Entre, rios cidades e florestas: Descobrindo a Região Metropolitana de Manaus

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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito dos editores e autores. Textos e Ilustrações Artur Sgambatti Monteiro Editoração Ana Cíntia Guazzelli Revisão Ana Cíntia Guazzelli Heitor Paulo Pinheiro Tatiana Schor Adaptação de Capa Artur Sgambatti Monteiro Silvio Sarmento Projeto Gráfico e Diagramação Silvio Sarmento Esse projeto consta como um dos produtos finais do projeto “Da Metrópole na Selva à Região Metropolitana: diagnóstico do perfil urbano dos municípios da Região Metropolitana de Manaus - Amazonas”, coordenado pela Dra. Tatiana Schor, do Núcleo de Estudos e Pesquisas das Cidades na Amazônia Brasileira (NEPECAB), da Universidade Federal do Amazonas. Esse projeto foi contemplado pela chamada universal 28/2018, Processo nº 426894/2018-9, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (CNPq/MCTIC) e faz parte dos trabalhos do Observatório da Região Metropolitana de Manaus (ORMM). Conta, ainda, com concepção artística e textual da Makaxera e apoio da Fundação Alexander von Humboldt, do Institute for Advanced Sustainability Studies (IASS-Potsdam) e da Gwärtler Stiftung. Para mais informações: www.observatoriormm.org.br

REALIZAÇÃO:

PATROCÍNIO


MANAUS - AMAZONAS 2021



sumário Prefácio A Amazônia e sua realidade urbana Meio Físico A RMM As divisões da RMM Urubu/Uatumã Negro/Solimões Madeira/Amazonas Socioeconômico Indígenas Sociobiodiversidade Econômico Conservação florestal Problemas regionais Possíveis soluções Glossário



Entre rios, cidades e florestas: Descobrindo a Região Metropolitana de Manaus

PREFÁCIO Como pensar o território na Amazônia? Como entender os processos contemporâneos de urbanização na Amazônia brasileira? De que forma construir perspectivas de desenvolvimento mais inclusivo, justo e sustentável? Perguntas-chave que permitem diversas possibilidades de leituras e ações. A Região Metropolitana de Manaus surge em 2007 como um recorte territorial que reorganiza a forma com a qual se compreende os municípios e suas vastas áreas florestadas que circundam a metrópole de Manaus. Existe pouco material informativo e acessível para os jovens compreenderem os desafios que este território

implica. E existe a enorme necessidade de se formar estes jovens em uma perspectiva de se compreender o papel fundamental que a floresta tem nesta região, não só para a manutenção do clima e da vida, mas também para se construir formas inovadoras de desenvolvimento inclusivo e sustentável que ao mesmo tempo conserve a sociobiodiversidade e dê oportunidades de desenvolvimento econômico e social que impacte as gerações que hoje aqui estão e que amanhã virão. Foi nesta perspectiva que construímos este livro, voltado para o leitor jovem, com conteúdo único que explora diversas leituras da Região Metropolitana de Manaus. Tatiana Schor


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A Amazônia e sua realidade urbana A Amazônia é a maior floresta tropical do planeta e um dos biomas mais biodiversos de todos. Sozinha, abriga mais de 60.000 espécies conhecidas. Isso quer dizer que mais de 15% de todos os animais e plantas já identificados pela humanidade estão na Amazônia. É nela que corre o maior rio do mundo em volume de água, o rio Amazonas. A quantidade de água dele é tão grande, que, sozinho, representa praticamente 20% de toda a água doce que vai para o mar, no mundo. A Floresta Amazônica cobre mais de um terço de toda a América do Sul e cerca de metade da área do Brasil. O Brasil é, ainda, o país que contém a maior parte dessa floresta em seu território - mais de um terço. Além de sua riqueza, a Amazônia é importante para o Brasil e para o mundo por outros motivos. Ela é responsável pela umidade de boa parte do continente e do Brasil devido a um

processo conhecido como ‘rios voadores’: parte da umidade produzida pelas árvores é circulada para outras regiões; Ela possui uma diversidade social e biológica tão grande que permite a sobrevivência de diversos povos através do uso de diferentes produtos florestais como peixes, frutos, óleos essenciais etc.; Sua riqueza genética é ainda muito desconhecida e, por meio de investimentos, pesquisa e parcerias, poderia ser melhor estudada, trabalhada e explorada de maneira sustentável e integrada à população local; Ela é casa para mais de 180 povos indígenas diferentes que guardam uma riqueza cultural única no mundo e, ainda; É importante para o mundo, uma vez que suas árvores e solo possuem a capacidade de absorver e manter o carbono da atmosfera, ajudando o planeta a evitar o aquecimento global.


