Sítio Padre Inácio - Casas Bandeiristas

Janice Silva Marcelo Galvão

D840IC-8 T5526H-6

SÍTIO

PADRE

INÁCIO

Casas Bandeiristas

Estudo de Análise da disciplina de EP do Curso de Arquitetura e Urbanismo do 8º/7º semestre, turma AU8P17/AU7P17, ministrado pelo Prof. Gustavo Sampaio

Sorocaba/SP Setembro/2021

Prof. M.e Gustavo Sampaio Técnicas Retrospectivas - Teoria do Restauro

CASA BANDEIRISTA - SÍTIO PADRE INÁCIO FICHA TÉCNICA

Terreno: 5 alqueires (121.000m²) Casa: 495m²

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Nome atribuído: Sítio do Padre Inácio: casa Localização: Cotia-SP Número do Processo: 0355-T Livro Belas Artes: Nº inscr. 401, vol. 1, f. 077, 08/10/1951 Livro Histórico: Nº inscr. 289, vol. 1, f. 049, 08/10/1951 Descrição: Casa grande do Sítio do Padre Inácio.

CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico Nome atribuído: Casa do Sítio do Padre Inácio Localização: Estrada do Padre Inácio (antiga Morro Grande) – Cotia-SP Número do Processo: 00338/73 Resolução de Tombamento: Ex-Officio em 23/09/1974 (Sem publicação no D.O.E.) Livro do Tombo Histórico: Nº inscr. 86, p. 10, 23/09/1974

LOCALIZAÇÃO Estrada do Padre Inácio, Bairro Morro Grande, Cotia/SP (6,5 km do acesso à Rodovia Raposo Tavares)

Localização, Autores, 2021

Foto Satélite, Google Earth Pro, 2021

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Casa Bandeirista Casa Padre Inácio - Cotia/SP

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Ilustração, L. Rosa, 1981.

INTRODUÇÃO

Durante o período colonial dentro do Estado de São Paulo, a arquitetura civil não apresentou grandes alterações nos seus traços por aproximadamente duzentos e cinquenta anos (entre os séculos XVI e XIX). Financiados por comerciantes e fazendeiros, os bandeirantes paulistas fixaram moradia durante as expedições em busca de riquezas e escravos. Essas moradias exerciam papel de apoio para outros bandeirantes em expedição. Por essa razão, essas moradias recebem, atualmente, o nome de Casas Bandeiristas.

O programa de necessidades das Casas Bandeiristas baseia-se em documentos da época, mas que não podem ser definidos como fidedignos. Em geral, as edificações eram térreas adicionadas de sótão ou não, paredes internas e externas construídas com técnica árabe trazida pelos portugueses - a taipa de pilão e piso de terra batida. Espacialmente, apresenta geometria ortogonal coberta com grandes telhados de quatro águas confeccionados de palha ou telhas de barro. Por conta da construção ser de taipa de pilão, a presença de cachorro nas extremidades dos beirais contribui para a projeção da água de chuva e menor impacto à corrosão. A distribuição ocorre em três núcleos: social, íntimo e serviço. Na fachada principal, o alpendre distribui Casa Bandeirista Casa Padre Inácio - Cotia/SP

direciona o acesso à capela, ao quarto de hóspede e à sala. Externamente, o telheiro da cozinha, onde se preparava a comida, visto que, não há resquícios de fogões a lenha dentro da casa. A casa normalmente está inserida em uma área plana mais elevada com riacho próximo. Outras edificações complementam no perímetro da casa, como o banheiro, a casa dos negros, os quartos para agasalho de criados de hóspedes importantes (tropeiros, arrieiros entre outros), os depósitos de gêneros, os paióis (guardar pólvora), o moinho de trigo ou milho, a casa de preparar farinha, o galinheiro, o curral (de ordenha), a moenda (para produção de garapa, rapadura e cachaça), pomar (de frutas cítricas, além de bananal, marmelal e parreiral). No entorno, os valados, muros de taipa ou cercas de madeira protegem toda a propriedade.

Atualmente, poucos exemplares ainda se encontram preservadas, como a Casa do Butantã, Casa do Itaim-Bibi, Casa do Caxingui ou Casa do Sertanista, Casa do Jabaquara, Casa de Santana, Casa de Santo Amaro e Casa do Tatuapé na cidade de São Paulo. Outros exemplares estão situados nos municípios de Embu e Cotia na Grande São Paulo e São Roque e Sorocaba, no interior do Estado.

