Celso Brandão | Caixa Preta - Caixa Cultural São Paulo

Page 1

CAIXA-PRETA

CELSO BRANDÃO

1


2


apresenta

CAIXA-PRETA CELSO BRANDÃO CURADORIA | CURATORSHIP

Miguel Rio Branco

1 de setembro a 3 de novembro de 2019 September 1 to November 3, 2019

CAIXA Cultural São Paulo


B817c Brandão, Celso, 1951Celso Brandão : caixa preta / curadoria Miguel Rio Branco. – Rio de Janeiro : AREA27, 2019. 80 p. : principalmente il. ; 24 cm. Catálogo da exposição realizada na Caixa Cultural, São Paulo, de 1 de setembro a 3 de novembro de 2019. Texto em português com tradução paralela em inglês. ISBN 978-85-67067-24-7 1. Brandão, Celso, 1951- 2. Fotografia – Brasil. 3. Brasil, Nordeste – Obras ilustradas. I. Rio Branco, Miguel, 1946- II. Título. CDD- 779

Roberta Maria de O. V. da Costa – Bibliotecária CRB7 5587

2


Desde 1861, a CAIXA está presente na história de cada brasileiro, seja na concessão de crédito acessível, no financiamento habitacional, no desenvolvimento das cidades – por meio de investimento em projetos para infraestrutura e saneamento básico – seja na execução e administração de programas sociais do Governo Federal. Como instituição financeira, agente de políticas públicas e parceira estratégica do Estado brasileiro, sua missão é atuar na promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável do país. A CAIXA vislumbra em sua atribuição a motivação para estar presente em todos os momentos da vida do brasileiro, aproximando-se das suas necessidades e anseios e participando das suas realizações. Nesse contexto, nada mais natural que a CAIXA se aproxime da cultura nacional, propiciando acesso às mais variadas manifestações artísticas e intelectuais e contribuindo para a preservação do patrimônio histórico brasileiro. Por meio de sua programação nos espaços da CAIXA Cultural, presentes em sete capitais do país, a instituição vem, ao longo das últimas décadas, viabilizando projetos que promovem a formação intelectual e cultural da população. O Museu e o Programa Educativo Caixa Gente Arteira complementam esse esforço na formação de público e na difusão de saberes e práticas artísticas e culturais. É com essa conjuntura que a CAIXA patrocina a exposição Caixa-preta do artista Celso Brandão, com coordenação de Fabio Settimi e curadoria de Miguel Rio Branco. A mostra apresenta fotografias que manifestam, em luzes e sombras, a simplicidade em contraponto à expressividade do povo e da cultura do sertão. O fotógrafo e cineasta alagoano percorre várias décadas de registros fotográficos em preto e branco e revela, de forma poética e intensa, a sua visão peculiar do cotidiano no interior brasileiro. Com este projeto, a CAIXA ratifica a sua política cultural, a sua vocação social e o seu propósito de democratização do acesso aos seus espaços e à sua programação artística. Desta forma, ela cumpre seu papel institucional de estímulo à difusão e ao intercâmbio do conhecimento, contribuindo para a valorização da identidade brasileira, bem como para o fortalecimento, a renovação e ampliação das artes no Brasil e da cultura do nosso povo. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

