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中國建築學會
Architectural Society of China
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EDITORIAL
CIALP 2010
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EDITORIAL
in Macau Rui Leão Vice-President of AAM Vice-President of CIALP The Architects Association of Macau will host the XII CIALP Council Meeting & Seminar (Conselho Internacional de Arquitectos de Língua Portuguesa) in Macau from the 3rd to 5th December 2010. Previously, in 1999, AAM was the host of the VII CIALP Council Meeting, prior to the handover of Macau to the PRC. It is our understanding that, bringing the network of architects from the Portuguese speaking countries to Macau after 10 years of the handover will be a highly significant gesture of enhancing how Macau prioritizes the importance of Architecture in the realm of our uniqueness: A city of Sino Portuguese origin and development on the shores of the South China Sea and facing the great Archipelago of South East Asia. The seminar and council meeting will be an opportunity to enhance a reflection on the city and on its current urban and cultural challenges. The occasion to host the CIALP council meeting and a seminar on the city, comes at a very appropriate moment, combining a decade of SAR governance of Macau, Shanghai world EXPO`s better Cities better Life and also the celebration of the 50th anniversary of the Foundation of Brasilia as Brazil’s national Project of founding a new state capital.
CIALP and the UIA (International Union of Architects) signed a Memorandum of Understanding, a benchmark event that took place in Macau in late April 2010. This has been a significant networking effort made through AAM on behalf of our international and intercontinental counterparts, and it will be the first time that a CIALP meeting has its proceedings followed by a UIA official representative. The relation between Macau and the Portuguese speaking countries could be more developed around the cultural, academic and scientific sphere in order to build a stronger economical bridge founded on common knowledge and values, and thus Macau would and could be further understood and developed as a cultural interface city between these realms. Institutions like CIALP can contribute in strengthening Macau`s role as a Portuguese-language vector and a functional part of China. Cities of Portuguese origin share not only their history but also their intrinsic aspects and modes of development and so, the case studies and lessons learned on development, heritage and social issues related to Architecture and urbanism can be shared as operational tools for both professionals and governance in the universe of cities from CPLP.
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Pensar a habitação
Reflections on housing
José Joaquim Dias *
José Joaquim Dias *
É um tema vasto mas podemos circunscrevê-lo às questões locais mais pertinentes.
1. Housing is a broad topic but we can narrow it down to the most relevant local issues. The legislation that stipulates the minimum in-house areas eventually constricts the concept of a residence. We’ll see why. Property developers are also partially responsible for this “corset” effect.
1. A legislação que regula as áreas mínimas de uma habitação acaba por espartilhar o conceito de habitação. Veremos porquê. Cabe também ao investidor, o efeito de espartilho.
2. Since the 1980s, residence upgrading in Macao has been spurred on by two factors. On one hand, the government took the so-called public facilities into the scope of public bidding for the construction of social housing; on the other hand, property developers, pressured by competition, garnished the communal areas of their building projects that, as the soul of a building, would attract attention. By means of accommodating commercial spaces and parking lots in communal areas, developers increase their project profit.
2. A evolução da habitação em Macau, desde os anos 80, foi forçada por dois factores. Por um lado, a Administração, na habitação social, viu por bem incluir, nos concursos públicos, aquilo que chamou equipamento social, por outro lado, o investidor, pressionado pela concorrência, alindou os espaços comuns na parte do edifício que se designou por pódio. O pódio é a alma do edifício. É lá que o investidor vê aumentados os seus dividendos pelas áreas comerciais e de estacionamento. 3. Outra questão que se impõe, ao analisarmos a concepção que se faz da habitação, é a integração do edifício, seu suporte mais directo, no lugar, no quarteirão, no bairro, na cidade.
3. When analyzing the concept or design of residence, another question that automatically arises is about a building’s physical and functional integration with its surroundings, its neighborhood and the city as a whole.
4. Finalmente, para sustentarmos um investimento com tão pesados efeitos sobre os moradores, a sociedade, a cidade e sobre o erário público, não podemos deixar de abordar a qualidade da construção.
4. Finally, in funding residence projects that affect the people of the community and society as well as the public finance, we must address the issue of construction quality.
Por método, analisemos então estas quatro questões:
Let us cite some passages for their relevance:
O arquitecto Nuno Portas, numa publicação do LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) – Funções e Experiências de Áreas da Habitação – 1969, elabora um estudo exaustivo e actual, apesar dos 40 anos que nos separam. Façamos alguns extratos, pela sua pertinência.