Outro ponto importante, ainda pouco conhecido, é o fato de que cerca de 70% dos mais de 20 milhões de habitantes da Amazônia brasileira vivem em cidades. As cidades na Amazônia são diferentes em tamanho, desenvolvimento, acesso a serviços e condições que oferecem à sua população. Algumas delas são pequenas e isoladas e mais próximas da floresta; já outras são grandes centros urbanos, com indústrias, universidades e atividades sociais e culturais. Nesse segundo caso, é importante citar Manaus, capital do estado do Amazonas: sétima maior cidade do Brasil e a maior cidade de toda a Floresta Amazônica.

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Em 2020, mais de 2,2 milhões de habitantes vivem em Manaus, onde são tomadas muitas decisões importantes sobre o futuro das cidades, do estado e da floresta. Seu tamanho e economia estão ligados à Zona Franca de Manaus e ao seu Polo Industrial, que foi criado em 1957 e é um dos maiores centros industriais de todo o Brasil. A instalação das indústrias na cidade atraiu pessoas de diferentes regiões da Amazônia e de outros estados, fazendo com que Manaus crescesse a um ritmo muito acelerado. Sua população saltou de 139.000, em 1950, para mais de dois milhões, em 2020, representando um crescimento de mais de 16 vezes, em 70


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anos, e o terceiro crescimento mais acelerado de todas as capitais do país nesse período, atrás apenas de Palmas/TO e Boa Vista/RR. Por ter crescido muito rápido e por concentrar boa parte dos investimentos e empregos da região, Manaus virou uma grande ilha urbana no meio da Amazônia: uma metrópole na floresta. Isso fez com que seus arredores, assim como as cidades mais próximas, passassem a ter dinâmicas mais aceleradas e a se desenvolver de uma forma diferente da de outras cidades do

estado. Pensando nisso, o estado do Amazonas criou, em 2007, a Região Metropolitana de Manaus (RMM), que passou a ser uma junção de Manaus e mais 12 municípios dentro de uma mesma lógica de organização. A RMM foi criada considerando as diferenças entre as cidades e a metrópole. Também se pensa em fazer um planejamento conjunto para fortalecer as relações entre elas e a qualidade de vida no território. Para melhor apresentar a RMM, dividimos essa publicação em cinco partes. Na primeira, fazemos uma caracterização regional, explorando seus municípios e dinâmicas sociais. Na segunda parte, discutiremos suas características socioeconômicas, mostrando um pouco dos povos que habitam a floresta, assim como suas práticas. Já na parte conservação ambiental, falamos mais sobre como a região é protegida e sobre a natureza de suas Unidades de Conservação. Considerando os problemas regionais existentes, dedicaremos a quarta parte para explicar alguns conflitos da região. Por fim, fechamos o livro apresentando formatos que devem ser considerados para melhorar a participação social da população e, assim, sua qualidade de vida. Convidamos vocês para explorarem a RMM junto conosco.


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meio físico A Região Metropolitana de Manaus (RMM) é formada por 13 municípios: Autazes, Careiro, Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Itapiranga, Manaus, Manacapuru, Manaquiri, Novo Airão, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva e Silves. Apesar de ser a maior região metropolitana do país em termos territoriais, com uma área maior que estados como Pernambuco e Santa Catarina, a maioria da sua área é coberta pela Floresta Amazônica: mais de 90%. Além da grande cobertura florestal, a região conta com inúmeros rios. Somados, eles cobrem mais de 10% da Região Metropolitana de Manaus. Aqui, é importante dizer que a região é atravessada por alguns dos maiores rios do Brasil como o Negro, Solimões, Madeira e Amazonas. Como os rios vêm de regiões distintas e possuem diferenças em suas composições, eles variam em cor, temperatura, velocidade e quantidade de nutrientes, o que leva a uma variação também da diversidade e quantidade de peixes e de outras formas de vida aquática. Neste mapa é possível ver seus rios, bem como checar a cobertura das florestas e das cidades da região. Como falamos antes, a região conta com uma

grande diversidade de peixes, mamíferos, aves e plantas. Alguns animais só existem na RMM, como o sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), animal com alto risco de extinção por causa do crescimento desorganizado de Manaus. O sauim é o animal símbolo de Manaus. Para vocês imaginarem como a região é desconhecida, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) descobriram, em 2018, uma nova espécie de peixe no rio Tarumã-Açu dentro da cidade de Manaus: o Tarumania walkerae! De tão única, levou a definição de uma nova família: a Tarumania.


