Arte-veículo: intervenções na mídia de massa brasileira

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219 Em 2008, durante a Bolsa Pamulha — programa do Museu da Pampulha para jovens artistas que pressupõem sua residência em Belo Horizonte por um ano —, Yuri mais uma vez ocupou o espaço de um jornal, no caso o Estado de Minas, no qual pleiteou a “carta branca” de uma página inteira por mês para textos seus e de convidados como os artistas Amanda Melo, Pablo Lobato367, Fabrício Melo, Miguel Bezerra, Patrícia Greber e Uirá dos Reis. Usou para dar nome ao projeto o termo “ecdise”, referente à troca de pele dos répteis. Queria passar pela cidade “deixando peles” na forma impressa. Essa seria a sua presença e a sua possibilidade de engajamento territorial e humano. De agosto a dezembro, foram cinco publicações no caderno “Pensar”. Em julho de 2011, o projeto foi mais uma vez executado, dessa vez no Jornal do Commercio, no Recife, para a mostra O efeito da frase 368. No intervalo de apenas três anos que separaram ambas as iniciativas, a crise da imprensa corporativa encontrou sua contraparte na consolidação das redes sociais como produtoras e disseminadoras de conteúdo. Os vetores da comunicação social rearranjaram-se baixo dinâmicas de fala, escuta e legitimação supostamente horizontais, embora ainda (ou sempre) controlados pelos aparatos tecnológicos e financeiros vigentes. As reflexões do Ecdise nos dois extremos dessa curta parábola dão indícios de alguns paradigmas e desafios que Yuri e seus pares abraçaram para pensar o papel do artista na coletividade e na esfera pública. Em setembro de 2008, em cima da metáfora de Joseph Beuys de “arte como escultura social”, Yuri comparou os artistas a diferentes instrumentos de mediação: “Para o iridologista, um ímã. Para o astrólogo, a lua, em determinada casa, aproximando os planetas. Para a mãe, um aglutinador. Para os amigos, um cara ‘afetivo’. Para as analistas, uma pessoa porosa. Para Beuys, pensar é esculpir”369. Em julho de 2012, em um texto feito a quatro mãos com Roberto Winter, envolveu o termo em dúvidas, ao passo que assumiu a especificidade e a propositividade do artista como “romantizações”. Quem são os artistas? O que são os artistas? Onde estão os artistas? O que fazem os artistas? A que servem os artistas? Onde são os artistas?

367 Amanda Melo (PE) e Pablo Lobato (MG) também participavam da Bolsa Pampulha. Além deles e deYuri, os bolsistas eram Ariel Ferreira (MG), Bruno Faria (PE), Daniel Escobar (RS), Daniel Herthel (MG), Fabrício Carvalho (MG), Maíra das Neves (SP) e Sylvia Amélia (MG).

368 A coletiva foi curada por Ana Maria Maia para o Projeto Amplificadores do Museu Murillo La Greca, entre 22 de julho e 2 de setembro de 2012. Participaram da mostra, além deYuri, Cristiano Lenhardt, Daniel Barroca, Deyson Gilbert e Roberto Winter, Fernando Peres, Glauber Rocha, Jimson Vilela, Marie Carangi e o coletivo Telephone Colorido. Em uma residência de um mês na cidade, Yuri escreveu cinco colunas semanais para o “Caderno C” do Jornal do Commercio. Sempre que publicadas, as colunas foram dispostas sobre uma mesa-arquivo na exposição. 369 “Pensar é esculpir”, entrevista publicada em 3 de setembro de 2008 com os artistas Miguel Bezerra, Patrícia Gerber e Uirá dos Reis.


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