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HISTÓRIO FAMILIAR Construída no século XVII pelo fidalgo do Rei, Sargento Mór Roque Soares Medella1 e sua esposa Anna de Barros, a casa abriga-os, além dos três filhos, Ignácio, Francisco e Rafael. O mais novo, Rafael, que continua a residir com os pais, ao contrário de seus irmãos, que seguem carreira militar.

Mesmo após o falecimento do pai em 1741, Rafael permanece com a mãe e com os trabalhos na fazenda até seu falecimento, apesar de sua preferência pela leitura.

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Da partilha dos bens familiares, Rafael recebe a fazenda, uma vasta propriedade de terras, incluindo escravos e a casa sede. Em 1767, agrega a terras de Sorocamirim através de sesmaria.

O trabalho atarefado da fazenda como administrador não o coíbe de comparecer à capital para atividades religiosas na Capela da Ordem de São Francisco. Aos 30 anos, se dedica ao celibato. Em 1756 se ordena sem descuidarse da fazenda. Falece em 1803, deixando sua fazenda à sobrinha e afilhada Anna Barros Leme.

Na fazenda de Anna Barros Leme mora também seu primo, Ignácio Francisco do Amaral. Viúvo, pai de 4 filhos, torna-se padre em 1810, aos 57 anos.

Anna consegue o Breve Apostólico para um Oratório na Fazenda Nossa Senhora do Rozário, onde seu primo passa a ministrar missas.

Com o falecimento de Anna em 1838 e de Ignácio em 1846, a Fazenda permanece em posse da família por 45 anos até ser vendida em frações, em 1883, para imigrantes alemães.

1 Roque Soares Medella - com a extensão dos privilégios da realeza, após as descobertas aos Domínias Ultramarinos, a partir desse momento aparecem os fidalgos do rei. Roque Soares medella foi um dos beneficiários do Rei, após servir a Administração da Colônia, a Vila de Nossa Senhora do Carmo onde auxiliava a fiscalização da extração e transporte do ouro, com a nomenclatura de Capitão de Ordenanças recebe o Dízimos Reais, se sobressai com a prisão do Ouvidor Geral Manuel da Costa Amorim. retorna a São Paulo desempenha outros trabalhos no Senado da Câmara até ser nomeado Sargento Mór da comarca da Capital.

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Plantas e Corte, Revista 5, editado Autores

A CASA A construção é classificada como de de traço puro dentre as Casas Bandeiristas por conta das proporções equilibradas. É um clássico da arquitetura Bandeirista.

Construída em taipa de pilão (referência árabe de construção) com paredes de 55cm de largura, a casa em formato quadrangular apresenta 20,72m de testada e 18m nas suas laterais. Com vala em seu entorno, não utiliza as técnicas de baldrame ou tijolos como era de costume ibérico, sendo assim, a edificação é construída em solo plano e em nível, proporcionando escoamento das águas da chuva, sem contato com a estrutura. O telhado de madeira com cobertura em telha de barro com quatro águas, cachorros com madeira entalhada e beirais.

Como de costume para a época, o programa de necessidades apresenta distribuição da seguinte forma: A faixa fronteira da casa compreende três ambientes: o alpendre (central), a capela (à direita) e o quarto de hóspede/visitante (à esquerda).

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Prof. M.e Gustavo Sampaio Técnicas Retrospectivas - Teoria do Restauro 1. Quarto do Hóspede/Viajante 4,40m x 4,10m O quarto de hóspede/visitante com porta almofadada - peça de extrema valia, visto que não era comum as casas possuírem esse tipo de adorno - e janela lateral. Este tipo de quarto comumente é construído para não interferir na privacidade e intimidade da família, por não haver acesso ao interior da casa.

2. Alpendre

Foto Cama de Madeira e Palha, Cotianet, s/data

9,57m x 4,10m O alpendre, assim como todo o restante da casa apresenta chão de terra batida (técnica de construção africana), com colunas de madeira trabalhada. As portas almofadadas são um requinte em comparação às demais casas bandeiristas.

Os vãos das janelas, de formato trapezóide por conta de sua espessura, são aliadas às grades de madeira para evitar a entrada de animais durante o dia enquanto seu fechamento de madeira maciça apresenta áreas almofadadas completam a vedação.

O alpendre é o local de recebimento de visitas, de administrar as tarefas da fazenda e onde os serviçais assistem à missa da capela.

Foto Alpendre, Herman Hugh Graeser, IPHAN, 1958

3. Capela 4,55m x 4,10m A Capela apresenta uma porta almofadada voltada para o alpendre e outra maciça para um quarto adjacente, além de uma janela voltada para a frente da casa. O espaço interior da Capela é destinado para os homens assistir a missa, enquanto do alpendre, para convidados e escravos.Um porta de madeira com rasgos conecta a capela, utilizada também como confessionário.

