Diagnóstico Urbanístico da Praça Rachel Gadelha, na Cidade de Sousa, Paraíba, Brasil

Page 1

DIAGNÓSTICO URBANÍSTICO DA PRAÇA RACHEL GADELHA, NA CIDADE DE SOUSA, PARAÍBA, BRASIL. Alexandre Augusto Bezerra da Cunha Castro. Brendon de Oliveira Abrantes Danniely Alves Benício Borges Phelippe Afonso de Oliveira Ruan Kelvin Pereira Ramalho RESUMO

Nas cidades contemporâneas, as praças têm tido suas funções sociais e ambientais resumidas à circulação, perdendo sua qualidade física e, consequentemente, afetando a qualidade de vida da população. Nesse sentido, é importante a realização de diagnósticos urbanos, para avaliar a qualidade das praças da cidade. Com base nisso, o objetivo deste trabalho foi realizar um diagnóstico urbanístico na praça Rachel Gadelha, na cidade de Sousa, Paraíba, Brasil. Foi utilizado o método de Gatti, para avaliar as potencialidades e limitações dessa praça. Os resultados permitiram a identificação de diferentes aspectos do espaço público. Apesar de a qualidade da infraestrutura estar precária, o ambiente em que se localiza tem um importante potencial de apropriação, sendo necessárias intervenções que reduzam as limitações do espaço e melhorem as qualidades existentes. Palavras-chave: Diagnóstico. Praça. Sousa.

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 232


Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 233


INTRODUÇÃO Espaços verdes públicos são vistos enquanto locus de lazer e bem-estar, quando destinados à população, sendo importantes para qualidade de vida urbana. Suas principais funções são garantir harmonia, regularidade e unidade à paisagem urbana (ABBUD, 2010) No entanto, na cidade contemporânea, estes espaços têm tido suas funções socioambientais resumidas à função de circulação e os espaços de permanência estão sendo transferidos para espaços privados (ROLNIK, 1998). Dessa forma, as praças perdem sua principal característica que é de espaço para encontros e transações sociais, o que acarreta na perda da qualidade do espaço físico, com a degradação dos equipamentos e estruturas de apoio. Nesse contexto, questiona-se como pode o espaço público voltar a ser o local dos encontros de pessoas e exemplo de apropriação da cidade, por parte da população. Assim, um diagnóstico urbanístico, nesses espaços, podem dar pistas das lógicas de produção e apropriação de espaços livres públicos e elucidar alguns questionamentos. Que tipo de espaços públicos são criados hoje? Que características têm que podem atrair ou repelir práxis sociais? Com base no que foi explanado, este trabalho tem como objetivo principal realizar um diagnóstico urbanístico na Praça Raquel Gadelha, na cidade de Sousa. OBJETO DE ESTUDO O objeto de estudo é a Praça Raquel Gadelha, localizada no bairro conjunto Dr. Zezé na cidade de Sousa, Paraíba, Brasil. A praça tem 5 metros quadrados. No ano de 2009, o local que hoje se encontra a praça era apenas um terreno extenso com um caminho que o cortava em diagonal, contendo também uma pequena quadra onde se realizavam eventos como quadrilhas juninas, apresentações culturais, ensaios de escola de samba e também prática de esportes (Figura 01).

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 234


Figura 01: Localização da Praça Rachel Gadelha, em Sousa, Paraíba, Brasil. Fonte: Elaboração Própria.

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 235


REFERENCIAL TEÓRICO Espaços Livres Públicos Os espaços livres podem assumir a forma de ruas, praças, largos, parques, entre outros, e são considerados como a matéria-prima do paisagismo urbano. A hierarquização destes espaços é importante não apenas pela categorização, mas pela noção de conjunto, das delimitações geográficas para a sua análise. É na contextualização das categorias de análise que os espaços livres ganham o aspecto de “sistema” (SERPA, 1997). Dessa forma, a qualidade de um espaço livre afeta o outro, refletindo em potencialidades ou precariedades tanto na escala local como na escala da cidade. Esse fato reforça a característica de organismo da cidade, cuja malha de espaços públicos atuam em conjunto para a qualidade de vida urbana Segundo Gatti (2013), a qualidade de vida urbana é mensurada pela dimensão da vida coletiva que ocorre espaços públicos dispostos na cidade. Espaços que inseridos de forma harmônica na cidade, bem como planejados e projetados, conforme a necessidade da população, tendem a ser mais e melhor apropriados. Por outro lado, se o planejamento urbano considerar os espaços livres como “sobras” dos espaços edificados e projetados desconsiderando a necessidade da população, serão espaços vazios e subutilizados. Praças As praças são espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos (MACEDO e ROBBA, 2003). Num contexto mais amplo, pode-se afirmar que a função social da propriedade e da cidade está ligada à função exercida pelas praças públicas na organização do espaço territorial e como local para promoção da sociabilidade e do acesso aos direitos sociais (LAMB e CUNHA, 2016). Ou seja, a praça, além de sua função na melhoria da qualidade de vida da população, também é um importante instrumento para promoção da igualdade social, uma vez que as praças são espaços públicos, onde qualquer pessoa tem o direito ao acesso e usufruto. Para Tenório (2009), as praças necessitam compor uma série de requisitos para exercerem sua função:

