Vovó Edith, Bisa de Clarinha
Deixa-nos, hoje, um legado
preferiu subir agora, aos 99 anos, Você, em sua vaidade suprema, para que não a chamássemos de vovó centenária. de mulher elegante, fina, carinhosa com todos que a cercavam.
para finalmente ficar na ‘dormição’ de
no aconchego do travesseiro
Segue daqui com um arco de anjos outra mãe, Maria, e então, adormecer macio – Nosso Senhor.
91
Deus a espera de braços abertos: pode entrar, Edith, sem pedir licença, você fez por merecer. sentimentos sem rasuras
92
Filhos
"O poeta adolescente traz
no
bolso
O soneto que fez ontem de noite:
Só isto basta para justificar a vida".
Mário QuintanaApontamentos de história sobrenatural
93
94
sobre minh'alma pousou
e agora restam-me apenas
A dor e o sofrimento de nada adiantaram.
que em meu rosto secaram.
Mas o sopro da vida enfim ressoou a beleza escondida que se revelou
e a amarga ferida então se fechou,
lembranças do que sobrou. Ingratas até mesmo as lágrimas, mostrou-se mais forte que a dor que passou.
As cortinas então se abriram
O negro véu da tristeza num palco já iluminado.
E o sol cobriu as marcas do passado.
Se um dia fui triste
e tive meu coração arruinado,
hoje, este assiste ao ódio ser tombado.
pois meu coração persiste
A vida ainda existe no peito destroçado, ainda que mal-amado.
Érika
95
sentimentos sem rasuras
Gimenes
Amanhecer
de um passado frio, amor passageiro
Inerte nas sombras como as aguas do rio.
Chegou lentamente a me conquistar,
só pude chorar.
Amor contínuo
Faz acreditar que possa acontecer,
me fazer sofrer.
Inerte no sol do presente-futuro,
sumiu de repente, fugaz e vazio.
Inerte nas sombras de um passado frio, amor.
Tão errante, Tristeza e dor deu vida e matou
fez brotar em mim, uma emoção sem fim.
Inerte nas sombras
de um passado frio,
amor tão sincero
voraz, infinito... calma, enorme,pequena.
Faz nascer em minha alma esperança serena, eterna,
para depois acabar, o que há de vir,
me faz crer na beleza olhar o universo,
Faz esquecer a tristeza, me faz acreditar que tudo o tempo apaga.
Faz esperar calmamente
de um amor maduro. dor, rancor e mágoa, parar... e sorrir.
Érika Gimenes
96
sentimentos sem rasuras
Brasil
Por que dormes, gigante?
Eu, por mim, te acordava, mas o povo heróico que já não mais tem o brado retumbante me impede.
E você, impávido colosso, por que não se levanta e limpa do seu futuro as marcas dessa sujeira?
Pátria amada, onde estava quando permitiu que seu nome fosse desonrado?
Pergunto-me sempre, se nessa hora você estava dormindo em berço esplêndido.
Onde estão o cruzeiro e a luz do céu profundo? Será que te abandonaram?
Será que só temos glórias no passado?
E o futuro, o que vai ser? A justiça já não ergue a clava forte. E seus filhos te adoram enfrentando
a própria morte?
Alguns dizem que você não tem mais jeito, mas eu ainda acredito, em você...
Erick Gimenes
97
sentimentos sem rasuras
Chorar
Invadiu-me eternamente a dor de chorar.
Fez amargura inconsequente
não pode calar.
Invadiu o meu rosto
e sua marca deixou.
e dela não desgarrou.
O meu tudo nada fez,
Penetrou em minha alma só deixou palavras rancorosas
que não se esquecem
de uma vez.
A minha luz
meu escuro se tornou.
E o meu corpo, já machucado, só mais machucou.
Um silêncio tão mortal perfura mais meu coração. E essa dor sem igual só me leva à solidão. essas lágrimas vão cessar. Mas essas marcas tão profundas,
Enfim, de meu rosto nem o tempo há de apagar.
