Cooperativa de agroextrativistas valoriza a biodiversidade do Cerrado e estimula o desenvolvimento r

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº2056 Dezembro/2014

Fé no campo Em meio a tantos agricultores experientes, uma das integrantes chama a atenção pela pouca idade e pelos olhos atentos. Ela é Luciana Ribeiro de Oliveira, da Comunidade das Tabocas. Desde julho de 2014 está aprendendo com os cooperados mais antigos como extrair polpas e armazená-las. A jovem de 23 anos teve uma infância dura. Foi obrigada a deixar a escola, aos 12 anos, para ajudar o pai na roça. Quem conhece essa menina esbelta de traços delicados mal imagina como era sua rotina até os 16 anos, idade em que se casou. “Acordava bem cedo para levar o gado para pastar, tirar leite das vacas, fazer queijo, alimentar as galinhas, capinar... A lista de afazeres era enorme!”, relembra.

Januária

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Cooperativa de agroextrativistas valoriza a biodiversidade do Cerrado e estimula o desenvolvimento rural sustentável Situada na região Norte de Minas Gerais, a Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Pandeiros (Coopae) reúne cerca de 20 participantes diretos que produzem polpa de frutos do Cerrado, tais como pequi, caju, cajuí e cagaita; mel, óleo de pequi e de semente de sucupira; castanha, farofa e condimento a base de pequi; e licor de jenipapo. Além disso, coletam no campo a fava d'anta, de onde se extrai a rutina, substância com propriedades medicinais amplamente utilizada por laboratórios nacionais e estrangeiros.

2007: ano do casamento e do início de uma nova vida

Mesmo tendo sido impedida de estudar para trabalhar na roça, Luciana não guarda rancor e não tem vontade de deixar o campo, o Norte de Minas, o Semiárido, para tentar a vida na cidade grande.

Luciana com a filha Geovanna e o marido Edinei

Em 2013, após participar do curso de Gestão de Recursos Hídricos, foi contemplada com uma cisterna de placas para captação de água da chuva para consumo humano. Isso facilitou a sua vida e a de sua família, uma vez que passaram a contar com água de qualidade bem ao lado de casa, e não mais a quilômetros de distância.

Casada, mãe de uma filha de cinco anos, cursando o 8º ano do Ensino Fundamental, hoje diz ter recuperado sua juventude. “Está vendo esta foto aqui?”, pergunta, mostrando a carteira de identidade. “Fiz esse documento aos 16 anos. Na foto pareço muito mais velha do que hoje, não é mesmo?”. E ela tem razão. Além do trabalho junto à Coopae, Luciana se ocupa da criação de frango para venda e produção de ovos, em parceria com o marido Edinei Carneiro da Silva. Nas horas livres ensina sua filha Geovanna a ler e a escrever, deita-se na rede com olhar fixo no horizonte, e suspira aos risos: “Minha vida está boa demais... Eu não largo isso aqui é nunca!”.

Realização

Apoio

Extração do caroço do pequi, cuja polpa é saborosa e rica em óleo insaturado, vitaminas e sais minerais

A cooperativa está localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) da bacia do rio Pandeiros, que integra a bacia do rio São Francisco. Essa APA tem quase 400 mil hectares, o que lhe rende a posição de maior unidade de conservação do estado de Minas Gerais, e está inserida em uma região caracterizada pela diversidade de povos, costumes e saberes tradicionais. Comunidades de veredeiros, geraizeiros, chapadeiros, ribeirinhos e quilombolas ocupam o território há séculos e empregam os recursos naturais do Cerrado de maneira sustentável – com os conhecimentos tradicionais desenvolvidos. “Ao utilizarmos frutos e plantas da região, valorizamos os produtos e conhecimentos locais e o desenvolvimento rural sustentável, uma vez que a quantidade excedente não mais será desperdiçada, e sim transformada em fonte de renda”, pontua o presidente da Coopae, Ailton Fernandes, se referindo à terra coberta por frutos que acabavam se perdendo por falta de destinação. Segundo ele, a quantidade excedente era tão grande, que nem os animais silvestres que se alimentam desses frutos conseguiam prevenir o desperdício.

O entardecer na Comunidade das Tabocas

Envasada como conserva, a polpa de pequi pode ser consumida o ano todo | O mel de aroeira produzido pela Coopae tem propriedades antibióticas


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