3



Homem do acinema, autorpresente de concisa e rigorosa filmografia voltada Desde 1861, CAIXA está na história de cada brasileiro, seja à observação interpretação do universo cultural do Nordeste brana concessãoede crédito acessível, no financiamento habitacional, sileiro, Celso Brandãodas sempre trouxe consigo fotográfica no desenvolvimento cidades – por meio a decâmera investimento em e construiu, paralelo, ume pungente registro homem e de seu projetos paraem infraestrutura saneamento básicodo – seja na execução meio. Enquanto seu cinema é fruto de obra coletiva – envolvendo e administração de programas sociais do Governo Federal. o prévio planejamento, a captura de sons e imagens e a posterior Como instituição financeira, agente de políticas públicas e parceira montagem, onde cada um cumpre o seu papel – sua fotografia é estratégica do Estado brasileiro, sua missão é atuar na promoção obra individual e intimista. da cidadania e do desenvolvimento sustentável do país. A CAIXA Assim como imagem dos daguerreótipos, que se faz visível a vislumbra emasua atribuição a motivação para estar presente em partir os damomentos liga de mercúrio prata, a fotografia de Celso Brandão é todos da vidaedo brasileiro, aproximando-se das suas um amálgamaede sua rara sensibilidade,das lirismo e sintonia com os necessidades anseios e participando suas realizações. estados de espírito daquela gente e a identidade dos lugares, com Nesse contexto, nada mais natural que a CAIXA se aproxime da o apuro de um olhar subsidiado por sólida formação intelectual. cultura nacional, propiciando acesso às mais variadas manifestaCelso Brandão figura entre osetalentos da fotografia brasileira que, ções artísticas e intelectuais contribuindo para a preservação do apesar da produção temmeio seu trabalho ainda pouconos dipatrimônio históricoexpressiva, brasileiro. Por de sua programação vulgado. da O conjunto de imagens que temos aqui, produzidas pelo espaços CAIXA Cultural, presentes em sete capitais do país, a cineasta e fotógrafo alagoano na década de 1990, foi selecionado e instituição vem, ao longo das últimas décadas, viabilizando projeorganizado por Miguel Rio Branco – depois de um encontro certatos que promovem a formação intelectual e cultural da população. mente sem nem concessões. O Museu e opreâmbulos Programa Educativo Caixa Gente Arteira complementam esse esforço na formação de público e na difusão de saberes e Artista de primeira grandeza e também homem do cinema, Rio práticas artísticas e culturais. Branco dedicou-se à tarefa de construir a presente narrativa com imagens cuja obtenção foi cérebro-obturador o diaÉ com essa conjuntura quemediada a CAIXApelo patrocina a exposiçãoeCaixafragma-coração da Caixa-preta de Celso Brandão. Esta exposição, -preta do artista Celso Brandão, com coordenação de Fabio Settimi e apresentada em 2016 naBranco. Maison de lafotografias Photographie curadoria de Miguel Rio A Européenne mostra apresenta que (MEP) em Paris, chegae agora ao Brasil através da Cultural. manifestam, em luzes sombras, a simplicidade emCaixa contraponto à Por meio desta do mostra, rendemos uma homenagem mais expressividade povo etambém da cultura do sertão. O fotógrafo e cineasta que merecida a este fotógrafo da condição humana. alagoano percorre várias décadas de registros fotográficos em preto e branco e revela, de forma poética e intensa, a sua visão peculiar Fabio Settimino interior brasileiro. do cotidiano Com este projeto, a CAIXA ratifica a sua política cultural, a sua vocação social e o seu propósito de democratização do acesso aos seus espaços e à sua programação artística. Desta forma, ela cumpre seu papel institucional de estímulo à difusão e ao intercâmbio do conhecimento, contribuindo para a valorização da identidade brasileira, bem como para o fortalecimento, a renovação e ampliação das artes no Brasil e da cultura do nosso povo. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL


A caixa-preta de Celso Brandão Pierre Devin Taulignan, janeiro 2016

Caixa-preta é o receptáculo onde ficam registrados todos os detalhes de um voo. Depois de uma catástrofe, é o objeto de todas as buscas para tentar compreender o que se passou. Preta aponta também para outros horizontes nos campos semânticos da fotografia, claro, mas também da demografia, da magia, da geografia, da astronomia, da física, da metafísica. Caixa-preta dá conta do percurso e da imersão do fotógrafo em sua terra de origem – Alagoas. Esse pequeno estado do Nordeste do Brasil possui uma forte identidade. O rio São Francisco, sua fronteira ao sul, foi um eixo maior da conquista da região e das campanhas para a escravidão ou o extermínio dos índios do interior. Ao longo de mais de três mil quilômetros, o rio, dito da unidade nacional, é também o eixo do grande deserto interior, o Sertão. Nessa enorme zona semiárida, na junção de estados do Nordeste e do Sudeste, desenvolveu-se, desde o século XVI, uma atividade pastoril extensiva, baseada no gado bovino. O Sertão é também a terra de origem de uma mitologia construída em torno das figuras do cangaceiro e do beato, pastor carismático. O camponês sem terra deve se adaptar e migrar permanentemente. Essas figuras são fruto das condições climáticas e da violência dos senhores da terra. Essa história foi enaltecida pela literatura e pelo cinema.1 Ela alimenta o imaginário coletivo brasileiro. Muito cedo, os colonizadores holandeses e portugueses viram que a zona de colinas próxima ao oceano, mais chuvosa, era propícia à monocultura da cana-de-açúcar. Para a exploração dessa riqueza, rentável porque facilmente exportável para a Europa, era preciso uma mão de