98
sentimentos sem rasuras
Érika Gimenes
Clamor
São memórias que conduzem a história única de verdades. emontam sorrisos, R lágrimas, vitórias, dor e desconcertantes saudades.
Por correrias e desânimo, a estrada marcada desenha a arte de lutar contra o tempo, resistir à escravidão e à morte, defender a vida por amor.
A amizade ensina a união, esbasta a arrogância, D nunda a morbidez insular I e gotas de compreensão. D
Perco-me e revelo-me o desafio constante de N paz.
consciência distante se A submete à vontade. paixão, ao sentimento e à A ilusão.
Desvendo-me passo a
passo e vislumbro insolúvel satisfação do mundo, nas pegadas da inocência perdida, ocupada pela inquietação. Busco a cada segundo, a luz que a alma, em parte sombria, suplica em soluços evasivos do vazio, descortinar o oceano de libertação.
Os sonhos aturdem-me, turvam os meus olhos e gritam palavras libertadas do inconsciente - angústia presente pelo clamor incessante de solução.
A essência infinita supera o mero existir. no áporo que é viver, E morro, renasço e nada tenho para eternamente SER.
99
sentimentos sem rasuras
Érika Gimenes
Criatura da noite
para contemplar o infinito do meu ser.
de um passado já estão marcados.
Emerjo das sombras Nele, encontro fragmentos que há muito quero esquecer, mas que em mim Cada dia é uma guerra.
Cada noite uma batalha.
Assim, sigo na constante luta
de resgatar meu verdadeiro eu
embaralhado pela vida
Fechado em minha própria essência,
que agora jå se encontra escura e seca, em que me encontro.
Sou criatura da noite
esquecido pela sociedade,
vou existindo.
Imerjo nas sombras
para travar mais uma batalha,
pelos que me envolvem. continuar com a minha guerra diária.
as barreiras impostas
pela minha amargura,
O último vestígio humano
que há em mim
me faz olhar para cima
e ver um céu azul.
Alguns raios solares
tocam a minha face.
Subitamente sorrio.
De volta à minha realidade
penso:
Um sorriso tenta penetrar sem sucesso. até quando?
Igor Gimenes
100
Poesia sentimentos sem rasuras
Despertar do poeta
Foram-se os dias de poesia, impera a palavra fria que não encobre metáforas, ainda existem segredos, mas a solidão e os medos já não os querem expressar.
Findam-se os dias de amar, dando espaço aos anseios, encobrindo os meios de poetizar.
Os temas e até os receios traduziram-se em somas, em objetivar.
Encerra-se a estação da sensibilidade, que sobrepuja a vaidade ao expor e expressar a alma, que hoje covarde, se escondeu sem alarde, sem mais estórias contar.
Na volta à normalidade, reaparecem verdades sem se disfarçar em figuras, criadas pela linguagem fantasiando sonhos,
mascarando o chorar.
As lágrimas, gelo derretido, voltam a ser sentidas ao invés de brincar, disfarçadas de letras que meio aos poemas eram tão pequenas, que nem se podia notar.
O tempo que agora corre faz com que a tristeza more muito além do sonhar, e baile entremeando a vida e não mais perdida no sonetizar.
A rima já se foi embora, pois passou da hora do poeta acordar.
Érika Gimenes
101
sentimentos sem rasuras
o mundo ficando,
Corro, carros e casas passando, do pânico de ver a vida morrendo.
Dia a dia
transpassando verdades as quais meus olhos não conseguem perceber.
Érika Gimenes
Lembra-me o tempo em que
Que desespero, meu Deus! quis sonhar... tentando imaginar
o glamour da independência.
