A inspiração desse trabalho surge da ideia dos hypomnemata, bastante explorada por Foucault em seus últimos estudos a respeito dos gregos. Tratava-se para os antigos de um caderno de anotações em vigor na época de Platão. Podiam ser registros notariais, livros de contabilidade, diários pessoais. Nele se guardavam citações ou notas de aulas públicas, fragmentos de livros, exemplos, descrições ou pensamentos próprios a respeito do que tinham ouvido, lido ou testemunhado. Os hypomnemata respondiam a uma tecnologia da memória que integrava uma cultura do cuidado de si, para a qual estava sempre em jogo o exercício de mestria de si, ou o governo de si, na relação com os outros. A ideia é que esses cadernos sirvam de material para outras experiências de ensino de filosofia, segundo o estilo de cada qual, medido pela compreensão vivida a cada situação, como oportunidade de fazer algo por si, para lembrarmos Montaigne.