Dissertação - Arquitetura e Urbanismo - UFF/RJ/BR

UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

DENISE SANTOS CRESPO FERREIRA

UM LUGAR DE VIVER EM AMBIENTE VULNERÁVEL: O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA “ILHA DOS MINEIROS”

Niterói, RJ Agosto de 2014

DENISE SANTOS CRESPO FERREIRA

UM LUGAR DE VIVER EM AMBIENTE VULNERÁVEL: O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA “ILHA DOS MINEIROS”

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense.

Niterói, RJ Agosto de 2014

DENISE SANTOS CRESPO FERREIRA

UM LUGAR DE VIVER EM AMBIENTE VULNERÁVEL: O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA “ILHA DOS MINEIROS”

Dissertação avaliada pelos seguintes membros da banca.

MEMBROS DA BANCA ___________________________________________________________________ Profª. Drª. Maria Lais Pereira da Silva - PPGAU - UFF (Orientadora) ___________________________________________________________________ Profª. Drª. Maria de Lourdes Pinto Machado Costa - PPGAU - UFF ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Werther Holzer - PPGAU - UFF ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Mauro César de Oliveira Santos – PROARQ - UFRJ

Niterói Agosto de 2014

DEDICATÓRIA A todas as populações carentes, especialmente às pessoas residentes no Loteamento “Ilha dos Mineiros”, rua das Casuarinas e rua do Zezeca.

AGRADECIMENTOS Ao Eterno, Criador, Todo Poderoso - ‫( יהוה‬YHWH) - pelo Seu eterno amor, a Seu Filho - ַ‫( יְהֹוׁשּוע‬Yehowashua) - e ao Seu Espírito Santo - ‫הקֹּ ֶדׁש‬

ַ‫( רּוח‬Ruach ha-

Kódesh)-, pela minha esperança de continuar a ser feliz.

Ao meu pai, José Antônio Viana Crespo, tal como à minha mãe Marilza dos Santos Crespo (in memorium), pela oportunidade de eu existir.

Ao meu marido, pelo suporte e ajuda na revisão textual e uso de planilhas eletrônicas.

Aos meus irmãos e à Dayse Teixeira, pela "logística" nas deslocações em minhas pesquisas de campo, bem como à Diviane Chagas e ao Hércules Augusto, pela indicação de locais e pessoas a serem entrevistadas em primeiro lugar.

A todos os meus Professores do PPGAU/UFF e PROARQ/UFRJ, em especial à minha orientadora, Profª Maria Lais, particularmente na minha pesquisa de campo em profundidade.

Ao Ministério da Educação, bem como à Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela Bolsa de Estudos Integral que me foi concedida.

E, finalmente, a todos que, recebendo-me em suas casas e em seus lugares de trabalho, muito contribuíram para a realização desta dissertação.

EPÍGRAFE Por mais que se tentem iludir os teoristas de uma absoluta e livre subordinação do meio à inteligência e vontade humanas, serão estas sempre condicionadas em seus destinos históricos aos fatores geológico-geográficos, isto é, à pressão da ambiência que, embora muitas vezes aparentemente subjugada, imprime sempre à vida social orientação inevitável (LAMEGO,1974b, p.280).

RESUMO Esta dissertação é um estudo de caso baseado em pesquisas de campo realizadas pela autora sobre o Loteamento “Ilha dos Mineiros”ַ(LIM) e entorno, em São Francisco de Itabapoana, RJ, entre 2013 e 2014. Parte-se de uma hipótese em que a construção cultural desse lugar tem fortes implicações na qualidade de vida da população ali residente. Aspectos de conceitos acerca de lugar e paisagem (natural ou cultural) foram relacionados por categorias de análise de características e propriedades, na problemática da construção cultural e impacto desta na qualidade de vida num lugar de viver. Nesse sentido, o objetivo geral desta dissertação é estudar a formação do LIM naַ suaַ transformaçãoַ emַ “ilhaַ cultural” e lugar de viver. Uma imagem que se tornou presente na caracterização desse lugar e seu entorno, associada a uma ideiaַ deַ “meu lar” e a uma “linguagem de padrões” própria. Para fazer esse estudo de caso, as informações e percepções do LIM e do seu entorno foram obtidas de diversos agentes sociais, e classificadas por categorias de análise.

Além disso, aspectos de intervenções do poder público, que transformaram física e culturalmente esse lugar, foram descritos e também classificados. E, em termos de lugar de viver, com base nessas informações, percepções e categorias, alguns aspectos da área ocupada foram analisados. A partir da história da Terra (paisagem natural) e da Humanidade (paisagem cultural), foi verificada a questão da habitabilidade e vulnerabilidade no LIM (paisagem do lugar), bem como os tipos de lógica que transformaram parte da planície de restinga Goitacá - Norte Fluminense em "ilha cultural". Também foram observadas características e propriedades inerentes a domicílios e entorno do LIM, que tornaram esse loteamento um lugar de viver.

Algumas matrizes dinâmicas foram elaboradas de modo a evidenciar padrões, convergências e divergências dos dados obtidos nas várias pesquisas de campo.

Finalmente, foram sintetizados elementos que configuram tanto tentativas de otimização das condições de vida dos residentes do LIM quanto as expectativas dos diversos agentes sociais para essa otimização.

Palavras-chave: Ilha cultural. Lugar. Paisagem. Vulnerabilidade. “IlhaַdosַMineiros”.

São Francisco de Itabapoana (RJ).

ABSTRACT This dissertation is a case study based on field research realized by the author about the allotment named "Loteamento Ilha dos Mineiros" (LIM) and its surroundings, in São Francisco de Itabapoana, RJ, between 2013 and 2014. It starts from a hypothesis in which the cultural construction of that place has strong implications towards the quality of life of the resident population there. Aspects of concepts about place and landscape (natural or cultural) were related by analysis categories of characteristics and properties, concerning to the cultural construction problem and its impact onto life quality of a place to live. In that sense, the general objective of this dissertation is to study LIM’sַformation on its transformation into a "cultural island" and place to live. An image that became present in the characterization of that place and its surroundings, associated with an idea of "my home" and an own “pattern language”. To make this case study, information and perceptions of LIM and its surroundings were obtained from various social agents, and classified by categories of analysis. Besides that, aspects of public power interventions, that transformed physically and culturally that place, were described and also classified. And, in terms of place for living, based on this information, insights and categories, some aspects of the occupied area were analyzed. From the history of the Earth (natural landscape) and of the Humanity (cultural landscape), it was verified the question of habitability and vulnerability of LIM (place landscape), as well as the logic types that transformed a part of sandbar plain “Goitacá” - “Norte Fluminense” - into a "cultural island". They were also observed characteristics and properties inherent to households and surrounding of LIM, which turn that allotment into a living place. Some dynamic matrices were developed in order to highlight patterns, convergences and divergences of the data obtained from the several researches field. Finally, they were synthesized elements that shape both optimization attempts in the living conditions of LIM residents and the expectations of various social agents to such optimization.

Keywords: Cultural island. Landscape. Place. Vulnerability. “IlhaַdosַMineiros”. São Francisco de Itabapoana (RJ).

LISTA DE FIGURAS Figura 1- LocalizaçãoַdoַLoteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” .......................................................... 15 Figura 2- FormaçãoַdaַIlhaַCulturalַeַLoteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”...................................... 22 Figura 3 - Aspectos metodológicos: Hipótese e sua estruturação .............................................. 23 Figura 4 – AַLógicaַdaַLinguagemַdoַLoteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” ..................................... 24 Figura 5 - 1º percurso da Pesquisa Etnográfica ......................................................................... 29 Figura 6 - 2º percurso da Pesquisa Etnográfica ......................................................................... 31 Figura 7- 3º percurso da Pesquisa Etnográfica .......................................................................... 31 Figura 8 - 3º percurso da Pesquisa Etnográfica: aproveitamento de evento.............................. 32 Figura 9 - 4º percurso da Pesquisa Etnográfica ......................................................................... 32 Figura 10 - 4º percurso da Pesquisa Etnográfica: aproveitamento de outro evento .................. 33 Figura 11- Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”ַ- “Imagemַsocioambiental” ..................................... 38 Figura 12 - Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”ַ(aoַcentro) .............................................................. 52 Figura 13 - Históriaַ daַ Terra:ַ Oַ Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”ַ naַ planícieַ deַ Restinga Holocênica ................................................................................................................................... 54 Figura 14 - História da Terra: Trecho final sul da bacia do Rio Guaxindiba ............................... 55 Figura 15 - História da Terra: rio Guaxindiba - da Nascente à Foz ............................................ 56 Figura 16 - História da Terra: faixa de vegetação de restinga: Floresta, Vegetação Rasteira e Manguezais ................................................................................................................................. 57 Figura 17 - HistóriaַdoַHomem:ַ“habitação”ַ(abrigo)ַdoַÍndioַPuri ............................................ 59 Figura 18 - História do Homem: Casa em Aldeia Lacustre do Índio Goitacá ............................. 60 Figura 19 - História do Homem: Rio Muritiba - Porto de Cacimbas - Canal Cacimbas .............. 63 Figura 20 - História do Homem: Lagoa da Roça, Canal e foz do Rio Guaxindiba ..................... 63 Figura 21 - História do Homem: Canal Engenheiro Antônio Resende ....................................... 64 Figura 22 - História do Homem: o LIM numa Ilha Cultural (IC) ................................................... 65 Figura 23 - História do Homem: CEAR e Rio Guaxindiba .......................................................... 65 Figura 24 - HistóriaַdoַHomem:ַCEARַ(àַesquerda),ַRioַGuaxindibaַ(àַdireita)ַeַsuaַ“Foz” ... 66 Figura 25 - História do Homem: Setores da Evolução Fluminense ............................................ 66 Figura 26 - História do Homem: Ilha Cultural - não era ilha, mas agora é ilha ........................... 67 Figura 27 - LógicaַdaַTransformação:ַLIMַcomoַ“ilha”ַfísica ..................................................... 70 Figura 28 - LógicaַdaַTransformação:ַLIMַdeַbrejoַaַ“ilha”ַfísica ............................................. 71 Figura 29 - Lógica da Transformação:ַdeַrestingaַaַ“ilha”ַ(físicaַeַcultural) ............................. 72 Figura 30 - Transformação pela Lógica de Estado - canal Guaxindiba, CEAR e foz ................. 73 Figura 31 - Transformação pela Lógica de Estado - Zoneamento Urbano ................................ 75 Figura 32 - Transformação pela Lógica de Estado - Aprovação do Projeto do LIM ................... 76 Figura 33 - Transformação pela Lógica de Estado - Mapa rodoviário- Zoneamento Atual ........ 77 Figura 34 - Transformação pela Lógica de Estado - ZIAPs ........................................................ 77 Figura 35 - Transformação pela Lógica de Estado - LIM nas ZEIS1 e ZEIS2 ............................ 79 Figura 36 - Transformação pela Lógica de Estado - Casa Popular (modelo) ............................ 80

Figura 37 - Transformação pela Lógica de Estado - Casa Popular (modelo/posse) .................. 81 Figura 38 - Transformação pela Lógica de Estado - Certificação de Técnicos de Construção . 81 Figura 39 - Transformação pela Lógica de Estado - Banheiro Residencial (projeto) ................. 83 Figura 40 - Transformação pela Lógica de Estado - Banheiro Residencial (inacabado) ........... 84 Figura 41 - Transformação pela Lógica de Mercado - Projeto do LIM (aprovado) ..................... 86 Figura 42 - Transformação pela Lógica de Mercado - ImplantaçãoַdoַLIMַ(“irregular”) ............ 87 Figura 43 - Transformação pela Lógica de Mercado - Venda de lotes no LIM ........................... 88 Figura 44 - Transformação pela Lógica de Mercado - Investimento no LIM .............................. 89 Figura 45 - Transformação pela Lógica de Mercado - Venda de lotes no LIM ........................... 90 Figura 46 - Transformação pela Lógica da Necessidade - o homem político no LIM ................ 91 Figura 47 - Transformação pela Lógica da Necessidade - fracionamento de lote ..................... 93 Figura 48 - Transformação pela Lógica da Necessidade - fracionamento de casa ................... 93 Figura 49 - Transformação pela Lógica da Necessidade - ocupação de terra pública .............. 94 Figura 50 - Transformação pela Lógica da Necessidade - comércio no LIM (informal) ............. 96 Figura 51 - Transformação pela Lógica da Necessidade - manchas de ocupação.................... 96 Figura 52 - LógicaַdaַTransformação:ַdeַrestingaַaַ“ilha”ַ(físicaַeַcultural) ............................. 98 Figura 53 - Ilhaַcultural:ַ“melhoresַ- aoַcentro”ַeַ“pioresַ– nasַfranjas”ַlugaresַdeַviverַnoַLIM ................................................................................................................................................... 100 Figura 54 – Casa mal ajustada ao tamanho da família ............................................................ 102 Figura 55 - Mapa Mental e Poema dos Desejos: casa pequena e feia .................................... 102 Figura 56 – Mapa Mental e Poema dos Desejos: outra casa pequena e feia .......................... 103 Figura 57 – Mapa Mental e Poema dos Desejos: De casa pequena inacabada a uma mansão ................................................................................................................................................... 103 Figura 58 – Casa inacabada e com infiltrações ........................................................................ 104 Figura 59 – Casa de apenas um cômodo, inacabada e com infiltrações - mãe ....................... 104 Figura 60 – Casa de apenas um cômodo, inacabada e com infiltrações – filha mais velha .... 105 Figura 61 – Casa pequena e inacabada ................................................................................... 105 Figura 62 – Casaַpequenaַeַinacabada,ַcomַhabitabilidadeַ“razoável” .................................. 107 Figura 63 – LIM sem saneamento básico, feio e poluído ......................................................... 109 Figura 64 – LIM: casa sob inundações constantes ................................................................... 110 Figura 65 – LIM pouco desenvolvido e de acesso precário ...................................................... 111 Figura 66 – LIM: casa bem situada e bem construída, mas à venda por falta de segurança pública ................................................................................................................................................... 111 Figura 67 –QualidadeַdeַVidaַ“ruim”ַ– Porto na foz do rio Guaxindiba ................................... 115 Figura 68 – QualidadeַdeַVidaַ“ruim”ַ– portoַ“natural”ַnaַpraiaַdeַGuaxindiba ...................... 115 Figura 69 - Lugar de viver: ação do poder público - CRAS e evento do dia das Mães ............ 119 Figura 70 - Lugar de viver: ação do poder público - Posto Médico de Guaxindiba .................. 122 Figura 71 - Lugar de viver: ação do poder público - campinho improvisado ............................ 123 Figura 72 - Lugar de viver: ação do poder público - Projeto Esporte RJ / LIM (Inauguração) . 124 Figura 73 - Lugar de viver: ação do poder público – ruas sem conservação ........................... 127 Figura 74 - Lugar de viver: ação do poder público - Ponte da Amizade ................................... 128

Figura 75 - Lugar de viver: ação do poder público – pontes e canais com problemas de vazão ................................................................................................................................................... 129 Figura 76 - Lugar de viver: ação da sociedade civil - ponte improvisada pela população ....... 130 Figura 77 - Lugar de viver: ação do poder público - trechos alagadiços no LIM ...................... 132

LISTA DE TABELAS Tabela 1- Classificação qualitativa ........................................................................................................ 25 Tabela 2- HabitabilidadeַXַCategoriasַdeַ“casa-lar” ............................................................................ 26 Tabela 3- VulnerabilidadeַXַCategoriasַdeַ“minhaַcasa” .................................................................... 28 Tabela 4 - Percursos para coleta de dados e imagens da Pesquisa Etnográfica ................................ 29

LISTA DE SIGLAS SIGLA CRAS CG CEAR DNOS IC LIM MSFI MSJB PDMP PMSFI PMSJB RG RGR RJ SFI SJB SMTAPS

DESIGNAÇÃO Centro de Referência de Assistência Social Canal Guaxindiba Canal Engenheiro Antônio Resende Departamento Nacional de Obras de Saneamento Ilha Cultural Loteamento “Ilha dos Mineiros” Município de São Francisco de Itabapoana Município de São João Da Barra Plano Diretor Municipal Participativo Prefeitura Municipal de São Francisco de Itabapoana Prefeitura Municipal de São João da Barra Rio Guaxindiba Rio Guaxindiba Retilinizado Rio de Janeiro (Estado) Cidade de São Francisco de Itabapoana Cidade de São João da Barra Secretaria Municipal do Trabalho da Assistência e Promoção Social

Social Social

SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS............................................................................................................................... 8 LISTA DE TABELAS..............................................................................................................................11 LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................................12 SUMÁRIO ..........................................................................................................................................13 1

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................15

2

ASPECTOS METODOLÓGICOS E CONCEITUAIS ..........................................................................21 2.1

2.1.1

Hipótese e sua estruturação ............................................................................................ 22

2.1.2

Lógicas de análise ............................................................................................................ 24

2.1.3

Classificação qualitativa .................................................................................................. 25

2.1.4

Categorias de análise ...................................................................................................... 26

2.1.5

Caracterização e procedimentos da Pesquisa Etnográfica .............................................. 29

2.1.6

Caracterização da população entrevistada ..................................................................... 35

2.2

3

ASPECTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................................... 21

ASPECTOS CONCEITUAIS ........................................................................................................... 38

2.2.1

Paisagem: natural e/ou cultural ...................................................................................... 39

2.2.2

Lugar: resultado de processo existencial humano........................................................... 40

2.2.3

Habitabilidade: casa-lar .................................................................................................. 41

2.2.4

Vulnerabilidade: minha casa ........................................................................................... 45

2.2.5

Coordenação socioespacial: lógicas modernas ............................................................... 49

ESTUDO DE CASO: LOTEAMENTO “ILHA DOS MINEIROS” .........................................................52 3.1

HISTÓRIA E VULNERABILIDADE DO LUGAR ............................................................................... 52

3.1.1

História da Terra: a paisagem natural ............................................................................ 53

3.1.2

História do Homem: a paisagem cultural ........................................................................ 58

3.1.3

História e paisagem do lugar .......................................................................................... 68

3.1.4

Vulnerabilidade do lugar ................................................................................................. 69

3.2

A RESTINGA QUE VIROU ILHA: LÓGICA DA TRANSFORMAÇÃO ................................................. 69

3.2.1

Transformação pela Lógica de Estado............................................................................. 72

3.2.1.1

Formação física da Ilha Cultural .................................................................................................72

3.2.1.2

Parcelamento e Zoneamento da Ilha Cultural ...........................................................................74

3.2.1.3

Projetos e construções populares ..............................................................................................79

3.2.2

Transformação pela Lógica de Mercado ......................................................................... 85

3.2.3

Transformação pela Lógica da Necessidade ................................................................... 90

3.3

4

A ILHA CULTURAL TORNA-SE UM LUGAR DE VIVER ................................................................... 99

3.3.1

Habitabilidade na construção cultural do LIM .............................................................. 101

3.3.2

Vulnerabilidade na construção cultural do LIM ............................................................. 107

3.3.3

Construção Cultural e Qualidade de Vida do LIM .......................................................... 113

3.3.4

Tentativas de Reversão de Qualidade de Vida no LIM .................................................. 118

3.3.4.1

Serviços municipais de assistência social .................................................................................118

3.3.4.2

Serviços municipais de saúde, família e ambiente ...................................................................122

3.3.4.3

Serviços municipais de apoio ao esporte, lazer e cultura ........................................................123

3.3.4.4

Serviços municipais de saneamento básico e iluminação pública ...........................................125

3.3.4.5

Serviços municipais de limpeza e manutenção de ruas e pontes ............................................127

3.3.4.6

Serviços municipais de prevenção de alagamentos e inundações ...........................................131

3.3.4.7

Serviços municipais de regularização fundiária e reurbanização .............................................133

3.3.4.8

Serviços sociais locais de instituição religiosa ..........................................................................134

3.3.4.9

Serviços sociais locais de cunho associativo ............................................................................135

CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................................135

BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................142 OUTRAS FONTES ..............................................................................................................................144 PARTICIPANTES DA PESQUISA .................................................................................................................. 144 DOCUMENTAÇÃO PESQUISADA ................................................................................................................ 149 GLOSSÁRIO ......................................................................................................................................150 APÊNDICES ......................................................................................................................................151 APÊNDICE A - PESQUISA ETNOGRÁFICA: CONJUNTO DE 113 PARTICIPANTES CODIFICADOS .............................. 152 APÊNDICE B - PESQUISA ETNOGRÁFICA: CONJUNTO DE 33 TRANSCRIÇÕES EDITADAS E CODIFICADAS ................ 156 APÊNDICE C - PESQUISA ETNOGRÁFICA: CONJUNTO DE 21 FICHAS TÉCNICAS CODIFICADAS .............................. 248 APÊNDICE D - MATRIZ DE ANÁLISE QUALITATIVA DAS ENTREVISTAS: HABITABILIDADE NO LIM .................... 270 APÊNDICE E - MATRIZ DE ANÁLISE QUALITATIVA DAS ENTREVISTAS: VULNERABILIDADE NO LIM .................. 275 APÊNDICE F - MATRIZ DE ANÁLISE QUALITATIVA DAS ENTREVISTAS: CONSTRUÇÃO CULTURAL NO LIM ......... 279 APÊNDICE G - MATRIZ DE ANÁLISE QUALITATIVA DAS FICHAS TÉCNICAS: HABITABILIDADE NO LIM ............. 283 APÊNDICE H - MATRIZ DE ANÁLISE QUALITATIVA DAS FICHAS TÉCNICAS: VULNERABILIDADE NO LIM ........... 285 APÊNDICE I - MATRIZ DE ANÁLISE QUALITATIVA DAS FICHAS TÉCNICAS: CONSTRUÇÃO CULTURAL NO LIM .... 287 ANEXOS ...........................................................................................................................................290 ANEXO A - TRANSFORMAÇÃO PELA LÓGICA DE ESTADO - LEI DE ZONEAMENTO (NÃO ACHADA) ........................ 291 ANEXO B - TRANSFORMAÇÃO PELA LÓGICA DE MERCADO – RECIBO DE QUITAÇÃO DE LOTES NO LIM ............... 292 ANEXO C - TRANSFORMAÇÃO PELA LÓGICA DE MERCADO - ESCRITURA DE LOTES NO LIM .............................. 293 ANEXO D - LIM COMO LUGAR DE VIVER - MAPAS MENTAIS (62) E POEMAS DE DESENHOS (61) ...................... 295

15

1

INTRODUÇÃO Por meio de contatos e estudos anteriores1 tomou-se conhecimento do

Loteamento “IlhaַdosַMineiros” na margem direita (sul) do rio Guaxindiba, junto à foz deste, na localidade Guaxindiba do município de São Francisco de Itabapoana extremo norte do Estado do Rio de Janeiro - na costa leste do Brasil (fig.1). Um lugar de viver que resultou de um longo processo cultural, no qual se destacam obras de saneamento de grande vulto que transformaram parte da restinga em Ilha2, nessa região Norte Fluminense.

Figura 1- Localização do Loteamento “Ilha dos Mineiros”

Fonte: Google Maps, 2014, e acervo da autora, com adaptação

Desse processo, além do Loteamento “Ilhaַ dosַ Mineiros”, destacam-se de modo bem significativo dois canais: o Canal Engenheiro Antônio Resende; e o Canal Guaxindiba. A formação dessa região foi condicionada por extensos processos naturais de formação geológica de planícies de restingas, na bacia do rio Guaxindiba.

Nesse lugar, genericamente, há produção social de unidades habitacionais, construídas precariamente e não ajustadas ao tamanho das respectivas famílias, em áreas consideradas de risco ou proteção ambiental e paisagística. Um ambiente frágil do qual se destaca um conjunto de moradias do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”ַcomo objeto de estudo deste trabalho. Nesse conjunto são observadas a habitabilidade e

Entre 2010 e 2011, que culminaram com a monografia (FERREIRA, 2011) apresentada ao Curso de Especialização em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional - da Universidade Federal Fluminense, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil - como requisito parcial para a obtenção do Título de Especialista em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Orientador: Prof. Aristides Arthur Soffiati Netto, Doutor em História Social pela UFRJ. 2 No mestrado que se encerra nesta dissertação, na disciplina "Paisagem e Ambiente", no final do 2º semestre de 2012, alertada pelo seu professor HOLZER, a autora compreendeu que o seu objeto de estudo era parte de uma ilha física. Mas esta como uma ilha cultural.

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vulnerabilidade do edificado e respectivo entorno. Um edificado que forma uma unidade de vizinhança em situação dominial irregular, mal infraestruturada, com uso ilegal do solo e desintegrada socialmente, mas onde se nota um estilo simples de viver e espírito solidário dos residentes3 do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”ַ- já habituados ao fator de risco num ecossistema local e regional que sofre graves impactos em sua unidade de habitat.

Nesse ecossistema os fenômenos sociais podem ser captados por diálogos que abrangem diversos agentes locais dos quais emergem interesses sociais formais e regulares que deveriam (e devem) orientar as políticas públicas locais para se viver em espaços urbanos em ambiente não vulnerável. Mas desses agentes emergem também interesses sociais informais e irregulares para viver em espaços urbanos em ambiente vulnerável. Entretanto, nos espaços ocupados irregularmente observa-se a produção social de loteamentos, moradias e arruamentos de modo aparentemente irreversível. Essa produção social resulta de interações de “lógicas”ַde Necessidade, de Estado e de Mercado (ABRAMO, 2011). Uma interação que, aleatoriamente ou não, gera situações locais de conflito social as quais levam a tentativas de erradicação ou de mitigação de tensões sociais. Um tipo dessas tensões é gerado pela necessidade básica humana de um lugar para viver. Essa necessidade inicia diversos e conflitantes processos culturais de ocupação local (des)ajustados.

Masַessaַ“informalidade”ַnãoַtemַimpedidoַqueַaַprodução social do habitat humano venha adquirindo relevância nos últimos anos no Brasil. Principalmente, após a promulgação da Constituição (1988) e do Estatuto da Cidade (2001), que reconheceram o direito a cidades sustentáveis entendido como direito à moradia. No Brasil existem lugares de pequena escala ocupados precariamente por populações residentes. Esses lugares de viver, como o Loteamentoַ“Ilhaַdos Mineiros”, escapam aos instrumentos usuais de grande escala - usados como sensores para monitorar, fundamentar e priorizar políticas públicas específicas. Mesmo assim, está em curso uma campanha nacional brasileira pela garantia de recursos financeiros permanentes para a habitação social, visando a eliminar ou a minimizar restrições financeiras ao direitoַàַmoradia.ַEssaַcampanhaַéַdenominadaַ“MoradiaַDigna”ַeַtemַoַobjetivoַdeַ aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional Brasileira (PEC-BR) que destine no

Que trabalham em condições precárias e na informalidade, recebendo renda incerta em torno de um salário mínimo por mês.

3

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mínimo 2% da arrecadação da união e 1% da arrecadação dos estados e municípios para subsidiar a produção habitacional de interesse social. O texto dessa emenda propõe garantir, na Constituição, a vinculação de recursos orçamentários de todos os entes da federação até o saneamento do déficit habitacional do País, estimado em sete milhões de moradias.

Contudo, a questão de diretrizes para habitações sociais sustentáveis, sem restrição financeira, é uma prioridade social em todo o Brasil. Por isso, tanto as políticas urbanas e habitacionais quanto os sucessivos programas oficiais de financiamento habitacional e de infraestrutura urbana têm buscado reverter essa situação de escassez. Mas, sem sucesso! Pois continua existindo oferta escassa de habitação acessível para a população excluída do mercado de trabalho, do mercado imobiliário e do mercado político. Isso porque essas políticas não têm sido capazes de atender ao perfil econômico e social dos estratos mais pobres da população brasileira nem de se libertarem da lógica do mercado. Por essa lógica, as soluções implementadas têm procurado apenas baratear os custos com a construção de grandes conjuntos habitacionais - em locais periféricos, construídos em série, muito distantes dos locais de trabalho e desprovidos de identidade. Privilegiando a quantidade em detrimento da qualidade dos imóveis para populações de baixa renda.

Ainda assim, uma parcela muito reduzida da população pobre tem tido acesso aos mercados formais, regulares.

Porém, como acontece no caso do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”, a maioria dos habitantes permanece habitando em ambientes insalubres, de reduzidas dimensões, sem infraestrutura nem serviços urbanos adequados, desconfortáveis e inseguros. Nesse loteamento pode caber a produção social de habitações de interesse social, de forma sustentável e em regime de mutirão local. Em que a delimitação de Zonas Especiais de Habitação de Interesse Social (ZEIS) é feita para orientar a concessão governamental de casas, equipamentos urbanos e serviços públicos essenciais a uma vida mais humana de populações de baixa renda.

Prioritariamente, a famílias que habitem em áreas onde coloquem em risco as suas vidas e seus bens ou em áreas onde comprometam o seu próprio habitat.

Entretanto, o envolvimento de agentes sociais, quer na cooperação, nas intenções e nas iniciativas internacionais, quer na soberania do Brasil e respectivas campanhas nacionais, têm sinalizado e formalizado que o direito à habitação social em ambiente não vulnerável é um direito fundamental social e ao mesmo tempo um

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direito humano. O direito à habitação social em ambiente não-vulnerável é elemento de grande importância para o desenvolvimento dos espaços urbanos e de unidades habitacionais de interesse social, com a participação efetiva dos diretamente interessados. E deverá sempre ter como destinatário final a pessoa humana. Mas, esse problema social humano, que vem se agravando ao longo dos anos, demonstra a incapacidade do mercado e das diversas iniciativas governamentais de oferecer condições dignas de habitabilidade a todos os brasileiros.

Assim, o que se tem observado é que prevalecem a inconstitucionalidade e a insensatez na satisfação mínima de grande parte das necessidades básicas das pessoas de baixa renda que depende significativamente de sua fixação em áreas de risco ou poluídas, como se verifica no Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”. Com a agravante de que os instrumentos de desenvolvimento urbano são negociados entre os agentes sociais que seguem as suas próprias lógicas (ou melhor, suas próprias conveniências individuais ou de grupo), num jogo de forças desproporcionais.

Desse jogo desigual levanta-se diretamente uma questão essencial: como pode aַmaioriaַdeַumaַpopulaçãoַlocalַ“soltar-se”ַdosַlaçosַdeַdependênciaַlocaisַcriadosַ por políticasַpúblicasַdosַtiposַ“votoַdeַcabresto”ַouַ“bicaַd'água”?

Uma questão que remete para esta outra questão: existe algum processo de ocupação de um lugar do qual tenha resultado o que se pode chamar de "ilha cultural" e que seja prioritário em termos de políticas públicas habitacionais?

Assim, o objetivo geral desta dissertação é estudar com grande profundidade o caso da formação do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM) e da sua transformação emַ“ilhaַcultural”ַeַlugar de viver. Umaַ“ilha”ַque, como imagem, tornou-se presente na caracterização do LIM e em sua inserção numa “ilha” maior.

Para fazer esse estudo de caso, foram estabelecidos estes objetivos específicos: 

Descrever ações do poder público na formação e transformação, física e cultural, do LIM e seu entorno;



Obter informações e percepções do LIM e do seu entorno, junto a agentes sociais que intervieram nesse lugar, direta ou indiretamente; e



Identificar categorias de análise e analisar alguns aspectos da área ocupada, em termos de lugar de viver, a partir dessas informações, percepções e categorias.

19

O LIM e seu entorno relacionam-se por categorias de análise na problemática da construção cultural de um lugar de viver. A história da construção dessa ilha cultural indica como a intervenção do poder público construiu um grave problema ambiental e favoreceu uma precariedade de condições de vida na ocupação em ambiente vulnerável. Uma construção com fortes e negativas implicações na transformação dos ciclos da natureza e nas condições de vida da população ali residente, bem como na atração de veranistas. Essa assertiva fundamenta a hipótese que se estruturará e detalhará no capítulo 2.

Para um melhor entendimento dessa problemática, optou-se por um estudo de caso em que o procedimento metodológico, conforme se detalhará também no capítulo 2, é composto por pesquisas de campo, com entrevistas em profundidade a diversos agentes sociais, análise do material coletado e síntese por categorias de análise.

Por um lado, este trabalho é um estudo acadêmico sobre habitação social inserida no planejamento urbano e regional, numa linha de pesquisa sobre espaço construído, sustentabilidade e ambiente. Numa abordagem em que lugar e paisagem relacionam-se por categorias de análise na problemática da construção cultural de um lugar de viver. E que formam o quadro de problematização de algumas das habitações existentes, critérios de escolha, de conhecimento e de algumas percepções dos agentes. Um estudo integrante de uma pesquisa acadêmica na qual se desenvolve um instrumental teórico-conceitual visando a subsídios para futuras possíveis intervenções numa área vulnerável que tem apresentado vocação para o turismo. Este trabalho aborda tanto a análise e crítica da arquitetura para pobres quanto as ideias, princípios e práticas de uma arquitetura autossustentável e da arquitetura vernacular do objeto de estudo.

Por outro lado, este trabalho é de grande relevância para a autora, por se relacionar com a formação acadêmica e atividades voltadas para o segmento social de baixa renda. Em especial, no que tange à dignidade das moradias que projeta no intuito de reduzir as desigualdades sociais nas diversas localidades e regiões do Brasil. Influências que emergem, principalmente, do ambiente natural, do ambiente socioeconômico, do ambiente legal e do ambiente empresarial. Dessa maneira, este trabalho pode ser útil para o seu campo de atuação, como arquiteta, no que diz respeito a ensinar sobre assentamentos humanos populares, bem como a elaborar ou avaliar projetos de habitações de interesse social de forma autossustentável.

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Além disso, este estudo de caso é de enorme relevância social por se referir a um tipo especial de assentamento humano no desenvolvimento regional de um ambiente local de integração problemática. Um desenvolvimento que leva em conta tanto as preocupações mundiais com os assentamentos precários ou socialmente excluídos quanto a observação do interesse com que o problema habitacional das ditas classes menos favorecidas está sendo resolvido pelas diferentes esferas de Governo Brasileiro e diversos poderes constituídos. Especialmente, para e na localidade de Guaxindiba.

A partir deste capítulo 1 (introdução), a dissertação estrutura-se como segue...

O capítulo 2 adianta aspectos e procedimentos metodológicos para a realização do estudo em que as observações têm base em algumas informações, em especial por meio dos desenhos e depoimentos de alguns agentes sociais – classificadas por categorias de análise. E destaca aspectos conceituais, apresentando conceitos referentes a paisagem, lugar, habitabilidade, vulnerabilidade e lógicas de coordenação socioespacial modernas - que formam a base de contextualização teórica desta dissertação. O capítulo 3 desenvolve o estudo de caso do Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”, destacando-se: a história da construção desse lugar, com ênfase na sua formação geológica, geográfica e ambiental, e a vulnerabilidade humana desse lugar; a lógica de transformação de uma parte de restinga brasileira em ilha cultural - que parece apresentar uma rede estreita de identidade e certa diversificação, entre outros fatores, devido à presença de veranistas; e a transformação dessa ilha em lugar de viver – com as evidências de qualidade de vida local decorrente da sua construção cultural. No capítulo 4, onde são feitas as considerações finais desta dissertação, ressalta-se o tema da vulnerabilidade e da expectativa deste estudo em contribuir para a melhoria da qualidade de vida local - nesse sentido, pretende-se um futuro retorno de seus resultados para a população residente no Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”.

Finalmente, nas citações referidas neste trabalho só se mencionarão especificamente os grifos dos autores das respectivas citações. Portanto, todos os demais grifos são da autora deste trabalho.

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2

ASPECTOS METODOLÓGICOS E CONCEITUAIS Vivemos no empirismo dos conceitos e na inversão dos valores éticos (LAMEGO,1974a, p.18; LAMEGO,1974b, p.14).

Para reestabelecer aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos adotou-se a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS)4.

Quanto ao empirismo dos conceitos e para evitar a inversão de valores éticos, desenvolvem-se a seguir aspectos metodológicos e conceituais que auxiliaram no estudo do caso Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”.

2.1

ASPECTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Linguagem dos padrões que nunca podem "desenhar-se" ou "construir-se" de uma vez só, mas mediante um crescimento paciente e peça por peça; Linguagem dos padrões que podem "desenhar-se" de uma só vez, sob controle de indivíduos ou pequenos grupos de indivíduos; e Linguagem dos padrões que podem "construir-se" de uma só vez, sob controle de indivíduos ou pequenos grupos de indivíduos, a última parte da linguagem de padrões.

Alexander et al (1980, p.13 e 22, tradução livre da versão em espanhol)

No quadro do processo de ocupação do Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”ַ acentuou-se como questão e objeto de estudo a sua formação: física (fig.2) - como “ilha”, intermitente, dentro de uma ilha maior (IC), na paisagem da unidade geográfica, composta pela interação de paisagem natural e paisagem cultural; e não-física, como “ilha” resultante do estigma de exclusão social.

Para tentar perceber a evolução do que foi sendo desenhado e construído, pacientemente, peça por peça, nesse lugar, bem como a situação do que foi desenhado e/ou construído de uma só vez, naturalmente e/ou sob controle do Estado e/ou de indivíduos e/ou pequenos ou grandes grupos de indivíduos, nesta dissertação busca-se uma linguagem5 própria desse lugar.

O CNS é um órgão colegiado do Ministério da Saúde, permanente e deliberativo sobre temas relacionados à saúde, que reúne representantes do Governo e dos prestadores de serviços de saúde, profissionais de saúde e usuários do SUS. 5 Para Alexander et al (1980, p.23), os seus 253 padrões formam uma linguagem e criam um quadro coerente de toda uma região, mas também é verdade que qualquer pequena sequência de padrões formada a partir dessa linguagem é em si mesma uma linguagem para uma parte menor do entorno.

4

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Figura 2- Formação da Ilha Cultural e Loteamento “Ilha dos Mineiros”

Fonte: Google Maps, 2014, adaptação da autora

2.1.1 Hipótese e sua estruturação Para estudar esse lugar, sua imagem e linguagem, indicou-se esta hipótese: a construção cultural de um lugar tem fortes implicações na qualidade de vida da sua população residente.

Essa hipótese foi estruturada (fig.3) com base no preconizado por Soriano 6.

Assim, foram definidas três unidades de análise, três variáveis7 e um elemento lógico.

As três unidades de análise que, da maior para a menor escala8, compõem um lugar

Para Soriano (2004, p.108): as unidades de análise podem ser indivíduos, grupos, residências, instituições; as variáveis são as características ou propriedades qualitativas ou quantitativas que essas unidades de análise apresentam; e os elementos lógicos relacionam as unidades de análise às variáveis e relacionam também as variáveis entre si.

7 Uma variável pode ser classificada em: independente (um elemento - fenômeno ou situação - explica, condiciona ou determina a presença do outro); dependente (um elemento - fenômeno ou situação explicado ou que está em função do outro); ou interveniente (é um elemento que pode estar presente numa relação entre a variável independente e a dependente, influindo no aparecimento desta).

(SORIANO, 2004, p.132) 8 Lembrando que Alexander et al (1980, p.13, tradução livre da versão em espanhol) disseram: "Uma linguagem de padrões tem a estrutura de uma rede (...) quando empregamos a rede de uma linguagem, a utilizamos sempre como uma sequencia, que vai através dos padrões, avançando sempre desde os 6

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de viver são estas: habitat do lugar; vizinhança; e moradia. A primeira forma a paisagem natural do lugar - por isso sua construção é natural. A segunda e a terceira desenvolvem a construção cultural desse lugar.

Figura 3 - Aspectos metodológicos: Hipótese e sua estruturação

Elaboração da autora, 2014

Nessa construção, natural e cultural, o elemento comum que sobressai da integração das três unidades de análise, é a habitabilidade desse lugar. Esta é a primeira variável a estudar no Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”. Entretanto, essa construção socioambiental tem forte intensidade na direção e no sentido da qualidade de vida da sua população residente. Esta é a segunda variável a estudar nesse loteamento. Vale registrar que o elemento lógico que relaciona essas duas variáveis é aquela forte implicação da primeira variável na segunda variável. Por isso, aquela é a variável independente e esta é a variável dependente. Adicionalmente, emerge outro elemento daquela construção que está presente entre essas variáveis e influi no aparecimento da variável dependente. É a variável interveniente - a terceira variável a estudar nesse loteamento.

maiores até os menores, desde que os que criam estruturas aos que embelezam essas estruturas e depois aos que embelezam os embelezamentos... (...) não há sequencia que o capte na perfeição".

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2.1.2 Lógicas de análise No entanto, tanto as obras da Terra quanto as obras do Homem têm suas próprias lógicas - que interagem. Para entender as lógicas de construção da Terra, procurou-se perceber a evolução e contornos da paisagem natural da região Goitacá (hoje, região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro) e, consequentemente, da Ilha Cultural (IC) e do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM). Para isso, deixou-se falar Lamego, sobre o Brejo (LAMEGO,1974a) e a Restinga (LAMEGO, 1974b), na sua relação com o Homem. E Soffiati, sobre as condições ambientais do Município de São Francisco de Itabapoana (SOFFIATI, 2009) e o gerenciamento ecológico dos canais do Norte Fluminense (SOFFIATI, 2011).

Porém, para entender as lógicas de construção do Homem, buscou-se compreender o desenvolvimento e limites da paisagem cultural dessa região e do LIM. No entanto, aí deixou-se também falar Lamego (LAMEGO,1974a e 1974b) sobre o Homem na sua relação com o Brejo e a Restinga. Outra dimensão utilizada para o entendimento da lógica de construção do homem foi a articulação dos atores através da compreensão proposta por Pedro Abramo (ABRAMO, 2011, p.217-236) - que define três grandes lógicas para coordenar as ações humanas, individuais e coletivas, que dominam o "mundo moderno": a lógica do Estado, a lógica do Mercado e a lógica da Necessidade.

Neste estudo pode-se observar a coexistência dessas três Lógicas na articulação das ações individuais e coletivas, a qual pode esclarecer as particularidades do LIM e a sua própria lógica. Dessa forma, neste trabalho pretendese encontrar a lógica da linguagem própria desse loteamento (fig.4).

Figura 4 – A Lógica da Linguagem do Loteamento “Ilha dos Mineiros”

Elaboração da autora, 2014

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Uma lógica que permita perceber uma imagem ambiental: a imagem de uma ilha física para os residentes e agentes públicos; e, para a autora, a imagem de ilha física intermitente desse loteamento inserida na imagem de uma ilha cultural. E uma imagem cultural: uma ilha intermitente percebida pelos residentes, pela vizinhança, pelos agentes públicos e pela autora.

Enfim, uma imagem socioambiental de um lugar de viver. Essa imagem pode ser obtida pelo estudo mais aprofundado da habitabilidade e da vulnerabilidade do Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”ַ e seu impacto na qualidade de vida das pessoas, principalmente das que aí vivem permanentemente.

2.1.3 Classificação qualitativa A cada uma das categorias de análise e por cada um dos 113 (cento e treze) participantes da pesquisa foi aplicada uma classificação qualitativa (tabela 1).

Tabela 1- Classificação qualitativa

Fonte: autora, 2014.

Porém, as transcrições, fotos e fichas técnicas resultantes das pesquisas de campo foram editadas de modo a preservar o direito de imagem e de privacidade desses participantes. As filmagens, feitas em formato digital, estão arquivadas fora de acesso público.

Além disso, por questões éticas e também para atender aos pedidos de anonimato feitos verbalmente à autora por esses 113 (cento e treze) participantes, na lista de todos estes (APÊNDICE A) ocultaram-se os respectivos nomes, endereços e cargos. A referência a cada um deles é feita por números gerados aleatoriamente em planilha de EXCEL, em ordem crescente. No entanto, foi usada uma numeração sequencial (de 1 a 113) também para esse tipo de ocultação: nas transcrições das

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entrevistas (APÊNDICE B); nas fichas técnicas9 (APÊNDICE C); e nas 6 (seis) matrizes (APÊNDICES D a I) - de “habitabilidade”, “vulnerabilidade” eַ “construçãoַ cultural”,ַnoַLIM. 2.1.4 Categorias de análise Para auxiliar a obter a imagem do LIM estudaram-se ideias, conceitos e temas de habitação, e entorno, de dois autores: Rybczynski (1996); e Vogel et al (1995).

Desse estudo resultaram dois grupos de categorias de análise (tabela 2 e 3). Essas categorias foram analisadas junto à realidade local.

Assim, para auxiliar a obter a imagem do LIM, associou-se a ideia deַ“casaconforto” ouַ“casa-lar”,ַdeַRybczynskiַ(1996),ַàַ habitabilidade da moradia desses residentes, como fundamental e com qualidade suficiente - de modo a poder gerar o "bem-estar" geral de uma família para além do seu "bem-estar" físico. Assim, para perceber as condições de habitabilidade dentro de habitações desse loteamento formou-se um primeiro grupo com catorze categorias para a primeira análise da construção cultural do lugar, emַtermosַdeַ“casa-lar”ַ(tabelaַ2).

Tabela 2- Habitabilidade X Categorias de “casa-lar”

Fonte: Capítulos de Rybczynski (1996), ajustados paraַ“categorias”ַpela autora, 2014

No que respeita às categorias de análise I, destaca-se a categoria “comodidade” (4) que resulta da classificação atribuída às categoriasַ“privacidade”

Foramַelaboradasַ15ַ(quinze)ַfichasַtécnicasַparaַ“lugaresַdeַviver”ַnoַLoteamentoַIlhaַdosַMineiros.ַ E 6 (seis) fichas técnicas para: lugar do Loteamento Ilha dos Mineiros; lugar do projeto e obra da Casa Popular tipo CEHAB; lugar de novos projetos de Casa Popular tipo CEHAB; lugar de construção de Banheiros Residenciais; lugar do Campinho (Projeto Zico); e Lugar do Centro de Referência de Assistência Social.

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(1),ַ “intimidade” (2) eַ “domesticidade” (3). Por sua vez, a classificação atribuída à categoria “bem-estar físico”ַ(6)ַaltera aַclassificaçãoַdaַcategoriaַ“comodidade”ַaoַ incluir o conceito de firmeza – associado à estrutura e estabilidade. Além disso, a categoriaַ “conforto”ַ(13)ַresultaַ daַ classificação dada às categorias “comodidade”ַ (4),ַ“luz”ַ(7),ַ“ar”ַ(8)ַeַ“eficiência” (9). E a categoriaַ“bem-estar geral”ַ(14) resulta da classificação das categorias10 “bem-estarַfísico”ַ(6),ַ“encanto”ַ(5),ַ“luz”ַ(7),ַ“ar”ַ(8),ַ “eficiência”ַ (9)ַ “estilo”ַ (10),ַ “essência”ַ (11) e “austeridade”ַ (12). Finalmente, a supracategoriaַ “habitabilidade”ַ procede da classificação de todas as categorias de “casa-lar”.

Complementarmente a esse primeiro grupo de categorias de análise, associouse a ideia de "casa-rua", “casa-família”ַ e “minha casa - de Vogel et al (1995) - à vulnerabilidade das moradias do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”ַe entorno. Dessa maneira, a partir de alguns temas11 que surgiram da pesquisa desses autores em seu estudo “comoַ asַ criançasַ veemַ aַ cidade”, formou-se um segundo grupo com dezessete categorias para uma segunda análise da construção cultural do lugar, agora em termos de “minha casa” (tabela 3).

Do grupo de categorias II, destaca-seַ aַ categoriaַ “moradia” (1) cuja classificação é igual à da categoriaַ “bem-estarַ físico”ַ doַ grupoַ deַ categoriasַ I. Adicionalmente, a “vizinhança”ַ incluiַ estasַ categoriasַ deַ análiseַ II:ַ “lazer”ַ (3);ַ “diversão”ַ(4);ַ“serviços”ַ(7);ַ“equipamentos”ַ(8);ַ“violênciaַnoַbairro”ַ(9)ַeַ“violênciaַ naַ localidade”ַ (10);ַ “segurançaַ noַ bairro”ַ (11)ַ eַ “segurançaַ naַ localidade”ַ (12);ַ “centro”ַ (13);ַ “governo”ַ (14);ַ “associaçãoַ deַ moradores”ַ (15);ַ “atividades”ַ (16);ַ eַ “trabalhoַnoַentornoַ(17)”. E o “habitat”ַlimita-seַàsַcategoriasַdeַanáliseַIIַ“poluição”ַ (2),ַ “paisagem”ַ (5)ַ eַ “cartão-postal”ַ (6)ַ - estas evidenciam a interação das construções cultural e natural.

Para efeitoַdaַclassificaçãoַdoַ“bemַestarַgeral”,ַ não se inclui aַcategoriaַ“conforto”ַporqueַestaַ duplicaria oַ usoַ daַ categoriaַ “comodidade”ַ jáַ inclusaַ naַ categoriaַ “bem-estarַ físico”.ַ Porַ isso,ַ consideram-se apenas as três outras categorias que permitiram o cálculoַdaַcategoriaַ“conforto”.ַDessaַ forma,ַpodeַocorrerַumַ“bem-estarַgeral”ַpiorַqueַumַ“bem-estarַfísico”.

11 Esses temas foram utilizados para estimular crianças de uma escola de ensino primário a falar do seu dia-a-dia. Pois, segundo eles, o modo como as crianças veem o seu lugar de viver é o indicativo dos "instrumentos elementares para observação e análise do que acontece" num determinado lugar.

Nesse lugar, o "ponto de partida é dar às pessoas condições para perceberem os fenômenos urbanos, através de reflexões sobre o quotidiano" (VOGEL et al, 1995, p.8).

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Tabela 3- Vulnerabilidade X Categorias de “minha casa”

Fonte: Temas de Vogel et al (1995), ajustados paraַ“categorias”ַpela autora, 2014

Da integração dessas duas ideias e desses dois grupos de categorias de análise emergeַ aַ ideiaַ deַ “minha casa-lar”ַ (ou,ַ simplesmente,ַ “meu lar”) na construção cultural de um lugar de viver. É essa ideia emergente que reflete uma imagem e uma linguagem próprias desse lugar de viver, as quais revelam uma construção cultural de padrões específicos que vai impactando na qualidade de vida dos residentes num ambiente antrópico. Os padrões aí encontrados podem evidenciar a qualidade e a vulnerabilidade física e social dessa construção.

Por fim, para a avaliação dessa construção cultural e a identificação da imagem socioambiental, do Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM) e entorno - conforme se explicitará no estudo de caso -, optou-se por aplicar todas aquelas 31 (trinta e uma) categorias de análise porque fizeram parte do imaginário dos entrevistados na 2ª visita de campo da pesquisa etnográfica explicitada a seguir. Essas categorias foram analisadas junto à realidade local, com base em implicações advindas de extratos de entrevistas, comentários, fotos, bem como de observações e fichas técnicas elaboradas pela autora.

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2.1.5 Caracterização e procedimentos da Pesquisa Etnográfica Ainda para se obter a “imagemַ socioambiental” do Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM), optou-se pela pesquisa etnográfica segundo Oliveira (1985, p.33).

Fizeram-se cinco percursos em datas distintas e números de participantes variados (tabela 4).

Tabela 4 - Percursos para coleta de dados e imagens da Pesquisa Etnográfica

Elaborado pela autora, 2014

O primeiro percurso da Pesquisa Etnográfica12 (fig.5), exploratório, foi da praia de Guaxindiba ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) no LIM. Foram visitados dois lugares críticos na RJ 232 e o trecho desde a Av. Atlântica ao CRAS, na zona central do LIM. Foi a primeira visita feita a esse loteamento, para construção de monografia da autora (FERREIRA, 2011). A Sra. Diviane Chagas, então presidente da colônia dos pescadores de Guaxindiba, além da entrevista a que respondeu, guiou-nos durante todo esse percurso. Foram feitas quatro entrevistas ao longo desse percurso, com filmagens de vídeo, fotos e anotações.

Figura 5 - 1º percurso da Pesquisa Etnográfica

Fonte: Google Maps, 2010. Adaptação da autora, 2014.

Em 29/07/2010, na companhia de Diviane Chagas (representante da Colônia de Pescadores de Guaxindiba) - para construção da monografia sobre Guaxindiba, do curso de Pós-Graduação, em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, na Universidade Federal Fluminense, em Campos dos Goytacazes.

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O segundo percurso da Pesquisa Etnográfica (fig.6) foi feito a partir da cidade do Rio de Janeiro até Guaxindiba13, passando pela sede do município de São Francisco de Itabapoana e de Campos dos Goytacazes, com retorno ao Rio de Janeiro. Desse percurso destacam-se: lugar da ponte em madeira sobre o rio Guaxindiba (1); Escola Municipal Dirceu Dias da Silva, em Guaxindiba (2); CRAS no centro do LIM (3); e entreposto “Mania de Pescado” (4), no extremo norte da localidade de Guaxindiba.

Foram entrevistadas sessenta e seis pessoas, apenas residentes no Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”ַe entorno imediato. Em ambos, além das entrevistas, foram usados instrumentos de coleta "mapa mental" e "poema dos desenhos" os quais serão explicitados no estudo de caso. Fez-se esse percurso no intuito de construir uma "imagem ambiental" do Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”. Usou-se um mapa mental (ou mapeamento cognitivo) de Lynch14, com estas expressões no topo de folhasַ emַ branco:ַ"Aַminhaַ casaַ éַassim...";ַ “Oַambienteַ daַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”ַéַ assim...”;ַeַ“Aַ“IlhaַdosַMineiros”ַéַassim...”.ַComַo primeiro pretendeu-se representar as ideias ou imageabilidade15 e legibilidade16 que o entrevistado tem do seu lugar de viver. Usou-se, ainda, o poema dos desejos de Sanoff17, com estas expressões no topo de folhas em branco: "Gostaria que a minha casa fosse assim...";ַ “Queַ oַ ambienteַ daַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”ַ fosseַ assim”;ַ eַ “Queַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”ַ fosseַ assim...”.

No loteamento Ilha dos Mineiros não tem hotel. Só em Guaxindiba.

Primeira utilização pelo psicólogo Tolman (1948). Lynch (1982) foi pioneiro na utilização de um mapa mental como instrumento para obter informações sobre a imagem ambiental das pessoas sobre determinados locais ou ambientes pesquisados (relação da pessoa com o seu ambiente). Nesse caso, o mapa mental consistiu na elaboração de desenhos ou relatos de memória representativos das ideias ou da imageabilidade que uma pessoa ou um grupo de pessoas tem de um determinado ambiente, podendo incorporar a experiência dessas pessoas com outras informações, experiências relatadas por outras pessoas, pela imprensa falada e escrita, ou pela literatura.

15 Capacidade de percepção do lugar através de elementos físicos e os principais elementos estruturadores da imagem ambiental - marcos, nós, limites, setores e percursos (LYNCH, 1982).

16Habilidade de interpretar os elementos de composição do urbano, organizados com coerência.

(LYNCH, 1982) 17 Instrumento desenvolvido por Sanoff (1995), para permitir aos usuários de um determinado ambiente declararem, por meio de um conjunto de sentenças escritas ou de desenho, suas necessidades, sentimentos e desejos relativos ao edifício ou ambiente analisado.

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Figura 6 - 2º percurso da Pesquisa Etnográfica

Fonte: Google Maps, 2013. Adaptação da autora.

O terceiro percurso da Pesquisa Etnográfica (fig.7) foi praticamente o mesmo anterior, destacando-se mais o centro da cidade de São Francisco de Itabapoana, o LIM, a praia de Guaxindiba e em Ponto de Cacimbas. Mas, ao longo desse percurso18, o foco foi em entrevistas gravadas, comentários ou fotos, sempre que os vinte e sete entrevistados permitiam. Essas entrevistas foram transcritas na íntegra pela autora.

No essencial centrou-se em entrevistas, a grande maioria gravada, com diversos agentes sociais públicos e privados, comerciantes, residentes no LIM e entorno.

Figura 7- 3º percurso da Pesquisa Etnográfica

Fonte: Google Maps, 2014. Adaptação da autora.

Esse percurso coincidiu com o evento do Dia das Mães no CRAS do LIM (fig.8).

Aproveitou-se esse evento para explicar, à comunidade local, o trabalho de campo da autora nesse loteamento. Nesse momento, algumas pessoas, residentes no LIM,

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Apenas um ou outro não permitiu a gravação em áudio ou bater fotos.

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contribuíram com declarações sobre ausências e deficiências nos serviços urbanos municipais no LIM, tais como: saneamento, energia, iluminação e segurança pública.

Figura 8 - 3º percurso da Pesquisa Etnográfica: aproveitamento de evento

Fonte: Acervo da autora, 2014 - Dia das Mães no CRAS do LIM.

O quarto percurso da Pesquisa Etnográfica (fig.9), do Rio de Janeiro ao Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”, passando por Campos dos Goytacazes, e com retorno ao Rio de Janeiro, priorizou a observação de exteriores e interiores de algumas casas desse loteamento, para fazer fotos e plantas baixas.

Figura 9 - 4º percurso da Pesquisa Etnográfica

Fonte: Josielma Nogueira (2014). Adaptação e acervo da autora.

A pesquisa centrou-se no LIM com observação de exteriores e interiores em casas, na margem do rio Guaxindiba e na zona central desse loteamento. Foram feitas

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21 (vinte e uma) fichas técnicas para moradias e respectivos entornos. E foram entrevistados catorze moradores.

Esse percurso coincidiu com a inauguração do Projeto Esporte RJ - “Zico 10”ַ(fig.10). Trata-se de uma escolinha de futebol no LIM para as crianças carentes do LIM e entorno. Aproveitou-se também esse evento para explicar, a representantes da comunidade local, o trabalho de campo da autora nesse loteamento.

Figura 10 - 4º percurso da Pesquisa Etnográfica: aproveitamento de outro evento

Foto da autora, 2014 - inauguração do Projeto Esporte RJ (Zico 10).

O quinto percurso da Pesquisa Etnográfica foi da cidade do Rio de Janeiro a Campos dos Goytacazes e São João da Barra, com retorno ao Rio de Janeiro. Esse percurso foi feito exclusivamente para falar com um entrevistado 19 residente em Campos dos Goytacazes porque ele é proprietário de dezoito lotes e ainda de uma casa no LIM. Assim, o intuito dessa visita foi tentar perceber a Lógica de Mercado imobiliário no Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”, em termos de venda e compra de lotes e casas. Tentava-se também verificar se foi feita ou não a transferência dos registros de imóveis do "sertão sanjoanense", da anterior sede municipal São João da Barra para a atual - São Francisco de Itabapoana. Foram, portanto, duas entrevistas agendadas e realizadas em Campos dos Goytacazes. Não se incluiu esse loteamento no itinerário porque estão em Campos dos Goytacazes as residências permanentes e eventuais locais de trabalho das duas pessoas entrevistadas: o proprietário de dezoito

Entrevista em 22/07/2014, não autorizou gravar ou fotografar, mas forneceu cópia de documentos referentes à sua titularidade desses lotes no Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM). O primeiro contato foi por meio da placa "vendo lotes (...) com escritura", afixada numa cerca no centro do LIM. Essa entrevista foi agendada por telefone e foi informado ao entrevistado o interesse do resultado dela para esta pesquisa acadêmica, tendo já deixada marcada, para o endereço residencial dele, em Campos dos Goytacazes, no dia 22/07/2014, às 10:00hs. O entrevistado foi simpático e pareceu falar verdade.

Recebeu a autora na varanda.

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lotes e uma casa nesse mesmo loteamento e um herdeiro do empreendedor desse Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”.

Nesses cinco percursos da Pesquisa Etnográfica, conseguiu-se a participação de 113 pessoas (APÊNDICE A). As entrevistas a representantes do poder público municipal buscaram uma abordagem qualitativa principalmente sobre sua atuação e suas propostas. Já as entrevistas aos residentes respondentes envolveram as seguintes dimensões: trajetória até esse lugar; situação das respectivas casas; e opinião e expectativa sobre o Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”.

Entretanto, além desses cinco percursos, observaram-se documentos oficiais e/ou documentos de particulares, para tentar delinear a história, procurar perceber eventuais transformações e a diversidade cultural regional e local, bem como definir melhor a situação atual da ocupação humana do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM) e entorno e da qualidade de vida dos que aí residem permanentemente.

Foram obtidas, ainda, informações com base em 105 (cento e cinco) entrevistas feitas pela autora - no LIM, em Campos dos Goytacazes, em São Francisco de Itabapoana, em Guaxindiba e em São João da Barra - a agentes sociais que, de alguma forma, ativa ou passiva, intervieram ou intervêm nesse processo de ocupação. Desses 113 participantes, 105 (cento e cinco) aceitaram ser entrevistados e, destes, destacam-se 66 entrevistas no 2º percurso e, ainda, 26 entrevistas no 3º percurso. Para essas entrevistas usaram-se 4 (quatro) tipos de instrumentos de coleta de dados: gravação; mapa mental; poema dos desejos; e ficha técnica.

Dos 8 (oito) participantes que não foram entrevistados, 7 (sete) apenas facultaram o acesso a suas casas para elaboração das respectivas fichas técnicas, no 4º percurso. Enquanto que apenas 1 (um) se recusou a responder - remetendo as respostas para o seu superior hierárquico -, no 3º percurso.

Relativamente ao total de participantes (113) fizeram-se 22 (vinte e duas) gravações20 - transcritas, na íntegra, pela autora (APÊNDICE B) -, algumas filmagens, fotos e anotações. Obtiveram-se21 62 (sessenta e dois)ַ “mapasַ mentais” e 61 (sessenta e um)ַ“poemasַdeַdesejos” (ANEXO D). E elaboraram-se 15 (quinze) fichas

20 21

1 (uma) no 2º percurso, 17 (dezessete) no 3º e 4 (quatro) no 4º percurso.

Todos no 2º percurso.

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técnicas22 deַ“lugaresַdeַviver”ַ- casas visitadas nesse loteamento (plantas-baixas, anotadas).

A importância do 4º percurso está na elaboração minuciosa da maioria das fichas técnicas (12)23. E a importância do 5º percurso, apesar de terem sido feitas apenas duas entrevistas, está no fato destas terem sido feitas a um entrevistado, ligadoַ aoַ empreendedorַ doַ Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”ַ eַ umַ proprietárioַ deַ dezoito lotes e uma habitação nesse loteamento.

Observou-se que apenas em um caso (uma habitação de boa qualidade) foi obtida a escritura do conjunto de dezoito lotes de um mesmo proprietário – sendo esta a única situação regular encontrada.

O primeiro resultado dessa pesquisa de campo é a caracterização da população entrevistada. O segundo resultado é a síntese da aplicação das categorias de análise ao LIM e entorno, traduzida em classificação qualitativa. O terceiro resultado é a confirmação da hipótese deste trabalho. O primeiro resultado evidencia a composição geral da amostra coletada e, por isso, será apresentado a seguir. O segundo resultado revela a habitabilidade e vulnerabilidade do LIM como lugar de viver, e, portanto, será apresentado no estudo de caso, subtópicoַ“aַilhaַculturalַtornaseַumַlugarַdeַviver”. O terceiro e último resultado, corolário de toda a pesquisa de campo, será mostrado nas considerações finais.

2.1.6 Caracterização da população entrevistada Como parte dos procedimentos metodológicos da pesquisa de campo, observaram-se certas características da população contatada. Como já se viu (rever apêndice “A”), participaram dessa pesquisa 113 (cento e treze) pessoas, para, de alguma forma, falarem de si e/ou do Loteamento “IlhaַdosַMineiros” (LIM) e/ou seu entorno.

Observou-seַqueַsóַosַdadosַsobreַ“gênero”ַforamַobtidosַaַpartirַdeַtodosַ os participantes - inclusive do que recusou ser entrevistado. E verificou-se que parte significativa desses participantes informou o local onde nasceu, bem como a idade, o lugar onde morava, o nível educacional e a atividade que desenvolvia, por ocasião da entrevista.

1 (uma) no 2º percurso, 1 (uma) no 3º percurso, 12 (doze) no 4º percurso e 1 (uma) no 5º percurso.

As outras 3 fichas técnicas foram feitas: uma no 2º percurso, outra no 3º percurso e a restante no 5º percurso.

22 23

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De todos os participantes, 60 (sessenta) são do gênero feminino e 53 (cinquenta e três) do masculino. Para o estudo de caso, ressalta-se a distribuição por gênero no LIM: 48 participantes do gênero feminino; e 28 participantes do gênero masculino.

Para todos os participantes dessa pesquisa, evidenciou-se o local onde nasceram, com especial ênfase para os residentes no LIM. No entanto, 32 (trinta e dois) participantes não informaram o seu local de nascimento e, desses, 16 (dezesseis) residem no LIM. Além desses, o que também se evidencia são 29 (vinte e nove) participantes nascidos em parte mais afastada no Município de São Francisco de Itabapoana (MSFI), 42 (quarenta e dois) participantes nascidos fora do MSFI e 8 (oito) participantes nascidos no entorno desse loteamento - Gargaú, Guaxindiba e Sossego. Enquanto que apenas 2 (dois) participantes nasceram e moram no LIM, assinalaram-se 25 (vinte e cinco) participantes nascidos na cidade de Campos dos Goytacazes e 13 (treze) na cidade de São Francisco de Itabapoana, mas que moram no LIM. A precariedade do lugar pode indicar o fenômenoַdeַ“nascerַforaַdaַpequenaַ localidadeַdeַresidênciaַeַdesseַmunicípio”. Assim sendo, nenhum dos residentes no LIM e que informaram sua naturalidade nasceu no estado de Minas Gerais e, por isso, nenhumַdelesַéַ“mineiro”.ַOַúnicoַparticipanteַ“mineiro”ַnasceu em Carangola (MG), mas nunca residiu nesse loteamento.

Do total de participantes na pesquisa, 43 (quarenta e três) não informaram a respectiva idade. Dos que informaram, 49 (quarenta e nove) têm idade igual ou inferior a 21 anos e 21 (vinte e um) participantes têm idade superior a 21 anos. Ressalte-se que, no caso do LIM, 23 (vinte e três) não informaram a respectiva idade. Dos que informaram, 45 (quarenta e cinco) têm idade igual ou inferior a 21 anos, destacandose: 10 participantes com 11 anos; 5 participantes para cada uma das idades 7, 10, 13 e 17 anos. E apenas 8 (oito) participantes têm idade superior a 21 anos. Isso evidencia aַimportânciaַdosַinstrumentosַ“MapaַMental”ַeַ“PoemaַdosַDesejos”ַutilizadosַnaַ pesquisa etnográfica.