1

Magistralmente, por Glauber Rocha, em dois filmes: Deus e o diabo na terra do Sol, em 1964, e O dragão da maldade contra o santo guerreiro, 1969.


obra abundante. A escravidão dos negros deportados da África foi, portanto, providencial. Mas isso não se deu sem resistência. A prova é a existência de numerosos quilombos, comunidades organizadas por escravos fugidos das plantações. Esses espaços de liberdade lhes permitiram retomar sua organização social, suas crenças e seus rituais, a policultura, inclusive a mandioca, o milho, o feijão, produtos desconhecidos e ignorados pelos colonizadores. Palmares foi, durante praticamente todo o século XVII, um território autônomo de escravos fugidos convivendo em bom acordo com índios, mulatos, camponeses sem terra, desertores. Muitas operações militares conduzidas por colonizadores se mostraram inúteis diante da determinação dos trinta mil habitantes. Só uma artilharia pesada permite a liquidação desse sonho da terra prometida para os escravos. Hoje, o Brasil continua o primeiro produtor de cana. Esse recurso é frágil, porque depende do mercado mundial. A mudança climática torna o Sertão cada vez mais árido: o gado caprino e o ovino substituem paulatinamente o gado vacum. Quanto aos quilombos de Alagoas, três quartos vivem no limite da pobreza. O aeroporto da capital, Maceió, recebe o nome de Zumbi, o valoroso chefe militar da resistência de Palmares. Medida cosmética num Estado pós-colonial, marcado pelo peso da oligarquia, da corrupção, da desigualdade social, do trabalho infantil, da amnésia histórica, do desprezo pela população de pele mais escura... Homem discreto, dedicado ao ensino, Celso Brandão vive há bastante tempo no litoral. Sua casa é uma ermida à margem do oceano. Ela é povoada por esculturas de artistas nativos de quem ele é, muitas vezes, o descobridor. Ela é animada por essa energia criativa. A praia, em sua imensidão e em sua luz, convida ao silêncio metafísico. Por trás da cortina de coqueiros descabelados, o mangue, suas águas quietas e suas raízes e galhos retorcidos que o povoam, convoca um imaginário ligado às forças obscuras da terra. Vindo de uma família culta, que contou com vários eruditos muito voltados ao conhecimento de seu lugar de vida e ação, Celso retomou, à sua maneira, essa busca das raízes. Ele acredita que sangue índio corre em suas veias; tem por prova o penteado bem indígena de sua avó. Aos dezoito anos, percorre de ônibus o Sertão de Alagoas. Fotografa a arquitetura e a dimensão artística da produção artesanal. É também a frustração de não poder ser pintor que o leva à produção mecânica de imagens de um mundo que o apaixona, seu mundo. A criação de Celso Brandão é, primeiramente, a de um cineasta da realidade de seu território. Seu primeiro filme data de 1974. Sua produção documentária se articula, ao longo de décadas, em torno da vida, da história, dos mitos, das lendas, dos rituais, das formas de criação artística da população mais humilde, mais desprezada. Desprezada porque ainda muito negra ou muito índia, apesar da mestiçagem. Por esse interesse pelos abandonados da sociedade, os desamparados, ele encontra seu conterrâneo, o escritor


