O golpe civil - militar de 1964 no sul do brasil

O GOLPE CIVIL-MILITAR DE 1964 NO SUL Alessandro Batistella (Org.) DO BRASIL

Alessandro Batistella (Org.)

O golpe civil-militar de 1964 no Sul do Brasil

Chapec贸, 2014

Reitor: Odilon Luiz Poli Vice-Reitora de Ensino, Pesquisa e Extensão: Maria Aparecida Lucca Caovilla Vice-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Claudio Alcides Jacoski Vice-Reitor de Administração: Antônio Zanin Diretora de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Valéria Marcondes

Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

981.816 O golpe civil-militar de 1964 no Sul do Brasil / Alessandro

G627g

Batistella (Org.). - Chapecó : Argos, 2014.

387 p. ; 23 cm. - (Debates ; 12)

Inclui bibliografias ISBN: 978-85-7897-138-0

1. Brasil, Sul - História. 2. Brasil – História – Revolução, 1964. I. Batistella, Alessandro. II. Título. III. Série.

CDD 981.816

Catalogação elaborada por Caroline Miotto Pecini CRB 14/1178 Biblioteca Central da Unochapecó

Todos os direitos reservados à Argos Editora da Unochapecó Av. Atílio Fontana, 591-E – Bairro Efapi – Chapecó (SC) – 89809-000 – Caixa Postal 1141 (49) 3321 8218 – argos@unochapeco.edu.br – www.unochapeco.edu.br/argos Coordenador: Dirceu Luiz Hermes Conselho Editorial Titulares: Murilo Cesar Costelli (presidente), Clodoaldo Antônio de Sá (vice-presidente), Celso Francisco Tondin, Dirceu Luiz Hermes, Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues, Maria Aparecida Lucca Caovilla, Ricardo Rezer, Rodrigo Barichello, Tania Mara Zancanaro Pieczkowski, Vagner Dalbosco, Valéria Marcondes Suplentes: Arlene Renk, Fátima Ferretti, Fernando Tosini, Hilário Junior dos Santos, Irme Salete Bonamigo, Maria Assunta Busato

Sumário

7 Apresentação

Enrique Serra Padrós

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O golpe civil-militar de 1964 e o Rio Grande do Sul: historiografia e história Diorge Alceno Konrad Rafael Fantinel Lameira

O golpe de 1964 no Rio Grande do Sul: da conspiração à “Operação Farroupilha” Murilo Zardo

135 Às portas de 1964: a Campanha da Legalidade e os Grupos dos Onze em Santa Catarina Diego Pacheco

189 A sacralização do golpe civil-militar de 1964 em Santa Catarina Alceu Kaspary

217 Os anos iniciais da década de 1960 e o golpe civil-militar de 1964 no Paraná Alessandro Batistella

305 The day after: o Congresso Nacional no dia seguinte ao golpe de 1964 Adelar Heinsfeld

343 A imagem de Goulart na construção de uma lógica do golpe de 1964 no Brasil nas páginas do diário argentino La Nación Helder Gordim da Silveira

369 Para além da sala de visitas: vislumbres do interior da ditadura civil-militar no Sul do Brasil Célia Gonçalves Gouveia

Apresentação

Resgatando histórias, revelando memórias, redefinindo focos: os 50 anos do golpe de 1964 desde coordenadas sulistas O livro O golpe civil-militar de 1964 no Sul do Brasil, organizado por Alessandro Batistella, é uma bela contribuição ao atual debate vinculado ao “passado que não passa”: a experiência de uma ditadura muitas vezes – e ainda hoje – relativizada, invisibilizada, negada ou esvaziada de conteúdo. Ditadura que marcou a ferro e fogo significativa parcela da população brasileira; entretanto, disseminando muitos dos seus efeitos pelo conjunto da sociedade sem que esta tivesse maior consciência disso.