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 236


·

Deve localizar-se em um lugar acessível da cidade, para que seja apropriada por uma diversidade maior de públicos;

·

Suas dimensões devem ser proporcionais ao número de usuários e atividades a serem desenvolvidas: superdimensionamentos ou subdimensionamentos levam a um mau uso da praça;

·

Necessita ser permeável visualmente. Elas “devem delimitar e configurar sem isolar, devem permitir o entrar, o sair, o passar através, o ver e ser visto, o encontrar” (TENÓRIO, 2009, p.7);

·

Configuração compatível com espaços e atividades multifinalitárias, para permitir que sejam usadas de formas diferentes, permitindo inclusive novos usos que não foram pensados anteriormente. Essas características são essenciais para a vitalidade de uma praça. Assim,

torna-se indispensável que sejam feitos diagnósticos urbanos nas praças para verificar se esses itens estão sendo cumpridos e executados da forma correta. MATERIAIS E MÉTODOS Foi empregado o método de Gatti (2013) para diagnosticar a praça e seu entorno. O autor enumera alguns aspectos importantes para se avaliar a qualidade de espaços públicos. O método trabalha em multiescala, ou seja, aborda escalas urbanas diferentes, desde o espaço público em si, o seu entorno imediato e sua área de influência direta: ·

Mapeamento de pontos de interesse: identificar a existência, na sua área de influência direta em um raio de 500m, conforme Farret (1984), de atratores para o local ou que valorizem o espaço analisado, a exemplo de áreas verdes, instituições públicas, comércios e serviços, transporte público e atividades noturnas;

·

Mapeando problemas e potencialidades: permite a identificação de aspectos positivos e negativos do local, como condicionantes para as atividades atualmente desenvolvidas no local e aquelas que possam vir a ser implantadas futuramente, a exemplo da carência de equipamentos e espaços verdes. Áreas com grande circulação de pessoas e ciclistas, tráfego veicular, conflitos de modos de transporte, espaços de estar ao ar livre, barreiras à circulação de

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 237


pedestres,

espaços

subutilizados

ou

abandonados,

margens

d’água

(waterfronts), vistas privilegiadas, entre outros; ·

Leitura do espaço público: parte do diagnóstico que visa identificar características da paisagem que condicionem ou não a apropriação da praça em si, como condições de circulação para o pedestre e modais não motorizados, acessibilidade, existência e qualidade da arborização, segurança, conforto, áreas de estar e permanência, atividades realizadas e apelo visual;

·

Análise do entorno: visa identificar características do entorno da praça, como pontos focais (paisagens a serem valorizadas ou não), fluxos e deslocamentos, apropriação do espaço público, problemas urbanos (pontos de acúmulo de lixo, problemas de segurança, iluminação deficiente ou excesso de tráfego local).

RESULTADOS No entorno da Praça analisada, existem algumas zonas de interesse, que são áreas propícias para ampliar a sua utilização, que são os “pontos focais”. Dentre os principais pontos encontrados, destacam-se a escola Saci Pererê, Escola Municipal de Ensino Fundamental Otacílio Gomes de Sá e Unidade básica de Saúde Zú Silva, que se localiza no interior da própria praça. Apesar de não estarem no entorno imediato da praça, à exceção da USB, esses equipamentos estão próximos o bastante com potencial de atrair visitantes, uma vez que esta pode ser utilizada tanto para momentos de lazer como para atividades das escolas (Figura 02).

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 238


Fluxos e deslocamentos

Figura 02: Pontos focais. Fonte: Google Maps.

Na área da praça, predomina o fluxo de pedestres, pois é setorizada entre três bairros residenciais de diferentes níveis sociais. Os moradores da região utilizam bicicletas, motos e carros. Na região não existe ponto de ônibus e não há circulação de transporte coletivo. A área de fluxo mais intenso é a Rua Arnóbio Bezerra da Silva, por estar ligada diretamente com uma via principal (Figura 03).

Figura 03: Circulação de motos na praça. Fonte: Acervo pessoal.