Graciliano Ramos, autor de ″Vidas Secas". Seu engajamento é antes de tudo poético. Apesar de ter tido uma educação diferente, ele é sensível à energia, à criatividade, à imaginação do povo e participa, assim, da preservação da memória popular. Diante da mesma realidade, a postura fotográfica de Celso toma outra perspectiva. Apesar de seu estilo documental, ela não tem uma mirada antropológica. Trata-se, antes de tudo, de um ateliê permanente de reflexão, de escritura, de composição, alimentado pela energia das situações, pelo seu expressionismo. Ao mesmo tempo em que dá forma ao mundo, Celso sabe também que o mundo o forma em troca. Isso o levou a definir sua escritura, ao abandonar a utilização da cor. Para Caixa-preta, o único suporte de registro foi o filme em preto e branco, já considerado de outra era. Como autor, Celso bem sabe que a questão não é de executar e acumular as imagens como se coleciona borboletas. Ao longo do tempo e de um lento trabalho de maturação, ele tratou de construir um conceito ao organizar, ao pensar, as fotografias. Elas não podem ser escolhidas apenas por sua eficácia gráfica. Devem ter também uma função dramática e dialética na trama que se compõe, graças a elas, no espaço do livro. Celso não cria imagens piedosas, apelando à emoção superficial. Ele situa resolutamente sua interrogação ao lado da espessura e da profundidade do ser. E, ao mesmo tempo, tudo corre como Sic transit2 já sinalizava fortemente. A fotografia torna-se, então, o testemunho da passagem do tempo sobre o espaço da identidade no momento mesmo em que a espécie humana vive uma época de ruptura, provocada pela mutação radical constituída pela combinação de ferramentas digitais com novas tecnologias de comunicação. A dimensão cósmica de Caixa-preta é marcada, a princípio, pelas fotografias de abertura e de encerramento da obra. A terra é matriz e palimpsesto reticulado de vestígios desde a noite dos tempos. Na forma de argila, ela é metáfora da criação. Tudo corre. Fora a onipresença da água, outras realidades por seu movimento e o caráter efêmero de sua ocorrência nos convêm a essas considerações heraclíticas. É também uma maneira de ler o carrossel, o circo que volta todo ano, sempre semelhante, sempre diferente. Além de sua interrogação sobre a vida, a morte, a transcendência, os rituais se repetem também como o marulho das ondas que vêm morrer na praia sob o silêncio dos espaços infinitos. Celso é muito sensível ao espírito dos lugares que frequenta. As imagens de estrada são fotogramas de um filme de viagem pelos meandros do mistério humano. A presença, a proximidade dos corpos e dos rostos,

2

Primeiro livro de artista de Celso, 2001 e 2016.

8


o sentido da gestualidade e do disfarce testemunham a extrema atenção à alteridade, de um olhar profundo, discreto, mas sem falso pudor. Caixa-preta, mais que um assunto, uma história, uma narrativa, é uma interrogação sobre o fato de ser fotógrafo. Uma interrogação sobre o fato de escrever com a fotografia. Não um livro a mais, mas uma obra manifesto. Ele o faz no momento em que todo mundo clica imagens freneticamente. Imagens que, ao não se tornarem pequenos ícones sobre o papel, se perdem no espaço virtual. Sua pesquisa formal é parte das impressões complexas que ele tenta comunicar. Essa concepção descarta os clichês e renova a percepção do Nordeste. Longe dos efeitos espetaculares da objetiva grande-angular, é pela prática de um realismo mágico que ele atinge a profundidade humana de sua terra. Seu radicalismo interior lhe permite o acesso às suas raízes surrealistas e a essa terrível beleza que nos deixa entre céu e terra.

Reprodução de texto concebido originalmente para o livro Celso Brandão: Caixa-preta, segundo Miguel Rio Branco (Editora Madalena/Contrasto, 2016).