MAPA DA REGIÃO METROPOLITANA DE MANAUS

PRESIDENTE FIGUEIREDO RIO PRETO DA EVA

NOVO AIRÃO

MANACAPURU

SILVES IRANDUBA

CAREIRO DA VÁRZEA MANAQUIRI CAREIRO

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MANAUS

AUTAZES

ITACOATIARA

ITAPIRANGA


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A RMM O que é uma Região Metropolitana? Uma Região Metropolitana (RM) é um arranjo criado pelos diferentes estados do Brasil para conseguirem organizar uma certa região, considerando-se sua realidade específica e complexa. Grandes cidades, como Manaus, com um dinamismo econômico próprio, acabam influenciando a região toda e precisam ser planejadas. Nesse caso, é importante se pensar em um planejamento conjunto para trazer mais desenvolvimento para os municípios influenciados pela cidade principal de uma Região Metropolitana. No Brasil, existem dezenas de Regiões Metropolitanas e a maior delas, em termos populacionais, é a de São Paulo, com mais de 20 milhões de habitantes.

Uma Região Metropolitana é criada pelo estado (no caso da RMM, pelo estado do Amazonas) em parceria com as diferentes cidades que compõem a região. Para que uma RM possa funcionar corretamente, é necessário que conte com um Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) para sua gestão, e com uma secretaria para gerir as atividades. É necessário também que haja comprometimento de todas as entidades envolvidas e, principalmente, transparência na gestão e condução dos trabalhos e ampla participação popular, de forma a garantir coerência nos trabalhos.


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As divisões da RMM Quando pensamos na ocupação da Região Metropolitana de Manaus, é preciso separá-la em subcategorias para conseguirmos entendê-la melhor. Aqui, propomos uma divisão geográfica de suas cidades definida por seus rios e estradas. Vamos, então, falar das subregiões 1) Urubu/ Uatumã 2) Negro/Solimões e 3) Madeira/ Amazonas.

Urubu/Uatumã Essa região conta com os municípios de Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Itapiranga, Silves, Manaus e Itacoatiara e é caracterizada pelo acesso através das rodovias BR-174 (que vai para Boa Vista/Roraima) e AM-010 (que liga Manaus a Itacoatiara). Nessa sub-região, é possível visitar todas as cidades sem passar por nenhum grande rio, sendo a rodoviária a principal via de transporte entre as cidades. É aqui também que se encontra Manaus, que, por ser central na RMM, é também um ponto de

conexão entre todas as cidades da região. Todas elas estão conectadas por diferentes meios e caminhos até a capital. Na região, ao norte, temos o município de Presidente Figueiredo, que conta com a maior usina hidrelétrica do estado (Balbina) e é um dos principais destinos turísticos da região por conta de suas diversas cachoeiras. Rio Preto da Eva é conhecida por sua agricultura de abastecimento local. Itacoatiara é a maior cidade da RMM, depois de Manaus, enquanto Silves e Itapiranga estão entre os menores municípios da região. Essa sub-região se encontra nas margens esquerdas dos rios Negro e Amazonas e conta com intenso movimento de embarcações. É importante destacar a existência de comunidades em rios como o Uatumã, Apuaú e Cuieiras, todos com Unidades Conservação em seu interior e com uma forte relação com práticas tradicionais.


Negro/Solimões Essa sub-região engloba os municípios de Manacapuru, Iranduba e Novo Airão e é caracterizada pelo acesso através das rodovias AM-070 (que liga Manaus a Manacapuru) e AM-352 (que conecta a AM-070 a Novo Airão). O principal fator que a diferencia das demais sub-regiões da Região Metropolitana de Manaus é o acesso, que, desde 2011, é feito principalmente através da ponte Jornalista Phelippe Daou que atravessa o rio Negro. A sub-região Negro/Solimões é limitada pelos dois rios que a denominam. É nela que os rios Negro e Solimões se encontram, formando o maior rio do mundo em volume de água, o Amazonas. A maior de suas cidades é Manacapuru: um dos principais portos de pescados da região e conhecida por seu famoso Festival de Ciranda. Novo Airão é o maior município em área de toda a RMM e também um dos mais preservados, contendo grandes Unidades de Conservação, como os Parques Nacionais de Anavilhanas e do Jaú, símbolos da região. Em Novo Airão está, ainda, a comunidade de Velho Airão, uma das primeiras ocupações portuguesas às margens do rio Negro e que, por muitos anos, contou com apenas um Entre rios, cidades e florestas: Descobrindo a Região Metropolitana de Manaus

