Seu José Gomes, o rezador

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 6 | nº 1013 | outubro | 2012 Taipu - RN

Seu José Gomes, o rezador O resgate e valorização dos saberes e da cultura caatingueira também são parte da convivência sustentável com o semiárido, pois é através deles que as gerações não deixam que se perca esse jeito característico de viver e resistir dos povos do semiárido. As crenças, ritos e conhecimentos praticados pelas rezadeiras e rezadores, também fazem parte dessa cultura e são como um patrimônio imaterial do semiárido. Elas e eles rezam pessoas e animais, fazendo orações e utilizando plantas geralmente medicinais para propiciar o alívio das dores e doenças. Esse é o relato da experiência de um rezador que vive na comunidade de Tabuleiro de Barreto, município de Taipu. José Gomes de Melo, No pátio de sua casa, Seu José reza as pessoas 61 anos, é aposentado, mas ainda trabalha em serviços leves, devido aos problemas de coração que começaram a aparecer há alguns anos. Ele mora só, mas, às vezes, um filho e dois netos dormem com ele. No pequeno pedaço de terra, onde possui uma casa com uma cisterna de dezesseis mil litros construída pelo P1MC, seu José planta macaxeira e algumas fruteiras no quintal, como coqueiro, mangueira, cajueiro, entre outras. Ele também cria galinhas para comer a carne e os ovos. Seu José, o rezador Seu José conta que começou a rezar as pessoas quando seus filhos ainda eram pequenos, e só rezava gente da família mesmo. No entanto, algumas pessoas da comunidade ficaram sabendo desse dom que ele possui e começaram a pedir para ele rezar os vizinhos e seus animais. Ser rezador é um dom que Deus me deu, conta ele. Consegue identificar quando alguém tem mal olhado apenas olhando para a pessoa, pois, segundo ele, vários males do corpo são causados por essas más energias que são passadas para nós. Triste de quem só acredita naquilo que vê, diz o rezador. As rezas que ele usa para rezar são as que aprendeu no catecismo: avemaria e pai-nosso. Mas, segundo ele, o segredo de toda rezadeira e rezador em manter o seu dom é rezar sem cobrar dinheiro nem nada em troca. Não foram poucas as ofertas feitas em troca de suas rezas, mas todas foram recusadas por ele, que diz não receber nem um pacote de fubá em troca. Uma vez, eu rezei uma mulher durante 11 dias seguidos e depois o marido dela queria me pagar, conta ele. Mas eu nunca recebi nada de ninguém. Sobre o seu dom, seu José diz que quanto mais ele reza, mais vontade Cisterna do P1MC garante água para beber

Rio Grande do Norte


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