pescoço. Quanto à crise econômica, não vejo uma saída de curto prazo. É provável que a sociedade brasileira ainda venha a estar sofrendo suas consequências em 2018. Ocorre que o grupo político que foi desalojado agora e sua base social – que, mesmo diminuída, não é pequena – continuam mais ou menos articulados e não sairão repentinamente de cena. Mais do que isso: muito feridos e indignados pelo modo como foram defenestrados. Receio que continuaremos a viver uma polarização semelhante à que estamos vivendo desde as eleições de 2014. E se até lá não tivermos conseguido virar essa página, será a confirmação de que os impasses atuais foram mal encaminhados. E por que acho que estão, de fato, sendo mal encaminhados? Porque se tenta resolver a crise pela pura e simples “purgação”, ou melhor até, pela produção de um bode expiatório. Algo como: “existe aí um bando de malfeitores e tudo que temos de fazer é puni-los, após o que tudo volta ao normal”. Isso não é verdade: todo o sistema político está contaminado pelos problemas que levaram a esses processos judiciais, que a opinião pública acompanha desde 2005, com a crise do mensalão. Se a corrupção eleitoral, que envolve uma vasta promiscuidade entre o aparato do Estado e o poder econômico, atinge todo o sistema partidário, a purgação pura e simples não a resolverá. Em vez de dizer que os malfeitos são um “desvio” do sistema, resultado da malícia de alguns, seria mais correto dizer que, na verdade, são produzidos pelo próprio sistema. Logo, é preciso reformá-lo profundamente, assunto que, aliás, meio que sumiu da pauta. O bode expiatório pode até causar uma satisfação psicológica momentânea, mas é uma falsa solução. Pior: é injusta, só vai gerar ressentimento. Mesmo que, hoje, seja o ressentimento de uma minoria, é de uma minoria muito considerável e, vale dizer, circunstancialmente minoritária –assim como a maioria antigovernista é circunstancialmente majoritária. Tudo isso recomenda ficar com as barbas de molho.

Foto: Rosa Ravena/Agência Brasil

Estudantes protestam na Praça da Bandeira, em São Paulo: intelectuais preveem dias difíceis para o governo Michel Temer

A ascensão ilegítima ao poder poderá trazer tensões de grande monta. É falsa a visão de que após o impeachment haverá uma trégua, pois pressupõe que a sociedade brasileira no século 21 é a mesma de meados do século passado – veja o movimento dos estudantes secundaristas, para dar um único exemplo. A governabilidade do país poderá depender de um Estado policial ainda mais severo que o utilizado em 1964. Nesse cenário, é questionável a visão de que a “confiança” dos empresários na economia será restabelecida. Por outro lado, a agenda liberal será levada ao limite – como explicitado no chamado Plano Temer. A gestão macroeconômica será ainda mais ortodoxa e o ajuste fiscal, mais severo. No campo social, a estratégia macroeconômica somente terá viabilidade com a radical supressão de direitos sociais e trabalhistas – também explicitado no Plano Temer. Querem acabar com a cidadania social assegurada pela Constituição de 1988. O movimento social vai assistir passivamente ao retrocesso da cidadania social para o século 19?

Nas condições que havia, caso decidisse concorrer em 2018, Lula seria imbatível. O tucanato não tem nenhum nome capaz de derrotá-lo. José Serra tentou uma vez e foi desmoralizado. Aécio Neves é muito fraco – perdeu em Minas e não comove o resto do Brasil. De neto do Tancredo Neves, o Aécio não tem nada. O Tancredo jamais entraria numa fria dessa. Portanto, o alvo, repito, é Lula. Eles fizeram – e farão – de tudo para desgastá-lo completamente. Lula não tem muito a fazer, a não ser que dê uma de revolucionário, coisa que ele não é e nunca foi, ou seja, dificilmente será candidato em 2018. As classes dominantes não querem nem pensar em Lula de volta ao governo federal. Este é o recado. No campo da agenda conservadora, não creio que, em curto prazo, Michel Temer retire os direitos sociais. Seria muito visível, escandaloso e politicamente desgastante. Esses direitos serão retirados, mas aos poucos. Foto: Marcos Santos/USP Imagem

Foto: Antoninho Perri Foto: Antoninho Perri

Eduardo Fagnani

ma profunda crise institucional e política. Um governo sem votos, composto por políticos suspeitos de corrupção, não terá legitimidade popular. Nos últimos 60 anos, a sociedade brasileira mudou para melhor, mas as elites ainda adotam práticas dos anos de 1950 e 1960. São incapazes de conviver com o Estado Democrático. Como escrevi recentemente, a democracia e a cidadania social são corpos estranhos ao capitalismo brasileiro.

José Arthur Giannotti

Francisco de Oliveira

spero uma virada conservadora. Sua consequência imediata é evitar que Lula seja candidato em 2018. Lula é o alvo. Como ele não está na Presidência, tudo se assanhou quando Dilma o convidou para ser ministro da Casa Civil. A baderna foi tão grande que ele nem tomou posse. Na verdade, todos os movimentos são contra o Lula e o PT. Como ele não assumiu, a coisa voltou-se contra a Dilma. O objetivo, óbvio, é evitar que o PT volte ao poder. Assim, Lula perde sua força política, talvez para sempre.

s perspectivas são, por enquanto, as piores possíveis. Porque o processo de impeachment deve criar uma maioria, em princípio essa maioria poderia dirigir o país, mas por enquanto não estamos vendo isso acontecer no Brasil. Temer, até agora, não tem conseguido empunhar uma série de ideias capazes de reformular o país profundamente, num momento de uma crise histórica que é absolutamente avassaladora. (Continua na página 9)


9 Campinas, 16 a 29 de maio de 2016

‘Nossa história é de pouco

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

amor à democracia’ (Continuação da página 8)

Se consumado o impeachment, quais suas perspectivas para o futuro? Foto: Antonio Scarpinetti

ser positivo ou pode ser negativo: porque multidões na rua podem anunciar transformações estruturais, mas também podem saudar o novo führer do fascismo. As multidões não são sinônimo de boa escolha política. O primeiro plebiscito da história, quando Pilatos pergunta ao povo se quer o ladrão ou Jesus, o povo democraticamente grita “Barrabás, Barrabás”. O grito da multidão não é sinônimo do poder do povo. E nem da justiça, e nem da ética. Porém, a política está capilarizada, e isso é muito mais importante, talvez, do que qual facção do poder esteja disputando. Não acho, insisto, que haja uma diferença brutal entre PT, PMDB e PSDB. Não está no poder, nem de longe, nenhum partido identificado com massas, com bases ou com reformas revolucionárias. São facções, geralmente conservadoras, de propostas de poder. Não estamos discutindo o poder do PSOL contra o DEM, onde talvez houvesse uma diferença ideológica. Estamos discutindo facções de poder. Foto: Antoninho Perri

