Guia de Boas Práticas de Economia Circular na Fileira Casa

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Guia de boas práticas para a Economia Circular na Fileira Casa

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APIMA

Guia de Boas Práticas para a Economia Circular na Fileira Casa


Guia de boas práticas para a economia circular na fileira casa PROMOTOR

APIMA - Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins

AUTORIA

Samuel Niza, Circular - Consultoria em Sustentabilidade Lda. COLABORAÇÃO Manuela Ribeiro, The Choice Março 2021

circular-cs@circular-cs.pt www.circular-cs.pt

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ÍNDICE Glossário

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Introdução

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Sustentabilidade e Economia Circular

8

Impacto ambiental da produção

9

A economia circular

11

Estratégias para a economia circular

14

Avaliação do ciclo de vida e design para a circularidade

15

A Economia Circular na perspetiva dos associados da APIMA

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Boas práticas de Economia Circular na Fileira Casa

30

Otimização dos processos Reduzir o uso de matérias primas virgens Extensão do tempo de vida dos produtos Cooperação, sistemas produto-serviço e marketing para a sustentabilidade Boas práticas - Estado da arte

32 34 36 40 44

O pacto ecológico europeu e o futuro impacto na fileira casa

49

Roadmap para a Economia Circular na Fileira Casa

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Anexos

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I – Potenciais impactos ambientais associados aos materiais usados na produção na fileira casa II – Inquérito aos associados da APIMA

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GLOSSÁRIO Aterro sanitário

Espaço destinado à deposição final de resíduos gerados pela atividade humana. Local seguro e tecnologicamente preparado para servir de destino final aos resíduos indiferenciados, não recicláveis, que atualmente são impossíveis de valorizar de outra forma.

Capital natural

O capital natural é o stock de ativos naturais (florestas, rios, praias, mares, oceanos, solo, ar, água, entre outros) de onde fluem, direta ou indiretamente, uma série de benefícios (serviços dos ecossistemas).

Ciclo de vida do produto

Conjunto das fases associadas à vida de um produto, desde a extração ou síntese das matérias-primas/recursos naturais, passando pela produção, transporte, utilização e destino final.

Compras públicas ecológicas

Aquisições por parte de entidades públicas que se regem não só pelo valor económico da aquisição, mas que integram também os custos ambientais e sociais. A Estratégia Nacional para as Compras Públicas Ecológicas 2020 (ENCPE 2020) constitui um instrumento complementar das políticas de ambiente que privilegia a definição de especificações técnicas para um conjunto de bens e serviços prioritários para os quais já se dispõe de critérios GPP (Green Public Procurement) da União Europeia.

Ecodesign

Metodologia que integra de forma sistemática considerações ambientais no processo de design de produtos (entendidos como bens e serviços). O principal objetivo do ecodesign é desenvolver produtos que contribuem para a sustentabilidade, através da redução do seu impacte ambiental ao longo do ciclo de vida, a par de outros requisitos, tais como funcionalidade, qualidade, segurança, custo, facilidade de produção, ergonomia e estética.

Ecoeficiência

Estratégia de gestão que procura combinar eficiência económica e ecológica, no sentido de produzir mais, ao menor preço, com menos recursos, menos resíduos e menor impacto ambiental.

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GLOSSÁRIO Externalidades ambientais

Efeitos ambientais colaterais de uma decisão ou atividade sobre aqueles que não participaram ou beneficiaram da decisão ou atividade. Podem ter natureza negativa, quando geram custos para os demais agentes (poluição atmosférica, degradação dos recursos hídricos, poluição sonora etc.), ou natureza positiva, quando os demais agentes, involuntariamente, beneficiam.

Greewashing

[Traduzindo à letra, lavagem verde ou lavagem ecológica] é o processo de publicitar uma falsa imagem ou fornecer informações enganosas sobre um produto ou uma empresa, transmitindo a falsa impressão de que são “ecológicos”. À publicitação destes produtos ou empresas estão muitas vezes associadas designações como “verde” (daí green washing), “carbon free” (“livre” de carbono) ou “ecológico”.

Impacto ambiental

Alteração das condições do ambiente e/ou dos elementos nele presentes em consequência das atividades humanas. Pode manifestar-se sob a forma de poluição (do solo, água e ar), destruição de ambientes naturais, redução de indivíduos ou extinção de espécies, aumento da temperatura global, acidificação dos oceanos, comprometimento de serviços de ecossistema essenciais à vida, entre outros.

Incineração

Processo industrial de tratamento de resíduos sólidos urbanos, efetuado por via térmica, com ou sem valorização do calor gerado.

Indústria hipocarbónica

Indústria com níveis baixos ou nulos de emissão de gases de efeito de estufa.

Pegada ecológica do produto

A pegada ecológica de um produto é o resultado de uma análise do ciclo de vida do produto que consiste em analisar e contabilizar de forma sistemática os impactos ambientais em todas as fases do seu ciclo de vida, desde a extração ou síntese das matérias-primas/recursos naturais, passando pela produção, transporte, utilização e destino final dos produtos.