morador. Aqui também existem petroglifos, que são marcações de povos que viveram na floresta a milhares de anos atrás. Por último, é importante dizer que, após a abertura da ponte sobre o rio Negro, o acesso a esses municípios ficou muito facilitado e o desenvolvimento imobiliário se acentuou. Iranduba é o município mais próximo de Manaus depois de se cruzar a ponte e é também o que apresenta as maiores taxas de desmatamento da região. Muitas porções da floresta vêm sendo invadidas ou mesmo desmatadas para dar lugar a projetos de diversas naturezas.


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Madeira/Amazonas Essa sub-região conta com os municípios de Careiro da Várzea, Careiro, Autazes e Manaquiri e é caracterizada pelo acesso a partir de Manaus, pelas balsas do porto do Ceasa, que ligam a capital até o porto do Careiro. Depois disso, a viagem pode seguir através das rodovias BR-319 (que vai até o sul do estado) e a AM-254, conectando a capital ao município de Autazes. A sub-região Madeira/Amazonas é a única cujo acesso é possível apenas através do uso de balsas, que cruzam o encontro das águas, no nascimento do rio Amazonas. Depois de lá, é necessário seguir por via terrestre. A região é limitada pelas margens direitas dos rios Solimões, Madeira e Amazonas. Todos os municípios dessa sub-região são de menor tamanho, quando comparados aos

municípios das outras regiões, e estão bastante associados à vida fluvial, à exceção de Careiro, que está diretamente ligado à BR-319 (que liga Manaus a Porto Velho). A estrada, aliás, possui uma grande presença nas dinâmicas sociais da região. Devido às discussões sobre seu possível reasfaltamento, muita atenção tem sido dada à região por onde passa a rodovia. Caso a estrada venha a ser reaberta, diversos impactos estão previstos por cientistas para acontecerem na região, como aumento do desmatamento e maior pressão sobre as florestas e seus recursos naturais. É importante dizer também que entre as três sub-regiões da RMM, essa é a que abriga mais Terras Indígenas, sendo os Mura, o grupo étnico de maior presença.


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Diversidade Cultural Povos Originários Quando estamos estudando a RMM, é importante considerar sua diversidade cultural e étnica. Como já foi apontado, a região contou com a instalação do polo industrial que atraiu migrantes de diversas regiões da Amazônia e de outros estados do país. Nele é possível encontrar pessoas de todos os estados do Brasil, principalmente do Norte e Nordeste, e ainda de diversos povos indígenas da região. Em primeiro lugar, é importante denotar a presença de quilombos na RMM. Quilombos foram formados por negros que fugiam da escravidão e formavam comunidades de resistência contra o trabalho forçado. Na Região Metropolitana de Manaus existem quilombos urbanos em Manaus e em Novo Airão, assim como a comunidade do Tambor, a mais de 200 quilômetros da capital. Ao longo do rio Negro, nos municípios de Manaus e Novo Airão, há comunidades com forte presença indígena, principalmentedas etnias Tukano, vindos, em sua maioria, de São Gabriel da Cachoeira, a cidade com maior população indígena do Brasil. Um estudo da Universidade Federal do Amazonas mostra também que há indígenas de mais de 30 etnias

