Ciclos econômicos regionais: modernização e empobrecimento no Extremo Oeste catarinense

CICLOS

ECONÔ MICOS REGIONAIS modernização e empobrecimento no Extremo Oeste catarinense

PAULO RICARDO BAVARESCO

Ciclos econômicos regionais: modernização e empobrecimento no Extremo Oeste catarinense

Série Debates

UNOCHAPECÓ Argos - Editora Universitária Av. Attilio Fontana, 591-E - Bairro Efapi - Chapecó - SC CEP 89809-000 - Caixa Postal 747 - Fone: (49) 321 8218 E-mail: argos@unochapeco.edu.br

É vedada a reprodução total ou parcial desta obra.

Associação Brasileira de Editoras Universitárias

Paulo Ricardo Bavaresco

Ciclos econômicos regionais: modernização e empobrecimento no Extremo Oeste catarinense

Chapecó, 2005

REITOR: Gilberto Luiz Agnolin VICE-REITORA DE PESQUISA, EXTENSÃO E PÓS-GRADUAÇÃO: Maria Assunta Busato VICE-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO: Gerson Roberto Röwer VICE-REITOR DE GRADUAÇÃO: Odilon Luiz Poli

338.9001724 Bavaresco, Paulo Ricardo B353c Ciclos econômicos regionais: modernização e empobrecimento no Extremo Oeste catarinense / Paulo Ricardo Bavaresco. - Chapecó : Argos, 2005.

219 p.

1. Desenvolvimento regional. 2. Economia Santa Catarina. I. Título.

CDD 338.9001724 ISBN: 85-98981-14-1

Catalogação feita pela Biblioteca Central da Unochapecó

Conselho Editorial Josiane Roza de Oliveira (Presidente); Ricardo Rezer (Vice); Alexandre Mauricio Matiello; Arlene Renk; Eliane Marta Fistarol; Flávio Roberto Mello Garcia; Hermógenes Saviani Filho; José Luiz Zambiasi; Juçara Nair Wollf; Antonio Zanin; Maria Assunta Busato; Maria dos Anjos Lopes Viella; Maria Luiza de Souza Lajus; Monica Hass Coordenadora: Monica Hass Assistente Editorial: Hilario Junior dos Santos Assistente Administrativa: Neli Ferrari Secretaria: Paula Cristina Primo Divulgação: Daniela Lanhi Zancanaro Projeto gráfico e Diagramação: Ronise Biezus Capa: Ronise Biezus Revisão: Fabiana Cardoso Fidelis Tiragem: 1000 unidades

Dedico este trabalho a todos e a todas que fizeram e fazem a histรณria do Extremo Oeste catarinense.

Agradecimentos Ao professor Dr. Marcos Mattedi pela amizade e importante colaboração na realização deste trabalho.

Ao professor Gerd Kohlhepp, da Universidade de Tübingen (Alemanha), pelas valiosas reflexões. À professora Dra. Maria Luiza Renaux, pelas observações atentas, o meu respeito. Às pessoas que nos prestaram valiosos depoimentos de seu cotidiano, pela receptividade e cooperação. À companheira Giovana, pelo apoio e incentivo.

Sumário

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

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APRESENTAÇÃO

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INTRODUÇÃO

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O CICLO DA PECUÁRIA Fronteiras nacionais Fronteiras internas Política regional no Oeste catarinense A exploração do ouro e o estímulo às atividades econômicas no Sul do Brasil Ocupação das terras Ocupação das terras e divisão social O tipo humano: serrano

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O CICLO DA ERVA-MATE Comércio e exportação Reflexos e prosperidade A cultura cabocla A decadência

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O CICLO DA MADEIRA Início da colonização Primeiras colônias Novos povoados Aspectos naturais da região

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Transformações culturais Cultura e educação O cotidiano nas colônias A madeira

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O CICLO AGROINDUSTRIAL Contexto histórico Surgimento da agroindústria Modernização na produção Mudanças nas técnicas de produção e modernização na propriedade Desenvolvimento do Extremo Oeste catarinense Instalação das agroindústrias em Itapiranga e São Miguel do Oeste São Miguel do Oeste, cidade pólo do Extremo Oeste catarinense Empobrecimento Suinocultura e impacto ambiental Deslocamento do capital agroindustrial Tamanho das propriedades Rotação de terras Concentração de terras Êxodo rural e crescimento das cidades Transporte, saúde e educação Agricultura atual Desenvolvimento regional