Reciclagem

Qualquer operação de valorização, incluindo o reprocessamento de materiais orgânicos, através da qual os materiais constituintes dos resíduos são novamente transformados em produtos, materiais ou substâncias para o seu fim original ou para outros fins. Não inclui a valorização energética nem o reprocessamento de materiais que são utilizados como combustível ou em operações de enchimento.

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GLOSSÁRIO Recursos não renováveis

Recursos naturais que, uma vez consumidos, não podem ser regenerados numa escala temporal que possa sustentar a sua taxa de consumo. Resultam de processos extremamente lentos da litosfera. De maneira geral, os recursos minerais consideramse pertencentes a estes recursos.

Recursos renováveis

Recursos naturais, capazes de se regenerarem num curto espaço de tempo e de um modo sustentável.

Rótulo ecológico

Sistema associado à atribuição de um selo que visa 1) promover os produtos com um impacto ambiental reduzido durante o seu ciclo de vida completo (contribuindo desse modo para a utilização eficiente dos recursos e para um elevado nível de proteção do ambiente); 2) orientar os consumidores em relação a estes produtos, prestandolhes informações simples, precisas, exatas e cientificamente estabelecidas sobre as caraterísticas ambientais dos produtos a que foi atribuído o rótulo ecológico.

Simbiose industrial

Troca física de materiais, energia, água ou resíduos entre indústrias para atingir vantagens competitivas (ex. redução de custos com tratamento de resíduos e redução de custos com aquisição de matérias-primas virgens)

Sustentabilidade

Capacidade de satisfazer as nossas necessidades no presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Abordagem holística que considera as dimensões ambiental, social e económica, reconhecendo que todas devem ser consideradas em conjunto para uma prosperidade duradoura. Sustentabilidade empresarial consiste, assim, na capacidade de uma empresa gerir a sua atividade e criar valor a longo prazo ao mesmo tempo que cria benefícios sociais e ambientais.

Valorização

Qualquer operação cujo resultado principal é a transformação ou preparação dos resíduos para servirem um fim útil, substituindo outros materiais.

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INTRODUÇÃO A Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA), como associação empresarial com o objetivo de promover a competitividade da Fileira Casa em Portugal, pretende com o presente guia demonstrar que o setor já adotou em Portugal diversas práticas de sustentabilidade, mas também que há ainda um importante caminho a percorrer em muitas das empresas associadas para se integrarem numa verdadeira economia circular. Este guia pretende ser um instrumento de apoio aos associados da APIMA para conhecerem o seu posicionamento em termos da sustentabilidade e o caminho que ainda podem percorrer para tornar os seus negócios mais eco-eficientes e lucrativos num mercado cada vez mais competitivo, e num sistema social e político cada vez mais exigente em termos ambientais. O guia divide-se em cinco secções principais. Primeiro destacam-se os principais impactos ambientais associados à indústria e descreve-se a forma como a economia circular pode responder a estes impactos e que ferramentas podem apoiar essa resposta. A segunda secção é dedicada a apresentar os resultados de um inquérito realizado junto dos associados da APIMA, que permitiu perceber qual o posicionamento da fileira em matéria de sustentabilidade e economia circular. Em seguida são propostas dez estratégias de promoção da economia circular na fileira casa e são apresentados exemplos de boas práticas por parte de associados da APIMA e de outros casos internacionais. Nesta secção é ainda realizada uma análise genérica do estado de adoção das estratégias (onde estamos) e do potencial a explorar relativamente às mesmas (onde podemos chegar). Na quarta secção são apresentadas as tendências das políticas europeias para a sustentabilidade que demonstram a inevitabilidade de os empresários do setor se prepararem para a economia circular e anteciparem as suas práticas. A última secção é dedicada a definir um quadro de referência para o futuro (roadmap), que permite às empresas da APIMA avaliar a sua posição atual e os caminhos possíveis a percorrer para se posicionarem como campeãs da sustentabilidade e da economia circular.

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Sustentabilidade e Economia Circular Um artigo que analisa as apostas das empresas portuguesas para 2021 coloca o ambiente e a sustentabilidade na linha da frente, referindo que os “planos das companhias de diferentes áreas passam muito pela transição digital e energética, mas as exigências da economia circular contagiaram todos os setores.”1 Esta tendência revela que muitas empresas estão hoje conscientes da importância que as questões ambientais assumem para as gerações atuais e futuras de clientes. Mas cada vez mais empresas estão também conscientes de que a sua atividade tem consequências ambientais que irão, mais cedo ou mais tarde, ter um efeito negativo sobre a própria empresa, nem que seja ao nível da imagem.