Inegavelmente, a pesquisa histórica da temática vem se consolidando há pelo menos uma década. Mas o debate sobre a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), e sua nomeação em 2012, estimulou positivamente a produção de conhecimento. Apesar das suas limitações, controvérsias e descaminhos, a CNV tem gerado interesse 7

pelo tema e obrigou os meios de comunicação a lhe dedicar espaço e colocar seu trabalho na pauta do dia a dia, o que, por sua vez, repercutiu com grande impacto na sociedade. O surgimento de comissões estaduais e municipais, comitês de apoio e de pressão (institucionais, sindicais, universitários, entre outros), combinados com ações do governo federal – às vezes ambivalentes e contraditórias –, redimensionou, de forma inédita, o interesse pela história recente, o que, de alguma forma, reverberou nas escolas, na produção cinematográfica, nas distintas formas de expressão artística, no mundo editorial, etc. De fato, passados 50 anos do golpe de 1964, a sociedade brasileira se percebeu como parte dessa história, seja como experiência vivida, seja como legado herdado, e debateu e interagiu com os inúmeros eventos, atos e manifestações que se espalharam pelo País e através da massiva informação – de qualidade desigual – divulgada através da interface midiática (jornais, TV, internet, etc.).

Claro que nada é gratuito; há muito jogo de cena. Há casos de empresas ou indivíduos que consolidaram sua camaleonização democrática apagando do seu passado registros inconvenientes; outros fazem mea culpa pouco convincente. (Arrependimento tardio autêntico ou puro cinismo?) Como se isso fosse pouco, enquanto se aguarda o relatório final da CNV, vislumbra-se indignação crescente com o Supremo Tribunal de Justiça, por rejeitar o pedido de revisão da Lei da Anistia ou da sua interpretação (e assim acabar, de vez, com uma impunidade que envergonha parte da cidadania). Por outro lado, espera-se, com expectativa, o veredicto final da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) às diversas acusações feitas contra o Estado e relacionadas com os crimes de lesa-humanidade e a imunidade perpétua garantida à impunidade. Como se vê, um prato cheio que conecta dialeticamente a pesquisa com a dimensão política e cidadã de um debate que diz respeito a todos. Ou seja, temos a oportunidade de ver como se dirime tal problemática, como se fosse um exercício 8

metodológico da História Presente em relação ao passado traumático, o qual está sendo recuperado, reconstituído e redefinido, com muitas questões e possibilidades em aberto e com sérias implicações jurídicas, políticas e éticas; quer dizer, como se fosse um verdadeiro laboratório funcionando diante dos nossos olhos e no qual não somos simples espectadores, pois nos diz respeito como pesquisadores e como cidadãos.

Reafirmando conceitos: 1964 – golpe de Estado e golpe de classes A instabilidade, produzida por múltiplas causas, foi uma marca do início dos anos 60 do século XX no Brasil. Havia uma crise socioeconômica que se arrastava desde o governo Kubitschek e gerava tensões, demandas e frustrações. Também havia um estranhamento resultante de uma situação inédita, a renúncia de Jânio Quadros, fato impensável poucas semanas antes da crise de agosto de 1961. À medida que Goulart havia sido eleito vice-presidente da República pela chapa opositora a que elegera presidente o candidato Jânio Quadros, não surpreende que a UDN e o PSD, majoritariamente, fossem contrários à posse do seu maior inimigo político. Dentro desse marco, reconhecer a iniciativa golpista resistida pela Campanha da Legalidade confere outra dimensão ao processo que resulta na imposição de uma ditadura no início de 1964. Assim, dentro do conjunto de fatores elucidativos desses eventos, não se pode perder de vista o percurso de setores antidemocráticos que defendiam um projeto econômico de reestruturação capitalista (a denominada “modernização conservadora”) em detrimento das mudanças estruturais de ordem nacionalista (mas também sociais e políticas) conformadas desde as administrações de Getúlio Vargas.

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A solução encontrada – o Parlamentarismo – não resolveu as contradições presentes. Pelo contrário, o artifício encontrado para diminuir os atributos de Jango se mostrou inconsequente e de efeito temporário. A consulta plebiscitária que revogou essa formulação oportunista recuperou as potestades presidenciais, mas foi obtida a um considerável custo político – desgaste produzido por tensas negociações, radicalização de posições, etc. A tentativa governamental de recuperar o tempo perdido provocou maior frenesi à dinâmica que confrontava ambos os blocos.