Assim, do total de participantes da pesquisa, 76 (setenta e seis) moram no LIM e 10 (dez) no seu entorno - Guaxindiba. Enquanto que 18 (dezoito) desse total não informaram o local onde moram. O estudo de caso aprofundará a construção cultural desse loteamento e a qualidade de vida de, pelo menos, aqueles setenta e seis participantes.

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Do total de participantes na pesquisa, 47 (quarenta e sete) não informaram o respectivo nível educacional. Dos participantes que informaram, destacam-se outros 48 (quarenta e oito) que declararam ter o ensino médio - sobressaindo destes o 3º com 10 (dez) participantes e o 7º com 8 (oito), bem como o 2º, 4º e 6º, cada um com 6 (seis) participantes. Dos demais participantes: 5 (cinco) assumiram ter o ensino fundamental e 5 (cinco) o ensino superior; 3 (três) admitiram ter o ensino técnico, 3 (três) admitiram ser professores; e, finalmente, apenas 2 (dois) admitiram ser “analfabetos”. Observa-se que, no caso do LIM, 29 (vinte e nove) não informaram o respectivo nível educacional. Dos que informaram: 43 (quarenta e três), ensino médio; 1 (um), ensino fundamental; 1 (um), professor; e 2 (dois), “analfabetos”.

Do total de participantes na pesquisa, 22 (vinte e dois) não informaram a respectiva atividade. Dos que informaram, destacam-se outros 56 (cinquenta e seis) que se declararam estudantes. Dos demais participantes, 16 (dezesseis) assumiram ser agentes públicos e 16 (dezesseis) agentes de mercado, 2 (dois) admitiram ser professores e, finalmente, apenas 1 (um) admitiu ser agente religioso. Nota-se que, no caso do LIM, 15 (quinze) não informaram a respectiva atividade. Dos que informaram: 52 (cinquenta e dois) são estudantes; 8 (oito) são agentes de mercado; e 1 (um) é agente público.

Ainda como parte destes procedimentos metodológicos, aprofundou-se a revisão bibliográfica e recorreu-se a fontes oficiais para assinalar acontecimentos históricos, de cunho geográfico, de interesse para a vida política, social e geográfica fluminense, bem como para perceber melhor a vulnerabilidade e o processo de ocupação do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM).

Dessa forma, pode-se perceber as características tanto da população residente num lugar interpretando o próprio ambiente através de sua cultura quanto o seu entorno

sendo

alterado

pela

própria

ação

humana

através

da

cultura

local/regional/estadual/nacional. Além disso, as categorias de análise permitiram conhecer atributos que caracterizaram a identidade, a cultura e o sentido do LIM como assertivas históricas desse lugar.

Assim, com o esquema a seguir (fig.11), busca-se indicar o modo como foi organizada a relação entre diversos elementos para se conseguir uma imagem socioambiental do LIM. Finalmente,ַcomַessaַ“imagemַsocioambiental”ַdoַLIM pretende-se auxiliar os seus residentes atuais em suas próprias propostas na conquista de melhor qualidade

38

de vida para eles, no seu lugar. De tal modo que tanto o seu ambiente natural como seu ambiente edificado formem um palco menos vulnerável - onde se desenvolvam as suas atividades e necessidades humanas que pode ganhar mais valor e significado para eles.

Figura 11- Loteamento “Ilha dos Mineiros” - “Imagem socioambiental”

Elaborado pela autora, 2014

2.2

ASPECTOS CONCEITUAIS O quadro conceitual básico refere-se a paisagem, lugar, conforto e pertença. Por

isso, procura-se conceituar apenas paisagem e lugar, para, posteriormente, destacar algunsַaspectosַassociadosַaosַconceitosַdeַ“lar”ַeַdeַ“pertença”, a aplicar ao estudo do Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM). Primeiro, destacam-se aspectos dos conceitos de paisagem por Ronai (1977) e Sauer (1925) - aflorando-se a cultura segundo English (1968). E privilegiam-se aspectos dos conceitos de lugar por Holzer (2012). Depois, aprofunda-se a existência e o destino do Homem na sua relação direta com a Terra, através da Cultura. Uma cultura da qual faz parte a Casa ou Moradia ou Habitação, donde emergem os conceitos de habitabilidade e vulnerabilidade, e uma evolução conjunta destes. Uma evolução da qual se destacam as ideias de: "casaconforto", de Rybczynski (1996), associada a "casa-lar", impactando mais na habitabilidade; e "casa-rua" e "casa-família", de Vogel et al (1995), consolidadas no conceito a "minha casa", com maior impacto na vulnerabilidade. Uma cultura e uma evoluçãoַ queַ configuramַ aַ “pertença”ַ aoַ lugarַ eַ sãoַ perceptíveisַ tantoַ nasַ

39

observações das crianças modernas quanto nas lógicas de coordenação socioespacial modernas.

Dessa maneira, pode-se compreender melhor o LIM e a sua coordenação socioespacial, em termos de habitabilidade e vulnerabilidade de um lugar na paisagem.

2.2.1 Paisagem: natural e/ou cultural No que respeita ao significado de paisagem, Ronai (1977, p.1, 3 e 6) coloca esta em oposição a "território" e, dentre outros, diz que ela é a valorização da pequena escala da espacialidade24 como escala operacional das estratégias do “poder moderno”.

A paisagem pode ser abordada, também, como uma área composta por uma associação distinta de formas simultaneamente físicas e culturais - em que os fatos da geografia são fatos do lugar, e a associação destes origina o conceito de paisagem, como indica Sauer (1925, p.23). É ainda esse autor (SAUER, 1925, p.42, 49 e 58) que, no todo de uma determinada paisagem, analisa cada uma das suas partes integradas: a paisagem natural, formada ao longo do tempo por fatores geognósticos e climáticos - clima, terra, mar, litoral e vegetação - e a paisagem cultural, formada ao longo do tempo pelo fator cultura humana e usando como meio a própria paisagem natural - população, habitação, produção e comunicação. Dos atributos da paisagem como um todo, referidos por Sauer (1925, p.28-30), destacam-se estes três: uma identidade; um conteúdo algo menor do que o todo de seus componentes visíveis e qualidades físicas determinadas a partir de um valor de habitat humano (presente ou potencial) de interesse local; e uma divisão em paisagens naturais (como expressão qualitativa do lugar) e paisagens culturais (como expressão cultural25), cujos elementos estão ligados entre si numa unidade geográfica.

Entretanto, para English (1968, p.198-200, tradução livre), entre o ambiente e o ser humano, existe uma caixa-preta (cultura) por onde deve fluir a relação entre

Para Ronai (1977, p.4), a espacialidade "é uma relação operacional e semiótica, estratégica e ideológica, que uma sociedade ou grupo social tem com o espaço", em que "a paisageadade sanciona e acompanha mudanças de escala nas relações entre poder, produção e troca".

25 A marca da ação do homem num lugar "é pensar em cultura como expressão geográfica" (idem, p.30).

24

40

ambiente e ser humano26. Assim, observa-se no relato de English (1968, p.199, tradução livre) que cultura implica duas assertivas, simples e corretas: "o ser humano interpreta o seu ambiente através de sua cultura"; ou "o ambiente é alterado pelo ser humano através de sua cultura".

Nesta dissertação, opta-se pelos conceitos de paisagem de Sauer e procura-se abrir a caixa-preta de English, de modo a poder perceber a vulnerabilidade de um lugar em termos da relação entre paisagem natural e paisagem cultural.

2.2.2 Lugar: resultado de processo existencial humano Lugar, um conceito marginal para a geografia, foi por longo tempo associado ao conceito de locação, relativo à localização de um determinado ponto no espaço (do mapa). (HOLZER, 2012)

Alguns dos aspectos do conceito de lugar a realçar, segundo Holzer (2012), relacionam-se com a experiência intersubjetiva de espaço (mundo) nestes fundamentos: as distâncias e direções, a serem vencidas fisicamente ou na imaginação, sobre um determinado "suporte" ao qual se pode chamar "espaço geográfico"; a partir de vivências cotidianas, o lugar constitui-se como um centro de significados e como um "intervalo"; finalmente, é onde se experimenta intensamente a geograficidade proposta por Dardel27. Essa geograficidade trata do conteúdo existencial do ser humano na sua relação com determinado espaço terrestre e, à medida que esse ser humano se apropria deste espaço, este, a partir da fixação de distâncias, torna-se "mundo" - onde os marcos referenciais são o corpo e a matéria em que esse ser humano se apoia. Assim, parafraseando HOLZER (2012), no final desse processo de apropriação, o espaço primitivo torna-se um lugar.

Nesta dissertação, aprofundam-se a existência e o destino do homem na sua relação direta com a terra, através da cultura. Uma cultura da qual faz parte o conceito de casa - ou moradia ou habitação - donde emerge o conceito de habitabilidade e sua evolução. Complementam esse quadro teórico osַconceitosַdeַ“casa-conforto”,ַ“casa-

E não qualquer das duas posições universais, deterministas e unidirecionais de agente ativo exclusivo: numa ótica natural (o ambiente comoַ agenteַ ativo,ַ dosַ “deterministasַ ambientalistas”,ַ darwinianos); ou numa ótica cultural (o ser humano comoַagenteַativo,ַdosַ“deterministasַculturais”,ַ como Sauer) 27 Geograficidade é a relação direta do homem com a Terra e trata da existência e destino humanos.

(DARDEL apud Holzer, in MARANDOLA et al, 2012, p.291) 26

41

família”ַeַ“casa-lar”,ַdeַRybczynski,ַbemַcomoַos deַ“minhaַcasa”ַeַ“casa-rua”,ַdeַ VOGEL et alii.

2.2.3 Habitabilidade: casa-lar Perante ideias da arquitetura de então, Rybczynski (1996, p.7-8) tentou descobrir oַ“significadoַdeַconforto"ַeַoַ"conceitoַdeַlar" ambos através da "pequena história" de uma ideia de casa. Para isso, esse autor observou aspectos relacionados a nostalgia, privacidade, intimidade, domesticidade, comodidade, encanto, bem-estar físico, luz, ar, eficiência, estilo, essência, austeridade, conforto e bem-estar geral.

Porém, dado o processo de apropriação do lugar estudado neste trabalho, apenas não foram observados aspectos referentes a “nostalgia”.ַPorquanto,ַsegundoַ Rybczynski (idem, p.16, 17, 23 e 26, 221), a nostalgia é o desejo por tradições ou por hábitos e rotinas, num mundo caracterizado por mudanças e inovações constantes, emַqueַ“oַmundoַmodernoַéַdeixadoַdeַfora”.ַEַéַtambémַumַ“sinalַdeַinsatisfaçãoַ com o presente”,ַ emַ queַ asַ pessoasַ seַ voltamַ paraַ oַ passadoַ porqueַ estãoַ procurando algo que não encontram no presente: conforto e bem-estar. Ora, no estudo de caso mais adiante, a nostalgia poderia ser quanto muito “umaַaparênciaַouַ sensação que produz satisfação ao lembrar ou imaginar, intencionalmente, um passado histórico que, não existindo, é inventado para levar a fazer parte dele (re)vivendo,ַnoַimaginário,ַoַqueַgostariaַdeַterַvivido”.

No que respeita aos demais aspectos observados para o estudo de caso...

Privacidade (idem, p.32, 38, 40, 48, 54, 117), retém-se a ideia de associar uma função específica a um só cômodo, no qual se pudesse ficar a sós ou fazer atividades específicas - "privacidades". E a existência de um mundo interno do indivíduo com forte consciência do próprio ser e da família.

Intimidade (idem, p.31, 51, 55, 59, 61 e 63), não se confunde aconchego com arrumação da casa, mas reflete-se a ocupação e a marca do morador, identificando a casa exclusivamente com a vida familiar. A intimidade é consequência da consciência humana entendendo a casa como o "centro da vida familiar", de marido e esposa como um casal, e a presença dos filhos na casa e sua educação pelos pais. É o atual conceito da casa de família ou casa-família ou casa-lar. Esse senso de intimidade doméstica foi uma das mais importantes invenções humanas, pois não afeta somente o ambiente físico, mas também a consciência das pessoas.

Domesticidade (idem, p.63, 75-76, 81-85), olha-se a arrumação, o cuidado e a limpeza no interior doméstico de uma casa, ou no próprio entorno desta. É a

42

administração e o trabalho doméstico especializado, valorizando a praticidade na casa como mundo das mulheres. A domesticidade é a "feminização da casa" como um dos eventos mais importantes na evolução do interior doméstico. Mas é também um conjunto de emoções sentidas e a "imposição de um código específico de comportamento" num lugar de abrigo, sob o controle feminino e incorporador de sentimentos de família, intimidade e devoção ao lar.

Comodidade (idem, p.100), o primeiro dos três conceitos da doutrina28 proposta pela primeira vez pelo romano Vitrúvio, designa "conveniência e adequação". Significa também "conforto" muito peculiar.

Encanto (idem, p.100 e 109), o segundo daqueles três conceitos dessa doutrina, refere-se ao que seja "puramente estético", trazendo à mente humana a elegância e a beleza.

Bem-estar físico (idem, p.41, 87, 117-118, 127-129), liga-se à evolução da quantidade e distribuição funcional do interior da casa e seu entorno – uma evolução iniciada na Idade Média da Europa, com a "casa grande" como "lugar social". Mas remete efetivamente para a noção francesa de casa, que orientou o pensamento europeu da época rococó. Nessa ocasião os cômodos começaram a ser vistos como "um local para se realizar atividades humanas" e "estavam se tornando um lugar" - e não mais como um artefato ou obra de arte ou "espaço bonito". Assim, o bem-estar físico, "para se tornar um lugar", requer, no mínimo, uma combinação moderna, simples, de "cômodos comuns", "cômodos privados para os membros da família", "corredores para a circulação" e móveis com funções específicas, "elegantes e úteis".

Luz (idem, p.131-132, 138, 146-147, 148, 150 e 159), durante o dia, transforma o interior sombrio das casas em ambiente iluminado naturalmente por janelas em grandes peças de vidro claro.

Ar (idem, p.131, 139, 141 e 145), passa a circular e a ventilar naturalmente as casas, por janelas em molduras que correm convenientemente. E a qualidade do ar é medida pela complexidade dos fatores que influenciam o conforto atmosférico no

Doutrina que o arquiteto de Luis XV (Blondel, fundador da primeira escola de arquitetura de tempo integral na Europa) insistia que fosse considerada como base para a "arquitetura bem-sucedida". Em que o terceiro conceito é "firmeza" e refere-se ao que seja "necessário à estrutura". (RYBCZYNSKI, p.100).

28

43

interior de uma casa: temperatura, umidade relativa, circulação, ionização, poeira, odores, oxigênio e dióxido de carbono.

Eficiência (idem, p.156-157,162-163, 176-178), vincula-se à falta de energia que, no século XIX, limitava fortemente a tecnologia doméstica e a tornava ineficiente - principalmente a ventilação e o aquecimento no interior das casas, por não estarem desenvolvidos de modo a não dependerem das forças da gravidade e de convecções naturais. Mas, no início do século XX, a "nova administração do lar" e os princípios da "engenharia doméstica" passaram a sugerir como cada aspecto do serviço doméstico podia ficar mais eficiente (cozinhar, lavar roupa, limpar, fazer o orçamento e as compras).

Estilo (idem, p.111-113, 118-119, 182,184 e 186), apreciado durante algum tempo29, torna-se "fora de moda" e depois é esquecido ou apenas lembrado pelos livros de história. No século XX: inicialmente, continuou o fascínio pela ideia de "recriar o passado" com os "estilos Luís", mas a intenção era adaptar a história à vida contemporânea, e não o contrário; e, em meados desse século, com a arquitetura pós-moderna, houve o interesse de recuperar estilos, mas raramente com precisão histórica, um estilo contemporâneo cuja ideia era "brincar com a história". Quando o que se precisa é de "um estilo doméstico mais íntimo" que reflita o "símbolo do calor familiar", um "estilo de vida mais à vontade".

Essência (idem, p.184-186, 197-198), o calor familiar que emerge do conjunto de casa pequena, "charmosa", "pitoresca", aconchegante e confortável - com cômodos planejados e decorados de acordo com as necessidades e atividades a desenvolver neles. A "casa de família" é guiada pela conveniência e pelas personalidades e hábitos da família - não "uma máquina para se morar" nem guiada pela tradição.

Austeridade (idem, p.210 e 221), tanto visual quanto táctil, liga-se a uma arquitetura minimalista, de "paredes lisas" e "cômodos sem decoração", num empenho de racionalização e simplificação.

O "tempo normal" é cerca de 50 anos, mas não se pode falar exatamente de "estilos de época" até o século XVIII - apesar da decoração de inspiração clássica refletir um apreço pelas culturas gregas e romana, não havia um precedente histórico para os interiores barrocos e, muito menos, para os do rococó que, em 1770, já haviam saído de moda e sido substituídos pelo neoclassicismo que tentou conscientemente recriar o estilo da Roma Antiga. (RYBCZYNSKI, p.46-47) 29

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Conforto (idem, p.34-36, 133, 129, 223, 227, 230, 235-236), passa a incluir não somente o "encanto visual" e o "bem-estar físico", mas também a "utilidade". E passa a ser considerado "calmante", a parecer "natural" e a ser "cuidadosamente arquitetado". A noção de conforto não deve ser confundida com a aparência externa dos cômodos (decoração - um produto da moda) nem com o modo como esses cômodos são usados (comportamento social - função de hábitos e costumes). Devese olhar o passado levando em consideração a própria noção de conforto - não de um ponto de vista estilístico -, repensando-se as tradições burguesas de conforto ao fazer uma crítica implícita à modernidade, mas sem rejeitar a mudança. O conforto: não é o sentir-se bem em termos de fisiologia humana ou de experiência subjetiva de satisfação; nem é descoberto cientificamente, ao se medir os limites onde as pessoas começam a sentir desconforto, como "uma condição em que se evitou o desconforto".

O conforto é uma invenção verbal ou um conceito cultural, ao mesmo tempo, simples e complexo, que inclui diversas camadas transparentes de sentidos, como privacidade, bem-estar, conveniência. Alguns mais profundos que os outros, conforme o contexto social histórico30, que reagem a diversas forças externas - sociais, econômicas e tecnológicas-, mas preservando a maioria de seus significados anteriores. Assim, em qualquer época, o conforto é uma sensação que consiste em todas as camadas, não só as mais recentes. E envolve uma gama de atributos (conveniência, eficiência, lazer, bem-estar, prazer, domesticidade, intimidade e privacidade), bem como uma combinação de sensações físicas, emocionais e intelectuais. Sem o conforto, as casas realmente serão máquinas em vez de lares.

Bem-estar geral (idem, p.223-224, 226-228 e 236), dado pelo bem-estar doméstico como uma necessidade humana fundamental31 profundamente enraizada nas pessoas. Uma necessidade que precisa ser satisfeita mediante um "interior doméstico" que revele sensações de domesticidade aconchegante - materiais simples, janelas do tamanho certo no lugar certo, móveis embutidos e móveis práticos

A noção de conforto tem-se desenvolvido historicamente: no século XVII, conforto significava privacidade, o que levou à intimidade e, por sua vez, à domesticidade; no século XVIII, o conforto passou a enfatizar o lazer e o bem-estar; no século XIX, o conforto passou a estar associado à mecânica para obter luz, calor e ventilação; no século XX, as "engenheiras domésticas" enfatizaram a eficiência e a conveniência. (RYBCZYNSKI, p.235) 31 Na casa medieval europeia havia a combinação entre o primitivo (nível de civilização primitivo e précristão, cheiro de sangue) e o refinado (nível de civilização cortês e religioso, cheiro de rosas).

(RYBCZYNSKI, p.46-47) 30

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e confortáveis, incorporação de nova tecnologia às casas, sem sacrificar os confortos tradicionais. Sensações de privacidade, como gradação planejada, mas irregular, dos cômodos, de uma série de pequenos lugares para sentar, e de lidar com a conveniência e eficiência sem criar uma atmosfera fria e maquinal32. Sensações de intimidade, em que o "plano aberto" não deve "fluir" de um cômodo para o outro, para que não "fluam" também o que se vê e o que se ouve; ao contrário, o que se precisa é de muito mais cômodos pequenos para se adequar a ampla variedade de atividades de lazer na "casa moderna". O bem-estar doméstico é muito importante por ter sido sempre uma questão da família e do indivíduo.

Nesta dissertação, esses aspectos conceituais serão considerados como categorias de análise da supracategoria habitabilidade na construção cultural do lugar.

2.2.4 Vulnerabilidade: minha casa Não se pode falar de habitabilidade e olvidar-se da vulnerabilidade, física e social, dos que habitam num lugar. E não se pode falar dessa vulnerabilidade sem levar em conta as crianças em lugares onde a exposição a riscos é evidente. Em que a observação extraordinariamente atenta de crianças e adolescentes, dedicada ao fenômeno urbano, mostra a cidade como lugar de viver visto em termos de "casa e rua", "pureza e perigo", "céu e inferno", "problema e prazer".

Por isso, neste trabalho, adotou-se a ideia simples e original de Vogel et al (1995) "Quando a Rua Vira Casa" - masַaַpartirַdoַmodoַcomoַasַ“Crianças Veem a Cidade".

Foram nove os temas desenvolvidos nos estudos desses autores (idem,1995, p.10) com base nas observações de crianças: 1) Moradia; 2) Poluição; 3) Lazer e Diversão; 4) Cartão-Postal, como Paisagem; 5) Serviços e Equipamentos; 6) Violência e Segurança no Bairro e na Cidade; 7) Centro; 8) Governo e Associação de Moradores; e 9) Atividades e Trabalho. Apresentam-se a seguir interpretações de VOGEL et al às respostas das crianças naquele estudo, as quais se mostraram importantes para a aplicação e análise desses temas neste trabalho...

A ideia principal é a de moradia comoַ“casa-rua”,ַpoisַruas e casas existem, nas cidades, como termos de "uma oposição complementar" em que se distinguem e se articulam ao mesmo tempo (VOGEL et al, 1995, p.15).

Como a conveniência e a eficiência de ter as ferramentas descobertas em lugares acessíveis, próximas de onde o trabalho é realizado - não escondidas debaixo das bancadas ou em armários fundos e difíceis de alcançar. (RYBCZYNSKI, p.228) 32

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Quanto à rua em que se mora - a "minha rua" -, esta aparece como "algo mais do que um conjunto de equipamentos urbanísticos". Assim, a "minha rua" é uma estrutura mínima formada por um conjunto de casas voltadas para um caminho, ou, reversamente, um caminho através do qual se alcançam algumas casas. Nessa perspectiva, a “minha rua”ַé:ַaַminhaַcasa;ַaַcasaַdosַmeusַvizinhos;ַaַpadaria;ַoַ açougue; a pracinha; a banca de jornais... Ela é tudo aquilo, enfim, que compõe "o ambiente urbano mais imediatamente ligado à vida quotidiana que gira em torno da casa onde se mora". Como revelou uma daquelas crianças, "na minha rua, eu me sinto em casa". (VOGEL et al, 1995, p.15-16).

Para a moradia em si, Vogel et al (1995, p.20) dizem que, de um modo geral, "as pessoas se dividem em duas grandes categorias: as que moram bem e as que moram mal". Quanto ao "morar mal" (idem), isso está associado à ideia de "abrigo incapaz de cumprir a sua função" e, por isso, casas velhas ou sem laje, sem telhado, sem portas, sem janelas, ou com paredes rachadas, "não prestam". Mas esses autores acrescentam (idem) que está também ligado a outras necessidades e expectativas - como ter que "funcionar bem", mediante a existência de equipamentos necessários que permitem "tratar bem o corpo" e cumprir os "ritos fundamentais".

Em suma, o estudo de Vogel et al (1995, p.24-25) revelou que quem não tem casa não tem lugar - é uma pessoa sem paradeiro certo. E que as crianças estabelecem os padrões da boa moradia, do "morar bem" ou morar decentemente: casa própria, bonita, grande, segura, confortável, limpa, com água encanada, quintal, jardim, plantas, piscina, garagem, elevador e, dentro da casa, coisas bonitas, além de coisas necessárias ao bem-estar material, tudo para se morar “comַamor”. Além disso, esse estudo revelou, ainda, outras características e padrões “fora”ַdaַcasaַouַdaַruaַ em si mesmas, mas que afetam o lugar de viver...

Vogel et al (1995, p.45, 50-51, 53) destacam a poluição como sendo "a maior ameaça ao ser" e que "agride a natureza". Embora haja "casos" em que a natureza contribui de modo direto para provocar a poluição, o estudo deles refere três modos de poluição: modo visual, através de "coisas feias"; modo auditivo, por "ruídos desagradáveis"; e modo olfativo, via "emanações malcheirosas".

Nesse estudo (VOGEL et al, 1995, p.117-119), o lazer e a diversão estão associados aos verbos: "assistir" - circo, cinema, corridas, futebol; "passear" e "brincar" - no parque, na rua, no jardim; e "jogar". A todas essas atividades atribui-se um "estado de espírito de descontração e informalidade". Esse espírito é melhor na

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casa, jardim e quintal privados - "áreas de lazer controladas". Mas vale também para as "áreas de lazer propriamente ditas" que fazem parte dos prédios de apartamentos (com seus brinquedos e parquinhos) ou os clubes onde os pais levam seus filhos aos domingos (ou para onde os mandam acompanhados de empregadas e babás). Enfim, para esses autores, o espaço controlado e vigiado privado cede terreno à rua, à praça e ao bairro. É nesse espaço onde começa o "variadíssimo leque" de contatos, relações, espetáculos e equipamentos, que podem satisfazer os mais ousados e fantasiosos sonhos de lazer e diversão.

Para Vogel et al, (1995, p.75-77, 79-80),ַoַ“cartão-postal”ַé associado ao modo como as pessoas residentes num lugar o apresentam aos demais que não moram ali.

Como elas convencem os que não moram esse lugar, pela "força de uma imagem", de que vale a pena pelo menos uma viagem até seu lugar. Transmite-se uma "boa notícia" e uma "visão deslumbrante ou pitoresca" (considerada paisagem natural), bem como minimiza-se eventual "traço desfavorável". Assim,ַaַideiaַdeַ“cartão-postal”ַ na análise deste trabalho está ligada exclusivamente à perspectiva do morador do lugar. Portanto, não tem qualquer relação com a perspectiva estética ou cultural de qualquer outro observador que não seja o próprio morador.

Nesse estudo (VOGEL et al, 1995, p.89-91, 93), os serviços e equipamentos estão associados a um "olhar do quotidiano" preocupado com o que o morador precisa, usa ou merece. Importando a esse olhar apenas os aspectos funcionais da vida urbana, suas necessidades e os meios para satisfazê-las. Tudo num discurso da necessidade, em que "abandono e esquecimento são palavras-chave", num "falta tudo" onde se destacam: falta de limpeza em geral; falta de esgotos e canalização de água (saneamento básico); falta de luz artificial; falta de sinalização nas ruas; falta de condução (transporte); falta de quadras de esportes, de escolas de samba, de clubes e de outras áreas de lazer; falta de praças (mais verde e mais árvores); falta de escolas e de creches; falta de postos de saúde e hospitais; falta de delegacias e de policiamento ostensivo; falta de feiras, de centros comerciais e de supermercados; falta de bancos; falta de igrejas; falta de associação de moradores; falta de cursinhos no bairro (curso de inglês e datilografia). Para esses autores, sabendo-se que "o necessário é sempre contextual e controvertido", cada bairro deveria contar com "uma quantidade suficiente de moradias" e com "toda a infraestrutura necessária para proporcionar condições essenciais à função do habitar".

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Esses autores (idem) também dizem que a violência - “corporal”ַe/ou “espiritual”ַ (ouַ “mental”) - assume, antes de tudo, um caráter de experiência quotidiana que assusta. Numa visão de "fatalidade iminente, mas que ataca de surpresa" e compromete o sentimento de segurança das pessoas, tanto no bairro quanto na cidade. A isso, eles acrescentam que a violência compromete esse sentimento de segurança. Principalmente em espaço urbano considerado como “lugarַesquecido”ַe “lugarַabandonado” pelos próprios habitantes. Ouַ “marginalizado” por estigma feito pelos que aí não residem. Pois, ainda segundo esses autores, é nesses lugares que se encontram, além das piores condições de saneamento, os contextos sociais mais problemáticos. Num simultâneo de poluição, pobreza e marginalidade. Como as favelas que são "insalubres, miseráveis e abrigam pessoas consideradas perigosas".

E eles afirmamַqueַessaַsegurança,ַcomoַ"categoria”,ַassumeַumַduploַsentido.ַOַ primeiro sentido é o estado de "resguardo efetivo diante da violência", que designa a ordem e significa estar a salvo dos atos de violência - não se sentir ameaçado por assaltantes, tarados, motoristas agressivos, fome, miséria ou poluição. O segundo sentido designa as "forças legítimas de vigilância e repressão de todos os eventuais fatores ou agentes da violência". Neste caso, porém, esses autores dizem que surge oַ paradoxoַ daַ “violênciaַ policial",ַ dosַ "policiaisַ corruptos",ַ daַ “omissão"ַ eַ daַ “incompetência”ַdosַpoliciais.

Continuando com esses autores (VOGEL et al, 1995, p.29-32, 36-37), o centro está associado a "um lugar onde se encontra de tudo o que uma cidade pode oferecer e oferece quando e onde pode". E implica espaço, atividades, temporalidade e significados, pois cada uma destas dimensões faz parte da representação do que é o "lugar central de uma cidade". Nessa representação, o bairro aparece como um lugar incompleto, mesmo quando considerado na sua área central. Enfim, para esses autores qualquer lugar se ressente da falta de um centro. Porém, cada um tem o seu centro, e o centro de cada um depende da distância e da frequência.

Segundo esses autores (VOGEL et al, 1995, p.101-104), o governo está intimamente relacionado à sua concepção como ordem providencial, em que a extensão do seu poder é da mesma escala das suas responsabilidades. Esperandose do Governo, como "grande provedor de tudo e de todos", "simplesmente tudo".

Destacando-se o cuidar de: empregos; alternativas de reintegração dos expresidiários; menores abandonados; educação das crianças; proteção da gente honesta e trabalhadora, preservando-a da violência; resolver a situação do povo;

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pavimentação das ruas, da iluminação pública, da higiene urbana; intervir nas relações de vizinhança; atuarַ noַ sentidoַ deַ “unirַ aַ comunidade”; garantir serviços eficientes, equipamentos limpos e adequados, num meio urbano; transmitir saúde e beleza; dar assistência; e distribuir benefícios.

Enquanto que, ainda para eles (VOGEL et al, 1995, p.101, 106-107, 110), a associação de moradores está ligada à resolução dos problemas da comunidade de um lugar pelo "povo amigo". Trata-se de umַconjuntoַdeַ“pessoasַinteressadas”ַou “pessoasַpreocupadas”ַcom as carências de outras pessoas, primordialmente com os problemas do bairro. Em que a comunidade consiste, essencialmente, no fato de ser morador. E ser morador significa partilhar com os demais moradores não só um recorte físico do espaço urbano, mas também "todo um modo de vida". Este, compreendido como a relação da comunidade com um ambiente total, é o fundamento da noção de pertinência desse lugar.

Por fim, VOGEL et al (1995, p.90, 91 e 93) afirmam que atividades e trabalho de um lugar estão associados ao "falta tudo". Para eles, trabalhar é uma das grandes categorias em que se dividem as práticas rotineiras daquele que vive num lugar urbano. Portanto, a falta de fábricas no bairro ou falta de emprego para "todo mundo" constituem a ideia que traz uma noção de "autossuficiência dos centros de bairro" mediante a implantação de diferentes formas de trabalho.

Nesta dissertação, esses aspectos conceituais serão considerados como categorias de análise da supracategoria vulnerabilidade na construção cultural do lugar.

Adicionalmente, no que se refere à estrutura do estudo de caso, consideramos pertinente a formulação de Abramo (2011) para complementação da análise das categorias. Nesse sentido, especificam-se neste item os principais pontos dessa formulação, que complementam os aspectos conceituais já referidos nesta dissertação.

2.2.5 Coordenação socioespacial: lógicas modernas "(...) os pobres, mesmo em condições de pobreza, buscam tomar decisões que de alguma maneira revelam critérios de racionalidade econômica" (ABRAMO, 2011, p. 217-236)

Abramo (2011) afirmou que existem duas Grandes Lógicas que (pre)dominam no "Mundo Moderno" para coordenar as ações individuais e coletivas, e que exigem capital acumulado: a Lógica de Estado e a Lógica de Mercado. Entretanto, para ele,

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nos Países Latino-Americanos (e em parte significativa da África e Ásia) surgiu uma terceira Lógica que, ao contrário dessas outras duas Lógicas, não exige qualquer tipo de capital acumulado: a Lógica da Necessidade.

A Lógica de Estado atribui ao Estado Nacional o papel de coordenador social das relações entre os indivíduos e os grupos sociais, com a função de mediador social que define a forma e magnitude do acesso à riqueza da sociedade. Enquanto que a Lógica de Mercado é definida pelo Mercado onde o acesso à riqueza social é mediado predominantemente por relações de troca entre indivíduos, entre grupos sociais e entre estes e aqueles. Por essas duas Lógicas, o acesso ao solo urbano exige a acumulação pelos indivíduos ou grupos sociais de um capital político, institucional, simbólico ou de outra natureza (a primeira Lógica) ou uma grandeza de capital monetário (a segunda Lógica). Todavia, a Lógica de Mercado pode adquirir duas formas institucionais diferentes de coordenação social que se manifestam através de relações “legais ou ilegais". A primeira, o Mercado Formal condicionado por um marco normativo e jurídico regulado pelo Estado, na forma de um conjunto de direitos - e obrigações - que definem o campo da economia formal. A segunda, o Mercado Informal constituído por relações econômicas que se estabelecem à margem do sistema legal do direito, nacional e internacional, e que definem o campo da economia informal.

Assim, o acesso e a definição do uso do solo urbano, ao longo da historicidade moderna, estão condicionados por uma "lógica dominante" de coordenação de acesso ao solo urbano que, por sua vez, condiciona a "lógica dominada", a partir de um "regime urbano" (processo de produção e financiamento das materialidades urbanas) e de uma "regulação urbana" (arquitetura institucional).

No entanto, a atual estrutura interna das grandes cidades brasileiras é marcada por (e dele herdou) um passado colonial patrimonialista-escravista e profundamente excludente. Por isso, essa estrutura contribui (e em grande medida) para os processos sociais de acesso ao solo urbano e para a definição de uso deste. Processos em que a Lógica da Necessidade é, simultaneamente, a motivação e a instrumentalização social que permitem a coordenação das ações individuais e/ou coletivas dos processos de ocupação do solo.

Dessa maneira, essas três Lógicas de coordenação das ações individuais e coletivas coexistem nas grandes cidades brasileiras, a partir das particularidades e universalidades dos regimes urbanos e formas de regulação de cada uma dessas

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cidades. E as semelhanças e diferenças na estrutura intraurbana dessas cidades revelam: as formas de manifestação dessas três Lógicas; os projetos de cidade que estabelecem certa hierarquia entre essas Lógicas; e os conflitos que promovem e se alimentam para (re)produzir o processo de configuração dos usos urbanos do solo.

Enfim, no dizer de Abramo (2011), do ponto de vista conceitual, a hipótese de que, no processo de produção da informalidade urbana nas grandes metrópoles latino-americanas, "os pobres, mesmo em condições de pobreza, buscam tomar decisões que de alguma maneira revelam critérios de racionalidade econômica".

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ESTUDO DE CASO: LOTEAMENTO “ILHA DOS MINEIROS” Encarando objetivamente a evolução histórica do povo fluminense e a sua resultante distribuição atual, notam-se dois grupos diferençados pela geografia: o da Baixada e o da Cordilheira. Ainda e sempre os fatores geográficos a desunirem culturas. (...) Nos municípios do extremo norte fluminense os dois grupos se intermesclam pelo desaparecimento da muralha divisória da cordilheira. Numa orografia dispersiva concatenam-se em crescente colaboração as atividades comuns a ambos. (...) da estreita relação entre os fatores geográficos de uma determinada zona e a sua evolução econômica. Graves erros político-administrativos são comumente oriundos de estadistas que não conhecem geografia, e, ignorantes daquela relação, tentam elaborar, com decretos vazados em vacuidades empíricas, laços administrativos totalmente aberrantes da realidade geográfica. (LAMEGO, 1974b, p.200 e 287)

Neste estudo, antes de se fazer uma análise mais aprofundada do Loteamento “IlhaַdosַMineiros” (LIM), procura-se mostrar aspectos da evolução histórica da região norte fluminense onde se situa esse lugar. Da vulnerabilidade desse lugar para a vida humana. E do provável processo de ocupação humana que transformou esse lugar numa ilha (cultural), e esta num lugar de viver.

3.1

HISTÓRIA E VULNERABILIDADE DO LUGAR A área, onde se insere o LIM tem como realidade geográfica de assentamento

uma parte da restinga de grande planície fluviomarinha. E esta pertence a uma determinada zona à qual se convencionou chamar, genericamente, região dos Goitacás ou região Goitacá ou região Norte Fluminense.

Como parte dessa região e inserida na sua história, emerge o projeto, execução, comercialização, construção e habitação do LIM e seu entorno (fig.12).

Figura 12 - Loteamento “Ilha dos Mineiros” (ao centro)

Fonte: Josielma Nogueira (2014). Acervo da autora.

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Originalmente, instalou-se na praia de Guaxindiba uma comunidade de pescadores e um estaleiro de barcos pesqueiros; enquanto na contígua praia de Sossego emergiam, timidamente, casas esparsas de veraneio. Nessa ocasião não existia bairro ou loteamento com a designação de “Ilha dos Mineiros”. Havia apenas uma restinga natural, baixa e alagável, por onde serpenteava o rio Guaxindiba na sua forma natural e um canal natural da Lagoa da Roça até esse rio.

Todavia, a partir da década de 1950, esse lugar sofreu, por um lado, processos de parcelamento de características urbanas voltados para fins de veraneio - tendo o censo de 1970 registrado 868 habitantes nesse lugar. E, por outro lado, processos de drenagem por obras de saneamento. É uma história conhecida, feita pela evolução tanto da geologia (história da Terra) quanto de pessoas e organizações que não se fixaram naquele lugar (história do Homem, que se confunde com a história dos outros).

3.1.1 História da Terra: a paisagem natural Passando em revista a história da Terra antes que a família zoológica dos Hominídeos se constituísse, ou mesmo depois deste evento e antes do Homo sapiens sapiens (sic), encontraremos apenas a existência de ecossistemas nativos (...). (SOFFIATI, 2011, p.1) Em caso algum esmerou-se tanto a natureza em imitar uma obra humana.

Planícies, cordilheiras, desertos, litorais, quaisquer elementos da fisiografia terrestre, atestam sempre a indisciplina criadora das idades. (...) Mas só a restinga atinge a perfeição do acabamento. (...) contraste fisiográfico inesperado (...) intermitência florística diferençada espetacularmente em longas faixas paralelas. (LAMEGO,1974b, p.25 e 27) (...) um raro fenômeno geo-botânico, o da tomada da terra em contínua emergência do mar pela flora que avança. Sobre a tarja costeira e limpa deixada pelas ondas, adiantam-se as formas vegetais em grupos, numa ininterrupta marcha que há milênios se processa. (LAMEGO,1974b, p.102) O regime pluviométrico do Estado do Rio de Janeiro caracteriza-se, em linhas gerais, pela presença de dois períodos distintos, um mais chuvoso, no verão, e outro, no inverno, de estiagem, mais ou menos acentuada em virtude das condições gerais do relevo. Esse regime, característico dos limas tropicais, verifica-se em quase toda a extensão do Estado, mas não de maneira uniforme. (DGER, 1948, p.13)

A história e caracterização da paisagem natural baseiam-se, principalmente, nos autores Lamego e Soffiati. Cruzando as leituras de Lamego (1974b) de Soffiati (2011), bem como da DGER (1948), a história da Terra da atual região norte fluminense resultou numa paisagem natural formada geologicamente por uma planície fluviomarinha, de clima tropical, onde se encontravam apenas ecossistemas nativos.

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Essa planície de restingas holocênicas (fig.13),ַáreaַ“2”,ַaoַnorteַeַaoַsulַdoַ rio Paraíba do Sul33, por sua vez, originou-se a partir de “conflitos” entre as águas salgadas do mar e a linha da costa Atlântica ou as águas doces dos rios - estas, principalmente, do rio Paraíba do Sul e, em menor escala, dos rios Itabapoana e Guaxindiba. Nessa área, dividida em planície aluvial e planície de restingas, formaram-se naturalmente rios, canais, lagoas, brejos e mangues.

Figura 13 - História da Terra: O Loteamento “Ilha dos Mineiros” na planície de Restinga Holocênica

Fonte: SOFFIATI, 2009

Nessa planície de restinga, Lamego (1974b, p.27, 96 e 99) diz que a topografia da planície é sempre a mesma e alastra-se nivelada para o interior - do rio Guaxindiba (mais a norte) ao rio Una (bem mais para o sul) - com as mesmas características que evidenciam "fatores geo-genéticos" semelhantes. Porém, apesar disso, "a enchente na planície de restingas nunca traz os transbordamentos catastróficos tão temidos na planície de aluviões, a oeste". E a "imutabilidade das planícies arenosas" deve-se à

Datada do Holoceno - o "tempo geológico" caracterizado pelo fim das glaciações e a época em que atualmente vivemos, que se vem estendendo desde há cerca de 11 mil anos.

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"cobertura florística" que as imobiliza assim que o mar recua permanentemente (a "saída do mar") para, depois, ao anular a ação dos ventos, manter permanentemente a topografia, impossibilitando a "evolução paisagística por novos relevos juvenis".

Entretanto, Soffiati (2009, p.3) conclui que essa topografia é baixa, de solo pobre, e nas desembocaduras dos afluentes encontra-se uma formação pioneira expressiva de vegetação especializada.

Mas é apenas na planície de restinga e na margem direita da jusante do rio Guaxindiba que se situa essa Ilha, onde se insere o Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM). Por isso, foca-se aqui apenas a bacia hidrográfica próxima da foz do rio Guaxindiba (fig.14). E a vegetação especializada nela encontrada - onde prevalece a "flora de mangue" 34.

Figura 14 - História da Terra: Trecho final sul da bacia do Rio Guaxindiba

Fonte: IBGE (1968). Adaptação da autora (em vermelho).

Sobre essa bacia hidrográfica, a partir de Lamego (1974b, p.95) e de Soffiati (2009, p.3), pode-se dizer que o pequeno rio Guaxindiba nasce numa região de taboleiro, em Morro do Coco, no município de Campos dos Goytacazes (fig.15). É o único rio entre o rio Paraíba do Sul e o rio Itabapoana, e corta o município de São Francisco de Itabapoana em dois - praticamente, divide este ao meio - (fig.13). Essa bacia (fig.15) é constituída por um único canal, natural, proveniente da lagoa da Roça e muitos pequenos afluentes que lhe confere a forma de uma árvore com grande copa,

Vegetação de águas salobras, muitas vezes decorrendo indiretamente da restinga que fecha a boca do rio Guaxindiba. Um "manguezal" é apenas o conjunto de árvores da restinga, de biotopo lenhoso e "amigas da água salobra" (LAMEGO, 1974b, p.103). Enquanto que "mangue" envolve não só flora mas também fauna, e ambas são "amigas da água salobra".

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penteada pelo vento sudoeste (Soffiati, 2009). Ao penetrar a planície de restingas perdeַvelocidade,ַserpenteiaַemַformaַdeַ“M”, junto à sua foz (entre charcos e brejos) e desemboca na praia de Guaxindiba.

Entretanto, dentre esses afluentes do rio Guaxindiba, destacam-se duas áreas de brejos (Fig.15): uma, na margem direita (a sul), o brejo do Carrapato, paralelo à linha da praia; e outra, na margem esquerda (a noroeste), a uns cinco quilômetros da foz desse rio, o seu afluente Espirador, que forma em seu entorno um largo embrejamento com cerca de trezentos metros de largura.

Figura 15 - História da Terra: rio Guaxindiba - da Nascente à Foz

Fonte: IBGE (1959). Adaptação da autora (em branco).

A barra do rio Guaxindiba é muito estável - a sua foz é de boca fechada. Isto ocorre só quando cessa a descarga do rio, mas às primeiras chuvas abre-se facilmente pela intermitente barragem da restinga. É da foz desse rio para o sul que começa a grande planície de restingas do Parque Nacional de Jurubatiba, RJ. No que diz respeito à vegetação nativa especializada da planície de restinga (fig.16), da linha da costa até cerca de novecentos metros de largura, para oeste, limite com a planície de aluviões, progrediu a vegetação lenhosa, mais ou menos densa, do "cerradão da restinga" (LAMEGO, 1974b, p.102). Dessa vegetação observam-se: floresta estacional35 semidecidual36 atlântica em sua forma aluvial, de terras altas e baixas – um remanescente dessa floresta37 pode ser ainda observado na Mata do

Conceito ecológico de vegetação condicionada pela dupla estação climática: tropical e subtropical, Soffiati (2009, p.5).

36 Tipo de floresta estacional, com perda de folhas entre 20% a 50%, na estação seca, Soffiati (2009, p.5).

37 “...ַmaior remanescente de Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas do Estado do Rio de Janeiro – São Francisco de Itabapoana. Atualmente, protegida pela Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba...”. Soffiati (2009, p.7) 35

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Carvão, a norte do rio Guaxindiba; vegetação rasteira que se alastra pela restinga caracterizando as praias e nas desembocaduras dos rios; e manguezais38 - vegetação pioneira de influência marinha. (SOFFIATI, 2009, p.5-8) Figura 16 - História da Terra: faixa de vegetação de restinga: Floresta, Vegetação Rasteira e Manguezais

Fonte: Soffiati, (2009, p.7-8)

Recupera-se aqui Sauer com o seu conceito de paisagem natural formada, ao longo do tempo, por fatores que evidenciam uma expressão qualitativa do lugar - terra, litoral, mar, clima e vegetação. Desses fatores, destaca-se a existência destes limites naturais na planície de restinga Goitacá, os quais condicionariam a fixação humana: o rio Guaxindiba, em seu trecho natural próximo à sua foz natural; o canal natural da Lagoa da Roça; o brejo do Espiador; e o mangue de Guaxindiba.

Mas o que se quer destacar aqui é a paisagem natural daquela área toda à direita (a sul) do rio Guaxindiba, onde está situado o Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (fig.12), mais precisamente, pretende-seַ mostrarַ queַ essaַ área,ַ comoַ “espaçoַ primitivo”ַ daqueleַ lugar,ַ nãoַ constituiַ umaַ ilhaַ físicaַ geográficaַ convencional, conforme se verificará nesta dissertação39. Na verdade, a paisagem natural condiciona uma paisagem cultural, mas também se molda a esta.

Comunidade microfanerofítica de ambiente salobro, solo limoso, situada na desembocadura de rios e regatos no mar. Vegetação especializada, adaptada à salinidade das águas e crescem nos locais baixos e mais altos, estas só atingidas, pela preamar. Soffiati (2009, p.8) 39 Vale relembrar que, no decorrer do curso de mestrado - disciplina "Paisagem e Ambiente", fim do 2º semestre de 2012 -, alertada pelo seu professor HOLZER, a autora compreendeu que seu objeto de estudo era parte de uma ilha física.

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3.1.2 História do Homem: a paisagem cultural (...) os ecossistemas nativos dominaram a quase totalidade da história da vida e da humanidade. (...) há culturas que cultivam o equilíbrio entre as antropossociedades e a natureza não-humana e aquelas que vivem em ou criam situações de desequilíbrio. (SOFFIATI, 2011, p.3-4) Porque o índio é, afinal, um homem. Também o Homo Sapiens. (LAMEGO, 1974a, p.84)

A história e caracterização da paisagem cultural baseiam-se igualmente nos autores Lamego e Soffiati.

Segundo Lamego (1974a; 1974b), a história do homem na região Goitacá (hoje, região Norte Fluminense) mostra tanto culturas que cultivavam o equilíbrio entre as sociedades humanas e a natureza não humana - oַ “índio” - quanto culturas que criaram/criam ou viveram/vivem em situações de desequilíbrio - Homo Sapiens Sapiens.

Dentre as primeiras culturas dessa região, destacam-se estes homens: o nômade ou das cordilheiras ou das serras (o índio puri e o índio botocudo); e o de sedentarismo primitivo ou dos aluviões ou dos brejos ou das restingas (o índio goitacá). Das segundas culturas, destacam-se estes homens: das naus ou da globalização por mar ou do “tombo do Globo”40; de sedentarismo colonial (donatário de capitania hereditária, colono de sesmarias, da pesca, do ciclo da pecuária e do ciclo da cana); o empreendedor ou da oferta (senhor de engenhoca e do engenho, dono de usina e loteador de terras); o político ou administrador ou do poder (que se impõe como príncipe, limitando, dominando, preparando e impondo o meio, local ou regional ou nacional); e o cidadão ou do trabalho ou do consumo (pessoas ricas ou pobres ou miseráveis).

Nota-se, desde as origens, a primeira ação da terra sobre o homem. O meio físico intervém na vida social. Impõe-se o [ao] índio nômade (sic) e o impele a novas contingências. (LAMEGO, 1974a, p.128)

Do homem nômade destaca-se aqui o índio puri, antropófago, que, segundo Lamego (1974a, p.72-73), até quase fins do século XIX, dominava das florestas na bacia do rio Muriaé (em Minas Gerais) às margens do Itabapoana (na região Norte Fluminense). Ele vivia "sem tabas, sem leis, sem crenças, erradios em hordas" pelas

Oַ“tomboַdoַGlobo”ַqueַseַfazַpelaַprimeiraַvezַ- conforme Lamego (1974a, p.89-90). Os noviços da Escola Náutica de Sagres - a matriz dos continentes, em Portugal -, amestrados na ciência náutica e endurecidos no ascetismo, que entram pelos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.

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matas, em cujas orlas sinistramente alcateavam, em tocaia permanente contra o branco, trilhando sendas clandestinas ao vagar, em irrequieto nomadismo41, na busca contínua por alimento42. O índio puri não tinha casa. Uma rede feita de imbira, algumas varas, encostadas a um tronco e cobertas de folhagens (fig.17), davam-lhes abrigo quando necessitavam. Não existia qualquer propriedade de terra, individual ou coletiva.

Figura 17 - História do Homem: “habitação” (abrigo) do Índio Puri

Fonte: DEBRET, in op.cit., p.105

Assim, com o índio puri, a atual região Norte Fluminense - pelo menos no prolongamento do rio Muriaé e dos sertões de Cantagalo aos do Espírito Santo conheceu o “abrigo cultural” do homem da serra: a habitabilidade sem moradia e, por isso, de entorno móvel ao longo de trilhas escondidas. A paisagem natural impeliu a paisagem cultural.

A terra pega o índio em seu ambiente americano com seus princípios culturais indiferentemente generalizados, e, atraindo-o a um meio especial, amolda-o a novos modos de viver. (LAMEGO, 1974a, p.128)

Levando mulheres e crianças, os índios Puri são "audazes, destemidos, vigilantes e de máximas mui atraiçoadas" (...) "inclinados a toda a desumanidade, dando a morte a qualquer vivente que encontram, seja ou não racional, ainda que os não ofendam". Em princípios do século XIX ainda eram antropófagos, "comedores de carne humana". Foram completamente extintos, deles restando apenas produtos de cruzamento. (LAMEGO, 1974a, p.72-73; 1974b, p.198) 42 Fazia seus "estágios passageiros" onde havia coco, jaracatiá, grumixama, jabuticaba, mel, caça e pesca. (LAMEGO , 1974a, p.72-73) 41

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Do homem de sedentarismo primitivo, Lamego (1974a, p.71, 81-82, 87-88, 128 e 129) destaca o índio goitacá,ַqueַdominavaַtantoַaַplanícieַdeַaluviõesַ(“com lagoasַqueַesburacavamַaַfloresta“)ַquantoַaַplanícieַdeַrestingas,ַporַseiscentosַ quilômetros de litoral brasileiro. Foi na região Goitacá que se iniciou a reação do homem contra o determinismo da ambiência. Essa reação foi provocada pela ação do brejo43 sobre o índio goitacá. As inundações das planícies deram-lhe a "ideia de pouso sobre esteios" e levaram-no a aprumar cada pequena cabana sobre um só apoio, coberta de palha a que chamam tábuas e porta pequena44, isolando-a nas águas das lagoas (fig.18). Foi esse isolamento que, ainda segundo Lamego, solidificou a estabilidade de cada família e restringiu a poligamia, nesse lugar.

Figura 18 - História do Homem: Casa em Aldeia Lacustre do Índio Goitacá

Fonte: http://www.microbacias.rj.gov.br - Estação Ecológica de Guaxindiba, 2013.

Adaptação da autora, 2014.

O conjunto desse tipo de cabanas formou uma aldeia lacustre que, também se encontrando no litoral de leste, desenvolveu no goitacá: faculdades construtivas; maior senso de poderio e segurança; e o primeiro passo para se fixar à terra. É neste primeiro passo que germina o seu "primeiro senso de propriedade individual". Ele já cuida de uma agricultura rudimentar e revela grande perícia de oleiro. Mas é, antes de tudo, caçador, pescador e guerreiro. Possuidor de zona privilegiada - com abundância de caça e pesca (de peixes e de tubarões) -, aprendeu a defender sua

43 44

A primeira função social do brejo sobre o índio compele este a melhorar-se (LAMEGO, 1974a, p.87).

Era preciso "entrar de gatinhas". (LAMEGO,1974a, p.81)

61

posse contra a rivalidade dos índios vizinhos45, adotando o mais seguro meio de defesa: a água. E é a aldeia lacustre, com a posse da lagoa e com o alimento ao redor, que lhes infunde a "ideia de propriedade territorial a defender". O goitacá, defendendose, defende o seu lugar distinguido por limites naturais. Como meio de transporte usava jangadas sólidas em vez de canoas. Enfim, a vida social do goitacá, em seu conjunto, tinha dois elementos fundamentais para a coesão do senso grupalista: a noção de propriedade individual e a maior unidade da família - que são os marcos basilares a partir dos quais nasceram as civilizações.

Então, foi com o índio goitacá que a atual região Norte Fluminense (que era a região Goitacá) conheceu a primeira versão tanto de uma “ilha cultural” (na verdade ilhota cultural) quanto de um “arquipélago cultural”, do homem do brejo e da restinga: moradia(s) própria(s) e habitabilidade, tendo as águas como entorno.

Desse modo, a paisagem natural atraiu e amoldou a paisagem cultural.

Mas as relações desses dois tipos de paisagem cultural46 ao sabor da paisagem natural da região Goitacá vão mudar de forma drástica, a partir de 22 de abril de 1500 - data oficial da chegada dos portugueses, conforme se encontra na carta de Pero Vaz de Caminha (DGER, 1968, p.118). É o tombo do Globo que se faz pela primeira vez. Suas naus, prenhes de audácia, de cobiça e de aventura, ninam sobre o mar, em seus ventres rotundos, a supergestação de vários novos mundos. (LAMEGO, 1974a, p.90)

Foi o homem do "tombo do Globo" que trouxe pelo oceano Atlântico a herança colonial da paisagem cultural do mundo europeu para as terras dos ameríndios e novo mundo. Uma herança colonial que, parafraseando Holzer (2012), permitiu transpor a paisagem

cultural

greco-romana

para

as

paisagens

naturais

locais

e,

consequentemente, a sobreposição, anulação e encobrimento destas. Mas não sem longa luta contra a reação dos indígenas locais (paisagem cultural estrangeira contra paisagem cultural local) e contra a Natureza (paisagem cultural estrangeira contra

No descobrimento, a "costa fluminense de restingas" era habitada também pelo índio: Tamoio (na zona de lagunas e de enseadas, de Angra dos Reis a Cabo Frio, de ódio perpétuo ao índio Goitacá, dono absoluto das planícies de restingas fluminenses); Aimoré (na cordilheira, numa faixa da longitude da Guanabara que se aperta entre os rios Grande e Paraíba, e que de jusante de Itaocara estende-se para o Espírito Santo); Coropó; e Botocudo (do Piracicaba no Estado de Minas Gerais até Colatina, no Estado do Espírito Santo). (LAMEGO,1974a, p.72-73 e 85; LAMEGO, 1974b, p.120) 46 O homem nômade, representado pelo índio Puri, bem como o homem de sedentarismo primitivo, representado pelo índio Goitacá.

45

62

paisagem natural local). Portanto, paradoxalmente, o homem do "tombo do Globo" sobrepôs, anulou e encobriu a paisagem cultural nativa com a transposição da paisagem cultural dos descobridores europeus (HOLZER in MARANDOLA et al, 2012, p.283).

Nessa luta contra a reação dos indígenas locais: de um lado, o homem de sedentarismo primitivo, o antigo dono da planície Goitacá, o índio goitacá47; do outro lado, o homem de sedentarismo colonial, do qual se destacam os donatários de capitanias hereditárias48. Em especial, na capitania de São Tomé, em 1538, o donatário fincou os esteios do primeiro vilarejo ao sul da barra do Itabapoana: a habitabilidade em moradias, sem águas como entorno direto e total. Mesmo assim, para Lamego (1974a, p.86), no século XIX, apagou-se definitivamente todo o vestígio da passagem trepidante das "impetuosas correrias" do índio goitacá pela terra que foi sua. Segundo esse autor, a única lembrança que há desse índio é o nome da planície, pois "sumiu-se tudo", incluindo "toda a toponímia de sua áspera linguagem".

Enquanto que, na luta contra a Natureza, a paisagem natural local atraiu o homem de sedentarismo colonial. Segundo o DGER (1948, p.41)49, tal como já o havia feito em sua origem (Europa), essa cultura estrangeira afrontou e destruiu essa paisagem natural local.

Até o presente a evolução histórica da Humanidade resumiu-se na conquista da terra pelo homem (...). Hoje, porém, o que nos compete, é a conquista da terra para o homem. A adaptação individual ao meio, antecipa-se o preparo técnico do meio para o indivíduo, ativando-se o processo evolutivo da sociedade. (LAMEGO, 1974b, p.292-293)

Estesַforamַosַprimeirosַpovoadoresַeַasַprimeirasַ“imposições”ַdeַumaַnovaַ cultura, a do colonizador. Séculos depois, no processo de desbravamento, a norte do Rio Paraíba do Sul, situava-se o porto de Cacimbas (fig.19) como porta de acesso aos tabuleiros do sertão de Cacimbas. Aí, por volta de 1840, construiu-se a primeira grande “obra de arte” - o canal de Cacimbas50 - com grande transformação no

O qual, segundo Lamego (1974a, p.85-86), de adversário inconquistável na defesa do seu lugar, paradoxalmente, continuou a protegê-lo ao defender o branco e a civilização deste, em certos momentos históricos.

48 Em particular, Pêro de Góis que, segundo Lamego (1974a, p.90), é um dos moços capitães na frota de colonização em 1530, a quem foi doada a capitania de São Tomé.

49 Em função da presença de florestas espessas de madeiras de lei para as edificações e embarcações, e massapés para a cultura da cana (DGER, 1948, p.41).

50Com 15 km de extensão, de pouca profundidade, para fins de navegação: escoamento da produção do Sertão das Cacimbas (produtos da lavoura e madeira de lei para os estaleiros de São João da Barra).

47

63

ecossistema do lugar. Essa construção envolveu mão-de-obra escrava, desvio de trecho do rio Muritiba - em sua retilinização - (fig.19), drenagem de lagoas e brejos, e ligação do rio Paraíba do Sul à Lagoa de Macabu (SOFFIATI, 2009. p.25 e Anuário Geográfico do Rio de Janeiro, 1948-1949, p.42).

Figura 19 - História do Homem: Rio Muritiba - Porto de Cacimbas - Canal Cacimbas

Fontes: (Esquerda) IBGE, 1959; (Direita) SECPLAN 1979. Adaptações da autora.

Entre 1883 e 1933, a indústria açucareira do norte-fluminense assistiu a um profundo processo de modernização. Várias tentativas foram feitas para domesticar, corrigir e transformar o ambiente hostil de terras encharcadas e mantenedoras da miséria, para dar lugar a terras com fontes de vitalidade e riqueza. Comissões de saneamento empenharam-se em impor ao espaço uma “ordem”ַsintonizadaַcomַosַ interesses da agroindústria açucareira. (SOFFIATI, 2005).

Figura 20 - História do Homem: Lagoa da Roça, Canal e foz do Rio Guaxindiba

Fonte: IBGE, 1959. Adaptação da autora.

64

Nos anos de 1940, nesse quadro de grandes projetos de desenvolvimento regional fluminense51 e na zona de restinga52, surgiu a segunda grande “obra de arte”: a ligação do Canal Cacimbas ao mar através do Rio Guaxindiba, do ponto 5 ao ponto 2 (fig.20 e 22). Foram obras do DNOS que se servi do canal Lagoa da Roça ponto 6 (fig.20 e 22) - para drenar o brejo do Mundeuzinho (SOFFIATI, 2011; e Anuário Geográfico do Rio de Janeiro, 1948-1949, p.42).

O DNOS continuou sua arte de secar lagoas e lagos, (SOFFIATI, 2011, p.15; e Anuário Geográfico do Rio de Janeiro, 1948-1949, p.43), tendo surgido a terceira grande “obra de arte”: "rasgou" esse solo com o Canal Engenheiro Antônio Resende (CEAR), da grande Lagoa do Campelo até a foz do rio Guaxindiba e interligado com a extremidade norte do canal de Cacimbas aberto no século anterior (fig.21), para reduzir a salinidade dessa lagoa, estabilizar seu nível de modo a abastecer de água doce a localidade de Guaxindiba e fornecer água doce para a agropecuária.

Figura 21 - História do Homem: Canal Engenheiro Antônio Resende

Fonte: SECPLAN, 1979. Adaptação da autora.

51 52

Saneamento (erradicação da malária), drenagem (de lagoas charcos e brejos) e interiorização.

Objeto desse estudo, de solo sem atividade econômica de importância.

65

Entretanto, sua construção envolveu a drenagem do entorno daquela grande lagoa e o aproveitamento de trechos daqueles dois canais (fig.20 e 22) com ligações: ao trecho do canal Cacimbas, no ponto 5; ao trecho do canal Lagoa a Roça, no ponto 6; ao rio Guaxindiba - um desvio estratégico - no ponto 9; e, finalmente, esse canal no seuַtrechoַfinal,ַassumiuַaַformaַdeַ“arco”, entre os pontos 6 e 3, para ligar-se ao rio Guaxindiba no acesso a sua foz.

Figura 22 - História do Homem: o LIM numa Ilha Cultural (IC)

Fonte: IBGE, 1968 Adaptação da autora: a restinga que virou ilha pela lógica (transformadora) do Estado.

Nota-se que nesse trecho final de ligação o pequeno rio Guaxindiba perdeu caudal e transformou-se em afluente do CEAR, para além de ter sua foz usurpada por este (fig.23 e 24).

Figura 23 - História do Homem: CEAR e Rio Guaxindiba

Fonte: SOFFIATI, 2009. Adaptação da autora.

66

Assim formou-se o segundo limite físico a produzir terras secas nessa região de restingas.

Figura 24 - História do Homem: CEAR (à esquerda), Rio Guaxindiba (à direita) e sua “Foz”

Fonte: Josielma Nogueira (2014). Adaptação e acervo da autora.

Como se não bastasse - voltando à figura 22 - para drenar o brejo do Espiador, em depressão do Rio Guaxindiba, abriu ainda outro canal, o canal Guaxindiba, entre os pontos 8 e 9, e retilinizou trechos do rio Guaxindiba, entre os pontos 1 e 11. Dessa maneira, essa porção da restinga virou ilha.

Finalmente, analisando-se o mapa dos "Setores de Evolução Fluminense" (fig.25), pode-se dizer que, a partir da foz do rio Guaxindiba, inicia-se uma pequena e estreita faixa de planície para norte, onde o homem, olhando a serra, encontra a restinga e o brejo. De outra forma, é onde a "história do homem" se funde com a "história da terra". Ou, mais precisamente, é nessa estreita faixa que a paisagem natural "achada" se transforma em paisagem cultural. E, dessa paisagem faz parte o Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM).

Figura 25 - História do Homem: Setores da Evolução Fluminense

Fonte: LAMEGO, 1974b, p.26. Adaptação (vermelho) da autora, 2014.

67

Recupera-se agora a paisagem cultural de Sauer, formada pelo fator cultura humana – identidade, população, habitação, produção e comunicação. Desse fator, destaca-se a existência destes limites naturais remanescentes na planície de restinga Goitacá: o rio Guaxindiba; o brejo do Espiador; e o mangue de Guaxindiba. Mas destacam-se, primordialmente, dois canais e a retilinização de trecho do rio Guaxindiba, limites culturais, como limites de expressão geográfica com uma identidade e qualidades físicas determinadas a partir de um valor de habitat humano de interesse regional, que hoje condicionam a fixação humana num perímetro fechado por cursos de água (rever fig.22),ַouַseja,ַumaַ“ilha”:ַo rio Guaxindiba (a norte), como único limite natural, embora de caudal reduzido pelo Canal Guaxindiba (trecho 8, 2 e 7); e os dois limites culturais - o próprio Canal Guaxindiba (CG) no trecho 8 e 9, e o Canal Engenheiro Antônio Resende (CEAR), no trecho 9 e 7.

Portanto, por estar compreendida nesse perímetro de limites, parte natural e parte não natural, afirma-se aqui que essa ilha é uma ilha cultural. E é nessa ilha cultural que se pode destacar o Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM) e seu entorno como paisagem de um lugar (fig.26 e 28 - à direita).

Figura 26 - História do Homem: Ilha Cultural - não era ilha, mas agora é ilha

Fonte: Google Maps, 2014. Adaptação da autora, 2014.