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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REFERÊNCIAS

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Lista de ilustrações

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Figuras Figura 1: Mapa do estado de Santa Catarina (Extremo Oeste catarinense) Figura 2: Página de livro-caixa de empresa madeireira Fotos Foto 1: Parada para foto depois do futebol Foto 2: Encontro de final de semana Foto 3: Madeira em toras arrastada até as serrarias Foto 4: Casa comercial de compra e venda de produtos coloniais Foto 5: Criação de suínos a céu aberto e pilhas de madeira serrada ao fundo Foto 6: Trabalho familiar: colheita do trigo Foto 7: Suínos melhorados geneticamente e criados em confinamento Quadros Quadro 1: Principais produtos exportados em Santa Catarina de 1892 a 1906 Quadro 2: Número de habitantes no distrito de Chapecó no ano de 1940

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Quadro 3: Exportação dos principais produtos de Santa Catarina, em percentagens, de 1914 a 1945 Quadro 4: Atividades industriais do Oeste catarinense em 1954 Quadro 5: População das cidades do Extremo Oeste catarinense em 1960 Quadro 6: Comércio varejista nas cinco cidades mais representativas do Oeste catarinense de 1960 a 1970 Quadro 7: População das cidades do Extremo Oeste catarinense de 1970 a 1980 Quadro 8: População dos municípios do Extremo Oeste catarinense em 1995 Quadro 9: Rebanho suíno nacional e estadual de 1994 a 1996 Quadro 10: Rebanho microrregional de suínos de 1994 a 1996 Quadro 11: Leite – vacas ordenhadas, produção e produtividade. Meso/ microrregião Oeste de Santa Catarina: senso comparativo de 1985 a 1996 Quadro 12: Rebanho bovino estadual e microrregional de Santa Catarina de 1994 a 1996 Quadro 13: Total de população urbana e rural do Extremo Oeste catarinense

Apresentação

A obra que ora se apresenta ao leitor é oportuna porque aborda, frente à globalização das relações econômicas que caracterizam o momento presente, a questão da terra no Brasil em uma das suas variantes regionais – a do Extremo Oeste catarinense. No momento em que a opção nacional se faz por um modelo de produção agrícola equilibrado entre a grande agricultura de exportação e uma proposta de incentivo à agricultura familiar, é oportuno voltar à história de um estado em que existem 193 mil pequenas propriedades rurais de gestão familiar das 907 mil existentes no Sul, entre os 4,1 milhões hoje existentes no Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, e seguir o implante do modelo fundiário do qual essa região foi palco em pleno século XX como extensão ao padrão de ocupação da terra adotado pelos imigrantes europeus – alemães e italianos – na época do Império.

Contando com sugestões valiosas do Prof.

Dr. Gerd Kohlhepp, da Universidade de Tübingen, Alemanha, profundo conhecedor do desenvolvimento regional no Brasil, o autor procurou focalizar sua pesquisa na busca de resposta à sua preocupação central: por que a região em foco, que em

outros tempos despertou intenso interesse político, até mesmo provocando a disputa de fronteiras entre Santa Catarina e o Paraná, exercendo forte atração econômica e direcionando para si as frentes de colonização dos anos vinte, e que, afinal, viu nascer a bem sucedida agroindústria dos dias atuais, apresenta estatísticas pouco condizentes com seu quadro de desenvolvimento?

Procurando respostas, esta obra tem como ponto de partida os ciclos sobre os quais se construiu a economia regional: da pecuária, da ervamate, da madeira e o agroindustrial. Neste último, o autor por vezes deixa falar os protagonistas que, em entrevistas, revelam de forma viva e bem particular o encontro da tradição com a modernidade no cotidiano dos colonos do lugar. Chega-se assim a uma visão realista da questão local: a agricultura tal como praticada em seus moldes rotineiros teria condições de sobreviver? A agroindústria de exportação trouxe benefícios ou apenas representa o “vilão da história”, desagregando as sólidas práticas rurais tradicionais e provocando o êxodo da população para as cidades?

Tais questões serão revisitadas e servem de subsídio quando a agricultura volta ao debate político no cenário econômico e social do Brasil.