Pensar na dificuldade vastidão da cidade,
de enfrentar a pequena
Não tenho forças
e o tempo correndo, Saio do transe,
a imensidão da metrópole.
contrastando com o futuro: para ultrapassar pedras,
aos poucos voltam
recorro à poesia para falar do medo pessoas nas ruas andando, muito menos barreiras do concreto de novidades que me esperam... imagens vulgares, o ambiente e com mãos dormentes
Vou familiarizando-me com transcrevo a mediocridade,
102
sentimentos sem rasuras
Dormência
de dor, de melancolia,
fingindo, enquanto dormia,
Adormeci de saudade, Pedindo que um beijo lhe tocasse...
que meu mundo era o vazio do sono, era o vazio de sonhos que não se realizaram. e que meus braços o acolhessem em seu sono e o aquecessem com veias que pulsam sangue choroso.
Pois guardei nas artérias as lágrimas,
impedindo que alcançassem seu rosto tão suave... com estes símbolos da tristeza.
Quero guardar a beleza
ocultando as falas de sua alma.
Prefiro o cheiro do perfume
e o manchassem a face do seu sorriso doce e do silêncio que o envolve , E que se lembre de mim
a esse odor de ciúme, de tristeza de fim. pelo beijo, que assim o acordará e o fará sorrir.
103
sentimentos sem rasuras
Érika Gimenes
Elemento fogo
Volúpia ardente que reveste o ser, elemento forte que incandesce o viver. Fúria rubra que espelha a alma, renovação.
de tua chama, entrego-me Na dança
espalhando cinzas e puramente à devoção, maior símbolo da revolta e destruição.
É um instrumento de Deus:
para aclamar suas glórias.
Assim que meus olhos
são insuficientes um colapso se inicia, que pede cada vez mais:
tocam sua essência, alma "Fogo"!
Elemento fogo!
tua luz vem reciclar minha expressa vida e purificação.
Igor Gimenes
que resiste a ser somado.
Fogo! Elemento tão usado me faz fazer tal exaltação.
Elemento que representa
uma infinidade de emoções.
Ainda hoje
por todas as nações. em nossa vida.
Forte, simples e puro,
Usado desde a antiguidade é presença marcante ao mesmo tempo
Apenas por puro fascínio voraz e importante.
Apenas palavras
104
sentimentos sem rasuras
Esqueça
Olha, não satisfiz teus anseios. prisioneira dos meios, não soube me libertar.
não precisa mais voltar.
Olha, vê se me esquece. Sentimento que adormece, Desculpa se te persigo, teu amor é uma vaidade, me compra a felicidade, que o meu coração ainda me dá.
Perdoa, se fui covarde, se causei tanto alarde, se confuso te fiz ficar.
Lembra de mim como sonho...
que ao acordar
esqueceu..
Minha chama é dor, que o tempo venha apagar,
por ti eu sinto um amor,
que não pude externar. sentimentos sem rasuras
105
Érika Gimenes
Vento morto.
luz cortada.
Calor consumido. Maldição celada. do novo milênio anunciaram
O que os profetas se concretizava.
Fatalidade
O Deus se faz presente
evolução errônea de sua gente.
Já os poetas,
O ciclo vital
interrompido abruptamente,
se recusa a tentar recomeçar.
O menor dos ferimentos
exala toda sujeira e podridão
acumuladas entre tempos
e escondidas numa velha casca.
para acompanhar a O ser humano,
destruído pela incapacidade de pensar,
é tragado pelas sombras e se resume a chorar.
heróis únicos de uma batalha perdida,
se trancam na mais solitária solidão.
Espelhos que antes continham alegria e vida, agora quebrados,
refletem verdade. Igor Gimenes
106
sentimentos sem rasuras
Inocência encarnada
Flutua leve e graciosa ante os muros de conflitos. A alma pura, majestosa, da criança em perigos.
Que canta com sua boneca todos os sonhos e anseios e fuça, buscando meios de brincadeiras inventar.
Paira criando seu mundo de fantasias serenas, sobre as tramas desconcertantes de nossas almas pequenas.
Utiliza a vastidão, vasta percepção, para acolher em seus olhos os tamanhos ameaçadores e em seus ouvidos rumores murmurantes de arrependimentos.