Leandro Karnal

á uma tendência muito forte e natural, do interesse jornalístico, de saber dos historiadores o futuro. Infelizmente, a minha área se especializou no estudo do passado. Então, o que acontece no que a gente chama de plano cíclico da política é que o afastamento provável da atual chefe do Executivo e a ascensão, provável, do vice-presidente, aliás eleito com ela, na mesma chapa, é a separação entre presidente e vice, como aconteceu com o vice-presidente Café Filho, quando Getúlio Vargas entrou na grande crise de 1954, em função de corrupção e outras questões, ou a questão do vice-presidente Itamar Franco, quando Collor sofreu seus problemas: o vice-presidente, nessa etapa, se afasta do poder, como se não tivesse sido eleito junto com esse poder. E esse vice-presidente se torna quase um inimigo político, porque de fato ele quer poder e a presidente Dilma quer poder, lembrando que ambos foram eleitos – os 54 milhões de votos foram dados aos dois. Então, é absolutamente previsível que um governo Temer vá representar uma certa aproximação com as bases no Congresso, que estão desgastadas, bastante desgastadas, na gestão Dilma, e ele terá um período em que haverá maior tranquilidade com o Congresso. O PT provavelmente será afastado do Poder Executivo e aguardará um aumento dos problemas para voltar, nessa alternância que vem desde o século 19 – a gente fala, nada mais parecido com um conservador do que um liberal no poder. Então, no século 19, durante o Império, quando havia “luzias” e “saquaremas”, ou seja, liberais e conservadores, um partido subia ao poder, fazendo uma crítica enorme ao outro, e ao descer do poder passava o programa da oposição para o outro. Essa era a tradição política. Esse caráter cíclico significou que há governos mais privatizantes, com menos ênfase em programas sociais, e isso pode eventualmente favorecer o mercado, e há governos com maior ênfase na distribuição de renda, ainda que também favoreçam o mercado, lembrando que, no governo Lula, tivemos os lucros históricos mais notáveis dos bancos brasileiros. Não estamos falando de esquerda e de direita. Não estamos falando de polarização ideológica. Porque o mercado, na verdade, está tranquilo, tanto num governo do PSDB quanto num governo do PT. Lembrando que houve uma aproximação intensa das empresas capitalistas, liberais, como as empreiteiras, do governo. Logo, não são dois projetos como eram, por exemplo, Salvador Allende e as forças militares do Chile. Não se constituem em dois projetos distintos, mas nesse caso se constituem em duas facções de poder muito parecidas. E, depois de um tempo no poder no Terceiro Mundo, como aconteceu no governo FHC, de oito anos, como acontece no atual governo do PT, que se sucede há duas gestões de Lula e uma gestão e meia da presidente Dilma, o desgaste é muito grande. O PT volta à oposição, aguarda, o PSDB, o PMDB e as outras forças que estão subindo ao poder chegam, se desgastam daqui a pouco, e o PT provavelmente reaparece, com as bandeiras da justiça social, da distribuição de renda. Esse é um jogo de distribuição de poder. O que é novidade é que, em alguns momentos, a população fica participante da política, fora do plano eleitoral e fora do plano partidário. Manifestações frequentes, como agora, de rua, ocupações e outras manifestações podem indicar que estamos diante de uma atomização, irradiação ou capilarização da política, algo pouco comum no Brasil. A política brasileira funcionava como Copa do Mundo, na qual quadrienalmente havia uma certa participação. Ela agora se transformou numa capilarização muito maior, o que pode

Rogério Cezar de Cerqueira Leite colegiado que a julgou era manipulado à distância pelo presidente da Câmara, reconhecidamente malfeitor, e continha grande número de indiciados pela Polícia Federal. Não há como ter expectativas de um novo governo que nasce de imposições de forças neoliberais, com nenhuma conexão com interesses nacionais. Foto: Antonio Scarpinetti

Simon Schwartzman

u acho será uma época difícil, saindo de um período muito complicado, com o país arruinado, as instituições muito abaladas, então acho que teremos um período muito incerto pela frente. Teremos eleições daqui a dois anos, mas a questão agora é ver se o governo Temer que vai se instalar vai conseguir, minimamente, tirar o país da situação dramática de crise e administrar até as eleições. Foto: Antonio Scarpinetti

Walquíria Leão Rego

e o impeachment se consumar, será o maior, ou um dos maiores golpes já realizados contra a democracia brasileira. Volto a insistir: significa dizer aos eleitores: seu voto não vale nada! Nós, os verdadeiros detentores dos principais recursos de poder, podemos, quando nos for conveniente, destruir seu voto, vamos construir maiorias congressuais dos modos mais ilegítimos. Para tanto, nos utilizaremos dos Cunhas, de vários indiciados e tudo bem. Nossa

Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, e Michel Temer na posse da equipe do governo interino, dia 12, em Brasília

moralidade é seletiva, como a de grande parte da classe média. A teoria democrática sempre advertiu sobre o perigo de se fabricar maiorias ocasionais: elas podem até ser compradas, e por muito dinheiro. Infelizmente, nossos destino e tragédia são que a história do Brasil é uma história de pouco amor à democracia. Não fomos capazes de desenvolver entre nós uma cultura pública democrática. Em 1954, o professor Florestan Fernandes escreveu um penetrante artigo em que diz isso: as elites brasileiras não permitem, não aceitam, que o povo tenha melhorias e que o povo participe da política. Consideram e agem o tempo todo para afirmar, de várias maneiras, que a política constitui mais um de seus privilégios. Para reforçar esta forma de exercício do poder, esta elite sempre conseguiu um rol de jornalistas que, sem nenhum pudor, renuncia aos princípios básicos do jornalismo para se transformar em verdadeiros jagunços. Muitos deles monopolizam o direito de voz, falam, escrevem e opinam em vários órgãos de difusão, estão nas televisões, nos principais jornais, são âncoras dos principais noticiários. O caso brasileiro, neste sentido, já é matéria de seminários internacionais, passou a ser considerado um caso de estudo por especialistas internacionais das relações entre mídia e política. Acho que o futuro será muito, mas muito ruim se se consumar o golpe. Porque, independentemente de se estar de acordo ou não com o governo, o direito de crítica e de oposição é uma coisa, mas a oposição precisa ter qualidade democrática, e esta, que está rompendo com o Estado de Direito, mostra seu desprezo pelas regras democráticas fundamentais, sobretudo pelo princípio da soberania popular. Por isto, é golpista. Acho que o futuro será a confirmação deste desapreço, afirmando mais uma vez seu desprezo aos resultados das urnas. Usurpa o poder sem nenhum disfarce. Impressiona qualquer um que tenha um pouco de leitura de história. Mostram, a quem quiser ver, seu descompromisso com a democracia e com a nação. Penso que mais uma vez estão abrindo uma ferida no país que não se sabe como vai evoluir. Não dá para saber. Mas o recado foi dado: não respeitamos a isonomia das urnas, o voto popular não vale nada. Mudarão o sistema eleitoral para o modo menos participativo possível. Sabem muito bem, como a literatura mostra abundantemente, que o verdadeiro combate à corrupção é feito com participação intensa dos cidadãos na invenção e reinvenção de instituições de controle eficazes de todos os poderes da República. Sem participação ativa da cidadania e com corporações de Estado imersas na cultura do privilégio, e que não respondem a ninguém, falar em combate à corrupção é um embuste. Um Estado Penal é o que querem. Onde isto resolveu o antigo drama das repúblicas, que é a corrupção? Às paixões destrutivas dos homens, a única resposta reside na formação de uma rede de controles democráticos. Nenhum poder sem controle. A propósito, qual foi o saldo, para a Itália, da operação Mãos Limpas? Foram presas certas pessoas, a classe média vibrou por certo tempo com certos juízes, que já desapareceram da cena pública, pois as operações penais, por si sós, não têm o poder de alcançar as raízes sistêmicas do problema. Destruiu-se o sistema partidário existente desde o pós-guerra, bem como o amor que os italianos dedicavam à política e a às atividades coletivas, e a corrupção prossegue, agora, sem nenhuma máscara. Instalou-se certa apatia e indiferença política na maioria da população. E a figura que emerge deste processo, com muito poder, foi nada menos que Silvio Berlusconi, que era e é a encarnação mais acabada da corrupção e do enriquecimento ilícito. Foi o Cunha dos italianos.