Maria Luiza Renaux 14

Introdução

O Extremo Oeste de Santa Catarina está marcado pelo empenho na conquista de suas fronteiras em disputa com o Paraná e Argentina. Também pelo interesse da sua exploração econômica através das frentes de colonização, visando a riqueza das terras.

E, ainda, pelo aparente estado de degradação que sofre sua economia nos dias atuais. Essa região, que já provocou intenso interesse político (delimitação das fronteiras) e forte atração econômica (frentes de colonização), atualmente apresenta estatísticas socioeconômicas pouco promissoras.

A região do Extremo Oeste catarinense engloba em seu espaço geográfico dezenove municípios: Anchieta, Bandeirante, Barra Bonita, Belmonte, Descanso, Dionísio Cerqueira, Guaraciaba, Guarujá do Sul, Iporã do Oeste, Itapiranga, Mondaí, Palma Sola, Paraíso, Princesa, Santa Helena, São João do Oeste, São José do Cedro, São Miguel do Oeste e Tunápolis. São Miguel do Oeste é a cidade pólo da região.

O processo de colonização data do final da década de 20, depois do tropeirismo ter aberto os primeiros caminhos e pontos de fixação populacional e após ser resolvida a questão dos limites com o

Paraná e finda a Guerra do Contestado. Bem antes da colonização, porém, algumas famílias de caboclos já habitavam a região, vivendo a seu modo rudimentar com características próprias.

A colonização processou-se em conseqüência da expansão da área agrícola vinda do Rio Grande do Sul (ROCHE, 1969). As migrações, primeiramente, ocuparam as terras ao longo do Rio Uruguai, e, em seguida, se expandiram até os limites com o estado do Paraná. As promissoras potencialidades do Extremo Oeste despertaram a atenção de alguns empresários, que obtiveram junto ao governo concessões de terras para promover a colonização da região. O objetivo do governo era integrar definitivamente a região ao território catarinense; já para as empresas, o comércio de terras seria muito lucrativo e, para os colonos imigrantes, representaria o sonho de obterem sua própria terra.

Dessa forma, a imensa área coberta com mata nativa aos poucos dava lugar à produção agrícola.

As famílias que migravam do Rio Grande do Sul, atraídas pela propaganda de terras férteis e, com larga experiência na agricultura, logo se empenharam em abrir roças para a produção de cereais. Ainda que baseada numa agricultura de subsistência, o milho era o principal cereal cultivado, proporcionando um casamento ideal com a criação de suínos. Foi por isso que, em pouco tempo, o Extremo Oeste passou a se destacar nessa atividade.

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Atualmente, o Extremo Oeste tem sua economia voltada para o setor agrícola e para a pecuária.

Seus municípios, com características agrícolas, destacando-se o setor agroindustrial, demonstram sofrer com os impactos gerados pela modernização ocorrida na agricultura nos últimos anos. A agroindústria aparentemente proporcionou um desenvolvimento econômico satisfatório para a região, porém o mesmo é contestado pelos indicadores sociais. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que em relação ao analfabetismo na região há municípios com bons indicadores e outros abaixo da média catarinense, na ordem de 12,4% de analfabetos, sendo que a taxa média no estado é de 9,9%. A saúde conta com um quadro preocupante, possuindo poucas clínicas e pronto-socorros; o número de profissionais na área médica está na ordem de um para 3.022 habitantes; existe um hospital para cada 10.388 habitantes.

Outro fator de destaque é o meio ambiente: segundo estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) sobre suínos e aves, 25% dos dejetos produzidos recebem tratamento; o restante é lançado diretamente no meio ambiente. O manejo inadequado deixa um saldo de 85% das fontes de água contaminadas por coliformes fecais, além da degradação da qualidade do solo e do ar. Quanto às áreas de reserva florestal, a região possui somente 2% de sua área coberta por matas nativas.

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Conforme os dados acima, destacamos como problema da pesquisa a seguinte questão: Por que as atividades dominantes em cada ciclo econômico não conduziram ao desenvolvimento da região? Definimos ciclo econômico como: período em que um determinado produto, beneficiando-se da conjuntura favorável do momento, se torna o centro dinâmico da economia, atraindo as forças econômicas e provocando mudanças em todos os outros principais setores (BRUM, 1983). Quatro foram os ciclos econômicos da região: o ciclo da pecuária, o ciclo da ervamate, o ciclo da madeira e ciclo agroindustrial.

