Arte-veículo: intervenções na mídia de massa brasileira

Page 116

114 setembro de 1950, da primeira emissora de televisão do país, a TV Tupi Difusora de São Paulo9. Não por acaso, o mecenas desse empreendimento, o industrial e dono dos Diários Associados Assis Chateaubriand, também foi responsável pela fundação do Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 1947. Com os Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro e de São Paulo (MAM), abertos em 1948, mais uma vez por mecenas privados10, e o Setor de Arte da Biblioteca Municipal de São Paulo (1945), o Masp aderiu aos paradigmas modernos de coleção e mostra de arte a partir da consultoria do casal Pietro e Lina Bo Bardi11. Além disso, o museu investiu em um programa educativo de cursos e “exposições didáticas”. Essas iniciativas, assim como a criação da Bienal de São Paulo em 1951, por Ciccillo, Matarazzo e Yolanda Penteado12, configuraram a urgência que o circuito da arte compartilhou com a imprensa nesse momento: alcançar (e em alguma medida controlar) a massa. Na escala institucional, podia-se aferir uma ansiedade por acelerar o passo de desenvolvimento e galgar a paridade do Brasil com as potências mundiais, Europa e Estados Unidos. Essa marcha, segundo o crítico Mário Pedrosa, teria “condenado [o país] ao moderno”13, ou seja, garantido a modernização, mesmo que à revelia da participação popular. Entre os indivíduos e grupos de artistas, surgiram sintomas ou contraposições ao modelo institucional. Aproveitando suas brechas e arriscando-se à incompreensão, essas iniciativas pontuais circunscreveram o moderno, no seu limiar cronológico com o contemporâneo, em uma 9 Cf. RIBEIRO, Ana Paula Goulart; SACRA-

MENTO, Igor; ROSO, Marco. História da televisão no Brasil: do início aos dias de hoje. São Paulo: Contexto, 2010, p. 17. 10 Francisco Ciccillo Matarazzo em São Paulo e um grupo presidido por Raymundo Ottoni de Castro Maia no Rio de Janeiro. 11 Ela arquiteta e ele historiador da arte, o casal Lina e Pietro Maria Bardi desembarcou no Brasil vindo de Roma em outubro de 1946. Basearam-se em São Paulo, onde Assis Chateaubriand queria iniciar o projeto de um museu, o Masp. Pietro foi convidado a compor sua coleção e dirigi-lo. Lina ficou a cargo da reforma dos três andares da sede da rua Sete de Abril e depois projetou a nova sede, no belvedere doTrianon, na avenida Paulista. 12 Criado dentro da agenda do MAM, o evento se chamava inicialmente Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Assim o foi até 1963, quando Ciccillo Matarazzo, patrono e colecionador da instituição, desistiu de continuar mantendo o museu e doou seu acervo para a Universidade de São Paulo, dando origem ao Museu de Arte Contemporânea (MAC). Daí por

diante, o evento bianual passou a ser organizado de forma autônoma pela Fundação Bienal de São Paulo. (Cf. CHAIMOVICH, Felipe. “O museu nômade” in FABRIS, Annateresa; CHAIMOVICH, Felipe; LAGNADO, Lisette; OSORIO, Luiz Camillo (org.), op. cit., pp. 55-62) 13 Na abertura do Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte, que Mário Pedrosa organizou em 1959 em torno da construção da nova capital brasileira, ele afirmou que “Brasília não é puro artifício alheio à história do país”, “é um escalão decisivo desta história”, rumo à asserção central, copiosamente repisada pela historiografia: “o nosso passado não é fatal, pois nós o refazemos todos os dias. E bem pouco preside ele ao nosso destino. Somos, pela fatalidade mesma de nossa formação, condenados ao moderno”. (Cf. PEDROSA, Mário in CONGRESSO INTERNACIONAL DE CRÍTICOS DE ARTE — Cidade Nova: síntese das artes. LOBO, Maria da Silveira; SEGRE, Roberto (org.). Docomomo Rio de Janeiro, 2009, p. 29)


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.