10 Campinas, 16 a 29 de maio de 2016

Estudo desvenda mimetismo de borboletas Pesquisa reuniu cientistas da Unicamp, UNB e University of New Orleans

Foto: Antoninho Perri

O professor André Lucci Freitas, um dos coordenadores do estudo: “Pela primeira vez foi sugerido que uma espécie impalatável pode mimetizar uma palatável”

SILVIO ANUNCIAÇÃO silviojp@reitoria.unicamp.br

ma pesquisa do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, em parceria com a Universidade de Brasília (UNB) e a University of New Orleans (EUA), traz relevantes descobertas sobre as estratégias de sobrevivência das borboletas. A pesquisa, publicada em fevereiro deste ano na revista Neotropical Entomology, da Sociedade Entomológica do Brasil, foi coordenada pelo professor André Lucci Freitas, do IB; e pelo docente Carlos Eduardo Guimarães Pinheiro, da UNB. Houve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no âmbito do programa Biota. O artigo também é assinado pelos pesquisadores Vitor César de Campos, da UNB; Philip James de Vries e Carla Maria Penz, da University of New Orleans. O docente André Freitas explica que o estudo traz nova complexidade à temática, quebrando o paradigma clássico de mimetismo das borboletas. O mimetismo é empregado por determinadas espécies animais e vegetais como uma estratégia de sobrevivência, situação em que imitam outras espécies para confundir os predadores. A pesquisa se baseou, principalmente, em duas espécies de borboletas: Parides anchises nephalion e Heraclides anchisiades capys. A primeira é uma espécie conhecida por acumular toxinas, se tornando impalatável (de gosto desagradável) para o predador. Por meio de sua coloração chamativa e característica, o predador, geralmente um pássaro, sabe que esta espécie não pode ser comida ou caçada. Por isso, borboletas impalatáveis como a Parides anchises nephalion, possuem voo lento, já que não precisam fugir dos predadores.

Já a outra espécie estudada, a Heraclides anchisiades capys, também conhecida como borboleta Rosa-deluto, desenvolveu o comportamento de voar rapidamente porque ela é uma presa palatável, ou seja, não possui toxinas e pode ser comida por um pássaro, macaco ou outro predador qualquer. Diversas espécies de borboleta palatáveis (de gosto bom), como esta, imitam as cores das borboletas tóxicas (impalatáveis) para tentar sobreviver. Deste modo, elas ganham proteção contra os predadores visualmente orientados. “Este é o mimetismo clássico, conhecido há décadas. Na natureza, normalmente, animais e plantas se utilizam de formas, cores e comportamentos como estratégia de sobrevivência diante dos predadores. No mimetismo, o animal aparece para o predador, só que ele aparece parecendo algo que ele não é. Assim, uma borboleta palatável, por exemplo, mimetiza outra impalatável para evitar que se torne presa”, explica André Freitas, atualmente chefe do Departamento de Biologia Animal do IB. Conforme o docente, existe, entre borboletas, outro tipo de mimetismo, também conhecido como mimetismo de escape. Trata-se de um tipo de imitação baseada na capacidade que as borboletas têm em escapar dos predadores. Neste caso, o que interessa como modelo a ser imitado não é a liberação da toxina ou gosto para a presa (ou seja, se é palatável ou impalatável), mas sim a velocidade do voo. O professor da Unicamp esclarece que há borboletas que têm voo lento, como é o caso da Parides anchises nephalion, uma espécie impalatável, de gosto ruim para o predador. Já há outras, com voo muito rápido, difíceis de serem predadas, como a Heraclides anchisiades capys (estas são palatáveis). Neste tipo de mimetismo, a velocidade do voo passa a ser entendida como um mecanismo de fuga eficiente aos predadores. Por isso, as espécies com voos rápidos se tornam modelos para aquelas que possuem voos lentos. André Freitas acrescenta que, um pássaro, por exemplo, não vai gastar energia para tentar pegar uma borboleta que voa rápido. Uma espécie com voo rápido também tem uma coloração que chama a atenção, de modo a sinalizar, já do alto, ao pássaro que tentar predá-la. De acordo com o professor da Unicamp, o predador ‘aprende’ que aquela coloração da borboleta é um indicativo de que ela voa rápido. Assim, se ele visualizar aquela espécie com aquele padrão de cor, ele não vai dispender esforços para tentar capturá-la. No mimetismo de escape, uma espécie que pode ou não ter o voo muito rápido imita a outra que tem,