Sala (vista à direita) com móveis, IPHAN, 1958

4. Sala 9,57m x 8,60m A sala, considerada o coração da casa para a família, apresenta pé direito duplo, e é responsável pelo acesso aos demais cômodos da casa. Não apresenta janelas, o que limita a iluminação interna.

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Sala (vista à direita) com móveis, IPHAN, 1958

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Prof. M.e Gustavo Sampaio Técnicas Retrospectivas - Teoria do Restauro 5. Quartos à direita 4,40m x 5,85m à esquerda 4,55m x 5,85m Os quartos, dois de cada lado da sala, têm portas direcionadas à sala e janelas com grades de madeira e fechamento almofadado, quase todos do mesmo tamanho, inseridas em vão trapezoidal por conta da espessura das paredes. Com exceção do quarto adjacente à capela, este apresenta um óculo voltado ao exterior, inserido posteriormente por solicitação do Breve Apostólico, além de um tabique de madeira para exercer a função de sacristia.

Foto Quarto utilizado como Sacristia, Vitrúvius, s/ data

6. Circulação 2,00 x 4,20m Acesso a área externa posterior da casa, a qual conduzia a área equivalente a cozinha externa (telheiro), banheiro e demais edificações do sítio.

7. Depósito e Escada 7,02 x 4,20m Comôdo com função de guarda de utensílios, provavelmente utilizados na cozinah do lado de fora. Também abriga a escada de acesso para o sotão.

Foto Escada para o Sotão, IPHAN, 1942

8. Sotão Formato em U lateral esquerda

4,40m x 12,25m

lateral direita 4,55m x 12,25m centro 4,20m x 10,67m abertura da escada 1,55m x 4,20m O sótão, um espaçoso jirau, é utilizado para depósito de alimentos e mercadorias. Com seis janelas, duas em cada das três faces externas construídas na altura do piso, possibilita a visualização do entorno da edificação, resquícios característico de uma fortificação. Há uma abertura para a Capela para acompanhar as missas, provavelmente para escrava doméstica.

Janelas no sotão na altura do piso, IPHAN, 1958

Abertura no sotão para Capela, IPHAN, 1958

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Prof. M.e Gustavo Sampaio Técnicas Retrospectivas - Teoria do Restauro A cozinha, assim como a dos índios, localizava-se fora da residência, da mesma forma que não havia banheiro; a higiene pessoal era feita por mictórios e gomil e bacia.

Nos fundos da casa há duas minas d’água que fornecem água para o consumo da casa e para irrigação da plantação da fazenda.

INTERVENÇÕES E REFORMAS Foto Óculo e Tabique, Herman Hugh Graeser, IPHAN, 1958

A partir de 1883, a propriedade é adquirida por Pedro Fischer Weishaupt de alferes Francisco Rodrigues César - marido de Maria do Ó, neta de Dona Anna de Barros Leme, que havia comprado as demais partes da herança. Weishaupt utilizou as dependências como função de moradia e depósito, o que pode justificar as melhores condições da casa.

Foto Fachada Posterior antes do Restauro, IPHAN, 1915

Foto Remoção do encamisamento de tijolos e da execução de placas cimentícia, Cotianet, 1945

A primeira intervenção ocorre por votla de 1757, por imposição do Breve Apostólico para a realização de missas na capela pelo padre Rafael Antônio de Barros - filho de Roque Soares Medella.

Essas intervenções ocorrem no quarto ao lado da capela com a instalação de grade divisória da madeira (biombo) e abertura do óculo.

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Reformas na edificação ocorreram por conta da deterioração. O método nesta época apontava para o uso do tijolo, o qual foi utilizado para substituição das colunas no alpendre como na base das paredes externas. Em 1916, a porta da capela foi substituída por uma menor.

Foto Colunas e reforços em tijolos, IPHAN, 1942

Foto Fachadas antes do Restauro, IPHAN, 1942

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RESTAURO E TOMBAMENTO Em 1915, o prefeito de São Paulo, Doutor Washington Luiz visita o sítio.

Em 1937, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) que tem como diretor Mário de Andrade, solicita ao seu assistente técnico, o engenheiro-arquiteto Luís Saia, a elaboração do primeiro Relatório sobre o patrimônio paulista. Neste, a antiga definição de casa velha para esse tipo de edificação é substituída por como arquitetura rural caracterizada e reconhecida através de apontamento de doze características constantes e

variantes da tipologia bandeirista.

Em 1940, Luís Saia assume o cargo após a morte de Mário de Andrade.