68

De fato, a história do LIM está diretamente ligada à função histórico-geográfica da planície de restingas, que Lamego (1974b, p.286) definiu como "região de passagem", que será sempre utilizada pelas pessoas como "a estrada costeira natural".

Está

também

diretamente

ligada

à

função

político-administrativa

de

ordenamento do território brasileiro - planejamento do Estado do Rio de Janeiro, com corresponsabilidade do Município de São João da Barra na execução desse planejamento estadual, e Plano Diretor do Município de São Francisco de Itabapoana.

Além disso, nota-se que, nas últimas décadas, assume importância a função socioeconômica do mercado imobiliário - exercida por instrumentos particulares de venda e compra, formais e informais, entre empreendedores imobiliários e pessoas que habitam e pretendiam habitar ali - a qual vai responder por importantes transformações desse lugar.

3.1.3 História e paisagem do lugar (...) é apenas no final do processo de ocupação/apropriação humana que o espaço primitivo torna-se um lugar (HOLZER, in MARANDOLA et al, 2012, p.291).

Pelos caminhos da planície de restinga, como paisagem natural, pode-se dizer que a história do Loteamentoַ“Ilha dosַMineiros” (LIM) registrou as paisagens culturais locais do homem nômade e do sedentarismo primitivo, bem como as paisagens culturais estrangeiras do homem do tombo do Globo, do sedentarismo colonial, do empreendedor, do poder e do trabalho. Mas o homem político/administrativo e o cidadão/consumidor ainda não se evidenciavam.

Por isso, vimos apenas como a história estabeleceu os limites e condições naturais (o "espaço primitivo") e culturais (o espaço ocupado/apropriado) da ilha cultural, até o primeiro loteamento desta: o LIM. De costas para uma terra improdutiva, o homem explora o farto manancial do Atlântico, estendido à sua frente. (LAMEGO,1974b, p.234)

Mas falta ainda o "final do processo de ocupação/apropriação humana" para que esse loteamento se torne um lugar. E é na história do LIM que emergem fortemente as relações diretas entre estes agentes sociais: o homem político e o administrativo, fora do lugar de viver, com dificuldades técnicas e operacionais, que observam, são observados e (re)agem; e o homem cidadão e o de consumo, em situação precária, que é observado, observa e (re)age no seu lugar viver.

69

Porém, nesse final, a ocupação e apropriação humanas devem levar em conta os elementos significativos de vulnerabilidade das condições mínimas de habitabilidade nesse processo.

3.1.4 Vulnerabilidade do lugar Dê o homem à terra o seu cuidado e os seus esforços e ela recompensará com reciprocidade pródiga. Tal beneficiamento, porém exige a ação direta do Governo. (LAMEGO, 1974b, p.293)

Na evolução histórica do processo de ocupação e apropriação do LIM interessa perceber as vulnerabilidades provenientes da "reciprocidade pródiga" da terra ou do "cuidado e esforços" do homem, que afetem as unidades de análise deste estudo.

De fato, a vulnerabilidade do LIM parece emergir de processos de ocupação humana dos quais resultaram espaços ocupados permanentemente em ambientes frágeis – canais com problemas de vazão, estradas, ruas, construções e pessoas majoritariamente de baixa renda. E essa fragilidade existe tanto para a fixação humana (áreas de risco) quanto para a fixação de outras espécies (áreas poluídas), criando problemas ambientais e de sustentabilidade.

A vulnerabilidade atual no LIM será analisada especifica e metodicamente no subtópicoַ“3.3.2”ַdesteַtrabalho.

3.2

A RESTINGA QUE VIROU ILHA: LÓGICA DA TRANSFORMAÇÃO Como se indicou anteriormente, as transformações ocorridas podem ser

compreendidas através da articulação das lógicas de Estado, de Mercado e de Necessidades. Isso pode ser visto através dos dados empíricos – documentos e trabalho de campo - que levaram à construção do Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM).

Antes, entretanto, de forma breve, é necessário comentar a origem do nome do LIMַeַaַvisãoַdeַ“ilha”ַ- na ótica de alguns entrevistados - relativa a esse loteamento...

Quanto à origem do nome do LIM - aַ denominaçãoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” -, existem diversas respostas de entrevistados53 que divergem relativamente ao que eles consideraramַserַaַ“origem”ַdesseַnome:ַ“marketing imobiliário”; “porַterַsidoַumaַ ilhaַ noַ passadoַ distante”;ַ “terַ sidoַ oַ loteadorַ deַ origemַ mineira”;ַ “dadoַ pelaַ população da”ַ “Ilha dos Mineiros”;ַ “influência mineira de Belo Horizonte, ao terem

53

Entrevistados nºs 002, 016, 029, 038, 039, 049, 091 e 092.

70

construídoַ muitasַ casasַ boasַ emַ Sossego”;ַ “terַpertencidoַ aַ algumַ mineiro”;ַ “suaַ inserçãoַemַumaַilha”;ַeַ“esseַlugarַjáַeraַconhecidoַporַ“IlhaַdosַMineiros”. Dessas respostas, a mais adequada veio de dois entrevistados. Um, o historiador local, citou emַ entrevistaַ nãoַ gravada:ַ “(...)ַ éַ muitoַ simples,ַ oַ nomeַ foiַ umַ marketing imobiliário (...)”.ַEַoutro54, ligado diretamente ao empreendedor do Loteamentoַ“Ilhaַ dosַMineiros”,ַem suas declarações em entrevista não gravada, confirma ter sido um marketing imobiliário, ao afirmar (sic):ַ“(...)ַesse nome surgiu porque naquelas praias havia muitos mineiros (...)”.ַEsteַdisseַmais: “(...) não temos familiar mineiro alias por causa desseַnomeַ“Ilha”ַtivemosַ muitos problemas com a marinha pensavam que era uma ilha no mar território da marinha e por isso tudo relacionado a esse processo caía em exigência e até provar que a área do loteamento não era uma ilha dava trabalho e gastava tempo (...)”ַ(sic).

Quanto à visão de “ilha”, na ótica de alguns entrevistados, residentes no município de São Francisco do Itabapoana, observou-se a existência de duas situações no LIM percebidas por eles de forma absolutamente distinta.

Na primeira situação, dois entrevistados não residentes no LIM e ligados aos setores municipais55, bem como um agente local, representante religioso e não residentes no LIM56, disseram que o LIM não é uma ilha física. Mas essa é uma imagem equivocada, conforme ilustrado pela autora (fig. 27).

Figura 27 - Lógica da Transformação: LIM como “ilha” física

Fonte: Mapa da SECPLAN, 1979. Adaptação da autora, 2014.

Entrevistado nº 074.

Entrevistados nºs 002 e 080.

56 Entrevistado nº 092.

54 55

71

Aliás, aquele agente local argumentou que o LIM foi uma “ilha”, mas só num passado distante - antes do aterro de parte do brejo do Carrapato (BC). E complementou seu argumento dizendo que umַ cursoַ d’águaַ foi interrompido no menor trecho de um afluente do rio Guaxindiba, entre o rio Guaxindiba (RG) e o Canal Engenheiro Antônio Resende (CEAR).

Na segunda situação, outros três entrevistados57 foram da opinião que o LIM é uma ilha física. E um desses entrevistados58, o residente no LIM ligado ao setor municipal, afirmou, muito bem, que o LIM está inserido em uma ilha. E justificou fazendo um esboço, que foi legendado pela autora (fig.28).

Figura 28 - Lógica da Transformação: LIM de brejo a “ilha” física

Fonte: Esboço do entrevistado nº29, 2014. Adaptação da autora, 2014.

Contudo, apesar de versões tão opostas em termos do LIM como ilha física percebida pelo senso comum - que, possivelmente, se referem a posições e trajetórias desses entrevistados, em diferentes momentos -, as observações de campo feitas pela autora e as lógicas de transformação detalhadas a seguir indicam que, pelo menos sob o critério do seu apartamento e exclusão social, o LIM é uma ilha.

Entretanto, a imagem mental do LIM (fig.29), concebida pela autora como uma ilha, no primeiro percurso de sua pesquisa de campo, também foi equivocada. É a imagem de um trapézio dividido paralelamente às suas bases. Pouco densa, com construções majoritariamente de um pavimento, cercada por vegetação nativa rala nasַmargensַdeַtrêsַlâminasַd’águaַ(rioַGuaxindiba,ַCEARַeַumַbrejoַentreַestes)ַeַ

Entrevistados nºs 29, 38 e 91, um ligado ao setor municipal, um historiador e um estudante, constituindo um grupo mais diversificado.

58 Entrevistado nº 29.

57

72

notando-se um espaço livre de construções, na zona mais central. Imaginou-se uma ilhaַ“latenteַeַtemporária”,ַpeloַmenosַemַperíodosַdeַcheiasַdoַbrejoַresultantesַdeַ grandes chuvas.

Figura 29 - Lógica da Transformação: de restinga a “ilha” (física e cultural)

Elaborado pela autora (Mapa mental, 2010)

Com essa imagem em mente, buscaram-se dados empíricos para perceber-se melhor a lógica de transformação do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”ַ(LIM). Para isso, recuperam-se os três tipos de lógica de Abramo (2011), já citados anteriormente, em termos de articulação das lógicas de Estado, de Mercado e de Necessidades, no Brasil (União, Estados e Municípios). Em especial, no que respeita a transformação de parte da planície de restinga Goitacá, onde se situa o LIM, em uma ilha física - como porção de terraַcercadaַporַcursosַd’água.

3.2.1 Transformação pela Lógica de Estado A lógica da transformação do Estado é observada na formação física de ilha por ordenamento, parcelamento e zoneamento do solo onde se situa o Loteamento “IlhaַdosַMineiros”ַ(LIM) – ilha cultural. E essa lógica verifica-se ainda tanto em ações do poder público manifestadas por projetos e construções populares como também por iniciativas, próprias ou em parceria pública ou privada, no LIM. 3.2.1.1 Formação física da Ilha Cultural A formação física da ilha cultural surgiu, em parte, através das ações de agentes no campo da lógica de Estado. Perante uma ambiência hostil ao processo de ocupação humana local, a lógica do Estado desenvolveu-se por articulação de

73

agentes de governos no Brasil, do “maior” para o “menor”: federal, estadual e municipal.

A lógica do governo federal envolveu obras de grande vulto, como drenar definitivamente águas, para que, com a saída delas, numa imitação da formação natural da restinga, dali emergisse uma porção de solo firme. Portanto, a formação física da Ilha Cultural, onde está situado o LIM, é o resultado dessa lógica de Estado (fig.30).

Figura 30 - Transformação pela Lógica de Estado - canal Guaxindiba, CEAR e foz

Fonte: Google Maps. Adaptação da autora, 2014.

Assim, como parte dessa lógica, por um lado, o rio Guaxindiba, a montante (poente), segundo Sofiatti (2009), foi retilinizado, teve seu leito rebaixado e foi aberto o canal Guaxindiba, de ligação ao CEAR. Com isso, transformou-se o rio Guaxindiba em afluente do canal Guaxindiba. Essas transformações ocorridas no trecho a aproximadamente 900m da linha do oceano, foz desse rio, deram origem a solos firmes, pois áreas de brejos foram drenadas e o caudal do rio Guaxindiba foi reduzido.

Por outro lado, esse rio foi transformado em afluente do CEAR, a jusante (nascente).

O CEAR,ַaoַganharַexpressãoַcomַoַnovoַvolumeַd’água,ַalterouַeַusurpouַ a foz natural daquele rio59, contribuindo para o isolamento dessaַparteַdaַ“restingaַgoitacá“.

59

Rever figuras 22 a 24.

74

Esse isolamento confirma-se na citação de agente local60 sobre o impacto causado por essa transformação: “(...) esse rio [Guaxindiba] também ele foi cortado ele foi desviado nós sempre estamos sendo sacrificado nessa parte entendeu então isso ficou muito ruim pra gente aqui perdemos um pouco a nossa riqueza que era esse rio que a gente tinha mudou perdeu a força d’água a gente só tem a força da maré onde deveria ter uma água de chuva que fizesse essa corrente de ida e volta com a água do mar que enche e seca ela só enche pela água do mar quando tem maré a gente entra é bem sacrificado (...)”ַ(sic).

3.2.1.2 Parcelamento e Zoneamento da Ilha Cultural Entretanto, após “conquistar”ַesse solo firme, a lógica de Estado, também do governo federal, com a política sanitarista e desenvolvimentista dos anos de 1979, impôs um parcelamento dessa Ilha Cultural, através da sua Lei Federal de Parcelamento e Uso do Solo.

Mas foi na instância do governo estadual do Rio de Janeiro a ação de rasgar esse solo com a construção de duas rodovias estaduais, a RJ232 e RJ196. Sendo que esta última atravessa o LIM, ligando a praia de Guaxindiba à praia de Sossego.

E, em 1979 - portanto, antes da "Constituição Municipalista" de 1988 -, através da sua Secretaria de Planejamento, participou de um projeto integrado para elaboração de um "Plano de Desenvolvimento Físico-Territorial do Município de São João da Barra (SJB)", mediante técnicas de base científica61. Esse plano foi aprovado e sancionado como legislação municipal62, respectivamente, pela Câmara e pelo Prefeito do município de SJB – este, instância de governo municipal de então (MSJB). Por essa legislação, o Setor Especial (SE) foi definido63 como área cuja proteção deve ser assegurada, em decorrência de abrigar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção. Deve ser ocupada por vegetação de mangue e situar-se ao longo dos rios e outros cursos de água, lagoas e canais. Ficando vedado o parcelamento do solo e qualquer edificação, assim como, cortar, derrubar ou retirar qualquer espécime de sua flora natural. O uso existente podia ser conservado, mas não seriam permitidas novas

Entrevistado nº 15.

O processo do projeto de lei não foi achado (ANEXO A).

62 Essa legislação contempla: a definição do próprio plano físico e territorial; objetivos gerais e específicos; diretrizes; divisão do território; zoneamento do município; zoneamento de áreas urbanas e de expansão urbana; parcelamento do solo; obras em geral; e rede viária urbana.

63 Lei do zoneamento e uso do solo (art.45, incisos I, II e IV, e 46, §1º).

60 61

75

edificações ou ampliação das existentes. Portanto, o objetivo era proteger o ambiente e não permitir novas habitações ou suas ampliações.

Na área de restinga em estudo (fig.31), estabeleceu-se então a área de localização da Ilha Cultural - onde se insere o LIM - em duas zonas administrativas distritais (2ª e 3ª). E impôs o zoneamento desse solo, não apenas para construção - Zona Residencial (ZR) e Zona de Expansão Urbana (ZEU) - como também para a não construção - área não Parcelada (NP) e Setor Especial (SE). Como se pode ver, o LIM, em sua grande parte, localizava-se no então 3º distrito do MSJB. E a menor parte, a sul, no então 2º distrito do MSJB, ocupando uma pequena parte, embrejada, de Zona de Expansão Urbana de grau 5 (ZEU 5).

Figura 31 - Transformação pela Lógica de Estado - Zoneamento Urbano

Elaborado pela Autora (2014), com base em projetos da SECPLAN, 1979

Porém, o LIM foi planejado e aprovado (fig.32) em área Não Parcelada (NP), de Setor Especial (SE) e em Zona de Expansão Urbana de grau 5 (ZEU 5).

Logo, há contradições na própria Lógica de Estado: por adotar diferente critério técnico entre zonas semelhantes e contiguas (fig.31); pela aprovação do projeto desse loteamento, embora sob condição de reformular quadras em destaque (fig.32), mas ignorando esse mesmo critério.

76

Figura 32 - Transformação pela Lógica de Estado - Aprovação do Projeto do LIM

Elaborado pela Autora (2014), com base no projeto do LIM aprovado com restrições (1982)

Posteriormente, após a emancipação de São Francisco de Itabapoana a município64, em 1995, em instância de governo municipal atual (MSFI), criou-se um Plano Diretor Municipal Participativo (PDMP)65, em 2006, como "principal instrumento da política de desenvolvimento urbano e ambiental de São Francisco de Itabapoana, aplicável a todo o município e referência obrigatória para os agentes públicos e privados que atuam no Município [MSFI]" (Art.2º). Esse PDMP fundamenta-se na premissa da inclusão social, mediante ampliação da oferta de terra urbana, moradia digna, saneamento básico, infraestrutura urbana, para a população de São Francisco de Itabapoana (Art.3º, inciso I).

Porém, esse PDMP está incompleto, sem os anexos. Aliás, um entrevistado66 ligado ao poder público afirmou que esses anexos não foram elaborados. Entretanto, para efeitos da ampliação da oferta de terra urbana, o que se encontrou foi um extrato de dispensa de licitação, em 2005, no valor de R$173.864,00 entre o poder público municipal e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos (CEFET) contratado para os serviços de levantamento cadastral de imóveis urbanos, a fim de

Formação administrativa dos limites municipais estabelecida por Lei Estadual nº 2379, de10/01/1995.

Lei Municipal nº 228, aprovada Câmara Municipal e sancionada pelo Gabinete do Prefeito em 10/10/2006, que instituiu o "Plano Diretor do Município de São Francisco de Itabapoana" (SFI). Esse "Plano Diretor" foi resultante de um "processo participativo", conforme confirmado por alguns dos entrevistados.

66 Entrevistado nº 008.

64 65

77

atender as necessidades da secretaria municipal de fazenda. Segundo esse mesmo entrevistado, o CEFET fez apenas a primeira parte desse trabalho - o cadastramento da população - e este “se perdeu”.

Além disso, encontrou-se apenas uma proposta desenhada de mapa rodoviário com definição de zoneamento (fig.33).

Figura 33 - Transformação pela Lógica de Estado - Mapa rodoviário- Zoneamento Atual

Fonte: SMP/PMSFI/PDMP (2006). Adaptação da autora.

E encontrou-se também uma apresentação de slides com imagens de zonas de interesse ambiental e paisagístico (fig.34).

Figura 34 - Transformação pela Lógica de Estado - ZIAPs

Fonte: SMP/PMSFI/PDMP (2006). Adaptação da autora.

78

Com destaque para: o CEAR (à esquerda) - não rio Guaxindiba, como apresentam; e o manguezal do rio Guaxindiba (à direita) - não mangue de Gauxindiba, como também apresentam.

Adicionalmente, ainda pelo PDMP, a Política Habitacional desse novo município implementa-se por meio de programas e projetos habitacionais, contemplando, dentre outras, estas diretrizes (Art.80, §2º, incisos II e III): prioridade no atendimento à habitação de interesse social nas áreas indicadas como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS); e reassentamento da população apenas em situação de risco à vida ou ambientais, garantindo relocação das famílias para áreas próximas ao local de remoção. No entanto, a promoção da Habitação de Interesse Social nesse município tem como objetivo (Art.85, inciso VIII, e Art.86, inciso II) evitar a expansão da ocupação por população de baixa renda em áreas de preservação ou de interesse ambiental, que será alcançado mediante identificação e delimitação de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS). E essas ZEIS, são as áreas públicas ou privadas, destinadas a segmentos da população em situação de vulnerabilidade social, prioritárias no atendimento a programas e projetos habitacionais (Art.91).

Entretanto, as Zonas Especiais de Interesse Social 1 (ZEIS 1)67, por esse plano (Art.92, Parágrafo Único, incisos I e II), serão constituídas nos locais já ocupados por segmentos da população, caracterizados como assentamentos precários, e são passíveis de reassentamento para garantir a segurança de vida ou a preservação ambiental, as moradias nas faixas tanto non aedificandi e de domínio de vias públicas quanto de amortecimento de vegetação nativa. Já as Zonas Especiais de Interesse Social 2 (ZEIS 2) são as áreas vazias ou subutilizadas, destinadas prioritariamente à promoção da habitação de interesse social, especialmente para reassentamento da população residente em situação de risco (Art.93).

Essas ZEIS, naquela apresentação de slides sobre o PDMP, abrangiam o LIM, de área urbana (fig.35): a ZEIS 2, o lugar do campinho (zona central do LIM); e, a ZEIS1, no entorno desse campinho.

"São critérios para identificação das ZEIS 1 os assentamentos precários que apresentem as seguintes condições: I – ocupaçãoַresidencialַnasַmargensַdeַcursosַd’águaַeַcanaisַ(...)ַemַáreasַ de preservação já comprometidas pela ocupação e de fácil integração à malha urbana, em situação que não coloque em risco a segurança de vida (...) III – loteamentos irregulares ou clandestinos destinados à população de baixa renda, carentes de infra-estrutura e equipamentos urbanos (...)"

(Art.95).

67

79

Figura 35 - Transformação pela Lógica de Estado - LIM nas ZEIS1 e ZEIS2

Fonte: PMSFI (2006). Adaptação da autora.

Com essas regras para lotear aquele solo, o resultado desta lógica configurase (fig.31 e 35) na Área Urbana e duas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS 1 e ZEIS 2). Por isso, entende-se que o LIM ocupa tanto uma ZEIS 1 quanto uma ZEIS 2, embora continue dividido por duas zonas administrativas distritais, agora, a 1ª e 2ª.

Pode-se dizer que, em momento já abrangido pela constituição municipalista e cidadã de 1988, é comַesseַ PDMPַ que,ַnoַ LIM,ַ seַ dáַoַ “primeiroַ encontro”ַ entre entre o homem político, o administrativo, o cidadão e o da oferta/consumo.

3.2.1.3 Projetos e construções populares Recentemente, o governo federal68, na regularização fundiária de interesse social dos assentamentos inseridos em área urbana de ocupação consolidada e que se encontram em Áreas de Preservação Permanente (APP) – como é o caso do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM) -, estabeleceu para o país que a regularização ambiental será permitida. Isso se dará por meio de aprovação de projeto de regularização fundiária69 de interesse social. E esse projeto deverá incluir um estudo técnico70 que demonstre a melhoria das condições ambientais em relação à situação

Lei Federal nº 12.651, de 25/05/2012, que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa. Altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001. Dá outras providências.

69 Na forma da Lei Federal nº 11.977, de 7 de julho de 2009. Dispõe sobre o programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV - e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas.

70 Esse estudo técnico deverá conter, no mínimo,ַ osַ seguintesַ elementos:ַ 1)ַ “caracterizaçãoַ daַ situaçãoַambientalַdaַáreaַaַserַregularizada”;ַ2)ַ“especificaçãoַdosַsistemasַdeַsaneamentoַbásico”;ַ 3)ַ“proposiçãoַdeַintervençõesַparaַaַprevençãoַeַoַcontroleַdeַriscosַgeotécnicosַeַdeַinundações”;ַ 4) “recuperaçãoַdeַáreasַdegradadasַeַdaquelasַnãoַpassíveisַdeַregularização”;ַ5)ַ“comprovaçãoַdaַ melhoria das condições de sustentabilidade urbano-ambiental, considerados o uso adequado dos recursos hídricos, a não ocupação das áreas de risco e a proteção das unidades de conservação, 68

80

anterior, com adoções das medidas nele preconizadas71. No caso do LIM, não se encontrou qualquer projeto de regularização fundiária para esse loteamento, nem do respectivo estudo técnico.

Ao contrário, na lógica de Estado, pelo primeiro governo do novo município, o que se observa é uma primeira ideia de construção de casas populares em terreno livre - numa das quadras destinada a praça, no LIM. No entanto, segundo Acruche (2002), essa ideia originara um projeto de 18 casas populares, com 2 quartos, de autoria de engenheiro civil72, inicialmente previstas para construir em Sossego, entre 2003 e 2005.

Figura 36 - Transformação pela Lógica de Estado - Casa Popular (modelo)

Fonte: Acruche (2002, p. 262)

Porém, em 2002, a casa modelo foi construída em quadra destinada a praça no LIM (fig.36 e 37). Todavia, a construção dessas 18 casas populares não prosseguiu, e o projeto foi arquivado. E, segundo uma das entrevistadas73, residente no local, essa casa modelo foi reclamada à PMSFI por uma pessoa, residente no Rio de Janeiro, alegando que ela fora implantada num terreno sob sua posse (fig.37).

Atualmente, essa casa encontra-se aparentemente concluída e habitada, sob a forma de aluguel.

quandoַ forַ oַ caso”;ַ 6)ַ “comprovaçãoַ daַ melhoriaַ daַ habitabilidadeַ dosַ moradoresַ propiciadaַ pelaַ regularizaçãoַproposta”;ַeַ7)ַ“garantiaַdeַacessoַpúblicoַàsַpraiasַeַaosַcorposַd'água”.

71 Lei Federal nº 12.651/2012, art.64, § 1º.

72 Franchel Fantinaitti.

73 Entrevistada nº089.

81

Figura 37 - Transformação pela Lógica de Estado - Casa Popular (modelo/posse)

Fonte: Acervo da autora, 2014.

Ressalta-se que aquela casa modelo foi construída por participantes certificados na conclusão do Curso de Técnicas de Construção Civil de Habitação (fig.38).

Figura 38 - Transformação pela Lógica de Estado - Certificação de Técnicos de Construção

Fonte: Acruche (2002, p. 262)

82

Não obstante, observou-se que a ideia de construir casas populares persiste no município, em geral, e no LIM, em especial. E, segundo um entrevistado do poder público local74, começa a ganhar corpo com a Secretária Municipal do Trabalho de Assistência e Promoção Social que estrutura, atualmente, o Conselho Municipal de Habitação de Interesse Social. Um conselho que tratará da política habitacional do município. No que se refere ao Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM), um outro entrevistado do poder público local75 afirmouַ queַ háַ planosַ paraַ implantarַ “Minhaַ CasaַRural”ַparaַcomercializaçãoַno LIM. Ele afasta qualquer hipótese da realocação dos residentes em áreas de risco desse mesmo lugar, pois, por um lado nessa área de risco há casas melhores que aquelas a serem implantadas, e, por outro, serão vendidas e, por fim, não se pode obrigá-los a mudarem-se.

Aliás, anteriormente, a PMSFI tentou realizar a construção de banheiros residenciais para 91 (noventa e uma) famílias de baixa renda – projeto conforme figura 39. Contratando o serviço de terceiros, com recursos repassados por programa do governo federal76 e sob processo de licitação, até o limite de R$ 595.881,03 - incluindo a contrapartida da PMSFI (R$ 61.152,79) e excluindo o investimento das famílias (R$ 6.548,14).

No entanto, esse projeto não foi adiante por vários fatores que condicionava esse contrato de repasse. Como se verá a seguir, um desses fatores não foi levado em conta pela PMSFI: a falta de regularização fundiária dos 91 imóveis contemplados por um programa do governo federal para urbanização, regularização e integração de assentamentos precários. Porquanto se observou que as obras nas casas dessas 91 famílias, depois de licitadas77, foram adjudicadas pelo poder público

Entrevistado nº008.

Entrevistado nº033.

76 Meta 3, Fase I, do cronograma de execução de sete metas do Contrato de Repasse nº 023356988/2008, firmado em 30/10/2010, com a União Federal. Através do Programa FNHIS (Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social), do Ministério das Cidades, e por intermédio da Caixa Econômica Federal (CEF), no montante de R$ 2.138.400,00, e em vigor até 31/05/2015. Com o valor da contrapartida e sem o investimento das famílias beneficiárias, o total dessa ação programada era de R$ 2.481.330,17.

77 Conforme aviso de licitação, para tomada de preços, nº 005/2012, em 29 de maio de 2012 (publicado no DOU de 30/5/2012). E extrato da licitação em 22 de junho de 2012 (D.O. de 30 de julho de 2012, ano III, nº74) - emַqueַaַempresaַvencedoraַfoiַ“PAVICARIַPAVIMENTAÇÃOַLTDAַEPP”.

74 75

83

a um empreiteiro sob contrato78 que, poucos depois, foi rescindido unilateralmente pelo prefeito de SFI79.

Figura 39 - Transformação pela Lógica de Estado - Banheiro Residencial (projeto)

Fonte: PMSFI, 2012

Mais especificamente, em seu despacho de 17/10/2012, o prefeito de SFI fez quatro considerações para fundamentar essa rescisão:1) a imposição da CEF80; 2) um parecer da procuradoria do município de SFI81; 3) informações constantes do processo82; e 4) uma determinação legal83. E esse prefeito alegou que a exigência da CEF, confrontada com a realidade jurídica daqueles 91 imóveis que seriam beneficiados pelo contrato de empreitada, tornou esse instrumento contratual inviável face ao “custo efetivo”ַe “enorme lapso temporal”ַpara implementar essa regularização.

Conforme extrato de rescisão de contrato em 18 de outubro de 2012 (D.O. de 31 de outubro de 2012, ano III, nº80).

79 Conforme extrato do contrato em 22 de junho de 2012 (D.O. de 30 de julho de 2012, ano III, nº74).

80 Orientação Operacional nº12ַdeַ2009ַcujoַconteúdo,ַsegundoַoַprefeito:ַ“impõeַcomoַcondiçãoַàַ implementação do contrato em tela, a regularização fundiária das unidades habitacionais ou lotes das famíliasַbeneficiárias”.

81 Por esse parecer:ַ “osַ direitosַ reaisַ sobreַ imóveisַ sóַ seַ adquiremַ comַ oַ registroַ noַ Cartórioַ deַ RegistroַdeַImóveis”.

82 Segundoַasַquais:ַ“quaseַtodosַ[91ַfamílias]ַencontram-seַemַsituaçãoַirregularַdeַconstituição”.

83 Pelaַqual:ַ“aַexecuçãoַdeַobrasַeַserviçosַdeveַprogramar-se, sempre, em sua totalidade, previstos seusַcustosַatualַeַfinalַeַconsideradosַosַprazosַdeַsuaַexecução”.

78

84

Ainda assim, o governo municipal implantou alguns projetos desses banheiros residenciais e reformas de unidades habitacionais de baixa renda, no LIM. Contudo, esse projeto de banheiro não incluía saneamento básico. Desse modo, cerca de cinco famílias de baixa renda foram contempladas, pelo poder público, com a construção de banheiros84 em suas residências.

No entanto, outro aspecto da dificuldade de implantação desse projeto exemplifica-se com a obra na casa de uma das entrevistadas85. Segundo essa moradora, uma equipe do poder público local (PMSFI) iniciou a obra do banheiro (fig.40), mas, próximo do fim, alegadamente por falta de verbas, não concluiu o que se propôs a fazer - deixando mesmo alguns materiais de acabamento no local. É o que se depreende de parte de sua entrevista no local: “(...)ַvieramַumaַequipeַaquiַemַcasaַeַfaloַqueַeuַtinhaַsidoַcontemplada em fazer um banheiro nas casas que isso eu sempre tenho um cadastro lá na prefeitura na secretaria de educação sei lá a onde do CRAS que vai pra lá tipo que eu vivo eu sou uma das famílias carentes em condições precárias (...) fizeram aqui na frente para contenção de despesas (...) um quartinho que a gente fez de quarto era para ser um banheiro apesar de ser na frente era encostado ao lado o meu sonho era crescer a cuzinha aqui nesse ponto aqui porque a minha cuzinha é muito pequenininha ela era de frente pra rua tinha uma janela que até era mais fresco (...)”ַ ַ eles não deixaram caixa d’água nada disso eles falaram que não podiam termina e que o material também não podia ficar aqui (...)”ַ(sic).

Figura 40 - Transformação pela Lógica de Estado - Banheiro Residencial (inacabado)

Fonte: acervo da autora, 2014

Vale lembrar que não houve projeto de alteração que levasse em conta o acréscimo de banheiro na estrutura existente das casas. Além disso, os residentes

Com área útil igual a 2,28 m² (1.20m X 1.90m); em alvenaria rebocada e pintada; coberto por telha de fibrocimento, sobre estrutura de madeira; equipado com lavatório, vaso sanitário, chuveiro; revestimento cerâmico impermeável de piso e paredes; instalação para tanque (no exterior de uma dessasַparedes);ַeַumaַcaixaַd’água 85 Entrevistada nº026.

84

85

não foram ouvidos. Portanto, esse é mais um projeto inacabado que tem prejudicando a qualidade de vida dessas famílias.

3.2.2 Transformação pela Lógica de Mercado A lógica de Mercado também faz parte da lógica da transformação dessa restinga em ilha, destacando-se aqui algumas das “obras de arte” feitas pelo governo estadual fluminense e facilitadoras do Mercado: a construção do trecho da RJ 196, entre Guaxindiba e Sossego, no sentido norte-sul do LIM; e a ponte da amizade sobre o CEAR, em Sossego, no seguimento da RJ 196, no extremo sul do LIM. Mas essa transformação ocorreu, principalmente, a partir do mercado de terras formal e informal. E o mercado imobiliário contribuiu para a vulnerabilidade física do LIM. No entanto, foi o mercado de drogas e prostituição que agravou a vulnerabilidade social desse loteamento.

No que respeita ao mercado imobiliário, em dezembro de 1981, a empresa Durval Lima Empreendimentos Imobiliários LTDA apresentou à Prefeitura de São João da Barra86 um projeto com o nome Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”. Em 22 de dezembro de 1982, esse projeto do LIM foi aprovado. Mas sob condição de reformulação de quadras (fig.41-esq). E "reservando, no curso do Rio Guaxindiba, uma faixa de 15,00m (quinze metros) de reserva de marinha, onde deverá ser implantada uma avenida com as finalidades de acesso ao Rio Guaxindiba e anexada ao sistema viário do loteamento" (fig.41-dir).

Além disso, essa empresa deveria cumprir seis exigências87 de melhoramentos de infraestrutura de implantação do loteamento em 180 (cento e oitenta) dias a contar da data de aprovação.

Processo nº 6337, de 14/12/1981. Projeto datado de 31/07/1981, do arquiteto Luis Alberto Peres de Siqueira (ART 27161-U). Projeto aprovado em 22/12/1982 pelo Secretário de Obras e Serviços Públicos, pelo Secretário Municipal de Obras e Serviços Públicos e pelo Prefeito de São João da Barra.

87 Estas são as seis exigências: 1ª) "Desmatação e nivelamento de toda a área a lotear" - de modo que "a gleba ficasse em perfeitas condições de receber todos os melhoramentos técnicos de implantação de ruas, meios-fiosַ eַ construçãoַ emַ cadaַ lote";ַ 2ª)ַ “Revestirַ eַ compactar,ַ aַ recifeַ ouַ material saibroso de 1ª qualidade, todas as caixas de ruas, obedecendo ao nivelamento e à respectiva ‘grade’ַprojetada”;ַ3ª)ַ“Demarcarַtodosַosַlotesַcomַestacasַvisíveis,ַdeַmodoַaַ não trazer dúvidas posterioresַaosַadquirentesַdeַcadaַlote”;ַ4ª)ַ“Medidasַlinearesַeַáreasַmencionadasַemַcadaַloteַ seremַdeַinteiraַresponsabilidadeַdaַfirmaַrequerente”;ַ5ª)ַ“Áreasַreservadasַeַdeterminadasַporַleiַ para a Instituição Municipal e constantes do projeto em aprovação, fossem preservadas para fins específicos,ַquandoַdelasַ aַPrefeituraַ necessitasse”;ַeַ6ª)ַ“Foramַexcluídasַdaquelaַ aprovaçãoַasַ seguintes quadras e lotes, até posterior projeto de reformulação do loteamento (em 30 dias após a data da aprovação com restrições - 22 de Dezembro de 1982): Quadra A - lotes de 1 a 3; Quadra B - lotes 86

86

Portanto, na fase de projeto, a Lógica de Estado (do governo municipal PMSJB) e a lógica de Mercado (Loteamento de terra particular) “alinharam-se”.ַ Porém, pela 6ª exigência daquelaַaprovaçãoַsobַcondição,ַasַquadrasַ“A,ַB,ַC,ַE,ַG,ַ I,ַJ,ַL,ַTַeַU”ַdeveriamַserַreformuladasַ(fig.41-esq). Isso seria de suma importância para viabilizar o cumprimento das demais exigências relativas a esse projeto.

Figura 41 - Transformação pela Lógica de Mercado - Projeto do LIM (aprovado)

Aprovação com restrições da PMSJB, em 1982 (esq). Faixa de proteção do LIM (dir).

Elaborado pela autora (2014) a partir de planta cedida pela Prefeitura.

Ressalta-se que a faixa de proteção do curso do CEAR e a integração dessa faixa ao sistema viário do LIM foram garantidas no projeto, mas a faixa proteção do curso do rio Guaxindiba (fig.41-dir) não foi garantida.

No entanto, na área do LIM e por parte do poder público: não houve o cumprimento do zoneamento de solo - planejada e estabelecida para cumprimento por todos, como Lei; nem foram levadas em conta as regras de loteamento estabelecidas em 1979; e não foram atendidas as restrições contidas no parecer técnico emitido por aquela prefeitura ao requerente do LIM. Entretanto, constatou-se que, no mapeamento da visita de campo e em imagem via satélite (Google Earth) do lugar, houve alterações ao projeto aprovado, mas em desconformidade àquelas seis exigências – como se pode ver na figura 42. Em suma, dessa forma, emergiram quadras (re)parceladas, anexadas a lotes,

e/ou

de 1 a 8 ; Quadra C - lotes de 1 a 9; Quadra E - lotes de 1 a 8; Quadra G - lotes de 1 a 13;Quadra I - lotes de 1 a 31; Quadra J - lotes de 1 a 5; Quadra L - lotes de 1 a 10; Quadra T - lotes de 1 a 27; e Quadra U - lotesַdeַ1ַaַ8”.

87

(re)comercializadas, e/ou doadas, não necessariamente a pessoas necessitadas de um lugar para viver.

Todavia não se encontrou na prefeitura qualquer aprovação de projeto que permitisse essas alterações. Portanto, o LIM foi implantado pela força do mercado, perante a permissão tácita do governo municipal. Assim, na fase de implantação, a Lógica de Estado (do governo municipal - PMSJB) e a lógica de Mercado (loteamento de terra particular) “desalinharam-se”.

Figura 42 - Transformação pela Lógica de Mercado - Implantação do LIM (“irregular”)

Elaborado pela autora (2014) a partir de planta cedida pela Prefeitura

Além disso, a grande maioria dos lotes do LIM foi comercializada de forma irregular.

Dos entrevistados, apenas um, em entrevista não gravada, provou ser proprietário88 de lotes no LIM. Ele disse que, desde 1992, negociou 18 lotes do espólio da firma Durval Lima Empreendimentos Imobiliários LTDA, pelo processo de desmembramento de uma área com 6.780 m², na área central do LIM - onde a cota

88

Entrevistado nº025.

88

de nível é uma das mais altas. O recibo em seu nome é de 1 de dezembro de 1997 (ANEXO B) e a respectiva escritura é de 14 de janeiro de 1999 (ANEXO C). Esse foi o único caso emַqueַseַobservouַaַexistênciaַdeַumַ“mercado imobiliário formal”.

Todavia, alegando falta de segurança no lugar, esse entrevistado decidiu vender esses lotes. Por isso serviu-se deַumaַplacaַ“vendoַlotesַ(...)ַcomַescritura”,ַ tendo afixado na cerca de um dos seus lotes ainda sem construção (fig.43). Ele acrescentou que, além de lotes, também tinha à venda uma casa construída em um de seus lotes, nesse mesmo lugar. Ele disse ainda que (sic): “(...)ַnósַgostamosַmuitoַ de lá (...) mas, a prefeitura não conteve a invasão, não cuidou do lugar, este cada vezַéַmaisַinseguroַ(...)”.

Figura 43 - Transformação pela Lógica de Mercado - Venda de lotes no LIM

Acervo da autora, 2014 - Evidência de Mercado Formal no LIM.

Em sentido oposto, em entrevista não gravada, outro entrevistado89, com residência de férias90 de boa qualidade (fig.44), implantada junto ao rio Guaxindiba, disse amar viver no LIM, onde tem pretensões de morar assim que se aposentar. De suas declarações destaca-se (sic): “(...)ַnãoַtenhoַproblemasַaquiַeu sinto muita paz muita amizade claro que alguns problemas, mas como em todo lugar mais aqui tem menos aqui é um lugar excelente (...) atualmente tenho gostado mais um pouco porque eu tenho visto que (...) o prefeito tem sido mais zeloso com a área de São Francisco (...) isso aí já me anima a investir”.

Entrevistado nº013 Lugar de 4 habitações em 2 lotes contíguos, que se assemelha a uma chácar, e apropriação de parte de espaço público: rua, praça e margem de rio Guaxindiba. Um segundo andar. Herança dos sogros.

89 90

89

Figura 44 - Transformação pela Lógica de Mercado - Investimento no LIM

Acervo da Autora, 2014

No entanto, a proeminênciaַdeַumַ“mercado imobiliário informal”ַrevela-se a partir de declarações de outros entrevistados...

Um deles91 disse que também negociou um lote com aquela mesma firma, empreendedora do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM). Foi há mais de 25 anos, mas não chegou a fazer escritura deste porque, depois das prestações pagas, “fez um bom negócio com outra pessoa e repassou o contrato quitado”. E outras duas entrevistadas revelaram que, há cerca de 19 anos, uma delas92 negociou dois lotes e a outra93 uma casa, ambas com um construtor94 local, por meio de recibo.

Além disso, verifica-se a comercialização de lotes e casas sem escritura. Um exemplo dessa comercialização informal é uma placa (fig.45) “vendoַ estaַ casa”ַ afixada por outro entrevistado95 em uma árvore num lote situado junto à RJ196. Esse entrevistado declarou que vende a sua casa por motivo de doença.

Resumindo, ao analisar a Lógica de Mercado no LIM, entende-se que esse loteamento foi construído por ações sociais do homem político (formais) e do cidadão (formais e informais). E ações de planejamento, aprovação e comercialização. Porém, o que mais se destacou foi a Lógica de Estado (PMSJB) favorecendo ou permitindo a lógica de Mercado (formal e informal) em terras públicas, glebas, parcelas, lotes e casas - do LIM e entorno.

Entrevistado nº104.

Entrevistada nº089.

93 Entrevistada nº028.

94 Citado pelas entrevistadas, nº089 e 090: Grimaldo.

95 Entrevistado nº005.

91 92

90

Figura 45 - Transformação pela Lógica de Mercado - Venda de lotes no LIM

Acervo da autora, 2013 - Evidência de Mercado Informal no LIM

3.2.3 Transformação pela Lógica da Necessidade A lógica da Necessidade é a terceira e última parte da lógica da transformação dessa parte da restinga em ilha. Uma transformação que ocorreu, principalmente, a partir da ocupação informal de terras pela necessidade de habitação - especialmente nas extremidades e pontos dispersos do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”. Nessa lógica o capital acumulado não é uma exigência para coordenação das ações individuais e coletivas na ocupação do solo. Essa lógica tem o seu próprio ritmo e velocidade, mas imita a lógica de Mercado no caso de fracionamento de lotes e comercialização de casas.

Noַ queַ seַ refereַ àַ “ocupação por necessidade”,ַ destaca-se o início da formação do LIM. A análise no projeto do LIM96, à escala original, na PMSFI, evidencia 488 lotes (deַ“1”ַaַ“488”),ַ24 quadras (de “A”ַaַ“X”) e 13 ruas projetadas (de“1”ַaַ“9”, e de “A”ַ aַ“M”). Porém,ַasַruasַnoַLIMַsãoַconhecidasַcomoַruaַdoַ“Zezeca” - pelo menos para maioria dos residentes locais entrevistados.

Sobre esse nome popular das ruas no LIM, um dos entrevistados97 declarou queַ “Zezeca”ַéַoַ apelidoַ deַ um agente local que residiu em Guaxindiba. Segundo

96 97

Rever figura nº 32.

Entrevistado nº 002.

91

esseַentrevistado,ַ“Zezeca”ַfoiַumַhomemַcomַ“pretensõesַpolíticas” (fig.46) e, por isso, tentou lotear áreas no LIM já com alguma construção.

Figura 46 - Transformação pela Lógica da Necessidade - o homem político no LIM

Fonte: Acervo do entrevistado nº 049, 1989.

Agenteַsocialַ“Zezeca”ַ(àַdireita) e Leonel Brizola (à esquerda).

Portanto, esse agente local iniciou aַ“invasão”ַdo LIM com doação de terrenos públicos a pessoas pobres, pescadores e sem casa.

Corroborando com essas declarações, outro entrevistado98, informando o verdadeiro nome99 doַ“Zezeca”, disse que ele foi o terceiro dos onze filhos de uma família tradicional, de classe média, de Guaxindiba. Segundo aquele, antes da emancipação do MSFI, na venda e doação de terrenos no LIM pelo “Zezeca”, houve um valor simbólico, mas apenas para cobrir custos com emissão de recibo e registro em cartório. E isso foi feito exclusivamente para as pessoas carentes do município e sem casa para morar. Esse entrevistado justificou esta ação desse agente (sic): “(...)ַ ele via que a pessoa não tinha terreno ele dizia escolhe o terreno aí [LIM] escolhia marcava (...) ele descobriu que isso aí [LIM] pertence a marinha (...) tem muito terreno aí [LIM] que ele deu (...) a história é essa eu sei que tá todo mundo morando ali [no LIM] há muito tempo (...)”. Ainda pelas declarações desse entrevistado, confirmou-se que esse agente local se candidatou a vereador no recém município de São Francisco de Itabapoana, por duas vezes, mas sem sucesso. E, antes que

98 99

Entrevistado nº 049.

Nome revelado à autora, mas mantido em sigilo nesta dissertação.

92

chegasse ao fim da sua 2ª candidatura, faleceu, sem que fosse atendido o seu último pedido - quando hospitalizado (sic): “(...)ַvocês ... vão lá em ... [Zezeca] ele separou um terreno aí pra fazer uma casa pra gente de idade que não tem lugar pra viver pra ir pra lá pra esse barracão ele queria falar com ... [Zezeca] praַfazerַissoַaíַ(...)”.

Portanto, esse agente social foi o que mais se destacou na construção cultural no LIM. Um homem empreendedor ou da oferta: um loteador de terras. Ele não pertencia, pelo menos formalmente, ao poder público legalmente constituído, local ou regional ou estadual ou federal. Nem residiu naquele loteamento. Contudo, sua imagem local é a de um homem político, administrador, do poder, que se impõe como príncipe ao limitar, dominar, preparar e impor o meio, local ou regional. Mas é também a imagem de um homem cidadão, do trabalho e do consumo com fundamental importância na distribuição de terras aos pobres - tirou de quem tinha para dar a quem não tinha, fazendo lembrar o “Robin dos Bosques”100. Assim, a imagem desse agente social ficou gravada na memória descritiva e desenhada do LIM e entorno. Tanto que lhe valeu ainda ter seu apelido como nome de várias ruas nesse loteamento, em particular a rua projetada 09101 (entre o rio Guaxindiba e RJ 196).

Mas a evidência mais notória da Lógica da Necessidade na ocupação do LIM está no fracionamento de lotes. Como se compreende pelas declarações de diversos entrevistados...

Uma entrevistada102 disse que, para sobreviver, necessitou vender duas partes do seu terreno. E justificou-se (sic): “(...) meu falecido marido (...) morreu eu estava grávida de 6 meses (...) aí a necessidade era (...) muito grande e eu não tinha o bolsa família ainda aí eu fui vendendo os pouquinhos os pedacinhos (...)”. Dessa maneira, seu terreno (fig.47) foi dividido ao meio (1) e, posteriormente, uma dessas metades tornou a ser dividido em outras duas partes (2 e 3). E uma destas (2) é nos fundos, com apenas um corredor de acesso na parte frontal do lote.

Outro exemplo foi o fracionamento (entre a família) de lote e casa pertencentes a uma entrevistada103 já citada. Uma casa composta por quatro unidades - três habitacionais e uma comercial. Nas declarações dessa entrevistada consta que seu

Herói inglês, mítico, um fora-da-lei, que tirava da nobreza para dar aos pobres.

No google maps, rua Rio de Janeiro.

102 Entrevistada nº 026.

103 Entrevistada nº 089.

100 101

93

falecido marido decidiu partilhar esse único bem pelos filhos, porque dois deles “estavamַsemַcasaַparaַseַcasar”.

Figura 47 - Transformação pela Lógica da Necessidade - fracionamento de lote

Acervo da autora, 2014 - Evidência de dois fracionamentos num lote pequeno (12m x 30m = 360m 2)

Assim (fig.48), o primeiro pavimento da casa principal (01) ficou para a filha; a casa no 2º pavimento dessa principal (02) ficou para um filho; a casa anexa a essa principal (03), na frente do terreno, ficouַparaַoutroַfilho;ַaַ“loja”, também na frente do terreno, foi pensada para aumentar a renda da família; e a área de lazer e jardim foi destinada ao uso comum.

Figura 48 - Transformação pela Lógica da Necessidade - fracionamento de casa

Acervo da autora, 2014 - Evidência de fracionamento de casaַemַtrêsַ“casas”ַeַumaַ“loja”

Ainda outro exemplo de fracionamento de terreno (fig.49) verificou-se em faixa de terras públicas, entre o rio Guaxindiba e a RJ196. Um terreno negociado há 18

94

anosַ entreַ oַ jáַ referidoַ “Zezeca”ַ eַ oַ filhoַ deַ umaַ dasַ entrevistadas104. Por necessidade, essa entrevistada disse que pediu a esse filho “um pedacinho”ַparaַ construir uma meia-água, pois não tinha casa nem recursos para comprar uma. Esse filho cedeu à entrevistada parte desse terreno dele, para que esta construísse sua casa - uma meia-água105. Tudo conforme palavras dessa entrevistada (sic): “(...)ַ no final de ano tinha veranista que vinha e eu trabalhava em casa de família e aí eu tinha como vive melho aqui aí meu filho dono desse terreno eu pedi a ele um pedacinho pra construir esses 2 cômodos de casa que você tá vendo (...) eu não tenho o que é meu no meu nome mais eu uso do meu filho o espaço dele mais eu tenho vontade de melhora minha casa por que na inchenti eu ficu sem te pra ondi ir (...)”.

Figura 49 - Transformação pela Lógica da Necessidade - ocupação de terra pública

Acervo da autora, 2014 - Evidência de localização de lote (fracionado) em faixa de terras públicas

Esses fracionamentos continuam a surgir, bem como a comercialização de lotes e casas, o empréstimo de fração de lote, o aluguel, as construções e os projetos, os quais transformaram continuamente o ambiente no LIM. Noַ queַ dizַ respeitoַ àַ “imitação da lógica de Mercado”,ַ destacam-se os dizeres de outros entrevistados...

A esposa de um entrevistado106 afirmou ter conhecido o lugar do LIM ainda rústico, sem construções, com apenas um campo, brejo e o córrego (rio Guaxindiba).

Entrevistada nº 079.

Não foram registradas fotos desse terreno e da construção, porque o filho da entrevistada não se encontrava no local para as autorizar.

106 Entrevistado nº 104 104 105

95

Ela disse (sic):ַ“(...)ַo primeiro morador lá foi Grimaldo (...) morou em tantos lugares que nem sei comprava uma casa vendia outra era assim (...)”. Sobre esse mesmo “agenteַ social”ַ no LIM, outra entrevistada107 declarou que a primeira casa a ser comercializada foi a dela. Como se depreende do que ela disse (sic): “(...)ַbarganhamos essa casa com a de Carrapato e ainda demos volta a um conhecido dessa família em Carrapato que comprou de Grimaldo só para fazer negócio diz Grimaldo que essa foi a primeira casa que ele fez quando viemos pra cá era um curral de cabrito não tinha porta janela nem telhado bom (...)”.

Também outra entrevistada108 disse que o lote da sua mãe, igualmente na faixa de proteção do rio Guaxindiba, foi negociado comַoַjáַreferidoַagenteַlocalַ“Zezeca”, há cerca de 35 anos, por preço reduzido, com forma de pagamento facilitada, mas sem recibo. Segundo ela (sic): “Oַnegócioַfoiַassimַele não deu o recibo o que ele cobrou foi suficiente pra ela dar (...) aí ela pegou e fez o documentusinho dela constando que ela tem com pessoas que tem computador e tal com todos os dados do terreninho ela só fez pra constar que ela tem o pedacinho dela pra ninguém invadir (...) depois ela construiu a casinha dela de vagar (...)”.

Ainda outra entrevistada109 declarou ter negociado seu lote com um agente social local, há 3 anos, por meio de um recibo registrado em cartório. Nos dizeres dela, a forma de pagamento foiַ“um freezer e mão-de-obra para construção de uma casa”,ַnesseַmesmoַloteamento.ַEsseַlote foi fracionado em três parcelas e nele já foram construídas duas casas e um comércio. Casas dessa entrevistada e do seu filho que vai se casar, e um negócio como principal fonte de renda familiar: uma loja de material de construção. Além disso utilizam parte do espaço público para uma atividade artesanal de blocos de cimento pré-fabricado (fig.50).

E, ainda sobre a faixa de proteção do rio Guaxindiba, outra entrevistada110 disse que comprou um lote com casa e que estava em curso um contrato de promessa de venda e compra. Com pagamento por promissórias mensais, similar ao sistema de aluguel. Portanto, mais uma forma de “imitaçãoַdaַlógicaַdeַMercado”ַnoַLIM.

Entrevistada nº 028.

Entrevistada nº 063.

109 Entrevistada nº 024.

110 Entrevistada nº 012.

107 108

96

Figura 50 - Transformação pela Lógica da Necessidade - comércio no LIM (informal)

Acervo da autora, 2014 - Evidênciaַdeַ“imitaçãoַdaַlógicaַdeַMercado”ַnoַLIM

Até aqui a Lógica da Necessidade foi observada com maior abrangência: em terras públicas; em faixas de proteção do rio Guaxindiba e do CEAR; nos lugares de brejos (fig.51, LIM); em praças; e em trevo.

Figura 51 - Transformação pela Lógica da Necessidade - manchas de ocupação

Elaborado pela autora, 2014 - Evidência de ocupação no LIM e seu entorno

Mas o reflexo dessa Lógica foi também observado a poente, fora do LIM - entre este e a RJ232 -, numa faixa de terras ao longo da rua das Casuarinas (fig.51, seta vermelha). Sobre essa faixa um entrevistado111, aqui já referido, em entrevista não gravada, afirmou que, quando comprou os lotes, propôs também a compra dessa

111

Entrevistado nº 025.

97

faixa. Mas não foi possível, pois o requerente do LIM alegou que se tratava de parte da caução do projeto desse loteamento - uma faixa reservada por esse requerente (e promotor) do LIM para o poder público local (PMSFI), como garantia de conclusão das obras desse loteamento.

Além disso, na tentativa de perceber neste trabalho se foi realizado algum projeto de alteração do LIM para cumprir as restrições impostas pelo poder público, ouviu-se o entrevistado112 já referido aqui como ligado ao empreendedor do LIM. Ele disse em entrevista não gravada (sic): “(...)ַnão chegamos a fazer por que começaram a invadir o loteamento reclamamos muito com a prefeitura mas não adiantou ela não se manifestou não fez nada para impedir até abrimos processo fomos para tribunal mas não deu em nada fizemos lá um investimento grande uma ponte a ponte que liga o loteamento a Guaxindiba fizemos dois projetos de ponte a baixa não quiseram disseram que tinha que ser alta para passar barcos e assim fizemos e construímos com aquelas tubulações da água no fim perdemos uns 350 lotes nesse loteamento terrenos bons fora da margem do rio o povo invadiu a prefeitura contraditória exigia que afastassem os lotes do rio mas deixava o povo invadir aquele homem da cadeira de rodas [Zezeca] e para resolver isso agora foi difícil na época agora é impossível a dívida com o IPTU é grande e já passamos pra frente aquele problema (...)”.

Por fim, após análise de observações de campo e algumas entrevistas pertinentes à Lógica da Necessidade, verificou-se a coordenação de ações individuais e/ou coletivas no Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM). Ações humanas tanto de ocupação de terras, parcelamento e fracionamento de lotes (até mesmo, de casas) como de prática de construção, comercialização, cessão, doação e aluguéis. Essas ações contribuíram muito para transformar a configuração do LIM, criando conflitos nos quais os atores não foram, necessariamente, os mais pobres. Em que a predominância dessas ações foi de apropriação de terras públicas - faixas de proteção, reserva de marinha e áreas destinadas a praças -, quer por necessidade de sobreviver ou de um lugar de viver. Mas essa apropriação não foi feita apenas por famílias de baixa renda do próprio município. Portanto, no LIM, a Lógica da Necessidade manifestou-se de várias formas e em vários trechos. Especialmente nas franjas desse loteamento.

Ressalta-se também que a Lógica da Necessidade emergiu no LIM em menor escala - e em simultâneo à Lógica de Mercado - (re)produzindo o processo de configuração dos usos urbanos do solo desse loteamento e entorno. Um processo de

112

Entrevistado nº 074.

98

ocupação cujaַ “inauguração”ַ estáַ na Lógica de Mercado (empreendedor do LIM) tentandoַseguirַaַLógicaַdeַEstadoַ(restriçõesַmunicipais).ַEַemַcujaַ“evolução” a Lógica da Necessidade “imitou” a Lógica de Estado (noַ“parcelamento” da terra) e a Lógica de Mercado (na venda dessas “parcelas”). Portanto, apesar da significativa repercussão das ações do “agente social”ַdeַapelidoַ“Zezeca” no LIM, não se pode afirmar ter sido esse agente a “inaugurar” a Lógica de Transformação do LIM. Mas pode-se afirmar que se confirmou a célebre frase do ABRAMO (2011) "os pobres, mesmo em condições de pobreza, buscam tomar decisões que de alguma maneira revelam critérios de racionalidade econômica".

Em suma, parte da restinga (do município de São Francisco de Itabapoana, em geral, e do LIM, em especial) virou “ilha física” e “ilha cultural”ַ(fig.52). Mediante uma lógica de transformação que corresponde ao efeito integrado, na "lógica" da natureza, de três tipos bem distintos de lógica “humana”: a lógica de Estado; a lógica de Mercado; e a lógica da Necessidade. E entende-se que, paralelamente a essas três lógicas aqui estudadas, o maior obstáculo na conquista da regularização do LIM foi a omissão do poder público na fiscalização de terras públicas.

Figura 52 - Lógica da Transformação: de restinga a “ilha” (física e cultural)

Fonte: IBGE, 1968 (à esquerda); Google Maps, 2014 (à direita). Adaptações da autora.

De seguida e detalhadamente mostra-seַ comoַessaַ “ilha”ַfoiַ“apropriada”ַe, então, se tornou um lugar de viver, considerando-se: características e expectativas da

99

população permanente, suas casas e entorno; ações do poder público e de outros agentes sociais; padrões, convergências e divergências observados; e elementos de possível otimização desse lugar.

3.3

A ILHA CULTURAL TORNA-SE UM LUGAR DE VIVER Movemo-nos entre paradoxos a enublarem as diretrizes sociais futuras. E os sociólogos emudecem, confusos na desordem, expectantes de vislumbres do porvir. Deixamos, assim, a obra estacionária, sem adicionais aos dados estatísticos. É o relato de um período já em fuga para trás e fixo no passado, cujo termo é o marco onde paramos. Que dele sigam outros para a frente, quando as névoas sobre a terra se dissipem e o Homem torne a achar o seu caminho. (LAMEGO,1974a, p.19; LAMEGO,1974b, p.15)

Seguindo em frente, após dissipar alguma das névoas sobre as diretrizes sociais futuras do Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM), pode-se perceber como o processo de ocupação desse loteamento torna-o um lugar de viver em ambiente vulnerável para gente que busca o seu caminho...

Para essa compreensão, reúnem-se os três elementos estruturantes da hipótese desta dissertação - habitabilidade, vulnerabilidade e qualidade de vida. E recuperam-se as unidades de análise, as categorias de análise e os graus de classificação analítica – tudo já indicado anteriormente. Recuperam-se ainda três dos atributos da paisagem do lugar como um todo: a identidade do lugar, a paisagem natural e a paisagem cultural.

Procura-se ainda abrir a já referida "caixa-preta" de English em termos de ação humana. Como agente geográfico no processo de ocupação e apropriação do LIM. E de como tem fluído ali a relação entre o ambiente e o ser humano que foi transformando o espaço primitivo em um lugar de viver.

Um espaço (fig.53) no qual nem sempre osַ“melhores”ַlugaresַestãoַnasַcotasַ de nível mais altas (zona central). Nem osַ “piores”ַ estãoַ nasַ cotasַ deַ nívelַ maisַ baixas, juntoַaosַcursosַd’águaַeַlugaresַdeַbrejos cotas consideradasַ“franjas” e, portanto, com maior risco para ocupação humana.

Face à vulnerabilidade do LIM, recorda-se que as entrevistas a representantes do poder público municipal buscaram uma abordagem qualitativa principalmente sobre sua atuação e suas propostas. Enquanto as entrevistas aos residentes respondentes, do LIM e entorno, envolveram as seguintes dimensões: a sua trajetória até o LIM; a situação das respectivas casas; as suas observações e opiniões sobre esse lugar; e a sua expectativa para o LIM.

100

Figura 53 - Ilha cultural: “melhores - ao centro” e “piores – nas franjas” lugares de viver no LIM

Fonte: Josielma Nogueira (2014). Acervo e adaptação da autora.

Tendo tudo isso em mente para compreender como o Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros”ַ(LIM) se tornou uma “ilha cultural” e um “lugar de viver”, foi feita uma análise qualitativa aprofundada com base na pesquisa de campo e nos graus de classificação desta dissertação. Nessa análise, por um lado, a partir de observações da maioria dos entrevistados, elaborou-se uma análise qualitativa através de três matrizes113 envolvendo as 31 (trinta e uma) categorias de análise deste trabalho: uma matriz apenas para as 14 (catorze) categorias adaptadas de Rybczynski, com foco na “habitabilidade”ַdoַLIM;ַoutraַmatrizַsóַparaַasַcategoriasַadaptadasַdeַVogelַet al, apontandoַ aַ “vulnerabilidade”ַ doַ LIM; e outra matriz evidenciando o grau de “construção cultural” com base nessas duas matrizes. Por outro lado, para essas mesmas categorias e a partir de 21 (vinte e uma) fichas técnicas codificadas114 elaboradas pela autora no quarto percurso de sua pesquisa de campo, foi também feita uma análise técnica qualitativa usando três outras matrizes estruturadas da mesma forma dessas.

Rever:ַ“Matriz de análise qualitativa das ENTREVISTAS: Habitabilidade no LIM” (APÊNDICE D); “Matriz de análise qualitativa das ENTREVISTAS: Vulnerabilidade no LIM” (APÊNDICE E); e “Matriz de análise qualitativa das ENTREVISTAS: Construção Cultural no LIM” (APÊNDICE F).

114 Fichas técnicas: 15 (quinze) para habitações e respectivo entorno; e 6 (seis) para o LIM. Rever APÊNDICES “C”,ַ“G”,ַ“H”ַeַ“I”.

113

101

3.3.1 Habitabilidade na construção cultural do LIM Conforme estabelecido na hipótese deste trabalho, a supracategoria habitabilidade é o principal elemento que sobressai na construção de um lugar. No intuito

de

perceber

melhor

essa

supracategoria,

as

observações

dos

entrevistados115 durante as entrevistas na pesquisa de campo foram consolidadas por cada uma das catorze categorias de análise adaptadas de Rybczynski (APÊNDICE D).

Pode-se afirmar que o resultado obtido a partir dessas manifestações convergiu

para

estas

classificações

categóricas

que

impactaram

nessa

supracategoria:ַ “ruim” (cerca de 55%) nas categorias intimidade, privacidade, domesticidade, comodidade, encanto, bem-estar físico, austeridade, conforto e bemestarַ geral;ַ eַ “razoável”ַ (restantes 45%) nas categorias luz, ar, eficiência, estilo e essência.

Por isso, a partir do conhecimento popular local, destacam-se a seguir algumas respostas que levaram a considerar-se aqui a convergência para uma “habitabilidade ruim”ַ noַ Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM). Enquadrando esse conhecimento, principalmente, na categoria de análise comodidade116 e concomitante bem-estar físico. E, em termos mais abrangentes, também na categoria conforto117 e consequente bem-estar geral...

Essa convergênciaַparaַumaַ“habitabilidade ruim”ַno LIM confirma-se no que foi dito pela entrevistada nº 026. Destacando-se uma casa mal ajustada ao tamanho de uma família de oito pessoas e que foi contemplada apenas com um banheiro social cuja obra não foi concluída (fig.54) - conforme se cita (sic): “(...)ַSãoַ5ַuַbanheroַuַquartinhoַdoַmeuַfilhoַmeuַquartoַaַsalaַiַaַcuzinha 7 filhos e eu 8 pessoas no meu quarto dormem 6 na sala 1 e outro no quartinho (...) u quartinho que a gente fez de quarto era para ser um banheiro (...) o meu sonho era crescer a cuzinha (...) minha cuzinha é muito pequenininha (...) é um calor que ninguém suporta (...) u banhero (...) não

Entrevistados que se manifestaram de alguma forma sobre as catorze categorias, adaptadas de Rybczynski, que compõem a supracategoriaַ“habitabilidade”ַdestaַdissertação.

116 Relembre-se aqui parte dos aspectos e procedimentos metodológicos deste trabalho, em que a categoria de análise I “comodidade”ַ(4) resultaַdaַclassificaçãoַatribuídaַàsַcategoriasַ“privacidade”ַ (1),ַ“intimidade”ַ(2)ַeַ“domesticidade”ַ(3). Aquela categoria, por sua vez, inclui o conceito de firmeza – associado à estrutura e estabilidade – para desenvolver-se no sentido da categoriaַ“bem-estar físico”ַ (6).

117 Recorde-se também que a categoria de análise I “conforto”ַ(13)ַresultaַdaַclassificaçãoַdadaַàsַ categoriasַ“comodidade”ַ(4),ַ“luz”ַ(7),ַ“ar”ַ(8)ַeַ“eficiência”ַ(9).ַEַ que a categoriaַ“bem-estar geral”ַ (14)ַ resultaַ daַ classificaçãoַ dasַ categoriasַ “bem-estarַ físico”ַ (6),ַ “encanto”ַ (5),ַ “luz”ַ (7),ַ “ar”ַ (8),ַ “eficiência”ַ(9)ַ“estilo”ַ(10),ַ“essência”ַ(11)ַeַ“austeridade”ַ(12).