Painel da semana 

Painel da semana  Semana de pesquisa: inovação, ética e ensino - Evento acontece no dia 16 de maio, às 9 horas, no Auditório da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC). O objetivo é expor o impacto de ideias, tecnologias, métodos e processos que adotam em sua concepção requisitos essenciais como inovação, ética e ensino, permitindo a discussão no âmbito da Unicamp com palestrantes que se destacam no meio acadêmico por seu trabalho intenso nestes temas. Mais informações pelo e-mail pesquisa@fec.unicamp.br  Sipat - Encontro que integra a programação das comemorações dos 50 anos da Unicamp, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho (Sipat) acontece de 16 a 19 de maio, com palestras no Centro de Convenções da Unicamp, no Auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA) e nos Campi de Piracicaba e de Limeira. Para esta edição, o tema abordado será “Avançando na segurança, saúde e educação”. A abertura oficial do evento ocorre às 9 horas, no Centro de Convenções. A Sipat é organizada pelas Comissões Internas de Prevenção de Acidentes no Trabalho da Unicamp, da Funcamp, de Limeira e de Piracicaba. Outras informações podem ser obtidas pelo e-mail cipa@unicamp.br ou telefone 19-3521-7829.  Advances of Probiotics for Food and Veterinary Applications - Abertura do workshop será realizada no dia 16 de maio, às 8 horas, no auditório 5 da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). A organização é dos professores Adriane Antunes e Anderson Sant’Ana. De âmbito internacional, o evento destina-se aos alunos de graduação, de pós-graduação e membros da indústria. O encontro, que prossegue até o dia 18, objetiva difundir conhecimentos, atualização sobre o estado da arte do tema probióticos realizando intercâmbio entre as áreas humana e animal. Mais detalhes no site https://www.facebook.com/events/511860995605863/ ou e-mail adriane.antunes@fca.unicamp.br  Semana de pesquisa da FCM - A 9ª Semana de Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) será realizada de 17 a 19 de maio com o tema “Zika vírus como modelo de medicina translacional no Brasil”. A abertura oficial do evento ocorre às 8h30, no Salão Nobre da unidade. A programação reúne a produção científica da faculdade com o objetivo de facilitar o contato entre os diferentes grupos de pesquisa. A Semana tem como público-alvo docentes, pesquisadores, alunos e a comunidade em geral. Mais detalhes na página eletrônica http://www.fcm.unicamp.br/certificado/evento/10 ou telefone 19-3521-8942.  New horizons on Diabetes Therapy - Workshop ocorre no dia 18 de maio, das 8h45 às 17 horas, em auditório ainda por confirmação. A organização é do IB, FCM, CEPID OCRC. Apoio: Unicamp, FAPESP, CNPq. O evento está sob a responsabilidade do professor Everardo Magalhães Carneiro. Seu público-alvo são alunos, pesquisadores e profissionais de áreas afins, que atuem em pesquisa sobre o tema. Inscrições e outras informações no link https:// www.ib.unicamp.br/endocrino/inscricao. Mais detalhes pelo telefone 19-3521-6205 ou e-mail czoppi@unicamp.br  Workshop no IEL - A Unicamp receberá no dia 19 de maio, uma comitiva de pesquisadores suecos que irão participar do workshop “Essential scientific challenges for the humanities and social sciences: the case of migration flows and other issues”. O encontro ocorre no Auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e contará com a participação de professores da Unicamp e da Universidade de Estocolmo, que irão proferir palestras em torno do tema do workshop. Mais

Teses da semana 

informações sobre o SACF podem ser obtidas no site http://sacf.se, e-mail juanitoavelar@uol.com.br ou telefone 19-3521-1564.  O processo de nascimento Kalunga: experiências e reflexões - A próxima aula aberta do Grupo de Estudos História das Ciências da Saúde da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp acontece no dia 19 de maio, às 14 horas, no Anfiteatro Comissão de Graduação em Medicina da FCM. Será com a professora Renata da Costa Rodrigues, mestre em Saúde Coletiva pela FCM. Aborda: “O processo de nascimento Kalunga: experiências e reflexões”.  Olimpíada Brasileira de Informática - A OBI 2016 Olimpíada Brasileira de Informática, evento apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e pela Algar Telecom, acontece no dia 20 de maio, nas escolas cadastradas em todo país. O objetivo da OBI é estimular o interesse por computação em alunos do ensino fundamental e médio. A coordenação da Olimpíada é do professor Ricardo Anido, do Instituto de Computação (IC) da Unicamp. A primeira Olimpíada Brasileira de Informática foi realizada em 1999, através do incentivo dos professores Ricardo Reis (UFRGS, ex-presidente da SBC) e José Carlos Maldonado (ICMC-USP, então Diretor de Educação da SBC). Mais detalhes pelo telefone 19-35215863 ou e-mail olimpif@ic.unicamp.br  Food Revolution Day - Próxima edição de Campinas ocorre no dia 20 de maio, das 14 às 19 horas, no Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanabara) da Unicamp. O evento tem como objetivo aumentar a conscientização sobre a importância da boa alimentação e melhorar a educação alimentar concentrandose em três ações simples: cozinhar, compartilhar e vivenciar. O Food Revolution Day foi criado pelo chef de cozinha Jamie Oliver. A embaixadora do evento em Campinas é a nutricionista Ticiane Gonçalez Bovi, mestre em Clínica Médica pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp com especialização em Nutrição em Doenças Crônicas em Atendimento Ambulatorial pelo Hospital de Clínicas (HC). O CIS-Guanabara fica à rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas-SP. Mais detalhes pelo link foodrevolutiondaycampinas@gmail.com  Vestibular 2016 - Os pedidos de isenção da taxa do Vestibular Unicamp podem ser feitos até 23 de maio. A lista com os nomes dos estudantes contemplados será divulgada em 29 de julho. Leia mais no link http://www.comvest.unicamp.br/vest2017/isencao/inscricao.html

Teses da semana  Computação: “Um mecanismo Fuzzy auto-adaptativo para

oferecer QoS em serviços web” (doutorado). Candidato: Anderson Francisco Talon. Orientador: professor Edmundo Roberto Mauro Madeira. Dia 25 de maio de 2016, às 13h30, no auditório do IC 2 do IC.  Economia: “Os impostos sobre o valor agregado e o ICMS no estado de São Paulo - 1988 a 2013 - 25 anos” (mestrado). Candidato: Ângelo de Angelis. Orientador: professor Francisco Luiz Cazeiro Lopreato. Dia 18 de maio de 2016, às 14 horas, na sala 23 do pavilhão Pós-graduação do IE. “Análise das relações industriais e estratégias de globalização: foco na Hyundai Motors na Coréia do Sul” (mestrado). Candidato: Kyung Ran Kim. Orientador: professor José Dari Krein. Dia 23 de maio de 2016, às 14h30, na sala 23 do pavilhão de Pós-graduação do IE.

pelo padrão de cor, independentemente se é palatável ou não, acrescenta o pesquisador. “Na teoria clássica de mimetismo, se o mimetismo é baseado no gosto da presa, ou seja, se é palatável ou impalatável, sempre o de gosto bom imita o de gosto ruim e nunca o contrário. O que propomos neste trabalho é que no mimetismo de escape, neste segundo caso, às vezes, pode acontecer o contrário”, revela André Freitas. Ele esclarece que o artigo aponta que, em alguns casos de mimetismo de escape como no caso do par mimético Heraclides anchisiades capys e Parides anchises nephalion, pode ocorrer uma situação diferente da prevista pela teoria clássica. “No caso acima, mostramos evidências de que a primeira, que voa rápido e têm o gosto bom ao predador, é imitada pela segunda, de voo lento e gosto desagradável. Ou seja, pela primeira vez foi sugerido que uma espécie impalatável pode mimetizar uma palatável. É o chamado mímico impalatável. Isso nunca existiu na literatura científica. Essa é a novidade do trabalho. Ela quebra o paradigma do mimetismo. Entretanto, a espécie impalatável continua sendo modelo para outras espécies palatáveis”, considera. O professor considera que os resultados são relevantes e contribuem para repensar as teorias clássicas do mimetismo como estão nos livros e manuais de biologia animal. “Isso não invalida o que foi feito antes, mas mostra que essa questão envolvendo a sobrevivência tem mais complexidade do que nós imaginávamos”, reconhece André Freitas. Ele ressalta que o artigo é fruto de 20 anos de dados e pesquisas, envolvendo a participação do professor Carlos Pinheiro e dele sobre o assunto, além da colaboração dos pesquisadores Vitor César de Campos, Philip James de Vries e Carla Maria Penz. “É um trabalho que envolve linhas de pesquisa diferentes. O professor Carlos Pinheiro trabalha com ecologia no campo, predação por aves e mimetismo de escape, enquanto que eu me dedico mais à evolução das espécies miméticas e estudos de biologia de populações.”