Levantamos as seguintes hipóteses sobre o baixo índice de desenvolvimento social: a primeira é a de que a dificuldade de comunicação fluvial nos primeiros anos de colonização representou um obstáculo para o desenvolvimento da região. O rio Uruguai oferecia condições de navegabilidade somente durante suas cheias; fora disso, o transporte de mercadorias ficava comprometido. Também a distância até o porto localizado na confluência do rio Uruguai e Paraná (Bacia do Prata) dificultava o comércio dos produtos coloniais.

Como segunda hipótese, salientamos que a divisão de terras em pequenas propriedades e a forma tradicional da economia local não permitiram a acumulação de capital ou, ainda, que a transferência de capital para outros pólos não permitiu a futura modernização das propriedades agrícolas.

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Por outro lado, as terras locais, mais acidentadas, não teriam permitido a exploração econômica através da grande propriedade, como, por exemplo, requer o cultivo da soja. Suspeitamos igualmente que elementos culturais tiveram seu papel na questão do estímulo à organização da economia e na formação de capital, contribuindo ou não para o desenvolvimento de soluções locais, tais como cooperativas de crédito.

Nosso objetivo é compreender e analisar a relação entre o desenvolvimento econômico e a situação social dessa região. No resgate histórico da região, pretendemos igualmente verificar o acúmulo de capital gerado pelos ciclos econômicos. Para tanto, procuramos responder às seguintes perguntas científicas: Como e por que ocorreu a decadência de cada ciclo econômico? Houve acúmulo de capital capaz de proporcionar o desenvolvimento da região? Então por que isso não ocorreu? Quais foram as conseqüências sociais e ambientais ocasionadas pelos ciclos econômicos?

Vários são os trabalhos existentes sobre a região, sobretudo referentes ao desenvolvimento do setor industrial, mas nossa proposta é de contribuir no debate e buscar aprofundar o entendimento sobre a relação entre cada um dos quatro ciclos econômicos e o desenvolvimento regional, com destaque para a situação atual. Apesar das limitações, essa pesquisa pretende trazer subsídios para 19

a história do Extremo Oeste catarinense. Principalmente, possibilitar uma compreensão sobre a realidade local, na perspectiva de desenvolver políticas que venham ao encontro das melhorias necessárias, proporcionando o desenvolvimento regional.

Para dirigir os estudos, utilizamos as análises sistemáticas propostas por Leo Waibel. Este método se preocupa com as diferentes formas de exploração econômica aplicadas sobre determinada paisagem, com as atividades associadas a estas formas de exploração e com os objetivos da produção daí decorrentes (WAIBEL, 1949). A paisagem cultural criada pelos colonos é, portanto, o nosso ponto de partida para a realização desse trabalho.

Então, conforme o método proposto para uma rigorosa análise, quatro etapas foram utilizadas: em primeiro lugar, uma análise da fisionomia da paisagem e o tipo de atividade econômica que se aplicou sobre ela. Para esta análise buscamos nas bibliografias disponíveis (livros, documentos, jornais e revistas) a compreensão da paisagem do Extremo Oeste catarinense, procurando descrever os acontecimentos econômicos tendo em vista a influência da paisagem.

Em segundo, um levantamento estatístico que desse as características da região em estudo. Esses dados referem-se ao tamanho das propriedades, às áreas de cultivo e à quantidade de animais domésticos existentes na região. Os mesmos foram forneci20

dos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) e Centro de Estudos Agropecuários (CEAG), juntamente com o banco de dados da Associação dos Municípios do Extremo Oeste catarinense (AMEOSC), entre outros. Em terceiro lugar, consideramos a evolução histórica/econômica do lugar, tal como se apresenta nas fontes primárias guardadas nos arquivos históricos das casas de cultura e museus dos municípios em estudo. Em quarto lugar, analisamos a finalidade da produção e do seu beneficiamento. Não somente as plantas cultivadas e os animais domésticos, mas o conjunto de atividades agrícolas na sua relação com o meio ambiente, resultando, finalmente, nas diferentes paisagens econômicas da região.