na cidade de Manaus como: Tikuna, Sateré-Mawé, Desana, Baré, Kokama, Apurinã, Tuyuka, Mura, Baniwa, Macuxi, Wanano, Tariano, Karapãna, entre outras. Ao norte de Manaus, no município de Presidente Figueiredo, há a maior Terra Indígena (TI) da RMM, a TI Waimiri Atroari. Sua demarcação está ligada às lutas relacionadas com a abertura da BR-174, que liga Manaus a Caracas, na Venezuela, e da instalação da Usina Hidroelétrica de Balbina, que impactaram muito suas práticas tradicionais. Hoje, a BR-174 é fechada todas as noites por demanda dos Waimiri Atroari como proteção de suas práticas e dos animais da região. Já nos municípios de Autazes e Careiro da Várzea há um processo aberto de criação da Terra Indígena Murutinga/Tracajá, que, foi declarada e carece de passar pelo processo de homologação. Ela será destinada à presença de indígenas do povo Mura, que ainda são bastante presentes na região. Como exemplo da influência indígena na região, Manaus conta com o Bahserikowi’i, Centro de Saúde Indígena, e o restaurante Biatüwi, Casa de Comida Indígena, que oferecem comidas tradicionais, tratamentos e benzimentos próprios de culturas do alto rio Negro.


Sociobiodiversidade Uma das maiores riquezas da RMM é a sua sociobiodiversidade. Além dos diferentes modos de vida urbanos, há também uma enorme variedade de formas de se viver em contato com a floresta e com sua riqueza. Sociobiodiversidade seria o conjunto de atividades, serviços e bens gerados através da conexão entre a diversidade biológica, atividades sustentáveis, beneficiamento de produtos florestais, e o manejo desses recursos por meio do conhecimento cultural e ancestral das populações tradicionais Aqui, podemos falar, por exemplo, das diversas práticas extrativistas comuns às comunidades ribeirinhas e a outras populações da floresta. Entre as mais comuns encontram-se a pesca, bem como a extração de diferentes produtos florestais não madeireiros, como o açaí, a castanha-da-amazônia, a borracha, óleos essenciais, cacau, o buriti e muitos outros. As práticas de extração e produção desses e de outros produtos na Amazônia estão associadas diretamente à geração de renda e melhoria da qualidade de vida das populações e à conservação ambiental das florestas e de seus animais e plantas. Permitir e fomentar essas práticas podem estimular um olhar mais crítico em relação a formas de Entre rios, cidades e florestas: Descobrindo a Região Metropolitana de Manaus


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vida mais sustentáveis e que permitam maior conservação ambiental. Dessa forma, elas precisam contar com incentivo por parte do governo, trazendo maior atenção para essas populações e suas cadeias de valor.

Econômico Além das diferentes realidades locais e de cada município citado, é importante considerar os grandes projetos econômicos e de infraestrutura existentes na região e que, de certa forma, marcam a realidade da RMM. Em primeiro lugar, devem-se considerar os grandes projetos de estradas da região. A BR-174 e a BR-319 conectam diversas cidades da Região Metropolitana de Manaus, assim como a outros estados do país e tiveram o início de suas obras durante o período da ditadura militar no Brasil. A BR- 319, ainda hoje, conta com grande parte de seu trecho não asfaltado, impossibilitando seu uso integral. Vale também considerar a ponte Jornalista Phelippe Daou sobre o rio Negro, que foi inaugurada em 2011 e alterou diversas dinâmicas na região. Ainda, no ano de 1989 foi construída a Usina Hidroelétrica de Balbina. Ela inundou uma enorme área de floresta no município de Presidente

Figueiredo e é uma das maiores áreas alagadas do Brasil. Apesar da capacidade instalada de cerca de 260MW, ela produz apenas cerca de 100MW, sendo cerca de 10% da energia necessária pela cidade de Manaus. Hoje em dia, a maior parte da energia da região se origina em outras regiões do país ou é gerada por meio de usinas termoelétricas. Por último, é importante considerar o polo industrial de Manaus, que foi criado em 1957, e é, ainda hoje, uma das maiores áreas industriais do país. Ele foi responsável pelo grande crescimento que a região passou desde sua instalação e conta com a presença de grandes fábricas, como a Honda, Samsung, Microsoft e Nokia.


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Território Podemos ver e estudar o espaço ao nosso redor de diversas formas, mas se tivermos uma organização no olhar, poderemos entender melhor a relação entre diferentes realidades de uma maneira mais acertada. Assim, para compreendermos a RMM é necessário que a gente conheça alguns conceitos básicos da geografia, como a diferença entre Espaço Geográfico, Território, Região, Lugar e Paisagem. O Espaço Geográfico pode ser compreendido como a totalidade da área de estudo da Geografia, compreendendo as relações entre a humanidade e o mundo natural. O conceito de Lugar demonstra a relação compreensiva e não objetiva em relação a um determinado local. É baseado nas relações específicas de cada um, considerando sua conexão afetiva com o local e até mesmo lembranças.