9


10


11


12


13


14


15


16


17


18


19


20


21


22


23


24


25


26


27


28


29


30


31


32


33


34


35


36


37


38


39


40


41


42


43


44


45


46


47


48


49


50


51


52


53


54


55


56


57


58


59


60


61


62


63


64


65


66


67


68


69


70


71


72


73


English Version

Since 1861, the Caixa Econômica Federal (CAIXA) has been involved in the lives of all Brazilians, by granting affordable loans, financing homes and fostering urban development through either investing in infrastructure and basic sanitation projects or implementing and administering Federal Government outreach programs. As a financial institution, a public policy agent and a strategic partner of the Brazilian State, its mission is to actively foster citizenship and underpin sustainable development nationwide. Viewing its duties and responsibilities as the reason for its constant presence throughout so many Brazilian lives, it responds to their needs and concerns, while celebrating their accomplishments. In this context, nothing could be more natural than for the CAIXA to firm up its links with Brazilian culture by offering offering access to a wide variety of artistic and intellectual expressions, while helping to preserve the nation’s historic heritage. Through a steady stream of events hosted at its CAIXA Culture Centers in seven State capitals over the past few decades, this institution has been underwriting the feasibility of projects designed to extend the cultural and intellectual competences of the Brazilian people. Its Gente Arteira Arts and Crafts Education Program and Museum supplement these efforts to build up interest among the public while disseminating artistic and cultural knowledge and practices. It is within this framework that CAIXA is sponsoring Caixa-Preta, a exhibition by artist Celso Brandão, coordinated by Fabio Settimi and curated by Miguel Rio Branco. The show features photographs that express, through

lights and shadows, simplicity that contrasts with the expressive quality of the hinterland’s people and culture. The photographer and filmmaker from Alagoas goes through several decades of black and white photographic records and unveils, in a poetic and powerful manner, his peculiar gaze over daily life in the Brazilian countryside. In this project, the CAIXA reaffirms its culture policy and social vocation through democratizing access to the artistic and cultural events hosted by its facilities. Through this approach, it plays its institutional role of disseminating and exchanging knowledge, enhancing the value of Brazilian identity while strengthening, renewing and extending the culture of the Brazilian people and spotlighting the arts. Caixa Econômica Federal

A filmmaker, author of a succinct, rigorous body of work that focuses on the observation and interpretation of the cultural wealth of northeastern Brazil, Celso Brandão has always had a camera close at hand, building up in parallel a striking record of man and his environment. While his films are collective enterprises – involving advance planning, the recording of sounds, and the shooting of pictures, followed by editing, with each person assigned a particular role – his photography is an individual, intimate body of work. Just like the daguerreotype, developed by forming a mercury and silver alloy, Celso Brandão’s photography is an amalgam of his rare sensibility, lyricism, and rapport with the spirit of the people and identity of the places he shoots, demonstrating a fine-tuned perspective built on his considerable intellectual capital.

74


Celso Brandão is one of the key figures in Brazilian photography whose work, despite its importance, has received little public notice. Produced in the 1990s by this Alagoas- born filmmaker and photographer, the pictures reproduced here have been selected and organized by Miguel Rio Branco – after what was undoubtedly a straight-talking, concession-free encounter. A first-rate artist and also a movie maker, Rio Branco has devoted himself to building up the narrative presented here, with images obtained through the mediation of the shutterbrain and diaphragm-heart of Celso Brandão’s Black Box. Through this exhibition, we also pay more than deserved homage to this photographer of the human condition. Fabio Settimi

Celso Brandão’s black box The black box—caixa-preta in Portuguese— stores aircraft flight details in its memory. After a disaster, it is a crucial tool in attempting to determine the causes of a malfunction. The word “black” points to other horizons in the semantic fields of photography, of course, but also of demography, magic, geography, astronomy, physics, and metaphysics. Caixa-Preta reflects the life and immersion of the photographer in his native region of Alagoas. This small state in the Northeast region of Brazil has a strong identity. The São Francisco river, its southern frontier, was a major axis during the conquest of the country and for campaigns for the enslavement or extermination of the Indians of the interior. Over three thousand kilometres long, the river—dubbed