“A design that emphasizes a building’s social function, based on a concept which is conducive to improving housing in a city as a whole, should deal carefully with any design detail that concerns people, e.g. the quality of usable areas, the structure and function of a building.”
“No âmbito de um plano de estudos tendente à melhoria de concepção da habitação urbana em geral e neste, em particular, do sector com finalidade social, justifica-se uma cuidada programação das exigências humanas, a traduzir em qualidade do espaço utilizável, sua organização e equipamento.”
“Therefore, it should be avoided to treat different orders of needs and a building’s envisioned functional expansion in isolation. Minimum in-house area that most directly affects building costs tends to be stipulated first and given priority over the evidence of everyday needs of a household.”
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“Procura-se assim não isolar do conjunto das diferentes ordens de necessidades e da previsão da sua evolução, o problema das áreas mínimas de habitação, que pela sua mais directa repercussão nos custos, se tende a antecipar e sobrepor à evidência resultante da análise da vida quotidiana de um agregado.”
“...... What follow are an endless series of interpretation by numerous outside parties, and the formulation of proposals that would in their natural courses be corrected or supplemented by subsequent findings of follow-up studies.” See Reference: PEKING INSTITUTE OF INDUSTRIAL BUILDING DESIGN – Architectural Design Data Sheets (Housing) in “Jianzhu Xuebao”, Peking 6, 1963.
“......justificava-se desde já uma tentativa de interpretação das inúmeras fontes alheias, disponíveis, e de elaboração de propostas que poderão, naturalmente, vir a ser corrigidas ou completadas pelas sucessivas conclusões de estudos aplicados.”
“Therefore, the minimum space stipulated would not be the simple sum of partial areas determined for each function ...”
Ver Bibliografia: PEKING INSTITUTE OF INDUSTRIAL BUILDING DESIGN – Architectural Design Data Sheets (Housing) in”Jianzhu Xuebao”, Peking 6, 1963.
“...... it clearly showed that large-scale development of economical housing in small economies in the past 20 or 30 years is now partially obsolete, because such housing is illequipped to meet the needs arising from the changing roles of women, the increase of people’s study hours, the increasing independence of young people and new needs arising from the collective leisure that is getting popular in a residential community.”
“Aí, o espaço mínimo exigido não pode corresponder ao simples somatório das áreas parcelares determinadas para cada função,......” “......facto bem evidenciado em larga parte das realizações de habitação de tipo económico dos últimos lustros as quais, irremediavelmente acanhadas devido às pequenas economias pretendidas, estão agora parcialmente obsuletas, sem possibilidade de acompanhar um acréscimo de exigências real, devido sobretudo, como se verá, à alteração do papel da mulher, ao acréscimo de escolaridade e de independência dos jovens e ao aparecimento de novas motivações para o lazer em grupo dentro da habitação.”
“In Great Britain, the standard per-capita living area has been upgraded to 9.3m2 in the last 40 years” – 1963 It is important to note: 9.3m2 x 6 persons = 55.8m2 T4 = 54m2 (Decree-Law no.13/1993, Macau) (T4 refers to 4-bedroom suite) It would mean that 55.8m2 > 54m2, in 30 years.
“Para o caso da Grã-Bretanha foi avaliado em 9,3m2/habitante o incremento dos “standards”de superfície habitável nos últimos 40 anos”- 1963 Aqui é de salientar: 9,3m2x6 pessoas =55,8m2 T4 = 54m2 (Decreto-Lei n.°13/1993,Macau) (T4, tipologia para 4 qurtos). Donde se conclui que 55,8m2 > 54m2, 30 anos depois.
“But after the sensitive area discussed in the Parker Morris Report (1963) was increased, we can observe that the “area” factor remained relatively stable while other improvements remain to be desired, as in sound insulation, thermal control, enlargement of health facilities, betterment of kitchen equipment and increase in garment care quarter, etc. “
“Mas após este sensível aumento de área, consagrado no Relatório Parker Morris, de 1963, pode observar-se uma relativa estabilização do factor “área” para aparecer outro tipo de melhoramentos com o isolamento acústico e controle térmico, o desdobramento de instalações sanitárias, melhor equipamento de cozinha e tratamento de roupas, etc..”
“Upon completion of this study and taking into account the sum of those functional segments, it was noted that the minimum floor area of a durable residence that does not need expansion would approximately be 70m2.....” When we say that the law confines the concept of residence, we mean that it stipulates the area of bedroom, living room, kitchen and bathroom in order to ensure their minimum area. This approach results, however, in the choking of residence itself, because of the involuntary speculation between the designer and property developers.