E deixa a cargo do vento as responsabilidades para entregar-se às verdades que acabou de descobrir.
Senta-se ao chão sem alarde,
sem saber que há de vir o dia em que o mundo covarde a obrigará a crescer, e a parar de sorrir.
Érika Gimenes
107
sentimentos sem rasuras
(In)Solúvel amor
Insolúveis os meus sentimentos,
eterna será minha dor, me trazem alegria e dor.
Fim de um amor que não perdurou.
Os momentos felizes lembrados
Não existe mais nosso passado.
Só um presente de mágoas e rancor.
O ódio, companheiro fiel
abstratos os meus argumentos. nunca há de me abandonar.
O amor então vira fel
não há paixão que possa vingar.
Nem mesmo com lágrimas eu concederia meu perdão.
Tais lágrimas nem mesmo existem
e se existissem seriam em vão.
A chama rubra e ardente há muito que se apagou.
Sana Gimenes
108
sentimentos sem rasuras
Refletindo a alma dura, não consigo enxergar razão para minha amargura, a causa do meu pesar.
O tempo, que passou correndo, não me deixou perceber a beleza do amor nascendo, só a tristeza do esmorecer.
Os olhos cristalizados nem chegaram a chorar. O coração petrificado não foi capaz de amar.
A petulância de meu espírito, a rudeza de meu coração, levaram-me os amigos. Deram-me as mãos à solidão.
Só agora, em lamentos, começo a perceber o tempo jogado fora, a vontade de viver.
Mas o corpo já cansado não há mais o que fazer. Sou apenas lamúrias, passado, uma alma a anoitecer.
E nesse último lamento, enfim, consigo entender que a morte, meu maior alento, no fim, será meu viver.
Sana Gimenes
109
sentimentos sem rasuras
Lamento
Mediador
Mediador de um mundo imperfeito, leis imperfeitas,
de pessoas imperfertas, sonhos desfeitos.
Pescando ideias, colhendo fatos,
bordão não nega:
venha a ser aquilo que o enxerga no escuro.
a justiça é cega, mas Igor Gimenes
Falhos atos da condição
vivendo conflitos. humana.
Andando na linha tênue entre o céu e o inferno, ê-se que, às vezes, a solução é o pior problema.
Mas para cada pecado que enerva
existe um bem que eleva. Seguindo este equilíbrio, buscar manter-se íntegro.
Vidas de mil caminhos,
E que ao final do processo, mil pessoas, mil contextos,
mil desfechos.
Um só objetivo.
110
sentimentos sem rasuras
O dia em que as metáforas fizeram-se verdades
E deu-se como mágica a transformação do fantástico em banalidade. Tornou-se verdade cada forma criativa de se descrever a vida, a realidade.
Pelas ruas passearam tantas Iracemas lânguidas, com asas de graúna batendo levemente em suas cabeças.
E pobres pessoas, em brasa, corriam para casa tentando apagar o fogo-maior, ardente e invisível. Helô Pinheiro, agora estática garota em Ipanema, vendia purpurina em seu corpo, cada vez mais festejado pelo sol.
E outras tantas indiazinhas virgens viam seus lábios esvairem-se em mel. junto aos deuses, Cecília Meireles velava suas mãos, mais frias, pesadas e mortas que em todos os outros tempos.
Érika Gimenes
111
sentimentos sem rasuras
O inverno
A chuva desce a pingos grossos, passeia em meus cabelos, A fria neblina que chega toca minha pele
inunda e lava meu coração. e tem gosto de adeus.
Antes que venha perceber, não me podem pertencer.
Ouço suspiros suaves que expelem saudade,
sei que os sorrisos teus que agora paira pelo ar.
meu coração já não mente.
Não tenho tempo para amar
Os relógios avançam
Para sentir unilateralmente avisa que não poderá ser. sem os frutos colher. espalhando a juventude e a imaturidade.