115

102

deixaram caixa d’água (...) eles falaram que não podiam termina (...) puxa água no poço com a corda coloca no balde traz pro banhero e joga água por cima de caneco todos no vaso é a mesma coisa (...)”.

Figura 54 – Casa mal ajustada ao tamanho da família

Acervo da autora, 2014

Confirma-se também esse mau ajustamento de casa ao tamanho da família no que foi dito pela entrevistada nº 079. Ela, embora não tivesse liberdade para que fosse fotografada sua casa, em entrevista gravada disse (sic): “(...)ַ fiz um comodozinho e depois fiz o banheirinho (...) meu filho me autorizou a fazer (...) dá ele não ia me dá não mas que era pra eu fica até o tempo que Deus me desse vida (...) a gente (...) passou aqui uma fase aqui muito difiça (...) eu não tenho esgoto eu uso aquelas duas fossas ali condu chove se você mi pidi pra i ao banheiro eu vo te que dizer a você que eu não tenho banheiro porque si eu num tenho fossa eu não tenho banheiro compricado (...) pesar de ser um espaço bão (...) eu tenho vontade de melhora minha casa”.

Concomitantemente ao mau ajustamento de casa ao tamanho de uma família, duasַ “pequenas”ַ entrevistadas, em entrevistas não gravadas, revelaram a falta de encanto das respectivas casas, ao interpretarem os próprios mapas mentais e seus poemas de desejos (fig. 55 e 56). A pequena entrevistada nº 054, disse:ַ“Minha casa é piquena i feia eu gostaria que ela fosse maior di laje com piscina pé de manga mais janelas é muito calor paredi di cor alegri assim bunita”ַ(sic).

Figura 55 - Mapa Mental e Poema dos Desejos: casa pequena e feia

Fonte: entrevistada nº 054, 2013. Acervo da autora, 2013.

103

Por sua vez, a entrevistada nº 040 afirmou: “Essa é a minha casa eu acho ela feia com esses tijolos aparecendo não podi pinta é piquinininha eu gostaria que ela fosse maior pintada com jardim árvore pra eu subi pega fruta igual a essa aqui mais bunita” (sic).

Figura 56 – Mapa Mental e Poema dos Desejos: outra casa pequena e feia

Fonte: entrevistada nº 040, 2013. Acervo da autora, 2013.

Além disso, simultaneamente ao mau ajustamento de casa ao tamanho de uma família e à falta de encanto das casas, verifica-se a existência de casa inacabadas. É o que revela o entrevistado nº 070, ao interpretar o próprio mapa mental e seu poema de desejos (fig.57), em entrevista não gravada: “É assim a frente da minha casa pequena inacabada com um portão grande mas eu gostaria que minha casa fosse uma manção”ַ(sic).

Figura 57 – Mapa Mental e Poema dos Desejos: De casa pequena inacabada a uma mansão

Fonte: entrevistado nº 070, 2013. Acervo da autora, 2013.

104

Outra colaboração importante foi da entrevistada nº 042 (fig.58) que, em entrevista não gravada, acrescentou a tudo isso o fator negativo das infiltrações, ao dizer: “Meu quarto é pequeno e esses dois outros quartos não posso usar porque não tá acabado curtina faz de porta nos quartos não tem reboco a janela está quebrada e meu banheiro tá cheio de infiltrações a casa por fora ainda não tá rebocada” (sic).

Figura 58 – Casa inacabada e com infiltrações

Acervo da autora, 2013.

Isso também se vê nas figuras nº 59 e 60, e depreende-se ainda do que disseram mãe (entrevistada nº 035) e a filha mais velha (entrevistada nº 050), que compartilham o quintal onde ficam um fogão inoperante, um tanquinho de lavar roupa, um varal e uma bacia que serve de pia. Em conversa não gravada, a mãe disse: “Moro aqui nesse cômodo com minha filha mais nova aqui a gente faz tudo cuzinha faz de sala quarto essa é minha cama a da minha filha é essa aí do lado atrás desse fugão (...) temos goteiras aquela luz ali é do furo do telhado (...) o banheiro não tem caixa d’água só a privada que dá pra usar o balde é pro banho e descarga não tem pia nem chuveiro lavo minhas coisas da cozinha naquela bacia ali fora as roupas é no tanquinho ali também”ַ(sic).

Figura 59 – Casa de apenas um cômodo, inacabada e com infiltrações - mãe

Acervo da autora, 2014.

E também em conversa não gravada, a filha mais velha disse: “É meu e do meu filho pequeno esse cômodo a varandinha também, não tenho banheiro uso o da minha mãe (...) quando chove a água entra aqui é muito baixo, não tem alicerce é muito calor também (...) isso é um caldeio não tem piso e as paredes ... no chapisco”ַ(sic).

105

Figura 60 – Casa de apenas um cômodo, inacabada e com infiltrações – filha mais velha

Acervo da autora, 2014.

Essa situação de habitabilidade ruim também pode ser inferida a partir de fotos (fig.61) e extratos de conversa, não gravada, da autora com a entrevistada nº 062.

Esta disse: “Minha casa é pequena tenho muita dificuldade na cozinha não tem caixa d’água em cima o banheiro só a privada funciona mas sem descarga uso o balde com água e cloro não tem piso azulejo chuveiro pia é cansativo pra mim com essa idade (...) sala não tenho nem porta no banheiro e no quarto (...) tá tudo sem piso e reboco (...) as roupas lavo aqui fora encostada a essaַárvore”ַ(sic).

Essa ocorrência é reforçada pelo que disse o entrevistado nº 048 ao interpretar a partir doַpróprioַmapaַmentalַeַseuַpoemaַdosַdesejos:ַ“Naַminha casa tem goteira em quase todo lugar tem dois quartos e um banheiro e não tem pizo (...) eu gostaria que não tivesse goteira queria ter um quarto maio queria que tivesse dois banheiros eַqueַtivesseַpizo”ַ(sic).

Figura 61 – Casa pequena e inacabada

Acervo da autora, 2014.

Finalmente, a entrevistada nº 018 contribuiu também para a obtenção daquele grau de classificaçãoַ “ruim”ַ relativoַ àַ supracategoriaַ “habitabilidade”ַ doַ LIM.ַ Em entrevista não gravada, também interpretando o próprio mapa mental e seu poema dos desejos, essa entrevistada declarou ter casa: de dois quartos, sala cozinha e banheiro inacabado; casa muito pequena, com problemas de umidade proveniente da cobertura; e construída em uma das quatro frações do terreno da mãe, de seis metros de largura por trinta de comprimento, próximo do mangue. Essa entrevistada

106

gostaria de uma casa maior e com laje. Para isso, comprou um terreno118 - em “lugar melhor”, seco, mesmo no LIM - onde sonha construir... Portanto, para ela, o “problema” não está em morar em lugar estigmatizado como é o LIM, mas nas condições ruins de habitabilidade.

No entanto, as verificações feitas diretamente pela autora119 indicam o grau deַclassificaçãoַ“razoável”ַparaַaַsupracategoriaַ“habitabilidade”ַdoַLIM, em termos de sistematização das informações obtidas no conjunto (APÊNDICE G). Essa classificação comparativa decorre de subclassificações que resultaram em habitabilidade “péssima”ַ(entrevistadosַnºs 026, 035, 050 e 079), “ruim”ַ(entrevistadoַ nº 062),ַ“razoável”ַ(entrevistadoַnºַ042),ַ“bom”ַ(entrevistados nºs 005, 012, 017, 024, 028, 071 e 89) eַ“excelente” (entrevistados nºs 013 e 025). Em especial, com base nas categorias de análise I deste estudo e na observação direta da autora, essa “habitabilidade razoável”ַderiva de razoáveis intimidade, privacidade, domesticidade, comodidade, encanto, bem-estar físico, eficiência, estilo, essência, austeridade e bem-estar geral. E exemplifica-se a seguir com a análise técnica qualitativa da casa da entrevistada nº 042 (fig.62).

Essa análise específica evidenciaַ umaַ “boa”ַ privacidade pois associa uma função específica a um só cômodo - no qual se pode ficar a sós ou fazer atividades específicas - e mostra a existência de um mundo interno dessa entrevistada com forte consciência do próprio ser e de sua família. Nota-seַ umַ “boa”ַ intimidade porque é evidente a ocupação e a marca dessa moradora, identificando a casa exclusivamente com a vida familiar dela, entendendo-a como o "centro da vida familiar" – base do atual conceito da casa de família ou casa-família ou casa-lar. Destaca-seַumaַ“boa”ַ domesticidade ao olhar-se a valorização da praticidade nessa casa - não só como “mundoַdasַmulheres”,ַmasַtambémַcomoַumַconjuntoַdeַemoçõesַsentidasַnesseַ lugar de abrigo incorporador de devoção ao lar. Essa privacidade, intimidade e domesticidadeַ apontamַ paraַ umaַ “boa”ַ comodidade em termos de adequação da casa à conveniência familiar. No entanto, consideramos que a falta de elegância e de beleza dessa casa mostram um encanto “ruim”.

Terreno com seis metros de largura por vinte e um metros de comprimento.

Verificações dispostas em matrizes análogas às matrizes relativas ao conhecimento popular local, mas de análise técnica em termos de “arquitetura”.

118 119

107

Figura 62 – Casa pequena e inacabada, com habitabilidade “razoável”

Planta: elaboração pela autora, 2014. Fotos: acervo da autora, 2014.

Éַ nesteַ sentidoַ que,ַ naַ sistematizaçãoַ realizada,ַ foiַ consideradaַ “razoável”ַ pela autora. Neste exemplo, trata-se na verdade de uma casa cujo interior denota um bem-estar

geral

“razoável”ַ provenienteַ deַ sensações

de

domesticidade

aconchegante e da incorporação de nova tecnologia em cômodos pequenos que se adequam a ampla variedade de atividades domésticas. Enfim, uma casa de habitabilidade “razoável”.

3.3.2 Vulnerabilidade na construção cultural do LIM O outro elemento destacado na hipótese deste trabalho e já referido em termos geraisַ noַ subtópicoַ “3.1.4” é a supracategoria vulnerabilidade. Esta influi na qualidade de vida do Loteamentoַ “IlhaַdosַMineiros” (LIM) - e até condiciona essa qualidade -, bem como expõe os residentes desse loteamento a riscos físicos e sociais. Para aprofundar essa análise preliminar, a partir de entrevistas na pesquisa de campo, as observações dos entrevistados120 foram consolidadas por cada uma

Entrevistados que se manifestaram de alguma forma sobre as dezessete categorias adaptadas de Vogel et al eַqueַcompõemַaַsupracategoriaַ“vulnerabilidade”.

120

108

das dezessete categorias adaptadas de Vogel et al (APÊNDICE E). Pode-se dizer que o resultado obtido a partir dessas observações convergiu para estas classificações categóricas que impactaram nessaַ supracategoria:ַ “bom”ַ apenasַ naַ categoriaַ associaçãoַ deַ moradores;ַ “razoável”ַ somenteַ naַ categoria trabalho no entorno; “ruim” nas categorias moradia, paisagem, cartão-postal, serviços, violência na localidadeַ eַ atividades;ַ “péssimo(a)”ַ nas categorias poluição, lazer, diversão, equipamentos, violência no bairro, segurança no bairro, segurança na localidade e governo;ַeַ“inexistente”ַsóַnaַcategoriaַcentro. Em suma, pode-se inferir que cerca deַ 25,9%ַ correspondeַ aַ umaַ “vulnerabilidadeַ aceitável”ַ (“bom”ַ ouַ “razoável”)ַ e aproximadamenteַ74,1%ַcorrespondeַaַumaַ“vulnerabilidadeַinaceitável”ַ(“ruim”ַouַ “péssimo(a)”ַ ouַ “inexistente”). E, dessa maneira, pode-se apontar a convergência paraַumaַ“vulnerabilidade ruim”ַ- por isso inaceitável - no LIM. A seguir, a partir do conhecimento popular local, destacam-se algumas respostas que levaram a considerar-se essaַconvergênciaַparaַumaַ“vulnerabilidade ruim”ַno LIM. Essa convergência confirma-se mesmo considerando duas vertentes: vulnerabilidade física ou social. Em ambas isto ocorre tanto nas análises de moradia121 quanto de vizinhança122 e de análise habitat123... É o que se depreende do que foi dito pelo entrevistado nº 004 no próprio mapa mental e poema de desejos (fig.63). Essa criança, para além de uma paisagem feia que pode ser associada à ausência de “cartão-postal”, aponta para uma vulnerabilidade física ruim no LIM ao referir-se à falta de saneamento básico e à poluição do mangue. Enquanto isso, a entrevistada nº 037, em seu mapa mental e poema dos desejos, acresce a essa vertente: estrutura viária inadequada; alagamentos e inundações; poluição de córrego; e poluição sonora. E junta-lhe uma vulnerabilidade social ruim no LIM ao aludir a muitas pessoas no tráfico, com a agravante dessa atividade incluir menores do gênero feminino. Isto, conforme se cita: “Umas ruas sem asfalto, quando chove, alaga tudo, as casa fica inundada, as ruas lotadas de lixo, o córrego serve de fossa para o povo tem muito barulho

Relembre-se aqui parte dos aspectos e procedimentos metodológicos deste trabalho, em que a categoria de análise II “moradia”ַresulta diretamente da classificação categoria de análise I “bem-estar físico”.

122 Aַ “vizinhança” inclui, principalmente,ַ estasַ categoriasַ deַ análiseַ II:ַ “lazer”ַ (3),ַ “diversão”ַ (4),ַ “serviços”ַ(7),ַ“equipamentos”ַ(8),ַ“violênciaַnoַbairro”ַ(9)ַeַ“violênciaַnaַlocalidade”ַ(10),ַ“segurançaַ noַbairro”ַ(11),ַ“segurançaַnaַlocalidade”ַ(12),ַ“governo”ַ(14)ַeַ“atividades”ַ(16).

123 Oַ“habitat” inclui asַcategoriasַdeַanáliseַIIַ“poluição”ַ(2),ַ“paisagem”ַ(5)ַeַ“cartão-postal”ַ(6).

121

109

nos fins de semana que alguns vizinhos provoca (...) tem muitas pessoas no tráfico (...) até meninas novas sendo traficantes, pior que está não dá pra ficar”ַ(sic).

Figura 63 – LIM sem saneamento básico, feio e poluído

Fonte: entrevistado nº 004. Acervo da autora, 2013.

Em termos de inundações e poluição sonora, a entrevistada nº 017 - moradora no LIM há poucos anos - disse em entrevista não gravada que tem duas casas no mesmo terreno: uma casa preexistente (fig.64), construída em lugar baixo, de brejo, que sofre inundações constantes; e outra casa de construção recente, junto ao alinhamento da RJ196, que padece com a poluição e os tremores causados por ondas sonoras provenientes dessa estrada estadual. A primeira tem a mobília suspensa e passou a ser um complemento de renda da família no verão. A segunda é onde ela mora com a sua família.

Não bastassem inundações e alagamentos, no LIM, provocados diretamente pelas chuvas, há uma particularidade quanto à “fonte”ַdasַáguasַqueַcolocamַesseַ loteamento em risco: abertura de comportas em terras mais altas - de fazendeiros.

Isso a partir do que revela a entrevistada nº 079, em entrevista gravada e transcrita pela autora: “(...) uns 4 5 anos atráis uma inundação (...) pros fazendeiros esgotá as fazendas deles eles abriram as comportas (...) um belo dia como hoje sem chuva (...) olha nois dormimo dormimo não a gente não conseguimos durmi porque cada hora que a gente descia da cama os pés tava pur aqui de água dentro de casa (...) aquele fogão que você tá vendu (...) coloquei em cima daquela mesa (...) senão eu ia morrer de fome eu não pudia cuzinhá isso duro 3 4 5 dias (...) aqui dento é muito baxo a casa ó a situação da casa se tá vendo aquele alicerço ali no nível do chão alá a calçadinha aqui encheu d’água ali também (...) nessa inchenti que eu to falando com você nós não tinha como toma banho (...) por que nóis não tinha água a água da CEDAI

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misturo tudo com a água suja dos vasos vieram tudo dos vasus cá em cima acumulo tudu (...)”. (sic) Figura 64 – LIM: casa sob inundações constantes

Fonte: Acervo da autora, 2013.

Parte dessa vulnerabilidade física ruim no LIM foi corroborada pelo entrevistado nº 009 quando, no seu mapa mental/poema dos desejos e em entrevista não gravada, falou da precariedade das ruas e da falta de saneamento básico. Mas esse entrevistado acrescentou a insuficiência de iluminação pública no LIM. E alargou a vulnerabilidade social ruim do LIM à escassez de zonas de lazer e áreas de entretenimento, bem como a deficiência de segurança pública, nesse loteamento e vizinhança. Além disso, ele afirmou que não existem zonas verdes e que gostaria de mais qualidade de vida no ambiente do LIM. Essa insuficiência, escassez e deficiência são confirmadas pelo entrevistado nº 112, no seu mapa mental e poema dos desejos (fig.65) - em entrevista não gravada, transcrita parcialmente na parte final pela autora dentro do retângulo vermelho – ele acrescentou acessos precários do LIM. Além disso, ele afirmou que o LIM é pouco desenvolvido.

A insuficiência de iluminação pública e a falta de saneamento básico, no LIM, são corroboradas também pelo entrevistado nº 020 que, em seu mapa mental e poema dos desejos, disse: “(...)ַnão tem luz em todas as ruas (...) o mangue (...) há tanto lixo, tanto esgoto (...)ַ maisַ esgotoַ doַ queַ aַ águaַ (...)“ַ (sic). E ele resumiu o ambiente do LIM como motivo de vergonha local, mas gostaria que o LIM fosse um cartão-postal: “Tivesse bastante fauna e flora (...) mais limpo (...) um turista (...) quando vem no rio para poder ve (...) eles falam pocha eu viajei lugares exuberantes (...)

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e fomos parar logo aqui nesse fim de mundo: moral da história nós ficamos tristesַenvergonhados,ַfim.”ַ(sic).

Figura 65 – LIM pouco desenvolvido e de acesso precário

Fonte: Acervo da autora, 2013.

A deficiência de segurança pública no LIM foi confirmada também pelo entrevistado nº 089 que, em entrevista gravada e transcrita pela autora, disse haver drogas e assaltos feitos por pessoas estranhas a esse loteamento. Ela mencionou que quando tentaram assaltar sua casa procurou ajuda da polícia e não teve retorno - não foi socorrida.

Mas essa insegurança não está correlacionada apenas com habitações em situação precária. Isso pode-se inferir do que relatou o entrevistado nº 025, em entrevista não gravada. Ele e a família gostam de sua casa (fig.66) por estar bem situada e ter sido bem construída e estimada. Ele e a família já aproveitaram muito.

No entanto, segundo o entrevistado, já teve que colocar grade em todas as janelas e agora quer vender tudo porque “o lugar deteriorou-se”.ַEַeleַarremata,ַdizendoַqueַ “(...)ַ a prefeitura não conteve a invasão não cuidou do lugar e cada vez é mais inseguro (...)” (sic).

Figura 66 – LIM: casa bem situada e bem construída, mas à venda por falta de segurança pública

Fonte: Acervo da autora, 2014.

112

Entretanto, voltando à entrevistada nº 017, a falta de segurança pública é compensada pelaַ proteçãoַ deַ “bandidos”,ַ comoַ seַ podeַ concluirַ doַ queַ essaַ entrevistada assegurou: “(...)ַtemַemַtodoַlugarַtemַmaisַaַgenteַseַacostumaַcomַelesַ(...)ַnuncaַ mexeram em nada da gente (...) tem que conviver com eles vai fazer o que né até os bandidos gosta da gente a gente não entra na vida de ninguém (...) às vezes quando tem uma pessoa meio mafioso olha as coisas pra gente é não deixa ninguém mexe protege (...) eles respeitam aַgenteַ(...)”ַ(sic).

Essa vulnerabilidade ruim, física e social, não só foi corroborada como também estendida à vizinhança do LIM, pela entrevistada nº 097 - no próprio mapa mental e poema dos desejos. Em entrevista não gravada, ela contou que a “Ilha dos Mineiros”ַ (incluindo o loteamento objeto deste estudo) é um lugar muito pobre, onde as ruas são esburacadas e há alagamentos quando chove. E, além disso, falou que em toda essaַ“ilha” não há lugares de entretenimento124.

Finalmente, registra-se uma contribuição contrária a essa vulnerabilidade ruim, física e social, que, relegando para um plano secundário a questão da falta de segurança e de saneamento básico, confere ao LIM o estatuto deַ“lugar excelente”.

Trata-se do entrevistado nº 013 que, em entrevista gravada e transcrita pela autora, asseverou que, quando aposentar, tenciona morar em sua casa de férias125 nesse loteamento (rever fig.44). Ele ama esse lugar, porquanto sente muita paz, muita amizade e “não tem problemas”. Aliás, disse que há problemas como em todo lugar, mas no LIM há menos. Ainda assim, essa casa está numa chácara126 bem cercada e protegidaַporַ“cães de guarda que impõe respeito”. Apesar de ter acesso à rede de água pública, faz pouco uso dessa pois prefere comprar água mineral para cozinhar e consumir água de poço no uso geral. Acrescentou que está gostando cada vez mais do lugar, porém reconhece a necessidade de melhorias na urbanização do LIM: “(...)ַ aindaַ háַ pessoasַ comַ bastanteַ filhosַ maisַ euַ acreditoַ que com o desenvolvimento com um bom trabalho vai começar a suprir as necessidades deles eu acho também que isso aqui é muito novo é muito novo ainda (...) A gente não tem [esgoto] por isso que to te falando precisa de melhoria urbanização”ַ(sic).

Ela gostaria que houvesse lugar para o lazer com a família, praças, academia pública, escola e creche.ַ Istoַ conduziriaַ aַ umaַ reduçãoַ significativaַ daַ vulnerabilidadeַ socialַ emַ todaַ aַ “ilha”ַ eַ nãoַ apenas no LIM. 125 Casa de veraneio como herança dos sogros.

126 Lugar de quatro habitações de férias, uma junção informal de dois lotes e apropriação de espaço público de rua e praça, bem como de trecho da margem direita do rio Guaxindiba.

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Por sua vez, as verificações feitas diretamente pela autora - dispostas em matrizַanáloga,ַmasַdeַanáliseַtécnicaַemַtermosַdeַ“urbanismo”ַ- também apontam paraַumַgrauַdeַclassificaçãoַ“ruim”ַparaַaַsupracategoriaַ“vulnerabilidade”ַdoַLIM (APÊNDICE H). Para essa classificação negativa, contribuíram as fichas técnicas elaboradas para os elementos nºs 017, 024, 026, 035, 042, 050, 062, 071, 079 e 089.

Em especial, com base nas categorias de análise II deste estudo, essa “vulnerabilidade ruim”ַ decorre: da falta de espaços para diversão e outros equipamentos; de serviços municipais ineficientes e ineficazes, quando existem; da falta, violência e insegurança, no LIM e entorno; de insuficientes ações sociais dos governos municipal de São Francisco de Itabapoana, estadual do Rio de Janeiro e federal do Brasil; e de uma associação de moradores com fraca mobilização e atuação.

3.3.3 Construção Cultural e Qualidade de Vida do LIM Recorda-se que a hipótese deste trabalho foi estabelecida para estudar o Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM), sua imagem e linguagem. Por essa hipótese, a construção cultural do LIM deve ter fortes implicações na qualidade de vida da população que ali reside. Essa construção cultural do LIM desenvolve-se através das unidades de análise “moradia”,ַ“vizinhança” eַ“habitat”, mediante análise profunda das variáveis “habitabilidade”ַ eַ “vulnerabilidade”, a partir da ideiaַ deַ “casa-lar”ַ (àַ Rybczynski,1996) e daַideiaַdeַ“minhaַcasa”ַ(àַVogelַ et al,1995) integradas numa ideia deַ “minhaַ casa-lar” ou ”meu lar”, com base tanto emַ observaçõesַ deַ “partesַ interessadas”ַ deַ algumaַ formaַ nesseַ loteamentoַ (APÊNDICE F) como em verificações da própria autora (APÊNDICE I). Assim, a partir de observações de parte relevante dos 113 entrevistados e como já se viu na análise qualitativa das 31 (trinta e uma) categorias de análise127, resulta este corolário da construção cultural do LIM: a qualidade de vida dos residentes do LIM é “ruim”ַe,ַporַisso,ַ“inaceitável”. Para esse resultado contribuíram dois tipos de conhecimento: as observações da autora; e o conhecimento popular local.

14 do grupo de categorias I (“habitabilidade”,ַaַpartirַdeַRybczynski)ַeַ17ַdoַgrupo de categorias II (“vulnerabilidade”,ַaַpartirַdeַVogelַet al) - os dois grupos indicandoַumaַqualidadeַdeַvidaַ“RUIM”.

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Destaca-se a seguir parte das contribuições de alguns entrevistados que levaram a esse “resultado negativo” para a qualidade de vida do LIM...

Do poder público local, uma rica contribuição foi do entrevistado nº 002. Em entrevista gravada e transcrita pela autora, ele ponderou sobre o principal dilema da construção cultural do LIM – entreַficarַ“semַabrigo” (vulnerabilidade total) ouַ“abrigoַ precário” (habitabilidade e vulnerabilidade ruins) – para uma qualidade de vida sob a ideia deַ“minhaַcasa-lar”ַouַ”meuַlar”, na tríade moradia, vizinhança e habitat: “(...)ַtemosַumַsocioeconômicoַdifícilַbaixoַbemַsacrificadoַ(...) na realidade em todas as casas do município têm fossa comum (...) na Ilha dos Mineiros a maioria do encanamento do esgoto é jogado diretamente no rio ou numa fossa (...) você não pode ter uma residência por que você tá degradando o meio ambiente mas você pode morrer de fome ficar ao relento eu acho que tudo há um meio termo você cria casa ecologicamente correta então vamos criar projetos ecologicamente corretos tá de maneira que possa incluir o ser humano nesse ambiente sem degradar (...) há (...) meios para minimizar isso (...) criar (...) rede de abastecimento de água (...) miniestações de tratamento de esgoto (...) reaproveitar no rio ou na irrigação (...) criar sociais dessas casas que já estão construídas (...) consegue minimizar (...) doenças provenientes do mau uso da água (...) criar meios para urbanizar ruas calçar criar calçada meio fio (...) legalizar o loteamento minimizando os impactos ambientais preservando a área do rio que seja fazendo um dique ou cerca (...)”ַ(sic).

Outra importante contribuição foi dada por uma associação local – a colônia de pescadores de Guaxindiba128. Em entrevista gravada e transcrita pela autora, a entrevistada nº 019 afirmou que alguns projetos importantes já foram implantados para melhorar a qualidade de vida dos pescadores e das respectivas famílias. Todavia, ela também pondera que: (...) pra consertar o barco às vezes puxa [com o trator] um pouco mas fica a metade fica na água no trabalho usa a eletricidade furadeira máquina de solda (...) é arriscado (...) o único espaço que tem legal na junção do rio Guaxindiba com o canal (...) ali não tem mangue não tem nada (...) não é muito caro essa rampa na verdade até pedi ao secretário doe o material eles fazem um mutirão num sábado e domingo até os pedreiros que tem família de pescador podiam ajudar que não é um bicho de sete cabeças (...) “(...)ַse tivesse um quebra mar aí sim o quebra mar ia fazer a dragagem do canal e aí você teria como entrar e sair independente da maré (...) por muitas das vezes por chegar cedo e a maré tá seca eles tem que descarregar no mar e esse quebra mar facilitaria ajudaria muuuuito (...)”ַ(sic).

Portanto, para essa entrevistada, há projetos de suma importância que podem melhorar a qualidade de vida dos pescadores do LIM: uma rampa dos pescadores, no porto na foz do rio Guaxindiba (fig.67); e um quebra-mar, na praia (fig.68) - porque

Ela conhece bem as dificuldades dos pescadores residentes nesse loteamento e entorno deste. Não reside no LIM, mas na sua vizinhança.

128

115

o rio Guaxindiba “não tem boca de barra franca”ַe,ַporַisso,ַos barcos só entram no porto com maré cheia.

Figura 67 –Qualidade de Vida “ruim” – Porto na foz do rio Guaxindiba

Acervo da autora, 2010.

Acrescenta essa entrevistada que, no porto natural (fig.68), o desembarque é feito na praia. Segundo ela, para não perder o pescado em época de maré cheia, cada pescadorַ“protege” a pesca com um saco, “pula” para uma canoa e rema para terra firme. Portanto, um quebra-mar facilitaria muito a vida dos pescadores, mas o IBAMA é “meio complicado”...

Figura 68 – Qualidade de Vida “ruim” – porto “natural” na praia de Guaxindiba

Fonte: Acervo da autora, 2014.

Além disso, essa entrevistada indigna-se com o fato do IBAMA ter permitido a construção do porto Roterdã “em cima do maior pesqueiro de camarão”, porquanto: (...) as vezes é revoltante (...) o mar tá sendo todo detonado (...) se via tartarugas mortas baleia morta (...) afastando o pescador do seu pesqueiro (...) aí o IBAMA não quer saber (...) do coitado do pescador (...) falei com o IBAMA Jesus chamou pescadores e hoje vocês estão afastando os pescadores (...) acho que deve ter o respeito (...)”. (sic)

116

Outra rica e importante contribuição em termos de conhecimento popular local foi do entrevistado nº 015 - que não reside no LIM, mas seu trabalho está relacionado ao defeso e envolve todos os pescadores residentes no LIM. Em entrevista gravada e transcrita pela autora, ele confirmou que o rio Guaxindiba não tem boca de barra franca. E ratificou a necessidade de um quebra-mar (ou um píer) para melhorar a qualidade de vida ruim desses pescadores que, atualmente, formam uma classe envelhecida para enfrentar um mar muito desgastante: (...) ainda mais aqui a gente não tem uma barra franca para o barco precisa entrar numa canoinha enfrentar o mar que vem se tivesse um píer nos ajudaria entendeu [ou] um quebra mar isso já foi cogitado prometido é um saco essas coisas aqui que nunca acontece infelizmente (...).(sic)

Aliás, esse quebra-mar é tão necessário que até tem sido pensado e prometido por autoridades políticas. Porém, junto com outras necessidades desses pescadores, tudo nunca passou de promessa de diversas campanhas eleitorais: (...) tô só fazendo uma colocação das necessidades nossas (...) tô aprendendo a louvar a Deus por tudo na vida e a gente vai aprendendo a viver com as dificuldades mas no fundo essa é a grande tristeza por que não nos olham eles vêm promete época de política aquela coisa chata entendeu aquilo a gente já não quer ir mais já perde a confiança e depois cabo tudo fica tudo no seu cantinho e a gente no sacrifício e esqueceram de tudo aquilo que foi dialogado foi bem visto foi bem compreendido mais na prática nada entãoַentendeuַ(...)”. (sic)

Adicionalmente, esse entrevistado evidencia o impacto negativo da retilinização do rio Guaxindiba na riqueza e atividade piscatórias locais: (...) nosso rio esse rio [Guaxindiba] também ele foi cortado ele foi desviado nós sempre estamos sendo sacrificado nessa parte entendeu então isso ficou muito ruim pra gente aqui perdemos um pouco a nossa riqueza que era esse rio queַaַgenteַtinhaַmudouַperdeuַaַforçaַd’água a gente só tem a força da maré onde deveria ter uma água de chuva que fizesse essa corrente de ida e volta com a água do mar que enche e seca ela só enche pela água do mar quando tem maré a gente entra é bem sacrificado (...). (sic)

Esse entrevistado também confirmaַaַimportânciaַdaַpescaַdeַcamarãoַcomoַ“nosso grande sustento”. Contudo, ele assinala a falta de uma solução justa no defeso do camarão, para garantir uma fonte de renda alternativa que ofereça alguma qualidade de vida a esses pescadores e respectivas famílias, nesse período: O defeso é só para o camarão (...) não temos outra opção 3 meses mas (...) estamos enjoado disso (...) na verdade é muito difícil isso a gente entende que é válido o defeso mas a gente ganha um salário mínimo que chega atrasado (...) então o que que a gente faz (...) a gente que costuma trabalha pega um bom vício de trabalha (...) ficar muito em casa mas a gente não tem nada que nos envolva nessa época é uma lei lançada sem estudo (...) [o pescador] fica como bandido correndo se escondendo com medo a gente queria fazer uma reunião com alguém para nos ouvir que nos desse uma melhoria não uma sequência de meses para que não ficasse 90

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dias nesse clima (...) isso não resolve o nosso problema seria uma forma de que nós fossemos sustentado não digo sem fazer nada algo que nos desse prioridade um lugar que nos leve a trabalhar aqui na nossa área que ganhássemos pelo menos 3 salários muitas vezes a corrupção dentro dessa linha de pesca ela atrapalha muito o governo confiar em nós (...). (sic)

E, por isso, lamenta que a chaga doַ“bomַvício”ַdeַpescarַ(ilegalmente)ַcamarãoַnoַ defeso seja comprimida anualmente por legislação “semַestudo” que fere o princípio da proporcionalidade e transforma cada pescador do LIM em bandido com medo: (...) veio gente grande lá de cima deputado quando ele começou as primeiras palavras (...) falou nós sabemos que até poste recebe defeso de camarão no fundo eles sabem da situação deixa de lado mas acaba criando má vontade a humanidade hoje está muito acostumada a passar por cima da lei burlar a lei né isso pra nós é uma ferida aberta que todo ano ela é futucada não muda é por esses motivos que hoje eu vou desanimando. (sic)

Entretanto, esse entrevistado aponta para outra situação bem precária desses pescadores no exercício de sua atividade piscatória: (...) temos uma classe envelhecida de pescador a maioria é da (...) idade 45 anos o mar é muito desgastante chega uma certa idade que a gente não deveria trabalhar mas a gente vai trabalhar a gente já tá cansado porque nós temos muito contra a nossa estrutura física que é o sono a gente usa muito a parte da noite já não basta o barulho que produz em nós dificuldade doenças o cérebro esquenta aí nós vamos receber a aposentadoria igual pra todos o pescador na saúde natural dele ele pesca até os 55 anos às vezes passa um pouco mas é muito ruim (...) hoje tem pescadores pescando sozinho olha o risco (...) não tem parceiro o cara vai arrumar outra coisa pra fazer todo mundo tá arranjando uma coisinha pra fazer (...) muitos filhos da redondeza que pescavam aqui não vêm mais (...)”ַ(sic).

Por sua vez, as verificações feitas diretamente pela autora - dispostas em matriz análoga, mas de análise técnica em termos de “arquitetura”ַ eַ “urbanismo” também apontam paraַumַgrauַdeַclassificaçãoַ“ruim”ַparaַaַqualidade de vida do LIM (APÊNDICE I). Para esse grau de classificação negativa, contribuíram as quinze fichas técnicas elaboradas pela autora para os elementos nºs 13 e 25 (bom), 005, 012, 017, 024, 028, 71 e 89 (razoável), 042 e 062 (ruim) e 026, 035, 050 e 079 (péssimo).

Assim, a partir do mesmo corolário obtido por duas vias de conhecimentos e sabedorias distintas, pode-se deduzir uma ideiaַdeַ“minha casa-lar”ַno Loteamento “IlhaַdosַMineiros” (LIM) a qual ganha corpo mediante umaַimagemַdeַ“ilha"ַeַatravés de uma linguagem de padrões específicos, queַ culminamַ numַ conceitoַ deַ “ILHAַ CULTURAL”ַe num padrão de “QUALIDADEַDEַVIDAַRUIM”. Um padrão que deve ser revertido urgentemente para iluminar essaַ“ilhaַcultural” ao menos razoavelmente!

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3.3.4 Tentativas de Reversão de Qualidade de Vida no LIM Oַreconhecimentoַdesseַgrauַdeַqualidadeַdeַvidaַ“ruim”ַnessaַ“ilhaַcultural”ַ foi também comprovado por ações do poder público e de outros agentes sociais tentando reverter esse quadro negativo no LIM. Essas ações foram observadas durante os cinco percursos da pesquisa de campo para esse loteamento. Para entender essas tentativas de reversão de quadro do LIM através de ações diretas e/ou indiretas dos governos (municipal de São Francisco do Itabapoana, estadual do Rio de Janeiro e da federação brasileira), fizeram-se entrevistas e consultas a documentos oficiais. Essas entrevistas focaram ações129 tanto feitas ou promovidas no LIM como em curso (ou previstas) para melhorar as condições de vida da população residente nesse loteamento. São os resultados principais dessas entrevistas e consultas que se passam a expor...

3.3.4.1 Serviços municipais de assistência social Há poucos anos, em Outubro de 2009, a Prefeitura Municipal de São Francisco de Itabapoana (PMSFI) inaugurou o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) na zona central do LIM (fig.69, direita, em baixo) - adaptando uma habitação alugada de dois pavimentos (fig.69, esquerda) - a fim de prestar serviços de assistência social às famílias em vulnerabilidade social. Essa assistência inclui eventos ligados à família, como oַ“diaַdasַMães”ַ(fig.69, direita, em cima).

Cabe dizer que uma das entrevistadas130, agente do poder público local, declarou que esse CRAS atende a 19 (dezenove) localidades - 980 (novecentos e oitenta) famílias - e que, dessas famílias, 159 (cento e cinquenta e nove) são acompanhadas, sendo a grande maioria do LIM. Nesse contexto, outra entrevistada131, também agente desse poder público local, informou que a grande maioria dos residentes no LIM tem um cadastro no CRAS feito a partir de uma busca parte a parte. Mas disse que há desafios a vencer, tais como: a adequação da estrutura física às normas técnicas; a parceria com a Secretaria de Educação e Saúde; a melhor visualização dos serviços ofertados pelo

Ações diretas do governo municipal ou, indiretamente, com a ajuda: do governo estadual; do governo federal; de governos internacionais; de instituições nacionais e/ou internacionais; ou, até, de empresas privadas, nacionais e/ou internacionais.

130 Entrevistada nº 045.

131 Entrevistada nº 078.

129

119

CRAS à comunidade; e obter maior aceitação dessa comunidade que ainda não se dispôs a aceitar esses serviços.

Figura 69 - Lugar de viver: ação do poder público - CRAS e evento do dia das Mães

Fotos: Acervo da autora, 2014. Planta: adaptação da autora, 2014.

Essa entrevistada também disse que: “(...)ַ elasַ comparecemַ aoַ CRASַ paraַ seַ cadastrarַ eַ a gente faz a visita domiciliar pra poder conhecer melhor a vida econômica da família pra ver a realidade dela e ver que tipo mais de programa e ajuda a gente pode estar ofertando aquela família (...) que a população visualize o CRAS como algo importante (...) um instrumento para eles mesmos se mobilizarem. Ali eles podem ter acesso à informação, aos seus direitos (...) uma reunião comunitária pra lutar por melhorias (...) tá faltando essa mobilização da comunidade (...) é uma falha tanto da equipe quanto da comunidade que ainda não está disposta (...)” (sic).

No entanto, segundo dados recentes da Secretaria do Trabalho da Assistência e Promoção Social, em tabela fornecida por uma funcionária132, pode-se observar a participação das comunidades em programas ofertados pelo CRAS - que inclui residentes do LIM. Destaca-se desses programas uma parceria com a Secretaria de Saúde no Programa de Atendimento Integral a Família (PAIF) - que inclui acompanhamento individualizado, visitas domiciliares e famílias participando regulamente de grupos. E evidencia-se ainda o Serviço de Convivência para: crianças

132

Entrevistada nº 078.

120

e adolescentes, de 06 a 13 anos; apenas adolescentes de 14 a 17 anos; e pessoas que participaram em palestras, oficinas e outras atividades coletivas.

Além disso, vale sublinhar que a proximidade desse CRAS tem promovido melhorias na qualidade de vida de famílias residentes no LIM. Uma133 entrevistada, residente no LIM informou que, quando foi agente desse poder público, conheceu, até 2004, as necessidades das famílias no LIM. Ela exemplificou que muitas mulheres sofriam de depressão e buscaram ajuda de psicóloga no CRAS do LIM e receberam esse apoio. Essa entrevistada declarou que: “(...)ַgraças a Deus veio pra cá o CRAS projeto de ter os cursos ali dentro funciona claro que não funciona como a gente queria mas é o que a gente tem ta servindo (...)”. (sic)

Outra entrevistada134, também agente do poder público local, declarou que a comunidade de baixa renda do LIM depende do serviço do CRAS, destacando problemas respiratórios da população local, bem como problemas com drogas e prostituição de menores. Porém, acrescentou que o maior problema é a fome, pois sem comida não há quem tenha saúde. Segundo ela, não é a “fome miséria”, é a “pouca comida”ַmesmo. (...) o maior problema é a fome (...) não é a fome miséria é a pouca comida que tem muito pouca mesmo entendeu (...) algumas pessoas (...) vivem com bolsa família cem reais, cento e vinte reais sessenta reais que vivem com isso (...) o maior problema da Ilha é a alimentação prostituição de menores droga gripe umidade da creche da casa sempre problemas respiratórios não vou te dizer se é bronquite rinite asma verminose escabiose piolho (...)”.(sic)

Ainda outra entrevistada135 destacou que, atualmente, ela, com seus muitos filhos pequenos, sobrevive com a renda (única) que recebe do programa Bolsa Família ($530,00) e, no CRAS, três desses filhos beneficiam do Programa de Erradicação de Trabalho Infantil (PETI).

Mesmo assim, há algumas reclamações de famílias no LIM sobre a qualidade dos serviços prestados pelo CRAS. A partir das declarações de uma entrevistada136 residente no LIM, há problemas relativosַ a:ַ falhasַ noַ programaַ “Bolsaַ Família”;ַ enfrentamento de longas filas; tempo de espera de consultas; exames médicos e a fisioterapia distantes de casa; falta de recursos nas deslocações; e falta de médicos e

Entrevistada nº 089.

Entrevistada nº 007.

135 Entrevistada nº 026.

136 Entrevistada nº 026.

133 134

121

equipamentos, para realização de consultas e exames. Enfim, várias dificuldades nos segmentos sociais mais pobres. Houve até mesmo um caso em que uma assistente social solicitou que observações de campo fossem relatadas para apoio a processos.

Outra reclamação foi no que diz respeito a visitas às casas. Essa mesma entrevistada, afirmou que essas visitas são feitas para informar sobre algum evento e pedirem seu comparecimento no CRAS - mas não para ver a realidade das famílias.

Acrescentou que, recentemente, ficou constrangida - com vergonha de expor suas necessidades básicas -, após tentativas frustradas de pedido de cesta básica. Pois, segundo ela, a cesta básica que recebe não foi e nem tem sido suficiente para seus sete filhos pequenos, como descreveu: “(...) as vezes temos vergonha tem muitas das vezes que eu fico até constrangida de ir lá porque eu já fui várias vezes e pidi tanto ali entendeu e não fui atendida (...) dizem (...) só depois da visita mas não vem eu fui um dia pedi a cesta básica e ela falou pra mim que tem que espera eu esperei (...) um mês e pouco quase dois meses se eu não corresse atrais de outra pessoa eu morria de fome (...)”. (sic)

Outra entrevistada137 reforça as declarações acima - a forma pouco acolhedora de atendimento do CRAS, bem como a ausência de visitas às casas. Mas ela alerta que as próprias famílias de baixa renda têm preconceitos que são barreiras ao seu acesso ao CRAS. “(...) eles achavam que não eram bem recebidos mais era o próprio preconceito com eles mesmos (...) a Ilha era visto assim só tem prostituta traficante e marginal mas a própria comunidade devido passar por dificuldade eles não tinham credibilidade nem neles mesmos(...)”. (sic)

Aliás, a resposta desses serviços relacionados à cesta básica emergente aumenta esse preconceito, como essa entrevistada relata “(...)ַhojeַeu até preciso de cesta básica nem fui lá tô purinha eu não tenho nada pra come em casa eu nãoַtenhoַvergonhaַdeַdizerַ(...)”ַ(sic).

Perante isso, parece acertado afirmar que ao menos uma das ações do governo municipal nesse loteamento, via Secretaria Municipal do Trabalho da Assistência e Promoção Social, tem resultado, embora com muitas arestas ainda por limar.

137

Entrevistada nº 089.

122

3.3.4.2 Serviços municipais de saúde, família e ambiente Uma ação do poder público local que tem resultado satisfatoriamente em termos de saúde da família é o Posto Médico de Guaxindiba (fig.70), em Guaxindiba, na rua ao lado do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM). Nesse posto, quatro médicos fazem tanto atendimento local e a domicílio (pessoas com mobilidade reduzida, acamados ou idosos) como ações de educação ambiental para prevenir doenças.

Uma entrevistada138, agente desse poder público, destacou palestras de planejamento e ações preventivas, relativas a educação familiar e ambiental: (...) aqui temos 4 médicos (...) faz palestras planejamento familiar caminhada sobre a dengue (...) limpeza de quintal não jogar lixo nas ruas e visitas domiciliares (...) priorizamos os acamados idosos (...) a gente vai a casa por casa com o médico dá toda assistência que o paciente precisa ou que solicita (...) faz essa busca ativa de hipertensos diabetes cartão de vacina bolsa família (...) o maior problema é a fome (...). (sic)

Mas também essa entrevistada é peremptória ao ressaltar que o maior problema do LIM é a fome!

Figura 70 - Lugar de viver: ação do poder público - Posto Médico de Guaxindiba

Acervo da autora, 2014.

Entretanto, o entrevistado nº 002, ainda do poder público local, em entrevista gravada e transcrita pela autora, disse que, no ambiente do LIM (e não só), há muitos outros problemas - especialmente na ocupação de áreas protegidas. Mas ele afirma que, mesmo com esse grande passivo herdado, é possível minimizar o impacto

138

Entrevistada nº 007.

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negativo que essa ocupação produz no ambiente Segundo ele, basta ter boa vontade, bom senso e um pouco de recurso financeiro para “criar sociais dessas casas que já estão construídas”ַ(sic).

3.3.4.3 Serviços municipais de apoio ao esporte, lazer e cultura Adicionalmente, a mais recente ação do governo municipal no Loteamentoַ“Ilhaַ dosַMineiros” (LIM) foi o Projeto Esporte RJ139, gerenciado por “Zico 10”, indicado para funcionar no campo de futebol do LIM. Única área de praça livre de construções a qual, há tempos, os residentes desse loteamento improvisaram como campinho (fig.71) em cerca de metade dessa área destinada a praça. Um campinho precário, necessitando de pavimentação adequada, vedação, iluminação suficiente, instalação sanitária, abastecimento de água potável, segurança pública e outros.

Figura 71 - Lugar de viver: ação do poder público - campinho improvisado

Acervo da autora, 2013.

Um entrevistado140, agente público local, declarou que esse projeto “é uma ação nova (...) o 1º convênio de toda a história dessa secretaria [de Estado de Esporte e Lazer] com o Governo do Estado” (sic). Trata-se de uma escolinha de futebol preparada para atender a cem crianças, mas já há cento e vinte e duas inscritas. Esse entrevistado acrescentouַqueַ“gostaria de ta acompanhando de perto” (sic), por tratarse de uma comunidade com crescimento muito rápido e na qual, segundo dizem, há problemas de prostituição e drogas. Pelas suas declarações, embora se tenha conseguido melhorar as instalações desse campinho (fig.72) - com mais um poste,

Projeto Esporte RJ é um projeto social de escolas de futebol para crianças a partir de sete anos, adolescentes, adultos e idosos - gerenciado pela empresa Zico 10 em parceria com o Governo do Estado do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer. http://www.escolazico10.org/#!projeto-esporte-rj/c8zd 140 Entrevistado nº 080.

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dois refletores, duas balizas equipadas com rede, bolas e uniformes para os alunos-, essa área continua sem infraestrutura básica para abrigar todas as atividades propostas. Portanto, algumas dessas atividades irão ocorrer em dois outros campos de futebol próximos: o de Sossego e o do Fiinho. E esse entrevistado do poder público concluiu que: (...) a gente precisa de uma coisa mais urgente e a gente depende dos órgãos dos governos também pra tá apoiando a gente nessa ação, por que o esporte não mexe com infraestrutura né, mas o que tiver ao nosso alcance pra poder tá melhorando aquela área de lazer ali, que é uma área improvisada pela própria comunidade, como a maioria é a maioria das áreas são improvisadas, é por isso que o futebol é popular (...). (sic) Figura 72 - Lugar de viver: ação do poder público - Projeto Esporte RJ / LIM (Inauguração)

Acervo da autora, 2014.

Entretanto, destaca-se aqui que o campo de futebol do Fiinho não é próximo do LIM - fica no extremo norte da praia de Guaxindiba. Por isso, duas entrevistadas, residentes no LIM, questionaram essa ideia. Em suas declarações, uma 141 argumentouַqueַseַoַprojetoַfoiַparaַaַ“Ilha”ַoַpoderַpúblico deveria fazer melhorias

141

Entrevistada nº 089.

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no campinho do LIM; enquanto que a outra142 complementou dizendo que no treino nessa instalação do Fiinho, um filho foi, mas a filha não, pois, não tinha quem a levasse.

Ainda sobre essa questão, aquele entrevistado,143 agente público local, disse que avaliou a possibilidade de um transporte, mas, se por qualquer motivo não for possível, é no campinho do LIM que as atividades improvisadas vão ter lugar e arrematou: “(...)ַse não tem tu vai tu mesmo e vamos improvisando (...) para não por em causa um projeto que custou e tão importante (...) não é tão fácil assim essa questão de infraestrutura (...) se eu for pensar nisso a gente não tem ação nenhuma (...)”.(sic)

Portanto, a prestação e o alcance dos serviços municipais de assistência social, saúde, família, ambiente e apoio ao esporte, lazer e cultura, evidenciam a existência de alguns tipos de exclusão social de parte significativa da população do LIM. E, assim, confirma-se a existência de vulnerabilidade social nesse loteamento. Ou, de outra forma, a evidência deַumaַqualidadeַdeַvidaַ“ruim”ַnoַLIM. 3.3.4.4 Serviços municipais de saneamento básico e iluminação pública Em termos de serviços públicos que propiciem condições de habitabilidade, destaca-se a informação de um entrevistado144 agente público local. Para ele, a presença da Secretaria de Obras no LIM "é como em qualquer outra comunidade".

Como exemplo dessa presença, referiu: a coleta de lixo; a manutenção da iluminação pública; a manutenção das ruas145; e o serviço de correio e telefonia. Segundo ele o planejamento desses serviços poderia ser melhor, mas também é pouca a “contribuição cívica” da maioria dos que ali residem. Assim, permanece o tratamento precário dessas questões. No entanto, para resolver o problema do lixo no LIM, ele aponta para uma melhor gestão dos trabalhos, uma “educaçãoַ ambiental”ַ eַ um “contêiner,ַ caçambaַ comַ tampa”.ַ Esse agente público faz uma autocrítica, mas também critica o cidadão no LIM.

Entrevistada nº 026.

Entrevistado nº 080.

144 Entrevistado nº 039.

145 Segundo ele, o LIM só tem uma rua principal que é asfaltada, mas as demais são em saibro. Logo, essa é "uma manutenção de capina", nos cantos em que "a máquina não alcança".

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Sobre a iluminação pública uma entrevistada146, residente no LIM, recorda que há 19 anos, quando se mudou para o LIM, não havia instalação de energia elétrica: “(...) você imagina uma carioca vim pra cá morar num escuro foi um desafio muito grande (...) fomos os primeiros (...) a ter luz por cima e foi com escora de laje (...)” (sic). Essa entrevistada disse que só as casas junto ao mangue do rio Guaxindiba tinham essa energia - embora fraca, pois era compartilhada com as casas junto desse rio147. Ela acrescentou que foi preciso morrer um menino, de aproximadamente 8 anos, para a AMPLA instalar a energia elétrica no LIM. Acerca dessa iluminação pública, outro entrevistado148, do poder público local, em entrevista gravada e transcrita pela autora, disse que a reclamação da população tem fundamento. Segundo ele, há problemas com a iluminação, mas, não é só no LIM. Embora este seja um dos locais mais complicados, há outros lugares muito escuros e outros sem lâmpadas. Ele disse que a equipe técnica daquele setor não está equipada para atender, em tempo útil, à demanda por reposição de lâmpadas queimadas no município. E acrescentou que há um grande déficit e ainda que todos pagassem a iluminação pública consumida não seria o suficiente para cobrir os custos desta. Vale lembrar que a energia no LIM é de má qualidade e que a maresia não ajuda. Isso compromete a vida útil das lâmpadas e aumenta os trabalhos nessa reposição. Sobre colocar lâmpadas em todos os postes no LIM, afirmou que já registrou vários pedidos, mas entende que é oneroso para o município arcar com a rede baixa, além da falta de plantas de arruamentos no LIM e da grande quantidade de processos judiciais instaurados contra a Ampla decorrentes da proibição de colocação de postes em áreas de preservação ambiental. Enfim, nas palavras desse entrevistado: “Aַrede baixa é (...) de responsabilidade da Ampla (...) por não ter a planta de arruamento ali ela não bota (...) só pode colocar uma luminária se você tiver uma rede baixa existe uma rede de alta tensão ela tá passando lá em cima mas a Ampla não quer colocar rede baixa em locais que pode dar problemas judiciais a Ampla tem um catatau de processos na justiça por ter colocado um poste em área de preservação ambiental (...) aquilo dali se dizia um mangue e os órgãos ambientais quando eles querem mesmo pegar eles ficam em cima e não deixam entendeu então

Entrevistado nº 089.

Essa entrevistada acrescenta que fizeram umַ“gato”ַdoַposteַdeַGuaxindibaַ- por terra, passando dentro desse mangue”ַ- e que esse menino, quando foi pegar um caranguejo, agarrou antes um fio e morreu eletrocutado. Por fim, os pais dessa criança moveram um processo contra a AMPLA e ganharam essa causa.

148 Entrevistado nº 016.

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127

especificamente o problema da Ilha temos até um processo aqui (...) tem locais que tá com rede baixa tem locais que não (...) era bom a prefeitura arcar com toda a rede baixa (...) seria responsabilidade da Ampla arcar com todaַessaַfiaçãoַdaַredeַbaixaַ​ַarcarַcomַaַlumináriaַ(...)”ַ(sic).

3.3.4.5 Serviços municipais de limpeza e manutenção de ruas e pontes O entrevistado nº 067, agente social do poder público local, em entrevista não gravada, a respeito da recolha do lixo, informou que não consta no projeto qualquer planejamento de recolha como também não consta qualquer penalização na falha desse serviço. Ele foi dizendo que: (...) não tinha reparado isso antes o próximo contrato de prestação de serviço do lixo será diferente (...) parece que a empresa prestadora de serviços é a mesma em todos os municípios eu moro em Santa Clara e também sofro com essa recolha do lixo deveria passar 3 vezes, mas nem sempre cumpre costumo deixar o lixo pendurado na árvore do lado de fora do meu lote (...)”ַ(sic).

Por sua vez, o entrevistado nº 016, agente público local, sobre a limpeza e manutenção das ruas do litoral do município, informou que, nos meses de verão janeiro e fevereiro - uma empresa contratada faz um mutirão para roçar, capinar, varrer, limpar e podar. E, a partir de março, outra empresa faz a manutenção e a Prefeitura Municipal de São Francisco de Itabapoana (PMSFI) faz raspagem nas ruas.

Contudo, a PMSFI dispõe de apenas quatro motos niveladoras. Além disso, não há material para aterrar, preencher as irregularidades no pavimento das ruas - é o excedente desse nivelamento (raspagem) que preenche essas irregularidades. Desse modo, esse processo é um paliativo, pois quando chove torna-se um lamaçal (fig.73).

Figura 73 - Lugar de viver: ação do poder público – ruas sem conservação

Acervo da autora, 2014.

Esse entrevistado foi mais adiante e disse que “há anos que aguardam” um licenciamento ambiental para explorar uma jazida no município e que existe projeto da PMSFI para o asfaltamento de várias ruas no LIM.

128

No que diz respeito a pontes, esse mesmo agente público também informou que, dos cinco acessos por pontes ao LIM, quatro estão comprometidos.

A primeira ponte comprometida eַaַdestacarַéַaַ“Ponte da Amizade”ַ(fig.74 e 75-nº04).

Figura 74 - Lugar de viver: ação do poder público - Ponte da Amizade

Fonte: acervo da autora, 2014.

Sobre o CEAR, essa ponte foi construída em 1997/1998 para ligar a praia de Guaxindiba à de Sossego. Na RJ 196 - como única via de circulação asfaltada, paralela à praia -, essa ponte está interditada a veículos pesados, desde 2006. Esse entrevistado informou que essa ponte cedeu e corre o risco de cair. Segundo ele, “reformar essa obra mal planejada é caríssimo” e, enquanto isso, essa interdição tem sido ignorada pela população do LIM e do Sossego - pois essas pessoas afastam todas as barreiras colocadas pelo poder público para impedir aquele tipo de trânsito: (...) com aviso existia manilha os próprios moradores já queriam tombar a manilha pra dentro do valão da draga (...) ali existia guarda de reios ali a própria população da Ilha (...) e do Sossego (...) no máximo em 3 meses ranco tudo (..)”ַ(sic).

No entanto, na PMSFI, já existe um projeto de reforma dessa ponte e estão levantando fundos, junto ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ) e Governo do Estado do Rio de Janeiro, para fazer essa reforma. Porém, esse entrevistado alerta que é inevitável enfrentar o problema da licença ambiental pelo INEA:

129

“(...)ַosַórgãosַambientaisַporַelaַjáַestáַháַtempoַnãoַacertaַessaַsituaçãoַ (...) se a ponte tá errada se já viu a quantidade de casas que tão ao lado do rio estão em cima de um mangue estão sim em áreas de preservação ambiental então o INEA o INEA muitas vezes ele vai olhá o o o paraí é melhor eu deixar essa ponte renovável e pronta pra usufruto dos moradores do que vou fala da ponte paraí e isso que tá daqui do lado tá complicadíssimo entendeu todo mundo está em cima de um mangue aterrado entendeu entãoַexisteַessaַpossibilidadeַsimַ(...)”ַ(sic).

Figura 75 - Lugar de viver: ação do poder público – pontes e canais com problemas de vazão

Fotos: acervo da autora, 2014. Planta: sinalizações da autora no Google Maps, 2014.

A segunda ponte comprometida e a evidenciar é aquela sobre o Canal Guaxindiba (fig.75-nº03). O problema de vazão persiste. Embora não haja mais comportas, há duas manilhas com apenas 1,20 cm de diâmetro cada e as cheias costumam entupir a montante-jusante (nascente-foz). Portanto, há risco de esse trecho voltar a romper-se e a comprometer o ambiente do LIM e seu entorno.

A terceira ponte comprometida é a que fica sobre o rio Guaxindiba ( fig.75nº02). Esse mesmo entrevistado disse que o problema de vazão também persiste, pois há apenas uma manilha e esta costuma entupir a montante. Com as cheias, as águas passam sobre a estrada e há risco de acidentes e de esse trecho romper-se e comprometer o ambiente do LIM e seu entorno.

A quarta ponte comprometida (fig.76) é também sobre o rio Guaxindiba, mas é em madeira e localiza-se na zona do manguezal. Continuando com o mesmo entrevistado, ele asseverou que essa ponte é insegura, instável e precária. Ela foi

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improvisada pela população para circulação de pedestre,ַ “háַ anos”.ַ Segundoַ ele,ַ essa ponte é irregular e apresenta falta de segurança.

Embora pequena, essa ponte é muito importante para os residentes do LIM. Principalmente por ser o único acesso direto ao comércio do bairro e da praia de Guaxindiba. Destaca-se que, em dias de maré cheia, parte dessa ponte fica submersa (fig.76,ַ“linhaַd’água”ַilustradaַporַtracejadoַvermelho).

Figura 76 - Lugar de viver: ação da sociedade civil - ponte improvisada pela população

Fonte: acervo da autora, 2014.

Mas essa ponte é muito importante para a comunidade do LIM, conforme falou o agente local do poder religioso de Guaxindiba149: (...) nosso sonho é que aquela ponte um dia seja feita de uma forma que se passe ali sem molhar os pés, porém ela está dentro de um mangue, nós sabemos que existem leis né, mas ela é de suma importância para a comunidade (...). Sobre essa ponte recordou outro agente150 local do poder religioso de Guaxindiba (e sua esposa): (...) a gente atravessava muito era na vazanti onde Conceição de Alfeu moro tinha ali uma pontesinha (...) a gente dizia que era a pinguela é aonde a água passa pra vazante boca da barra que joga lá pra dentro do mar (...) tinha uma ponte [flutuante] que a maré enchia ela subia mas acabaram ela agora ficou fixa passava nós saíamos naquele antigo campo de futebol era por essa pinguela [ponte flutuante] que nós passava no tempo das eleições Serginho foi quem fez aquela ponte tinhaַmuitasַcasasַnaַIlha”. (sic)

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Entrevistado nº 092, em entrevista gravada e transcrita pela autora.

Entrevistado nº 104.

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Enfim, nessa ponte em madeira, sobre o rio Guaxindiba, também não houve ações do poder público na limpeza, manutenção ou outro tipo de ação.

3.3.4.6 Serviços municipais de prevenção de alagamentos e inundações Em termos desses serviços, aquelas pontes provocam problemas de vazão.

Um entrevistado151, do poder público local, informou que esses problemas persistem.

Ele também destacou a ponte sobre o Canal Guaxindiba, na RJ 232 (fig.75-nº03) dizendo que as águas ficam represadas a montante-jusante (nascente-foz) e queַ“(...)ַ os parafusos são de ferro e está tudo travado o canal Guaxindiba é um canal de dreno que vem de longe da baixa, do Ponto de Cacimba (...)”ַ(sic). A despeito disso, segundo declarações de outro agente152 público local, essas pontes são da responsabilidade do DER-RJ e que, assim sendo, a secretaria de planejamento da PMSFI já fez reclamações por meio de ofício.

Além desses trechos que provocam alagamentos há ainda outros no LIM. Nas margens aterradas e construídas do rio Guaxindiba e em áreas de antigos brejos.

Evidenciam-se trechos da rua do Zezeca (fig.75-nº05), trechos da rua das Casuarinas (fig.75-nº06) e trechos da RJ 196. Esses trechos alagadiços comprometem as casas lá existentes e o entorno delas. Isto depreende-se daquilo que revelou uma entrevistada residente no LIM153: “(...)ַ engraçado que se você progunta a [uma pessoa no centro desse loteamento] sabe mas não sabe conta igual a mim porque porque lá em cima não tinha água era mais aqui e um luga chamada Casuarina lá em cima porque são lugares que alaga tem até umas pessoazinhas carente lá foi os lugares que a água afeto mais (...)”. (sic)

Mas o já referido corolário de vulnerabilidade do LIM está também relacionado a ações de fazendeiros, pecuaristas, mais acima desse loteamento (e entorno), a poente de Guaxindiba, e que persiste até hoje. A consequência dessas ações foi descrita por uma entrevistada residente na rua do Zezeca154, a respeito de uma inundação há cerca de quatro anos, em dia “razoável”, sem chuva: “(...)ַ não foi chuva não quer dizer foi e não foi (...) os fazendeiros aí pra cima encheu as fazendas deles (...) pros fazendeiros esgotar (...) abriram as comportas (...) quando eu olhei (...) a água vinha vinha vinha como uma pessoa que vinha atrás de você (...) lá em cima não tinha água era

Entrevistado nº 039.

Entrevistado nº 016.

153 Entrevistada nº 079.

154 Entrevistada nº 079.

151 152

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mais aqui e um lugar chamada Casuarina (...) não conseguimos dormi (...) tava por aqui de água dentro de casa no meio da canela já penso cê tá dormindo com aquela água subindo (...)” (sic).

Finalmente, cumpre registrar as declarações do entrevistado agente local do poder religioso de Guaxindiba155, já aqui referido. Segundo ele - que há 13 anos reside em Guaxindiba - nunca viu o LIM inundado. Contudo, em períodos de chuva, embora com pouca frequência, costuma inundar em dois pontos no LIM (fig.77): na rua das Casuarinas (1); e na RJ 196 (2).

Figura 77 - Lugar de viver: ação do poder público - trechos alagadiços no LIM

Planta: SECPLAN, 1979. Sinalizações da autora, 2014.

Esse mesmo entrevistado destacou, nesses períodos, ações religiosas - com mudanças e procura de casas para acomodar famílias dali. E ainda ponderou a possibilidade de evitar alagamentos ou inundações, tudo mediante uma boa urbanização e infraestrutura – em suas palavras: “(...) se tivermos a partir de amanhã 15 dias de chuvas é bem provável que a “Ilha dos Mineiros” sofra um alagamento (...) só deixará de acontecer depois de uma urbanização (...) infraestrutura (...) muito bem feita isso aí é algo utópico possível pra frente se nós orarmos eu acredito que podeַacontecerַ(...)”.ַ(sic)

Portanto, é notório a existência de inundações ou alagamentos no LIM - mesmo queַ“pontuais”.ַE,ַassim,ַse evidencia a vulnerabilidade física desse lugar.

Perante essas tentativas de reversão de qualidade de vida da população do LIM e entorno, pode-se confirmar queַoַLIMַéַumַlugarַdeַviver,ַmasַ“carregado”ַdeַ vulnerabilidade social e física. Devido à sua importância vital, agora focam-se a

155

Entrevistado nº 092.

133

“legalidade”ַ eַ oַ “estigma”ַ deַ parteַ dosַ habitantesַ emַ vulnerabilidade social no Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM).

3.3.4.7 Serviços municipais de regularização fundiária e reurbanização Quantoַàַ“legalidade”ַimobiliária,ַsegundoַentrevista não gravada a agente do poder público local – setor de arrecadação municipal de IPTU - a informação é que, no LlM, a maioria das pessoas com casas junto às margens dos cursosַd’águaַnãoַ pagam esse imposto. Todavia, mesmo sem a titularidade de lote, muitas outras pessoas pagam esse imposto no LIM. Entretanto, apenas um entrevistado156 - um dos primeiros veranistas, proprietário de lotes e casa no LIM - provou estar em dia com o IPTU, desde o início da compra dos seus lotes, em 1993. Mas ele não pertence ao grupoַconsideradoַcomoַemַsituaçãoַdeַ“vulnerabilidadeַsocial”.