Publicação PINHEIRO, C E G; FREITAS, A V L ; CAMPOS, V C ; DEVRIES, P J ; PENZ, C M . Both Palatable and Unpalatable Butterflies Use Bright Colors to Signal Difficulty of Capture to Predators. Neotropical Entomology (Impresso), v. 45, p. 107-113, 2016.

Eventos futuros 

 Educação Física: “Seleção de talentos no triathlon” (mestra-

do). Candidato: Luiz Vieira da Silva Neto. Orientador: professor Orival Andries Junior. Dia 23 de maio de 2016, às 14 horas, no auditório da FEF.  Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo: “Avaliação de filtros de carvão ativado granular para remoção de cafeína, atrazina e 4-nonilfenol” (doutorado). Candidato: Roberto Fernandes. Orientador: professor Ricardo de Lima Isaac. Dia 24 de maio de 2016, às 9 horas, na sala de defesa de teses 3 do prédio de salas de aula da FEC.  Engenharia de Alimentos: “Avaliação do Pptencial da semente e do óleo de chia (Salvia hispanica L.) na prevenção e no tratamento da obesidade e comorbidades induzidas por dieta hiperlipídica e hiperglicídica in vivo” (doutorado). Candidata: Rafaela da Silva Marinelo Campos. Orientador: professor Mario Roberto Marostica Junior. Dia 16 de maio de 2016, às 10 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. “Microencapsulação de óleo da semente de maracujá através da secagem por atomização” (mestrado). Candidato: Fernando de Toledo Delfini. Orientadora: professora Miriam Dupas Hubinger. Dia 20 de maio de 2016, às 14 horas, na sala 31 do DEA da FEA. “Potencial antioxidante e antiobesogênico da casca de jabuticaba liofilizada (Myrciaria jaboticaba (vell.) berg.) e do chá da casca de jabuticaba liofilizada” (doutorado). Candidata: Sabrina Alves Lenquiste. Orientador: professor Mario Roberto Marostica Junior. Dia 20 de maio de 2016, às 14 horas, na sala de videoconferência do CCUEC.  Engenharia Elétrica e de Computação: “Pulsos não difrativos aplicados às comunicações ópticas no espaço livre” (doutorado). Candidato: Toger Leonardo Garay Avedaño. Orientador: professor Michel Zamboni Rached. Dia 16 de maio de 2016, às 14 horas, na sala PE12 do prédio da CPG da FEEC. “Modelagem de um relé de proteção direcional de linhas de transmissão no ATP” (mestrado). Candidata: Jacqueline Panez Izaguirre. Orientadora: professora Maria Cristina Dias Tavares. Dia 17 de maio de 2016, às 14 horas, na sala PE11 da FEEC. “Controle de tensão em sistemas de distribuição com elevada penetração de painéis fotovoltaicos” (mestrado). Candidato: David Andrés Sarmiento Nova. Orientador: professor Madson Cortes de Almeida. Dia 19 de maio de 2016, às 10 horas, na FEEC. “Plataforma de simulação computacional para estudos de redes de distribuição residenciais” (mestrado). Candidato: Fábio Alexandre Martins Monteiro. Orientador: professor Walmir de Freitas Filho. Dia 20 de maio de 2016, às 14 horas, na sala PE12 da FEEC. “Gestão do conhecimento no desenvolvimento ágil de software: técnicas e fatores que promovem a criação de conhecimento” (mestrado). Candidato: Eduardo Sakai. Orientador: professor Ivan Luiz Marques Ricarte. Dia 23 de maio de 2016, às 10 horas, na sala de videoconferência da FEEC. “Filtragem multi-alvo aplicada ao rastreamento de alvos manobrantes e alvos balísticos” (mestrado). Candidata: Polieny de Faria Albernaz. Orientador: professor João Bosco Ribeiro do Val. Dia 23 de maio de 2016, às 14 horas, na FEEC.  Engenharia Mecânica: “Controle linear de trajetória de dirigível robótico com propulsão quádrupla” (mestrado). Candidato: Apolo Silva Marton. Orientador: professor André Ricardo Fioravanti. Dia 18 de maio de 2016, às 13h30, na sala KE da FEM.  Filosofia e Ciências Humanas: “Um maravilhoso imaginário” (mestrado). Candidato: Leonardo Meliani Velloso. Orientador: professor Paulo Celso Miceli. Dia 20 de maio de 2016, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IFCH.

Destaque do Portal 

 Física: “Espectroscopia de alta sensibilidade através do uso de

cavidades ópticas” (mestrado). Candidato: Marvyn William Inga Caqui. Orientador: professor Flavio Caldas da Cruz. Dia 19 de maio de 2016, às 14 horas, na sala de seminários 224 do Departamento de Eletrônica Quântica do IFGW. “Processos de inversão da magnetização em redes de nanofios magnéticos modulados” (doutorado). Candidato: Luis Carlos Costa Arzuza. Orientador: professor Kleber Roberto Pirota. Dia 25 de maio de 2016, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação do IFGW.  Geociências: “Geoquímica de água subterrânea e solo em área industrial de depósito de escória, em fundição de aço” (mestrado). Candidata: Claudia Maria Vieira de Resende. Orientador: professor Wanilson Luiz Silva. Dia 19 de maio de 2016, às 14 horas, no auditório do IG. “Formar professores pesquisadores numa escola de bacharéis: a cultura do Pibid de geografia da Unicamp” (mestrado). Candidata: Anniele Sarah Ferreira de Freitas. Orientador: professor Rafael Straforini. Dia 23 de maio de 2016, às 14 horas, no auditório IG.  Linguagem: “Tudo na história do português” (doutorado). Candidata: Juliana Batista Trannin. Orientadora: professora Charlotte Marie Chambelland Galves. Dia 19 de maio de 2016, às 13 horas, na sala de videoconferência do Centro Cultural do IEL. “(Re)Constituição identitária de tradutores: entre a resistência e a fetichização das ferramentas tecnológicas” (doutorado). Candidata: Terezinha Rivera Trifanovas. Orientadora: professora Maria José Rodrigues Faria Coracini. Dia 19 de maio de 2016, às 14 horas, na sala de colegiados do IEL. “A ordem SV nas orações interrogativas do português brasileiro e europeu: um estudo histórico e comparativo” (mestrado). Candidata: Domitila Maria Danielius Oliveira David. Orientadora: professora Charlotte Marie Chambelland Galves. Dia 20 de maio de 2016, às 10 horas, na sala de colegiados do IEL. “O nome brasiguaio/brasiguayo e suas divisões: um estudo de designação e argumentação” (doutorado). Candidata: Adriana Aparecida Vaz da Costa. Orientadora: professora Sheila Elias de Oliveira. Dia 25 de maio de 2016, às 14 horas, na sala de vídeo conferência do Centro Cultural do IEL.  Matemática, Estatística e Computação Científica: “Estruturas complexas em variedades flag reais” (doutorado). Candidata: Ana Paula Cruz de Freitas. Orientador: professor Luiz Antonio Barrera San Martin. Dia 23 de maio de 2016, às 14 horas na sala 253 do Imecc. “Equação iconal, fast marching e caminhos ótimos” (mestrado profissional). Candidato: Paulo Ricardo Finardi. Orientador: professor Lúcio Tunes dos Santos. Dia 25 de maio de 2016, às 10 horas, na sala 253 do Imecc.  Química: “Diversidade conformacional da hélice 12 do receptor PPARγ e suas implicações funcionais” (doutorado). Candidata: Mariana Raquel Bunoro Batista. Orientador: professor Leandro Martínez. Dia 19 de maio de 2016, às 8h30, no miniauditório do IQ. “Estudo da imobilização de antígenos de Leishmania infantum sobre plataformas organizadas empregando SPR e QCM para detecção de anticorpos específicos da Leishmaniose Visceral” (doutorado). Candidato: Dênio Emanuel Pires Souto. Orientador: professor Lauro Tatsuo Kubota. Dia 20 de maio de 2016, às 14 horas, no miniauditório do IQ. “Nanopartículas coloidais de cobre-ouro: Considerações sobre a formação da liga e aplicação na reação de oxidação de CO” (doutorado). Candidata: Priscila Destro. Orientadora: professora Daniela Zanchet. Dia 23 de maio de 2016, às 14 horas, no miniauditório do IQ.