Um novo cenário surgiu da superação do quadro anterior. Com o apoio do PTB, dos setores populares e da esquerda, o governo começou o atendimento das demandas sociais represadas, procurou implementar medidas econômicas de impacto, e significativas reformas sociais. Contudo, a falta de maioria parlamentar obrigou a intensificar a mobilização dos setores populares visando pressionar o Parlamento e provocar dissensões entre os legisladores opositores para aprovar medidas que atendessem parte das reivindicações em questão.

Pode verificar-se, no curto período que se estende entre a volta do Presidencialismo e a queda de Goulart, uma lógica de aceleração histórica em andamento. O cotidiano foi varrido pela urgência dos protagonistas, pela atuação aberta ou encoberta dos setores antidemocráticos e a explicitação dos seus objetivos, e pela insistente posição conciliatória do Poder Executivo. O programa de reformas era o divisor de águas nesse caldo de cultura cada vez mais agitado. Acuado pela campanha de difamação e sabotagem orquestrada pelo “Complexo IPES-IBAD”, Jango acabou radicalizando seu discurso quanto às reformas e à estatização de setores considerados estratégicos. Mesmo assim, cabe lembrar que um dos principais eixos aglutinadores da oposição, a reforma agrária, era feita através de indenizações; portanto longe de configurar-se como ataque à propriedade privada, como “denunciava” uma intensa e paranoica 10

campanha anticomunista que via em todas as iniciativas governamentais “ameaças subversivas”. Efetivamente, a imagem de trabalhadores organizados e de uma esquerda ativa e reconhecida pelos segmentos populares e médios, bem como a proliferação de palavras de ordem sintonizadas com as demandas reformistas, era mais do que suficiente para preocupar os setores dominantes com o futuro do seu status quo.

Março de 1964 foi o corolário das tensões. Diversas manifestações de rua foram tomando conta de todo o território, tanto a favor de Jango (o Comício da Central do Brasil) quanto contra (as Marchas da Família com Deus pela liberdade). Diante dessa situação, as Forças Armadas decidiram intervir. Na prática, vinham ensaiando movimentos de força desde 1954, quando derrubaram Getúlio Vargas – tentativa frustrada pelo impacto do seu suicídio; 1961 fora a última tentativa. Seja como for, cada vez se mostravam organicamente mais próximos dos setores conservadores. A interna militar parecia definida: a influência estadunidense e o anticomunismo de Guerra Fria haviam desequilibrado a balança contra os militares democráticos e constitucionalistas. Não foi menor, dentro desse contexto, o papel dos grandes meios de comunicação – que constituíam, majoritariamente, o bloco conspirador –, vitais na disseminação de um clima de histeria e de caos; da mesma forma, salientava-se a marcante colaboração da Igreja Católica e da sua retórica cruzadista e anticomunista, fonte de fortes mobilizações nas semanas anteriores ao dramático desfecho.

Embora exista certo consenso historiográfico quanto à ausência de resistência à intervenção militar, o fato é que tal afirmação deve ser matizada. Os setores que apoiavam Jango ficaram na expectativa de que ocorresse um chamamento da liderança maior ou que setores castrenses que apoiavam o governo se manifestassem, como havia acontecido em 1961. Mas nada disso ocorreu. A falta dessa iniciativa fez com que muitas ações de apoio ao governo, promovidas por sindicalistas, estudantes, 11

militantes do PTB e de algumas unidades de marinheiros e sargentos, acabassem neutralizadas pela ação golpista, sofrendo, consequentemente, forte refluxo e severa repressão. A falta de uma base maior de apoio, como fora o governo Brizola em 1961 – com um estado importante como o Rio Grande do Sul mobilizado e comprometido com a defesa da democracia e da Constituição –, inegavelmente facilitou a rápida consolidação do golpe.

Avaliando em perspectiva temporal a decisão presidencial de não resistir, pode-se especular que Goulart estava ciente da dimensão da articulação e da inexistência (ou inconsistência) do propalado dispositivo militar que devia proteger seu governo de qualquer aventura inconstitucional. Simultaneamente, a publicização do comunicado dos governadores opositores de Minas Gerais (Magalhães Pinto), São Paulo (Adhemar de Barros), Rio Grande do Sul (Ildo Meneghetti) e Guanabara (Carlos Lacerda) confirmava a existência de uma negociação bem mais complexa do que se vislumbrava.