Aliás,ַ sobreַ essaַ “legalidade”,ַ registra-se parte do que disse um outro entrevistado do poder público local157, já mencionado aqui. Segundo ele, a fiscalização municipal é precária não só no LIM, mas em todo Município de São Francisco de Itabapoana (MSFI), pois há falta de pessoal e veículo de apoio. Diz ele que isso ocorre porque o MSFI é um município muito grande onde as localidades estão dispersas e no qual ainda há muitas estradas vicinais e de servidão. Ele descreveu as três áreas especiais que concentram construções irregulares junto da foz do rio Paraíba do Sul (em Gargaú), do rio Itabapoana (em Barra de Itabapoana) e do rio Guaxindiba (em Guaxindiba). Esse entrevistado foi categórico ao dizer que: (...) estão todos errados estão todos em cima de um mangue (...) para tudo há um jeito, basta ter boa vontade (...) esse município herdou um grande passivo, o problema da titularidade da terra, que, no geral, persiste (...) aqui (...) correto ou não (...) não se exige a escritura do imóvel (...) há um hábito de se ter recibo em cima de recibo, não há um recadastramento dos bens imobiliários (...) para a gente fazer um controle disso (...).(sic)

Ainda no ponto de vista desse entrevistado, a solução passa pela regularização fundiária e reurbanização do LIM de forma sustentável - com casas ecologicamente corretas - a fim de minimizar os impactos ambientais negativos e preservar o lugar protegido, com uso regrado e cuidado.

Por isso, pode-se afirmar que a já referida vulnerabilidade social está essencial e profundamente ligada ao problema da titularidade de bens imóveis e esta titularidade

156 157

Entrevistado nº 025.

Entrevistado nº 002.

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depende enormemente de uma forte e responsável política pública de regularização fundiária. Um problema e uma dependência que também impactam negativamente no “estigma”ַsocial do Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM): lugar de viver “irregular”ַ - legítimo pela lógica da Necessidade (e até pela lógica de Mercado), mas ilegal pela lógica do Estado.

Paraַ reverterַ esseַ quadroַ deַ “irregularidade”ַ oַ Estadoַ temַ feitoַ algumasַ tentativas mediante projetos de habitações no LIM. É o que afirma o entrevistado nº 033, do poder público local, em entrevista não gravada. Ele relatou que, para atender a pescadores carentes e pequenos produtores rurais, estão procurando viabilizar a construção de Minha Casa Rural por preço adequado a baixa renda. Essas casas serão para venda e não doadas. Além disso, no que tange à possibilidade de relocar famílias que vivem em casas precárias - em situação de risco de vida junto às margens do rio Guaxindiba - para liberar as margens desse rio, ele afirmou que aqueles residentes não vão querer sair de onde estão.

Quantoַaַesseַ“estigma”ַsocialַ - que não se limita àquela “irregularidade”ַ(oַ paradoxoַsocialַdeַumaַ“legitimidadeַilegal” ouַ“legalidadeַilegítima”) -, continuou-se a ouvir outros agentes sociais locais, não ligados ao poder público local, com ações no LIM, e que têm contribuído para a construção cultural desse loteamento representantes de instituições religiosas e da associação de moradores...

3.3.4.8 Serviços sociais locais de instituição religiosa Um desses agentes sociais local158, já aqui referido em entrevista gravada e transcrita pela autora, declarou que cerca de 200 pessoas do LIM fazem parte dessa família cristã. Com base nesse grupo, também disse que o LIM “é um lugar de gente digna, abençoada, boa, limpa, linda, que trabalha, que verdadeiramente mora ali porque ama aquele lugar” (sic). Ainda acrescentou que sua instituição faz muitas ações sociais no LIM, habitualmente no campinho. Para ele: “(...) levaremos a palavra de Deus o evangelho de Cristo por que esse é o nosso chamado principal (...) faremos ação social porque a fé sem obras é morta (...)” (sic).

Outro agente social entrevistado159, também com ações nesse loteamento, declarou que o LIM é o foco principal daquela instituição, mas lamenta que as ações

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Entrevistada nº 015.

Entrevistada nº 092.

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sociais, em geral, sejam feitas só no Natal. Contudo destaca que, nesse lugar, há outras ações de livre iniciativa, genuínas, entre os membros dessa instituição: “(...)ַaַgenteַseַreúneַconversaַvamosַarrecadarַvamos pegar o dinheiro e ajudar vamos levar uma oração vamos levar um alimento vamos vê como ta a situação vamos lá visitar mas não é comum não a gente faz isso no particular a verdade é essa [a igreja] não tem recursos pra isso (...)”. (sic)

3.3.4.9 Serviços sociais locais de cunho associativo Por fim, ouviu-se outro agente social160 com dificuldades de ações no LIM. Em entrevista, afirmou ter herdado uma má gestão, sem sede oficial, infraestrutura, recursos e projetos - apesar das tentativas frustradas na angariação de projetos sociais de apoio à comunidade -, isso, por não possuir também registro. Acrescentou que não procurou ajuda do poder público por entender que o vínculo com a política ameaça a liberdade nas ações dessa associação. Sem qualquer ajuda, no entanto, mostrou não ter liderança.

Portanto, pode-se afirmar também que a vulnerabilidade social do Loteamento “IlhaַdosַMineiros” (LIM) está ligada a um estigma socialַdeַpopulaçãoַ“ruim”ַsem capacidadeַdeַ“mobilizaçãoַeַorganizaçãoַcívica”. Isso justifica ações convergentes e concertadas, do poder público e de outros agentes sociais, para uma (re)construção cultural em termos de habitabilidade e vulnerabilidade local, que reverta a qualidade de vida “ruim” no LIM.

4

CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho passa-se a compreender melhor um lugar no Brasil,

denominado Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM), que tem resultado de uma construção contínua, natural e cultural, no atual município de São Francisco de Itabapoana. Especialmente, uma construção cultural evidenciada pela história e transformações desse lugar integrado numa região designada, hoje, por Região Norte Fluminense do atual Estado do Rio de janeiro.

Essas evidências permitem ressaltar como particularidade do LIM a sua identidade fortemente ancorada numa imagem geográfica. Uma imagem que reflete a preocupação fundamental dos residentes relativamente às respectivas casas onde habitam, principalmente no que respeita à propriedade efetiva dos respectivos lotes.

160

Entrevistada nº 089.

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Mesmo assim, conforme visto, há uma percepção positiva dos moradores no que diz respeito à sua ligação afetiva com o seu lugar. Isso parece ter ocorrido na medida em que, apesar das intervenções que criaram umaַ “ilha”ַ deַ precariedadeַ ambientalַ e social numa restinga - uma “ilha cultural” -, o LIM consolidou-se como um lugar de viver.

Para melhor entendimento dessa imagem do LIM e desse loteamento como lugar de viver, este trabalho valorizou a natureza e a população do LIM, porque são dois baluartes de qualquer sustentabilidade de uma paisagem no sentido dado por Ronai (1977). Desse modo, em oposição à usual valorização da grande escala das espacialidades, valorizou-se também uma pequena escala de espacialidade.

Por isso, a autora dialogou com diversos agentes locais. Fundamentada no teor desses diálogos, a autora elaborou avaliações qualitativas por categorias de análise baseadas nas ideiasַ deַ “casa-lar”ַ deַ Rybczynskiַ (1996)ַ - supracategoria habitabilidade – e de “minhaַ casa” de Vogel et al (1995) – supracategoria vulnerabilidade. Da integração dessas duas supracategorias emergiu a ideia de “minha casa-lar”ַ(ou,ַpuramente,ַ“meuַlar”)ַnaַconstruçãoַculturalַdo LIM como um lugar de viver. Essas avaliações, no intuito de tentar harmonizar interesses sociais “regulares”ַ eַ “irregulares”, podem orientar políticas públicas locais que permitam (con)viver em espaços urbanos situados em ambiente vulnerável.

E, com isso, ainda no sentido dado por Ronai (1977), valorizaram-se também relações operacionais e semióticas, estratégicas e ideológicas, que a população do LIM tem tido com o espaço que ocupou e vai ocupando. Ocupação que vai aproveitando mudanças de escala nas relações entre poder, produção e troca.

Adicionalmente, no sentido de Sauer (1925), nesta dissertação, valorizou-se o LIM, em termos de identidade, interesse próprio e cultura. Complementarmente, no sentido dado às categorias de Abramo (2011), a construção cultural do LIM tem sido feita pela coexistência de três lógicas - de Estado, Mercado e Necessidade. A última é a lógica de pessoas lutando para sobreviver. Numa sobrevivência que coloca em risco as próprias vidas, bens e fontes de renda, nessa coexistência. E essa vulnerabilidade aparece nas percepções das próprias populações locais para os seus lotes, suas moradias, seu bairro e seu habitat.

Detalhadamente, percebeu-se que a Lógica de Estado foi materializada em obras de grande vulto que transformaram uma parte significativa de restinga em ilha física (incluindo o lugar do LIM) ao alterar o leito, curso, afluente, caudal e foz do rio

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Guaxindiba, assim como ao secar mangues, lagos, lagoas, brejos e charcos. E em ilha cultural (também incluindo o lugar do LIM) ao: planejar um desenvolvimento físico-territorial com técnicas de base científica; estabelecer legislação municipal; definir zoneamentos, destacando o lugar do LIM e entorno como zonas de setor especial, de parcelamento proibido - mas em simultâneo ao adotar diferente critério técnico entre zonas semelhantes, contigua, foi contraditório; aprovar um loteamento em desrespeito a esta lei municipal; criar um Plano Diretor Municipal Participativo; considerar o lugar do LIM e entorno como área urbana; definir zonas de interesse social, áreas habitáveis e não habitáveis, de ZIAP, e de vulnerabilidade ambiental e humana, no lugar do LIM e entorno; promover várias ações sociais nesse LIM; e construir a estrada RJ196 e pontes - com problemas estruturais e de vazão.

Mas, ao mesmo tempo, também se percebeu que essa Lógica de Estado e a Lógica de Mercado foram/vêm “convergindo”. Como se verificou na aprovação do LIM. E como aconteceu no contexto do não atendimento às restrições dessa aprovação.

Foi nesse contexto que emergiu, em escala muito menor, a Lógica da Necessidade – passando a coexistir com aquelas duas,ַ“divergindo”.

Desse modo, este trabalho serviu-se de fundamentos teóricos que auxiliaram a estabelecer as categorias de análise que se embasaram na compreensão e síntese das informações obtidas numa pesquisa etnográfica de cinco percursos distintos, em que se ouviram 113 respondentes. O foco foi nas seguintes unidades de análise: habitação, vizinhança e habitat.

Encontraram-se indicadores qualitativos e quantitativos que permitiram perceber: um ambiente vulnerável (natural e social); um direito humano fundamental (o da habitação) profundamente ferido; e uma política que não promoveu o acesso à infraestrutura de saneamento básico, à regularização da propriedade fundiária e à integração de assentamentos informais ao urbano oficial (formalização do status quo, numַambienteַemַqueַimperaַaַ“liberdadeַdeַconstruir”ַeַoַ“valeַtudo”).

As informações assim obtidas caracterizam particularidades do Loteamento “IlhaַdosַMineiros” (LIM), para além de sua identidade.

Em termos de habitação, existem casas de veraneio no LIM que, de boa qualidade, fogem ao padrão da maioria das moradias desse lugar – imóveis como “propriedades”ַconseguidasַporַreciboַdeַcompraַeַvendaַdeַlotes e/ou casas, mas sem registro imobiliário.

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No que respeita a vizinhança, o padrão do movimento das famílias residentes para o LIM tem como origem outros lugares de viver do próprio município de São Francisco de Itabapoana. Portanto, há uma motivação nesse movimento intramunicipal que está relacionada à procura de melhor qualidade de vida por parte de população.

No geral, tendo migrado de dentro ou de fora desse município, essas famílias passaram (e passam) da condição rural para a urbana mediante um processo de ocupação/apropriação "invasivo". Porém, independentemente de divergências sobre a origem das famílias no LIM, de conceito do lugar e de classe social desses residentes, a apropriação ao final desse processo revela que a irregularidade fundiária foi o padrão que mais se destacou. Destarte, enquanto não se resolver essa questão, nada poderá ajudar para otimizar o lugar, para melhorar a auto-estima nesse lugar de viver e para se livrarem da estigmatização pela qual esses moradores são “(auto)classificados”.

Observando-se o habitat, pode-se afirmar que o LIM é um lugar vulnerável, especialmente em dias de muita chuva ou quando, no entorno desse loteamento, os fazendeiros decidem abrir as comportas.

Por um lado, essas particularidades podem auxiliar políticas públicas de regularização fundiária e de recuperação do meio ambiente, de saneamento básico e de habitações. Por outro lado, os indicadores encontrados evidenciam que a construção cultural do Loteamento “Ilha dos Mineiros” (LIM) tem tido fortes implicações negativas na qualidade de vida da sua população residente. E isso confirma a hipótese deste trabalho.

Entretanto, mesmo perante os resultados “negativos” sintetizados nesta dissertação, acredita-se, como Botelho (2005, p. 293), que é menos oneroso, e mais adequado à população e ao meio ambiente, uma "postura preventiva" que se anteponha e se sobreponha a uma "postura curativa".

Essa é, entretanto, uma história mais ampla, a ser mais aprofundada no sentido de English (1968), mediante: interpretações da população residente no LIM relativamente ao seu ambiente através da própria cultura; ou consciência das alterações que faz ao/no seu ambiente através de sua cultura. Porém sem descurar do que disse Lamego (1974b, p.289), no longínquo ano de 1959, sobre o que faziam

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todos os países na conquista de terras necessária à sua "expansividade ecumênica" 161:

Sem o concurso direto do Governo, elaborando um plano racional de beneficiamento da gleba, nada será feito em prol de gerações que em breve chegarão. Plano rigorosamente científico e de contínua execução, embora lenta.

Contudo, o que se tem observado mais recentemente é que a satisfação mínima de grande parte das necessidades básicas das pessoas de baixa renda depende significativamente de sua fixação em áreas de risco ou poluídas. Com a agravante de que os instrumentos de desenvolvimento urbano são negociados entre os agentes sociais que seguem as suas próprias lógicas (ou melhor, suas próprias conveniências individuais ou de grupo), num jogo de forças desproporcionais.

Enfim, para enfrentar objetivamente os problemas do LIM, levanta-se aqui esta pergunta de Souza (2001, p.33-34): como realizar com segurança o percurso que vai da crítica do planejamento urbano a um planejamento urbano crítico, essencial ?

Lembrando que, para responder à sua própria pergunta, Souza (2001, p.33-34) afirma que os elementos fundamentais de um planejamento urbano são estes cinco: 1) pensamento orientado para o futuro; 2) escolha entre alternativas; 3) consideração de limites, restrições, potencialidades, prejuízos e benefícios; 4) possibilidade de diferentes cursos de ação, os quais dependem de condições e circunstâncias variáveis; e 5) preocupação com a resolução de conflitos de interesse.

Além disso, no processo de construção do LIM não foi feito um percurso conjunto que, segundo Limena (2001, p. 37), deve integrar Ética, Estética e Política.

No sentido de contribuir para a população e o poder Público Municipal (fundamentando futuras ações políticas que viabilizem melhorias do ambiente e das casas precárias), há que indicar algumas iniciativas do poder público local aparentemente positivas – como o projeto da Vila dos Pescadores, que busca minimizar a ocorrência de impactos ambientais decorrentes da ação antrópica indiscriminada. Se é que esse projeto não fica pelo caminho por falta de regularização fundiária - como aconteceu com outros projetos.

Nesse contexto, é importante lembrar que a arquitetura faz parte da nossa história, cultura e vida cotidiana, bem como representa o nosso habitar, individual e

Ecumênico: do grego oikoumenikós «da terra habitada», adjetivo que, dentre outros, significa "relativo à área terrestre que é habitada pelo homem".

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coletivo. Portanto, é por meio dela que se procura determinar a qualidade e sustentabilidade do ambiente local, arquitetando uma construção cultural que tem fortes implicações não só na qualidade de vida do lugar, mas também na qualidade da vida das pessoas no planeta. Por isso, é urgente (re)urbanizar, (re)qualificar e (re)beneficiar o Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros” (LIM) e respectivo entorno.

Todavia, para além de planos científicos para esse beneficiamento, o envolvimento do Estado e de todos os atores sociais - diretamente interessados na (re)construção de uma sociedade mais digna, justa, inclusiva, sustentável e saudável – deve ser feito usandoַ “boasַ práticas”. Assim, para reverter o processo de degradação do LIM e seu entorno, faz-se mister conhecer os problemas do lugar e ver o descaso com que é tratado o patrimônio público e privado. Há que estudá-los para planejar e agir a fim de reduzir carências e a disparidade social, pois, quanto mais dura é a realidade desse lugar mais atenção deve-se ter com ele. Vale sublinhar que a igualdade deve ser sempre reivindicada quando a diferença quiser inferiorizar alguém. Mas a diferença deve ser sempre reivindicada quando a igualdade quiser descaracterizar esse alguém.

No entanto, o que se tem visto é o homem político e o administrativo (candidatos eleitos ou não, da fiscalização e o do poder público), bem como o homem cidadão e o necessitado (com direito a uma habitação ou em habitação precária) - que deveriam dar forma e conteúdo ao LIM como lugar de viver - vão convivendo em um ambiente vulnerável físico e culturalmente...

Apesar dos problemas levantados acerca do LIM, na visita de campo, não se observaram situações que comprometessem a segurança privada ou pública, nem se viu lixo acumulado nas ruas como declararam alguns dos entrevistados. O lixo que se viu foi no rio Guaxindiba e nos manguezais. Aliás, no essencial, foram muito agradáveis os tempos de pesquisa no LIM, ao contrário do “ruim” registrado neste trabalho a partir de declarações dos entrevistados.

Nas pesquisas de campo e análise, observaram-se padrões, convergências e divergências a partir tanto da população permanente do LIM como das ações, diretas ou indiretas, do poder público e de outros agentes sociais. Notaram-se quer a possibilidade de otimização do LIM como lugar de viver quer a existência de expectativas de melhoria de qualidade de vida nesse loteamento. Verificou-se que, na grande maioria das respostas (principalmente nos Mapas Mentais e Poemas de Desejos), o foco de preocupação dos respectivos respondentes é a casa onde

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habitam. Trata-se da percepção tanto da experiência de viver quanto do que desejam, e do que aparenta ser o campo de onde partem as indicações sobre a vulnerabilidade do lugar. Acharam-se também categorias urbano-arquitetônicas consideradas preponderantes, das quais a que mais se destacou foi a do tamanho da habitação: a casa é sempre considerada pequena e são explicitadas questões como falta de infraestrutura, desenho da planta, problemas com infiltrações e deficiência no planejamento e na construção.

Por fim, espera-se que os achados desta pesquisa (que envolveu diretamente 113 pessoas) e as sugestões deste trabalho possam ser de proveito da comunidade do lugar de viver que é o Loteamentoַ “Ilhaַ dosַ Mineiros” (LIM) - e não só. Essa comunidade deve buscar uma gradual recuperação do meio físico de sua “ilhaַ cultural”, mediante uma melhoria das condições de sustentabilidade urbanoambiental. Melhoria que considere tanto o uso adequado dos recursos hídricos como a educação ambiental para não ocupar as áreas de risco e proteger as unidades de conservação. Essa recuperação deve incluir a vulnerabilidade e a habitabilidade das moradias e entorno mais próximo destas (vizinhança e habitat) com uma qualidade de vida considerada minimamente "razoável". Tudo isso independentementeַdeַ“cargas”ַ de subjetividade quer do sujeito observador quer do objeto auto-observador.

Este estudo revela a necessidade de outros estudos no município de São Francisco de Itabapoana integrado na região designada, hoje, por Região Norte Fluminense. Principalmente ao longo da faixa de restinga, onde háַmuitasַoutrasַ“ilhas culturais”ַ maisַ precáriasַ queַ oַ LIM. “Ilhas”ַ tambémַ ocupadasַ irregularmenteַ com produção social de loteamentos, moradias e arruamentos e de modo aparentemente irreversível - portanto, ainda resultantes de processo cultural semelhante ao que originou o LIM. E isto sugere que, pelo menos em tese, a construção cultural dessa região, através de políticas públicas para habitação de interesse social, pode ter fortes implicações na construção de moradias saudáveis para a população vulnerável residente nessa mesma região. Em particular, na orla marítima daquele município, para a qual esse plano local não tem passado de uma “carta de intenções”...

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OUTRAS FONTES Participantes da pesquisa “CarpinteiroַeַPescador” “Costureira” “Estudante” “Pescador” Adriana Pessanha Correia Santos Adriano Pessanha Allysson Gabriel Gomes Barreto Alon Altair dos Santos Amanda de Souza dos Santos Ana Cláudia Ribeiro da Silva Anderson dos Santos Raimundo Antônio Carlos Carvalho Arielly Breno Vitor de Oliveira Camila Olímpio Barreto Carlos Augusto Catarina Maria da Silva Pena Cesaldiane Viana Rangel de Oliveira Charles dos Santos Cléber Raimundo Delma Rodrigues dos Santos Diviane Chagas Edio Eduar Chicralla Assad

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Eduardo Rodrigues dos Santos Elizabete “Carola” Emirlene dos Santos Eneas Macedo Peçanha Érica Alves Manduca Estelany dos Santos Silva Euza Brito Rangel Evaldo dos Santos Silva Fabrício Alves Manduca Felipe dos Santos Mariano Fernanda Florentino Cerqueira - Tininho Francisco Genilda Geovana Caetano Gomes Nogueira Gilson Hércules Augusto Ihaesla Quintanilha Amaral Ihaymara Santos Isabel Cristina Jacira Ribeiro Cabral Jackson Jaíra Viana Santos Jorge Lucas José Antônio José Augusto José Elias

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Josiane Laurindo Santana Josielma Nogueira Jovane dos Santos F. Júnior Júlia Juliana Juliana Rangel Barreto Karen Quintanilha Kátia Martins Pinto Kerolin de Oliveira Kerollayni Larícia Larissa dos Santos Silva Leci Leni Leomário Santos Lianara Lília Costa Rangel Livaldo Paula de Oliveira Filho Luan Ferreira Leandro Luana Laurindo Gomes Lucas Luciano Brito Rangel Macílio Silva de Jesus Marcilene Silva de Jesus Marcos Silva de Oliveira Lima Maria Clara Maria Vitória

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Marinete Costa Rangel Mirela Aparecida Neves Noel Júnior Pacheco Paulo Paulo César Paulo Miranda Oliveira Raissa Elias da Silva Raylana de Olveira Miranda Regilane dos Santos Nogueira Reni Xavier Rhonna Gomes Nogueira Roberto Acruche Rodrigo Pereira da Rocha Romário Bernardo Rômulo Ruan Gomes dos Santos Ruana Silva de Jesus Samanta Samanta Targino Ramos Sandra Helena da Silva Costa Silva Sedilane Alves Manduca Siqueira Talles Lima dos Santos Thamires Freitas Pessanha Thobias dos Santos Miranda

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Tiago Vanuza Arantes dos Santos Vitor Lorran Mota dos Santos Waira Wanderson Weliton de Jesus da Silva Westyllen Sobrinho Chagas

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Documentação pesquisada ANUÁRIO Geográfico do Estado do Rio de Janeiro [capital Niterói]. Nº 1, 01/04/1948. Departamento Geográfico do Estado do Rio de Janeiro (DGER).

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PLANO Diretor do Município de São Francisco de Itabapoana. Município de São Francisco de Itabapoana (SFI). Lei Municipal nº 228. Estado do Rio de Janeiro. Brasil.

Câmara Municipal (aprovou). Gabinete do Prefeito (sancionou). 10/10/2006.

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GLOSSÁRIO Achados da pesquisa - fatos ou informações encontrados pelo pesquisador no decorrer da pesquisa e que sejam considerados de relevância para os participantes ou comunidades participantes (DIRETRIZES, II-1, 2012).

Benefícios da pesquisa - proveito direto ou indireto, imediato ou posterior, auferido pelo participante e/ou sua comunidade em decorrência de sua participação na pesquisa (DIRETRIZES, II-4, 2012).

Participante da pesquisa - indivíduo que, de forma esclarecida e voluntária, ou sob o esclarecimento e autorização de seu(s) responsável(eis) legal(is), aceita ser pesquisado. A participação deve se dar de forma gratuita (DIRETRIZES, II-10, 2012).

Pesquisa - processo formal e sistemático que visa à produção, ao avanço do conhecimento e/ou à obtenção de respostas para problemas mediante emprego de método científico (DIRETRIZES, II-12, 2012).

Pesquisa envolvendo seres humanos - pesquisa que, individual ou coletivamente, tenha como participante o ser humano, em sua totalidade ou partes dele, e o envolva de forma direta ou indireta, incluindo o manejo de seus dados, informações ou materiais biológicos (DIRETRIZES, II-14, 2012).

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APÊNDICES APÊNDICE A - Pesquisa Etnográfica: conjunto de 113 participantes codificados ............................. 152 APÊNDICE B - Pesquisa Etnográfica: conjunto de 33 transcrições editadas e codificadas .............. 156 APÊNDICE C - Pesquisa Etnográfica: conjunto de 21 fichas técnicas codificadas ........................... 248 APÊNDICE D - Matriz de análise qualitativa das ENTREVISTAS: Habitabilidade no LIM ................ 270 APÊNDICE E - Matriz de análise qualitativa das ENTREVISTAS: Vulnerabilidade no LIM ............... 275 APÊNDICE F - Matriz de análise qualitativa das ENTREVISTAS: Construção Cultural no LIM ........ 279 APÊNDICE G - Matriz de análise qualitativa das FICHAS TÉCNICAS: Habitabilidade no LIM ......... 283 APÊNDICE H - Matriz de análise qualitativa das FICHAS TÉCNICAS: Vulnerabilidade no LIM ....... 285 APÊNDICE I - Matriz de análise qualitativa das FICHAS TÉCNICAS: Construção Cultural no LIM .. 287

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APÊNDICE A - Pesquisa Etnográfica: conjunto de 113 participantes codificados Elaboração da autora, 2014

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APÊNDICE B - Pesquisa Etnográfica: conjunto de 33 transcrições editadas e codificadas Elaboração da autora, 2014 TFEA 1 - Entrevistado 001, 2013 ........................................................................................................ 157 TFEA 2 - Entrevistado 002, 2014 ........................................................................................................ 158 TFEA 3 - Entrevistado 007, 2014 ........................................................................................................ 163 TFEA 4 - Entrevistado 009, 2013 ........................................................................................................ 165 TFEA 5 - Entrevistado 013, 2014 ........................................................................................................ 166 TFEA 6 - Entrevistado 015, 2014 ........................................................................................................ 168 TFEA 7 - Entrevistado 016, 2014 ........................................................................................................ 172 TFEA 8 - Entrevistado 017, 2013 ........................................................................................................ 178 TFEA 9 - Entrevistado 018, 2013 ........................................................................................................ 180 TFEA 10 - Entrevistado 019, 2014 ...................................................................................................... 181 TFEA 11 - Entrevistado 023, 2014 ...................................................................................................... 185 TFEA 12 - Entrevistado 024, 2014 ...................................................................................................... 190 TFEA 13 - Entrevistado 026, 2014 ...................................................................................................... 192 TFEA 14 - Entrevistado 029, 2014 ...................................................................................................... 197 TFEA 15 - Entrevistado 038, 2014 ...................................................................................................... 199 TFEA 16 - Entrevistado 039, 2014 ...................................................................................................... 200 TFEA 17 - Entrevistado 043, 2013 ...................................................................................................... 205 TFEA 18 - Entrevistado 049, 2014 ...................................................................................................... 206 TFEA 19 - Entrevistado 051, 2014 ...................................................................................................... 209 TFEA 20 - Entrevistado 063, 2014 ...................................................................................................... 210 TFEA 21 - Entrevistado 066, 2013 ...................................................................................................... 213 TFEA 22 - Entrevistado 077, 2013 ...................................................................................................... 214 TFEA 23 - Entrevistado 078, 2014 ...................................................................................................... 215 TFEA 24 - Entrevistado 079, 2014 ...................................................................................................... 218 TFEA 25 - Entrevistado 080, 2014 ...................................................................................................... 221 TFEA 26 - Entrevistado 085, 2013 ...................................................................................................... 227 TFEA 27 - Entrevistado 088, 2014 ...................................................................................................... 228 TFEA 28 - Entrevistado 089, 2014 ...................................................................................................... 229 TFEA 29 - Entrevistado 092, 2014 ...................................................................................................... 236 TFEA 30 - Entrevistado 093, 2014 ...................................................................................................... 240 TFEA 31 - Entrevistado 099, 2013 ...................................................................................................... 241 TFEA 32 - Entrevistado 104, 2014 ...................................................................................................... 242 TFEA 33 - Entrevistado 108, 2013 ...................................................................................................... 247

157 TFEA 1 - Entrevistado 001, 2013

158 TFEA 2 - Entrevistado 002, 2014 Qual sua trajetória no Município? (...) Barra de Santa Rita meus pais também são daqui (...) estou fazendo faculdade (...) em Campos (fiz) concurso público (...) passei como oficial de obras (...)

Como funciona esse departamento?

Aqui (...) é subordinado à secretaria de obras e organismo dos serviços públicos (...) os projetos quando vem (...) o requerente ele vem (...) requer saber a documentação necessária (...) informa (...) tem na net no site e da documentação para a montagem do processo como identidade CPF comprovante de residência documento de propriedade aqui (...) não se exige a escritura do imóvel pois há um hábito de se ter recibo em cima de recibo não há um recadastramento do imobiliário (...) precisa de fazer esse recadastramento imobiliário para (...) fazer um controle disso (...) ficou muito temeroso de construções em terreno alheio então até mesmo por dolo ou até um simples desconhecimento e usar um terreno e tem a parte de fiscalização por denúncia ou presença mesmo tem uma grande dificuldade aqui em questão de pessoal e de veículo para poder mobilizar esse pessoal até a localidade porque é um município muito grande e (...) tem uma questão não é contínua (...) tem muita localidade dispersa (...) por estradas vicinais (...) por estrada de servidão são muitas comunidades distantes uma da outra em 2 ou 3 áreas é muito complicado para a construção que é Gargaú na foz do rio Paraíba do Sul o Canal Rezende onde está a Ilha dos Mineiros e a foz do Rio Itabapoana em Barra de Itabapoana são áreas críticas alagadas (...)

O que fazem com as obras em curso na Ilha?

Quando o fiscal entende que está dentro dos parâmetros do código de obras passíveis de legalização (...) entrega a notificação dando o prazo para que ele compareça em 7 dias na prefeitura (...) informa a documentação necessária (...) pede para procurar um profissional (...) dá um prazo de mais 10 dias não interrompe a obra como a senhora deve ter observado são pessoas sacrificadas então (...) tenta-se que eles não parem a obra desde que eles estejam seguindo os parâmetros do código de obras quando identifica-se que não está nos parâmetros do código de obras que está em área alagada ou sem afastamento com aberturas indevidas (...) automaticamente já embarga a obra a obra (...) o contribuinte vem a prefeitura informa o que que tem que ser feito ou demolição ou fechamento de parede para o vizinho dá um prazo para que ele compareça com o profissional aí ou o profissional entre em contato (..) falando que já está adequando então (...) fica assim 10 dias para apresentar a documentação pois a nossa maior preocupação em que o documento e a prefeitura arrecadar é que o requerente não tenha prejuízo financeiro e condição de desmanchar (...) sabe eu sou nascido e criado aqui e sei da dificuldade da população vê também a olho nu (...) vê a onde há maldade premeditado e as vezes não é simplesmente por necessidade, ignorância por necessidade depois que esse processo passa pelo departamento se a pessoa desrespeitar e prosseguir (...) volta e lança a multa (...) se a pessoa não comparece (...) monta[-se] processo aqui e encaminha para a procuradoria para que

159 ela peça a anunciação de obra que será o fato de solicitar o juiz a autorização para dar ordem de demolição ao construído de maneira irregular (...) tem uma parceria aqui com o Meio Ambiente Secretaria Municipal de Meio Ambiente que quando ela vê que há uma construção em área de preservação ela notifica e solicita a presença de um fiscal aqui para que ele vá lá com o embargo da obra de imediato e da mesma maneira quando (...) identifica alguma coisa mesmo que esteja comprometendo é porque o muro até 1,5m de altura (...) entende como divisória no código de obras ele não precisa ser legalizado quando (...) vê que está cercando área alagada (...) entra em contato com o Meio Ambiente e procede o embargo então (...) uma parceria (...) aqui também faz análise de projeto de loteamento dá apoio a engenharia trabalha junto com ela o departamento de engenharia (...) está sem diretor lá então [um colega] atua junto do departamento automaticamente ele está sendo o diretor sim por estar lotado naquele setor assim fazemos uma parceria o projeto de loteamento ao entrar aqui antes de mandar para a engenharia para análise do projeto (...) se entender que há necessidade de um modo geral temos por hábito mandar todos (...) para o Meio Ambiente para que eles deem o parecer na questão se ele está dentroַdeַumaַáreaַdentroַd’águaַseַtemַvegetaçãoַ

Essa parceria é informal?

Não foi um comum acordo com a Secretaria de Meio Ambiente no papel a lei não exige isso que (...) mande para lá para que tenha em cada setor um profissional que faça análise um engenheiro ambiental que faça análise no departamento da secretaria como não tem (...) a parte ambiental (...) dá a opinião dele se na área se tem que mudar para uma outra posição de forma aַqueַfiqueַoַpoçoַd’águaַbaixadaַforaַ​ַ​ַ​ַ

Isso é com qualquer projeto?

Não as casas elas têm que ser construídas os lotes têm que está dentro de um loteamento aprovado se não tiver ele tem que ser embargado direto e se estiver dentro de um loteamento novo (...) encaminha [-se] o loteamento para o meio ambiente a partir do momento em que ele foi aprovado todas as casas que forem construídas já vão estar dentro dos parâmetros já então eu não preciso ficar encaminhando a por que o nosso município por ser antigo (...) tem muita área degradada já então há um passivo herdado grande

Quando não respeitam o alinhamento na Ilha o que fazem?

O problema da Ilha dos Mineiros foi um loteamento que ele não foi aprovado toda e qualquer construção naquela área ela é irregular então eu não tenho como pedir que ele apresente um projeto de uma construção de um lugar regular então a (...) situação aqui é um pouco complicada porque (...) tem que (...) estar tomando uma atitude antipática profissionalmente por (...) ser daqui em mandar isso para a justiça tá e a preocupação nossa é mandar isso para a ajustiça e isso reverter de uma maneira negativa para a população e politicamente por que quer queira quer não numa comunidade pequena (...) trabalha com a política e isso o prefeito vai ficar numa situação constrangedora porque ele vai ter que resolver politicamente e administrativamente é muito complicado porque ele vê que há irregularidade ele manda ele atua o juiz vai lá e embarga aí o município também tem que dar solução tá queira ou não queira o poder público eu acompanho isso faz algum tempo o poder público de um modo

160 geral foi omisso não estou falando mal dos políticos A ou B mas a politicagem (...) está trabalhando com um problema que já existe desde 1981 lá se vão 20 anos e a comunidade já existia houve uma tentativa de regularizar o existente então lá se vão 25 anos você vê o que (...) está fazendo a senhora vê lá ainda era São João da Barra hoje os órgãos ambientais estão mais efetivos mais atuantes hoje (...) em São Francisco de Itabapoana (...) já tem uma Estação Ecológica de Guaxindiba (...) onde fica (...) uma pessoa séria responsável enérgica tem muita gente que não gosta dela por que é enérgica hoje é muito fácil a pessoa dizer que é ruim ou boa pelo fato de uma pessoa dizer um não ou dizer um sim então quando já diz um não já é ruim de qualquer maneira fica muito complicado voltando ao nosso município ele herdou um problema social muito grande não é só um problema financeiro ou econômico (...) temos um socioeconômico difícil baixo bem sacrificado (...) se for contar na realidade em todas as casas do município têm fossa comum não é fossa sumidouro é fossa comum então (...) vê aí que quem mora na Ilha dos Mineiros a maioria do encanamento do esgoto é jogado diretamente no rio ou numa fossa

E a água que eles consomem?

Ou é da CEDAE ou é do poço semiartesiano é um poço comum porque (...) que estuda sabe que não existe poço semiartesiano que é um poço com pouca profundidade que acaba captando uma água de baixa qualidade

Para finalizar como reduzir os problemas da Ilha? Há solução?

No meu entendimento hoje para tudo tem um jeito tem que ter muita boa vontade muito bom senso e um pouco de dinheiro a boa vontade é (...) é elaborar projeto por exemplo qual é o problema de estar perto do Canal Rezende que (...) sabe que é um canal criado pelo homem pelo DNOS DENIT na época só que ele desagua no mar ele cabou criando um mangue que era uma área alagada ali acabou fazendo essa ligação porque antes do canal já existia o que (...) fala hoje de brejo então houve um alargamento e afundamento para drenar essa água que havia no entorno que é muito encharcado então se (...) fizer um planejamento como já temos um projeto não aprovado porque não tinha área de praça ou a rua não estava na largura correta esse era um problema que (...) não tem como fazer a área de praça já foi ocupada e então (...) deve fazer criarַmeiosַparaַminimizarַissoַaíַencanamentoַd’águaַcriarַfazendoַaַredeַdeַabastecimento de água fazendo miniestações de tratamento de esgoto de maneira que essa água possa ser reaproveitada no rio ou na irrigação por que tem uma coisa então você fazendo a estação de tratamento de esgoto através de uma empresa terceirizada você minimiza os problemas e a partir daí você começa a criar sociais dessas casas que já estão construídas vamos legalizar os terrenos vamos legalizar essas casas então é uma medida vamos ter um gasto mas vamos ter um retorno porque (...) sabe que (...) tratando doenças e os problemas na sua fonte que a maioria é tudo na captação da água você tem uma boa saúde você consegue minimizar os problemas de diarreia várias doenças provenientes do mau uso da água tanto no descarte como na captação eu acho que (...) fazendo um projeto para poder pelo menos minimizar a captação de água destinação do esgoto possa criar meios para urbanizar ruas calçar criar calçada meio fio

161 tudo certinho podendo legalizar o loteamento minimizando os impactos ambientais preservando a área do rio que seja fazendo um dique ou cerca desculpa o Canal Rezende

O canal Engenheiro Antônio Rezende é um rio?

O rio e o canal é uma coisa só o rio Guaxindiba é o Canal Rezende são dois nomes dados porque o rio poderia ter sido um brejo que eu não me lembro que já era mais antigo poderia ter sido um brejo ou um afluente pequeno e que ele foi drenado canalizado aprofundado que é o Canal Rezende feito pelo DNOS (...)

A Ilha dos Mineiros é mesmo uma Ilha?

Não a Ilha é uma denominação dada ao Município como por que ali você tem que passar uma ponte e uma ponte sobre um brejo mas lá há uma outra saída que você não precisa sair senão você tem nas casuarinas na RJ232 você tem ali um acesso por ali não precisa ser aquele acesso por Guaxindiba ou (...) tem outros acessos eu não acredito que seja uma Ilha mas são denominações dadas pela população tá na Ilha dos Mineiros há aquele loteamento do Zezeca

Quem é Zezeca?

Zezeca foi um político (...) não me lembro por ter tido mandato mas (...) tinha pretensões políticas

É de Guaxindiba?

A família dele é de Guaxindiba

Qual o nome dele?

Não sei [dizem] ele foi a pessoa que começou a invadir essa área (...) doando terreno nessa área (...) invadindo essa área do rio (...) tentou lotear doou muito terreno ali não era nem pago pessoas que não tinham moradia pescadores a senhora sabe que são mesmo pobres por omissão do poder público

Mas o loteamento está em nome de Durval Lima Ah eu não sei na hora que eu dei a planta para a senhora a senhora verificou porque é um processo físico de como foi dado entrada na coisa planta

Foi Zezeca mediador dele?

Essa propriedade por ser propriedade rural (...) sabe ela margeia um rio um canal então (...) sabe que é dessa pessoa mas dentro dessa área (...) sabe que tem afastamento de um rio brejo mato vê tem um documento de propriedade (...) tinha antigamente como (...) a mata do carvão onde está a Estação Ecológica de Guaxindiba aquela mata está dentro de uma escritura de alguém dentro de uma propriedade ela pode preservar e usar de maneira ecológica para ele poder fazer alguma coisa ali a Ilha dos Mineiros poderia estar dentro da propriedade de Durval na escritura averbada em nome dele ele tentou legalizar essa parte e se na época tivesse boa vontade de dizer a ele oh você vai corrigir essa quadra fazer um afastamento da margem do rio canal que você diz que não é rio você faz o afastamento de cem metros se ele faz isso talvez ele teria conseguido legalizar e preservar mais as margens do rio Zezeca criou o loteamento em cima de um lugar com alguma construção (...) era o sertão sanjoanense (...) não tinha administradores aqui (...) tinha a prefeitura tudo era pelo lado de lá do rio Paraíba não vinham

162 para o lado de cá tudo ia acontecendo a revelia desregrado (...) tinha pessoas de boa vontade que tentava como (...) mas tem vários loteamentos e tem muitos aprovados que se hoje passar por nova análise pela Secretaria de Planejamento e Obras pelo Código de Obras e Ambiental ele não seria aprovado como Santa Clara Guaxindiba tem muitas áreas que estão mais de 300m da maré mais cheia então (...) hoje tem loteamento dentro da área da marinha são problemas que (...) foi herdando (...) tem que no mínimo minimizar os impactos social como o ambiental por que (...) que tem que conciliar não concordo em você dizer que você não pode ter uma residência por que você está degradando o meio ambiente mas você pode morrer de fome ficar ao relento eu acho que tudo há um meio termo você cria casa ecologicamente correta então vamos criar projetos ecologicamente corretos tá de maneira que eu possa incluir o ser humano nesse ambiente sem degradar só que aí não é só a questão financeira mas tem que ter uma educação ambiental e (...) de um modo geral o ser humano quer ver o seu lado eu quero para mim (...) esquece e acabou e daqui há uns anos (...) vê matérias professores fazendo comentários de certas localidades (...)vê como a questão da água (...) sabe que hoje é um problema mundial (...) sabe que daqui há uns dias a água vai ser mais cara que o petróleo e é uma realidade (...) vê o uso tão desregrado da água.

163 TFEA 3 - Entrevistado 007, 2014 Qual sua trajetória no Município (...) sou nascida em Guaxindiba (...) minha vó (...) fez o parto da (...) maioria das pessoas aqui (...) até Sossego (...) fundou esse Posto (...) na década de 80 (...) meu pai é do Recife veio (...) trabalhar (...) fiquei órfã com 15 anos minha família era pequena (...) fui para Campos estudar moreiַemַrepúblicaַfizַfaculdadeַdeַenfermagemַ(...)ַeuַmeuַmaridoַdeַPingoַD’Águaַdaquiַdaַ roça mesmo jornalista (...) faz arquitetura (...) trabalha e minha filha (...) trabalhei em Campos fiz homecare particular [e] prefeitura (...) não é muito minha praia trabalhar em hospital (...) [pouca] humanidade carinho (...) comecei a trabalhar em Barra de Itabapoana (...) estava muito cansada (...) 60 km todos os dias entre Guaxindiba Ponto de Cacimbas e Barra de Itabapoana (...) fui convidada para trabalhar aqui (...) a grande maioria aqui não tem estabilidade

Quais as ações que fazem na Ilha? (...) temos 4 médicos 1 de família 1 clínico (...) especialista em gastro (...) 1 GO faz parte da unidade básica e 1 pediatra faz palestras planejamento familiar caminhada sobre a dengue orientação aos pacientes limpeza de quintal não jogar lixo nas ruas e visitas domiciliares com o clínico priorizamos os acamados idosos (...) dá toda assistência que o paciente precisa ou que solicita nem sempre ele solicita mas a gente vai nós temos agente comunitário que faz essa busca ativa de hipertensos diabetes cartão de vacina bolsa família essas ações são em toda a área de abrangência (do Sonho a Barrinha, área bem extensa demais quadro técnico eu como enfermeira faço todo esse trabalho também de busca ativa o maior problema é a fome sem comida você não tem saúde não é a fome miséria é a pouca comida que tem muito pouca mesmo entendeu eles dependem do CRAS quando chega sacolão ali muitas vezes as pessoas vêm interferir pedir a fui muitas vezes mediadora de algumas pessoas que realmente não tem que vivem com bolsa família cem reais, cento e vinte reais sessenta reais que vivem com isso

Eles não têm trabalho?

Uma (...) tem problema (...) não pode trabalhar (...) mas você não diz que ela vive com bolsa família da casa tão limpa caprichosa impecável eu vejo o maior problema da Ilha é a alimentação [pouca] prostituição de menores droga gripe umidade da umidade da creche da casa sempre problemas respiratórios não vou te dizer se é bronquite rinite asma verminose escabiose piolho (...)

Como resolver esse problema, higiene, pente fino, shampoo? É não é só o pente fino que vai resolver porque uma mãe que tem quatro crianças que têm que tomar remédio eu faço o que eu posso (...) não consigo ver certas coisas (...) é preciso ajudar (...)

Quantas vezes têm médico aqui?

Temos médico 4 vezes na semana (...) o clínico do PSF atende 2 dias (...) o GO quinta o pediatra na quarta e 1 clínico na sexta só que todos têm limite de atendimento 20 vagas

Como melhorar o trabalho de vocês na Ilha?

164 Conscientização porque o programa da estratégia e saúde da família ele é novo (...) no meu ver que entra governo e sai governo os funcionários são trocados entendeu então quando troca de funcionário mexe em todas as estruturas rua/posto (...) com o tempo acaba perdendo o vínculo pessoa/pessoa funcionário/prefeitura/comunidade (...) o programa (...) é tratar a base ele não quer tratar a doença ele quer prevenir a doença (...) quando há mudança de funcionário (...) acho que deveria fazer (...) quando ele (...) não atingisse o objetivo entendeu (...) atender bem carinho com o paciente conhecer o paciente (...) eu reclamo por que eles não aderem eu vou em casa vocês têm carro por que não vem para fazer uma vacinação

Vacinação?

A gente faz todo o calendário de vacinas para criança/adulto hepatite VTV quando necessário e antitetânica gripe calendário de vacinas né e conscientização a gente tem muito trabalho com essa questão de conscientização (...) faz uma palestra tem quase que arrastar as pessoas e muitas vezes para (...) arrastar as pessoas (...) tem que oferecer alguma coisa para comer para brinde para atrair mas nem sempre a gente tem como ter esse dinheiro pra isso atrair

Mas é importante recursos para financiar palestras... É importante inclusive isso foi até pauta de reunião (...) além da minha coordenadora e das outras coordenadoras tem uma pessoa do IEC ele faz a parte de eventos (...) foi solicitado (...) que pedissem (...) com um mês de antecedência ao fundo municipal de saúde (...) há esse recurso (...) não havia a comunicação (...) não sei (...) o porquê agora nós já temos um carro para a visita (...) vamos ter o dinheiro para fazer os eventos (...) tem que ter um processo (...) fizemos o ano passado com as crianças foi maravilhoso (...) mais de 500 crianças aqui nessa rua tem no site da prefeitura essas fotos foi maravilhoso (...) é com o atrativo que a gente tem que trabalhar a (...) orientação (...) a estratégia é a base a prevenção eles não entenderam ainda eu achava que se permanecesse equipes (...) ou mudassem por não serem bons ou oxigenassem mas pessoas que sabem trabalhar eu penso assim fugiu alguma coisa

Não, está ótimo, muito obrigada.

Amo esse programa.

165 TFEA 4 - Entrevistado 009, 2013

166 TFEA 5 - Entrevistado 013, 2014 De quem é essa Chácara?

Uma parte é do meu sogro a parte de baixo a outra parte é da minha cunhada filha dele como era família nunca fez muro juntou

São de onde? (...) campista meus sogros faleceram (...) eles moravam aqui um bom tempo a casa da filha era só para férias mais meu cunhado aqui mais a frente do lado ele sempre morou aqui meu sogro era taxista aposentado

São 4 casas?

Isso a minha por cima da amarela herança construí em cima da casa do meu sogro a casa do meu sogro ficou para o filho dele a do lado é da tia deles foi construída com o consentimento deles por ela ser uma pessoa muito boa amiga então ela construiu aí permitiram que ela construísse no caso se ela morre a casa vai ser do meu cunhado a casa de la continuou sendo da filha

A filha não herdou nada aqui?

Não ela herdou em outro lugar

Porque construiu aqui para férias?

Olha a minha pretensão era morar aqui eu tenho um comércio em Campos padaria aí o meu genro foi pra África no caso ele tava tocando e eu fiquei com todo o serviço da padaria mas logo que for possível eu venho morar aqui quando me aposentar tenho 2 filhas estudam uma agora está fazendo o teste foi chamada pro the voice Brasil está fazendo o teste agora nesse momento se for aprovada vai ser maravilha

Você gosta da Ilha?

Eu amo isso aqui eu amo isso aqui

Por quê?

Olha por que eu não tenho problemas aqui eu sinto muita paz muita amizade claro que alguns problemas mas como em todo lugar mais aqui tem menos aqui é um lugar excelente olha tem as galinhas tem os cachorros tem pato tem essas coisas que a gente vai tentando melhora

Tem algum familiar que veio de São João da Barra?

Uns tios aqui eles vieram primeiro aí nós viemos gostamos aí depois eu me casei e vinha pra casa do sogro

Mas aqui é tudo muito murado, guardado por cães, dá alguma segurança, não é?

Eu atualmente tenho gostado mais um pouco porque eu tenho visto que não é coisa política não gosto de me meter com política, mas parece que o prefeito tem sido mais zeloso com a área de São Francisco (...) aí isso aí já me anima a investir

Que melhoria é urgente fazer aqui?

167 Aqui ainda há pessoas com bastante filhos mais eu acredito que com o desenvolvimento com um bom trabalho vai começar a suprir as necessidades deles eu acho também que isso aqui é muito novo é muito novo ainda entendeu

Tem água potável?

No caso cisterna mas tenho a água que passa aqui no cano aqui em cima tenho água potável mais usamos pouco temos aquele cata-vento para tirar água do solo só não usamos para fazer comida pra fazer comida usa a água mineral

Por que não usa água da rede para cozinhar?

Não não a gente usa água mineral

E o esgoto?

A gente não tem por isso que to te falando precisa de melhoria urbanização com certeza ainda mais agora com uma ponte né poxa em [de acesso a] São João da Barra

Ouvi dizer que o pessoal daqui é petroleiro é verdade?

Não o meu cunhado ele é comandante (...) o outro amigo do meu cunhado ele trabalhava embarcado (...)

Essa é a classe alta da Ilha? É poxa se isso é classe alta...

168 TFEA 6 - Entrevistado 015, 2014 Qual sua trajetória no município?

Nasci em casa (...) na praia de Sossego vivi ali até os 7 anos depois vim morar em Guaxindiba (...) depois (...) aqui nesse lugar [Pedregal] fiz até 4ª série (...) quis trabalhar muito novo (...)12 anos (...) comecei como servente de pedreiro ajudante de ajudante de pedreiro em Santa Clara comecei lá era muita casa de gente de Minas (...) também para veranistas de São Fidélis até 16 17 anos onde eu destinei a pesca e sou pescador até hoje eu tenho um barquinho sou associado da colônia de pescadores é um órgão que ainda nos beneficia luta por nós tive muita vontade de deixar a pescaria alguns dias atrás pescaria

não tem valor uma certa

discriminação muita gente vem fazendo promessa de melhoria de financiamento de óleo combustível nas reuniões o pescador começa a ser grosseiro porque ele já tá de saco cheio de promessas e ser enganado as pessoas estão deixando para trabalhar em empresa para ter salário melhor direitos as pessoas daqui pescadores criou um hábito de ir a reunião para se alimentar servem lanche na hora das palestras uma falta de atenção talvez por não compreender o que tá sendo dito na hora do espaço para as pessoas se posiciona as pessoas não sabem se posicioná vivemos hoje uma classe desunida não na parte humana é cada um por si não há a preocupação com a qualidade do pescado que vamos vende não temos cooperativa desestimula pais não querem que filhos sejam pescadores os que têm é contra a vontade do próprio pai o pai quer que o filho estude busque outra coisa a gente hoje tem [entreposto de pescado local] o preço é razoável ele só gosta de peixe bom fresco mas tem aqui atravessador (...) sobrevive desse pescado (...) panha tudo o que vier acabou gerando uma dificuldade de valor então o pescador não se preocupa com o cuidado do produto limpo gerou o hábito de levar vantagem na balança o pescador a grande maioria do pescador sabendo disso mete água no camarão ele guarda dentro da caixa e é assim uma visão pobre é a que temos vem outros de fora mas [esse atravessador] é o cara um desgaste muito grande para receber esse dinheiro no final de semana e olhe lá [no entreposto de pescado local] (...) [pagam em dia] (...)

E o defeso?

O defeso é só para o camarão o nosso grande sustento é o camarão não temos outra opção 3 meses mas (...) [não se cumpre] isso estamos enjoado disso para nós que vivemos na verdade é muito difícil isso a gente entende que é válido o defeso mas a gente ganha um salário mínimo que chega atrasado e nós temos um nível de vida razoável para dono de barco a média é de 3.000/ mês então o que que a gente faz? (...) a gente que costuma trabalha pega um bom vício de trabalha eu hoje vejo isso em mim eu fico até mal humorado de ficar muito em casa mas a gente não tem nada que nos envolva nessa época é uma lei lançada sem estudo eu já falei com [na colônia de pescadores] (...) [o pescador] fica como bandido correndo se escondendo com medo a gente queria fazer uma reunião com alguém para nos ouvir que nos desse uma melhoria não uma sequência de meses para que não ficasse 90 dias nesse clima uns 6 7 8 anos [atrás]ַoַpeixeַperoáַacabouַaquiַoַpeixeַqueַdáַnaַplataformaַéַoַboiadoַemַcimaַd’águaַéַ proibido pescar lá isso não resolve o nosso problema seria uma forma de que nós fossemos

169 sustentado não digo sem fazer nada algo que nos desse prioridade um lugar que nos leve a trabalhar aqui na nossa área que ganhássemos pelo menos 3 salários muitas vezes a corrupção dentro dessa linha de pesca ela atrapalha muito o governo confiar em nós (...) veio gente grande lá de cima deputado quando ele começou as primeiras palavras (...) falou nós sabemos que até poste recebe defeso de camarão no fundo eles sabem da situação deixa de lado mas acaba criando má vontade a humanidade hoje está muito acostumada a passar por cima da lei burlar a lei né isso pra nós é uma ferida aberta que todo ano ela é futucada não muda é por esses motivos que hoje eu vou desanimando temos uma classe envelhecida de pescador a maioria é da minha idade 45 anos o mar é muito desgastante chega uma certa idade que a gente não deveria trabalhar mas a gente vai trabalhar a gente já tá cansado porque nós temos muito contra a nossa estrutura física que é o sono a gente usa [pesca] muito a parte da noite já não basta o barulho que produz em nós dificuldade doenças o cérebro esquenta aí nós vamos receber a aposentadoria igual pra todos o pescador na saúde natural dele ele pesca até os 55 anos às vezes passa um pouco mas é muito ruim ainda mais aqui a gente não tem uma barra franca para o barco precisa entrar numa canoinha enfrentar o mar que vem se tivesse um píer nos ajudaria entendeu [ou] um quebra mar isso já foi cogitado prometido é um saco essas coisas aqui que nunca acontece infelizmente uma vez eu fiz um cartaz foi pra nossa boca de barra nosso rio esse rio [Guaxindiba] também ele foi cortado ele foi desviado nós sempre estamos sendo sacrificado nessa parte entendeu então isso ficou muito ruim pra gente aqui perdemos um pouco aַnossaַriquezaַqueַeraַesseַrioַqueַaַgenteַtinhaַmudouַperdeuַaַforçaַd’águaַ​ַaַgenteַsóַtemַ a força da maré onde deveria ter uma água de chuva que fizesse essa corrente de ida e volta com a água do mar que enche e seca ela só enche pela água do mar quando tem maré a gente entra é bem sacrificado sabe mas sinceramente não estou aqui reclamando não tô só fazendo uma colocação das necessidades nossas tem coisa muito pior por aí né eu louvo a Deus pela pescaria eu tô aprendendo a louvar a Deus por tudo na vida e a gente vai aprendendo a viver com as dificuldades mas no fundo essa é a grande tristeza por que não nos olham eles vêm promete época de política aquela coisa chata entendeu aquilo a gente já não quer ir mais já perde a confiança e depois cabo tudo fica tudo no seu cantinho e a gente no sacrifício e esqueceram de tudo aquilo que foi dialogado foi bem visto foi bem compreendido mais na prática nada então entendeu hoje tem pescadores pescando sozinho olha o risco não é só aqui é em Espírito Santo Atafona Gargaú não tem parceiro o cara vai arrumar outra coisa pra fazer todo mundo tá arranjando uma coisinha pra fazer hoje graças a Deus as portas estão abrindo muito posso dizer para a Petrobrás aqui muitos filhos da redondeza que pescavam aqui não vêm mais todo mundo vai se expulsando dessa área e o pessoal não está se envolvendo com isso

Quais suas ações na Igreja católica local? (...) fui do grupo jovem (...) mas eu não conseguia gostar daquilo eu trocava Deus por tudo (...) mas eu ia na Igreja assim forçado (...) mas chegou um tempo que eu acordei pra isso muito através do Padre Léu (...) ele me mostrou Deus de uma forma diferente (...) tive um desejo muito grande de visitar (...) um grupo de pescadores de Cristo todas terças-feiras a gente ia nas casas das pessoas levar a palavra de Deus (...) eu também cantava chegou um tempo que me

170 convidaram pra ser [mais] aceitei aí tamos nessa batalha eu gosto muito de pregar orar no (...) o grupo dos homens (...)

E na Ilha dos Mineiros?

Aí a gente é muito falho (...) o grupo que faz essas visitas ele vai aonde a gente acha ou aonde Deus nos toca para ir o grupo teve uma mudança (...) foi gerando uma necessidade um desejo de partir para fora (...) [mas não deu, pois sou] (...) casado e pai (...) eu ajudo as visitas são feitas não direcionada a Ilha no geral vamos a Ilha mas pouco (...) a Igreja nasceu para ser enviada ao povo (...) eu faço visitas particulares com pessoas que eu preciso dialogar diretamente sem interrupção (...)um trabalho de aconselhamento um trabalho de oração de libertação dentro só da oração (...) a minha companheira (...) tem lugares que eu devo ir sozinho (...) as vezes uma pessoa financeiramente precisa de uma arrecadação local tem vergonha procura a gente (...)

A igreja tem ações concretas na Ilha?

Não (...) ela costuma no natal infelizmente miseravelmente pouco pelo tudo que se precisa e se deve fazer (...) e eles são muito o foco quase que todo foco é (...) às vezes (...) alguém tem um problema e procura a gente (...) a gente se reúne cunversa vamo arrecadá vamo pegar o dinheiro vamo leva uma oração vamo levar um alimento vamo vê como tá a situação vamo lá visita mas não é comum não a gente faz isso no particular a verdade é essa não tem recursos pra isso

E como melhorar as ações na Ilha dos Mineiros? (...) aqui o povo (...) vive uma fé muito particular não só na Igreja na comunidade de Guaxindiba não tem comunhão a verdade é essa (...) falta essa essência que só Deus só o Espírito Santo vai construir isso no nosso coração no Brasil (...) hoje ainda a Igreja é muito amada respeitada o povo ainda teme muito o poder de Deus amar a Deus de todo o seu coração de todo o seu entendimento de toda a sua força é tudo mas a humanidade parece que só ama a Deus e esquece do resto (...)

Tem verba para as ações sociais? (...) não seria isso (...) aqui (...) é muito pobre a Igreja (...) ela sobrevive dessa pobreza também os membros que sustentam isso não tem muito recurso (...) então a parte espiritual seria por boa vontade acordamento da Igreja (...) e ação civil política (...) algo novo seria uma forma por que é o único recurso físico que poderia abranger aquilo ali (...) a necessidade não só da Ilha (...) mais de muitos ou de alguns (...) dentro de Guaxindiba (...) que se esconde nessa hora (...) aí precisa desse acordamento desse instinto de Cristo de amar sofrer com quem sofre de consegui entrar na dor do outro () só do passar (...) o Espírito Santo faz isso com a gente (...) pra isso precisa espiritualidade que aqui nossa é pouco

Muitas pessoas da Ilha dos Mineiros vêm casar aqui?

No fundo a grande maioria da Ilha é evangélica (...) faz com que eles se tornem aptos àquele local por que está perto da casa deles (...)

Na Ilha há outras denominações?

171 Na Ilha tem centro espírita que eu saiba (...) um só (...) terreiro aqui (...) não tem (...) as pessoas da Universal vai muito na Igreja Batista (...)

Tenho visitado a Igreja Batista - sempre cheia - tem resgatado muitos jovens das drogas O pastor (...) tem muita sede de Deus muito grande é um homem que às vezes é criticado (...) a gente precisa olhar além disso (...) ele tem feito um trabalho bonito tem trazido muitas pessoas que nunca foram nada então Glória Deus por isso então (...) vamos orar por ele (...)

172 TFEA 7 - Entrevistado 016, 2014 Qual sua trajetória no Município?

Sou nascido e criado aqui no centro de São Francisco minha família é (...) muito grande aqui no município (...) meus pais nascidos e criados aqui (...) sou concursado efetivo (...) tenho o 2º grau completo tenho o curso técnico (...) básicos de informática (...) cursos de gestão pública (...) administração pública (...) aqui fica ciente em tudo que acontece em todo o município de SF (...)

A secretaria de obras e serviços públicos se divide?

Sim a secretaria de obras ela gerencia o departamento de engenharia o departamento de fiscalização de obras os departamentos de iluminação pública estão todos ligados a esse centro que estamos conversando agora

A análise aos projetos é feita na fiscalização e secretaria de obras?

Precisam do arquiteto?

Exatamente precisa sim da assinatura do arquiteto por que hoje não tem nem um engenheiro lotado na secretaria tem que pegar essa assinatura com eles mas a assinatura final é do secretário da pasta (...) precisa hoje da assinatura da fiscalização [fiscal estudante de engenharia civil] do planejamento (...) eles analisam dão o parecer deles e aí sim no final o secretário dá o parecer além da iluminação pública tem estradas vicinais tem encarregados pra cada departamento da parte de urbanização limpeza e manutenção de vias logradouros públicos praças iluminação pública que é uma situação mais deficiente [da prefeitura] que é muito grande o município é o 2º maior em extensão territorial do Estado do Rio de Janeiro perdem pra Campos se não me engano tem mais de 45 mil hab (...) então fica difícil trabalhar atendendo todo esse pessoal

É o 2º pior índice de desenvolvimento humano do Estado do Rio de Janeiro? É por causa de faltar as vezes um metro de saneamento básico que não tem no município e se coloca pelo menos ali 100m já sai dessa escala temerosa (...) mas aqui infelizmente não tem nem um metro sequer de saneamento básico

Na Ilha dos Mineiros há postes com lâmpadas que não acendem, as ruas têm muitos buracos, não fazem manutenção? (...) deveriam estar 100% funcionando se não me engano mais de 30.000 luminárias o que acontece (...) o morador paga uma taxa de iluminação pública proporcional aquilo que ele está gastando no mês (...) uma energia elétrica de 200,00/mês (...) a proporção de iluminação pública (...) é em torno de $10,00/$12,00 (...) os de baixa renda já paga em torno de $5,00 $4,00 (...) muitos vêm aqui cobrar (...) que a prefeitura coloque iluminação em frente a casa da pessoa porque a pessoa tá pagando iluminação existe o ir e vir (...) [as lâmpadas] elas têm que ser reposta o problema ali é o seguinte essa tarifa que é arrecadada em todo município hoje ela não

173 paga os custos de pagamento de iluminação pública que hoje por mês está dando em torno de $ 400.000,00 não é o suficiente para pagar a tarifa de iluminação e (...) repor aquela lâmpada então correto o município hoje é pobre a renda per capita é pequena entendeu

A população reclama com razão?

Reclama de um certo modo sim com razão (...) se a população falar há tá colhendo o valor da minha taxa de iluminação como é que pode não tem condições na técnica se todo mundo pagasse não daria para pagar os custos de ter essa iluminação (...) há deficiência sim (...) na Ilha dos Mineiros (...) ali é um loteamento é totalmente informal totalmente se hoje coloca o INEIA coloca a Marinha coloca a parte do meio ambiente pra levanta a topografia da Ilha dos Mineiros estão todos errados estão todos em cima de um mangue

Mas já está toda aterrada e quase toda construída há tempo...

Exatamente pra você ter uma ideia a Ampla ela não coloca mais nenhum poste padrão novo se você não apresentar na prefeitura a planta de arruamento como que (...) dá planta de arruamento se o loteamento não é legalizado

Por isso não prestam os serviços todos na Ilha?

A rede baixa é (...) de responsabilidade da Ampla (...) por não ter a planta de arruamento ali ela não bota rede baixa (...) você só pode colocar uma luminária se você tiver uma rede baixa existe uma rede de alta tensão ela tá passando lá em cima mas a Ampla não quer colocar rede baixa em locais que pode dar problemas judiciais a Ampla tem um catatau de processos na justiça por ter colocado um poste em área de preservação ambiental por ter colocado um poste que aquilo dali se dizia um mangue e os órgãos ambientais quando eles querem mesmo pegar eles ficam em cima e não deixam entendeu então especificamente o problema da Ilha temos até um processo aqui que o nosso encarregado vai ao local

E as ruas na Ilha? É responsabilidade [da prefeitura] sim patrolar todas essas ruas e usar um saibro que é um pó de pedra pra tapar esses buracos mas hoje não tem como fazer (...) um município muito grande [são] 4 motos niveladoras (...) patrol (...) é muito grande e é complicado chegar a todas (...)

Fazem essa manutenção na Ilha? Quantas vezes?