“Após a realização do presente estudo e dos somatórios feitos no quadro de áreas, constatou-se no entanto a necessidade de tomar como área útil mínima de uma habitação durável, não evolutiva, um número da ordem dos 70m2,......” Quando dizemos que a legislação espartilha o conceito de
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* 則師
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Residence design needs primarily to take into account the relationship and the alternatives between various existing functions and new functions of a dwelling. Eating, sleeping and personal hygiene are mandatory functions of a house. A house should also serve the purposes of conversation, reading and entertainment (as in music, sewing or other hobbies) by a functional living space. The storage room or pantry, corridor or entrance hall, as functions of a house are forgotten or removed in order to reduce the floor area, without considering its consequences. Housing has multifarious important effects on its residents as well as on the development of a community.
habitação, queremos dizer que ela formaliza os espaços em quartos, sala, cozinha e sanitários para lhes fixar as áreas mínimas. Este é um recurso para acautelar o dimensionamento insuficiente dos espaços para as diferentes funções mas que conduz, pela passividade e especulação do projectista versus investidor, ao estrangulamento da habitação. Conceber a habitação é sobretudo pensar no relacionamento e nas alternativas para as várias funções e de novas funções do habitar. Comer, dormir e cuidar da higiene pessoal, são funções obrigatórias numa habitação. Conversar, ler, ter uma ocupação, seja na música, na costura ou em qualquer outro hobby, acontece nos espaços da habitação, disponíveis para esse efeito. O quarto de arrumos ou a despensa, o corredor ou o vestíbulo de entrada, são especificidades da habitação que estão esquecidas ou foram amputadas para reduzir áreas sem pensar nas suas consequências. Os efeitos da habitação sobre os seus moradores são múltiplos e importantes para o desenvolvimento de uma sociedade.
Of course other things of equal importance are expected of a housing project. For example natural lighting and ventilation, adequate spacing between buildings and the urban service roads, streets not only for cars, parks and gardens, supplies and equipments such as urban schools, health services and many others services that complete our lives in a city, and at reasonable distances. For these reasons, today, with the latest technologies and resources, it is not difficult to build a house with all removable interior walls, except the walls in which water supply and discharge pipes are installed, as in bathrooms and kitchens. The water supply installation should be given adequate attention to ensure easy maintenance, simple and efficient operations. These functions prove to be needed by every household, apart from other specific functions that may be needed by each.
Claro que se esperam da habitação outras condições não menos importantes como a ventilação e iluminação naturais, o afastamento adequado entre construções e as serventias urbanas, desde os arruamentos pensados não só para carros, como os parques e jardins, os abastecimentos e os equipamentos urbanos como estabelecimentos de ensino, serviços de saúde e tantos outros que completam a vida numa cidade, e a distâncias compatíveis. Por estas razões, hoje, com as tecnologias mais sufisticadas e os recursos existententes, não é difícil conceber uma habitação com todas as paredes interiores amovíveis, salvo os blocos de água de sanitários e cozinhas. Os blocos de água devem merecer a atenção necessária para assegurarem fácil reparação, além de funcionamento simples e eficaz O agregado familiar teria assim várias alterntivas já estudadas e outras da sua iniciativa.
Let us discuss what happens in our city. We will look at two major categories of buildings: the high-rise buildings and those known as low buildings up to 7-8 floors including houses built on terraces. A quick survey of the quality of low buildings and their maintenance status can reveal that a satisfactory exterior appearance is not always consistent with a building’s general state of repair. The interior of these buildings is often deplorable. The exterior wall is about 15cm thick and, consequently, on the interior side, the walls get moisture and fungi. The window sealing is so substandard as to let in the wind and water. A building like this has a common chimney connecting kitchens on all floors, with a single pipeline that conducts the scents and oil droplets from one flat to another.
