Jornal 30 de Agosto Especial

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dita cristã de família e moral, pôs em prática uma verdadeira caça aos homossexuais, travestis e transexuais como um processo de higienização de todo e qualquer desviante de sexo-gênero e “degenerados”. Além da perseguição, no mesmo período iniciou uma forte censura aos jornais, revistas e quaisquer outros meios que dessem visibilidade às pessoas LGBT. Um veículo que se destacou nessa época foi o jornal “O Lampião da Esquina”, destinado ao público homossexual, que foi perse-

depois, ainda luta pelos direitos civis e pelo respeito, pela liberdade de andar nas ruas e não ser vítima de violência, de poder entrar nas escolas e não ter seu direito ao nome social desrespeitado, de poder demonstrar seus sentimentos ao seu companheiro ou companheira e não ter medo ser vítima de mais um homicídio por LGBTfobia. A censura foi e é uma das piores prisões para a população LGBT, pois impede a liberdade, o reconhecimento de seus corpos e o pertencimento ao grupo. Censurar o debate de orientação sexual e identidade de gênero não impede a existência dos mesmos, só os deixa mais confusos e perdidos no questionamento “Será que apenas eu sou assim”? O sentimento de culpa no momento de se descobrir diferente do padrão cis-heteronormativo e dito como “normal” é tão grande que as taxas de suicídio da juventude LGBT são alarmantes. A população brasileira ainda não cicatrizou as feridas da escravidão, do colonialismo, da ditadura militar e tampouco das violações de direitos sofridas todos os dias, e somente com a educação é que construiremos o caminho para uma sociedade que respeite a democracia e saiba conviver com a diversidade. Foto: Juca Martins

A

ditadura militar no Brasil foi marcada como um período de grandes retrocessos na história do país. O golpe de 1964 instaurou a censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais, a falta total de democracia e a perseguição aos(às) que fossem contrários ao regime. Entre os grupos perseguidos podemos destacar a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e mulheres e homens transexuais. A forte repressão sofrida pela comunidade LGBT durante o regime militar culminou na organização de movimentos de resistência inspirados nas lutas por direitos surgidas no contexto internacional. No fim dos anos 70, a formação de coletivos de enfrentamento à opressão civil-militar e ao preconceito deu início à luta em defesa do reconhecimento dos direitos da LGBTs. A princípio, a comunidade LGBT brasileira mantinha seus espaços de sociabilidade em guetos, como casas noturnas, bailes de carnaval, fã-clubes de artistas, onde tinham a liberdade de firmar a sua identidade, sem, contudo, ter se organizado como movimento político. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) examinou muitos documentos que comprovam a perseguição e a violência cometida por militares contra homossexuais, travestis e transexuais. Segundo Helena Vieira (2015), o governo autoritário da Ditadura Militar tinha um ideal de “povo” e de corpo sãos. Amparados por uma ideologia

guido, mas resistiu por alguns anos. Como naquela época o termo LGBT não havia sido criado, as autoridades e até mesmo a população entendia todas e todos como homossexuais, não havendo a distinção entre orientação sexual e identidade de gênero, como conhecemos hoje. O termo homossexualidade tratava de homossexuais masculinos e femininos, travestis e transexuais. Foi a partir da década 70 com a criação de muitos coletivos de defesa, direitos e a luta pelo fim do preconceito aos LGBTs que o movimento ganhou visibilidade no Brasil, e até hoje, 36 anos

Por Luiz Carlos dos Santos. Professor

e Coordenador do Coletivo Estadual de Combate à Homofobia.

FONTES:

Incrições nos Núcleos Sindicais da APP PROGRAMAÇÃO

17 de Maio Jornal da APP-Sindicato em comemoração ao Dia Internacional de Combate à Homofobia

Sexta - 20/05 08:00

Credenciamento com acolhimento

08:30

Acolhida cultural

09:00

Abertura

09:30

Palestra: “A escola que queremos e livre do machismo, do racismo e da LGBTfobia”

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Erika Kokay – Deputada Federal Ieda Leal – Coordenadora do Coletivo Antirracismo Dalvani Lelis - CNTE

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Sergio Junqueira – PUC/PR; Hélio Teixeira – Faculdade EST/RS Mãe Cláudia Ikandayô - Presidenta do Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial -CMPIR/ Londrina Yagunã Dalzira

12:30 - Intervalo almoço

14:00

Mesa Leolinda Daltro: “Religião, laicidade e o combate à intolerância religiosa”

Sábado - 21/05 8:30

9:00

Acolhimento cultural Mesa Lili Elb: Juventudes e as mídias no combate ao machismo, racismo e LGBTfobia”

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Jarid Arraes – Escritora e cordelista Dê – Professora pedagoga e Coordenadora Nacional da Juventude do MST Roberta Salles Beatriz Accioly Lins – Antropóloga/Pesquisadora - USP

12:30 - Intervalo almoço 14:00

Acolhimento cultural •

14:30

Mesa Raoni: “A educação e o combate às violências de gênero, étnicas, raciais e por orientação sexual e identidade de gênero”.