Sim todo ano todo período de verão dezembro janeiro e fevereiro direto a [prefeitura] contrata uma equipe só para esse período que para em 18 de março no contrato em si diz capina roçado e varrição limpeza mas está em processo licitatório pode pedir cópia se quiser é direito de todo cidadão é feito um mutirão em termos de corte poda de árvores limpeza das ruas capina em toda essa parte [Ilha dos Mineiros] isso sempre no verão aí entra uma equipe (...) que faz de 6 em 6 meses (...) a manutenção de limpeza capina e poda mas de 4 em 4 meses a [prefeitura] faz esse serviço [patrolar ruas] infelizmente não tem o material pra colocar infelizmente a patrol tem que fazer uma raspagem [das ruas] e colocar e ir tapando [os buracos] por que o material hoje infelizmente ele está esbarrando com o licenciamentos ambientais temos que ter uma jazida então o que que ocorre é por ter esse problema de licenciamento ambiental antigamente 5 anos

174 atrás o INEA não perturbava (...) pelo seguinte há você tem uma jazida de saibro e pode dá problema ao meio ambiente não dava esse problema porque eram locais que não tinha mata era pasto de particulares hoje o INEA não deixa nem em pasto de particular que abra ali e retire tem que ter licença essa licença não é rápido demora e muito para legalizar uma jazida de saibro ou de aterro rsrsrs e o município tá correndo atrás e não consegue legalizar (...) uma jazida dessas

Não aterram buracos na Ilha?

Exato [a prefeitura] não consegue isso o que se faz é paliativo não tem acesso a [pó de pedra] (...)

Qual o problema da ponte [da amizade] de Sossego?

Ela foi interditada (...) tem um mandato judicial desde 2006 pelo ministério público (...) não se pode passar caminhão pesado ali (...) existia a placa desde 2006 com aviso existia manilha os próprios moradores já queriam tombar a manilha pra dentro do valão da draga aquele rio que tem ali existia guarda de reios ali a própria população da Ilha e do Sossego ranco no máximo em 3 meses ranco tudo (...) a prefeitura colocava e eles lá rancavam tudo de novo

Ela foi feita só para carro de passeio? (...) foi mal confeccionada em 98 se não me engano 97 (...) cedeu o ministério público pediu laudos técnicos e os laudos técnicos disseram essa ponte não tem condições de passar carro pesado (...) existe um risco de cair com o passar de caminhões pesados sim

Como resolver isso? (...) levantando fundos juntamente ao DR e ao Governo do Estado pra fazer uma nova reforma (...) para que possa passar até ônibus (...) só que não é fácil conseguir recurso pra quilo ali é uma obra caríssima

O Meio Ambiente não autoriza obra naquela ponte é verdade?

Existe essa possibilidade também porque foi feito um assoreamento daquele rio quando fizeram aquela ponte aquela ponte ela teria que ter um espaço bem maior ela está muito próximo ao leito do rio mais muitas vezes os órgãos ambientais por ela já está há tempo não acerta essa situação mesmo da parte aí (...) ao mesmo tempo se a ponte tá errada se já viu a quantidade de casas que tão ao lado do rio estão em cima de um mangue estão sim em áreas de preservação ambiental então o INEA o INEA muitas vezes ele vai olhá o o o paraí é melhor eu deixar essa ponte renovável e pronta pra usufruto dos moradores do que vou fala da ponte paraí e isso que tá daqui do lado tá complicadíssimo entendeu todo mundo está em cima de um mangue aterrado entendeu então existe essa possibilidade sim então existe um projeto da prefeitura juntando fundos juntamente ao DR e Governo de Estado para ser feito uma nova reforma nela reforma que poderia sim passar tranquilamente um caminhão carregado de areia como passava

E a ponte sobre o rio Guaxindiba [RJ 232]?

Essa ponte não tem nenhum problema estrutural está perfeita

E quando chove muito entope?

Entope pelo outro lado que tem uma manilha

175 Há algum problema com a comporta da outra ponte sobre o canal Guaxindiba [RJ 232]?

Não já foi liberado já não arreia mais ali é o DR a responsabilidade do DR aquilo ali as duas manilhas estão abertas 100% não existe mais comporta foram tiradas as comportas

Qual o diâmetro das manilhas?

Parece que colocaram um diâmetro de 1,20m são 2 uma do lado da outra de 1,20m

Então ali tem problema!

Tem uma próxima cheia tecnicamente por que já se viu naquela primeira cheia é um fluxo muito grande de água ali talvez as manilhas não dê vazão e pode acaba até rompendo todo aquele bloco ali

Esse é um projeto pro futuro?

Aquilo é projeto do DR não é nem com a [prefeitura e ela] fez sim uma intervenção junto ao DR mandando uma ofícios pedindo que posterior essa data do rompimento lá

Posso ter uma cópia desse ofício?

Aí que tá o problema foi a secretaria de planejamento foi outra gestão lá em cima

Existe aqui projeto para a Ilha dos Mineiros?

Existe sim o projeto do município da própria prefeitura seria o asfaltamento de diversas ruas ali dentro da Ilha dos Mineiros

Onde está?

Eu busquei essa informação no planejamento que eles solicitam as verbas do Governo do Estado que eles mesmos executam por incrível que pareça o departamento de planejamento executa a obra (...) teria que ser a secretaria de obras todo asfaltamento que você já viu até hoje novo quem executou foi o planejamento a secretaria de obras ajuda sim em material saibro (...) consegue bota máquinas prá auxiliá (...)

Existe mais projeto? (...) vai ter agora um projeto (...) de esportes não sei se você viu tem um campo de futebolzinho ali de areia o projeto Zico do Rio de Janeiro (...) só que o apoio eu não sei o que que é ainda já chegou a informação aqui que o secretário de esporte ele vai vim conversar com [essa secretaria] o que que precisa lá mas sabemos que tem que tirar aquela areia toda vai ter que jogar uma areia lavada limpa para não dá micose nas crianças e a iluminação poste refletor tudo mais

O que vocês vão fazer? (...) correr atrás de verbas pra isso (...) fazer um orçamento do que vai ser gasto lá (...) é um local interessantíssimo eu já vi a área a área é da prefeitura entendeu é até lá vai ter uma diligência pra ir ao local pra saber o que quê que vai ser feito

Vou entrevistar esse secretário qual o nome dele?

Ai meu Deus o nome agora (...) ele é de Guaxindiba conversa com ele porque esse projeto eles vão ter que sentar junto com o responsável lá pela iluminação pública pra saber eu

176 preciso fazer isso aquilo preciso de poste preciso tira essa areia coloca uma areia lavada limpa se vai bota alambrado também não sei o que que o projeto Zico vai fornecer (...)

Ou exigir! É eu não sei se vai dar só o uniforme uma bola eu não sei

Sobre o projeto das ruas da Ilha, não acha que calçamento seria melhor que asfalto?

Mas o planejamento quando é projeto grande é quem define existiu uma usina da prefeitura de asfalto mas essa usina por estar fora dos novos critérios ambientais não pode mais trabalhar com essa usina tem que comprar um catatau de equipamentos novos e modernos caríssimos por que com os equipamentos que tem não pode trabalhar mais

Como resolver o problema das ruas na Ilha dos Mineiros? (...) fazer um serviço de águas pluviais manilhamento de águas pluviais porque ela tá numa parte baixa tem vários locais de alagamento depois de fazer esse manilhamento e depois sim fazer o calçamento porque tem vários locais ali de baixada que alaga ali dentro tem que drenar aquela situação agora eu trono a repetir existe projetos para calçamento e asfaltamento na Ilha dos Mineiros

Como resolver o problema da iluminação?

A iluminação a própria prefeitura poderia arcar com a rede baixa com o que tá faltando a rede alta tem 13.000 V, precisa o que de um transformador para uma rede baixa que fique em pelo menos 220 V as lâmpadas funcionam em 127V ou 220V existem fios de alta tensão em cima e existem fios de baixa tensão abaixo destes são 2 3 4 fios que estão transformados em 110 ou 220

E as lâmpadas lá que acendem? (...) tem locais que tá com rede baixa tem locais que não estão no meu pensamento era bom a prefeitura arcar com toda a rede baixa coloca rede baixa em tudo tem muitos postes lá que não tem aqueles fios em baixo

Então não é falta de manutenção e sim deficiência de rede baixa... É rsrsrs (...) seria responsabilidade da Ampla arcar com toda essa fiação da rede baixa arcar com a luminária que sempre tá chegando agora mesmo e hoje tamos com déficit que já há dois meses

Mas e as lâmpadas queimadas de muitos postes na Ilha, mas fazem essa reposição?

Se tão no escuro (...) [a prefeitura] precisa repor essas lâmpadas isso é possível mas existe um outro problema também a energia que é dispersada hoje tanto na Ilha como em todo município da Ampla ela oscila coisa absurda é uma energia de má qualidade por causa da maresia (...) e tudo mais ela oscila muito, então ela queima rápido pra caramba queima muito rápido queima muito rápido entendeu

Mas não é impossível resolver esse problema de iluminação da Ilha

177 Não é não é é que tem vários pedidos mas fica caro arcar com essa rede baixa para a Ilha mas não é impossível não é impossível

Acha de importante iluminar a ilha?

Claro eu passei lá com meu primo que mora lá tem locais muito escuro lá que não tem nenhuma luminária nada nada nada nesse campinho de futebol é uma escuridão só mas é um marco muito grande para voltar a funcionar

O escuro favorece a marginalização e já é complicado na Ilha...

Com certeza com certeza é um dos locais mais complicado

Muito obrigada!

Espero que contribua para alguma coisa.

178 TFEA 8 - Entrevistado 017, 2013 Tem fossa?

Temos Guaxindiba em peso tem pra tudo quanto é canto

Essa é sua área de serviço? É a área de serviço aqui é fresquinho é a área de ficar a galera pra conversar

Foi nessa casa dos fundos que moraram primeiro? É onde começou mais isso aí alaga tudinho aqui ó é uma vala que a água entra lá oh sai tudo por aqui pra joga pra rua o plástico na janela é por onde entra água mesmo isso aqui tá sujo por que não tem ninguém essa casa ta condenada a gente tá pensando aterrar e subir mas não tem dinheiro não a casa ta na baixada mesmo a diferença é grande da rua

Porque esse desnível?

Isso aí foi porque começou alagando tudo mas não tem jeito não está arrumadinho pra alugar mais não chega pra alugar a telha é Eternit nós não temos condições de botar laje não aqui é quente e cheio de mofo todo mofado essa sala aqui que é quente mesmo a casa tá completa mais tudo no tijolo [suspenso] por causa de água a cama suspensa no tijolo aí tem que tá passando a tinta porque fica com bolô e essa falha aqui entorna mesmo tirei até a mesa daqui e botei ali morávamos aqui mais saímos porque alaga muito tinha dia que a gente acordava e a casa tava nadando de água isso aqui é uma cisterna e ali um poço a fossa é do outro lado da rua [no passeio]

Gostam de morar na ilha?

Aqui é bom morar aqui preferimos morar aqui meu marido falo que precisa levanta aqui meio metro e mais meio metro lá em cima a primeira coisa é aterrar com 2 caminhões de aterro e nivela o quintal todinho

E se reformasse a casa de trás com um 2º piso e tirasse a casa da frente gostariam?

Sim mais o ateliê ela precisa trabalhar os carros passam na rua estremece tudinho no caso de acidente eu sou logo a primera

Este é outro poço?

Não era uma antiga fossa e está desativada foi desativada porque tá muito perto do poço e no caso do aterro o alicerce teria que vir até aqui oh entendeu mas a gente não tem condições de comprar caminhão de aterro que é 200 reais cada um

Onde moravam antes?

Em Travessão de Campos viemos [há pouco tempo] por causa do trabalho do meu marido pedreiro aqui tem mais serviço que lá aqui também é melhor pra se viver mais perto mais fresco mais tranquilo

Mais recurso?

No caso aqui é mais precário do que lá

179 Aqui tem ladrão?

Tem em todo lugar tem mais a gente se acostuma com eles não tenho medo de dormir nunca mexeram em nada da gente a gente tem que conviver com eles vai fazer o que né até os bandidos gosta da gente a gente não entra na vida de ninguém deles e passa a convivê às vezes quando tem uma pessoa meio mafioso [na área eles até] olha as coisas pra gente é não deixa ninguém mexe protege lá tem mais ladrão aqui não tem não lá por tá perto de Campos se sabe né a gente vê na televisão como que que é né eles respeitam a gente ficam no canto deles deixa eles viverem a vida deles.

180 TFEA 9 - Entrevistado 018, 2013

181 TFEA 10 - Entrevistado 019, 2014 Qual sua trajetória no município?

Sou nascida e criada aqui em Guaxindiba meus pais também (...) de família de pescador (...) pai (...) irmãos (...) marido (...) estudei (...) em Guaxindiba (...) fiz formação geral em São Francisco fiz o técnico de pesca no IFF [Campos dos Goytacazes] tenho vários cursinhos (...) relacionado à pesca (...)

Quando começou trabalhar aqui? (...) a colônia de pescadores [esteve] fechada desde 1989 e 1990 (...) eu sempre trabalhei [com familiares na área da pesca] (...) desde os 14 anos (...) comecei (...) em 2006 (...) [com] (...) recadastramento (...) montamos uma estruturazinha (...) na antiga cooperativa (...) ajeitou o espaço que estava abandonado (...) começamos a atender os pescadores (...) o pessoal de Guaxindiba não precisava ir a Gargaú (...) em 2007 [dei seguimento a] uns projetos (...) com a Petrobrás (...) o primeiro [projeto] (...) foi essa sede aqui (...) eu sabia das necessidades precisávamos de uma sede pra atende o pescado (...) ganhamos em 2º lugar (...) $125.000,00 [para] (...) casa equipada aqui em Barra de Itabapoana e nossa Kombi e (...) escrituras (...) tive que fazer um relatório (...) sempre vinha o pessoal aqui pra visitar pra saber (...)

E o segundo projeto? (...) a sede de Gargaú (...) um navio de sonda (...) na linguagem do pescado (...) é o chupa cabra (...) eles alegam que o peroá se afastou da costa depois que esse navio começou a passar no meu ponto de vista não (...) ele só afasta o cardume ele não mata (...) o cardume volta na minha concepção o que acabo com o peroá foi quando os pescadores começaram a usar pusa pegavam duzentos quilos de peroá, os outros barcos 2.000kg 3.000kg pegavam filhotes também quando era só no anzol você pegava os maiores a peixaria comprava tudo que o pescado trazia nunca teve defeso do peroá então pega-se pouco hoje aí teve um plano de compensação da CGG de $50.000 pra cada colônia Farol [Campos] São Francisco e São João da Barra e aí pediu[se] uma sede (...) não tinha sede em Gargaú (...) conseguiu comprar [e] equipar e com a LLX conseguiu o consultório dentário (...) e [outro maior] pra atender os pescadores (...) o consultório dentário (...) divide por comunidade o atendimento a pescador e família (...) o dentista pagos pela prefeitura e a colônia compra o material e a nossa Kombi faz o transporte (...) a junta governativa (...) busca o pessoal uma semana Gargaú outra (...) Barra outra (...) Lagoa Feia né e outra (...) Guaxindiba (...) depois desse o [projeto] da OGX um laboratório de informática (...) em todas as colônias com 5 computadores novos e aí fez cursos (...) de informática no IFF e curso de mecânica diesel este o professor do IFF veio aqui fez com 30 pescadores (...) em Gargaú, (...) em Guaxindiba e (...) em Barra de Itabapoana (...) ganhamos esse motor a diesel que pretende usar como gerador (...) no curso eles aprenderam a montar e desmontar o motor (...) as vezes era coisa pouca e eles ficavam enrolados no mar com o barco a deriva por fim agora tem um projeto da antiga cooperativa [construção desprezada `a margem do rio Guaxindiba] (...) viu ela já foi modificada e o projeto ali é de colocar o correio no salão

182 menor e no salão maior fazer cursos pro filhos de pescadores ligado à essa colônia de pescadores já tive conversando com o prefeito fiz até a ata fiz a lista de presença a comunidade concordando de fazer um comodato com a prefeitura pra prefeitura terminar aquilo ali pra começa a usar aquilo ali na verdade pretendia trazer jiujitsu aeroboxe pras meninas trazer coisas pra tirar as crianças da rua atividades pras crianças todo o dia e tem uns projetos que tá correndo atrás com a prefeitura que é a rampa dos pescadores nenhum dos lugares em São Francisco tem essa rampa temos que pedi a prefeitura secretaria de obras agricultura o que tiver disponível mais perto eles encaminham um trator pra tá puxando o barco e depois que eles consertam tem que empurrar o barco pra água tem um projeto de um deputado Somando Forças do governo federal só que é um projeto que não pode vir direto pra colônia tem que ter a parceria da prefeitura que essa verba vai vir pra prefeitura pra comprar o trato pra ficar só pros pescadores (...) tem o projeto do PECAP da Petrobrás né que foi feito audiência isso é uma condicionante do IBAMA então foram votados no auditório em Gargaú aqui em Guaxindiba uma sala pra cursos no andar de cima aqui e em Barra de Itabapoana uma base de rádio em Gargaú a sede lá é bem tem um quintal com espaço bem legal e aí vai ser um auditório nesse espaço atrás para fazer reuniões com todos se vai fazer um curso Top com a marinha preciso de espaço com 35 pescadores se precisar fazer uma festa pode também alugar é renda que entra pra colônia nem quiseram aquelas cadeiras fixas esse projeto já foi aprovado (...) vai começar a obra de Gargaú na semana que vem de Guaxindiba e de Barra já tá em licitação por que é bom ser junto por que é menor em Barra é só a questão da antena e fazer a instalação pra base de rádio então é uma coisa mais rápida lá é o único lugar que tem barco de mar aberto levam semanas faz mais falta sendo que aqui no núcleo de Guaxindiba e na sede em Gargaú vai ter um radinho PX além do telefone caso aconteça alguma coisa já tem direto como falar com a base pra poder tomar as providências

E o projeto do trator ainda não está aprovado? (...) ele me passou ontem é que (...) a documentação já está ok que agora estava só esperando pra ser liberado a verba vir pra conta da prefeitura (...) eu até brinquei com ele que a prefeitura está fazendo a praça do pescador no antigo campinho em volta dessa praça é pescador que mora (...) disse assim pô você podia fazer o trator chegar na inauguração da praça aí já inaugurava a praça com o trator do pescador no meado do mês que vem já tá bem adiantado quer dizer tá atrasado já era pra ter terminado (...)

Tem mais projeto em andamento? (...) tem o da estatística pesqueira em embarcações com jovens filhos de pescadores que teriam que tá cursando o segundo grau já foram selecionados foi um de Guaxindiba (...) os meninos estão felizes da vida (...) pessoal da Fiperj que fez o treinamento no caso a planilha (...) eles vão ter que colocar o nome da embarcação dos pescadores se o barco é inscrito na marinha se não é qual o tipo de pesca exemplo o que pegaram no dia de hoje quantos quilos de camarão se foi só camarão ou se pegou peixe quantos quilos (...) a Fiperj é que vai tá coletando todos esses dados pra pode fazer uma estatística pesqueira (...) hoje São Francisco não tem pesca por que não tem estatística então é como se São Francisco não pescasse nada (...) se houver um vazamento de usina de petróleo você vai provar que quem tá sendo prejudicado aqui em São

183 Francisco se não tem como provar qual é a pesca porque quando teve esse último [desastre] que foi da Serva que acabou peixes e mais peixes a praia aqui você nem tinha como andar (...) tirou um caminhão de peixe podre aqui durante um bom tempo não puderam pescar entrou na justiça mas a justiça é coisa demorada teve audiência agora em dezembro do ano passado e até agora nada então se você se tem uma estatística você tem como comprovar foi peixe tal e tal que hoje você vai no rio e já não tem aquela produção de antes até o peixe tentar voltar demora muito então a estatística pesqueira é muito importante em todos os sentidos (...)

Quantos pescadores estão inscritos aqui? uns 200

O que falta para melhorar a qualidade de vida do pescador? a rampa seria o ideal é o que a vem se buscando porque pra consertar o barco às vezes puxa [com o trator] um pouco mas fica a metade fica na água no trabalho usa a eletricidade furadeira máquina de solda aí o quê que acontece é uma água é arriscado se tivesse essa rampa no porto o único espaço que tem legal na junção do rio Guaxindiba com o canal porque ali não tem mangue não tem nada a rampa é feita de modo que a quilha do barco entra e pode puxar com trator o barco todo pra terra aí eles vão ter como fazer esse trabalho tranquilo não é muito caro essa rampa na verdade até pedi ao secretário doe o material eles fazem um mutirão num sábado e domingo até os pedreiros que tem família de pescador podiam ajudar que não é um bicho de sete cabeças

E o IBAMA? é meio complicado (...) pra você ter ideia em São João da Barra levou 5 anos para conseguir fazer por que tinha o pessoal da empresa por que esse dinheiro já tava depositado pra poder fazer isso as vezes é revoltante pra (...) representante o mar tá sendo todo detonado (...) se via tartarugas mortas baleia morta tudo bem agora tá fazendo ali na Praia das Neves onde era a Ferguson que hoje é o porto Roterdã em Barra de Itabapoana em cima do maior pesqueiro de camarão que tem em Barra de Itabapoana afastando o pescador do seu pesqueiro ele não pode ficar em qualquer lugar o pescador tem o pesqueiro 500 m de exclusão você não vai poder chegar perto se tem que vê o que tão fazendo já tem uma plataforma ontem até uma menina lá ela até ligou porque tavamos com o pessoal da marinha na Barra e o quê que acontece entrou um barco de apoio eu até brinquei com o pessoal da marinha vai lá ver se eles estão todos certinhos vocês tem autonomia pra isso aí (...) e tava tudo certinho o IBAMA liberou mais nem um aviso aos navegantes colônia oh tamos com a plataforma no lugar tal aí os pescadores não vão pra lá aí ligamos pra empresa questionando pô tem a colônia vocês começaram porque ao invés de procurar a colônia que é a casa do pescador foram procurar empresário por que precisa do porto do empresário

É o mesmo porto Canaã? não esse é em Manguinhos teve audiência pública em dezembro do ano passado pelo que eu saiba pelo menos o que o pescador me passa é que não começou fazer nada não eu tive que pedir uma reunião com o representante do Canaã aqui na nossa capatazia e aí veio os pescadores eles fizeram uma explicação melhor que cada um falava que ia ser uma coisa o que

184 eles passaram a mesma coisa que eles falaram na audiência pública o porto Canaã vai ser um suporte de plataforma levar água para a plataforma trazer os resíduos da plataforma para descartar em (...) a rota onde que vai ser dragado pra poder os barcos de apoio entrar e sair não vai atrapalhar a pesqueira deles (...) não pega pesqueiro nenhum o pescador não pesca em Barra ele pesca em Praia das Neves (...) o pescador na verdade eles marcam pela terra o morro não sei de que então ele sabe que ali tem pega ali tem camarão nem todo pescador sabe pescar em determinado pesqueiro o [porto] Roterdã afasta o pescador ele recebe barcos imensos e o barquinho do pescador como vai chegar perto do pesqueiro aí o IBAMA não quer saber do pescador do coitado do pescador na audiência pública foi o que eu falei com o IBAMA Jesus chamou pescadores e hoje vocês estão afastando os pescadores eu não sou contra o progresso no nosso município mas acho que deve ter o respeito será que eles não podiam chegar pra lá um pouquinho e deixar o pesqueiro ali o pescador já tava ali o pesqueiro também

Qual a melhor maneira para desembarcar a pesca?

Na verdade não temos uma boca de barra franca ele só consegue entrar no porto e descarregar no porto se a maré tiver cheia mais se tivesse um quebra mar aí sim o quebra mar ia fazer a dragagem do canal e aí você teria como entrar e sair independente da maré em barra de Itabapoana não tem o quebra mar mas lá a boca da barra é franca natural e aqui não pela questão do vento se a maré tá seca você passa com água na canela não tem como os barcos entrarem então por isso por muitas das vezes por chegar cedo e a maré tá seca eles tem que descarregar no mar e esse quebra mar facilitaria ajudaria muuuuito

Há muitas perdas do pescado no desembarque? hoje em dia não já teve muito quando o mar tá enchendo eles colocam um saco na caixa pra não perder pode ver que tem muitas canoas quem tem barco tem canoa vai com a canoa até o barco o camarada pula no barco pega a canoa coloca o pescado na canoa e trás até a praia.

Tem algum trabalho específico com a Ilha dos Mineiros? não temos é com todos os pescadores e muitos moram lá

185 TFEA 11 - Entrevistado 023, 2014 Qual sua trajetória no Município?

Eu nasci aqui em Ponto de Cacimba (...) nasci e fui criada (...) meu pai (...) tinha uma loja em minha casa (...) secos e molhados (...).

Uma venda?

Era chamado assim naquela época venda justamente eles são daqui da região (...) meu pai (...) foi visitar (...) na descida (...) logo ali a frente tinha uma senhora uma idosa morava sozinha aí ele chamou um amigo dele e (...) essa senhora (...) tava quase morta ele sempre dizia (...) essa idosa (...) morreu a mingo sozinha dentro de casa (...) desde esse dia (...) ele sentiu aquele desejo de fazer alguma coisa para amparar os idosos a velhice desamparada (...) acho que ele tinha uma faixa de 40 e poucos anos (...) começou fazer a campanha de uma doação de terreno meu pai tinha poucos recursos só tinha essa venda ele não tinha formação nenhuma era praticamente analfabeto mais muito curioso muito esforçado (...) e ganhou um terreno (...) em Barra e começou a campanha de começar esse abrigo né hoje já chamam geriatria (...) qual foi essa campanha alguns fazendeiros (...) da farinha da galinha (...) pra vender e o recurso era pra investir ali e conseguiu fazer a pedra fundamental aí reuniu as autoridades (...) fez a pedra fundamental iniciou ali a construção em fim em cima de campanha doações (...) começou a construir o primeiro prédio ali em baixo houve várias transformações até chegar aqui hoje né (...) eu acho que foi em 1949 eu tinha um papel que narrava isso tudo eu não sei pra onde foi eu ainda era solteira e tal eu não sei só lembro desse ano 49 foi o início marcou aí depois ele começou a construir as pessoas doavam um monte de coisas mão de obra cada um fazia uma coisa e levantou as pessoas ajudaram trabalharam de graça aí começaram a aparecer os velhinhos né daqui e inclusive já teve internado idosos do Espírito Santo (...) de São Fidélis

As pessoas gostavam de estar aqui?

Gostavam por que eles eram tratados como família (...) fui vivendo ali naquele meio (...) minha mãe morreu eu fiquei com 7 anos (...) minha infância foi ali dentro com os velhinhos ele viajava muito correndo atrás né de doações (...) já dei muito banho em velhinhos tomava conta eu ainda adolescente (...) ele conseguiu um convênio com o FUNRURAL aí tinha aquela verbazinha inclusive o Dr. (...) que tá aqui hoje ele já participou ele já fez cirurgia lá em baixo era o médico que atendia eu falei com ele esses dias que ele é uma figura histórica também (...) no dia 7 de setembro de 1952 que foi a inauguração (...) nos dias 7 de setembro têm uma festa aqui essa festa veio de lá foi aniversário de lá daquele lar de idosos e naquele dia da festa meu Deus as Igrejas botavam barraquinhas (...) pra vende várias coisas e tudo que arrecadava era pra comprar mantimento roupas material de limpeza (...) quando ele se entregou de corpo e alma a essa obra a essa missão (...) ele abaixou a porta da venda ele pegou tecido que servia para forro da cama ele mediu o tamanho certo e ele cortou tudinho aquilo que servia para o idoso vestir ele pegou a loja todinha e botou aqui eu tenho uma lembrança de uma coisa que eu nunca me esqueço nunca todo natal meu pai pegava um tabuleiro de madeira ele ficava até uma hora da

186 manhã sozinho lá no cantinho lá na loja fechado ele preparava os embrulhinhos lenços Maia pentinho de cabelo sabonete ele fazia aquele embrulho e de manhã cedo ele me chamava botava o tabuleiro aqui em mim pra eu ir lá distribuir com as pessoas que estavam trabalhando lá depois voltava pra distribuir com os velhinhos eu fazia isso para mim aquilo era maravilhoso rs rs rs maravilhoso rsrs isso está tão nítido aqui você sabe que aqueles idosos que ficavam lá é parte da gente papai tinha um xodó com cada um entendeu ele tinha aquele xodó depois ele conseguiu uma verba do INPS e construiu uma outra parte que é o ambulatório hoje né as consultas construiu e funcionou ali a maternidade nasceu muita criança ali com parteira lá uma vez que tinha só um médico era mais com parteira e nunca teve problema eu nasci com parteira em casa e ele continuou ampliando e continuando as campanhas dia de 7 de setembro tinha um fazendeiro aqui da região muito conhecido muito querido (...) que liderava a campanha do bezerro ele rodava os fazendeiros pedindo um bezerro um ou dois quando chegava na véspera de 7 de setembro ele pegava o caminhão dele e ia catando os bezerros ele com mais outras pessoas outros fazendeiros de bom grado ajudando aí ali atrás onde é o restaurante fazia um curralzinho um sequinho botava os bezerros ali no outro dia na festa a noite fazia o leilão mais aquilo era muito gostoso você tem que vir aqui em 7 de setembro pras pessoas te dizerem que eu sou meia suspeita em falar agora mudou o estilo então foi isso aí que foi investindo completando a construção fez a maternidade e fez a pediatria mas pediatria especial sabe por quê especial por que não é aquela pediatria para tratamento clínico da criança só abandonada ficava ali entendeu que os pais não tinham condições de manter criar sustentar ficava ali por tempo indeterminado aí tinha aquelas meninas que tomavam conta não chamavam de enfermeira nem tinha elas tomavam conta faziam revezamento elas não tinham salário não tinham condições era uma gratificação aí tá acabou de completar o abrigo uma parte feminina uma parte masculina aí construiu um refeitório os velhinhos que pudessem andar iam pro refeitório se alimentar aqueles que não podiam comiam no leito tinha um senhor que ajudava trabalhou muito muito (...) ele ajudava dava banho nos velhinhos nós tínhamos uma enfermeira que vinha umas 2 a 3 vezes da semana aí dava treinamento ensinava (...) uma forte ela ajudou muito muito muito e assim foi funcionou vários anos dessa forma com carência na dependência de ajuda de políticos papai até teve um impasse porque você sabe que hoje em dia pra você recebe uma ajuda de um certo político você tem que totalmente se aliar com ele essa questão de partido papai não aceitava isso ele foi chamado para ser vereador ele não gostava então todos ele abraçava havia aquele choque e ele sofreu muito com isso ele não aceitava isso não entrava na cabeça dele entendeu ele gostava muito de agradecer as pessoas que auxiliavam inaugurar retratos dessas pessoas então e assim foi com muita dificuldade aí ele me trouxe pra cá terminei o 2º grau vim pra cá e aí já estava funcionando aqui em parte né tava funcionado a maternidade algumas pessoas internadas aí me trouxe pra ajudar na administração meu irmão ele começou a dirigir com meu pai com 15 anos mais novo que eu ele parou de estudar se entregou aqui com papai foi aí que quando aqui funcionava a sala pré-parto lá do outro lado onde funciona agora a mamografia raio X era a sala de parto aqui na sala de espera é que modificou bastante era a secretaria do hospital entendeu então as crianças nasciam ali médicos eram 2 3

187 vezes na semana FUNRURAL e aí já tinha a verba do INPS não tinha muitas especialidades não o clínico fazia tudo nasceu muita criança aqui com o clínico aí voltando o pedacinho de eu ser motorista rs rs rs meu irmão já estava pra Campos com meu pai conseguiu comprar uma Brasília meia velha pra ele ir e agir alguma coisa aí tinha uma veraneio aquela grandona o pessoal chamava o carro da polícia o camburão aí tinha uma mulher na sala de parto o médico via que o negócio ia complicar o desenvolvimento não tava bom isso era por volta de 1972 ou 73 aí o médico falava assim aqui oh (...) tem que levar pra Campos algumas pessoas tinham carro mais muito poucas mais aí a ambulância tava aqui essa ambulância era por conta do hospital financiada pelo INPS aí eu tinha que pega rs rs rs o motorista eram 2 eu e meu irmão depois que contratou outro

Então você foi motorista da ambulância do hospital? rs rs rs socorri muitas pessoas levava para Campos levei muita gente pra Campos quando ainda era estrada de chão quando tinha algum problema com o carro pneu sempre vinha alguém pra me ajudar entendeu ia eu uma enfermeira e o paciente e levava pra Santa Casa o ponto de referência era Santa Casa eu trabalhei como motorista mais de 2 anos e trabalhava ajudava na administração do hospital o maior problema era que a maioria das pessoas que trabalhavam aqui com a gente era sem formação entendeu você tinha que ter aquela paciência tinha que orientar tinha que estar conversando sempre mas mesmo assim era um convívio bom entendeu entre os funcionários muitas vezes eu chamava aqui na secretaria senhoras que podiam ser minha mãe chamava pra fazer um alerta uma advertenciazinha fechava a porta dizia que aquilo não estava certo com muito respeito com muito carinho (...) graças a Deus esse período todo nunca fiquei com inimigo você pode conversar com qualquer um daquela época entendeu nós temos uma técnica de enfermagem hoje aqui que ela é que trabalhou naquela época (...) uma pessoa muito humilde dedicada responsável se ela tiver hoje de plantão ela pode ajudar muito

Exerceu logo sua profissão de professora?

Eu fiz o concurso pro Estado contra a vontade do meu pai (...) eu queria dar aulas fui consegui contrato com CLT e fiquei trabalhando aqui na escola aqui pertinho por a gente ser da família se desse pra pagar a gente pagava se não só quando sobrava ele chamava a gente e dizia pra gente aguarda a gente sempre ficava aguardando a gente respeitava muito ele aquele respeito de antigamente que você não retrucava a gente tinha muito isso com ele

Quantos anos trabalhou no magistério?

Eu trabalhei 32 anos aqui pertinho trabalhei a noite no Estadual Supletivo o RET regime especial peguei e trabalhei muito de manhã aqui a tarde no colégio ali e a noite em São Francisco mais foi por pouco tempo a noite aí depois meu pai foi ficando doente ele caiu quebrou o fêmur não é que ele estava velho ele estava com 70 anos quando ele caiu fez uma cirurgia eu só sei que ele teve um descontrole no organismo deu uma infecção generalizada tal e ele afastou-se e começou o INPS e ficou com dificuldade na manutenção do hospital e asilo o asilo logo foi acabando ele não foi pegando mais idoso aí depois teve que dar uma parada geral em 80 e alguma coisa aí os velhinhos foram transferidos lá (...) Campos (...) a gente sofreu muito com a

188 saída deles por que a gente se apegou muito a eles porque tinha uns que não eram tão idosos eram porque estavam sozinhos (...) com isso papai foi decaindo decaindo foi ficando deprimido e isso contribuiu para o óbito dele quando ele faleceu eu achei que ele foi cedo eu vejo tanta gente com 80 90 anos aí fortão mais antes dele falecer é isso que eu quero falar ele presenciou a reforma do hospital (...) quem corto a fita foi papai ele ganhou o cartão de prata entendeu ele tava de cadeira de rodas teve que ser levado até lá tenho um retrato que o amigo dele tiro ele sentado assim meu irmão de um lado e eu de outro então eu fiquei um pouco aliviada que ele viu isso o bem que ele fez a comunidade toda foi beneficiada que com sacrifício com luta entendeu é mais conseguimos salvar muita gente foi com muito sacrifício entendeu mais a amizade das pessoas o bem de ajudá

Teve algum velhinho da Ilha dos Mineiros aqui?

Deve ter tido de Guaxindiba essa Ilha dos Mineiros eu ouço falar mais ela é de há pouco tempo pra cá (...) agora depois da nova gestão da liderança que foi a prefeitura a prefeitura assumiu né ele (...)

Então depois de tanto tempo e trabalho continua aqui, como foi isso? (...) não tinha hora carga horária não tinha nada agente era direto amiga entendeu a gente morava ali tinha que tá toda hora a disposição teve uma vez que eu com a primeira filha eu tava com o barrigão desse tamanho aí teve um paciente aqui pra levá meu pai tava com meu irmão em Campos já era a tardinha aí eu fui e falei assim eu vou e encontrando com eles eu troco e volto sei que quando nós passamos um pelo outro já era noite com aqueles faróis não deu pra ver e eu tive que prosseguir ai meu pai chegou aqui e ficou doido ficou um tempão aqui na frente e daqui há pouco meia noite to eu voltando na estrada né não era asfalto entendeu o carro também não era aquele carro novo aí chegava eu com aquele barrigão meus tios ficavam emocionados quando viam aquilo e era assim essa vida entendeu tenho mais dois irmãos do segundo matrimônio entendeu mais a única que ficou grudada aqui fui eu um irmão falou assim pra mim você não vai cortar esse cordão umbilical não rsrsrs eles são doidos que eu saia daqui que eu vá embora lá mas eu tenho minha casa meu marido meus 3 filhos tenho 2 casadas mãe tenho três netas entendeu e eu não posso tá largando tudo assim (...) o sonho do meu pai era que eu fosse médica mas eu nunca quis (...) não não eu gosto muito de ficar na recepção falar com o público tenho a paciência de explicar sempre em contato com o público as pessoas que me conheceram la dizem assim i você está aqui ainda rsrsrs o pessoal falou que eu sou uma peça do museu Rui Barbosa que na época o nome era (...) na época de papai depois que mudo ele ainda era vivo quando mudou houve uma sugestão de alguns né da comunidade algumas autoridades deram a sugestão que colocasse o nome de Manuel Carola aí porque Manuel Carola se o nome dele [não é esse] (...) então rsrs como você chegou me perguntando falou pra mim que queria falar com Beti Carola rsrsrs quem que falou Bete Carola com ela gente pensei assim eu achei aquilo rsrsrs Manuel Carola o nome da minha avó a mãe dele era D. Carolina e as pessoas chamavam de D. Carola então as pessoas falavam Manuel qual Manuel o de Carola aí ficou Manuel de Carola aí numa época tiraram o de aí ficou Manuel Carola Manuel Carola Manuel Carola aí a intimidade as pessoas esqueciam o nome dele e chamavam Manuel Carola Manuel

189 Carola rsrsr e quando inaugurou e colocou o nome Manuel Carola ele estava vivo aí ele virou pra mim e falou assim mais que invenção né bota Manuel Carola meu nome não é Manuel Carola rsrsrs então eles botaram afetivamente mas ele não gostou disse assim mais ao invés de colocarem meu nome certo botaram Manuel Carola rsrsrs então Manuel Carola é isso rsrsrs há muita coisa interessante aí pra conta mais o tempo teve uma vez que eu levei uma paciente pra Campos pra parto quase nascendo o médico teve uma dúvida ficou com medo e mandava levar logo então eu levei na Brasília por que a ambulância estava lá então eu dirigindo aqui e a paciente deitada no banco de trás então quando vinha a contração a paciente começava a gritar e aqui no meu ombro tampava no meu ombro e eu dirigindo botava a mão pra traz e dizia assim minha filha fica quetinha aí eu tinha medo que nascesse no carro eu tinha horror de ver eu tinha horror então quando eu chegava e que contava pro pessoal era a maior risadaria

Então já nasceu algum no caminho? jáaaa

Com você?

Não comigo não rsrsrs graças a Deus que não mas com meu irmão e outros eu dizia se nascer no caminho não conte comigo eu vo toma mato rsrsrs eu to aqui pra dirigir eu não podia ser médica não podia não amiga

Há ainda alguma coisa relevante para falar?

Ah meu pai ele nunca teve vaidade inclusive quando eu estudava (...) fazer algum serviço pra ajudar a pagar meus estudos e ele recebeu muitas opiniões de pedir um político uma bolsa pra mim mais ele nunca abriu a boca pra pedir nada pra filho nada ele tinha uma prevenção danada eu cortei muita verdura fiz faxina na escola meu pai quando morreu ele ficou num quarto porque o provedor da Santa Casa (...) era muito amigo dele muito amigo (...) ele cedeu um quarto pra papai fica senão ele tinha que fica numa enfermaria ele não tinha recurso mas Graças a Deus foi tratado com dignidade ele tinha uma aposentadoria como qualquer cidadão

Seu marido é daqui? É ele é proprietário rural o pai dele tinha um sítio lá pros lado de dentro de Praça João Pessoa ele trabalhava junto com o pai depois ele ficou trabalhando em obras da parte de marceneiro madeira aí ele saia pra trabalha em Búzios eu ficava em casa com 3 filhos foi difícil também muito difícil sem irmã mais graças a Deus as pessoas que encontram comigo me abraçam e choram lembra entendeu como se você passear aí e perguntar vai ouvir muita coisa eu graças a Deus ando com a cabeça erguida tem pessoas que falam assim (...) cada parede dessa aí tem uma recordação de seu pai ele foi o arquiteto a construção disso tudo ele que imaginava um arquiteto natural.

190 TFEA 12 - Entrevistado 024, 2014 Qual sua trajetória no Município?

Nasci em Campos vivi em Ponto de Cacimbas e meu marido (...) nasceu em Magé estudei até a 3ª série eu tinha que trabalhar para ajudar minha mãe de Praça João Pessoa e o marido também ela ficou viúva cedo do primeiro casamento com 8 filhos eu e um irmão somos do segundo casamento aí 10 filhos 7 meninas e 3 meninos eu (...) sou filha de baiana com albino (...)

Qual foi seu primeiro trabalho?

Roça capinando linha de cana depois foi cortar cana e por aí foi depois fui trabalhar (...) na Baixada Fluminense ali em Praia de Mauá entre Betai e Magé tomar conta de sítio ser caseiro conheci meu marido na Igreja Assembléia de Deus em Madureira agora nós tamos na Batista na Luz de Betel aqui na Ilha casamos e fomos viver em Duque de Caxias em Bariê quase subindo como quem vai pra serra

Por que saíram de lá?

Violência a gente morava na comunidade Parada Angélica e Santa Lúcia as crianças estavam crescendo e para não entrar naquele meio viemos meu mais velho estava com 3 anos e o outrozinho estava com 1 ano e meio (...) agora viemos direto para Praça João Pessoa morei primeiro com minha mãe aí depois ela me deu um pedacinho de terra aí construí minha casa lá depois a gente foi pra São João da Barra a serviço construir 6 meses construimos a Igreja ficamos no centro mesmo em 2011 fez 3 anos que eu moro aqui

Como chegaram aqui na Ilha?

Meu esposo veio fazer uma casa aqui pra um conhecido da gente de Praça lá do Espírito Santo só que tem família em Praça aí indicaram para a gente fazer (...) quase saindo da Ilha a última rua saindo daqui uma casa bonita

Quanto tempo levou fazendo essa casa?

Pouco tempo 1 mês e poquinho aí (...) esse moço era o dono desses terrenos aqui a gente comprou demos um freezer de entrada no (...) meio terreno que agora é do meu filho a gente morou ali primeiro (...) e começou a pagar em serviço sábado e domingo ele vinha trabalhar e era descontado no serviço aí foi a onde a gente pegou e vendemos a nossa casa de Praça e compramos o restante do terreno a ele mesmo (...) ele mora lá é aposentado tudo junto comprado ficou por 9.000 a gente deu 1.000 essa parte aqui foi 3.000 e aquela a gente comprou por 6.000

Tem algum recibo?

Temos um documento registrado tudo certinho no cartório é um recibo porque aqui foi tipo invasão coisa assim foi um loteamento dividido só que o povo não teve paciência de esperar e invadiram venderam os terrenos pedacinhos picadinhos pra uns foi a onde que a senhora vê tem alguns que tem o terreno grande na medida certa e outros piquinininho de 6 metros retalharam e foram fazendo casinha casinha como eu fiz aqui com meu filho porque o meu

191 terreno mesmo são 24 metros de largura por 14 de comprimento está tudo construído só tem esse aqui que a gente bota o material de construção

E seu filho mais velho?

Ele trabalha na firma fábrica de vidro (...) em Campos na CODIM depois de Travessão ele é solteiro mas tem a casa dele ele tá noivo ela é de Campos (...) ele trabalha em Campos vai e vem todo dia

Vão morar aqui...

Eu acho

Como é sua casa?

A minha casa é essa aqui quer ver só que tá muito bagunçada ontem eu saí e não deu para arrumar nada

Você gosta de morar na Ilha?

Gosto tem serviço entendeu o que me incomoda aqui é só o campo de bola porque eles não botam a rede as bolas caem aqui não tomam providência entendeu eles falaram que não conseguiram a rede mais as coisas mais cara eles conseguiram que foi o poste e o refletor que eu sei que é bem mais caro cada caminhão de areia pra mim aqui no depósito eu perguntei ao moço saiu por 600 reais pra Prefeitura é sempre mais caro um cadinho (...)

Qual o prejuízo que já teve com as boladas no seu telhado?

Telha quebrada minha antena parabólica estragou fui obrigada colocar sky eu já conversei com o moço que está responsável aí pela essa escola de futebol conversei ele disse que ia recuar a trave um pouquinho pra lá por que tem espaço não recuou a rede falou que não conseguiu entendeu o meu pobrema não é as crianças jogar meu pobrema é mais pessoa adulta mais tarde esse campo fica cheio hoje inaugura com as crianças mas depois quem vai continuar são os adultos por que foram eles quem vieram pedir para arrumar o campo mas eles não tiveram coragem de pedir uma rede entendeu pediram lá a trave o refretor o caminhão de areia mas a rede mesmo não entendeu fui obrigada a fazer essa proteção aqui para não cair bola na minha casa quando eu tava ali na pia quase que a boa passa pela janela da cozinha e a outra quebrou a telha que eu vi o céu já caíram muitas bolas nessa proteção

O que mais incomoda aqui?

Não tenho água tenho que comprar tá 6 reais cada galãozinho aqui em casa gasta 2 por semana no verão a gente gasta 4 galões de 20 litros acaba sendo obrigado a tomar menos água pra gastar menos é a gente tem poço que dista da fossa 13 metros aqui não tenho esgoto

E a fossa do vizinho quanto dista do seu poço?

Aí eu já não sei acho que do vizinho dá uns 7 5 metros mas a gente não bebe dela só cozinha e lava roupa

Vou fazer agora o croqui da sua casa Tá.

192 TFEA 13 - Entrevistado 026, 2014 Não acabou a obra do banheiro por quê?

Falei pra eles que eles iam gastar muito mais entendeu construindo um outro banheiro que eles poderiam gastar ali no quartinho o quê cimento e a telha e coloca o telhado lá entendeu a telha o cimento emboussá e o material [não sei]

Escolheram vocês por quê?

Vieram uma equipe aqui em casa e falo que eu tinha sido contemplada em fazer um banheiro nas casas que isso eu sempre tenho um cadastro lá na prefeitura na secretaria de educação sei lá a onde do CRAS que vai pra lá tipo que eu vivo eu sou uma das famílias carentes em condições precárias aqui a gente fez a fossa mas não tinha a tampa (...) aí de tanto eu pedir pra eles poxa quebra meu galho faz uma tampinha aí eles foram e fizeram a tampa (...) deu pra tapa graças a Deus (...) que eles fizeram isso aí tá ótimo

Você escolheu o lugar do banheiro?

Não [eles] fizeram aqui na frente para contenção de despesas

Perguntaram onde gostaria que fosse?

Não eles nem me perguntaram nada e disseram assim então a gente vai faze aqui do lado pra pode o espaço ser menor pra gastar menos só pode

Onde gostaria que fosse?

Entre o quarto e a cozinha apesar que aqui também tem um quartinho que a gente fez de quarto era para ser um banheiro apesar de ser na frente era encostado ao lado o meu sonho era crescer a cuzinha aqui nesse ponto aqui porque a minha cuzinha é muito pequenininha ela era de frente pra rua tinha uma janela que até era mais fresco agora é um calor que ninguém suporta

A presidente da associação dos moradores do loteamento Ilha dos Mineiros [que participou da entrevista] perguntou quantos cômodos são e quantos vivem aqui?

São 5 u banhero u quartinho do meu filho meu quarto a sala i a cozinha 7 filhos e eu 8 pessoas no meu quarto dormem 6 na sala 1 e outro no quartinho.

Onde está a caixa d’água? Não vejo?

Não tem (...) a gente tem que puxá água no poço entendeu e traze pra dentro por que (...)ַelesַnãoַdeixaramַcaixaַd’águaַnadaַdissoַelesַfalaramַqueַnãoַpodiamַterminaַeַqueַoַ material também não podia ficar aqui

Como tomam banho?

Puxa água no poço com a corda coloca no balde traz pro banhero e joga água por cima de caneco todos no vaso é a mesma coisa pega água lá pra joga e tem que tomar banho senão o coro come

O terreno comprou?

193 Meu falecido marido que me deu quando ele era vivo ainda tem o quê uns 13 anos (...) eu ainda estava grávida ele morreu eu estava grávida de 6 meses quando ele morreu de acidente o terreno era até lá só que (...) como a necessidadi era muito grande e eu não tinha o bolsa família ainda aí eu fui vendendo os pouquinhos os pedacinhos vendi dois pedaços esse daqui e o de trás entendeu

Tem alguma renda?

Não a única renda é o bolsa família que agora ta $530,00

Tem luz?

Tenho luz mas é um gato entendeu (...) mas é cedida pelo vizinho porque eu tinha feito até o padrão e tudo na época que a gente vendeu e tal a gente ficou assim mais aí depois $15,00 é muito pra gente paga entendeu a gente não tinha era (...) comprar alguma coisa pra cume ou paga a conta

Quando foi isso?

A isso tem tempo (...) quando eles cortaram eu tava na média de uns $300,00 e poucos acumulando entendeu hoje eu não tenho condições porque o dinheiro que vem é pra cumida hoje eu vivo com um gato

Quando tempo mora aqui ?

Uns 14 15 anos

Onde morava antes?

Sô cria daqui entendeu meus pais eram de Praça João Pessoa eu nasci lá naqueles cantão bravo pra lá mesmo aí depois a gente veio pra cá na Ilha eu tinha 7 anos de idade vim morar aqui com 18 anos eu fui embora pro Rio tenta uma vida melhor por que eu trabalhei muito na roça com minha mãe criança (...) com 9 anos (...) isso o dia quando a minha irmã não estava em casa (...) éramos 7 filhos [ela] estava pra Campos trabalhava (...) tomando conta de criança (...) eu ficava em casa cuidar dos meus irmãos lavar roupa, cozinha por que não tinha como a gente sobrevive aí eu fui pro Rio trabalha como doméstica aí conheci meu primeiro esposo lá aí fui mora com ele aí eu tive [um filho] com 18 anos depois fui mora em São Pedro da Aldeia (...) quando eu tava grávida (...) me separei (...) vim bora morar com minha mãe (...) na Ilha (...) voltei de novo pro Rio [logo depois] vim bora aí eu vim mora aqui na ilha já o pai do [outro filho] comprou esse terreno pra mim ele sempre falava (...) se eu morre você e meu filho vão está bem (...) ele quiria construir aquilo tudo mais não deu tempo (...) foi o único que me deixou ainda com alguma coisa (...) hoje eu sou a mãe e o pai deles entendeu vivo com bolsa família todos vão pra escola até o imperativo (...) eles estudam no CRAS [Centro de Referência de Assistência Social] PETI [ Programa de Erradicação de Trabalho Infantil ] no caso de manhã até umas 11 horas aí vem pra casa toma banho e vai pra escola

O que fazem no PETI? Lancham agora eles tão no projeto do Zico do esporte aí pegaram essa semana parece que ontem teve em Fiinho [campo de futebol] um treino

Foram todos?

194 Pois é o outro foi porque tava di bicicleta (...) já ela fico purque num tinha como [ir ela] tem 12 anos não pode ir sozinha pra Fiinho nem no sonho quando ela sai cumigo us otros us homes já fica di olho imagina vou deixa ela i sozinha pra lá depois se extrupada no meio do caminho Deus me livre eu sou capaz de mata um na unha faze um troço disso cum filho meu u que sério eu perco as estribeiras

Tem algum problema de saúde?

Olha eu até tenho apareceu (...) uma hérnia no estômago dos filhos só [um] (...) é imperativo ele agora está fazendo tratamento está mais calmo tem (...) [o outro filho] tem um leve distúrbio (...) não toma remédio (...) é desatento não guarda as coisas [tem] (...) problema de esquecimento (...) parou de estudar na 5ª série ele sabe lê mais é pegando bastante ele passou raspando (...) ele foi passando por causa desse programa do governo

Faz tratamento médico?

Pra dizer bem a verdade eu tomo remédio pra dor nem é assim tão caro é $27,00 entendeu mais pra mim é eu fui no médico (...) e num cirurgião que é (...) ele falô que eu conseguindo o remédio é um mês de tratamento já tem tempo que eu fui lá tem quase um mês, você sabe eu tenho um vício do cigarro se eu não fumo eu ficu muito agitada o médico falou pra mim se você fuma 20 cigarros por dia que é uma carteira você diminui fuma 5 6 e toma o remédio eu falei cum ele que di vez eu não posso parar não tem como eu parar eu não consigo quando eu to na igreja eu consigo pará não sinto a falta dele entendeu eu também sei lá agora eu não consigo voltar pra igreja tem tanto tempo já entendeu eu não tenho forças o remédio usando por 30 dias eu creio que ele vai pidi uma outra endoscopia pra saber si elimino se não elimino eu vo fazer novamente mais um mês entendeu pra pode elimina ela

Tem ajuda da prefeitura, CRAS ou Associação dos Moradores?

Eu acho que a associação aqui tem que ter um ponto uma sede um lugar que as vezes tem pessoas que não quer ir na sua casa da presidente entendeu eu não falo por mim não eu vou mas tem que te um ponto é aqui pra dizer eu vou ali antes de ontem a gente estava vindo lá do ensaio lá do Sossego e a gente tava comentando sobre isso que as meninas falou assim vem cá na Ilha não tem Associação na Ilha deveria ter uma Associação um pontinho qui nem lá de Sossego que a gente participa (...) lá quando vai ve jogo vai aquela entendeu faz aquela farra ve Jango la (...)

A presidente da associação [que participou dessa entrevista] argumentou sobre essa associação... Ali o ponto é aquela minha loja ali porém a de Sossego tem a prefeitura que paga e eu não queria ter vínculo com a prefeitura e outra coisa (...)ainda não [se] registrou a associação a associação oficialmente ela não existe (...).

O CRAS faz visitas nas casas?

Hoje em dia não tem mais como (...) [antes] que atendia de casa em casa só vem de casa em casa quando é alguma reunião e vem traze o papelzinho antis a gente tinha um cadastro lá qui se você não tinha um alimento dentro de casa você pudia ir lá e pegá uma cesta hoje você não podi mais

195 Qual o problema de irem lá? [pergunta da presidente da Associação dos Moradores do LIM, participante da entrevista] Não é problema às vezes temos vergonha tem muitas das vezes que eu fico até constrangida de ir lá porque eu já fui várias vezes e pidi tanto ali entendeu e não fui atendida teve uma vez que eu não tinha um arroz pra dá aos meus filhos prá cume quando era em São Francisco ela vinha aqui de lotação sentava aqui e sabia de tudo hoje o polo está na comunidade e eles não sabem eu não reclamo delas não vim eu reclamo tipo assim se você precisa e vai lá e sabe o que que acontece eles não vem faze visita na sua casa e dizem assim não só depois da visita mas não vem eu fui um dia pedi a cesta básica e ela falou pra mim que tem que espera eu esperei quanto tempo aqui a assistente social vir aqui em casa trazer a cesta básica um mês e pouco quase dois meses se eu não corresse atráis de outra pessoa eu morria de fome entendeu o remédio eu já pidi ajuda ao [vereador] e [a outro] fui pedi eu tava grávida dessa daqui (...) eu não tinha sozinha e Deus aqui com meus filhos a minha renda era de $250,00 na época de bolsa família eu fui pedi ajuda falaram pra mim se ele ganhasse ele me ajudava mas ele ganho não me ajudo em nada ele falo que ia me ajuda no enxoval da minha filha graças a Deus diante de Deus uma irmã que trabalhou na casa de [família] ela quem conseguiu tudo pra (...) [essa aqui] nas Igrejas entendeu frauda muita coisa roupa sabonete e tudo porque ela não tinha roupa nem pra sair do hospital e eles mesmo não deu $1,00 pra comprar um sabonete pra sua filha um cotonete pra se usar (...)

Tem iluminação nessa rua? [perguntou da presidente da Associação dos Moradores do LIM, participante da entrevista] Até tinha agora é um breu danado só aquela iluminação do campinho essa daqui não tá funcionando mais ali também e não tem saneamento básico asfalto e sobre a visita do CRAS aqui em casa recente eu to até agora tentando entende o por quê há agora que eu lembrei foi por causa [do filho hiperativo] 2 vezes isso aí veio pergunta se eu tinha levado ao médico e tal eu falei assim já ele tá tomando remédio já está até no final a minha bolsa família foi cortada eu fiquei 4 meses sem receber Fevereiro Março Abril e Maio agora em junho só saiu um

Você reclamou? [pergunta da presidente da Associação dos Moradores do LIM, participante da entrevista] Fui lá reclamar várias vezes falaram pra mim que não podiam fazer nada porque isso era uma advertência e eu falei assim i eu tenho culpa da advertência o erro foi da escola e eu tenho culpa de suspende meu filho da escola expulsou meu filho de 9 anos antes dele começar a tomar o remédio ele era dimais dimais mesmo i agora eles istão cum uma implicância na escola que tudo que acontece de ruim foi [meu filho] nem foi ele as vezes as crianças sabe disso mais tudo eles diz que foi [meu filho] entendeu tem outras crianças que são imperativas lá como o filho de (..) que desde piqueno ele toma remédio e tudo i eles cuidam dele muito bem mais eles discriminam as crianças sim botam di castigo, sentado de cabeça baixa lá ou rodando no pátio lá como um doido tadinho de [meu filho] que tem 9 anos se entendeu i quando não é isso ele já reclamo várias vezes ele falo isso comigo na frente da tia na escola que a tia tinha dado um tapa

196 na cara dele no portão por que ele quiria água foi na cuzinha pidi a caneca e a tia fechou a porta na cara dele aí ele foi reclama dessa tia lá mas até a diretora mesmo fica na bronca com ele que tudo de errado é [meu filho] (...) [outros] também tem problemas ele toma remédio mas ele é tratado na escola bem mas não expulsam [aqueles outros] apronta na escola e ninguém expulsa (...) os bagunceiros que não são imperativos tá la dentro da escola no caso de [meu filho] a gente ainda não fez o exame está esperando vir o neuropediatra agora ele vai passar pelo psicólogo é esse qui vai me dá o coiso pra pode faze o exame eletro pra pode sabe qui grau tá o imperativo dele entendeu e como tá que o laudo diz que ele é imperativo as vezes brigava na volta pra casa as vezes eles botavam na moto e traziam pra casa [meu filho] ou vinha com as crianças [meu outro filho] aí disseram que eu tenho que transferir [meu filho hiperativo] pra outra escola que ninguém aguenta mais [ele] nem professor nem criança nem a psicóloga só que tipo assim eu vo separar [esse meu filho] dos irmãos dele todos estudam ali ele foi encaminhado pra uma psicóloga (...) em São Francisco só que tipo assim fica ruim né passagem pra mim pra [ele] e tudo já penso toda vez que vai pra São Francisco são $10,00 tem criança que tem passe e sabe o que que eles fazem não deixam as crianças entra na van nem no ônibus .

197 TFEA 14 - Entrevistado 029, 2014 Até hoje eu não sei o que fazem eu até perguntei ao Dr. uma vez mais isso aí foi os outros secretários a senhora desculpa a conversa já veio aqui anos atrás? já frequentou a praia?

Sim quando era muito jovem tomava banho na praia de Guaxindiba e depois no rio Guaxindiba que chamavam córrego a água era limpinha ...

Uma coisa eu vou afirmar para a senhora eu estou aqui há muitos anos eu vou afirmar pra senhora uma coisa ele tem muita coisa que ele também não encheu um molho grande a porrrrcaria já foi feita há tempo pa trás como é que ele vai ajeitar tudo não tem como A verdade tem que ser dita não adianta ele ser bom se as pessoas (...) não ajudarem Muita coisa que acontece ele não sabe então ele faz o quê as coisas pra trás ali é trrroço antigo não tem como um homem sozinho o município é grande uma andorinha só não faz verão não precisava ele ter mais forças assim ela não está aqui entrevistando outros igual a ela fizesse o mesmo aí a coisa ia andaaa porque ia dá força pra (...) continuar (...)

Falar uma coisa a senhora até [político] invadiu o córrego (...) como [político] divia dar o exemplo Vai jogando uma coisinha hoje uma coisinha amanhã e vai devagarzinho vai quando espantá tá o terreno pronto em cima do brejo é aí que acontecem as coisas

Acham que a Ilha dos Mineiros é uma ilha?

Rapaz isso aí é antigo né eu conheço ha muitos anos como Ilha dos Mineiros

Mas é uma ilha? É uma ilha O rio [canal Engenheiro Antônio Rezende] começa vem de Gargaú aí ele vai direto faz uma curva e vai embora direto então ele não era uma ilha fizeram antigamente aí dragaram ela com a máquina dragaram essa parte aqui porque ela começava aqui fazia pá pá pá contornava a ilha e saía lá em baixo botava no mar era só isso então dragaram daqui até lá em baixo então ela vem aqui agora esse rio que vem de lá pra cá é um e esse [rio Guaxindiba] é outro são dois, esse de cá foi dragado não sei se tinha sei que foi dragado aqui não era o rio direto era a curva então

Pode desenhar, por favor.

198 Desenho 1 – Ilha dos Mineiros

Autor: Entrevistado 029. Na entrevista de 10/05/2014.

Isso tudo aí é uma invasão o povo na época amarrava cachorro com linguiça todo mundo se dava bem eu mesmo na época fiquei com medo de panha um terreno ai fiquei com medo eu era pra te panho eu sou de Gargaú continuo em Gargaú moro há 18 anos lá No desenho esse rio vem de lá aí ele dobrava aqui vinha vinha vinha saía lá na boca da barra só que eles dragaram aqui oh dragaram dragaram dragaram vieram dragarando só que aqui não lembro se esse rio daqui era um rio ou dragaram foi dragado não sei se [você] entendeu aí formou isso aqui mas não era uma Ilha os antigos falam (...) me casei meu pai comprou o terreno meio terreno em 2003 por 1.500 reais pra mim e me ajudou a construir a casa com 1 quarto cozinha e banheiro e fui morar na Ilha tenho 1 filho meu pai veio pra cá (...) anos atrás (...) os antigos falam que lá pra traz aqui era tudo água era um brejal os fazendeiros prá te pasto dragaram isso aqui aí destruíram o córrego e infelizmente o ser humano jogaram lixo esgoto e ninguém [um prefeito] na época quis dragar [o rio Guaxindiba] pra melhorar mas não teve jeito não pode agora isso aqui foi feito pelo homem os fazendeiros antigamente fizeram isso pa cabá com isso aqui prá te pasto porque lá pra baxo é tudo baixada se dé uma água enche tudinho

Se chover 15 dias seguidos como fica a Ilha?

Anos atrás choveuַaquiַ nãoַteveַ vazãoַencheuַ d’águaַaquiַohַdaַ ponteַ doַcanalַ doַ asfalto [Canal Guaxindiba] que vai pra São Francisco ela não deu vasão a água veio pra cá encheu tudo alguns lugares da Ilha o lugar que enche menos é o meio onde eu moro agora as pessoas que tem casas berando a ele [rio Guaxindiba] encheu berando eu não sei se eles têm mais é bem provável ali no hotel ter foto de antigamente

199 TFEA 15 - Entrevistado 038, 2014 Fale da sua vida nesse município do seu trabalho aqui e na Ilha dos Mineiros?

Sou nascido em Gargaú de Gargaú para a Ilha dos Mineiros é pouca diferença meus pais são nascidos e criados aqui dentro de São Francisco eu alcancei ali (...) tinha poucas casas na época casinhas salteadas era muita coisa plantada

No mangue? No brejo?

Naquela época não tinha essa coisa ambiental agora a gente passou a ter conhecimento é que você vai vendo o erro exatamente e é difícil fazer alguma coisa

Havia alguma casa em área de preservação?

Até onde eu alcancei não tinha

Tinha o loteamento?

Tinha um loteamento grandão ali tudo ali algumas ruas aquilo dali chega um certo tempo que era assim [representou com as mãos um círculo pequeno e de seguida outro grande] e depois fez assim oh foi expandindo cresceu de uma tal maneira que você vê que até na reta da ponte descendo pro lado do mangue tem casas lugar de área proibido de fazer casa hoje eu tenho consciência mais do meio ambiente hoje se fizer construir o meio ambiente vai em cima principalmente com o Dr. aqui por que ele trabalha bem o Dr. aqui como se diz ele é muito correto com as coisas dele

Na Ilha dos Mineiros agora não tem obras?

Tinha uma construção mas eles foram lá e vedaram até se a senhora vê a ponte que atravessa para a Ilha dos Mineiros que vai para o Sossego se a senhora passar daqui para lá a senhora vê do lado daqui de baixo [lado esquerdo] a segunda casinha com um vergalhão botaram até uma gradisinha você viu [perguntou ao colega Evaldo]

É a casa do pastor?

Não é lá em baixo você vê a casa foi interditada que eis aqui interditaram que a verdade é dita eu não tô puxando o saco aqui dele ele (...) ele é rigoroso com as coisas dele ele não dá mole não mas pa trás houve muita coisa (...) passou na mão de muita gente aí que já viu como é que é né

O vocês só olham as casas lá?

Não (...) tudo cano de fossa cano de mangue Aquele córrego antigamente a água era verde clarinha limpinha hoje tá podre É igual a Barra de Itabapoana

O que faz o meio ambiente hoje com aquelas bocas todas de cano no mangue? É melhor perguntar a ele [Entrevistado 029]

200 TFEA 16 - Entrevistado 039, 2014 Qual sua trajetória no Município? (...) meu pai é daqui a família é daqui de São Francisco da cidade a minha mãe a família dela é de Morro do Coco município de Campos dos Goytacazes (...) nasci em Campos quer dizer fui para nascer em Campos e voltei para cá desde então estudei aqui fiz o primeiro e segundo grau minha primeira formação foi no magistério depois fiz técnico de contabilidade em Campos e no decorrer não tive o prazer ainda do meu terceiro grau

Em que área trabalha?