11 Campinas, 16 a 29 de maio de 2016

Engenheira cria plataforma para organizações sociais Fotos: Divulgação

Projeto é voltado a questões de gestão, processos e desempenhos de sistemas cooperativos CARMO GALLO NETTO carmo@reitoria.unicamp.br

m tese desenvolvida junto à Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, orientada pelo professor Orlando Fontes Lima Junior, Christiane Lima Barbosa, com graduação e mestrado em engenharia civil pela Universidade Federal do Pará (UFPA), estrutura uma proposta de caracterização de uma plataforma logística destinada a organizações sociais ou de economia solidária, como são mais conhecidas no Brasil, que envolvem o sistema cooperativo. Diferentemente das plataformas computacionais, a proposta do trabalho é a utilização de uma plataforma que visa a atender questões de gestão, processos e desempenhos de organizações de cunho social, caso das cooperativas, em geral ligadas a atividades familiares relacionadas ao extrativismo, como pesca, artesanato, manufaturas e produtos diversos do setor agropecuário. No trabalho que culminaria na “Caracterização de plataforma logística para organizações sociais”, a pesquisadora se propôs a verificar inicialmente como uma plataforma logística pode contribuir para a melhora do desempenho sustentável das organizações sociais de forma a garantir-lhes a permanência no mercado. Mesmo porque essas organizações enfrentam o desafio de orientar suas ações no longo prazo em consonância com os aspectos econômicos, processos e clientes. Para tanto, elas necessitam manter uma evolução contínua em direção ao progresso organizacional quanto às finanças, clientes, procedimentos internos, crescimento, aprendizagem, formação de parcerias e preservação do meio ambiente. O próprio título do trabalho faz referência a dois aspectos que merecem ser esclarecidos: os logísticos – que envolvem transporte, informação, produção, comercialização e meio ambiente; e o de economia social – um modelo encontrado por pequenas comunidades, menos favorecidas social e economicamente, para promover renda com o intuito de melhorar a qualidade de vida. Essas melhoras consolidam-se através de cooperativas ou associações, públicas ou privadas, que reúnem certo número de cooperados ou associados.

ESTUDOS DE CASOS

Embora já desde o início a pesquisa tivesse o objetivo de caracterizar uma plataforma logística que incluísse critérios ambientais e sociais, segundo a pesquisadora, o start que a ajudou a limitar o escopo da pesquisa e determinou sua orientação surgiu por ocasião de sua participação no Projeto Rondon. Foi a partir do envolvimento nesse trabalho que ela se decidiu pelos estudos de casos prospectivos nas regiões Norte, Nordeste e Sul do Brasil, selecionados por envolverem diversificados segmentos econômicos, apresentarem diferentes níveis de maturidade e estratégias logísticas, mas semelhantes no sistema de gestão em cooperativas, o que lhe permitiria definir uma caracterização de plataforma calcada em observações práticas. “A participação no Projeto Rondon me ajudou a refinar a abordagem porque senti a necessidade de conhecer como cooperativas ou associações se organizam, que atividades desenvolvem, que tipo de transportes utilizam, como o meio ambiente as influenciam e, tratando-se de atividades familiares, como ocorre a transmissão do conhecimento. Essas observações me levaram a estabelecer o conceito de plataforma logística

Atividade pesqueira artesanal em Apicum-açú, no Maranhão, e peças artesanais de cerâmica expostas no distrito de Icoraci, no Pará Foto: Antoninho Perri

A engenheira civil Christiane Lima Barbosa, autora da tese: “A participação no Projeto Rondon me ajudou a refinar a abordagem”

social, estruturada segundo três grandes vetores: a gestão, o processo e o desempenho”, afirmou a pesquisadora. Em decorrência do Projeto Rondon, o seu primeiro estudo de caso envolveu a atividade pesqueira artesanal em Apicum-açú, um dos principais polos pesqueiros do Estado do Maranhão. Neste caso, a motivação inicial da pesquisadora foi a de estudar como o transporte e a logística poderiam ajudar os pequenos produtores. Ela realizou, então, um levantamento das principais atividades econômicas da região e suas relações com as questões ambientais e sociais. Descobriu que os produtos desse centro pesqueiro se destinam principalmente às capitais São Luís, Fortaleza e Belém, em que chegam principalmente por via rodoviária, embora pudessem também ser utilizadas as vias fluviais e marítimas. Os pescadores são financiados por intermediários que estabelecem o preço da compra do pescado e definem o seu valor de venda. Como as distâncias aos centros consumidores são grandes, por deficiência de transporte, parte do produto se deteriora e o descarte compromete o meio ambiente. O desafio dessa região é a melhoria da produção e do compartilhamento do transporte, a garantia da qualidade do produto, a conscientização de melhores práticas logísticas e de gestão, o desenvolvimento de tecnologias e de novos processos para o beneficiamento do pescado, agregando-lhe valor. O segundo estudo de caso aborda a produção cerâmica marajoara de Icoaraci, distrito da região metropolitana de Belém do Pará. Como a cooperativa local deixou de existir, cada produtor comercializa por conta própria. Trata-se de outra realidade. Enquanto Apicum-açú possui uma gestão que pode ser melhorada e ampliada com vistas a novos mercados, Icoaraci se ressente de uma infraestrutura viária e de transportes que facilite o acesso das olarias aos centros de comércio regional e, principalmente, da abertura de novos mercados, pois a comercialização é praticamente local. Há o benefício da proximidade dos insumos minerais (a argila) utilizados na confecção de peças utilitárias em cerâmica e o diferencial do valor agregado, que resulta da criação de peças com design e decorações que refletem a cultura da região.

