Sementes crioulas e os Guardiões da Biodiversidade

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 6 | nº 915 | Novembro | 2012 Montes Claros-Minas Gerais

Sementes crioulas e os Guardiões da Biodiversidade A Casa de Sementes Regional é um local de armazenamento e conservação de sementes crioulas dos agricultores e agricultoras familiares que está localizada na Área de Formação e Experimentação em Agroecologia em Montes Claros no Norte de Minas Gerais.

Desde o surgimento do Centro de Agricultura Alternativa (CAA) na década de 1980 e 1990, os agricultores e técnicos discutiam sobre o tema de conservação das sementes locais em eventos da Rede de Intercâmbio de Sementes (RIS) para evitar a expansão das sementes híbridas. Vários trabalhos começaram a serem feitos como os ensaios nacionais de milho crioulo, acompanhamento aos campos de produção de sementes crioulas e estímulo e apoio as casas de sementes comunitárias.

Sementes de milho Crioulo

Em 2004 quando o CAA aprovou um projeto PBBI com foco na conservação da agrobiodiversidade surgiu a proposta de construir uma casa para armazenamento e conservação das sementes locais dos agricultores familiares do Norte de Minas, além de ser um espaço de formação com as famílias envolvidas. Como fala o agricultor Cristovino Ferreira Neto “A Casa é importante porque em casa a gente consegue guardar, conservar a semente em curto prazo, e aqui na casa é em médio prazo, posso guardar por 5 anos ou mais. É também um ponto estratégico para divulgar e conhecer sementes de outros locais.”

A Casa foi inaugurada em julho de 2009 e após encontros com representantes de Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs), Associações Comunitárias, Cáritas, instituições de pesquisa e do CAA/NM foram definidos as formas de funcionamento e gestão da Casa de Sementes e em 2011 começou a receber sementes para conservação.

Visita Técnica a casa de semente regional

Definiu-se que as primeiras coletas que seriam feitas deveriam ser de espécies e variedades alimentares, que estivessem em risco de serem perdidas e principalmente aquelas que os agricultores julgassem importantes enviar para

Minas Gerais

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a Casa, a escolha foi auxiliada pelo levantamento da biodiversidade e agrobiodiversidade manejada, pesquisa realizada por agricultores monitores das comunidades.

A primeira seleção das semente são feitas pelos agricultores, que escolhes as que vão ser enviadas, as sementes chegam na Casa, são identificadas e submetidas a testes de germinação e umidade e depois armazenadas em garrafas pets limpas e colocadas na sala climatizada com temperatura e umidade controladas por um ar condicionado e um desumidificador, respectivamente. Quando as sementes estão com baixa germinação elas são devolvidas ao agricultor guardião da variedade para nenovar e devolver para Casa.

Agricultores guardiões da comunidade de Touros

Quando um agricultor precisar ou se interessar por qualquer variedade que está na Casa, primeiramente verá se o agricultor guardião tem em quantidade para disponibilizar. Caso não tenha, se o agricultor guardião autorizar, o responsável pela gestão da Casa poderá disponibilizar uma quantidade necessária para multiplicação. Sr Cristovino ressalta a importância desse processo para a continuidade da casa e das sementes “Se eu perder a minha semente e precisar de pegar na Casa tenho que devolver a mesma quantidade.”

A verdadeira conservação das sementes crioulas deve harmonizar as conservações no campo, ou seja, a conservação feita pelos agricultores e agricultoras ao utiliza-las todos os anos, assim como a utilização de casas de sementes comunitárias e a conservação feita pela Casa de Sementes Regional.

As casas de semente são de grande importância para a recuperação das espécies e saberes perdidos.

Garantem a autonomia dos agricultores agricultoras, mantêm as variedades tradicionais armazenadas, contribuem para a Segurança Alimentar das famílias e comunidades, possibilitando a diversidade de cultivos. Além dos espaço serem privilegiado de aprendizado, de desenvolvimento de capacidade de gestão e de fortalecimento das relações de cooperação e solidariedade.

Apoio:

Programa Cisternas