E suspiro: Saudade! Triste estar sem você.
112
Érika Gimenes
sentimentos sem rasuras
O tempo
Gasto o tempo dissertando, através de versos - poemas, que sem regras, se soltando, vão além dos problemas.
Sem a dor, a poesia é um sopro, leve vento. Chega rápido, já se foi. Fecha-se mais um momento.
113
sentimentos sem rasuras
Erick Gimenes
Obra-prima
Quebrei tua caneta.
Rompi meus bloqueios.
Apaguei as feridas.
Força inflamente, corpo presente,
Provei tua tinta. união entorpecente unida à solidão.
Alma agradecida,
Aclamei tua vinda. coração destratado,
Colori de marrom. Afastei incerteza. Me fechei sem saída.
cabeça aludida.
Vácuo amoroso,
Argila acintosa macio,
toma forma o amor, E me perco em teus tua face macia.
moldada com sonho, sedoso,
configura-se em paixão. sugando razão.
Proteção indulgente,
sentimento onipotente.
Tristeza? Ilusão?
Torpor, imolação.
Eternizo a obra,
para ser sempre
olhos, lábios, só minha.
Igor
Gimenes
114
sentimentos sem rasuras
Pensei falar, mas não falei,
pensei gritar, mas não gritei.
O que é isto?
É uma fase que passa?
Um canal de ligação?
Algo a ver com o coração?
Endoidece, enobrece o coração
‘desafrouxa’ o espírito
Tudo isto é paixão. me faz perder toda a razão.
Estou louco,
Já pensei em ser teu escravo, teu servo fiel,
escudeiro encantado,
Eu não sou teu namorado,
estou só enamorado,
bonequinho de papel. mas não largo está ilusão. não é mais do que pecado desejar-te em meus braços, me embrenhar em teus cabelos e viver essa paixão.
Erick Gimenes
115
sentimentos sem rasuras
Paixão
carregada pela dor,
Perdão
também comigo pequei. mas não julgues o meu pecado, o coração dilacerado, incompleto, sem amor.
desesperos, incertezas.
Agora estou sozinha, nada poderá me ajudar. Onde está tua mão divina junto à minha a me guiar?
como lágrima no olhar
Sei que te feri, te iludi, te magoei, E soluços, mais tristezas, A noite se faz presente à tristeza deu lugar.
Minha face então molhada, e o sorriso já ausente que me concedas a luz do teu perdão
Enfim, peço-te apenas para que ela ilumine as trevas do meu coração.
Sana Gimenes
116
sentimentos sem rasuras
Poema Banal (Antologia)
Volto como fênix da mitologia que em face de prestar contas dos seus dias lança-se ao sol para um futuro retorno.
Mas vim expor a profecia fatal, nem aclamar uma paixão idealizada. Quero apenas concluir o ideal dessa longa história inacabada.
Dessa vez não “Vigiarei o Tempo”. Não falarei de “Guerras”, nem exaltarei“O Fogo”. Acabaram-se as “Obras Primas”. Busco a verdade simples, sem adornos.
Pra não deixar dúvidas em aberto, vou direto ao ponto certo.
Contra essa disfarçada hipocrisia, nada melhor que um pouco de ironia.
Só não pensem que espero provar qualquer coisa. Um poema não pode ser tão mesquinho de se fechar nesse ínfimo mundinho de mesmices, fofocas e fatos à toa.
E se vierem a mim com “Perjúrio” amargo, que não esperem outra atitude: eu “Rasgo”!!!
Que me perdoem aqueles que esperavam um grande final, mas isso tudo não passa de um Poema Banal.
Igor Gimenes
117
sentimentos sem rasuras
Perdidamente apaixonado
e não achei.
Procurei em um resto de dor
Procurei nas pilastras de um amor e ignorei.
mas esse coração magrinho
se esconde bem à beça.
Pedi, fiz promessa, Tão esperto! Sempre arranja um refúgio e ninguém o acha.