75

the river of national unity—also marks the axis of the great interior desert, the Sertão. Since the sixteenth century, extensive cattle farming has been developed in this vast semi-arid area at the crossroads of the northeastern and southeastern states. The Sertão is also the source of a mythology constructed around the figures of the cangaceiro, the bandit, and the beato, the charismatic pastor. The landless peasant, the retirante, has to adapt and migrate constantly. These figures are the result of climate conditions and the violence of landowners. Their story has been magnified by literature and cinema,1 and fuels the Brazilian collective imagination. Very early on, Dutch and Portuguese colonists saw that the area of hills that is near the ocean, and thus receives more rain, lent itself well to sugar-cane monoculture. To exploit this rich resource, which was profitable because it could easily be exported to Europe, a large labour force was required. The enslavement of Blacks deported from Africa supplied it. This did not take place without resistance, as shown by the existence of many quilombos, communities set up by slaves fleeing the plantations. These pockets of freedom allowed them to return to their traditional social structure, their beliefs and rituals, and the practice of polyculture, including that of manioc, maize, and black beans, which the colonists were either unaware of or looked down upon. Throughout almost the whole of the seventeenth century, Palmares was an autonomous territory of escaped slaves living peacefully alongside Indians, mulattos, landless peasants, and deserters. Many military operations led by the colonists were unsuccessful thanks to the determination of the area’s 1

By Glauber Rocha in two masterly films: Black God, White Devil (1964) and Antonio das Mortes (1969).


30,000 inhabitants. Only sustained artillery fire would put an end to this dream of a promised land for slaves. Today, Brazil remains the world’s leading sugar cane producer. This resource is fragile because it depends on the global market. Climate change is making the Sertão more and more arid, and goats and sheep are gradually replacing the cattle. Three quarters of the quilombos of Alagoas live below the poverty line. The airport of the capital, Maceió, bears the name of Zumbi, the brave military chief of the Palmares resistance: a cosmetic measure in a post-colonial state weighed down by oligarchy, corruption, social inequality, child labour, historical amnesia, and scorn for its most colourful populations… An unassuming man devoted to teaching, Celso Brandão has lived for a long time in the coastal zone. His house is a hermitage on the ocean, inhabited by sculptures by native artists he most often discovers himself. The house is alive with creative energy. The vast beach and its special light are conducive to metaphysical silence. Behind the curtain of tattered coconut palms, the lagoon and the mangrove forest conjure up ideas linked to the darker forces of the earth. Brandão is from an educated family, and is related to several scholars deeply rooted in the knowledge of the place where they lived and worked; he has taken up this search for his roots in his own way. He believes that native blood flows in his veins, pointing to his grandmother’s very Indian hairstyle as proof. At the age of eighteen, he travelled through the Sertão of Alagoas by bus. He photographed architecture and the artistry of traditional crafts. It was also his frustration at having been unable to be a painter that drew him towards the mechanical production of images of a world that fascinated him: his own world.

Celso Brandão’s art has first and foremost been that of a filmmaker recording the reality of his land. He made his first film in 1974, and for decades produced documentaries on the life, history, myths, legends, rituals, and art forms of the most humble and scorned peoples: scorned because they are still “too black” or “too Indian,” despite interbreeding. His interest in society’s abandoned souls, os desamparados, brought him close to his fellow countryman, the writer Graciliano Ramos, author of Vidas Secas. His engagement was primarily poetic. Despite their different backgrounds, he too was sensitive to the energy, creativity and imagination of the people, and helped to preserve their memory. Although it deals with the same reality, Celso’s photographic approach opens up another perspective. Despite its documentary style, it has no anthropological intentions. It is, above all, a permanent workshop for thought, writing and composition, fuelled by the energy of situations and their expressionism. At the moment when he gives shape to the world, Celso also knows that the world shapes him in return. This has led him to focus his narrative by abandoning the use of colour. For CaixaPreta, the only recording medium is black and white film, already considered a throwback to a bygone age. As an author, Celso Brandão knows that the question is not to make and accumulate images as one might collect butterflies. Over time and through a slow maturing process, the idea is to build a discourse by organising the photographs and thinking about what they mean. They cannot be chosen only for their graphical effectiveness. They must also have a dramatic and dialectic function in the framework they help to construct within the book. Brandão does not create religious images that appeal to superficial emotion. He firmly