• • • •

Zezinho Prado – Coordenador do Coletivo de Direitos Humanos – CNTE Reynaldo Azevedo – RENAJOC Isabel Cabral – Professora pedagoda quilombola – Palmas/PR Dulceli Estacheski – UNESPAR – União da Vitória/PR Claudecir Viri – Coordenador da educação indígena do C.E. Seghso Than Sá

Editorial

Domingo – 22/05 8:30

Acolhimento cultural •

9:00

Mesa Margarida Francisca das Chagas Silva: Plenária Final

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11:30

Celso José dos Santos – Coordenador do Coletivo Estadual de combate ao racismo. Elizamara Goulart Araújo – Secretária de Gênero, Relações Étnico raciais e Direitos LGBT e Coordenadora do Coletivo Feminista da APP Sindicato Luiz Carlos dos Santos – Coordenador do Coletivo Estadual de combate à Homofobia.

Encerramento

EXPEDIENTE

APP-Sindicato

appsindicato.org.br

APP-Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná - Filiada à CUT e à CNTE. Av. Iguaçu, 880, Rebouças, Curitiba / PR - CEP 80.230-020 - Tel.: (41) 3026-9822 | Fax (41) 32225261 / Site: www.appsindicato.org.br. Presidente: Hermes Silva Leão | Secretário de Comunicação: Luiz Fernando Rodrigues | Assessor de Comunicação: Tiago Tavares Somma | Jornalistas: Aline Lima, Francielly Camilo (9561-PR), Uanilla Pivetta (8071-PR) e Valnísia Mangueira (893-SE) | Projeto Gráfico e diagramação: Rodrigo Augusto Romani (7756-PR) Monitor de redes e mídias sociais: Luan Pablo Romero de Souza | Impressão: WL Impressões | Tiragem: 40 mil exemplares. Uma produção da Secretaria de Gênero, Relações Étnico-Raciais e dos Direitos LGBT - generoeraca@app.com.br • Organização: Elizamara Goulart Araújo e Edvar Robson Padilha. Gestão Somos mais APP – Em defesa da Escola Pública (2014-2017)

http://memoriasdaditadura.org.br/lgbt http://www.revistaforum.com.br/osentendidos/2015/04/05/onde-estavam-travestis-durante-ditadura Livro “Ditadura e homossexualidades: Repressão, Resistência e a busca da verdade”. James N. Green e Renan Quinalha

Jornal 30 de Agosto Especial

• Hermes Silva Leão - Presidente • Vanda do Pilar Santos Bandeira Santana - Secretaria Geral • Arnaldo Vicente - Secretaria de Política Sindical • Walkíria Olegário Mazeto - Secretaria Educacional • Nádia Brixner - Secretaria de Funcionários • Marlei Fernandes de Carvalho - Secretaria de Finanças • Mariah Seni Vasconcelos Silva - Sec. Adm. e Patrimônio • Celso José dos Santos - Secretaria de Assuntos Municipais • Luiz Fernando Rodrigues - Secretaria de Comunicação • Mario Sergio Ferreira de Souza - Secretaria de Assuntos Jurídicos • Valci Maria Mattos - Secretaria de Aposentados • Alfeo Luiz Capellari - Secretaria de Políticas Sociais • Tereza de Fátima dos Santos Rodrigues Lemos - Secretaria de Organização • Janeslei Albuquerque - Sec. de Formação Política Sindical • Rose Mari Gomes - Secretaria de Sindicalizados • Elizamara Goulart Araújo - Sec. de Gênero, Relações Étnico-Raciais e dos Direitos LGBT • Ralph Charles Wandpap - Secretaria de Saúde e Previdência.

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econhecido internacionalmente na luta pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres transexuais e homens trans, o dia 17 de maio foi estabelecido em 2009 como o Dia Nacional de combate à Homofobia. Mesmo depois do período sangrento em que o país passou pela ditadura civil militar, com a perseguição, tortura e morte de vários sujeitos que lutavam pelo respeito à livre orientação sexual e/ ou identidade de gênero, infelizmente ainda convivemos com defensores(as) desse regime que tanto tirou vidas no Brasil. Na educação essa luta não é diferente. O Plano Nacional de Educação(PNE), aprovado em 2014 foi um marco na luta pelos direitos desta população. Os(as) conservadores(as) não conseguiram impor sua agenda discriminatória e PNE apontou diretrizes para a superação

das desigualdades com a erradicação de qualquer tipo de violência e discriminação. Em tempos de avanço do conservadorismo e do ódio se faz pertinente e necessária a reflexão sobre o tema. A violência não deve fazer parte do Estado Democrático de Direito. Respeitar e conviver com as diferenças fará do Brasil um país mais justo e humano e é nosso papel enquanto educadores(as) contribuir para este processo. A APP-Sindicato que tem como princípio a luta contra toda e qualquer tipo de discriminação apresenta esta edição especial do Jornal 30 de Agosto para debate e reflexões entre educadores(as) e também com estudantes, pais e mães. Além disso, preparamos um seminário para debater esta e outras temáticas relacionadas à discriminação da população negra, mulheres e LGBTs. Seguimos em luta contra todo tipo de discriminação!

Foto: Robson Padilha

20, 21 e 22 de maio de 2016 Local: APP-Sindicato (Curitiba/PR)

Homossexualidade e Transexualidade x Ditadura Militar no Brasil: As cores da resistência em um período sangrento.


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