Vejamos agora o que acontece na nossa cidade. Consideremos à partida dois grandes grupos: os edifícios em altura e os edifícios ditos baixos, a partir dos 7/8 pisos, para incluir as habitações nos terraços. Analisemos muito por alto a qualidade dos edifícios baixos, o seu estado de conservação. A sua aparência exterior razoável, nem sempre condiz com o estado geral de conservação. O interior destes edifícios é com frequência, deplorável. As paredes exteriores têm cerca de 15 cm de espessura o que
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traz como consequência as paredes interiormente húmidas e cobertas de fungos. As janelas vedam mal o frio e a entrada de água. A chaminé comum às cozinhas sobrepostas em altura têm uma única conduta o que leva os cheiros e os óleos a escorrerem de uma casa para outra. As condutas de esgotos, dos sanitários e da cozinha, entopem com frequência. De um modo geral há muitos problemas com as redes de esgotos e por vezes com a própria rede de abastecimento de água. É frequente as salas e os quartos abrirem para saguões estreitos de 2 a 4 metros de lado. A rede eléctrica é primária. De um modo geral estas casas antigas, até aos anos 70 (?) estão sem defesas do frio, do calor e mal servidas de ventilação e iluminação natural. Quanto aos edifícis em altura, estão mais defendidos pelas empresas de condomínio que zelam pela manutenção. Contudo, a qualidade da construção destes edifícios, sobretudo da habitação económica, é muito deficiente. Os materiais de acabamento são de muito fraca qualidade com graves consequências na manutenção. A título de exemplo as banheiras de ferro esmaltado foram substituídas por mosaico cerâmico com um murete de 20 cm à volta. Já o mosaico é de fraca qualidade pelo que não é estanque e as juntas são focos de fungos e bactérias, além das impurezas que se acumulam. Deixou de ser possível tomar banhos de imersão. As crianças, os idosos e os doentes são as maiores vítimas. O número actual de fracções habitacionais é cerca de 230 000. A parte velha da cidade deveria ser objecto de estudo aprofundado. Para isso é necessário criar um banco de dados que permita conhecer de imediato cada edifício nos aspectos considerados essenciais, desde a propriedade do terreno, para avaliação seja de um edifício, seja de um quarteirão. Só deste modo seria possível ter intervenções expeditas que obedecessem a um planeamento urbano, desde a recuperação à demolição. Como dissemos no princípio, este é um tema vasto, há muito mais para acautelar, mas hoje * Arquitecto ficamos por aqui.
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The bathroom and kitchen sewage gets clogged frequently. In general the sewage systems in such building tend to have problems, as the water supply systems sometimes do. Living rooms and bedrooms tend to open onto narrow halls of 2-4m2. Electrical grids in these buildings are usually rudimentary. Generally, those old houses built around the 1970s do not afford good protection against the cold and heat, nor do they have sufficient ventilation and natural lighting. In the case of high-rise buildings, these aspects are usually better because the property owners committees demand for better building maintenance. However, construction quality of these buildings, especially of affordable houses (economic housing), is very poor. Poor-quality materials used in such buildings have serious consequences for maintenance. For example, iron bathtubs are replaced by bathrooms spaced with 20cm- sidewalls covered with ceramic mosaic. However, the mosaic is poor in quality so it is not waterproof and the seams are hotbeds for fungi, bacteria and impurities. Long baths are not possible anymore. Children, the elderly and the sick are the greatest victims. Currently, there are about 230 000 residential flats in Macao. The old town quarters should be studied in depth, which would require the creation of a database to ascertain and document the data of every building, including land ownership and the assessment of a building or a block. This is the only approach in which effective urban planning would be possible, whether by demolition or rehabilitation. As we said in the beginning, housing is an encompassing topic; there is much more to it, but the above is what we would discuss for now. * Architect
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Rui Leão Like in a trauma process, post-Colonial societies present particular patterns that block its` immediate emancipation: the erasure of memory is a typical post-colonial syndrome. It is a fact totally beyond the sphere of intentionality: there is a shift in elite and language, that the simple preservation of memory becomes an impossible struggle. From the 70`s until the 90`s there was a significant collective reflection on Housing in Macau. It happened for a set of reasons: Social housing and the CDH (housing scheme at controlled price) were two common government strategies to deal with the big fluctuations of population in an unstable region and other social shifts. The Governments` investment in housing schemes was crucial in producing both the quality of the housing standards and the extension of an urban realm that was seen as a cultural continuum of Macau. It was Architecture that established the city as a sequence of meaningful and articulated spaces, both representing it’s time and scale of investment and technology, and as representing its Portuguese Universalist cultural model. This attitude of investing in housing was well matched by a new generation of Architects who arrived in the territory from Portugal, where there had been a strong a recent emphasis on socially responsible planning for housing. Architects in the period had a good deal of professional freedom as managers of the
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latest models of social and urban patterns and solutions, and thus started designing for Macau a series of housing schemes that not only dealt with the consolidation of new areas, but most importantly integrated the social programs into the city, avoiding the phenomenon of mass gentrification, and taking to these new urban areas a vision of humanist dimension. Several small to medium scaled schemes started in the 70`s and 80`s in new areas – mostly located in the northern districts of Macau – introduced novelty and interesting solutions on how to integrate the housing program with the public realm. In Portugal, after the democratic revolution of 74 there were a series of Government sponsored programs of re-housing that were implemented by the first post-revolution governments. Noteworthy was the SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local). The SAAL was a very successful housing and re-housing national scheme of support for the most precarious population, where architects and inhabitants of informal neibourhoods or shantytowns worked directly and together, finding solutions for social dilemma and struggle. The fact that a generation of young Architects arrived in Macau directly from this experience was critical for Macau and the surge in sponsored housing development that followed. Major housing schemes should consciously concern themselves with dealing with the realm of the public space that is defined by these macro-structures and the real meaning of minimal areas and communal space. Housing should be central to the concerns of Architecture and public policy. It cannot be delegated to private investment on one side and vertical storage of the underprivileged or the poor at the opposite end. It should be the object of a serious policy where architects are given a decisive role, and new solutions for housing and social interaction are tested.