Em 1941, a comunidade da cidade de Cotia/SP solicita o tombamento do local por acreditar ser o local do nascimento do regente do Império Diogo Antonio Feijó.

Em 1944, a localização de duas fotos da casa no artigo de Ricardo Severo publicado na revista A Cigarra, de março de 1916, são decisivas para o tombamento da casa. No artigo, o registro da visita do Doutor Washington Luiz (prefeito de São Paulo 1914-1919).

Foto Primeira Visita Washington Luiz acompanhado do arquiteto Victor Dubrugas, IPHAN, 1915

Foto Visita do arquiteto Victor Dubrugas, IPHAN, 1915

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Prof. M.e Gustavo Sampaio Técnicas Retrospectivas - Teoria do Restauro Em 1945, o advogado Rivadávia Mendonça adquire a propriedade de Pedro Fischer Weishaupt e realiza doação ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que passa a ter a sua posse.

Processo Tombamento - Mapa. IPHAN, 1945, pag. 15

Processo Tombamento - Página Referente ao detalhamento da Casa do Sítio Padre Inácio. IPHAN, 1945, pag. 7

Processo Tombamento - Mapa. IPHAN, 1945, pag. 16

Entre 1945 e 1947, ocorre o processo de restauro, baseado nas fotos encontradas. Há influência da linha de restauro de Viollet-le-Duc, que consiste na retirada das intervenções realizadas durante sua existência, na tentativa da readequação da planta original.

Constitui-se por:

Processo Tombamento - Páginas Referentes a Escritura de Doação do Sítio Padre Inácio. IPHAN, 1945, pag. 11-14

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•

substituição dos tijolos da reforma na base das paredes por placas de concreto armado;

•

substituição das colunas de tijolos no alpendre por colunas e remates confeccionados em fragmentos encontrados;

•

reconstituição das paredes;

•

revisão estrutural;

•

revisão do telhado;

•

revisão do tabuado do jirau;

•

revisão de portas e janelas;

•

substituição da parede principal e porta da capela por observação da verga da antiga porta;

•

adição de piso de solo-cimento sobre o piso chão batido;

•

recuperação da calçada de pedras ao redor do prédio.

do

revestimento

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Foto

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Telhado da Sala antes do restauro, IPHAN, 1945

Foto

Telhado da Sala após o Restauro, Vitrúvius, s/data

Foto Acesso Sotão/Escada antes do Restauro, IPHAN, 1945

Foto Acesso Sotão/Escada após Restauro, IPHAN, 1958

Foto Colunas e Mureta de Tijolos, IPHAN, 1942

Foto Colunas Recuperadas e retirada muretas, IPHAN, 1947

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Foto Vista Alpendre e Quarto de Hóspede, COTIANET, 1915

Foto Vista Alpendre e Quarto de Hóspede após Restauro, IPHAN, 1958

Foto Vista Alpendre e Capela antes do Restauro, IPHAN, 1915

Foto Vista Alpendre e Capela após Restauro, IPHAN, 1958

Foto Detalhe Cachorro/ Beiral antes Restauro, IPHAN, 1915

Foto Detalhe Cachorro/ Beiral após Restauro, VITRÚVIUS, s/data

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Foto Sotão antes do Restauro, IPHAN, 1945

Foto

Foto Detalhe Base das Colunas, IPHAN, 1945

Janela Almofadada, IPHAN, 1945

Foto Desenho Planta, IPHAN, 1948

Transcrição carta de Washington Luís para Luis Saia São Paulo, 26 Abril 1948.

Prezado Il. Luiz Saia Das mãos de Il. J.A. Salles Moreira recebi as quatro fotografias que firmam e recordam minha última visita a Casa do Padre Inácio, 33 anos após a primeira, realizada em 1915, com o engenheiro arquiteto Dubugras.

A meu ver, o trabalho que o senhor lá realizou é completo e perfeito, pois que a casa do Padre Inácio foi posta em seu antigo estado, sem nada esquecer sem nada acrescentar, fazendo em uma verdadeira restauração. Queira aceitar as minhas sinceras felicitações…

Compatriota e admirador

Washington Luis

Foto Carta Washington Luiz, Cotianet, 1948

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Prof. M.e Gustavo Sampaio Técnicas Retrospectivas - Teoria do Restauro Em 1951, o IPHAN publica o tombamento como “Sítio do Padre Inácio: Casa”. As inscrições ocorrem em dois livros: Histórico e de Belas Artes.

Em 1974, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) publica o processo de tombamento como “Casa do Sítio do Padre Inácio”.