Por fim, tudo indica que Jango possuía informação reservada sobre os movimentos da embaixada dos EUA e do apoio diplomático, político, econômico e até militar brindado aos sublevados. Anos depois, as revelações acerca da Operação Brother Sam e o detalhamento do poder de fogo da força-tarefa do império – pronta para intervir, caso a sublevação encontrasse resistência – confirmaram o profundo comprometimento dos EUA com a mudança de regime. É provável que Jango estivesse ciente a respeito de todas essas variáveis; sem apoio militar, com um Congresso reconhecidamente opositor e tendo contra si os governos estaduais mais poderosos, a sua decisão de evitar um derramamento de sangue parece, cinquenta anos depois, uma decisão ponderada considerando uma relação de forças tão desproporcional.

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O futuro do golpe de 1964: a Ditadura de Segurança Nacional O legado do golpe de Estado e de 21 anos de ditadura pode ser resumido em alguns aspectos centrais, embora, a respeito disso, sempre possa haver outras percepções. Do ponto de vista democrático, deve-se frisar que um governo legítimo e constitucional foi interrompido através de um golpe de Estado imposto, paradoxalmente, em nome da defesa de valores democráticos e contra a “comunização” da nação. A longa ditadura que se impôs teve várias conjunturas. De forma geral, gerou maior desigualdade social, promoveu maior concentração de renda e arrocho salarial, desencadeou um crescimento acentuado da dívida externa e privilegiou interesses multinacionais em detrimento de certos setores econômicos nacionais. Mesmo a existência do tão decantado “milagre econômico” merece reparos: durou menos tempo do que consagrou a propaganda oficial e beneficiou menos gente do que foi propagado (o que não significa que não tenha existido). A ditadura preservou nichos considerados essenciais sob controle estatal (casos da Petrobras, da indústria bélica, da Embraer, etc.). É inegável que o País continuou se modernizando, mantendo uma tendência que retroagia ao período Vargas; no entanto, é sempre fundamental perguntar: quais os setores sociais e que frações do capital foram beneficiados? E em detrimento de quem?

O maior legado da ditadura foi o perverso efeito da impunidade.

Impunidade dos brutais crimes cometidos contra todos os que ousaram enfrentá-la. O terrorismo de Estado aplicado tornou rotineiro o uso da tortura contra a oposição, espalhou medo, realizou massivas detenções, desapareceu com cidadãos e efetuou execuções sumárias (muitas delas acompanhadas pelo desaparecimento dos cadáveres das vítimas). No Sul, a “Operação Limpeza” não se fez esperar. No imedia13

to 1º de abril, desencadeou potentes mecanismos coercitivos e ações psicossociais semeando temor, incerteza e desespero. O novo regime também perseguiu exilados fora de fronteiras, acumulando qualificada eficiência nas relações binacionais de coordenação repressiva, o que foi de extrema valia na posterior configuração da estrutura da Operação Condor, quando socializou esse know-how.

A persistência da impunidade dos crimes de lesa-humanidade constitui, certamente, a principal marca de uma política de violência estatal que impôs um cotidiano marcado pela censura, pelas formas discricionárias de controle, monitoramento e espionagem, por abuso de poder e pela falta de transparência e controle da gestão da coisa pública. A ditadura procurou, também, projetar no tempo (com a colaboração dos governos democráticos que a sucederam) a consolidação de uma política de esquecimento, que sonegou às gerações posteriores o conhecimento dessa mesma história, através do silêncio, da mentira, do diversionismo, da tergiversação e de uma história oficial muito distante da realidade concreta desse passado traumático, como vêm demonstrando as informações que, aos poucos, a Comissão Nacional da Verdade começa a revelar.