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 239


Apropriação do espaço Na praça, na época pós-inauguração, costumavam haver eventos culturais, como apresentações de quadrilhas juninas, presença de vendedores ambulantes, atividades esportivas, e presença de crianças, utilizando o playground, já que a praça contava com uma infraestrutura de quadra, uma área para apresentações, e um playground. Atualmente, esses equipamentos sofreram atos de vandalismo e foram danificados, de forma que, alguns destes equipamentos, atualmente, estão sem condições de uso (Figura 04).

Figura 04: Playgound danificado. Fonte: Acervo pessoal.

Problemas urbanos A praça se encontra em estado de depreciação. A falta de iluminação, ocasionada por depredações, aumenta a sensação de insegurança no período da noite, o que inibe a apropriação correta da praça, sendo usada no período noturno para práticas ilícitas. De acordo com os moradores, a coleta de lixo e limpeza da praça é feita três vezes por semana, porém a própria população utiliza a praça para depositar o lixo, mantendo a insalubridade do local (Figura 05).

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 240


Figura 05: Acúmulo de lixo na praça. Fonte: Elaboração Própria.

Usos atuais e apropriações do espaço Atualmente, a praça encontra-se ociosa na maior parte do tempo. O uso mais constante se dá pelos usuários e funcionários da UBS, localizada no interior da praça, e pela população infantil que utiliza para lazer, durante o período da manhã (Figura 06). Tanto a grama como o piso encontram-se degradados e cobertos por lixo. No período da tarde, a praça não é muito utilizada em função do calor e da falta de arborização. Outro fator que diminui a utilização de um modo geral é o mau estado de conservação ou ausência de mobiliário urbano, como bancos. Por não haver atrativos nem mobiliário para suporte de atividades de lazer passivo ou ativo, a praça é pouco frequentada.

Figura 06: Unidade Básica de Saúde Zú Silva, que se localiza no interior da praça. Fonte: Acervo pessoal.

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 241


Estruturas existentes A praça contém uma já mencionada Unidade Básica de Saúde, um playground sem condições de utilização, uma cabine para lixo hospitalar que se encontra também de forma deteriorada, sem as portas (Figura 07), postes de iluminação e um único banco, construído pela própria população. Um poço artesiano foi feito com intenção de obter água para a UBS, porém sem êxito, acabou sendo depredado.

Vegetação

Figura 07: Cabine para lixo hospitalar deteriorada, sem as portas Fonte: Acervo pessoal.

A vegetação é escassa no local analisado. Foram encontradas apenas três espécies de árvores, sendo cinco Nim, uma Mangueira e uma espécie não identificada. Além da forração de capim, que é inadequada para o serviço, já que, de acordo com reclamações dos usuários, é repleta de espinhos. Da arborização existente apenas duas árvores estão propriamente localizadas na praça; as outras estão situadas em frente à Unidade Básica de Saúde encontrada no interior da praça (Figura 08).

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 242


Figura 08: Parte da vegetação da praça. Fonte: Acervo pessoal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O diagnóstico da praça Rachel Gadelha permitiu a identificação de diferentes aspectos do espaço público. Apesar de a qualidade da infraestrutura estar precária, o ambiente em que se localiza tem um importante potencial de apropriação, sendo necessárias intervenções que reduzam as limitações do espaço e melhorem as qualidades existentes. REFERÊNCIAS ABBUD, B. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. 4. ed. São Paulo: Editora Senac, 2010. FARRET, R. L. Impactos das intervenções no sistema de transporte sobre a estrutura urbana. Brasília: EBTU, 1984. GATTI, S. Espaços públicos: diagnóstico e metodologia de projeto. São Paulo: ABCP, 2013. LAMB, N. V. W.; CUNHA, L. L. O Papel das Praças Públicas na Consolidação da Função Social da Cidade: Análise da Sua Contribuição na Evolução Urbana Sob Um Viés Histórico. In: Seminário Nacional Demandas Sociais e Políticas Públicas na Sociedade Contemporânea, 12, Santa Cruz do Sul, 2016. Anais... Santa Cruz do Sul: UNISC, 2016. MACEDO, S.S.; ROBBA, F. Praças brasileiras. Public Squares in Brazil. São Paulo: Edusp, 2003.

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 243


ROLNICK, R. O que é cidade. São Paulo: Brasiliense, 1998. SERPA, A. Os espaços livres de edificação nas periferias urbanas - Um diagnóstico preliminar em São Paulo e Salvador. Paisagem e Ambiente - Ensaios, São Paulo, v. 10, n. 10, p. 189-216, 1997. TENÓRIO, G.S. Uma “Praça! Não É uma Praça. In: Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, 13, Rio de Janeiro, 2009. Anais. Rio de Janeiro: ANPUR, 2009.

Originalmente publicado na Revista COOPEX/FIP (ISSN:2177-5052). 9ª Edição – Vol.09 – Ano:2018 No seguinte endereço: http://coopex.fiponline.edu.br/artigos

IV SAU FIP | 244


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.