Um Território, por sua vez, é muito utilizado na política e descreve uma área limitada por fronteiras. Também é definido pelas relações de poder dentro dessa área, podendo ser entendida como um país, estado ou município. As Regiões são muito utilizadas e servem para definir áreas com algumas características comuns. A região é um entendimento humano sobre a realidade por critérios próprios, podendo ser umidade, um ecossistema ou até mesmo uma Região Metropolitana. Exemplos são as regiões do Brasil (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste). Por último, a Paisagem reflete o entendimento direto que um observador possui sobre uma determinada área. Muitas vezes é definida como aquilo que a visão alcança. Mas também pode ser descrita através de outros sentidos, como a audição e o olfato.


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Conservação florestal Mais de 90% de toda a Região Metropolitana de Manaus ainda são cobertos pela Floresta Amazônica, contando com um nível de conservação bastante elevado. Entretanto, ao mesmo tempo em que há florestas ainda isoladas e preservadas, existem também outras sob impacto crescente de atividades humanas. Uma forma muito comum e muitas vezes eficiente de melhorar a conservação e práticas sustentáveis no território é a criação e manutenção Unidades de Conservação (UCs). UCs podem ser criadas tanto pelos municípios da RMM, como pelo estado do Amazonas ou mesmo pelo governo federal. Elas servem como redutos de proteção da biodiversidade onde algumas atividades econômicas não são permitidas e mesmo a presença humana é limitada, dependendo de suas categorias. Essas unidades de conservação muitas vezes são a única presença do estado na região e são responsáveis pelo desenvolvimento de várias atividades como pesquisa, turismo, conservação e incentivo a práticas sustentáveis.

A região conta com diversas UCs de diferentes tipos como o Parque Nacional de Anavilhanas, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã e o Corredor Ecológico do Sauim-de-Coleira.


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PROBLEMAS REGIONAIS Apesar de sua enorme riqueza e diversidade, há diversos problemas na Região Metropolitana de Manaus que precisam ser considerados e expostos para se conhecer os passos a serem dados para a melhora da qualidade de vida de sua população. Um dos principais problemas da região pode ser descrito como a enorme desigualdade social e a diferença no acesso a oportunidades por sua população. Tais problemas são espelhos de diversos outros problemas sociais e urbanos que existem nas cidades da RMM e de outras regiões do Brasil. Um ponto central aqui é o ritmo acelerado de crescimento da população na região. Esse sempre foi um problema bastante sério nas cidades da RMM e acaba agravando outros, como o de saneamento básico, o de acesso à infraestrutura urbana no geral e o desmatamento. Como não existe um planejamento adequado que considera o recebimento e acolhimento da crescente população, muitas pessoas vivem em comunidades precárias e até mesmo em grandes ocupações construídas nas margens das cidades de forma irregular. Tais ocupações oferecem diferentes níveis de insegurança para seus habitantes, como por

exemplo possibilidade de deslizamento, inexistência de serviços básicos e até mesmo incerteza sobre o direito de estarem ali. A falta de saneamento básico não se vê apenas nas ocupações irregulares. Na realidade, coleta de esgoto praticamente não existe na RMM e muitos rios próximos a meios urbanos são bastante poluídos, o que aumenta a chance de contaminação e contágio por diversas doenças como diarreia, dengue e até mesmo a nova Covid-19 (e suas variantes). Além disso, como há poucos recursos disponíveis pelos governos municipais, há pouco investimento em atividades e serviços importantes como nas áreas de lazer, educação e saúde. Uma vez que as cidades da RMM têm deficiência nos diversos serviços, muitas pessoas buscam serviços em Manaus, tendo que viajar com certa frequência para variados fins. Isso faz com que a capital sinta pressão em diversos de seus serviços. A falta de planejamento e infraestrutura urbana adequada faz com que a capital tenha uma questão de mobilidade urbana deficiente com pouco atendimento de transporte público. Ainda, apesar de estar localizada na Amazônia, é uma das cidades com menos área verde do país.