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CTT Housing complex Architect: Manuel Vicente Date: 1962-1964
A habitação e a cidade moderna de expressão portuguesa: algumas considerações e três obras em Macau Inês Lima
Os ensaios sobre arquitectura moderna são hoje um importante tema de debate arquitectónico, tal como o eminente e actual problema sobre a habitação urbana. Reflectese sobre esta dualidade temática seguindo os passos de arquitectos portugueses, responsáveis directos da chegada da modernidade a países tão díspares como Portugal ou Brasil, Angola e Moçambique em África ou o caso de Macau. O fio condutor é justamente a cultura arquitectónica portuguesa e a sua capacidade de adaptação a cada Lugar na era “moderna”. A arquitectura moderna tinha como
pretensão criar um mundo no qual os homens vivessem melhor. “A sua intenção geral era proporcional ao homem uma nova “casa”. Esta nova casa devia satisfazer a necessidade de identificação e, portanto, ser expressão de uma renovada “amizade” entre o homem e o seu entorno”.1 “O problema da casa” – escrevia Le Corbusier em 1923 – “é o problema de uma época. O equilíbrio das sociedades depende actualmente dele. O primeiro dever da arquitectura de uma época de renovação, consiste em rever os valores e os elementos que constituem uma casa.” 2 Um mundo aberto e global já está aqui e veio
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para ficar. “Os tempos modernos são um facto: existem “indiferentes ao nosso “sim” ou “não”, dizia Mies van der Rohe em 1930. 3 Estes ideais debatidos nos famosos e influentes CIAM4 ganhavam força por toda a Europa, no entanto em Portugal a sua implantação era de difícil e lenta aceitação. Nos finais da década de 40, vivia-se um tempo de contestação ao regime de Oliveira Salazar e neste contexto surge o grande acontecimento da década: O 1º Congresso Nacional de Arquitectura em 1949. Marca o início de um novo período da arquitectura moderna em Portugal, onde se conclui por
unanimidade que a arquitectura deve exprimir uma linguagem internacional que aliada ao urbanismo moderno deve encontrar a solução para o “gravíssimo” problema da habitação. Assim, definia-se pouco a pouco, uma geração de arquitectos marcados pela dimensão humana da profissão, com a coragem para enfrentar o regime procuram responder da melhor maneira aos problemas da cidade e por conseguinte da sociedade. Foi sob estes fundamentos que alguns arquitectos formados em Portugal realizaram um trabalho notável em diferentes territórios do mundo. Delfim Amorim no Recife, Pancho Guedes e José Tinoco em Maputo, o brilhante Vasco Vieira da Costa em Luanda, Chorão Ramalho, Manuel Vicente em Macau são alguns dos nomes que conseguiram afirmar a linguagem internacional e moderna, de tão difícil aceitação na Metrópole. Tinham por objectivo: reunir o moderno ao tradicional, o internacional ao local, interesses económicos e funcionais às necessidades reais da população. Manuel Vicente, Chorão Ramalho e Vicente Bravo, ainda jovens arquitectos realizam em Lisboa importantes projectos na área da habitação colectiva. Em 1951, Chorão Ramalho realiza o Centro Comercial do Restelo, onde valoriza o “quarteirão” e dá significado à unidade de vizinhança criando galerias comerciais contínuas ao longo da pendente da rua e protegidas pelo volume das varandas. Desde então e até aos dias de hoje, este conjunto vive com a “qualidade de vida nas cidades” que os arquitectos modernos tanto procuravam dar à sociedade. Não se pode deixar de realçar as intervenções no particular bairro dos Olivais: com Santiago Pinto ou com Manuel Vicente e Vicente Bravo. Seguindo caminho diferentes, estes arquitectos voltam a encontrar-se em Macau numa época da supremacia dos princípios modernos e em pleno crescimento da cidade. Procuram o espírito do “lugar português no Oriente” num pequeno território no Estuário do Rio das Pérolas, aplicando toda
幾個觀點兼談澳門 的三項工程
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a sua formação e o “saber fazer” arquitectura. Para situar e entender o caso particular de Macau é inevitável remeter a duas referências indispensáveis: por um lado a forte potência de Hong Kong e por o outro a cidade de Cantão, uma das cidades chinesas mais antigas. “O planeamento e a arquitectura de Macau é uma consolidação da sua história” 5 , são mais de 500 anos de interligação cultural Euro-asiática e que, por si próprio, conseguiu transpor na arquitectura e no urbanismo, quer os padrões chineses quer os portugueses, o que lhe confere um carácter original e único a nível mundial. Actualmente é uma pequena cidade portuguesa do Oriente, onde já não se fala português, mas que conserva a história cultural comum entre dois países tão distantes. A paz mundial assinada em 1945, a dimensão interna e externa da revolução chinesa e o desenvolvimento económico de Hong Kong são alguns dos fenómenos que enquadram o desenvolvimento económico de Macau, onde é inevitável fazer referência ao poder da exploração do jogo. A acompanhar este surto económico assistiu-se a um forte crescimento urbano, o que se traduziu na ocupação dos aterros e na substituição dos tecidos urbanos antigos, onde os pequenos edifícios deram lugar às novas tipologias de vários pisos. Na década de 60, seguindo o passo das modificações políticas e económicas a nível mundial, Macau reabilita o seu território, dando continuidade às estruturas de raiz portuguesa e um constante
