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ENTREVISTA

Ant nio Carmona Rodrigues*

A NAVEGA ÌO DO TEJO NÌO PODE ESTAR DISSOCIADA DA CONEXÌO COM OUTROS MODOS DE TRANSPORTE A ideia da navegabilidade no rio Tejo uma quest o ancestral e recorrente; pode fazer-nos uma s ntese da sua hist ria? A hist ria da navegabilidade do rio Tejo longa. J h mais de dois mil anos Estrab o, na sua "Geografia", dizia que "O Tejo ( ... ) pode ser remontado por grandes navios de transporte; Como ao inundar as terras vizinhas na praia mar se formam esteiras com o comprimento de 150 est dios, toda esta parte plana se acha aberta navega o ( ... )". Desde tempos remotos que o Tejo assumiu um papel principal como via naveg vel, face import ncia que as trocas comerciais sempre tiveram. As suas condi es naturais permitiram ter em Santar m o porto inicial do ent o chamado mar interior, no qual se iniciava a rota de navega o mediterr nica, que se despertou com a civiliza o fen cia. No per odo Romano, entre os s culos III AC e VII DC, o Tejo serviu de via de penetra o at ao interior e acaba por ter um papel importante na estrutura o territorial da Pen nsula Ib rica. Foi tamb m um p lo de desenvolvimento, determinando a localiza o de diversos aglomerados, permitindo ao longo dos s culos a liga o do litoral ao interior, o alargamento da economia e a consolida o territorial. Com o imp rio mu ulmano, s culos VII-XII, continuaram as obras de regulariza o do rio, o aproveitamento energ tico por moinhos e fortificaram-se as cidades ribeirinhas contra os frequentes ataques inimigos. A montante do estu rio, o rio era uma via de comunica o importante, que os espanh is sempre quiseram desenvolver como via de acesso ao mar e para a expans o peninsular. A navega o no Tejo a partir do s culo XVII foi objecto de v rias propostas que tinham como objectivo tornar o rio Tejo a principal via comercial de toda a sua bacia ib rica, a que

j foi chamada Tej nia. O primeiro destes projectos da poca de Filipe II, a que se seguiu no s culo XVII o do padre Estev o Cabral e que possibilitaram a navega o at Aranjuez, a 20 km de Madrid, onde chegaram a embarcar tropas para Lisboa. As capitais dos maiores imp rios coloniais estiveram ligadas pelo Tejo. Nos meados do s culo XIII o com rcio progrediu, exercido tanto pelos pr prios produtores como pelos mercadores, havendo not cias da exist ncia, naquele s culo e no seguinte, de rela es comerciais de Santar m com Flandres, Fran a e Norte de çfrica. Neste s culo, com a conquista definitiva do Algarve, o rio Tejo aumentou a sua import ncia como eixo de comunica o, acentuado pelo facto de Lisboa ser a capital do reino. O crescimento da cidade andou a par com o incremento da navega o ao longo do rio. No Baixo Tejo era de salientar a navegabilidade at Abrantes, pela Cala Real; at Palmela, pelo rio Coina; at Azeit o, pelo rio Judeu; at Coruche, pelo Sorraia. Pelo Tranc o acima subiram m rmores e pedra para a constru o dos torre es de Mafra. Chegaram a fazer-se planos para a liga o do rio Sizandro com o Lizandro, no contexto das Linhas de Torres como defesa da Capital, e a liga o ribeira de Alc ntara, transformando Lisboa numa ilha. Apesar da sua longa extens o, o tr fego fluvial mais intenso no Tejo cingia-se apenas liga o entre Lisboa e Abrantes, sendo limitadas as possibilidades da para cima durante o Ver o e nem mesmo em Abrantes era poss vel a circula o de barcos de grande tonelagem. A irregularidade e intensidade das cheias nunca permitiram uma navegabilidade constante, nunca se mostrando Portugal muito interessado nesta linha fluvial. As irregularidades na navega o implicavam

que muitos produtos como a madeira e a corti a fossem transportados em jangadas at parte do curso do rio, nomeadamente Valada ou Salvaterra, onde ent o passavam para barcos e seguiam at Lisboa. No s culo XVI s o feitas algumas obras no rio como o cais de Tancos. No final deste s culo, durante o per odo de ocupa o espanhola foram constru dos sirgadouros de alvenaria nos pontos mais dif ceis do curso tornando assim mais f cil a liga o entre Portugal e Espanha atrav s do rio Tejo. Foi por essa via que foram transportados os m rmores de Estremoz para a constru o do Escorial junto a Madrid. Nos s culos seguintes o estudo do rio e da sua navegabilidade continuou a ocupar os vizinhos espanh is. O tr fego fluvial ao longo do rio mantinha-se e exemplo disto eram os muitos barcos que iam at Alc ntara buscar min rio para Lisboa. Em 1829 foi assinado um tratado em Lisboa que legalizou o projecto de navega o a vapor entre Lisboa e Aranjuez. Os espanh is encomendaram 4 navios a vapor e Portugal 2, que nunca ultrapassaram Abrantes. Tanto no s culo XIX, o Minist rio das Obras P blicas, Com rcio e Ind stria, como no s culo XX o grupo Mendes Godinho, com o ÒProjecto Tejo, Aproveitamento para fins M ltiplosÓ, pretendiam construir no Tejo uma via fluvial que ligaria o centro da Pen nsula Ib rica a todas as auto-estradas fluviais principalmente da Europa. Esta obra permitiria, utilizando eclusas, ligar os diversos planos de gua, promovendo assim a circula o de comboios de barca as que transportariam aproximadamente 5 000 t o que equivale a 500 vag es de 10 toneladas ou a 250 cami es de 20 t. Destes planos de gua teriam de ser constru dos os aproveitamentos de Muge, Santar m e Almourol e dotar de eclusas anexas os restantes j existentes.

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