O golpe civil-militar de 1964 no Sul do Brasil: narrativas do golpe de Estado contadas desde o Sul O presente livro é um destacado aporte ao esforço de realizar tarefa historiográfica ainda inconclusa, quer seja a de trazer novas análises, reflexões e conhecimento que, embora vinculados a uma determinada região do País, no caso o Sul – perspectiva que sempre é muito mais política do que geográfica –, permitem preencher as lacunas existentes na tentativa de construir uma grande narrativa nacional que dê conta do passado ditatorial, do seu contexto gerador e das suas possibilidades, 14

variáveis e especificidades. Nesse sentido, na onda de grandes encontros rememorando e avaliando os “50 anos do golpe de 1964”, produções semelhantes estão desvelando esse passado, nos mais diversos estados, municípios, cidades e regiões do território nacional. O que permite pensar que está em processo uma ação que, provavelmente, ainda levará alguns anos, mas que certamente propiciará maior e melhor compreensão da diversidade de fluxos, dinâmicas, conjunturas e especificidades, que possibilite uma abordagem de conjunto do período da ditadura brasileira, de modo a pensar no bosque e não exclusivamente na árvore – ou, pior, em seus galhos ou folhas. No final das contas, folhas, galhos, raízes, árvores e bosques constituem um todo interligado.

Dentro dessa perspectiva, esta obra apresenta estudos acadêmicos relacionados com a realidade dos três estados sulinos – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – no contexto do golpe de Estado de 1964. A obra está organizada em oito capítulos, sendo cada um deles o resultado de rigorosa pesquisa e reflexão dos seus correspondentes autores. O primeiro deles, “O golpe civil-militar de 1964 e o Rio Grande do Sul: historiografia e história”, de autoria de Diorge Alceno Konrad e Rafael Fantinel Lameira, é uma valiosa contribuição para a identificação e o protagonismo dos setores antidemocráticos no Rio Grande do Sul durante o governo Goulart. Além de oferecer apurada análise sobre o debate historiográfico em torno da queda de Jango, os autores avaliam acontecimentos, protagonismos e questões conjunturais. Assentado em pertinente pesquisa jornalística, o texto torna tangível o desequilíbrio das forças em confronto, bem como a dialética repressão e resistência.

O segundo capítulo, de autoria de Murilo Zardo, intitula-se “O golpe de 1964 no Rio Grande do Sul: da conspiração à ‘Operação Farroupilha’”. Baseado em fontes diversas (jornalísticas, orais e documentais – destacando-se a documentação da Brigada Militar), o artigo detalha a pouco conhecida “Operação Farroupilha”, a retirada estratégica do gover15

nador Meneghetti e seu secretariado à cidade de Passo Fundo, à espera da definição de uma hipotética resistência legalista na capital gaúcha.

“Às portas de 1964: a Campanha da Legalidade e os Grupos dos Onze em Santa Catarina”, de Diego Pacheco, é o capítulo seguinte.

Pacheco descreve um vasto painel do conturbado contexto de 1961 e da Legalidade na cidade de Florianópolis, registrando, inclusive, a ameaçadora demonstração de força por parte de unidades armadas contrapostas. O texto representa, ainda, valiosa contribuição para o conhecimento da formação, funcionamento e limitações dos Grupos dos Onze em Santa Catarina.

O quarto capítulo denomina-se “A sacralização do golpe civil-militar de 1964 em Santa Catarina”, e é de autoria de Alceu Kaspary.

Neste, realiza-se aguçado diagnóstico em relação à atuação política e ao poder de convocação (e mobilização de fiéis) da Igreja Católica em Santa Catarina durante o governo Goulart e sua crise final. A análise assentada em numerosas fontes eclesiais permite ao autor confirmar a existência de um “anticomunismo alucinado” e militante que consagra e comemora vivamente a ruptura institucional decorrente.

Na sequência, Alessandro Batistella apresenta “Os anos iniciais da década de 1960 e o golpe civil-militar de 1964 no Paraná”. Batistella analisa o complexo processo paranaense no período prévio a 1964, salientando o papel de Ney Braga, ora articulando a aliança PTB-PDC-UDN, ora esvaziando e isolando o PTB nas eleições de 1963.

Estabelecendo adequada sincronia entre os acontecimentos nacionais e estaduais, o artigo avalia, também, a perseguição contra legisladores reformistas do Paraná, no marco da limpeza depuradora desencadeada logo após a instalação do novo regime.