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COVID-19 Com início em 2020, a pandemia do corona vírus abalou o mundo e ocasionou grandes impactos em diversos países. Todas as regiões do mundo foram atingidas, mas em escalas de impacto diferente. O Brasil é um dos países que mais sofre com a pandemia e, em especial, a Amazônia. Manaus foi uma das cidades mais impactas do país e durante o início da pandemia,

ao longo do mês de maio de 2020, seis, das 20 cidades com maior incidência de Covid-19 no país, estavam na Região Metropolitana de Manaus: Autazes, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru, Manaus e Presidente Figueiredo. Manacapuru apresentava uma taxa de mortalidade de 42,1 habitantes por 100.000 na época, sendo a pior do país, enquanto Manaus apresentava uma taxa de 24,3.


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POSSÍVEIS SOLUÇÕES Apesar das diversas dificuldades e problemas regionais, a existência da RMM e de sua condução podem trazer melhorias reais para a população da região. Considerando que há diversas questões que atingem sua população de diferentes formas, é importante que os governos do estado e dos municípios, com auxílio da RMM, ouçam a população para entender melhor as carências e assim ajudar na melhoria da qualidade de vida de sua população. Um dos principais fatores que falamos aqui que define a RMM é a sua grande diversidade de povos e de formas de se viver. Considerando esse fato, é de se esperar que haja desentendimentos sobre assuntos específicos, o que pode levar a conflitos. Logo, espaços que promovam o diálogo sobre o futuro da região e a melhora da qualidade de vida de todos deve ser um dos carros chefe da administração pública. O governo deve promover a participação popular nas discussões sobre o futuro de suas vidas e colocar esforço e recursos nos locais certos. Um importante articulador de políticas públicas

na região é o Observatório da Região Metropolitana de Manaus (ORMM) que, ao juntar organizações da sociedade civil e universidades, promove pesquisas e trabalhos de articulação. Há anos vem tendo um papel importante na articulação de diferentes atores da sociedade. Outro ponto central para o desenvolvimento da RMM, além dos processos de discussão e acordos, é o de planejamento. A RMM deve ter um Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) que preveja a organização da região e entenda as necessidades de cada realidade ali colocada. O PDUI é o principal instrumento que refletirá as discussões da população e atenderá as demandas necessárias. Assim, para aumentar a participação do povo, é indispensável que se façam audiências públicas nas cidades da região e que se envolvam também os jovens e representantes de diferentes organizações e regiões em todo o processo. Apenas uma população e uma sociedade civil amplamente engajadas e participativas podem garantir um poder público comprometido com a efetiva melhora da realidade da qualidade de vida de todos e todas.


GLOSSÁRIO Balbina Balbina é uma usina de geração hidrelétrica localizada no nordeste do estado do Amazonas, mais especificamente no município de Presidente Figueiredo. Foi construída após o barramento das águas do rio Uatumã e foi inaugurada em 1989. É bastante criticada pelo seu alto custo financeiro e ecológico, uma vez que é considerada por diversos estudiosos um grande desastre ecológico do Brasil. Possui baixa capacidade de geração de energia elétrica e é um grande emissor de gases de efeito estufa, uma vez que as árvores da área alagada não foram retiradas e apodreceram em seu fundo. Pirarucu O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo, podendo atingir mais de três metros de comprimento e mais de 300 quilos de peso. É encontrado por toda a bacia amazônica e, por seus diferentes sistemas respiratórios, pode também respirar ar atmosférico. É bastante importante para a culinária amazônica e também integra os sistemas de conservação local. Bioma Biomas são regiões cujas características principais Entre rios, cidades e florestas: Descobrindo a Região Metropolitana de Manaus

são relativamente uniformes e definidas por diversos critérios, como, solo, altitude, clima e vegetação. São, assim, ecossistemas, com certo nível de homogeneidade. O Brasil possui seis biomas, sendo eles a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica, o Pantanal e os Pampas. Rios Voadores Os Rios Voadores são fluxos concentrados de vapor de água na atmosfera terrestre. Eles são invisíveis e não possuem limites fixos, como os rios propriamente ditos. Eles são gerados na região amazônica pela evapotranspiração de suas árvores e, devido a fluxos atmosféricos, transportam importante volume de águas para outras regiões do continente, como as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Tal fato contribui para a produtividade de atividades agropecuárias no país. Zona Franca de Manaus A Zona Franca de Manaus é uma política de incentivo fiscal criada em 1968 que visou atrair indústrias para a Amazônia, em particular para a cidade de Manaus. Como resultado desta política, tem-se o Polo Industrial de Manaus, que é um dos maiores e mais importantes centros industriais do Brasil. É reconhecida por sua especialidade em eletroeletrônicos.



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