O que será que esta acontecendo?
Será que ele está sofrendo?
Olha lá, como corre o danado!
Esse coração louco,
só pode estar apaixonado.
Sana Gimenes
118
sentimentos sem rasuras
Perjúrio de guerras
Quando as flechas cortaram os céus prenunciando o massacre total eu senti o peso da espada, porém tinha um ideal.
Quando as hordas espalharam o caos, espalhando a pestilência da guerra eu vi o medo me dominar, mas
tinha um sonho pelo qual se valia lutar.
E quanto mais sangue adentra a contenda, maior é a força da emenda, quanto mais sons produzia a batalha, maior se tornava a mortalha. Mesmo com a morte certa se mostra pequena ante o martírio da omissão. Então, eu lutei. Lutei e venci.
Vieram opressores para me
calar, mas foi aí, bem aí que eu gritei. Gritei para todo aquele que vige: "Que todo homem morre, mas nem todo ele vive”.
Corri entre campos. Explodiam bombas ao meu lado, por um instante parei, vislumbrei o passado.
E vi as guerras perdidas, os corpos tombados, as lutas perdidas, o sangue espalhado, o dinheiro envolvido: cor do pecado!
Naquele instante ficou tudo claro.
Aqueles que ao meu lado estavam não lutavam por sonho ou ideal, mas pelos lucros que gerava a guerra, ainda que a custo vital.
119
sentimentos sem rasuras
A garganta secou, o olhar se perdeu, o sonho acabou, o ideal morreu, e o corpo marcado, deveras cansado, por fim se rendeu.
Se perguntarem: "Valeu a pena sofrer?"
Estará em meu túmulo: perjurei meu destino, mas vivi pra viver.
Igor Gimenes
120 sentimentos sem rasuras
Querências
Quero abrir as torneiras da minha alma e despejar toda dor que me consome.
E sentir lágrimas jorrando em profusão e gritando bem alto, ter redenção. Quero desatar os nós que me dominam e não ser submissa à amargura e ao desespero.
Quero fazer de tudo que fascina, a vivência eterna e o destempero.
Porque tudo muito certo aprisiona.
E tudo o que é contido, a alma cala.
E a tristeza companheira, impressiona e o temor que me domina, rouba a fala.
Quero sons confusos da loucura, inundando os espaços ressecados,
pois os loucos têm a alma pura e os santos são os próprios desgraçados.
E ao tropeçar no fio da corda bamba, despencar feliz, rumo ao tablado.
Vagando entre os espaços tão sombrios! Urrando já bastante alucinado, recolhe-se tal criança desprotegida e cala-se chorando, ao chão tombado.
Érika Gimenes
121
sentimentos sem rasuras
Se eu pudesse voar
Se eu pudesse voar, ia me aconchegar.
voaria tão alto
e no ombro de Deus que do céu ia passar.
Se eu pudesse voar,
Se eu pudesse voar,
Se eu pudesse voar, brincaria nas nuvens sem parar. essa poesia comigo ia levar.
Já que não posso,
como seria a vida,
ficaria entre os pássaros gostaria de imaginar, se eu pudesse voar.
Sana Gimenes
122
sentimentos sem rasuras
Sem-terra
nossa alma se acabando
quanta gente está matando, nessa luta constante...
Tanta gente está morrendo, por um pedaço de chão.
Tanta fome e pobreza, quanto ódio no coracão!
corre atrás de seus sonhos,
nosso povo está sofrendo, Essa gente corajosa, Mas, como sempre, as injustiças
que luta por um ideal, não nos permitem continuar. não tem mais forças para lutar.
O povo emudece,
corações entristecidos, Dos filhos abandonados,
numa luta desigual. E esse povo sem-terra, sem ânimo para continuar. feridos, calados.
Sana Gimenes
123
sentimentos sem rasuras
Soneto do olhar
Instrumento adequado, tocado na obra sinfônica do sentimento, que passa na melodia do momento, a dissonância do contato esperado.