Em “The day after: o Congresso Nacional no dia seguinte ao golpe de 1964”, sexto capítulo, de Adelar Heinsfeld, o protagonista é o Congresso Nacional. O autor realiza acurada análise do comporta16

mento dos parlamentares – pormenorizando a atitude dos deputados e senadores representantes do Rio Grande do Sul –, seus posicionamentos, argumentos e opções de voto diante dos tensos fatos sintetizados na derrubada do presidente Goulart.

A seguir, Helder Gordim da Silveira discorre sobre “A imagem de Goulart na construção de uma lógica do golpe de 1964 no Brasil nas páginas do diário argentino La Nación”. Após rigorosa apresentação do prestigioso jornal, objeto da sua análise, o autor resgata a percepção que o veículo transmite aos seus leitores a respeito dos eventos brasileiros, mostrando plena sintonia com a imprensa que, no Brasil, responsabiliza Goulart e seu governo por ineficiência administrativa, vinculações com o comunismo e intenções golpistas.

Finalmente, no oitavo e último capítulo, “Para além da sala de visitas: vislumbre do interior da ditadura civil-militar no Sul do Brasil”, de Célia Gonçalves Gouveia, é analisada a trajetória de certos protagonistas ligados ao bloco golpista, caso de Olímpio Mourão Filho, Golbery do Couto e Silva e Ildo Meneghetti, bem como se examina o Rio Grande do Sul como cenário de conspiração política e militar.

Certamente que, no conjunto da obra ou no impacto de capítulos específicos, os leitores encontrarão razões suficientes para aprofundar reflexões, pensar novos caminhos metodológicos e temáticos, mergulhar em debates e ampliar horizontes explicativos. A qualidade dos artigos apresentados e os temas focados seguramente produzirão efeitos mobilizadores.

Diante disso, só resta desejar uma boa, proveitosa e consequente leitura.

Enrique Serra Padrós Professor do Departamento de História e Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS

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Sobre os autores

Alessandro Batistella (Org.)

Doutor em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) e da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC).

Adelar Heinsfeld

Doutor em História, com pós-doutoramento na Pontificia Universidad Católica de Chile. Docente permanente do Programa de Pós-graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF).

Alceu Kaspary

Graduado em História e Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Mestre em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor de História do Instituto Federal Catarinense (IFC), campus Rio do Sul.

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Célia Gonçalves Gouveia

Mestre em Sociologia das Organizações. Pesquisadora no Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira (NUSP) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Diego Pacheco

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Diorge Alceno Konrad

Doutor em História Social do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professor associado do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Helder Gordim da Silveira

Doutor em História. Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Murilo Zardo

Licenciado em História (2010) e bacharel em Jornalismo (2014) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Rafael Fantinel Lameira

Doutorando em Ciência Política e mestre em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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Este livro estĂĄ Ă venda:

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O golpe civil-militar de 1964 no Sul do Brasil Alessandro Batistella Alessandro Batistella Adelar Heinsfeld Alceu Kaspary Célia Gonçalves Gouveia Diego Pacheco Diorge Alceno Konrad Helder Gordim da Silveira Murilo Zardo Rafael Fantinel Lameira Debates, n. 12 Dirceu Luiz Hermes Alexsandro Stumpf Neli Ferrari Leonardo Favero Neli Ferrari Andressa Cazalli Ximena Gil da Silva Reinehr Joice Juliana Godoi de Oliveira Alexsandro Stumpf

Foto da capa

Parada militar e continência à bandeira durante a Revolução de 64. Foto cedida pelo acervo do Museu Histórico de Blumenau.

Diagramação

Caroline Kirschner

Preparação dos originais Revisão Finalização editorial Formato Tipografia Papel Número de páginas Tiragem Publicação Impressão e acabamento

Araceli Pimentel Godinho Araceli Pimentel Godinho Carlos Pace Dori Bárbara Cristina Milioransa Michailoff Emanuelle Pilger Mittmann 16 X 23 cm Adobe Caslon Pro entre 10 e 14 pontos Capa: Supremo 280 g/m2 Miolo: Pólen Soft 80 g/m2 387 500 Julho de 2014 Gráfica e Editora Pallotti – Santa Maria (RS)