e prudente ajustamento à cultura chinesa. Na Avenida da Praia Grande, um dos principais eixos viários da cidade, José Maneiras projecta em 1964, o brilhante Conjunto Habitacional S. Francisco: uma sequência de 4 edifícios de 5 pisos (o que segundo a normativa portuguesa não implicava a colocação de elevador) protegidos por uma torre mais alta de 10 pisos, a cargo do governo que pretendia mostrar abertura a maiores desenvolvimentos. Procurando a melhor orientação, a adaptação ao clima e a exposição solar, numa parcela urbana complicada de forma triangular, Maneiras encontra a solução com a implantação dos edifícios mais baixos em sequência ao longo da rua principal na
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parte sul da parcela. Colocados de modo a não obstruir as brisas suaves no verão ou o sol de inverno na torre habitacional, os volumes do conjunto dilatam-se e contraem-se, em varandas ou recuos, nas palas protectoras ou nas aberturas nas fachadas, de modo a alcançar o melhor funcionamento. Um edifício sustentável onde prima o rigor pelo desenho e pelo detalhe arquitectónico. Hoje o esquecimento e quase abandono ingrato do conjunto, aliado a uma forte alteração de imagem devido ao poder do ar condicionado e principalmente pela enorme sombra causada pela escala desmesurada do moderno Casino Lisboa, abafam a glória merecida de outra época. E desta também.
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Desenhos Implantação / tipologia tipo da Torre Leal Senado, arqº Chorão Ramalho, 1962-64 fonte: Catálogo da Exposição Chorão Ramalho, Casa da Cerca, Almada
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“As habitações deverão ser concebidas tomando em consideração o “habitat” tradicional da Família Chinesa.” – defendeu Chorão Ramalho, ao projectar o bairro de “casas económicas” na Ilha Verde. Projecta também as moradias em banda e a torre habitacional para funcionários na avenida Sidónio Pais, conhecida como a Torre do Leal Senado, reflecte uma implantação pensada em relação ao monte que a enquadra, afastando-se do tráfego intenso da avenida. Aplica assumidamente os princípios brutalistas, com a estrutura evidente e elementos salientes em betão armado jogam harmoniosamente com o brilhante conjunto plástico dado pelos azulejos. A veracidade dos materiais, a subtileza do detalhe
arquitectónico aplicados numa enorme mestria funcional do programa habitacional. Em tom de “promenade”, Ramalho liga a rua até à entrada do edifício, através de um percurso, ora ventilado ora protegido pelo sol, que incentiva ao convívio e ao encontro dos habitantes. Manuel Vicente realiza uma vasta obra no campo habitacional em Macau. As habitações na Travessa da Praia Grande (hoje quase irreconhecíveis), a torre para os funcionários do CTT (hoje um enorme buraco que seguramente dará lugar a mais um gigante e luminoso casino) e entre outras, o fabuloso edifício na Avenida Almirante Lacerda, junto ao Mercado Vermelho. A implantação soluciona a esquina onde
Fotografia época / Desdenho da Tipologia-tipo do Edifício Torre Funcionários, arq.º Manuel Vicente, 1964 fonte: Arquivo Manuel Vicente
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núcleo vertical das escadas separa os dois edifícios e simultaneamente os une através do acesso em galeria. Consolida a frente para as avenidas, abre os espaços colectivos para o interior da parcela e dá lugar a 18 apartamentos duplex. A estrutura em betão aparente bem evidenciada nas fachadas, o detalhe sublime dos elementos de protecção solar nas janelas, o recuar do plano de fachada na esquina para ganhar um momento de pausa na rua, afirmam uma arquitectura para ser vivida, onde sobressaem os elementos do Movimento Moderno aplicados ao lugar. Três obras destacadas de um conjunto de muitas outras, que se afirmaram sem protagonismo gratuitos ou como “acidentes” de uma época; que hoje fazem parte da identidade de cada lugar e são simultaneamente testemunhos importantes ao espólio da Arquitectura Moderna, não só portuguesa e macaense, como mundial. A