A pesquisa contou ainda com uma série de vinte e um depoimentos orais dos atores atualmente integrantes do cenário econômico, como agricultores, representantes de sindicatos de trabalhadores, associações de artesanato e da terceira idade. Nessas entrevistas algumas questões básicas foram utilizadas como roteiro; no entanto, houve flexibilidade que permitiu incorporar perguntas que surgiam durante a conversa. Ressalta-se ainda que os entrevistados tiveram liberdade para relatar sua história de vida. Através desses depoimentos foi possível conseguir algo mais fundamental para a história, pois eles transformam os “objetos” de es21

tudo em “sujeito”, contribuindo para uma história mais rica e mais viva (THOMPSON, 1992). Também as fotografias, documentos, livros-caixa e recibos fornecidos por esses atores foram de grande importância para que pudéssemos observar e analisar a construção da paisagem regional, tendo como base a herança cultural dos atores sociais.

O resultado da pesquisa apresenta-se dividido em quatro capítulos. No primeiro, o ciclo da pecuária, em que, com base bibliográfica, procuramos traçar a trajetória da demarcação das fronteiras entre Brasil e Argentina e o traçado dos limites entre Paraná e Santa Catarina. Neste contexto da demarcação dos limites ocorre a ocupação dos campos do Oeste catarinense, e essa ocupação, fruto da expansão territorial, proporciona a formação de pequenas vilas na região. Assim, o primeiro ciclo econômico do Extremo Oeste de Santa Catarina é discutido observando-se uma região mais ampla, que compreende desde o rio Peperi-Guaçu até Cruzeiro do Sul, atual Joaçaba, conhecida também como Zona Oeste ou Zona de Chapecó.

No entanto, é nos Campos do Erê que se desenvolvem as relações econômicas e sociais do primeiro ciclo econômico do Extremo Oeste de Santa Catarina. Esses campos compreendiam parte do atual município de Dionísio Cerqueira e Palma Sola, vilas que se formaram como ponto de parada de tropeiros de gado e mulas com destino às regiões 22

das minas. Também abordamos a ocupação das terras pelos fazendeiros que ali vinham se estabelecer, bem como o modo de vida e as relações sociais estabelecidas entre fazendeiros e índios da região.

No segundo capítulo, o ciclo da erva-mate, procuramos analisar a extração e o comércio da erva-mate. Também observamos as relações de comércio do Extremo Oeste catarinense com os estados vizinhos e a transferência da matéria-prima para esses estados, incluindo a Argentina. Dentro disso, dedicamos maior atenção ao modo de vida dos caboclos e suas relações culturais com o espaço geográfico.

Na terceira parte abordamos a imigração e a colonização, fruto da escassez de terras no Rio Grande do Sul. Com a vinda do imigrante desenvolveu-se o ciclo da madeira, dada a riqueza dessa matéria-prima na área. Ao abordarmos a introdução das primeiras indústrias madeireiras, procuramos observar as relações de trabalho entre o colonizador e a população ali existente. Atenção foi dada também à cultura dos imigrantes e sua forma de trabalhar a terra, fator preponderante para entendermos as relações sociais estabelecidas no início do processo de colonização do Extremo Oeste de Santa Catarina.

No quarto capítulo tratamos do desenvolvimento da agroindústria, ou seja, do ciclo agroindustrial. Nessa etapa analisamos o modo de pro23

dução adotado pelos colonizadores e o destino da produção para a indústria, desintegrando gradativamente a agricultura familiar adotada no início da colonização. Ou seja, destaca-se a produção agroindustrial do Extremo Oeste catarinense, bem como a acumulação de capital e sua transferência para outras partes do estado e/ou outros pólos do país. Ainda nesse capítulo observamos o empobrecimento regional como fruto do modo de produção adotado e os aspectos culturais trazidos como herança pelos primeiros imigrantes.

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ocupação das terras do Extremo Oeste catarinense, fruto das correntes migratórias provenientes do Rio Grande do Sul, caracterizou a região como áreas de pequenas propriedades de agricultura familiar.

O sistema de rotação de terras adotado no início e durante a colonização contribuiu para o empobrecimento do solo, ocasionando a redução da produtividade agrícola e o êxodo rural. Analisar esse processo, através dos Ciclos Econômicos Regionais, é desvendar mais uma parte da História do Oeste catarinense

I S B N

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