Em 2009, juntamente com o Sítio Mandu, também na cidade de Cotia/ SP, iniciam a abertura à visitação monitorada. Ambos integram o programa Circuito Turístico Paulista Taypa de Pilão, do Programa de Regionalização, do Ministério do Turismo, geridos pelo IPHAN, Governo do Estado de São Paulo e as prefeituras municipais de Barueri, Carapicuíba, Cotia, Embu das Artes, Santana de Parnaíba e São Roque, que reúnem demais patrimônios históricos bandeiristas.

Processo Tombamento - Notificação. IPHAN, 1951, pag. 9

Em 1958, a construção da casa do caseiro, além do paisagismo do entorno.

Uma edificação de 22m² para abrigar os banheiros para visitação é construída.

Banheiro Visitantes e Casa do Caseiro - Relatório de Avalição dos Resultados da Gestão. IPHAN, 2014, pag. 7

Em 1960, a casa passa por processo de musealização por conta do Projeto dos Museus Histórico-Pedagógicos, dirigido por Vinício Stein Campos em parceria com os Institutos Histórico Geográficos de São Paulo e com o antigo DPHAN. Como praticamente não apresenta móveis ou tão pouco objetos de exposição, passa de caráter de museu para de monumento nacional.

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Em 2013, o IPHAN instaura licitação para recuperação da infraestrutura básica e cobertura pelo montante de R$392.640,97.

A Pires & Giovanetti Engenharia e Arquitetura Ltda é a única empresa a apresentar proposta, com início das obras entre 06 de janeiro a 03 de setembro de 2014. O Relatório de Avaliação dos Resultados da Gestão do IPHAN realizado entre 18 de novembro à 28 de novembro de 2014 conclui que a intervenção tem caráter insuficiente de recursos e mão de obra especializada, onde parte dos recursos acontece para repasse de toda de toda cobertura, da taipa e do madeiramento da casa principal e dos serviços de reparos nos dois anexos existentes no sítio (casa do caseiro e banheiros). Os reparos na casa do caseiro consumiram o valor da obra, não restando para os reparos nos banheiros, prejudicando a visitação. Outros serviços como de hidráulica, elétrica, pára-raios e de bombeiros não foram executados considerados essenciais.

Através de fotos do Google Street View, datadas de 2018, a casa apresenta em bom estado externo, porém necessitando de nova pintura, por conta de chuva e pássaros. A porta do fundo necessita de reparo por conta da insolação constante que recebe. Em virtude da pandemia de COVID-19, uma visita técnica a casa é invisibilizada para confirmar o estado atual da mesma.

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ANÁLISE CRÍTICA Apesar da casa apresentar técnica centenária e sofrer anos de intempéries e uso, a casa Padre Inácio resiste e reforça sua importância durante o período bandeirista. Uma intervenção importante para mantê-la nos dias atuais, foi a inserção de materiais da época, como o tijolo por Pedro Fischer Weishaupt, evitando assim o colapso da casa.

A técnica de restauro utilizada por Luís Saia, na Casa Padre Inácio, segue a linha de Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc (1814-1879), realizada através do que possivelmente possa ter sido originalmente construída, porém sem nenhuma exatidão. Através de placa cimentícia para conservação da taipa de pilão prolongou suas características estéticas.

Acredita-se que, o piso solocimento aplicado em toda a casa poderia ter sido restrito apenas as principais áreas de circulação, como alpendre, sala, área de acesso à escada e ao fundo.

Deste modo, o visitante pode visualizar como era o piso originalmente.

Por conta da divergência de plantas, há possibilidade do ambiente posterior da casa ser dividido em dois ambientes, um para acesso ao fundo da casa - corredor - e outro como acesso ao sótão - escada - agregado ao local de guarda de utensílios.

A escolha do processo de Luís Saia aparentemente resulta na melhor escolha por conta da técnica de taipa de pilão. Se o restauro seguisse a linha de Camillo Boito (1836-1914), o restauro poderia acontecer através da taipa de mão, por exemplo, contribuindo para uma estética similar, mas ambas sujeitas a necessidade de intensas manutenções. Por outro lado, se o restauro seguisse a linha de John Ruski (1819-1900), o telhado da casa poderia não existir mais e a casa continuaria em processo de degradação até seu processo de ruína completa.

Infelizmente, não há nenhum vestígio dos anexos à casa principal.

Apesar de sua importância, não há investimento adequado para incentivar a visitação. O acesso até a casa é precário, diferentemente se comparado a da Casa Mandu, também em Cotia.

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Foto Detalhe Coluna, Herman Hugh Graeser, IPHAN, 1958

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