atenção dada à envolvente, a resposta atenta às exigências do programas, com grande atenção aos aspectos de ordem funcional; o conhecimento das técnicas e dos materiais, o rigor do desenho desde a concepção espacial até aos pormenores foram factores comuns a esta geração de arquitectos. Realizavam-se estudos de volumetrias e de insolação para cada lugar na implantação dos projectos; desenhavamse palas protectoras, aberturas ou varandas de modo a procurar o melhor sombreamento e ventilação, de modo a conseguir a melhor sustentabilidade do edifício. Convidavamse artistas plásticos para enaltecer os espaços colectivos dos edifícios, arquitectos paisagísticos para os jardins e pátios, o que hoje se chamaria de inter disciplinariedade. Macau faz parte desta história, tal como participam outros países de expressão portuguesa: em Angola ou Moçambique, no Brasil ou nas ilhas atlânticas encontram-se casos significativos de referencia mundial. A recuperação do património arquitectónico constitui um sinal positivo de conservação de valores da cultura local e
não colide, de maneira nenhuma, com novas intervenções mais recentes. O conjunto faz a cidade e dá a identidade própria a cada uma. Actualmente continuam a existir vários casos de abandono, esquecimento, falta de reconhecimento, degradação em edifícios que deviam ser considerados por todos como Património, muitas vezes: mundial. Um ensaio que tenta contribuir à definição da Forma do habitar moderno, como um conjunto de relações e significados de modo a caracterizar a melhor arquitectura de raiz portuguesa do século XX e simultaneamente registar o marco histórico e teórico da sociedade do século XXI. Uma análise do passado, no presente, para o futuro. Não pretendemos, ainda, ser modernos?
Véase Norberg-Schulz, Los Principios de la Arquitectura Moderna, Barcelona: Editorial Reverté, 2005. 2 Le Corbusier, Por uma arquitectura, São Paulo – Brasil: Editora Perspectiva, [1923] 2002. 6º Edição 3 Van der Rohe, Mies, ”Los nuevos tiempos”, en Escritos, diálogos y discursos, (Murcia: COATT, 1981), p.41. 4 Os CIAM, Congressos Internacionais de Arquitectura Moderna, principalmente os primeiros três tiveram grande influencia no tema, pois debruçaram-se essencialmente sobre a problemática da habitação urbana. 5 Gene K. King, in Dialogue n.30, “Macau 1999”, p.27 1
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FORUM / DEBATE
DEVELOPMENT
PLAN FOR TOURISM
AT A GLIMPSE
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FORUM / DEBATE
Eliezer Bandonill Villaruz * UAP AAM Macau’s tourism efforts has been awakened when it had gained international distinction for its heritage sites and destinations (apart from its Casino and entertainment industry), and by which it is a good jump start for a progressive and sustainable effort and community endeavor. Though a head on innovation on expansion plans such as diversification, preservation measures, resource planning and market strategy are needed to truly gain the optimal benefit to the region’s economic, social, environmental and cultural sectors and for the local community in general. What has been done... and need to be done. In most cities, tourism is considered as an economic activity and incorporated as a sub-sector in the economic plan. Tourism, however, is recognized as a major economic activity that contributes significantly to GNP and creates tremendous employment and livelihood opportunities. Many sub-regions have tourism as their main economic activity and many more have resources and potentials for major tourism development, these areas therefore are expected to pay more attention to planning their tourism development. Tourism Planning is a specialized field that is also comprehensive in its approach looking into structure planning, environmental management, land use planning, tourism marketing, tourism product development, human resource planning etc. Tourism Planning should be undertaken correctly to support comprehensive and sustainable development. A clear objective and goal should be set alongside with its efforts to establish parameters to achieve it. Examples of such are: • Optimizing contribution to economic growth from local to national level • Enhance and contribute to social cohesion and cultural preservation at the local level, • Develop tourism on an environmentally sustainable basis, and • Develop a diversity of destinations, attractions, and markets. With these, good tourism plan therefore is not