76


situates his questions so that they address the depth and breadth of the human spirit. And at the same time, everything flows—as it did so powerfully in Sic transit.2 Photography becomes a witness to the passage of time in the sphere of identity, at a time when humanity is experiencing a paradigm shift caused by radical change embodied by digital tools and new communication technologies. The cosmic dimension of Caixa-Preta can be seen most clearly in the book’s opening and closing images. The Earth is both a matrix and a palimpsest, bearing traces laid down since the dawn of time. Like clay, it is a metaphor for creation. Everything flows. Besides the omnipresence of water, other realities, mobile and fleeting, lead us into Heraclitian musings. This is also a way of reading the carrousel, the circus that returns with each passing year, always the same, yet always different. Besides the way they question life, death, and transcendance, rituals are repeated like rumbling waves crashing onto a beach in the silence of an endless expanse. Celso is very sensitive to the spirit of place in the locations he frequents. Pictures of roads are like stills from a travel film on the meandering mystery of humanity. The presence and closeness of bodies and faces and the sense of gesture and distortion all reflect a profound attention to otherness and an eye that is discreet and without false prudishness. More than a subject, a story, or a narrative, Caixa-Preta is a reflection upon what it is to be a photographer and what it is to write using photography. It is not just one more book; it stands as a manifesto. It does this at a time when everone is clicking away like crazy, producing images which, because they will never

2

77

Celso’s first handcrafted book, 2001.

become little paper icons, are doomed to be lost in virtual space. Celso Brandão’s formal approach forms an integral part of the complex impressions he tries to communicate. He sweeps away clichés and leads us to perceive the Northeast in a new way. Far from the spectacular effects of the wide-angle lens, he uses magical realism to reach into the human depths of his country. His inner radicality gives him access to his surrealist roots, and to a terrible beauty that leaves us somewhere between earth and sky. Pierre Devin Taulignan, January 2016


10-11

23

Mão de oleira. Aldeia Kariri-Xocó Potter’s hand. Kariri-Xocó indigenous village

Banho público Public bath

Porto Real do Colégio, AL, 1980

13 Confessionário Confessional

Japaratinga, AL, 1993

25 Papangu, carnaval Papangu, Carnival Bezerros, PE, 1999

Santa Brígida, BA, 1999

26

14

Limoeiro de Anadia, AL, 1999

Festa de Natal Christmas festivity Marechal Deodoro, AL, 1993

15 Fogueiras da festa de São João Bonfires for the festival of Saint John Caruaru, PE, 1999

16-17 O primeiro baile The first ball Coruripe, AL, 1999

19 Foliões na vila operária de Fernão Velho Revelers at the Fernão Velho workers’ village Maceió, AL, 1998

20 Dupla na cavalhada Pair of revelers at a cavalhada Paripueira, AL, 1997

21 Jovens karuazus Karuazu youths Pariconha, AL, 1998

22 Gêmeos Twins Maceió, AL, 1993

Catirinas do quilombo Catirinas of the quilombo

27 Calu, carnaval Calu, Carnival Carpina, PE, 1990

29 Bobos no carnaval Carnival fools Maceió, AL, 1992

30-31 Folião na vila operária de Fernão Velho Reveler in the Fernão Velho workers’ village Maceió, AL, 1992