O espelho da alma deixa passar toda verdade incontida, posto que há muito esquecida,
Já que maior do que o contentamento
e enxergar várias formas de um mesmo elemento.
se nega a sumir ou se anular. é a graça de olhar em uma só direção antes um rosto com marcas do tempo,
Ainda que a busca não tenha razão, que um olhar que se perca no vão.
Igor Gimenes
124
sentimentos sem rasuras
A felicidade perdida
A ampulheta da vida não quer mais parar. não vai mais voltar.
Os ponteiros que passam e o sangue que circula
mas a essência dessa vida o cérebro está atento,
não é mais que um lamento.
Se pelo menos agora, por um momento,
ainda que peculiar, pois o coração bate, até o incansável tempo
(apesar de o amor ser um eterno sofrimento)
houvesse alguém que se pudesse amar,
para disseminar a vida que existe poderia parar.
E pararia também todo o mundo, pois o amor forte, vale,
sem esperar mesmo que por um segundo.
Sana Gimenes
125
sentimentos sem rasuras
Tempo de amar
Uma alma sombria
Trouxeram-me para cá,
não sei por que ...
Mantêm-me em pé,
isso é verdade.
Felicidade não consta no
contrato.
Caem as estrelas!
Caiu a máscara.
O ódio é ácido, corrói.
Politicamente correta,
estou aqui.
Várias faces,
mescladas.
Já não fala, não sente.
Finge.
Incessantemerte, engana. Tapeia.
Alma só.
Simplesmente vazia.
Perde o amor, a amizade. Ilusão, fantasia...
Quero, não me querem. Minto e creem em mim.
O medo assombra a face,
cercada de gente, sozinha.
Porta fechada.
A fuga.
opiniões.
Que me importa toda gente?
Sabem tudo! Do quê?
Da vida, não sabem nada.
Não interessa a ninguém. Dane-se o mundo vazio e as Nem quero.
Não fujo à regra. Érika Gimenes
126
sentimentos sem rasuras
Vida
Um sonho distante, esperança.
Saudade e um sorriso, lembrança.
Instantes eternos, andanças.
Brincadeiras, bobeiras, infância.
Sorrisos e choros, amor, alegria.
Uma eterna fantasia contínua.
Um fim por chegar que estamos a esperar.
E a sua chegada sentirá a vida passar, lentamente.
Observar, novamente, tudo que queria e talvez não fez...
Mas valeu a pena, apesar dos problemas.
As poucas felicidades vividas
já fizeram valer nossa vida.
A tristeza e a dor só fizeram florescer o amor.
E por fim, um descanso. Um sono profundo que nos distanciará do mundo.
E nos fará amar cada momento, a alegria obtida do sofrimento. Os valores que nunca serão esquecidos todos pedaços, vividos.
Érika Gimenes
127
sentimentos sem rasuras
Sou vigia do tempo,
do espaço,
a mim cabe observar.
Vigia do tempo
e o conceito de nação desmoronar.
Pedaço de matéria incandescente
Na aurora do tempo, vi o universo se formar. se moldar.
E no inicio da vida,
é apenas observar
Vi o sem-terra lutar por um pedaço de chão e para isso ter que se humilhar. Meu tormento maior sem nada poder mudar. E no meu livro
O animal se transfomar em homem para pensar.
Vi Roma crescer,
Cartago afundar.
Vi Cristo nascer
e o mundo mudar.
Vi o feudalismo
e com cidades acabar.
Vi a revolução chegar
burgueses para governar.
Vi a Segunda Guerra estourar
vi a evolução chegar. espalhar seu império, pelos campos se espalhar e o povo colocar por poder se iniciar.
escrito com letras do sangue, vejo a página branca
reservada para o futuro.
- Rasgo!
Igor Gimenes
Vi a guerra fria disparar
e uma louca caçada e a produção de armas
Vi a globalização avançar aumentar.