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limited to its economic dimension but one that cuts across other relevant sectors such as socio-cultural and environmental management. In this consideration, as a major driver of economic development, tourism has to be planned and given full support in its implementation, and the legislature or the government serving as the main role player, and where policies, ordinances and tourism management arms and agencies should be established and revisited to support tourism initiatives. Diversification for tourism comes into an important aspect in developing a sustainable effort in the local developmental plan, this will fundamentally consider either ecological, recreational, product innovation, preservation, ethnic-vernacular events and many others enhancing local identity and international honor. The developmental plan can be revalidated for such issues and concerns specifically its medium to long term goals to effectively support and promote a continuous advantage to the local community. However, previously assessed, practiced and proven to be beneficial models and plans can be enhanced by expanding its policies for a more flexible integration to diversified tourism and not just one concentrated tourism activity found in almost all corners in a nutshell. The rudiments of creating a good developmental plan for tourism is generally based on the local goal (Where are we heading?) and identity of the region (Who we are?) and not of the imitated and reconstructed form and function only improving the region’s economic sector but on the other hand depriving the social, cultural and environmental aspects. Tourism attraction is fundamentally a matter of significance and uniqueness, where generally the basis by which people from local to international origins come to experience. Now, when we fail to re-examine such and be imbalanced in our interpretation, we can be disoriented in our efforts and claims, and basically will result to a cycle of wrong decisions where the community goals are at stake. A need can be raised for a dynamic planning and this can only be answered back in coming up with a comprehensive development plan for its tourism sector, that can further capitalize the local resource for * Architect sustainable and profitable use.
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The arch form ‘qilou’ shop-house in Macau Jay Ho Pui Kei
From the photographs of the past, we can see that most parts of the elevation of the Inner Harbour are composed of shop-houses with ‘qilou’ built in an arch form. The upper floor of the ‘qilou’ is supported by a brick arch. It is quite different from those supported by a rigid horizontal concrete beam, which are usually found in the area of south China, such as Guangdong and Hong Kong. ‘qilou’ is a typical architectural element in south China and southeast Asia where the climate is hot and rainy. The colonnade walkway in front of the shops can protect the pedestrians from the piercing heat of sunshine and heavy rain. When the houses developed from single floor to multi-floors, the area above the colonnade walkway became the interior area of the upper floors.
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Then the ‘qilou’ was formed. The ‘qilou’ was also introduced and developed in Macao. In certain areas of Macao, such as Almirante Sérgio Street, ‘qilou’ have been obligated by law. In the Official Boletin of 1882, there was an announcement that a developer was fined because he violated the regulation of town planning by building a house without ‘qilou’ on Almirante Sérgio Street. The arch form ‘qilou’ shop-house is typical in the Inner Harbour. It gives Macao a special image, different from other places in south China where the ‘qilou’ buildings are rare in arch form. However, the arch form ‘qilou’ shophouse can be found in some southeast Asian countries, such as Singapore and Malaysia. Thus, it shows that Macao has a particular relationship with these countries. Unfortunately, this special kind of shophouse has not been given sufficient attention. Little effort has been exerted for their preservation. Today, there are about twenty-four such kind of arch form ‘qilou’ shop-houses remaining in Almirante Sérgio Street (河邊新街) and Lorchas Street (火船頭街). New buildings have been erected, breaking the harmony of the continuous arch colonnade, even though the latter is still being obligated by the town planning law for the new buildings in a certain area of Almirante Sérgio Street. Those newly constructed colonnades vary in form and scale. The mansion located at the corner between the Ponte e Horta Square (司打口) and the Lorchas Street, is a typical building with the arch form ‘qilou’. It is included in the heritage list under the category of building with architectural interest. This mansion, so called the “Opium House”, is an adaptive re-use as a clinic run by Tong Sin Tong (同善堂), a local charity. 34
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