Ano 7 • nº1299 Setembro/2013 Matias Cardoso
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Quilombo da Lapinha em Minas é força e vitória JOSÉ TEODORICO Borges, conhecido como Doriquim e Dermira Ferreira Borges, conhecida como Deca, estão casados há 27 anos, vivem no Quilombo da Lapinha. Possuem quatro filhos Nilson, Nilton, Nelma, Noemia e cinco netos, Luidy, Davi, Emily e Ana Julia, está última mora com eles. O Quilombo da Lapinha, situado no município de Matias Cardoso, norte de Minas Gerais, é constituído por cerca de cento e sessenta famílias e, é composto pelas comunidades Varzea da Manga, Lapinha, Saco, acampamento Rio São Francisco e Ilha da Ressaca. Esta comunidade quilombola ocupa o seu território, desde o século XVII. Deca e Doriquim explicam que Matias Cardoso era ponto de comercio e troca de mercadorias, e com seus senhores haviam sempre os escravos. A vila que virou cidade é mais velha do que Mariana e Outro Preto. Vários de seus ancestrais se rebelaram e fugiram formando os quilombos, principalmente vindos das fazendas da Bahia, e adentraram a chamada Mata da Jaíba, nos vales do Rio São Francisco, Verde Grande e Gorutuba. Deca e Doriquim, como várias A neta Julia, Deca e Doriquim outras famílias quilombolas, viviam cercados por fazendeiros que se apropriaram das terras da região por volta de 1970. No período das grandes cheias a ilha inunda, e eles têm que procurar jeito de sobreviver na cidade. Quando mudaram para a ilha conheceram Jezuíto Gonçalves, que vive na comunidade próxima chamada Lapinha. Segundo o casal, Jezuíto descobre em seu envolvimento com movimentos dos povos tradicionais que território é um direito garantido por lei para descendentes e remanescentes de comunidades quilombolas. Para garantir este direito recorreram ao apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ao Centro de Agricultura Alternativa (CAA) do antropólogo João Batista. E o ITER (Instituto de Terras) e a Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros) disponibilizaram serviços de laudos, advogados, e ajuda nas viagens e mobilizações do quilombo. Este esforço deu resultado, pois em 2005 conseguiram provar na justiça que são os membros das antigas famílias quilombolas. Contudo, o reconhecimento de que eles têm um território foi outra luta. Para isso, criaram a Associação do Quilombo da Lapinha, cujo atual presidente é Doriquim. E em 2006 retomam por si próprios o território em que viveram seus antepassados e do qual foram expulsos com a chegada dos fazendeiros. Eles contam que a terra em disputa, encontra-se há mais de vinte anos