Na área de engenharia civil a gente fez alguns cursos na área de desenho informática CAD eu sou cadista então a gente conseguiu aí no decorrer dos anos ter um knowhow não por formação mais por estar sempre trabalhando (...) foi um investimento pessoal particular

Teve incentivo público?

Não foi um investimento pessoal não teve nenhum incentivo ou participação [pública] (...)

Foi seu primeiro emprego?

Não (...) trabalho desde os meus 14 anos aqui no interior no comércio (...) com o meu tio de seguida fui estagiário da caixa econômica (...) um dos serviços que a agência fazia aqui era xérox pra fora pela necessidade e demanda abriu essa exceção então tinha essas situações períodos em que você era responsável pelo setor de abertura de contas

Estagiou por quanto tempo? Por que saiu?

Por 2 anos era o prazo máximo depois fui para uma cooperativa de eletrificação rural (...) mais ou menos 2 anos (...) fui para uma empresa de insumos agrícolas (...) filial na cidade de São Francisco a parte burocrática administrativa ficava a meu cargo (...) depois (...) fui para (...) um atacadista de cereais (...) [depois] fui para a Prefeitura de São João da Barra como prestador de serviços [no cartório eleitoral e na secretaria de planejamento PMSFI] (...) [no] primeiro concurso público [PMSFI] (...) fui classificado (...)

Qual o problema nesse setor? (...) tinha (...) 2 engenheiros (...) houve um concurso (...) [mas] não tem mais engenheiro responsável pelo departamento tá (...) o engenheiro que passou no concurso ocupou o lugar (...) foi convidado a assumir um cargo nas obras do (...) porto do Açú a vaga está em aberto eu cuido da parte burocrática e o responsável pelo departamento é o chefe imediato (...)

Ele é engenheiro?

Não hoje a gente está sem engenheiro no setor (...) os processos do departamento de fiscalização que têm que passar pelo departamento de engenharia um fiscal servidor de carreira (...) está no curso de engenharia civil (...) foi designado para fazer análise dos projetos (...) os processos que vem dos munícipes são processos casos simples o perfil do município da cidade a gente não tem edifícios a gente né troca aí bastante informação e é aquele negócio interpretar ler e comparar com o Código de Obras e é o que rege a coisa então não tem nenhuma dificuldade quer dizer a linguagem é bem simples

201 Que trabalho desempenha esse setor na Ilha dos Mineiros? (...) como em qualquer outra comunidade (...) coleta de lixo manutenção das ruas manutenção da iluminação pública (...) passar a máquina essa comunidade só tem uma rua principal que é asfaltada as demais são em saibro (...) capina porque alguns cantos (...) a máquina não alcança

A população solicita ou vocês fazem vistorias para ver a necessidade?

As duas situações (...) a gente tem o funcionário (...) morador lá na Ilha dos Mineiros (...) têm grupos responsáveis (...) trabalha em Guaxindiba (...) trabalha na Ilha dos Mineiros (...) faz essa manutenção

Qual a freqüência na Ilha? E no verão?

O caminhão do lixo não sei (...) mas no mínimo duas vezes (...) por semana é todo o dia no verão (...)

Inclui sábados e domingos essa recolha na Ilha?

Também (...) a coleta de destinação final do lixo é feito na firma terceirizada (...) enviado para um aterro sanitário no município de Campos dos Goytacazes (...) particular regulamentado pelo INEA (...)

Não tem lixeiras na Ilha? (...) a prefeitura (...) já disponibilizou tambores não sei quantificar mas não foi pouco na época não vou te dizer em todas as frentes de casas mas disponibilizou tambores azuis de plástico com capacidade para 200 litros que o lixo é acondicionado ali

Tem tampa?

Não

Mas eu passo na ilha e não vejo esses tambores...

Também tem esse problema

As pessoas não estão educadas a colocar o lixo no lugar do lixo?

Outro problema (...) esses tambores saem daqui furados com furos para ventilação mas esses furos tem outra função inibir o roubo

Roubo para quê?

Dão outro uso

Fossa?

Fossa não quem dera eles usassem para fossa estariam fazendo um bem grande mas caixaַd’águaַparaַaַroçaַperíodoַdeַpulverizaçãoַ

Resolveram esse problema?

Não porque (...) o pessoal cola os buracos até fibra de vidro eles aí a cabeça funciona eles gastam para comprar resina e a manta da fibra de vidro para tapar o buraco mas eles não querem gastar comprando depósito aí o pessoal tem muito hábito de pendurar o lixo numa árvore portão ou muro porque se deixar no chão

202 Mas e os cachorros?

A gente não tem aqui um controle de zoonose tá o que temos de animais soltos no município é muito grande o problema sanitário é complicado o hábito de estar pendurado em algum lugar portão árvore ou muro se mantém em função do animal sair rasgando e espalhando o lixo essa é uma solução não muito interessante mas funciona

Qual o maior problema na recolha do lixo?

O maior problema é o respeito do próprio morador com o horário do caminhão.

O caminhão passa muito cedo?

Não o morador distrai e não bota o lixo ele só se atenta para colocar o lixo quando ouve o caminhão do lixo passar ou seja ouve quando está passando em frente à casa dele aí não dá tempo para entregar o lixo se ele atentasse um minuto antes do caminhão passar dava tempo

E o lixo vai ficando para o dia seguinte?

Vamos supor normalmente na Ilha dos Mineiros o caminhão vai 2 vezes por semana ok

E se fosse mais vezes resolveria o problema?

O que acontece ele vai no mínimo 2 vezes na semana mas o normal é 3 4 vamos que deu um problema no caminhão e não pode fazer quatro dias garanto que duas vezes ele vai

Guaxindiba não tem problema de lixo acumulado?

Todos os dias recolhem lá só se houver uma quebra

Não recolhe o lixo na Ilha como em Guaxindiba? A responsabilidade não é a mesma?

Não digo responsabilidade mas volume (...) um caminhão [enche] só em Guaxindiba todos os dias quando ele não enche ele passa na Ilha interessa que o caminhão saia daqui com a carga cheia porque Conselheiro é uma distância boa considerada há um segundo caminhão para lugares menores como Sossego Ilha e Manguinhos não tenho a rota na cabeça quando ele passa e vê que o outro caminhão já levou a parte do lixo ele segue para completar a carga em São Francisco

O que fazer para a Ilha não ficar tão suja? Se ela é um bairro de Guaxindiba porque o caminhão de Guaxindiba não faz também a rota da Ilha?

Não não não [tem] espaço no caminhão do lixo para atender a Ilha (...) consegue isso no período de inverno

A rota da recolha do lixo segue orientação de vocês?

Segue a empresa poderá me informar dessa rota sim agora tem outro problema em relação da coleta do lixo na Ilha nem sempre o caminhão consegue passar por todas as ruas em função dos acessos têm ruas estreitas que o caminhão não consegue passar as pessoas jogam o lixo próximo delas elas não tem coragem de andar um pouquinho mais a frente e jogar o lixo onde está o tambor mais próximo onde o caminhão passa

Há algum tambor ou jogam o lixo no chão?

203 Não penduram têm casos que já foram colocados esses tambores azuis em PVC aqui mas foram furtados os que colocavam o lixo aqui eram pessoas daqui da casa próxima os de lá não vinham aqui

Cestas suspensas a frente dos muros não resulta?

A garotada no fim de noite a molecada passa quebra destrói tudo filha

Então o que sugere?

Educação e contêiner caçamba com tampa há toda uma logística para trabalhar com aquilo aí a pergunta é eu colocando 3 caçambas daquelas o pessoal vai sair daqui para colocar o lixo lá em cima do exemplo passado ou jogarão na frente ou pior porque eles estão dentro do mangue tá até acredito que se houvesse uma educação ambiental poderia resultar

Quanto à documentação, contrato entre a empresa da coleta do lixo como foi definido e cobrado esse serviço? Há transparência, posso ter uma cópia? É um processo licitatório você pode ter acesso e cópia no departamento de licitação em frente ao Planejamento

Por que esse nome “Ilha dos Mineiros”?

No verão de 1986 os mineiros de Belo Horizonte fizeram casas boas nessa época eu era jovem aqui era pouco habitado as ruas eram em saibro não havia a ponte sobre o CEAR [Canal Engenheiro Antônio Rezende] entre 1998 e 1999 também não havia o asfalto nesse trecho da RJ 196

Para você é uma Ilha?

Não ela é afastada do núcleo de Guaxindiba é separada por um braço de água [rio Guaxindiba] e o canal da draga [ Canal Engenheiro Antônio Rezende] nos anos 80 não me lembro das obras essa propriedade aqui ao lado [Sossego] para você ter uma ideia era da minha família

Sobre a iluminação da Ilha há muitos postes mas as lâmpadas não acendem por quê?

Essa questão é simples não há manutenção suficiente para troca de lâmpadas um só caminhão para atender o município todo não dá a demanda é grande

Sobre o loteamento da Ilha venderam os lotes e desistiram das obras?

Eles venderam tudo a revelia na época a gestão era de São João da Barra não tiveram nenhuma atitude hoje a Ilha dos Mineiros tornou-se um grande elefante branco para a administração pública (...) o que acontece olhando com o olhar... dá agonia falta gestão na ordenação (...) se agente for lá na Ilha e procurar quantas casas tem projeto legalização junto a prefeitura to pra ti dizer que nenhuma delas tem

Existem lotes com escritura?

Se tem é por usocapião você tá entendendo

204 Acha que a ilha é passível de legalização?

Sim a Rocinha que é muito pior que isso está sendo resolvida mas o grande problema no campinho de futebol olha a incoerência a ilha é toda irregular essa área no projeto foi destinada a prefeitura a praça só que não se deu a regularização mas a prefeitura pleiteia isso aqui e quer construir uma creche o legislativo manda requerimento para a prefeitura que se faça uma creche aqui então existem aí coisas que esbarram uma na outra se o lote não é regular isso não é da prefeitura

Ouvi falar do projeto Vila dos Pescadores aqui é verdade?

Sim mas isso é no Planejamento não sei é melhor você falar com eles

Há algo mais a falar sobre a Ilha? (...) a questão sanitária (...) as pessoas têm sumidouros buraco negro isso aqui $1.600,00 de investimento que poderia ter parceria de alguma forma um financiamento municipal pagar $450,00/mês não sei uma coisa assim fossa ecológica nossa aí não é só prático essa porcaria aí se mistura tudo eles têm poço usam água do poço adoecem a água que utilizam nada mais nada menos passa pela areia da fossa o que separa a fossa da água que o cara usa para tomar o banho e para beber eles compram galão mas não sei se tem qualidade para beber e sanar a sede mas ao se lavar vai à boca na hora de escovar os dentes tomar um banho os germes entram até mesmo pela pele é um problema sério isso aí mistura fossa esgoto no rio as fezes dos animais lá de cima caem aqui dentro

E quando chove inunda a Ilha?

Não muito pouco só em dois pontos mais baixos na estrada RJ196 e nas casuarinas mas junto ao CEAR até é alto

Na RJ232 a comporta no canal Guaxindiba tem problema na abertura ou foi reparado? Corre risco de ter que rasgar o asfalto como antes?

Sim os parafusos são de ferro e está tudo travado o canal Guaxindiba é um canal de dreno que vem de longe da baixa do Ponto de Cacimba aqui onde está o hospital desde quando desde 1960 então esse canal aqui ele drena isso tudo

Por falar em hospital por que as pessoas daqui vão nascer em Campos?

A demanda é maior

Qual é o risco da população com a inundação?

Só do rio Guaxindiba na RJ 232 quem mora nas margens e nos 2 casos daqueles dois pontos [rua das casuarinas e RJ 196] a ponte sobre o rio Guaxindiba foi [dinamitada] abandonada [a estrutura] fizeram aterro e colocaram manilhas que não tem a vazão [suficiente] que tinha na época a água passa por cima da pista dá para transitar mas com muito cuidado.

205 TFEA 17 - Entrevistado 043, 2013

206 TFEA 18 - Entrevistado 049, 2014 Qual sua trajetória no Município? (...) nasci em (...) Minas Gerais saí de lá com 7 anos papai teve (...) um comércio grande (...) depois de rico ficou pobre (...)

Seu pai era Judeu? (...) é ele veio de lá é dessa raça Libanês e Judeu mistura tudo

E sua mãe? (...) mamãe (...) nasceu no Espírito Santo descendente de Português (...) meu pai perdeu tudo até a casa [e viajou] (...) resultado nós fomos morar numa casa de palha (...) na beira de um brejo numa casinha numa casinha não pior do que um galinheiro (...) e daí [passaram necessidade] (...) então mamãe escreve pra vovô morava em Atafona [que] abandonou a fazenda dele pra ser empregado (...) fomos embora pra Atafona (...) papai levou quase 2 meses [fora] quando veio trouxe (...) uma fortuna (...) a primeira coisa que ele fez foi comprar uma casa de taubinha assoalho um pedaço de terra (...) quadrado bem cercadinho (...) eu fui nomeado a fiscal fiscal da Prefeitura [municipal de São João da Barra] no tempo de Rafael Maiof [ex-prefeito] fui fiscal de lavouras [um tempo difícil] (...) papai (...) panhamos uma venda na praça e ficamos na Praça João Pessoa com venda (...) eu namorava (...) apaixonei-me (...) à primeira vista (...) não tinha casa não tinha nada (...) uma senhora que morava numa casinha de palha com dois cômodos (...) pior do que aquela que a gente morava lá em Minas (...) deu a casinha dela pra gente morar (...) depois fomos morar com papai [depois] papai foi embora e ficamos com a venda já tinha largado o emprego de fiscal da Prefeitura (...) fui ganhar 100 vezes mais que lá na Prefeitura eu forneci para tudo quanto é gente que tocava roça (...) [ganhou] (...) dinheiro (...) hoje sou pobre sou dono da aposentadoria e dono disso aqui

Mas é um rico homem, tem Cristo... (...) to mais alegre por que Jesus disse não ajuntai tesouro na terra não tesouro é no céu em 1º João 5 v. 19. Deixei a Prefeitura viemos pra Boa Sorte e tocamos o comércio

Como tocou o comércio sem dinheiro? (...) eu tinha um pedacinho de terra (...) tratei de pegar dinheiro emprestado (...) comprei a venda e depois paguei toda minha dívida (...) depois que acabei com a venda [trabalhei] com o irmão no Rio voltei pra cá (...) me converti lendo Mateus 11(...) de 25 a 30 (...) eu achava que (...) ser homem tinha que saber atirar (...) [e] brigar bem eu nunca briguei (...) eu fumava 7 carteira de cigarro por dia (...) eu abandonei tudo nunca mais botei a mão (...) senti pra caramba mas Deus me ajudou (...)

E Zezeca? (...) ele estudou pouco mas inteligente pra caramba

Qual o verdadeiro nome dele? (...) José Albernaz Elias o apelido era Zezeca (...)

207 Ele estudou? (...) acho que terminou o ginásio pra mim o mais inteligente era ele ele era o 2º filho de 11 (...)

E na política? (...) se candidatou teve 350 votos na gestão do (...) primeiro prefeito daqui no segundo ele foi candidato mas (...) [teve um] acidente [grave, de moto, e ficou paralítico] ele não chegou a ter voto nenhum (...)

Deu lotes nesse período? (...) com (..) e sem a cadeira de rodas ele descobriu que isso aí não tinha escritura (...) já tinha dado um monte de terreno aí (...)

Ele trabalhava de fiscal na prefeitura? (...) não mas em outra coisa eu sei que ele ganhava dinheiro (...) era amigo [do prefeito daqui] (...) Zezeca foi pro hospital (...) em Campos (...) [lá] se converteu (...) eu e [minha esposa fomos visitá-lo] ele estava ruim (...) e disse assim aqui vocês não vão pra casa não vão lá [na casa do prefeito] ele separou um terreno aí pra fazer uma casa pra gente de idade que não tem lugar pra viver pra ir pra lá pra esse barracão ele queria falar com [o prefeito] pra fazer isso aí eu não vim pra casa não fui direto pra fazenda joguei o carro na porteira (...) disse [ao segurança] eu quero falar com [o prefeito] Zezeca tem um recado pra ele (...) o [segurança disse] ele só pode atender oceis no fim da outra semana aí quando foi no dia seguinte (...) Zezeca morreu

Por que dava terrenos? (...) ele via que a pessoa não tinha terreno ele dizia escolhe o terreno aí escolhia marcava não houve ninguém que dissesse você não pode fazer isso aí não teve polícia não teve fiscal (...) ele descobriu que isso aí pertence à marinha (...)

Ele deu e também vendeu? (...) 50,00 100,00 reais pra ir em São João da Barra pra avisar que tal terreno assim assim foi dado não sei se ele trazia um documento um recibo de lá (...)

Era São João da Barra? (...) ele nem sonhava que isso ia separar de São João da Barra quando ele começou a dar terreno depois que passou a ser São Francisco ele não deu mais tem uma senhora que mora depois da ponte uma das primeiras a ganhar terreno aqui não pode passar aqui em frente de casa que chora ela pode te dizer (...) a história é essa eu sei que tá todo mundo morando ali há muito tempo

Ali tem muitos problemas? (...) problema tem e bandido tem ladrão ali pra caramba

Ladrão? (...) eu acho que tem a esposa de (...) teve aqui em casa e disse (...) [que] lá perto de casa [dela] tem uma vendinha o casal tem um filinho (...) chegou dois camaradas de máscara um segurou o garoto e o outro meteu a faca na garganta [e disse] assim cata o dinheiro todo de

208 oceis e bota aí purque sinão eu degolo o seu filho eles cataram todo dinheiro até um dinheirinho que tava guardando

Era gente dali? (...) eu não sei só deve ser gente dali de máscara (...) era tudo gente daqui mesmo quase tudo daqui eu acho que gente de fora não ganhou terreno não

Por que chamam Ilha dos Mineiros? (...) deve ser algum Mineiro esse Durval é Mineiro já tinha esse nome quando eu cheguei pra qui há quarenta e tal anos a gente perguntava assim você mora a onde ah na Ilha dos Mineiros na mesma época do Pedregal quando Zezeca deu os terrenos já era Ilha dos Mineiros (...)

Ele deu trabalho? (...) não ele era levado em parte deu trabalho em parte não (...)

209 TFEA 19 - Entrevistado 051, 2014 (...) solicito um breve histórico/trajetória de vida e reflexão sobre a Ilha, como: Onde nasceram seus Pais? E vocês? Onde vivem? Qual a formação? O que fazem? Etc. e principalmente: qual a visão que têm da Ilha dos Mineiros? E como ela poderia ficar melhorar (na qualidade de vida das pessoas)? Entendo ser importante falar um pouquinho de vocês na minha dissertação (...) (...) a história fica difícil pois perdi meus pais cedo o que sei da Ilha é que o um homem chamado Zezeca (falecido) lutou pela Ilha inclusive as ruas têm o nome dele. Eu nasci no ponto de Cacimbas (...) e sempre morei em Guaxindiba. (...) com quase 20 anos me casei tenho o 2° grau completo, alguns cursinhos básicos (...) sou fotógrafa (...) trabalho (...) enfim sou uma mulher realizada apesar de tantos problemas sou feliz, Deus nunca me abandonou e com ele eu vou até o fim. Que Deus te abençoe e espero que te ajude.

210 TFEA 20 - Entrevistado 063, 2014 Qual sua trajetória no Município?

Eu fui nascida em (...) cuido da minha mãe (...) mas nós fomos pessoas pobres sacrificadas que nunca tivemos nada a gente trabalhava com muita dificuldade pros outros em roça era corte de cana o nosso trabalho foram trabalhos que nunca foram pra frente que nunca subiu nunca cresceu eu estudei até a 5ª série sei ler pouco a gente estava morando de aluguel mas Deus me deu essa casinha né era do meu ex-marido só o terreno aí eu peguei o terreno e fomos construindo essa casinha ainda não tá terminada falta muita coisa eu vim fazendo de vagazinho de vagazinho é que eu consegui a fazer agora esse ano que eu pintei graças a DEUS já não estou vivendo de favor eu fiz esse comercinho aí na frente essa lojinha mas não deu certo não tava dando ninguém a gente botava as coisas aí eu falei vamos para com isso porque eu não vou gastar dinheiro a toa né sem ter renda aí eu fui fechei as portas e tô fazendo casa de moradia mesmo aí tem minhas filhas que trabalhavam fora mas que agora parou porque não tem condições de trabalha mesmo a gente alugou um pontinho até ali na frente mas eu não to podendo toca por causa do menino por causa da minha vida cuidar da minha mãe das crianças e ela também está de neném novo botei uma menina só na parte da tarde pra ficar ali pra mim pra trabalha com bebida açaí sorvete aí eu botei essas coisinhas pequenas a gente vive disso aí aqui em casa sou eu esse menino pequenininho minha mãe um filho que é pai dele (...) tem problema seríssimo eu vivo dando remédio a ele (...) não trabalha vive aqui nos fundos e tenho minhas filhas que também não tem nada não tem moradia vive de aluguel trabalhando só pra pagar aluguel e por incrível que pareça uma que não tem condição de vida veio mora comigo essasinha que tá com bebê novo aí fica muito difícil prá gente que é sacrificada que é pobre né eu como mãe sofro dobrado

Já morou na Ilha dos Mineiros?

Sim com minha mãe eu ainda não tinha casa moradia Zezeca vendeu o terreno a minha mãe ela comprou na época ela comprou a ele o pedacinho.

Deu recibo?

O negócio foi assim ele não deu o recibo o que ele cobrou foi suficiente pra ela dar aí ele pegou e deu a ela aí ela pegou e fez o documentosinho dela constando que ela tem com pessoas que tem computador e tal com todos os dados do terreninho ela só fez pra constar que ela tem o pedacinho dela pra ninguém invadir ela que foi o que muitos também fizeram depois ela construiu a casinha dela de vagar foi fazendo

Essa casinha era boa?

Não de telha eternit berinho o chão o chão era úmido úmido molhado acho que era por causa da terra que era muito na época a água era ali em cima mesmo depois que a draga passou e foi abrindo aquela vala a água foi descendo foi descendo foi descendo porque cresceu ficou alto mas era muito úmido por que era muito fundo na época que a draga passou nós morávamos lá na boca da barra (...) fui morar na ilha já tinha meus filhos minha filha já estava até casada

211 essa aí e a outra os filinhos delas estavam pequenininho faz mais de 10 anos quando mamãe foi morar na Ilha elas já estavam casadas já as crianças foram morar lá também a menina mais velha tinha 4 anos de idade hoje ela tem 14 anos (...)

Por que tantas separações em Guaxindiba?

O negócio que eu vou explicar a senhora não é tanto pelas mulheres uma que as vezes os homens se acomodam não quer um serviço e acha que as mulheres são obrigadas a trabalhar e dar a eles parada e outro que as vezes o homem começa a maltratar a mulher de uma tá forma elas trabalhando né quando elas chegam em casa eles começam a maltratar quer bater maltratando os filhos uns são bêbados (...) pessoa acomodada e queria tudo nas mãos e a senhora sabe que a pessoa querer tudo nas mãos e fazer a senhora de empregada não tem como a mulher cansa com filho pra come com casa pra dar conta a mulher cansa e ele chega mete o pau bate maltratar odiar não tem mulher nenhuma que aguenta (...) elas também não quiseram aceitar pancada de homem porque mulher não é saco de pancada pra ninguém eu acho que quando a senhora casa com um homem a senhora casa com a intenção de amá-lo viver construir uma família ter uma vida plena justa né uma vida melhor os dois trabalhando pra construir sua vida crescer na vida então a gente pensa isso de realizar o de melhor que a gente tem no coração mas só que (...) os homens ele não guardam aquilo que a mulher tem dentro do coração (...) eles são brutos são egoístas acabam dando tudo mal e é onde há essa separação que elas não aceitam o que eles fazem e eles acham que estão certo aquilo que eles estão fazendo mas não é bem assim

Voltando a casa na Ilha dos Mineiros ela foi ficando seca?

Com a draga ela foi secando mas quando chovia ficava tudo úmido o chão aí nós fomos ajeitando aos pouquinhos minha mãe era aposentada a gente um mês apertava um pouquinho pra poder fazer uma coisa melhor

Eram quantos quartos?

2 quartos 1 sala 1 cozinha e 1 banheiro aí eu fui lá e fiz pra ela coloquei o piso no chão pra tirar aquela umidade do chão mas mesmo assim fica frio o banheiro era direitinho

Fez fossa?

Não coloquei por que fica próximo do córrego aí deixamos

O quintal era bom?

O quintal era

Plantavam?

Plantava pé de banana as frutinhas dela davam

No verão era muito quente?

Não por causa do vento o mangue refrescava um pouco

Quanto tempo veio de lá?

Mais de 20 anos minha mãe está fez 4 anos o ano passado em 2009 eu aluguei ali uma casa nós ficamos morando ali nessa casa aí eu peguei depois foi que eu fiz aqui que nós viemos

212 pra cá eu trabalhava nas barracas até já dormi por baixo das barracas pra poder dá conta da vida

Era bom viver na Ilha?

Não era mal não a água de poço lá é horrível com ferrugem

Que água usava?

De primeiro as pessoas saiam vendendo água nas carroças aí ela [comprava] tinha um galão que ela enchia dentro de casa para tomar e água de poço ela usava pra lavar

E para cozinhar?

Era a água que ela comprava que as pessoas levavam de carroça lá

No final do mês pesava no orçamento?

Sim por que estava comprando toda semana

Tinha luz?

Não tinha depois é que foram colocando o pessoal aquele que colocava puxava um pro outro aí quando a Ampla viu que o pessoal precisava de luz foi indo foi indo eles botaram em todo mundo

Como surgiu esse terreno onde mora agora?

Meu ex-marido herdou do pai dele (...) aí ele tem um comercinho do lado dali aí sobrou esse pedacinho que ele tinha um comercinho do lado dali eu panhei e fiz a casa porque eu não tinha onde morar ele é meu vizinho eu ficava jogada por aí com os filhos nos braços

Está tudo bem com sua mãe?

Não ela tem atrose atrite reumatose ela toma remédio eu compro tudo eu compro com o dinheirinho dela a prefeitura diz que eles não têm esse remédio quando eu vou no hospital eu pergunto a eles se a prefeitura tem eles dizem que não eles não sede não.

213 TFEA 21 - Entrevistado 066, 2013

214 TFEA 22 - Entrevistado 077, 2013

215 TFEA 23 - Entrevistado 078, 2014 Qual sua trajetória no Município? (...) toda [minha] família é de lá (...) [tenho] curso de serviço social [fiz] em Campos dos Goytacazes (...) meu primeiro emprego (...) contrato temporário (...) surgiu uma oportunidade (...) em São Francisco pra trabalhar como assistente social (...)

Mudou de município?

Não continuei em Campos (...)

Qual é seu trabalho aqui? (...) política de assistência social (...) [no caso] pela proteção social básica e proteção social especial (...) [a] proteção a básica é pras situações familiares que estão em vulnerabilidade social são beneficiários de programas sociais bolsa família BPC (...) que não estão com os laços assim rompidos e não estão em situação de violação de direitos (...) na proteção social básica (...) tem os CRAS que são as portas de entrada dessas famílias pro sistema único (...) temos uma coordenadora da proteção social básica

(...) temos o serviço de convivência e

fortalecimento de vínculos que é para complementar esses trabalhos com essas famílias (...) são atividades em grupo (...) de crianças (...) jovens e (...) idosos (...) [que] identificadas como vulneráveis (...) aceitando (...) podem participar dessas atividades (...) geralmente funcionam nas escolas no contra turno das crianças (...) elas têm orientador social (...) um técnico de referência que é um assistente social uma psicóloga também que faz a visita que cadastra essas famílias (...) temos o programa bolsa família (...) faz todo o trabalho de cadastramento dessas famílias inclusão dessas famílias no sistema e recadastramento né recursos quando essas famílias estão com algum problema (...) tem que fazer um recurso junto ao governo federal quando elas estão com problemas nesse benefício (...) são muitos programas o BPC da escola que é um programa que o governo federal encaminha (...) pessoas de 0 a 18 anos que recebe um BPC aí o critério é renda percapita inferior a ¼ do salário mínimo (...) essas famílias elas podem requerer através do CRAS né o CRAS faz todo procedimento encaminha pro INSS por que é um benefício da assistência junto com a Previdência né a previdência que administra os benefícios né e a assistência que encaminha pra eles esses usuários né então são muitos programas

Quais as ações na Ilha dos Mineiros? (...) proteção social básica (...) quase 100% das famílias lá tem um cadastro no CRAS (...) a partir de uma busca a família vai [ao CRAS] (...) também [o CRAS] vai até a família por exemplo famílias que tem programas sociais que moram lá na Ilha [o CRAS] vai até elas pra convidá-las pra apresentar o trabalho do CRAS que é (...) a função [do CRAS] no território fazer a divulgação do serviço (...) elas comparecem ao CRAS para se cadastrar e [o CRAS] faz a visita domiciliar pra poder conhecer melhor a vida econômica da família pra ver a realidade dela e pra ver é que tipo mais de programa e ajuda [o CRAS] pode estar ofertando aquela família dentro do

216 CRAS funciona um polo de serviço de convivência pra criança de 6 a 13 durante a pete da manhã tem lá o polo do serviço de convivência

Tem alguma atividade para essas crianças?

Elas têm toda uma orientadora social elas têm reuniões mensais que é passado pra elas temas para serem trabalhados com essas famílias atividades socioeducativas com as crianças e têm também facilitadores de esporte que vão lá fazer atividades esportivas

Eles comem algo no CRAS? Eles têm um lanche é que geralmente é um suco biscoito bolo [o CRAS] não pode oferecer refeição mas eles têm um lanche água banheiro lá [o CRAS] oferece inclusão em programas sociais (...) o recadastramento de bolsa família (...) inclusão em serviço de convivência orientação social [o CRAS] encaminha pra toda rede (...) de educação (...) de saúde [o CRAS] oferece palestras informativas ações sociais em parceria com a saúde [o CRAS] leva por exemplo agora em maio houve um planejamento familiar um projeto que a saúde tem com o [ CRAS] (...)

E o programa PET? (...) funciona dentro do programa de convivência (...) são aquelas crianças que [o CRAS] identifica que tão no trabalho infantil (...) não tem mais um polo onde fica só criança de trabalho infantil essas crianças elas frequentam junto com as crianças do serviço de convivência mas tem um sistema onde elas são identificadas né (...) por enquanto não está em funcionamento esses PETIS [o CRAS] tem um controle no CRES (...) ele tem um acompanhamento com essas famílias e encaminha pra poder fazer o serviço de convivência [no CRAS] pra poder frequentar (...) as atividades (...) do polo mais próximo da casa [dessas crianças]

Hoje, por exemplo, está decorrendo uma festa das mães no CRAS... É [o CRAS] faz atividades com as famílias que são atendidas lá acompanhadas porque no CRAS é ofertado o PAIF um programa de atendimento integral a família a família é atendida [o CRAS] faz um planejamento com aquela família procura ver com ela o que que ela precisa se ela precisa de encaminhamento pra educação saúde [o CRAS] propõe (...) de ficar acompanhando a família [o CRAS] diz assim a senhora aceita ser acompanhada participar das atividades aqui dos grupos das palestras dos encaminhamentos aí a família aceitando ela fica sempre indo lá sendo atendida então essas ações é pra atender essas famílias

Então é muito importante o CRAS estar na Ilha dos Mineiros? É porque o CRAS ele tem que está na área de vulnerabilidade ele tem que ter um território delimitado e ele tem que tá numa área de vulnerabilidade

O que é preciso fazer para melhorar esse trabalho na Ilha?

O primeiro ponto é a estrutura física né do CRAS por ser lá uma situação irregular é difícil conseguir um prédio que esteja dentro das normas (...) precisa mais de uma parceria com a educação de fazer trabalho em conjunto levar o CRAS o conhecimento desses pais da escola é porque geralmente o mesmo pai da criança é o usuário lá do CRAS né e as vezes não tem essa articulação a assistência ela tem que trabalhar integrada acho que ainda é um desafio integrar

217 não só a educação mas a saúde e que a população visualize o CRAS como algo importante (...) do papel do CRAS ali dentro que é um instrumento para eles mesmos se mobilizarem ali eles podem ter acesso a informação aos seus direitos é um espaço que eles podem usar para fazer uma reunião comunitária pra lutar por melhorias ali então as vezes tá faltando essa mobilização da comunidade eles podem usar o CRAS para estarem se organizando é uma falha tanto da equipe quanto da comunidade que ainda não está disposta

Sobre as drogas, fazem algum tipo de encaminhamento?

Tem mais ou menos um ano que eu não estou lá é trazido (...) algumas situações há comentários que aumentou (...) houve um caso que a família entrou em contato pra (...) fazer o contato com o CAPS a questão de alcoolismo (...) em relação a outras drogas é assim há o comentário [que] o tráfico tá intenso

Nesse caso vocês estarão aptos a orientar?

Não temos aqui na saúde um serviço específico aí tem o contato com Campos a clínica mas tem aquela questão com o transporte muitas vezes essa família pode não continuar esse tratamento lá né aí no caso a gente encaminha pro centro de referência especializado de assistência social CREAS porque aí eles estão no caso de violação [de direitos].

218 TFEA 24 - Entrevistado 079, 2014 Como é viver aqui? (...) a gente no passado (...) passou aqui uma fase aqui muito difiça (...) eu acredito que issoַaíַqueַaconteceuַfoiַunsַ4ַ​ַ5ַanosַatráisַumaַinundação”.

Foram muitos dias de chuva?

Não foi chuva não quer dizer foi e não foi havia muita chuva e os fazenderos aí pra cima encheu as fazendas deles tudo de água por que foi muita chuva pra lá (...) pros fazendeiros esgotá as fazendas deles eles abriram as comportas (...) um belo dia como hoje sem chuva eu até nem digo como hoje por que o dia está muito bonito razuavi mais um dia razuavi sem sinal de chuva cheguei no meu portão ali e quando eu olhei lá pra baixo [para o lado esquerdo dessa rua] na berada do mangue ali (...) a água vinha vinha vinha como uma pessoa que vinha atrás de você ai vinha por ali aí a minha filha viro pra mim e falo assim mamãe mamãe evem água todinha ali (...) nesse dia a minha mãezinha que é velinha que Deus já levo (...) ficou nadando ali dentroַd’águaַporqueַnãoַaguentava passa e engraçado que se você progunta a [uma pessoa no centro desse loteamento] sabe mas não sabe conta igual a mim porque porque lá em cima não tinha água era mais aqui e um luga chamada Casuarina lá em cima porque são lugares que alaga tem até umas pessoazinhas carente lá foi os lugares que a água afeto mais olha nois dormimo dormimo não a gente não conseguimos durmi porque cada hora que a gente descia da cama os pés tava pur aqui de água dentro de casa no meio da canela já penso ce tá dormindo com aquela água subindo aí nós viemos aqui fora.

Sua mãe conseguiu sair de casa? (...) minha mãe ficou lá dentro lá é mais alto do que aqui né lá [na margem do rio Guaxindiba] é mais alto e lá tamém tem um negoço que por caso do córrego a água não sobe a água lá bate e escorre praqui por ser mais baixo você tá vendo que eu moro numa região mais baxo aqui é muito baxo eu se quiser um dia me abriga (...) eu vo te que ir pra casinha da minha mãeַporַqueַaquiַencheַd’águaַeַeuַjáַpasseiַumַapertoַaquiַconforme disse (...) aquele fogão que você tá vendu não foi essa mesa porque essa mesa nem tinha aqui nem aguentava aquele fogão coloquei em cima daquela mesa que você viu ali com aquele radinho tocando senão eu ia morrer de fome eu não pudia cuzinhá isso duro 3 4 5 dias eu não pudia toma banho.

E o poder público fez o quê?

A única coisa que eu me lembro que ele fez (...) deu aquele negoço que bota pra tirar água aquela bomba pra tira água dos quintais (...) no meu não preciso não (...) pra se sincera mais eu tenho pobrema aqui se ta vendo aquelas duas fossinha ali (...) eu não tenho esgoto eu uso aquelas duas fossas ali condu chove se você mi pidi pra i ao banheiro eu vo te que dizer a você que eu não tenho banheiro porque si eu num tenho fossa eu não tenho banheiro compricado i aí a genti passo todo esse aperto aqui (...) pesar de ser um espaço bão que é um espaço bão aqui dento é muito baxo a casa ó a situação da casa se tá vendo aquele alicerço ali no nível do chãoַaláַaַcalçadinhaַaquiַencheuַd’águaַaliַtambémַentão o que eu tinha vontade um dia que

219 as vezes eu falo com meus filhos e eles dizem mamãe é difísso ninguém faz nada prá ninguém (...) tem muita gente que porque tem uma bolsa família num valor de duzentos reais duzentos e poco não que faze mais nada eu mesmo tenho uma bolsa família mais (...) eu tenho um terrenozino dus otros que panho eu prantu guandu (...) batata e eu vendu também as coisas (...) eu tenho umas galinhazinhas (...) no cerquinho (...) eu pego um ovinho não tenho o que é meu mais é como se eu tivesse eu não tenho o que é meu no meu nome mais eu uso (...) [esse] espaço mais eu tenho vontade de melhora minha casa por que na inchenti eu ficu sem te pra ondi ir nessa inchenti que eu to falando com você nós não tinha como toma banho nem na casa da minha mãe por que nóis não tinha água a água da CEDAI misturo tudo com a água suja dos vasos vieram tudo dos vasus cá em cima acumulo tudu eu saia daqui chutando aquela água suja e ia lá pra casa de uma amiga lá não sei se você conhece aqui por que você logo panha intimidade com o povo rsrsrs pego comigo rapidinho só encontrar ali já ficamos até amigas rsrsrs quando eu falei de você ontem com alguém alguém me disse assim você é doida você já deu o seu nome logo olha cuidado não pode dá logo o seu nome não é por que a gente passa por cada aperto que só você vendo o que a gente passa de vez em quando você não vê mais de certa forma você vê as pessoas que são desonestas (...).

Já fiz entrevista gravada com muita gente aqui...

Eu sei você tinha que intrevistá meu marido (...) é (...) ele conhece tudo e mais um pouco aqui dessa Ilha quando ele para pra conversa comigo ele fala que isso aqui tudo era mangui por isso que nóis sofremos essas inchentis aqui (...) hoje ele tá velho mais nu passado ele foi pescado e mais alguma coisa porque ele foi fazedo de barco aqueles barcos grandão (...) ele mora lá na Boca da Areia na chegada de São Francisco mais ele teve uma convivença muito grande na Ilha (...).

E você e sua casa?

Eu vivo aqui há 18 anos comecei fiz um comodozinho e depois fiz o banheirinho eu vim de um lugar chamado Coréia meu pai era de (...) Santa Luzia minha mãe moro muito tempo num lugar chamado Santa Rosa aqui na região nós saímos da Coréia e viemos pra Ilha aqui onde eu estou meu pai não veio (...) faleceu (...) quem veio foi minha mãezinha (...) eu tinha 13 14 anos eu fui pra Travessão de Campos fui trabalha em casa de família muito aperto somos de família de muito aperto carenti tanto que eu to aqui não so alfabetizada passei muito aperto até mais do que hoje na minha juventude é o motivo de eu não se hoje nem alfabetizada eu hoje tenho 59 anos (...) me casei em Travessão de Campos com 17 anos eu casei (...) e com 25 anos eu descasei (...) voltei pra Coréia (...) pra casa dos meus pais com (...) filhos aí despois por motivo financeiro meus (...) filhos não foram criados comigo (...) encontrei alguém na Coréia e me casei (...) pai dessa morena (...) [ele] faleceu e aí veio todos os meus pobremas (...) eu não quiria fica lá não tinha nada pra mim faze né e aqui pelo menos no final de ano tinha veranista que vinha e eu trabalhava em casa de família e aí eu tinha como vive melho aqui aí (...) construir esses 2 cômodos de casa (...) aí depois fez esse daqui (...) comprou o terreno a Zezeca comprou há 18 anos atrás dizem que foi muito barato mas a quantia não sei (...) tem uma coisa a que eu nunca me esqueço disso quando (...) compro ao falecido Zezeca que eu não sabia como que foi o

220 negóço é que foi até doado aí eu cheguei perto nunca esqueci isso que eu to dizendo nem esqueci o luga foi em frente a mercearia (...) aí eu parei Zezeca numa cadeira de rodas eu muito deprimida porque eu tinha ficado viúva eu tinha que dá um acerto na minha vida um luga pra mim mora aí eu falei assim o Zezeca dá um jeito tira um pedacinho de terra daquele terreno que você arranjou (...) que é tão grande tira um pedacinho de lá e me dá pra eu fazer 2 cômodos pra mim (...) aí ele falou assim aquilo lá eu já arranjei (...) chega perto (...) [dessa pessoa e fale] (...) sua situação (...) aí eu disse que não (...) não ia me dá (...) aí eu tinha uma irmã (...) me deu um lugarzinho pra eu fica na casa dela ela acolhia todo mundo (...) ela virava pra [aquela pessoa] e falava assim (...) dá um pedacinho de terra pra [minha irmã] faze uma casa pra ela você tem mais de uma casa (...) [ela] não tem onde mora (...) dá um pedacinho ali um lugar tão simples queַencheַd’águaַeַtudoַ(...)ַpodeַteַtudoַquantoַéַdefeitoַmaisַéַumaַsóַ(...)ַatéַqueַumַdiaַ meu filho me autorizou a fazer um comodozinho pra mim falou comigo que dá ele não ia me dá não mas que era pra eu fica até o tempo que Deus me desse vida que era pra eu cuidá de alguma coisa pra nóis aí é o motivo de eu está aqui hoje (...) [disse Zezeca] (...) não é mais meu eu já passei (...) eu não posso voltar atráis quer dizer correto certo (...) eu to aqui hoje com muita luta (...) trabalhei em casa de família com carteira assinada (...) eu não sou aposentada hoje eu vivo com o auxílio doença eu não tive idade não paguei contribuição do INPS já vou fazer 60 (...).

221 TFEA 25 - Entrevistado 080, 2014 Qual sua trajetória no Município?

Eu moro em São Francisco sou nascido e criado na praia de Guaxindiba meus pais são daqui (...) sempre residi no município principalmente na praia de Guaxindiba sempre estudei em escola pública me formei no colégio Estadual São Francisco de Paula

Você nasceu aqui ou foi nascer em Campos dos Goytacazes?

Nasci no hospital de lá [de Campos]

Aqui tem hospital?

Tem (...) participei da fundação do movimento estudantil (...) levava a conscientização a parte da juventude apartidária ligada a escola (...)

Qual o objetivo principal?

Amadurecer a juventude do município com as questões políticas da cidade nesse período comecei a fazer uma faculdade de educação física (...) me formei.

Teve bolsa de estudos?

Não eu tive que pagar minha faculdade o transporte independente da gestão do município sempre foi doado como é até hoje

Trabalhava enquanto estudava? (...) só com meu pai no comércio (...) teve um período do curso que eu parei por questões mesmo de finanças aí nesse período mesmo eu comecei a fazer eventos (...) artísticos (...) shows daí saiu a renda para que eu terminasse (...) a faculdade (...)

Tentou conseguir bolsa de estudos?

Até tentei mas era muito dificultoso (...) eu preferi parar aí depois a (...) [faculdade] ofereceu um sistema de desconto pra quem tivesse um ano e meio fora da faculdade (...) eu tava um ano esperei mais meio período pra poder beneficiar o desconto (...) cerca de 50% (...) depois de formado eu atuei na área como estagiário (...) num projeto de 1 ano que teve na prefeitura (...) na comunidade de Valão Seco (...) com crianças realmente carentes (...) tinha crianças que não conhecia nem praias do nosso litoral (...) essas crianças conheceram o Maracanã uma atividade que nós fizemos eles foram uma alegria muito grande (...) depois eu me afastei me envolvi um pouco com política fui candidato a vereador (...) não fui eleito (...) comecei a fazer parte da do sistema de rádio (...) surgiu a ideia de fazer uma outra faculdade (...) de comunicação (...) só está faltando a monografia (...) entrei com bolsa (...) sempre imaginei que um dia eu estaria aqui na prefeitura mas não com [esse cargo] nunca me vi aqui (...) até eu prove o contrário acredito que nossas realizações já começa a agradar um pouco a população que a gente está conseguindo fazer ações com muita dificuldade tá

Quais ações?

222 Assumimos as atividades no período de verão (...) a gente não tinha muito o que fazer nós conseguimos realizar (...) competição e autocross (...) alguns torneios de futevôlei (...) futebol society (...) uma equipe muito reduzida um orçamento muito pequeno (...) o forte do município ele é o futebol então a gente tem que fazer sempre algo focado nesse trabalho de polisco mas é confesso a senhora que eu to tentando mudar um pouco esse foco jiujitis (...) ciclismo (...) futsal (...) ser agraciado com projeto como esse do esporte RJ que é um projeto que alguns municípios do Estado estão sendo ofertados até com núcleos maiores eu consegui só um núcleo pra atender 100 crianças e é o 1º convênio de toda a história [da prefeitura] 1º convênio realizado (...) um contato de colega (...) me apresentou um deputado só que na minha bagagem eu já tinha levado eu já tava com o ofício pronto ninguém sabia desse ofício e esse ofício já solicitava (...) um veículo por que até hoje a gente não tem um carro pra trabalhar eu trabalho no meu carro (...) nós temos hoje também 7 escolinhas de futebol espalhadas nas comunidades 1 em cada de Gargaú Guaxindiba Barra de Itabapoana o nº de atendimento de crianças é limitado

Onde é a escolinha de Guaxindiba?

Essa escolinha ela funciona 2 vezes por semana terças e quintas um treinamento, no campo de futebol society (...) fica na beira da praia (...) lá próximo do hotel do Fiinho

Só tem esse em Guaxindiba?

Tem um outro maior mas até que eu sei não tá disponível pra poder arcar o nosso instrutor já tentou um contato lá mas por enquanto eles negaram então e tamos vendo uma forma de estar atendendo mas não tão imediato como a gente precisa trabalhar a gente propôs essa ação numa outra região mas lá em Barra acontece no Campo Grande Valão Seco acontece também no campo Grande aqui em Volta Redonda também acontece em Praça também acontece em Travessão de Barra acontece

Que idade? de 7 a 14 ou de 7 a 10 ou de 11 a 15 até 15 16 anos a gente quem quiser participar a gente abre uma

Tem professor?

Só não é formado são contratados o salário é o mínimo são professores que tem noção não são professores de educação física até por que a gente tem um pouco de carência de profissional no município tá isso sempre funcionou assim tá

E em Campos?

Aí seria um custo muito alto pro governo

Amador dará essas aulas?

Sim pessoas que tem um pouco de entendimento que gosta de trabalhar na área com experiência em tentar educar a gente só permite que atue em escolinha quem está estudando né a semana passada a gente fez uma experiência de um seminário aqui onde eu transmiti algumas imagens no telão pra eles mostrando a forma que a gente gostaria que eles atuassem

223 e aí eu fiz uma visita surpresa na comunidade de volta redonda para percebe o trabalho se começa a ser de acordo como a gente planeja né então

Fale-me um pouco da escolinha dessa camisa na Ilha dos Mineiros?

Pois é ela surgiu na forma de a gente implementar uma ação nova como eu falei foi o primeiro convênio nosso com o Governo do Estado, é um projeto do governo do Estado gerenciado pela empresa do Zico então todas as palestras treinamento é pela equipe do Zico já esse projeto aqui tem uma profissional de educação física também já está no projeto (...) tem uma enfermeira a (...) e tem o apoio que não precisa de formação então esse projeto tem dois profissionais capacitados pagos pelo Estado a gente tá orientando na forma de ministrar as aulas como a gente gostaria o cuidado que tem que te com a criança orientação a princípio é um projetinho de futebol mais eles mesmos disseram pra gente que a gente não precisa ficar preso a essa modalidade a gente pode tá fazendo um trabalho como uma caminhada pode tá fazendo vôlei pode tá fazendo aos sábados de manhã por exemplo um trabalho de conscientização ambiental recolhendo garrafas pet ou plástico na bera da praia (...) e por que a Ilha dos Mineiros primeiro por que eu posso tá acompanhando porque eu teria comunidades aqui com uma necessidade maior como Gargaú e Barra por exemplo o negócio lá também é complicado mais como é um primeiro convênio eu gostaria de tá acompanhando de perto por que se tiver alguma coisa fora do eixo a gente pode estar ali ajustando a gente também é profissional na área a gente também entende como é que agente gostaria que funcionasse então na Ilha a gente vem acompanhando ali que existe um número grande de prostituição, tráfico de drogas eu não posso provar isso mais é o que chega pra gente mais por ser uma comunidade que a gente entende que está tendo um crescimento muito rápido populacional isso é bom mais traz uma certa responsabilidade pra gente

Gente daqui ou também de fora?

Tem chegado gente de fora as duas coisas aí acaba influenciando os de cá e acaba ficando grande do mesmo jeito então a gente vê que a Ilha ela nunca teve um projeto nunca foi lembrada a Promoção Social tem um trabalho feito lá com o CRAIS mais o esporte eu acredito que ele é sempre bem vindo em qualquer aspecto por isso a Ilha dos Mineiros é por ser próximo foi contemplada o projeto atende 100 crianças temos 122 pessoas inscritas né e a gente ta trabalhando aqui já a logística pra poder tá fazendo o lançamento do mesmo

São crianças só da Ilha ou tem de Guaxindiba?

A princípio como leva nome de Ilha seria só da Ilha mais a praia dos Sonhos e do Sossego é muito próxima então a gente abriu pá pode né a faixa etária é de 7 anos em diante

Ficou alguma criança da Ilha de fora?

Se ficou não chegou ao nosso conhecimento tá por que nós divulgamos isso num carro que circulou dentro da comunidade divulgamos isso nas redes sociais nos blogs da região e também na rádio FM tiveram a oportunidade de se inscrever

Existe alguma refeição para as crianças nessa escolinha?

224 Só no ato do lançamento só no ato do lançamento que vai ter um cachorro quente mas na ministração das aulas não as aulas de manhã eles já teriam tomado o café em casa praticariam esporte e depois escola teriam merenda na escola ou em casa na parte da casa já viriam almoçado ou merenda na escola

Esse projeto é assim nos outros lugares?

Sim ele não acompanha alimentação só acompanhamento médico material esportivo e profissional

tá

é

basicamente

isso

Na Ilha também tem um campinho vocês vão trabalhar lá?

Algumas ações sim não toda a gente entende que é um campinho de areia e que está em péssimas condições é eu tive lá ainda há pouco e a gente quer colocar lá uma iluminação e tentar melhorar algum aspecto

Vedar?

Mais aí é uma coisa maior a gente precisa de uma coisa mais urgente e a gente depende dos órgãos do governos também pra tá apoiando a gente nessa ação por que o esporte não mexe com infraetrutura né mais o que tiver ao nosso alcance pra poder tá melhorando aquela área de lazer ali que é uma área improvisada pela própria comunidade como a maioria são a maioria das áreas são improvisadas é por isso que o futebol é popular por que você improvisa ele em qualquer lugar seja num pedacinho de chão de asfalto ou de barro na rua de areia ou de praia por isso que o futebol é popular né

Se o projeto é da Ilha as atividades não deveriam ser lá?

Vai ter palestras alguns coletivos no próprio campinho

A escolinha vai ser lá?

Também nós temos 2 outros lugares o campo de Sossego é só atravessar a ponte é pertinho e esse campo de futebol society do Fiinho que tem um piso melhor é cercado que a gente tá pensando na questão de banheiros na questão da segurança da criança não é só chegar e fazer o projeto acontecer tenho que me preocupar na saída da criança até o campo

Será que é longe eles vão por conta própria ou os pais estariam levando? Isso não vai pôr em causa a frequência deles? Os pais vão poder levar?

Pois é são coisas que a gente tá avaliando por isso que eu tenho que deixar essa área da ilha acessível pra quando a gente não puder levar por uma questão de tempo chuva ou transporte e se não tem tu vai tu mesmo e vamos improvisando que a gente não tem muito e para não por em causa um projeto que custou e tão importante (...) banheiros públicos portáteis até isso pode ser dificultoso não é tão fácil assim essa questão de infraestrutura a gente tem nas 53 unidades que constitui esse município se eu for pensar nisso a gente não tem ação nenhuma infelizmente entendeu isso acontece com a gente também em ações nossas internas se a gente for levar tudo ao pé da letra a gente não realiza que as dificuldades sempre vão existir que nós

225 somos limitados tá a sorte que eu tenho uma equipe aí que mesmo reduzida eles são muito criativos se desdobram (...)

O que poderia ser feito para isso acontecer na Ilha?

Uma ação mais integrada, mais em conjunto entre as secretarias se a burocracia não fosse tão grande isso também facilitaria muito, isso não é uma questão interna é uma questão geral eu tenho mania de simplificar muito as minhas ideias e ações isso é possível tá principalmente na política isso é possível só que bem ou mal a gente acaba se esbarrando na burocracia do sistema por exemplo eu preciso agora comprar um poste de 14 m ta qui o orçamento ta qui o que eu preciso pra pode instalar essa iluminação lá se não houver uma ação de urgência eu só vou ter isso lá dentro de 60 dias ou mais eu não posso esperar 60 dias pra isso como as aulas serão só durante o dia a colocação desse poste seria pra poder é dar um pouco mais de tempo de aula e atender um outo público que é o público da própria comunidade que já solicitou a implantação dessa iluminação lá desde o ano passado ou desde outras gestões eu só sei que isso veio parar nas minhas mãos e eu quero ajudar então eu recebi aqui hoje um senhor que é responsável pela iluminação pública que é locado na Secretaria de Obras e Serviços Públicos ele foi lá ele viu o que precisa né eu to mandando agora pro gabinete a solicitação ele já entrou em contato com a pessoa que fornece o material para fazer o orçamento que só poder ser fornecido na quarta-feira aí eu já perco 3 dias e eu já devia ter começado

Se você fosse mais ajudado? É eu me sinto sobrecarregado me ajudaria bastante

E se alguém pudesse fazer a integração das secretarias?

Até existe mais (...) também tem suas obrigações o município é grande é dificultoso não só pra mim mas pra eles também em todas as áreas

Para funcionar a escolinha na Ilha basta o recurso da prefeitura?

Sim do Estado tá pronto que é esse material todinho que aí está e o funcionário é pago por eles o uniforme é cedido para as crianças fica sob a responsabilidade deles os demais materiais vão retornar e serem guardados aqui

E sem carro?

Ah os profissionais já estão cientes e vão dá o jeito deles de poder guardar isso aqui se o professor tem um carro vai no carro dele ou dela até porque os profissionais são de Guaxindiba então tá pertinho já facilita

Você acha que lá é uma Ilha?

São dois rios né é o Guaxindiba [CEAR] e se não me engano é o rio da draga que onde é a ponte ela tem um formato de ilha mais é não as vezes me pergunto por que o nome a gente já cresceu sabendo né dessa nomenclatura mais você acha que não é uma Ilha não acho que não por uma questão cultural a gente vai assimilando aquela forma

Mas por que você acha que não é uma Ilha?

A ilha é ela no meio da água eu não vejo outro corte de água que pudesse fazer o fechamento porque ela é contornada assim se fosse no caso de ilha a extensão geográfica dela

226 é toda pra dentro muito a mata nesse período nessa reta teria que ter um corte de água e aí sim teria uma formatação realmente de Ilha né mais fora disso é diferente da Ilha da Convivência é diferente

E por que deram esse nome se não vejo lá mineiros?

Pois é boa pergunta eu não sei se teve algum morador inicial que foi mineiro se tem uma cultura mineira acredito é o que justificaria né uma família recém fundada que chegou lá e fez a primeira casa ou casinha ou comprou uma área que fosse descendente de Minas pra justificar um pouco essa história toda quem poderia ajudar e responder isso a senhora é [um historiador local] por que ele é noooossa ele sabe muita coisa e tem um livro chamado Apontamentos de São Francisco de Itabapoana ele é Assessor do Gabinete ele é um dos fundadores ali em Guaxindiba nossa.

227 TFEA 26 - Entrevistado 085, 2013

228 TFEA 27 - Entrevistado 088, 2014 São quantas pessoas cadastradas no programa de saúde da família na Ilha dos Mineiros?

Esse posto abrange de Sonho à Barrinha e tem cerca de 4.000 mil cadastrados no geral mas as pessoas da Ilha dos Mineiros no programa família não sei dos prontuários que acompanho do Programa Estratégia da Saúde e Família (PESF) (...) estou ocupada porque tenho até segunda-feira para entregar um levantamento das fichas para a Secretaria de Saúde no Ponto de Cacimbas.

Mas é exatamente isso que preciso. Pode me enviar por e-mail assim que tiver?

Sim. [Mas não foi enviado]

229 TFEA 28 - Entrevistado 089, 2014 Qual sua trajetória no município?

Sou carioca (...) meu esposo que nasceu aqui os pais dele eram daqui (...) a dificuldade era muito grande foram pro Rio (...) meu primo meu pai também era daqui mais foi pro Rio de travessão de Barra e meu marido morava em Fazendinha (...) tem 19 anos que eu moro aqui morava ali em Guaxindiba na beira mar meu esposo comprou esse terreno construiu essa nossa casa (...) viemos pra cá na época (...) do Collor teve aquele desgaste todo do governo nós perdemos os bens (...) por isso viemos morar aqui tentar um novo recurso sem nada viemos morar na Ilha nem luz tinha (...) imagina uma carioca vim pra cá morar num escuro foi um desafio muito grande (...) tinha os dois filhos e tava grávida da minha filha de três meses (...) hoje ela está com 18 anos (...) tinha meu comércio no Rio é eu sou formada em educação física (...) nunca exerci a profissão (...) quando eu vim pra cá fiz o primeiro concurso público do município pra guarda municipal (...) passei (...) discubri que tinha câncer [há 13 anos] não pude exerce a profissão (...) pela Honra e Glória do Senhor estou aqui (...) por eu ver a necessidade da Ilha (...) comecei lutando por isso aqui (...) hoje como você mesmo teve essa sabedoria descobriu esse índice da Ilha as dificuldades da Ilha em todos os aspectos porém ela tinha mais ainda

Quando você chegou aqui havia muitas casas?

Não (...) pouquíssimas tem 60% a mais

De quem comprou o terreno? (...) de (...) que já é falecido (...) comprei esse lote ele é de 12X30 (...) foi um senhor muito conhecido (...) uma liderança de se envolver mas não tinha vínculo político (...) um homem criador de galinhas porcos ele morou no Pedregal em Guaxindiba (...) quando eu conheci ele morava aqui

Quando comprou esse lote?

Há meu filho estava com 3 anos meu filho agora está com 22 eu logo comprei [1995]

Foi caro? $2.700 Reais na altura era caro porque eu paguei a prestações eu recebia o aluguel no Rio e ia pagando as prestações 3 de 700 foi $2100 promissórias não tinha cheque foi promissória o recibo fomos no cartório de São Francisco Ofício Único fizemos o recibo de compras e vendas [aquele senhor] comprou e passou me revendeu era uma imobiliária que tinha ele comprou (...) não me lembro direito do nome do rapaz (...) nós fizemos a casa aí eu botei um comércio o recibo a gente tem até hoje agente não tem escritura aqui essa parte aqui parece que é muito caro essa parte aqui a gente paga IPTU a parte de lá não a prefeitura tem um mapa lá disso aqui esse miolo aqui é essa parte loteamento a de lá é parte de marinha é parte da marinha é tudo marinha beira de mangue manguezal pertence a marinha então foi invasão foi onde o Zezeca dividiu os lotes ele foi muito bom na altura ele me deu um terreninho mas eu e meu marido ficamos com medo de construir depois a marinha vim tomar e a gente perder (...) nós não tínhamos luz aí tinha um vizinho lá depois de 4 casas que ele puxou de Guaxindiba por dentro do mangue fez um gato

230 lá no poste então dividia pras casas então era muito fraquinha (...) meu esposo fez comprou fio 1.000 m de fio fez a mesma coisa puxou lá do manguezal fez um gato todo mundo fazia isso foi a primeira família a ter luz por cima e foi com escora de laje [poste] que nós botamos por cima com medo de alguma criança pega por que ficava na areia morreu uma criança por isso que nós não tivemos luz morreu uma criança os pais dele moram ali atrás ele dentro do manguezal foi pegar um caranguejo agarrou o fio e ele morreu aí foi onde os pais entrou com o processo contra a AMPLA e receberam uma indenização a AMPLA foi e puxou luz pra gente precisou morrer um menino pequeno com eu acho 8 anos (...) morei uns 3 anos sem luz elétrica estável se ligasse a televisão não podia ligar a geladeira e vice versa parabólica não funcionava a gente só usa parabólica antena comum não pega o vento tira essas coisas assim mais cacimba é água de poço aqui todo mundo aqui é água de poço porém o pessoal da beira mar ali da beira do córrego [rio Guaxindiba] puxa de Guaxindiba a água potável porém no verão não tem água porém já passa tubulação de água aqui prá ir prá Sossego vai embora já passa já tem água já tem sangue já tá funcionando porém só pode puxar quem mora na rua principal [RJ 196] a gente que mora aqui não pode se o pessoal do asfalto for lá e requere para puxar pode ir muitos não querem querem ficar na bomba que acham que é mais econômico (...)

A água é tratada?

Nem por isso por que a nossa água aqui [do poço] é muito boa é uma água que você pode até bebê Inclusive foi feito pela UFF mesmo foi feito uma pesquisa que a água é muito boa

Quem tem o resultado dessa pesquisa?

Não sei eu só sei que chegou pra gente na época e o nosso colega aqui que é também da Petrobrás fez a pesquisa e falou a água esse negócio de coliformes fecais que diluiu aí levaram porém a nossa aqui é totalmente [boa] a minha cacimba é aqui a minha caixa de gordura o meu poço é ali 15m porém a gente vive assim nessa dificuldade porém o município como você deve ter pesquisado você deve saber ele tem um índice [alto] de analfabetismo porém nós não temos royalties nós somos cercados pela bacia da Petrobrás Macaé recebe (...) a gente recebe bem pouco eu não sei quanto bem poquinho muito poquinho divide com Espírito Santo e Macaé (...) é um município que cresceu bastante porém cresceu em população mais em verba e recurso não nem todo mundo aqui paga IPTU (...) luz muitos são gatos (...) a renda hoje do município que as pessoas trabalham ou é da prefeitura ou é da marisqueira que mexe com caranguejo com siri ou da lavoura nesse período de janeiro até março fica fechada a pescaria, é chamado de defeso, quer dizer esse período é um período muito crítico pra gente meu filho tem 22 anos ele tem (...) 4 cursos auxiliar administrativo gestão empresarial biocombustível e petróleo e gás não consegue emprego entendeu, então fica muito difícil pra um jovem, faculdade só em Campos

Qual foi sua atividade depois do concurso?

O prefeito (...) fez um desvio de função eu fiquei trabalhando como recepcionista até eu me tratar (...) nessa época eu não estava na liderança da Ilha (...) devido o meu problema de saúde eu não conseguia fica parada eu não tive depressão (...) eu ia à Promoção Social tinha muito jovem que não tinha documentação (...) certidão de nascimento eu sabia que tinha isenção

231 (...) aí comecei a fazer esse trabalho (...) fiquei 5 anos mais ou menos me tratando e ganhando o salário mínimo pela prefeitura

Continuou a trabalhar?

Sim porque as pessoas vinham até a mim muitas vezes o prefeito (...) caminhava comigo eu era um ponto de referência (...) ele gostava de entrar ter um contato com o povo chegar sentar pra conversar então as pessoas não conheciam esse lado dele e eu comecei fazendo a intermédia (...) eu tinha que está perto dele pra poder trazer ele pra comunidade o vento dava e carregava o telhado eu sabia que a Promoção Social podia doar essas telhas (...) ele me deu essa liberdade e eu fiquei com a liderança foi quando começou o trabalho de agente comunitário (...) e eu fazia isso direto tinha dia que eu ia em São Francisco três vezes (...) as pessoas me chamavam direto era fralda (...) campanha pra cadeira de rodas (...) vamos pedir não sei o quê (...) chegou uma época nesses 4 anos eu tive um problema com meu marido ele disse menina você fica pedindo pras pessoas e quando for pra você respondi alguém pede por mim foi isso que aconteceu (...) eu tive que fica [em casa] por causa do tratamento mas aquilo me corroía aí eu comecei com o trabalho de artesanato sempre fiz muito artesanato e comecei a Petrobrás fez um curso pras mulheres de pescador (...) na Promoção Social (...) eu fazia macramê tipo crochê na barra da toalha de banho só que eu fazia em corda amarrado de rede cortina suporte pra planta essas coisas pintura

Onde vendiam? (...)Tinha um projeto da Promoção Social e botava as barracas no verão pra vende na praia quando a Petrobrás trouxe esse trabalho pra gente foi o projeto mosaico pras marisqueiras por eu estar muito envolvida eu fui voluntária por que o meu marido não era pescador meu marido era pedreiro eu comecei fazendo um desempenho muito bom eu gostava muito por que foi um artesanato com escamas de peixe bijoteria brinco colar flores muita coisa nisso meu filho se formo de padeiro que foi um projeto que veio mão na massa do Banco do Brasil (...) muitos muitos jovens que não tinha expectativa (...) meu filho hoje ele mora na Bahia o mais velho que ele embarcou com esse curso de padeiro confeiteiro então eu comecei pescando [na Promoção Social] e trazia tudo pra Ilha (...) eu comecei a fazer o curso também e montei a padaria mini padaria pro meu filho aqui na Ilha aqui na minha casa (...) depois eu comecei a fazer as bijoterias de escamas e pude exportar pro Japão com esse dinheiro (...) eu montei a padaria (...) porém meu esposo começou bebendo muito (...) o rico se ficar pobre ele fica maluco o pobre se fica rico ele fica meio bobo né (...) aí eu tive que vende a padaria (...) meu marido discutia muito meu filho ele era uma pessoa muito difícil (...) uma senhora que meu filho conheceu fez o contato e eu fiquei exportando (...) ele foi trabalhar na CONDUTO uma empresa que colocou a tubulação de gás que passou por São (...) não tenho mais o contato dela (...) foi onde eu tive um recurso bom e consegui superar um pouco porém o meu marido caiu no vício tive que desfazer da padaria (...) depois da venda da padaria ele se aposento por invalidez (...) em 2009 eu fiquei em coma (...) só a misericórdia do Senhor eu vivo hoje pela fé mesmo o INCA falou assim a gente trata de você porque a gente não pode desistir (...) fui pro Hospital Manuel Carola que é o hospital do nosso município e fiquei em coma ali 15 dias eles mandaram o relatório pro hospital do INCA e

232 eles disseram não manda ela praqui por que ela vai morrer no caminho e nisso pela Honra e Glória do Senhor estou (...) fiquei bem debilitada mas esse trabalho comunitário me trouxe vida eu me envolvi no atersanato e vi que era um meio de eu tirar algum dinheiro eu botava uma prateleira aqui na minha varanda (...) juntava as mulheres daqui mesmo pra gente fazer tudo que eu via na promoção eu trazia pra cá por que por que o pessoal daqui tinha medo de ir até a promoção

Tinham medo por quê?