O terceiro estudo de caso envolveu artesanato e centrou-se em uma das principais cooperativas da cidade de Belém, Pará. Seus artesãos comercializam peças com materiais típicos da Amazônia como bolsas de juta e couro, camisas regionais, brincos, pulseiras e colares de sementes, madeira, fibras, madrepérolas, porta joias, sabonetes, velas perfumadas, sandálias em couro, cerâmicas e os tradicionais cheiros do Pará. Além de cada cooperado oferecer um produto diferente, eles próprios procuram parcerias que os levam até a vender em redes de shoppings. Esses diferenciais abriram novos mercados, ampliaram clientes e rede de colaboradores, contribuindo para o desenvolvimento de cooperados e parceiros. O quarto estudo foi realizado no município de Carambeí, Paraná, em uma cooperativa agropecuária que atende a produção de milho, soja, feijão e de derivados de bovinos e suínos. O que a caracteriza é o desenvolvimento de sistemas de rodízio de plantios e a produção de derivados de bovinos e suínos com a utilização de significativo aporte técnico lá desenvolvido ou adquirido. Além de tudo, a preocupação com o meio ambiente levou os cooperados a produzir energia a partir dos substratos gerados e a introduzir insumos como palha e esterco na cadeia produtiva. A cooperativa dispõe de espaço comum para armazenagem, o que possibilita comercializar os produtos na época do melhor preço. Em comparação com os três casos anteriores, este empreendimento é bem mais sofisticado por compartilhar entre os cooperados técnicas desenvolvidas ou adquiridas, transportes, distribuição e comercialização.

A PLATAFORMA A pesquisadora reuniu essa diversidade de observações e experiências para caracterizar a plataforma logística e social com base na gestão, nas operações e no desempenho. Definidos missões e objetivos, a gestão estabelece os procedimentos de como e aonde se quer chegar com o negócio. As operações envolvem o transporte, armazenagem, movimentação, sistema de troca de informações, equipamentos, materiais, ou seja, tudo que o cooperado precisa para sustentação da

produção. O desempenho preocupa-se com a melhora contínua dos processos, de forma a atingir novos mercados, estabelecer novas parcerias, com o menor impacto sobre o meio ambiente. Os estudos de caso mostram que os elementos logísticos não são devidamente operacionalizados, o que pode retardar o crescimento das organizações consideradas, cujos problemas podem ser resolvidos com a aplicação do conceito de plataforma logística social, que pode favorecer o desenvolvimento de atividades internas ao promover a integração dos pares, agilizar processos e também ampliar mercados. Com base nesses parâmetros, a pesquisadora faz uma proposta de plataforma logística social que garanta o todo e a participação decisória dos cooperados, de forma que eles se conscientizem da necessidade de atuarem como produtores e gerenciadores de um negócio do qual são coparticipantes desde a produção. Enfatiza a importância do envolvimento de todos os associados nas decisões e a utilização do sistema cooperativo desde a compra das matérias-primas comuns até a comercialização, o que facilita negociações mais vantajosas nos preços dos insumos e na venda dos produtos. A pesquisadora considera que “a plataforma é no fundo uma proposta de organização, constituindo um conjunto de metodologias, de ações, de procedimentos, de técnicas, de atitudes que devem ser implantadas em um sistema cooperativo com vistas a melhores resultados, destacadas e respeitadas as características particulares de cada uma das associações”. Para a pesquisadora, a caracterização de plataforma logística social apresentada atinge pequenos produtores, que já conseguem individualmente até vender em mercados internacionais usando apenas a internet, que buscam eles mesmos a matéria-prima na natureza, que têm um diferencial de produto que chama a atenção pela beleza da peça produzida. É preciso, diz ela, “fazer com que esses pequenos empreendedores consigam agregar cada vez mais valor aos seus produtos, a um custo menor, com vistas a novos mercados, porque dispõem de potencial para tanto, bastando que se organizem cooperativamente de forma mais eficiente. Tivemos também a preocupação com a continuidade do processo, propondo treinamentos cada vez mais contínuos para que o conhecimento de cunho familiar se perpetue. Mesmo porque existem artesãos antigos que nem produzem mais e não se pode permitir que seus conhecimentos e experiências se percam”.

Publicação Tese: “Caracterização de plataforma logística para organizações sociais” Autora: Christiane Lima Barbosa Orientador: Orlando Fontes Lima Junior Unidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)


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´ A capela

Campinas, 16 a 29 de maio de 2016

Fotos: Divulgação

PATRÍCIA LAURETTI patricia.lauretti@reitoria.unicamp.br

renovação da liturgia proposta no Concílio Vaticano II, na década de 1960, simplificou as práticas da missa católica. A celebração passou a ser feita em língua nativa e não mais em latim. Desse modo, a música na igreja também se modificou. No lugar do coro e da orquestra, entraram voluntários com seus poucos instrumentos, aptos a entoar canções de louvor que pudessem ser cantadas por todos. Foi um passo adiante na tentativa de popularização dos ritos da Igreja Católica, mas, para a tradição da música sacra, uma grande perda. A avaliação é do pesquisador Clayton Júnior Dias em sua tese de doutorado defendida no Departamento de Música do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. No estudo, ele resgata a produção de música sacra em Campinas de 1772 a 1870. Neste período, a Igreja Católica contava com um compositor contratado, chamado de “mestre de capela”, uma função nomeada pelo bispo da diocese. Para o posto de Campinas, o contratado trazia um sobrenome que mais tarde seria reconhecido em todo o mundo. Era Manoel José Gomes, pai do compositor de O Guarani, Carlos Gomes. Foi o início das contribuições da família Gomes para a música sacra campineira. A tese recupera as obras sacras de Maneco Músico, como era conhecido Manoel José Gomes, e os dois filhos José Pedro de Sant’Anna Gomes e Carlos Gomes. Clayton estudou a música feita para a liturgia na paróquia Nossa Senhora da Conceição, que por três vezes mudou de endereço. Para entender a história da música, era preciso conhecer a fundo a história da formação da Igreja. E não bastavam as informações da Cúria Metropolitana de Campinas, muito embora a tese traga, de acordo com Clayton, o primeiro estudo completo de três livros do tombo da paróquia, que são disponibilizados de maneira integral na versão digital do trabalho. Clayton foi mais longe e acabou indo parar nos Arquivos Secretos do Vaticano, em Roma, Itália.