128
sentimentos sem rasuras
129
anel de serviço
130
Bailarina
Rodopia a bailarina.
Movimento puro, solto, livre...
Cadência de ritmos - disciplına.
Essência purificada.
Garça.
Cisne.
Equilíbrio em suas asas.
Só lhe falta voar.
Roça o chão, acaricia cada centímetro.
Ora risca forte o espaço - Raio!
Ora se encontra a esvoaçar.
Suavidade nos gestos.
Deusa em seu perfil.
A bailarina nos conquista.
Bravo! Bis! Bis!
Em del rio, a platéia reverencia a artista.
131 sentimentos sem rasuras
Enfermeiras
Nobre dever a cumprir com exata precisão.
Trabalham a necessidade de combater a doença,
levando saúde ao irmão.
carinhos e atenção
com que cobrem as frestas
Cuidados, remédios, das almas sedentas de zelo.
Mitigantes de compaixão.
Enfermeiras, Irmãs Dulce, Madres Teresa de Calcutá.
Atentas aos chamados, horários, campainhas...
A todos têm amor para dar...
à espreita da recuperação, atentas ao pós-tratamento,
Sempre estão, as enfermeiras, ver a cura, reverso da dor
é a recompensa do seu labor.
A vocês, anjos de branco,
com certeza
por tanta dedicação, dedico-lhes gratidão!
132
sentimentos sem rasuras
O enviado médico
Disse o médico-poeta, poeta-médico:
“há que se ter mãos de artesão, olhos de escultor, ouvidos de compositor e a sensibilidade de poeta”. na arte de medicar.
“Diga, meu filho, trinta e três”. mais que lhe auscultar o peito, é preciso lhe escutar o coração. Ir fundo na análise do ser totalizado, para cobrir o frio do incurável.
Medicina holística, mística, mistério. Põe Fé e Esperança no remédio para o corpo enfermo, aplica poções de Caridade para lhe amenizar a alma.
Médico-artista, conserta as obras trincadas, malformadas ou até as já esgarçadas. Mágico no palco da vida – pela saúde do planeta –Anjo enviado pelo Criador. Missão: sanar do mundo o espectro da dor com saber e amor.
133 sentimentos sem rasuras
O jornalista
Como disse a poeta:
“Escrevo para compensar a falta, porque não quero ser raiz e haste,
Idêntico caminho traça o jornalista.
As palavras são sua prisão e liberdade.
Com elas alça voo para dentro do coração
Não se aliena dos desafios
e das aventuras.
Com tenacidade transforma-os.
Imbuído de impulsos criativos
preciso do outro para dar sombra e fruto”. atrai as melhores situações. dos acontecimentos. da humanidade.
Valoriza e exercita a sintonia
com sua essência interior
(ético) na hora do agir.
Sabe discernir o quase certo do certo
entre o vagalume e a estrela.
Sendo elo de esclarecimentos,
(veia de Sherlock Holmes) gera a realidade adequada
na sutil e grave diferença para cada momento oportuno.
Sua clareza desenha-nos a dura face da verdade Guardião das (re)velações.
Conciliador.
Jornalista - nobre missão humanista, no seu papel de construir ainda que muitas vezes, nossa mais pura realidade, fatal.
134
sentimentos sem rasuras
Padre -Fruto de amor
A poeira de seus pés traz marcas indeléveis.
Real presença de busca do Pastor por suas ovelhas.
Cativar o próximo é sua meta. Caminhar numa só direção: Cristo, em busca de almejada perfeição.
Beber os ensinamentos das graças de Deus, sem dúvida faz parte de seu dia a dia.
E se tocasse harpa, creio, ecoaria sons eólicos
Para acordar os humanos adormecidos, Adormecidos cá da terra, Rumando-os ao templo.
Lida, luta. Sua pausa inclui batalhas, mas não exclui vitórias.
A paz que o invade, como fruto de amor, repousa no recôndito sagrado do seu interior.
135 sentimentos sem rasuras
136