Revista ARQCHRONOS - Arquitetura em Patrimonio

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Quando aconteceu tudo isso, a arcáica cultura de aldeia deu lugar à “ civilização” urbana, essa peculiar combinação de criatividade e controle, de expressão e repressão, de tensão e libertação, cuja manifestação exterior foi a cidade histórica. Em verdade, a partir das suas origens, a cidade pode ser descrita como uma estrutura especialmente equipada para armazenar e transmitir os bens da civilização e suficientemente condensada para admitir a quantidade máxima de facilidades num único espaço, mas também é capaz de um alargamento estrutural que lhe permite encontrar um lugar que sirva de abrigo ‘às necessidades mutáveis e às formas mais complexas de uma sociedade crescente e de sua herança social acumulada. (MUNFORD, 1998, p.38).

A inserção da cidade num sistema de comunicação pode ser vislumbrada desde a antiguidade, na medida em que se reconhece a interferência e o condicionamento mútuo das dimensões territoriais da cidade às condições de comunicação e transporte. Ao mesmo tempo em que as distâncias e a complexidade de relações sociais, possivelmente influenciam a busca de novas formas de comunicação. Ou seja, as dinâmicas e os contextos das cidades refletem e impulsionam as possibilidades de comunicação disponíveis: na história das cidades encontramos casos em que são limitadas pelo número dos que podem responder às convocações de “quartel” ou o alcance efetivo dos meios de comunicação e de transporte existentes em sua época. Há, porém, um fator condicionante do tamanho das cidades, muito freqüentemente esquecido: não apenas a disponibilidade de água ou de alimento, mas a variação dos sistemas coletivos de comunicação. Platão limitava o tamanho da sua cidade ideal ao número de cidadãos a que um única voz poderia dirigir: mesmo assim, havia sua limitação mais comum, fundamentada no número dos que poderiam ser ajuntados dentro dos recintos sagrados para tomar parte nas grandes cerimônias periódicas. Se é verdade que as cidades em breve passaram além do ponto em que todos os seus cidadãos se achavam a uma distância que lhes permitia saudar uns aos outros, não obstante, por muito tempo devem ter ficado limitadas pelo número dos que poderiam responder à convocação do quartel. As cidades mesopotâmias tinham um tambor de reunir, assim como as cidades medievais utilizavam o sino de uma torre de igreja para ajuntar seus cidadãos: faz ainda pouco tempo na iminência de uma invasão e da possibilidade de destruição total das comunicações pelo telégrafo e pelo rádio, a Inglaterra retrocedeu ao dobre universal dos sinos da igreja, como o sinal convencionado para marcar o início de um desembarque alemão. (MUNFORD, 1998, p.76).

Esse trecho permite-nos constatar que a arquitetura e, nesse caso, também falamos de arquitetura da cidade, desde a antiguidade constitui uma mídia inserida em um sistema de comunicação mais amplo. Na atualidade, num sistema de comunicação global. Mas a cidade e 140


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