IMERSO Não é fácil fazer uma pesquisa nos documentos mais reservados da Igreja Católica. Além de Clayton, ele tem conhecimento de apenas um pesquisador de Campinas que também teve o acesso permitido. Foi a intimidade com a fé católica que abriu portas para o pesquisador. Ex-seminarista e atual diretor do Centro de Estudos de Música Sacra e Liturgia da Arquidiocese de Campinas (Cemulc), Clayton sempre esteve entre a religião e a ciência. Fez graduação, mestrado e doutorado em música na Unicamp. Cantor lírico e regente, no mestrado se ateve à obra sacra de José Maurício Nunes Garcia, padre e compositor da corte de Dom João VI. Para entrar nos Arquivos Secretos, o pesquisador precisou de documentos de apresentação tanto da Arquidiocese de Campinas, como da Unicamp. Passou por uma entrevista e só então foi aprovado. Foram

dois meses de pesquisas nos documentos e um começo com o pé direito. “Meu primeiro dia no arquivo foi encantador. Peguei a primeira pasta do Brasil, vinha numa caixa com vários lacinhos, selos... Abro e o primeiro documento que vejo é uma cópia da carta de Pero Vaz de Caminha”. Nos Arquivos Secretos, Clayton descobriu como a Igreja determinava que a música deveria ser feita pelos mestres de capela e quem eram os músicos responsáveis. Também pode confirmar a nomeação de bispos, padres, e leis mais gerais da Igreja. De acordo com ele, onde está hoje o túmulo de Carlos Gomes havia a primeira ermida, uma capelinha para Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, que depois deu origem a outra igreja, onde fica atualmente a basílica de Nossa Senhora do Carmo. Com o crescimento da cidade e a necessidade de uma igreja maior, a paróquia mudaria novamente de endereço, indo para onde foi construída a atual Catedral Metropolitana. Com a história do início da igreja em mãos, ainda faltava saber detalhes da música executada. Clayton recorreu ao Museu Carlos Gomes, em Campinas. “Encontrei todas as músicas do Manoel José Gomes e de seus filhos José Pedro de Sant’Anna Gomes e Carlos Gomes”. As composições foram divididas por gêneros da música sacra.

Partitura de “Tota Pulchra”, de Manuel José Gomes

O pai de Carlos Gomes, Manuel José Gomes, o Maneco Músico, cujas obras sacras foram recuperadas pelo pesquisador

Termo de Abertura do Livro do Tombo nº 01 da Paróquia N. Sra. da Conceição

Frontispício da Missa Nossa Senhora da Conceição, de Carlos Gomes

FAMÍLIA GOMES Maneco Músico, nascido em Santana do Parnaíba, veio para a então Vila de São Carlos para ser o mestre de capela da freguesia de Nossa Senhora da Conceição. Suas atribuições eram cuidar da música que acompanhava as cerimônias religiosas, preparar e reger a orquestra e o coro para as apresentações na igreja, ensinar música, compor peças musicais sacras, copiar músicas de outros autores e ainda contratar e pagar os músicos. “Em Santana do Parnaíba, onde nasceu, Manoel José Gomes era um menino cantor de coro, criado na escola do padre José Pedroso de Morais Lara (1746-1808), que também era um compositor. Possivelmente teve contato com André da Silva Gomes, mestre de capela da Catedral da Sé de São Paulo, com quem aprendeu música e aprendeu a copiar”. A atividade de copista de Maneco Músico é exaltada pelos pesquisadores. “Na época só havia os manuscritos, portanto Manoel José Gomes preserva a música de André da Silva Gomes e também obras do padre José Maurício. Ele começa a trazer para a cidade a música mais refinada, a partir das cópias e de suas próprias composições”, ressalta. Maneco Músico foi o primeiro e único mestre de capela registrado em Campinas. A produção dele já havia sido catalogada pela professora da Unicamp Lenita Nogueira, porém não tinha sido feita ainda a separação por gêneros. Clayton classificou 62 peças sacras, divididas em antífonas, que são respostas cantadas aos salmos, missas, ladainhas, novenas, etc. Foto: Antonio Scarpinetti

O pesquisador Clayton Júnior Dias, autor da tese: resgate da produção de música sacra em Campinas de 1772 a 1870

Frontispício do Kyrie da Missa Perdida, de Carlos Gomes

Além de contribuir para um refinamento nas composições e para a preservação de obras sacras, Maneco Gomes criou os filhos no ambiente da música. “José Pedro chegou a exercer a função do pai, informalmente. Ele compõe músicas para a inauguração da Catedral de Campinas e no dia da inauguração da igreja é quem vai reger a orquestra e o coro”. Profissionalmente, José Pedro era regente do Teatro São Carlos, em Campinas. Autor de várias composições, ele tem apenas sete peças sacras que Clayton conseguiu levantar. O que mais chamou a atenção nas peças de José Pedro foi o “ar operístico” que ele dava às composições sacras numa época em que a música de ópera era proibida na Igreja, de acordo com o pesquisador. “Havia uma sonoridade profana em texto sacro e nessa época nós temos um documento papal que proíbe música de ópera dentro da Igreja”, observa. O autor da tese afirma que pesquisou jornais da época que registravam apresentações de cantoras líricas na liturgia, com solos que “arrebatavam os fiéis”. Segundo os jornais, surpreendentemente havia inclusive o pedido de bis. “Pedir um bis dentro de uma missa?”, questiona Clayton. Parece algo impensável. Uma das cantoras líricas do período foi Maria Monteiro, a mesma que empresta o nome a uma rua do bairro Cambuí, em Campinas, conforme o pesquisador apurou. Depois de Maneco Gomes e José Pedro, o pesquisador foi procurar as obras sacras de Carlos Gomes. Duas missas, a de São Sebastião composta em 1857, e a de Nossa Senhora da Conceição, de 1859, já são conhecidas. “A Missa de São Sebastião tem uma história curiosa porque não havia nenhuma capela dedicada ao santo em Campinas e nenhum devoto ou alguém da família que tenha nascido no dia de São Sebastião. Acredito que ele fez esta missa porque já almejava sua ida para o Rio de Janeiro, cujo padroeiro é São Sebastião”, conta o pesquisador. As duas missas já foram executadas pela Orquestra Sinfônica de Campinas. Além das missas, Clayton levantou dois solos: um Laudamus Te e outro Gratias. “Tem ainda o Kyrie da missa perdida, que foi feito quando Carlos Gomes foi para Milão estu-

Capela provisória, óleo sobre tela de Castro Mendes

dar música e precisou compor uma missa que não está em seus manuscritos, apenas esta parte foi encontrada pela filha dele que deu esse nome de Kyrie da Missa Perdida”. E também uma Ave Maria, já gravada várias vezes, duas antífonas e um Canto de Verônica, composição dedicada ao personagem bíblico comum do repertório sacro.

MÚSICA VIVA No mesmo púlpito onde Maria Monteiro possivelmente cantava, na Catedral de Campinas, a professora Adriana Kayama, docente do curso de Música da Unicamp, na última Sexta-Feira Santa, entoou o Canto de Verônica de José Pedro, em um trabalho de recriação das obras sacras da família Gomes proposto pela Arquidiocese de Campinas. Foi durante a reinauguração do Museu de Arte Sacra. Como responsável do Centro de Estudos, Clayton procura dar continuidade ao trabalho que o arcebispo Dom Bruno Gamberini, morto em 2011, começou. “Em Campinas estamos tentando fazer um resgate. Dom Bruno era músico regente e entendia a beleza da música como forma de evangelização, então propôs a criação de um coro e do Centro”. Desde 2007 já se formaram mais de 2 mil pessoas. “Temos um coro profissional da Arquidiocese (Coro da Arquidiocese de Campinas) e cantamos com orquestra em grandes solenidades”. Este ano o coro tem viagem prevista em outubro para Itália, Portugal e Roma. Devem cantar para o Papa Francisco.

Publicação Tese: “Música Sacra em Campinas de 1772 a 1870: levantamento histórico e contribuição da família Gomes” Autor: Clayton Júnior Dias Orientadora: Adriana Giarola Kayama Unidade: Instituto de Artes (IA)


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