32 Dorso de banhista Bather’s back Barra de São Miguel, AL, 1991

32, 33 Bebedeira Bender Piaçabuçu, AL, 1993

33 Folião na vila operária de Fernão Velho Reveler in the Fernão Velho workers’ village Maceió, AL, 1992

34 Tatuado Man with tattoos Maceió, AL, 1999

78


35

50

65

Tatuagem de chiclete Chewing gum wrapper tattoo

Pintura corporal de índio jeripancó Jeripancó Indian body painting

Banho público Public bath

São Miguel dos Milagres, AL, 1999

36 Grafites numa cela de cadeia Cell wall graffiti Pão de Açúcar, AL, 1999

37 Delegacia Police station Porto de Pedras, AL, 1994

39 Pés de quilombola centenário Feet of a 100-year-old Quilombola Batalha, AL, 1999

40 Tosa de rabo de égua Trimming a mare’s tail

66-67

Índio Karuazu em dia de festa Karuazu Indian on a feast day

Dança indígena na aldeia Karuazu Karuazu indigenous village dance

Pariconha, AL, 1998

Pariconha, AL, 1999

52

68

Porta de açougue Outside the butcher’s shop

Dança indígena na aldeia Pankararu Pankararu indigenous village dance

51

Viçosa, AL, 1990

53 Foliões na vila operária de Fernão Velho Revelers at the Fernão Velho workers’ village

Tacaratu, PE, 1998

69 Paisagem vista do trem Landscape seen from a train

Maceió, AL, 1998

Atalaia, AL, 1996

São Miguel dos Milagres, AL, 1992

54-55

70

Crânio do barbeiro The barber’s skull

Bobos no carnaval Fools at Carnival

41

São Luís do Quitunde, AL, 1989

Maceió, AL, 1999

57

71

Digital marinha Marine fingerprint

Via férrea Railway

Apodi, RN, 2000

Maceió, AL, 1991

Arapiraca, AL, 1996

42-43

58

73

Circo Circus

Mãe de gêmeas. Praia Barra de Camaragibe Mother of twins. Barra de Camaragibe beach

Inscrição rupestre de uma operação matemática Cave inscription of a mathematical operation

Feirante com iguarias de rio Merchant with river delicacies São Luís do Quitunde, AL, 1992

Marimbondo, AL, 1991

44, 45

59

Jaraguás no carnaval Jaraguás at Carnival

Serralheria modernista Modernist locksmiths

Traipu, AL, 1999

Delmiro Gouveia, AL, 1994

46, 47

60, 61

Mascarados no carnaval Masqueraders at Carnival

Banhistas Bathers

Porto de Pedras, AL, 1997

Passo de Camaragibe, AL, 1991

49

62-63

Mascarados Masqueraders Povoado de Tapera, Anadia, AL, 1999

79

Pariconha, AL, 1998

Japaratinga, AL, 1994

Banho público Public bath Porto de Pedras, AL, 1990

São Miguel dos Milagres, AL, 1993


CELSO BRANDÃO CAIXA-PRETA | BLACK BOX Curadoria | Curatorship

Miguel Rio Branco 1 de setembro a 3 novembro de 2019 September 1 to November 3, 2019

Fotografia | Photography

Tradução Inglês | English Translator

Celso Brandão

Julia Debasse (Texto Institucional | Institutional Text) Rebecca Atkinson (Fabio Settimi) Fernando Fiúza (Pierre Devin)

Curadoria | Curatorship

Miguel Rio Branco Idealização | Concept

Fabio Settimi

Design Gráfico | Graphic Design

Aline Carrer

Realização | Produced by

AREA27

Impressão | Printing Office

Stilgraf

Direção de Produção e Gestão de Projeto | Production Director and Project Manager

Assessoria de imprensa | Press Relations

Rodrigo Andrade

Décio Hernandez Di Giorgi | Adelante Comunicação Cultural

Produção Executiva | Executive Producer

Museologia | Museology

Rafael Ferraz

Jéssica Matta

Produção Local | Local Producer

Execução e Montagem | Set Design & Build

Tanit Savassi

Arão Nunes | Gala Art Installation

Revisão | Proofreader

Rosalina Gouveia Natalia Francis Aïcha Barat

Iluminação | Lighting

Julio Katona | Artimanha Produções Transporte | Logistics

Atlantis Seguro | Insurance

Affinité

Produção

Patrocínio

80


81


Jaraguás no carnaval, Traipu, Alagoas, 1999

CAIXA Cultural São Paulo Praça da Sé, 111 – São Paulo/SP CEP 01001-001 Prefira o transporte público Tel.: (11) 3321-4400 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. COMERCIALIZAÇÃO PROIBIDA

Produção

Patrocínio

82


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.