Eles achavam que não eram bem recebidos mais era o próprio preconceito com eles mesmos por ser da Ilha a Ilha era visto assim só tem prostituta traficante e marginal mas a própria comunidade devido a passar por dificuldade eles não tinham credibilidade nem neles mesmos não era que a promoção tinha isso com eles (...) [o prefeito] caminhou aqui e perguntou o quê que vocês querem uma assistente social (...) e o asfalto foi que veio o asfalto e depois que veio a tubulação de água e começou a assistente social (...) ela vinha todos os dias pra qui pra Ilha e andava de porta em porta ela sabia de todos ela era ativa na comunidade e começou vendo a necessidade casa que não tinha banheiro ela fez o requerimento teve crianças que tinha câncer nos olhos foi descoberto eles foram pro Rio fez o tratamento infelizmente não sobreviveu mas foi dignamente socorrido foi feito banheiro casas que tavam caindo ela conseguiu no governo da Rosinha Garotinho um recurso que vinha pra fazer reforma não era minha vida não e fez entendeu tinha pessoas que tinha barraco de lata de tinta deu pra fazer um comodozinho começamos a registrar as crianças começamos levar o povo até lá entendeu por que até então na época tinha preconceito [o prefeito] falava assim a chefe de gabinete não adianta a gente levar o CRAS pra eles eles têm que aprender vir até aqui eles têm que aprender a andar a abria a boca pra fala e eu entendi isso realmente mas eles continuavam com preconceito com eles mesmos não era a Promoção Social eram eles que não queriam ir lá tavam acomodados e hoje graças a Deus veio pra cá o CRAS projeto de ter os cusros ali dentro funciona claro que não funciona como a gente quiria mas é o que a gente tem tá servindo

Como surgiu a associação dos moradores?

A gente precisava montar um grupo pra ter vós (...) a gente queria montar pro grupo se reunir formar uma associação mesmo se unir aí foi formado um grupo de 6 pessoas aí chegou [um] (...) e outro rapaz de outro grupo (...) concorreu comigo no carnaval ele ganhou e ficou 4 anos ele tem vários convites diplomas que ele foi em reuniões mas quando ele me passou [agora] ela não foi registrada

Quantos são nessa Associação? (...) tenho a ata mas não tenho lista nunca foi passado uma lista aqui nuca foi feito carteirinha nunca teve um prédio sede (...) o primeiro prédio que a associação tem é esse aqui que eu cedi (...) tenho a ata tenho o estatuto mas acho que não tá comigo está redigindo para vê se fica menor pra ficar mais barato pra gente aquilo vai ficar por quase $800,00 a gente não tem (...) eu nunca fui a rádio que ela não é registrada não adianta ir pra rádio e dizer eu sou presidente da associação eu não vou subir no palanque (...) e falar assim eu sou presidente mas eu não tenho documento se eu não sou registrada eu não sou [eu] entendeu eu não tenho essa

233 cara de pau eu nunca falei na rádio mas todos me conhecem (...) tanto que quando eles chegaram eu disse eu vim aqui falar como moradora presidente eu vou ficar 4 anos e vou sair

Quanto tempo você está à frente?

1 ano fez agora em fevereiro tô batalhando eu consegui quase dois mil livros que tá ali dentro já consegui uma reunião com o Secretário de Promoção Social no Rio de Janeiro (...) mas não pude fazer projeto nenhum por que a gente não é registrado aí disseram tira a isenção (...) no fórum tem que esperar tem um bairro aqui que demorou quase dois anos pra registrar (...) tem outros processos na frente do nosso (...) tô com um computador ali dentro ele não tá funcionando mandaram eu consertar porém eu vivo com $500,00, (...) não consertei meu computador (...) como é que eu vou consertar se não registrei a associação entendeu há vamos fazer uma gincana como a comunidade é precária não tem eu não posso fazer uma carteirinha pedir pra contribuir se não tiver registrado eu tenho que montar um logo o emblema da carteirinha tem tudo porém tem gastos eu não posso exigir da comunidade uma coisa que não tá funcionando primeiro tem que funciona (...)

A prefeitura não ajuda? (...) eu queria fazer isso fora de política (...) eu não queria envolver por que a gente fica presa (...) se vir uma pessoa de outro partido de outro lugar pra nos ajudar entendeu (...) a gente tem uma área aqui linda pra fazer um projeto na praça a gente não pode fazer por que até então não teve recursos e agora que veio esse recurso do Zico por que tá irregular vai levar pro Pedregal (...) a escolinha do Zico

Quem conseguiu? o secretário de Esporte do município (...)

Para o município todo? pra Ilha o nome que está no projeto no contrato é a Ilha

E vai para o lado oposto? (...) disse que o campo de futibol lá é melhor agora você imagina porque não conserta o daqui (...) hoje a gente vê que Guaxindiba e Ilha dos Mineiros é uma coisa só antigamente não ninguém queria dizer que morava na Ilha que na Ilha é favela gente vocês não sabem o que que é favela (...) você nem pode falar que é favela é comunidade (...)quando for inaugurar que vai ter uma inauguração vai colocar o palanque ali na Ilha inaugurar na Ilha e depois colocar lá (...) a Ilha tá crescendo tudo (...) o CRAS que veio (...) pra funcionar porém já funcionava até mais (...)

Fazem visitas nas casas?

Muito difícil oh meu marido quando ele tentou suicídio a primeira vez o CAPES (...) projeto pra tratamento psicológico (...) conversou com ele ele disse eu não quero tratamento cabo ele fez na primeira vez na segunda vez ele fez e morreu (...) gente fazia um curso lá em Valão Seco tem uma colega minha (...) ela faz salgado ela se formou através do curso do CRAS (...) a gente fazia curso de cooperativismo o CRAS era em São Francisco e os cursos eram lá em Valão Seco depois do Ponto de Cacimbas na padaria escola então lá tinha forno condições

234 (...) fizemos curso de salgado reciclagem de material cooperativismo FAT fundo de amparo ao trabalhador (...) veio o professor (...) para dar o curso pra gente veio o vale transporte (...)

E o CRAS da Ilha quem trouxe? [na gestão de um prefeito conhecido como] o (...) da saúde (...) São Francisco só é conhecido nas manchetes através disso (...) [e de outro] o negócio do PETI bolsa família tirar as crianças do corte de cana (...) o governo depois ficou desgastado (...) o governo federal não passava a verba (...)

Foi bom o CRAS vir para a Ilha?

Foi bom porque tem os cursos trabalho de geração e rendas fizemos almofada pintura por que além disso tudo foi bom por que o CRAS ele ensina a pescar ele não nos dá o pexe (...) o dinheiro que vinha pro CRAS não era pra dá pra gente era pra comprar material pra dá os cursos pagar os professores funcionários psicóloga tinha uma assistente social (...) tinha muita gente que recebia bolsa família mas não precisava então nós da associação dos moradores começamos a fiscaliza

Como melhorar o CRAS? Pessoal melhor preparado não pode acontecer de ir uma pessoa para ser atendida por psicólogo e lá a pessoa dizer hoje não tem psicóloga não é assim tem que dizer o porquê são os dias tal assim assim (...) e tem que fazer visitas vamos supor hoje o CRAC é um índice muito grande aqui na comunidade

São crianças? geral (...) veio de [outra cidade] pra cá mais isso cria um mal estar na Ilha é por que eles falam assim qualquer assalto, as pessoas falam assim há é na Ilha mas não são as pessoas daqui não são daqui que vão roubar como a gente aqui você pode passar na rua você quase não vê ninguém então quer dizer fica a mercê

Então não tem segurança? nenhuma quarta-feira passada tentaram roubar minha casa eu tava chegando da igreja eu liguei pro DPO pedindo pra passar aqui (...) pularam o muro (...) viu o rapaz pulando o muro ela grito aí o irmão veio e ficaram trancados (...) ligaram pro DPO nº 190 mas mandaram ligar pra Santa Clara a gente estava sem crédito aí depois que eu cheguei liguei (...) mandei a mensagem pra mulher [de um policial conhecido] aí eu liguei pro DPO e falei (...) ah eu vou fazer uma ocorrência tal tal tal porém quem estava de plantão (...) disse ninguém falou com a gente o cara que atendeu não passou o recado (...) as vezes você tem que ir a pessoas (...) [não habilitadas] pra te dá segurança (...) foi preso já atiraram (...) bateram nele um menino novo bonito aí vem um projeto desses como veio da escolinha e não vão bota aqui na Ilha vão bota lá não sei onde te levo numa casa ali (...) o filho dela ela teve que mandar pro mar pra sair fora (...) meu filho (...) está desempregado tem uma filinha de um ano e cinco meses (...) desempregado pai morto a mãe com câncer ele com uma filha não é certo mas na hora do desespero satanás vê brecha entra entendeu (...) você vem do Rio você sabe como é que é né e esse projeto [Zico] ali seria maravilhoso como o CRAS foi pra muitas mulheres que estavam com depressão (...) as

235 vezes hoje eu até preciso de cesta básica nem fui lá tô purinha eu não tenho nada pra come em casa eu não tenho vergonha de dizer eu se meu pastor souber que eu to falando isso que eu não tenho nada pra comer e não pedi a ele ele vai brigar comigo a minha filha tá trabalhando (...) aqui fazendo faculdade ganhando $15,00 por dia trabalha sexta sábado e domingo pra poder levar um lanche pra escola pra faculdade tem dia que ela leva pra faculdade biscoitinho se sabe que é difícil pruma moça (...)

Ela não tem bolsa?

Não ela conseguiu um desconto de 500,00 (...) fizemos o FIEIS pagamos um período até sai (...) agora foi cortada a minha bolsa família (...) não é só a mensalidade tem a xérox livros agora tem que comprar um livro que custa 800,00 eu ganho 500,00 (...)

Qual o maior problema da associação? É de bota ela mesmo pra funciona (...) reunir a comunidade para elas brigarem pelos direitos o quê que elas tem que fazer

É difícil por quê?

Que elas perderam a credibilidade devido o outro presidente não fazer nada eles me culparam naquela época eu quero botar essa biblioteca pra funcionar tenho livros escolares eles recortam muitos acharam que eu ia ter função lucrativa não tenho

Quem trabalha com você nessa associação? só eu a minha vice mudou lá pra Guaxindiba tem 5 filhos e tá grávida.

236 TFEA 29 - Entrevistado 092, 2014 Como é viver aqui?

Sou nascido no Rio de Janeiro (...) morava em Vista Alegre num bairro do Rio de Janeiro próximo de Bom Sucesso logo após eu me mudei para o interior do Estado do Rio de Janeiro um lugar chamado Pureza distrito de São Fidélis onde cresci (...) por não ter praia (...) nós frequentávamos era Guaxindiba então (...) eu só conhecia Guaxindiba de verão (...) muito pobre uma Guaxindiba de pescadores uma vila muito poucas casas à beira mar as pessoas viviam praticamente da pesca e do turismo só isso (...) aqui não tinha um bom mercado não tinha uma boa farmácia a luz não era boa (...) tudo tinha que ser trazido de casa mobília compras água potável (...) comprar água em São Francisco ou trazer de casa ou colher água da chuva e lembro de ter colhido muita água da chuva aqui (...)

E seus pais? (...) meu pai é de Cambuci e minha mãe de Pureza (...) minha mãe só me teve no Rio

Por quê? (...) meu pai foi tocar comércio no Rio bar mercearia e padaria (...) e depois de 3 assaltos consecutivos (...) ficou muito chocado (...) voltou pra Pureza (...) passamos a viver de pecuária (...) éramos uma família de classe média (...) aqui nunca foi uma praia de elite as pessoas elitizadas que frequentam essa praia frequentam por opção e amor (...) no ano de 2000 meus pais resolveram mudar para cá meu pai [com problemas de pele] (...) um médico (...) mandou que ele mudasse para um lugar de praia (...) a areia do mar do sol faria bem para a pele dele (...) eu estava morando em Itaperuna (...)

E sua esposa? (...) ela é nascida em Niterói mas filha de Bom Jesus (...) nos conhecemos em Bom Jesus

Você estudou?

Estudei em Pureza fiz o 1º e 2º grau (...)

Qual seu primeiro trabalho?

Foi no BANERJ com 14 anos estagiário estudante (...) dos 14 aos 18 quando (...) o BANERJ fechou (...) eu saí de lá aí fiquei vivendo de música (...) sou músico (...) até que (...) fui para a região de Itaperuna Bom Jesus (...) onde também me encontrei com Cristo através dela [esposa] (...) depois comecei a trabalhar na Unimed em Itaperuna (...) [esta] entrou numa crise (...) ficamos numa situação muito difícil (...) a gente veio pra cá passar o verão com os meus pais (...) papai então pediu que a gente ficasse (...) vê se conseguia alguma coisa (...) comecei como vendedor depois como cobrador como motorista o que parecia eu fazia até que em 2005 eu senti verdadeiramente o chamado para o seminário (...) a minha esposa comigo [semre] (...) tínhamos dois filhos (...) aquela luta toda durante 4 anos e meio depois (...) tivemos alguns cursos ligados a geografia bíblica (...) no final de 2009 (...) o Senhor então abriu a porta pra (...) essa Igreja em 2010

237 Quantos membros tinha e têm? (...) 139 140 (...) hoje passa de 500 membros (...)

Destes quantos moram na Ilha? (...) cerca de 45 a 50% umas 200 pessoas (...) são daqui tem muita gente da ilha que frequenta aqui, por isso o nosso amor e respeito pela Ilha dos Mineiros (...) a Ilha dos Mineiros (...) é uma extensão de Guaxindiba (...) eu costumo dizer que Guaxindiba tem um casal o filho homem é o Pedregal e a filha mulher é a Ilha dos Mineiros (...) é um lugar que nos apaixona fazemos muita ação social ali (...) agasalho (...) cobertores (...) vamos distribuir no campinho onde nós faremos um culto (...) levaremos a palavra de Deus o evangelho de Cristo porque esse é o nosso chamado principal (...) a fé sem obras é morta (...) quem tem frio também tem pressa (...) vamos também distribuir cerca de 300 a 400 litros de sopa (...)fora isso nós temos (...) muitas famílias que nós ajudamos com aluguel (...) cestas básicas (...)

E a cesta básica da prefeitura?

Até consegue só que não é o suficiente dura no máximo 10 dias (...) a igreja mesmo tira de sua reserva para beneficência exames médicos (...)

E o posto médico? (...) atenderia faria o melhor que eles podem o que eu acredito (...) isso por que a irmã está perguntando por que a bíblia diz que o que a mão direita faz a esquerda não deve saber e vice versa mas como a irmã tem perguntado sobre a Ilha ela é a menina dos nossos olhos há um sonho no nosso coração de [ter] (...) uma Igreja filha [dessa] lá (...) vemos nela um crescimento muito grande existe uma dificuldade muito grande também (...) deles frequentarem aqui (...) tem uma pontesinha de madeira que passa pelo mangue passar por essa ponte é muito perigoso (...) existem assaltos ali vários homicídios já foram cometidos

Vi um poste com iluminação lá, mas não havia... (...) não havia nem a ponte aí um irmão fez a ponte [fixa] depois um irmão resolveu nos abençoar com aquele poste (...)

É um “gato?

Não não ele é ligado na luz pública autorizado ali existe um prédio que pertence a Prefeitura desse prédio sai a luz para esse refletor então a prefeitura nos cede a luz (...) várias irmãs chegavam aqui na igreja com o pé torcido com as pernas machucadas com o pé furado muitas tinham medo de ir embora e sem os seus maridos não vinham ao culto (...) nós hoje só não melhoramos mais aquela ponte por que não podemos (...) nosso sonho é aquela ponte um dia seja feita de uma forma que possa passar ali sem molhar os pés porém ela está dentro de um mangue nós sabemos que existem leis né mas ela é de suma importância para a comunidade porque fora isso a pessoa teria que dar a volta cá no centro (...) de Guaxindiba que fica bem longe cerca de 10 vezes (...) hoje a Ilha dos Mineiros é visitada por nós quase todos os dias fazemos cultos nas casas (...) visitamos (...) lá temos amigos lá estamos juntos (...) acredito que existem grandes promessas pra esse lugar né tanto que a senhora está aqui (...) conheço esse lugar de cor conheço de andar a pé conheço de ver as pessoas de perto por que moro aqui sou

238 da comunidade estou sempre ali (...) existe muita carência nessa comunidade (...) [ela] merecia um atendimento melhor um respeito maior (...) é um lugar de gente digna (...) abençoada (...) boa (...) limpa (...) linda (...) que trabalha (...) que verdadeiramente mora ali por que ama aquele lugar

Falam muito do problema da droga, é só um problema da Ilha? (...) o preconceito que o tráfico de Guaxindiba vem da Ilha isso é uma lenda (...) é mais fácil colocar a culpa em quem é mais fraco (...)

As pessoas que você conhece lá estão mais ligadas com a pesca?

Acredito que hoje na Ilha dos Mineiros nós temos gente ligada a tudo (...) no comércio pesca obras na roça até poucos (...) prefeitura costureiras (...) a maioria são liberais pessoas capacitadas (...) a maioria é de baixa renda mas hoje nós temos (...) na Ilha dos Mineiros boas casas (...) são felizes por morar ali (...) se acostumaram ali (...) fazer o máximo que podemos e ainda é muito pouco por essa comunidade (...) temos muitas pessoas aqui que merecem ser alcançadas na área social na área psicológica na área familiar e na área espiritual e esse é o nosso alvo (...) não sei porque que se chama dos Mineiros talvez porque

Não?

Acredito que (...) ela já foi cercada por águas né então talvez daí tenha surgido esse nome por causa de mangue ela é toda cercada de mangue e de um lado tem um valão que é um rio né um rio pequeno por que aqui no interior chamamos de valão (...) eu creio que seja uma Ilha ela não é uma Ilha Isolada porque ela tem entrada e saída de um lado e do outro mas ela já foi cercada por águas e por ter sido cercada por águas se denominou Ilha se denominou dos Mineiros

Por que “dos mineiros?

Não sei talvez porque foram os primeiros a virem (...) fazerem casas

Será?

Talvez sim talvez as primeiras famílias que foram que tiveram ali foram Mineiras não sei isso aí eu não tenho conhecimento mas esse nome pegou né e ficou Ilha dos Mineiros e hoje não tem como você mudar mais hoje a Ilha dos Mineiros se chama Ilha dos Mineiros (...) de uma ponta a outra eu conheço a maioria deles e posso dizer que essa comunidade é comunidade de pessoas boas não é uma comunidade perigosa não é uma comunidade onde o tráfico é dominante é uma comunidade com muitas necessidades sim como muitas outras merece (...) muitas coisas porém eu acho e creio que a seu tempo cada uma dessas promessas para Ilha dos Mineiros irão se cumprir em nome de Jesus (...)

A área de risco é o entorno e a área mais segura é a central? É (...) a área mais segura fica entre o campinho e o asfalto (...) é a parte mais alta nesses 13 anos que eu moro aqui eu nunca vi água nesse pedaço agora na ponta de lá [junto a estrada das casuarinas] e cá no asfalto [RJ 196] quando chove muito durante 20 dias costuma inundar lá na parte de trás um pouco mais (...) mas no meio não (...)

Já fizeram ações de resgate de pertences das pessoas por conta dessas inundações?

239 Já mudanças caminhão (...) arrumarem casas pro lado de cá (...) a casa estavam cheia de água já fizemos várias ações com relação a isso na época de chuvas (...) não acontece com muita frequência (...) se tivermos (...) 15 dias de chuvas é bem provável que a Ilha dos Mineiros sofra um alagamento (...) só deixará de acontecer depois de uma urbanização depois de uma infraestrutura elaborada muito bem preparada muito bem feita isso aí é algo utópico

Por fim há algo mais a dizer? eu gostaria de agradecer o interesse da irmã né pela nossa comunidade (...) [tem] líderes dessa igreja que moram aqui [na ilha] (...) é uma comunidade maravilhosa que tem tudo pra crescer e nós assim como lutamos pelo bem estar de Guaxindiba lutaremos também pelo bem estar da Ilha dos Mineiros aí a senhora pode me perguntar por que que o Sr. não mora lá já que o Sr. gosta tanto de lá?

E por quê? (...) optei por morar próximo da Igreja se a Igreja fosse lá eu morava lá quem sabe um dia (...) gosto de morar próximo da Igreja (...) gosto de vir a pé pra Igreja (...) mas amo aquela comunidade respeito muito passo ali uma duas três quatro horas da manhã não tenho medo de passar ali não não não ando em qualquer rua qualquer hora da madrugada né conheço todos os meninos ali já fui (...) tirar pegar ovelhas minhas ali (...) creio em nome de Jesus que um dia nós vamos poder dizer que a Ilha dos Mineiros foi resgatada em todos os sentidos social moral sabe eu acho que esse é o nosso sonho que essa comunidade tenha autoestima levantada é o que nós estamos tentado fazer mostrar pros moradores de lá que não há vergonha em morar lá ali mas que morar ali é como morar em qualquer outro lugar (...) nós fazemos o lugar onde moramos não é o lugar que nos faz então eu creio assim Jesus (...) disse vós sois o sal da terra e a luz do mundo (...)

Muito obrigada pela sua contribuição.

Eu que agradeço eu me senti muito feliz por ter alguém de tão longe né Niterói é uma cidade tão linda é Niterói é um modelo pra nós nós vamos passear em Niterói nós temos famílias lá então assim Niterói é uma cidade modelo uma cidade onde o nível de vida é bom é gostoso Niterói é uma cidade bonita você sair de Niterói e vim fazer uma pesquisa aqui na Ilha dos Mineiros muito nos honra muito nos enaltece muito nos alegra lembrar de nós então verdadeiramente só nos faz entender que Deus tem grandes planos para esse lugar agora mais do que nunca eu creio nisso amém que Deus te abençoe no nome de Jesus e obrigado.

240 TFEA 30 - Entrevistado 093, 2014 (...) faz, por favor, um resumo, bem resumido, da sua trajetória de vida/profissional, diga sua visão da Ilha dos Mineiros e, finalmente, dê sua sugestão para que a Ilha dos Mineiros venha ter melhor qualidade de vida. É muito bom servir, principalmente quando se trata de trabalho escolar de nível superior onde o propósito é levar a outras pessoas informações. Mas, sou piloto da aviação civil a quase trinta anos. (...) sempre tive a intenção de ensinar sem cobrar hora de vôo para fazer crescer o número de pilotos e aeronaves pilotadas pelos próprios donos (...) em 1990 fiz todo o mapeamento das favelas em Campos (...) campanhas da dengue em diversos municípios e vôos de demonstração para diversas prefeituras pelo Brasil. (...) comprei (...) um sítio em Guaxindiba (...) tenho um escritório de advocacia em Campos e um supermercado em SFI. Vejo a Ilha dos Mineiros como um grave problema social para São Francisco pelo crescimento desordenado e sem lei, onde quando as autoridades municipais acordarem, talvez estará tarde para RESSOCIALIZAR o que cresceu de forma errada. Uma enorme área, sem dono, invadida (...) tráfico por ausência do poder público.

241 TFEA 31 - Entrevistado 099, 2013

242 TFEA 32 - Entrevistado 104, 2014 É sua esposa?

Sim (...) hoje eu sou aposentado trabalhava muito de pedreiro era pescador em fim eu trabalhei muito em vários serviços nasci aqui em 1939 28 de fevereiro meus pais vieram pra qui depois eles eram daqui da salina papai trabalhava muito aqui na salina eles eram de lá de Santo Antônio fiz até a 3ª série eu era meio rude em fazer as obrigações que a professora mandava não estudei mais por que papai precisava de serviço da gente ele era só não tinha mais ninguém eu era o mais velho os outros filhos eram tudo piquinininho meu primeiro trabalho foi trabalhando na roça na lavoura de mandioca milho na enxada trabalhei bastante até meus 18 anos trabalhei bastante comecei a trabalhar com 8 anos aí eu vim pesca papai comprou uma rede de arrastão grande com um rapaz muito honesto e nós fomos pescar aí já tinha mais dois irmãos era muito bom pescar pegávamos muito peixe teve um dia que pegamos 32 pescadas muito camarão barba russa todas as vezes pegava peixe não era muito mas dava pra vive e vende depois eu vim pra pedreiro eu casei em 62 com (...) [esta minha esposa] com 24 anos nesse caso eu trabalhava na usina cortando cana meu tio era empreiteiro ele empreitava pra cortar a usina não tinha nada comigo não tinha nada assinado fui chefe de turma por conta do encarregado da usina mas a usina não me conhecia quem me conhecia era o empreiteiro do trabalho usina São José de Barcelos meu último emprego foi de pedreiro me aposentei porque não dava condição de prumo por causa da visão aí eu aposentei

Quando foi para a Igreja?

Nós casamos em 62 morávamos no Sossego [esposa] Fomos morar na casa dos outros fomos morar de caseiro muito tempo dez anos nós vinha de lá pra cá travessava a boca da barra agora o povo diz vazante visitava muito a igreja trazia os filhos nas costas três filhos um a um assentado no ombro dele e a água passando e pra eu não me molhar ele travessava também aí trocava de roupa na casa de mamãe

Não tinha ponte?

Não tinha ponte [da Amizade] não [esposa] E nunca a gente achou nada que atrapalhasse aí depois nós tivemos a casinha o dono da casa nos deu um terreno muito bom de Belo Horizonte aí construímos uma casinha já ficou um pouco ruim porque lá não tinha colégio e tinha que estudar aqui no grupo escolar a filha mais velha ficava mais de uma semana na casa da minha mãe e os meus dois meninos estudavam lá mas não tinha aquela professora aí nós viemos comprou esse terreno aqui numa dificuldade aí aos poucos pagando cada um nos seus afazeres eu escalava muito peixe tinha saco de sal grosso escalava bem secava vendia muito pra fora enchia o saco Adílio eu acho que ele carregava nas casas vendendo lavei muita ropa pra fora passei muita ropa meu engomadô era de ferro sacudia pra acender ele

Surgiu de forma não difícil a primeira família que tomou conta daquilo ali vieram pra qui e fizeram um bar que é Fiinho acharam que não podia mais porque tinha um comércio que tinha

243 que movimentar dia de domingo a esposa dele não tinha tempo de i lá pra cuidar da igreja então eles passaram a chave pra mim e fiquei com a chave até agora poucos dias [esposa] Até agora poucos dias não já tem mais de 3 anos É [esposa] É que ele está doente passou zelado pra construir a grande e sair da pequena que tava pequena dimais era ali mesmo ao lado onde é hoje o salão só ficou o fundo o resto derrubou para alargar que dá aula de catequese na Igreja grande Eu trabalhei muito ajuntava tijolos corria muito de bicicleta pedindo cimento ganhei mais de 300 sacos de cimento eu pegava na corda para puxar balde pra cima de ajudante

E depois qual foi o trabalho do Sr? Meu trabalho é que eu era (...) [esposa] Passou a ser (...) da eucaristia (...)

O que fazia como (...)?

Eu trabalhava na Igreja atendendo as pessoas com comunhão e também fora da igreja nas casas leva comunhão é lê um pouco da Bíblia explicava até fazia gracinha brincava com eles pra pode eles fica mais descontraído e eles gostavam muito quando eu levava comunhão pra eles é gente que não podia ir na igreja ficaram doente aí ele levava pra quela gente

Ficava no lugar do Padre? [esposa] Não ele nunca ocupou o lugar do Padre não ele fazia celebração não era igual o Padre (...) ele hoje faz isso quando não tinha missa que às vezes o Padre não pudia vim não é igual o Padre mas só que a pessoa não fica sem a comunhão já estava consagrada preparada para (...) [ele] faze a celebração lê o evangelho cantam rezam cantam muito

Quando deixou de ser (...) e por quê? [esposa] Vai fazer em novembro em novembro você ficou doente aí você parou fez 3 anos mal de Parkson depois pra piorar muito ele teve uma pneumonia cabou mais com ele teve internado mas ninguém achava que ele ia vive ele não tomava banho a gente é que tinha que dá usando frauda ficou ruinzinho hoje ele toma banho sozinho corta as unhas dele ninguém precisa mais fazer a barba dele ele quem faz unha das mãos eu não corto mais só a dos pés que ele tem dificuldade mas a das mãos ele corta não precisa dá comida na boca ele renovo Deus honra aqueles seus servos você não sabe quanta ajuda a gente tem de Jesus é muita muita graças a Deus

Quando moravam na praia de Sossego como era a Ilha dos Mineiros, alagava? [esposa] Não tinha casa nenhuma era um campo havia o córrego [rio Guaxindiba] sempre teve o canal [CEAR] foi feito depois eu não cheguei a vê por que eu trabalhava na usina lavoura roça só chegava em casa era noite

Em Sossego era alagado? [esposa] Não era sequinho

E por trás de Sossego?

244 [esposa] Não era tinha um brejo lá mas foram aterrando o povo foi construindo aquilo foi acabando mas tinha brejo í o povo panhava caranguejo mas foi com o faze a vala esse qui abriu muito [CEAR] parece qui ajudou mais seca

Sobre a Ilha dos Mineiros me fale um pouquinho?

A Ilha dos Mineiros eu não tenho conhecimento pra dizer pra senhora ela tá gravando pra falar uma coisa que eu não sei [esposa] A Ilha dos Mineiros que tinha era que não tinha ninguém muitas vezes a gente arranjava até um camimzinho Pelo que eu sei necessita muito de atendimento de pessoal trabalho aqui não tem trabalho quem sabe pescar pesca quem não sabe fica não sei nem comé qué isso porque eu fui presidente da Associação de Moradores de Guaxindiba 2 anos que marca no estatuto foi antes de ficar doente depois houve outra eleição foi pra acaba com a associação paro pronto acabo

Nessa época já tinha morador na Ilha?

Já ali a gente até passava pra vim pra qui né passava ali por dentro cortava ali na ponte de madera lembra nem lembro [esposa] A gente atravessava muito era na vazanti onde Conceição de Alfeu moro tinha ali uma pontesinha ali tinha uma pontesinha a gente dizia que era a pinguela é aonde a água passa pra vazante boca da que joga lá pra dentro do mar Lá na estrada como quem vem pra Sossego tem uma pontezinha de cimento

Perto da antiga colônia de pescadores havia uma ponte?

Tinha uma ponte [flutuante] que a maré enchia ela subia mas acabaram ela agora ficou fixa passava nós saíamos naquele antigo campo de futebol era por essa pinguela [ponte flutuante] que nós passava no tempo das eleições Serginho foi quem fez aquela ponte tinha muitas casas na Ilha [esposa] Quando você ia mas quando a gente vinha de Sossego não tinha não o primeiro morador lá foi Grimaldo Acho que é logo na esquina num comércio ele morava por ali ele morava ali em baixo na rua principal. [esposa] Grimaldo morou em tantos lugares que nem sei comprava uma casa vendia outra era assim

No início a Ilha tinha problemas?

Ali cresceu uma população muito grande ali não tem água aqui pra vir a água pra qui precisou eu requere lá na CEDAE por que parou lá na esquina

Por que essa água não vai pra Ilha?

Não sei porquê [esposa] Tem poço água boa eles botam bomba

Mas qual o problema da Ilha?

Eu não sei

245 [esposa] Sobre o pessoal a senhora tá perguntando as crianças vem tudo pra catequese e graças a Deus tá trazendo os pais os pais não vinham a minha nora ela é catequista ela é a felicidade dela de vê quando dá aula de catequese as crianças levam boas coisas pros pais e quando chega uma época de aniversário 1ª comunhão Graças a Deus as crianças tão trazendo os pais há muitas pessoas que saem da Ilha para vir a Igreja até um casal de idosos eles vieram de vagarinho mas encontrou meu genro e minha nora que ia pra Santa Crara deu carona a eles e eles foram

Conheceram Zezeca?

Conheci ele trabalhava parece para a prefeitura ele tinha é [esposa] Foi Zezeca que fez isso de vende lote aqui pro povo ele que começo

Ele deixou família? [esposa] Ele arranjava uns biscateszinhos mas eram coisas passageiras eles eram de São Pedro pra lá um pouco de São Pedro o pai trabalhava na prefeitura de São João da Barra.

Zeca também trabalhava na prefeitura que ia falar com ela é Nidi da lojinha Nidia é filha de S. José irmã de Zezeca

Ele foi bom?

E ruim ao mesmo tempo ali onde mora seu Nilson naquele corredo pra baixo onde mora Levi ali tem muito terreno ali que panharam terrenos bons aquilo ali era de Said Said Alexim ele já tinha morrido [esposa] Mas ficou os filhos Eles não tomavam conhecimento disso não [esposa] Gente rica é assim ele foi fazendeiro dono disso aqui isso aqui que nós moramos também não era dele Isso aqui chegou pra Jorge filho dele isso aqui era tudo dele de fora a fora ele chegou a dá terrenos pra Igreja ele deu um terreno até eles me apertaram para tirar a escritura aí eu curri atrás depois disseram mas não precisa tirar a escritura não que o imóvel vale mais do que o terreno

Mas aquele loteamento está no nome de Durval Lima.

Deve ser nós chegamos comprar um terreno lá comprei na imobiliária em Campos pertinho da Igreja São Salvado tudo direitinho depois vendi o terreno e comprei aqui pros meninos

Lembra quando comprou?

5 anos de casado (...) ainda vai fazer agora nesse mês as crianças já pescavam em Macaé né já tem mais de 25 anos

Foi muito caro?

Não ele veio com aquele RV que aconteceu que a senhora comprava por 10 mil ele vinha parar em zero ele foi diminuindo foi bom parcelado quando vendi tive lucro por que recebi todo vendi a menina de D. Leti

Deram algum documento no negócio?

246 Deram recibo eu não cheguei a passar escritura não por que eu vendi pra outros

Esse terreno era bem situado ou era junto ao córrego?

Era bem situado não tinha nada com o córrego tinha água boa

Nessa altura havia muita gente morando na ilha?

Não senhora era pouca tinha algumas fazendo

As pessoas eram daqui mesmo ou vieram de outro lugar?

Ah vieram de outro lugar tem muitos sobrados ali que são de pessoas mais altas

Depois de Zezeca?

As pessoas foram tomando conta dos seus lotes foram construindo meu irmão mesmo tinha ali um terreno eu não sei como é que foi que ele adquiriu o terreno ele não tinha condições de compra mesmo ele começou a casinha dele lá e depois ele morreu distruiram tudo

E na Ilha tem problemas?

Dizem que tem muito de droga tem muita gente boa

A ilha veio perturbar um pouco Guaxindiba?

Não deixou de perturbar por que aqui no Pedregal aqui tem apelido de Pedregal aqui não tem não aqui é um paraíso

Estudou [esposa] até que série? [esposa] 3ª série também não é como é agora agora tem mais facilidade eu chegava da escola ia ajuda a mãe uma filharada meus irmãos aí é que tá

Havia problema de divórcio?

Não não havia essas coisas não hoje de vez em quando a gente sabe que fulano separou de ciclano

Trabalhava [esposa] na Igreja? [esposa] Trabalhava porque não tinha zeladora enquanto o marido trabalhava levava balde vassoura saco levava tudo antes não tinha água nada

A relação dessa Igreja com a Ilha era muito pouca por que não tinha quase gente, mas e agora?

Nós fazia um trabalho eu e (...) [esposo] nas terças feiras nas casas fazia um culto tinha muita gente era aquele chamariz ficou uma beleza o grupo geral dos homens foi crescendo um pouco eles gostavam que a gente fosse lá antes de mim não iam na Ilha passou a ir comigo agora não tá fazendo mais não [esposa] Tinha um grupo das mulheres menor iam nas casas elas passaram a fazer esse trabalho elas tinham menos ocupação agora ainda tem o grupo dos homens existe o grupo dos homens eles estão inspirados esse é o encontro na igreja mas quando tem um doente precisa ou outro que está em dificuldade o grupo é todo de Guaxindiba mas parece que tem também gente que é da Ilha dos Mineiros meu filho é (...) tem a nora do lado que também é (...) tem a outra que é (...) os netos tudo estão na Igreja você vai gostar de conversar com eles.

247 TFEA 33 - Entrevistado 108, 2013

248

APÊNDICE C - Pesquisa Etnográfica: conjunto de 21 fichas técnicas codificadas Elaboração da autora, 2014 FTEA 1- Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ........................................................... 249 FTEA 2- Casa Popular, tipo CEHAB, Projeto, 2002 ........................................................................... 250 FTEA 3- Casa Popular, Baixa Renda, Modelo, 2002.......................................................................... 251 FTEA 4- Banheiros Residenciais para Famílias de Baixa Renda (2012) ........................................... 252 FTEA 5- Loteamentoַ“IlhaַdosַMineiros”ַ(LIM) ................................................................................... 253 FTEA 6- LIM, Campinho - Projeto Zico, 2014 ..................................................................................... 254 FTEA 7- Entrevistado 005, 2014 ......................................................................................................... 255 FTEA 8- Entrevistado 012, 2014 ......................................................................................................... 256 FTEA 9- Entrevistado 013, 2014 ......................................................................................................... 257 FTEA 10- Entrevistado 017, 2013 ....................................................................................................... 258 FTEA 11- Entrevistado 024, 2014 ....................................................................................................... 259 FTEA 12- Entrevistado 025, 2014 ....................................................................................................... 260 FTEA 13- Entrevistado 026, 2014 ....................................................................................................... 261 FTEA 14- Entrevistado 028, 2014 ....................................................................................................... 262 FTEA 15- Entrevistado 035, 2014 ....................................................................................................... 263 FTEA 16- Entrevistado 042, 2014 ....................................................................................................... 264 FTEA 17- Entrevistado 050, 2014 ....................................................................................................... 265 FTEA 18- Entrevistado 062, 2014 ....................................................................................................... 266 FTEA 19- Entrevistado 071, 2014 ....................................................................................................... 267 FTEA 20- Entrevistado 079, 2014 ....................................................................................................... 268 FTEA 21- Entrevistado 089, 2014 ....................................................................................................... 269

249 FTEA 1- Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01) Situação. (02 - 04) Vistas: principal, lateral direita e posterior – parte. (05) 1º piso: recepção, coordenação e serviços. (06) 2º piso: instalação sanitária comum, por gênero, depósito, sala de atividades/convivência e consultórios de psicologia e assistência social, comum e acessibilidade comprometida. (07- 09) Evento: dia das mães. (10) Escada para o 2º piso: com deficiência nos degraus.

(11) Instalação sanitária do 1º piso: comum por gênero e sem box de chuveiro. (12) Cozinha: área e circulação inferior ao regulamentar e layout de trabalho não apropriado; rampa de circulação: acessibilidade comprometida. (13) Entrada principal: recepção e administração sem privacidade; área de serviço: externa e descoberta. Lote: 12x30m. Cota de soleira - cerca de 60cm - acima do nível da rua, terreno natural. Ausência de saneamento básico público, obras gerais de manutenção, paisagismo, espaço de lazer/convivência, instalação sanitária por gênero e bicicletário.

250 FTEA 2- Casa Popular, tipo CEHAB, Projeto, 2002

Plantas e foto: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01) Situação. (02 - 05) Projeto básico de casa, sob o Contrato de Repasse PAC, META 04, composto por: quarto, sala comum à cozinha, instalação sanitáriaַeַáreaַdeַserviço,ַ“tanque”ַnoַexterior.ַ(02ַeַ05)ַ1ºַpiso:ַtiposַAַeַB.ַ(02) Tipo A: área bruta de construção: 31,42 m²; área útil: 25,92 m². Sala: 12,21 m², separada da cozinha: 3,82 m²; I.S. 2,17 m²; quarto: 7,72 m²; varanda de entrada principal: 3,20 m²; área de serviço = 1,62 m². (05) Tipo B: área bruta de construção: 31,42 m²; área útil: 26,24 m². Sala: 12,21 m², cozinha: 3,82 m²; quarto: 7,72 m²; varanda de entrada principal: 3,20 m², instalação sanitária: 2,17 m² e área de serviço: 1,62 m². Os 2 tipos de casa têm problemas de zoneamento, acessibilidade, estruturação na disposição dos cômodos, cozinha e instalação sanitária com dimensões inferior ao regulamentar. Cota de soleira está, cerca de 15 cm, acima do nível da rua, terreno natural.

251 FTEA 3- Casa Popular, Baixa Renda, Modelo, 2002

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01) Situação. (02 e 03) Construção da casa modelo: 2 quartos, sala cozinha, instalação sanitária e área de serviço no exterior - aproveitamento de mão-de-obra de estágio no curso de Técnicas de Construção Civil e entrega de certificado. (04) 1º piso: dedução de divisões. (05) Cobertura: implantação em lote fracionado. (06) Planta de situação. (07). Casa inacabada, ausência de varanda, tanque, pintura geral, saneamento básico (uso de água de poço). Cota de soleira, cerca de 15 cm, acima do nível da rua, terreno natural. (08) Praça.

252 FTEA 4- Banheiros Residenciais para Famílias de Baixa Renda (2012)

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01) Situação: construção em habitação de baixa renda; (02 - 05) Projeto para construção de 91 banheiros em habitação de baixa renda – contrato de repasse PAC/META 03 composto por: paredes exteriores em alvenaria de tijolo,ַ rebocadaַ eַ pintada,ַ coberturaַ emַ telhaַ deַ fibrocimento,ַ incluiַ instalaçãoַ caixaַ d’águaַ eַ tanque;ַ eַ paredesַ interiores com revestimento impermeável em parede e piso, instalação de equipamentos sanitários (vaso sanitário, lavatórioַeַchuveiro),ַportaַeַvãoַdeַiluminaçãoַeַventilaçãoַ(vãoַfixoַemַ“cobogó”)ַeַinstalaçõesַelétricas,ַligaçõesַ de rede de água, esgoto e eletricidade. (06 - 08) Construção inacabada, sem conclusão dos trabalhos previstos nesse projeto.

253 FTEA 5- Loteamento “Ilha dos Mineiros” (LIM)

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01) Situação do LIM. (02) Projeto aprovado do LIM, sob exigências. (03) Exigências e condições para aprovação - reformulação; (04) Quadro de quadras e lotes; (05) LIM irregular - atualmente, surgimento de novas quadras e novos usos (setas em vermelho); (06) 18 lotes, desanexados do loteamento, com escritura; (07) Expansão do LIM.

254 FTEA 6- LIM, Campinho - Projeto Zico, 2014

Fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01) Situação. (02) Inauguração do Projeto Zico10. (03) Limite do campinho: improvisado, sem infraestrutura básica (vedação, sanitários, vestiários, água, lugar protegido do sol e chuva para apoio, piso inapropriado e iluminação insuficiente e mal planejada. (04) e (05) Tenda p/ o evento: distribuição dos uniformes às crianças.

255 FTEA 7- Entrevistado 005, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01 e 06) Situação no LIM. (02) Casa com placa anunciando sua venda. (03) Casa abastecida por água da rede pública, vinda de bairro vizinho por cano que atravessa o mangue do rio Guaxindiba. Plantas (04) 1º piso - cozinha, despensa e arrumo (07); ventilação cruzada (09 a 11)ַporַvãosַemַ“cobogó”.ַ(12) Pequeno quintal, nos fundos. (05) Cobertura - laje com problemas de infiltrações. (08) Implantação.

Presença de umidade no pavimento e rodapé das paredes. Inadequação da setorização (social, íntima e serviço). Uso de água de poço para rega e limpeza. Terreno com desnível - cota de soleira da casa abaixo do nível da RJ 196.

256 FTEA 8- Entrevistado 012, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01 e 04) Situação no LIM. (02 e 03) Vista da entrada principal. Plantas: 1º piso (05) - 2 quartos; cobertura (06) em fibrocimento, sem forro; ampliação da casa (07) - mais 2 quartos e 1 instalação sanitária. (08) Sala e copa. (09) Cozinha e instalação sanitária (acesso pela cozinha), com problemas de infiltração.

(10) um quarto com área inferior ao regulamentar, sem revestimento no piso e pé-direito inferior ao regulamentar. (11) Quarto principal. Setorização da casa inadequada (social, íntima e serviço. (12 e 13) Lote com dimensões 17,7 x 26m. Cota de soleira - cerca de 30cm - acima do nível da rua. Terreno natural, úmido, junto a margem do rio Guaxindiba, sem saneamento básico público. Casa desajustada ao tamanho da família.

257 FTEA 9- Entrevistado 013, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01 e 04) Situação no LIM. (02 e 03) Chácara com quatro habitações. (02) Anexação de parte de rua (R) e praça (P). (03) Lote 1: habitação multifamiliar (C - do entrevistado). Lote 2: habitação individual. Casas abastecidas por água da rede pública. Uso de água de poço e de energia eólica para rega e limpeza. (05, PS) Piscina. (Casa C) 2º piso - cobertura em telha de barro, alvenaria em tijolo, rebocada e pintada, esquadrias em madeira pintada. Casa estimada, bem conservada, em terreno com desnível, junto ao rio Guaxindiba.

258 FTEA 10- Entrevistado 017, 2013

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2013.

(01 e 03) Situação no LIM. (02 e 10) Vista principal e lateral direita da casa A (primeira construção) e casa B (segunda construção, com ateliê de costura como anexo). (04) Plantas: 1º piso, cota do terreno e de soleira abaixo da cota de nível das ruas - exceto a cota do ateliê (anexo da casa B); (05) cobertura em telhas de fibrocimento, sem forro. Casa B, habitada: entrada pela RJ196, sem afastamento adequado (06); sala (07); varanda de entrada principal e estacionamento (08) - no limite do lote; cozinha comum a área de serviço (09); quarto principal e instalação sanitária insalubres; ausência de iluminação e ventilação naturais. Casa A, desativada – exceto no verão: alagável; setorização inadequada (social, íntimaַ eַ serviço);ַ caixaַ d’águaַ improvisadaַ eַ compartilhada;ַ (11) varanda de entrada principal, com rebaixo no piso para escoamento de águas pluviais; (12) instalação sanitária sem revestimento de parede e piso, insalubre e com problemas de acessibilidade. Insegurança pela circulação de automóveis na RJ196. Ausência de: obras gerais de manutenção; conforto térmico ou acústico; saneamento básico público.

259 FTEA 11- Entrevistado 024, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01) Situação no LIM. (02 a 07) Vista de seis construções: habitações e uma loja. (05 a 07) Lote fracionado em três, para familiares. (06) Habitação da entrevista. Plantas - (09 e 10) 1º piso e cobertura das três últimas construções. (09) 1º piso da casa referente à entrevista - habitação principal (06) -, os quartos e a instalação sanitária têm deficiência na acessibilidade; apenas a cozinha e área de serviço têm ventilação e iluminação natural; os demais têm vãos de ventilação e iluminação secundários; ausência de forro; sem reboco exterior em parte das paredes; setorização inadequada (social, serviço e íntima). (10) Cobertura dessas casas da entrevista. Casa não ajustada ao tamanho da família. Cota de soleira, cerca de 15cm acima do nível da rua. Terreno natural. Sem saneamento básico. (03) habitação do 1º morador no LIM. (11) rede sobre muro contra bolas perdidas provenientes do campinho (08).

260 FTEA 12- Entrevistado 025, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01, 02 e 05) Situação no LIM. Dezoito lotes. (03) Vista da fachada lateral esquerda e principal – parte – de habitação com duas suítes e um quarto. Planta (04) - 1º piso - casa com varanda e lugar de estacionamento (03, 06 e 07), em estrutura de concreto armado, alvenaria de tijolo furado, laje, vãos interiores e exteriores em madeira pintada, revestimento de piso cerâmico interior/exterior, paredes rebocadas e pintadas. Tem estrutura para construir o 2º piso. Cota de soleira, cerca de 80 cm acima do nível da rua. Terreno natural. Casa estimada e bom estado de conservação, mas sem saneamento básico público.

261 FTEA 13- Entrevistado 026, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01) Situação no LIM. Lote fracionado em três. (02) Vista lateral direita – e área de serviço exterior, inacabada. (03) Vista posterior - parede sem reboco. Plantas - (04) 1º piso - sala e copa reversível a quarto (07); copa-cozinha (08) com área inferior ao regulamentar e layout de trabalho inadequado problemas de acessibilidade e segurança - sem janela nem lava-louças; banheiro inacabado (09), sem descarga, nem lavatório, chuveiro e porta; quarto menor (11) com dimensões inferiores ao regulamentar; quarto maior (12) não indicado para seis pessoas; e quintal (13). (05) Coberturas, em fibrocimento e sem forro. (06) Casa da entrevistada, principal, não ajustada ao tamanho da família. Setorização inadequada (social,ַ íntimaַ eַ serviço.ַ Ausênciaַ deַ caixaַ d’água.ַ Semַ saneamentoַ básicoַ - com fossa sumidouro, poço e contador de eletricidade. Pé-direito inferior ao regulamentar. Cota de soleira, cerca de 10 cm acima do nível da rua. Terreno natural, úmido.

262 FTEA 14- Entrevistado 028, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01, 02 e 05) Situação no LIM. Lote fracionado para filho. Plantas - (03) 1º piso - quatro quartos, sendo três com área inferior ao regulamentar; cozinha (06 e 07) com layout de trabalho não apropriado (geladeira desativada); instalação sanitária com acesso pela cozinha (10) e problemas hidráulicos no vaso sanitário e chuveiro; área de serviço (08) na varanda da cozinha; quintal com fossa e estendal (09), comum à onstrução anexa, nos fundos, com dois pisos, pertencente a um dos filhos. (04) Cobertura telha de barro e sem forro. Cota de soleira, cerca de 30 cm acima do nível da rua. Terreno natural. Casa não ajustada ao tamanho da família. Sem saneamento básico público.

263 FTEA 15- Entrevistado 035, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01 e 07) Situação no LIM. (02) Vista principal. Vista posterior: hall (03 e 08) por entrada única (10). (04 e 08) Conjugado de quarto, sala e parte de cozinha. Plantas: 1º piso (05); cobertura (06), em fibrocimento e sem forro - apenas laje sobre a instalação sanitária de apoio à caixa d’água.ַ (09) instalação sanitária, compartilhada, com ausência de: revestimento cerâmico nas paredes; lavatório; e descarga no vaso sanitário. (10) Área de serviço, ao ar livre: lava-louças e tanquinho, amovíveis e compartilhados com a casa anexa. Ausência de: obras gerais de manutenção; acabamentos; e saneamento básico público. Casa desajustada ao tamanho da família. Terreno natural. Cota de soleira - cerca de 40 cm - acima do nível da rua.

264 FTEA 16- Entrevistado 042, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01 e 07) Situação no LIM. Dois lotes fracionados em três (A, mãe; B e C, de dois filhos). Plantas: (05) 1º piso - quarto principal (09) sem privacidade, com porta, pé-direito, dimensões e acessibilidade irregulares; (06) Cobertura de duas habitações e uma em construção, todas com telha em fibrocimento, sem forro. (02 a 04) Vista principal e posterior da casa da mãe. (08, 11 e 12) Setorização inadequada – social, íntima e serviço. (09) Quarto principal com instalação elétrica não apropriada. (10) Dois outros quartos, mas inacabados, sem revestimento de piso e de parede, e vedação não apropriada. (13) Cozinha incompleta, sem lava-louças (este, na varanda dos fundos). (14) Instalação sanitária com problemas hidráulicos. Cota de soleira - cerca de 20 cm acima do nível da rua. Terreno natural. Ausência de obras gerais e falta de reboco nas paredes exteriores e interiores de dois quartos. Carência de manutenção e saneamento básico público.

265 FTEA 17- Entrevistado 050, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01 e 04) Situação no LIM. (02) Vista principal da casa. (03) Acesso por casa anexo – fundos. Plantas (05) 1º piso – com altura inferior ao regulamentar - conjugado de copa, cozinha, quarto e sala, e varanda de entrada principal (07 a 12). Ausência de: revestimento apropriado de parede e piso; instalação elétrica; acessórios (layout de trabalho inadequado (geladeira/fogão); área de serviço; cozinha; sala. Banheiro, tanquinho e lava-louças, de uso compartilhado. Instalação sanitária incompleta. (06) Cobertura de telha em fibrocimento, mas sem forro. Presença de umidade em piso e parede, cota de soleira, cerca de 0,50cm, acima do nível da rua. Terreno natural. Casa mal infraestruturada e desajustada ao tamanho da família. Sem saneamento básico.

266 FTEA 18- Entrevistado 062, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01) Situação no LIM. (02, L2) Acesso de fração de lote. (03) Vista principal da casa. Plantas - (04) 1º piso: cozinha (06, 07 e 10 a 12) – entrada principal da casa - sem janela nem revestimento apropriado de parede, piso e teto, sem instalação elétrica nem acessórios, com layout de trabalho não apropriado; suíte (08, 09 e 13), sem revestimento adequado - parede, piso e teto – nem instalação elétrica e acessórios; instalação sanitária inacabada, completa e com dimensões inferiores ao regulamentar. (05) Cobertura, telha em fibrocimento e sem forro. Ausência de: infraestrutura básica; saneamento básico público;ַeַcaixaַd’águaַelevada.ַCotaַdeַsoleira,ַcercaַdeַ30ַcmַacimaַdoַnívelַdaַrua.ַTerrenoַnatural.

267 FTEA 19- Entrevistado 071, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01 e 06) Situação no LIM. Fracionamento familiar de lote (lateral direita). (02) Vista principal das construções. (03 e 08) Construção anexa em parte do lote. (07) Vista norte, com levantamento de cobertura. Plantas - (04) 1ª piso - quarto, sala, cozinha e instalação sanitária; ventilação cruzada por vãosַ emַ “cobogó”,ַ emַ paredesַ cegas;ַ paredesַ emַ alvenariaַ deַ tijoloַ furado,ַ rebocadaַ eַ pintada;ַ esquadriasַemַmadeiraַpintada;ַlajeַapenasַsobreַaַinstalaçãoַsanitáriaַparaַapoioַdeַcaixaַd’água;ַ setorização (social, serviço e íntima) inadequada. (05) Cobertura – telha em fibrocimento, sem forro.

Cota de soleira, cerca de 15cm acima do nível da rua. Terreno natural. Ausência de saneamento básico.

268 FTEA 20- Entrevistado 079, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01 e 02) Situação no LIM. Plantas - Construção anexa: (03) 1º piso - varanda de entrada principal (04); hall e lavatório (05); conjugado de sala, copa e cozinha (06) - sem revestimento apropriado de parede, piso e teto, nem instalação elétrica nem acessórios, com layout de trabalho na cozinha não apropriado (geladeira, lava-louças e fogão); instalação sanitária incompleta (07) - chuveiro (com defeito) e vaso sanitário; área de serviço exterior (08); fossa sumidouro (09); Cobertura (11) - em fibrocimento e sem forro, pé-direito inferior ao regulamentar. Cota de soleira, cerca de 5cm do nível da rua. Terreno natural, úmido. Construção precária, sem manutenção nem saneamento básico público. (10) Casa do filho – lugar de apoio, para dormir.

269 FTEA 21- Entrevistado 089, 2014

Plantas e fotos: Autoria e acervo da Autora, 2014.

(01 e 04) Situação no LIM. Lote fracionado e três habitações com coberturas em fibrocimento e sem forro. (02 e 03) Vista de parte da casa e churrasqueira de uso comum. (03 e 12) Três casas e uma loja, em 1 lote e meio. Plantas - (05) 1º piso - casa principal (07 a 11) com problemas nas instalações hidráulicas e de infiltrações. (06) 2º piso - casa de um filho; casa de outro filho (12), geminada à loja: anexa a construção principal, junto ao alinhamento do lote - varanda em logradouro público. (13) ausência de reboco nas paredes a poente, das três casas. (14) Cota de soleira da casa principal, cerca de 10 cm acima do nível da rua. Terreno natural, úmido. (15) Cozinha com layout de trabalho inapropriado. Ausência de: saneamento básico público; obras gerais de acabamento; manutenção; e reforma geral.

270 APÊNDICE D - Matriz de análise qualitativa das ENTREVISTAS: Habitabilidade no LIM Elaboração da autora, 2014

271

272

273

274

275

APÊNDICE E - Matriz de análise qualitativa das ENTREVISTAS: Vulnerabilidade no LIM Elaboração da autora, 2014

276

277

278

279 APÊNDICE F - Matriz de análise qualitativa das ENTREVISTAS: Construção Cultural no LIM Elaboração da autora, 2014

280

281

282

283 APÊNDICE G - Matriz de análise qualitativa das FICHAS TÉCNICAS: Habitabilidade no LIM Elaboração da autora, 2014

284

285

APÊNDICE H - Matriz de análise qualitativa das FICHAS TÉCNICAS: Vulnerabilidade no LIM Elaboração da autora, 2014

286

287 APÊNDICE I - Matriz de análise qualitativa das FICHAS TÉCNICAS: Construção Cultural no LIM Elaboração da autora, 2014

288

289

290

ANEXOS ANEXO A - Transformação pela Lógica de Estado - Lei de Zoneamento (não achada) ................... 291 ANEXO B - Transformação pela Lógica de Mercado – Recibo de Quitação de lotes no LIM ............ 292 ANEXO C - Transformação pela Lógica de Mercado - Escritura de lotes no LIM ............................. 293 ANEXO D - LIM como lugar de viver - Mapas Mentais (62) e Poemas de Desenhos (61) ................ 295

291

ANEXO A - Transformação pela Lógica de Estado - Lei de Zoneamento (não achada)

Fonte: Lamego (1974b, p.26)

292

ANEXO B - Transformação pela Lógica de Mercado – Recibo de Quitação de lotes no LIM

Fonte: Entrevistado (Eneas Peçanha, 1997)

293

ANEXO C - Transformação pela Lógica de Mercado -

Escritura de lotes no LIM

294

Fonte: Eneas Peรงanha, 1999

295

ANEXO D - LIM como lugar de viver - Mapas Mentais (62) e Poemas de Desenhos (61) MMPD 1- Entrevistado 003, 2013 ....................................................................................................... 297 MMPD 2- Entrevistado 004, 2013 ....................................................................................................... 297 MMPD 3- Entrevistado 006, 2013 ....................................................................................................... 298 MMPD 4- Entrevistado 010, 2013 ....................................................................................................... 298 MMPD 5- Entrevistado 011, 2013 ....................................................................................................... 298 MMPD 6- Entrevistado 014, 2013 ....................................................................................................... 299 MMPD 7- Entrevistado 020, 2013 ....................................................................................................... 299 MMPD 8- Entrevistado 022, 2013 ....................................................................................................... 300 MMPD 9- Entrevistado 027, 2013 ....................................................................................................... 300 MMPD 10- Entrevistado 030, 2013 ..................................................................................................... 300 MMPD 11- Entrevistado 031, 2013 ..................................................................................................... 301 MMPD 12- Entrevistado 036, 2013 ..................................................................................................... 301 MMPD 13- Entrevistado 037, 2013 ..................................................................................................... 301 MMPD 14- Entrevistado 040, 2013 ..................................................................................................... 302 MMPD 15- Entrevistado 041, 2013 ..................................................................................................... 302 MMPD 16- Entrevistado 044, 2013 ..................................................................................................... 303 MMPD 17- Entrevistado 046, 2013 ..................................................................................................... 303 MMPD 18- Entrevistado 048, 2013 ..................................................................................................... 304 MMPD 19- Entrevistado 052, 2013 ..................................................................................................... 304 MMPD 20- Entrevistado 053, 2013 ..................................................................................................... 305 MMPD 21- Entrevistado 054, 2013 ..................................................................................................... 305 MMPD 22- Entrevistado 055, 2013 ..................................................................................................... 306 MMPD 23- Entrevistado 056, 2013 ..................................................................................................... 306 MMPD 24- Entrevistado 058, 2013 ..................................................................................................... 307 MMPD 25- Entrevistado 059, 2013 ..................................................................................................... 307 MMPD 26- Entrevistado 060, 2013 ..................................................................................................... 308 MMPD 27- Entrevistado 064, 2013 ..................................................................................................... 308 MMPD 28- Entrevistado 065, 2013 ..................................................................................................... 308 MMPD 29- Entrevistado 068, 2013 ..................................................................................................... 309 MMPD 30- Entrevistado 069, 2013 ..................................................................................................... 309 MMPD 31- Entrevistado 070, 2013 ..................................................................................................... 310 MMPD 32- Entrevistado 072, 2013 ..................................................................................................... 310 MMPD 33- Entrevistado 073, 2013 ..................................................................................................... 310 MMPD 34- Entrevistado 075, 2013 ..................................................................................................... 311 MMPD 35- Entrevistado 076, 2013 ..................................................................................................... 311 MMPD 36- Entrevistado 081, 2013 ..................................................................................................... 311 MMPD 37- Entrevistado 083, 2013 ..................................................................................................... 312 MMPD 38- Entrevistado 084, 2013 ..................................................................................................... 312 MMPD 39- Entrevistado 086, 2013 ..................................................................................................... 312

296

MMPD 40- Entrevistado 087, 2013 ..................................................................................................... 313 MMPD 41- Entrevistado 090, 2013 ..................................................................................................... 313 MMPD 42- Entrevistado 094, 2013 ..................................................................................................... 314 MMPD 43- Entrevistado 095, 2013 ..................................................................................................... 314 MMPD 44- Entrevistado 096, 2013 ..................................................................................................... 314 MMPD 45- Entrevistado 097, 2013 ..................................................................................................... 315 MMPD 46- Entrevistado 098, 2013 ..................................................................................................... 315 MMPD 47- Entrevistado 100, 2013 ..................................................................................................... 316 MMPD 48- Entrevistado 105, 2013 ..................................................................................................... 316 MMPD 49- Entrevistado 106, 2013 ..................................................................................................... 317 MMPD 50- Entrevistado 107, 2013 ..................................................................................................... 317 MMPD 51- Entrevistado 109, 2013 ..................................................................................................... 318 MMPD 52- Entrevistado 110, 2013 ..................................................................................................... 319 MMPD 53- Entrevistado 111, 2013 ..................................................................................................... 319 MMPD 54- Entrevistado 112, 2013 ..................................................................................................... 320 MMPD 55- Entrevistado 113, 2013 ..................................................................................................... 320

297 MMPD 1- Entrevistado 003, 2013

MMPD 2- Entrevistado 004, 2013

298 MMPD 3- Entrevistado 006, 2013

MMPD 4- Entrevistado 010, 2013

MMPD 5- Entrevistado 011, 2013

299 MMPD 6- Entrevistado 014, 2013

MMPD 7- Entrevistado 020, 2013

300 MMPD 8- Entrevistado 022, 2013

MMPD 9- Entrevistado 027, 2013

MMPD 10- Entrevistado 030, 2013

301 MMPD 11- Entrevistado 031, 2013

MMPD 12- Entrevistado 036, 2013

MMPD 13- Entrevistado 037, 2013

302 MMPD 14- Entrevistado 040, 2013

MMPD 15- Entrevistado 041, 2013

303 MMPD 16- Entrevistado 044, 2013

MMPD 17- Entrevistado 046, 2013

304 MMPD 18- Entrevistado 048, 2013

MMPD 19- Entrevistado 052, 2013

305 MMPD 20- Entrevistado 053, 2013

MMPD 21- Entrevistado 054, 2013

306 MMPD 22- Entrevistado 055, 2013

MMPD 23- Entrevistado 056, 2013

307 MMPD 24- Entrevistado 058, 2013

MMPD 25- Entrevistado 059, 2013

308 MMPD 26- Entrevistado 060, 2013

MMPD 27- Entrevistado 064, 2013

MMPD 28- Entrevistado 065, 2013

309 MMPD 29- Entrevistado 068, 2013

MMPD 30- Entrevistado 069, 2013

310 MMPD 31- Entrevistado 070, 2013

MMPD 32- Entrevistado 072, 2013

MMPD 33- Entrevistado 073, 2013

311 MMPD 34- Entrevistado 075, 2013

MMPD 35- Entrevistado 076, 2013

MMPD 36- Entrevistado 081, 2013

312 MMPD 37- Entrevistado 083, 2013

MMPD 38- Entrevistado 084, 2013

MMPD 39- Entrevistado 086, 2013

313 MMPD 40- Entrevistado 087, 2013

MMPD 41- Entrevistado 090, 2013

314

MMPD 42- Entrevistado 094, 2013

MMPD 43- Entrevistado 095, 2013

MMPD 44- Entrevistado 096, 2013

315

MMPD 45- Entrevistado 097, 2013

MMPD 46- Entrevistado 098, 2013

316

MMPD 47- Entrevistado 100, 2013

MMPD 48- Entrevistado 105, 2013

317

MMPD 49- Entrevistado 106, 2013

MMPD 50- Entrevistado 107, 2013

318

MMPD 51- Entrevistado 109, 2013

319

MMPD 52- Entrevistado 110, 2013

MMPD 53- Entrevistado 111, 2013

320

MMPD 54- Entrevistado 112, 2013

MMPD 55- Entrevistado 113, 2013