1

https://www.dn.pt/dinheiro/o-que-vai-dominar-as-apostas-das-empresas-em-2021-ambiente-e-vencedor-13213205.html

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SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR

No caso do setor do mobiliário, em particular, problemas ambientais como as alterações climáticas, afetam inevitavelmente um dos seus recursos mais importantes, como é a madeira. Os períodos cada vez mais longos de seca, irregularidade de pluviosidade e incidência de pragas, terão fortes consequências na disponibilidade de matériaprima. Urge por isso gerir de forma sustentável estes recursos e as indústrias que deles dependem não podem alhear-se de ser parte ativa nessa gestão. As organizações começam a interiorizar que não basta responder aos requisitos mínimos ambientais, percebendo que a “melhoria contínua” no sector do ambiente não só é importante para uma causa global, mas apresenta vantagens competitivas quando investem na rentabilização dos seus processos produtivos numa lógica de ecoeficiência – ganhos simultaneamente ambientais e económicos.

Impacto ambiental da produção Como em qualquer indústria, as atividades de fabrico associadas à Fileira Casa resultam em impactos ambientais. Não é por acaso que a UE incluiu os produtos desta fileira no conjunto de produtos para os quais se devem definir critérios ambientais específicos, seja para a possibilidade de certificarem o seu desempenho ambiental através do rótulo ecológico europeu, seja para orientar as compras públicas ecológicas de produtos desta fileira. A definição de critérios para o desenvolvimento de um rótulo ecológico2 ligado ao mobiliário, e para apoiar as compras públicas destes produtos3 4 foi precedida de uma avaliação dos potenciais impactos do setor. Entre outros, foram destacados os seguintes impactos ambientais: Perda de biodiversidade, erosão e degradação do solo em resultado de uma gestão florestal insustentável e abate ilegal de árvores; Esgotamento de recursos devido à utilização de recursos não renováveis tais como os metais e os combustíveis fósseis para a produção de plásticos; Impacto paisagístico e destruição de habitats em resultado das atividades mineiras; Poluição das águas superficiais e subterrâneas em resultado da utilização de substâncias perigosas que podem ser libertadas durante a produção, utilização ou eliminação; Donatello S., Moons H., Wolf, O., 2017. Revision of EU Ecolabel criteria for furniture products. Final Technical Report, 28443 EN, doi:10.2760/59027 https://publications.jrc.ec.europa.eu/repository/bitstream/JRC105558/jrc105558_furniture_euel_tr_sci-4-pol-30.01.2017.pdf 4 https://ec.europa.eu/environment/gpp/pdf/toolkit/furniture_GPP_product_sheet.pdf 2

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SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR

Emissões de gases de efeito de estufa em resultado do consumo de energia na produção de vários materiais; Emissões de compostos orgânicos voláteis em resultado da utilização de solventes orgânicos; Resíduos de embalagens; Resíduos resultantes da substituição precoce de mobiliário devido à falta de opções de reparação, baixa durabilidade, ergonomia ou mobiliário não adequado ao fim a que se destina.

Neste último caso, em particular, estima-se que cerca 10 milhões de toneladas de mobiliário5 são descartados anualmente pelas empresas e consumidores na UE. A maioria destes resíduos tem como destino os aterros sanitários ou a incineração. Estes resultados são consequência da forma linear como a nossa economia está organizada, suportando-se na extração crescente de recursos naturais, em que os produtos são utilizados e depois descartados como resíduos. Neste modelo de economia, a maximização do valor baseia-se em aumentos sucessivos de extração e produção.

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https://eeb.org/publications/80/product-policy/51266/report-on-the-circular-economy-in-the-furniture-sector.pdf

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SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR

A economia circular Para atingir a sustentabilidade, o progresso dependerá, pelo menos em parte, da redução das entradas no sistema económico (extração de recursos naturais), por um lado, e pela consequente redução das saídas (emissões e resíduos), por outro. Este sistema económico linear tem de passar progressivamente para um sistema cíclico, baseado na salvaguarda das funções do ambiente. Uma economia circular é, portanto, uma economia em que há uma redução significativa das entradas e saídas do e para o ambiente, mas assegurando uma manutenção ou mesmo um aumento da atividade económica, do bem-estar social e da qualidade de vida.

Herman Daly (1990)6, resumiu de forma bastante simplificada, as condições da sustentabilidade: As taxas de utilização de recursos renováveis não podem exceder as suas taxas de regeneração – por exemplo, a desflorestação não pode ser superior à florestação; As taxas de utilização de recursos não renováveis não podem exceder as que o desenvolvimento de recursos renováveis alternativos pode proporcionar para a mesma função – isto é, se existe um recurso renovável que possa substituir um não renovável, então deve-se optar pelo primeiro; A taxa de poluição não pode exceder a capacidade de assimilação do ambiente – porque o ambiente não tem capacidade para “receber” e “processar” todas as emissões e resíduos gerados atualmente.

É natural que a forma como os processos industriais e os modelos de negócio estão organizados atualmente dificulte a redução da exploração de recursos no imediato, de uma forma generalizada e não disruptiva. Daí a necessidade de encontrar formas alternativas que permitam uma transição neste sentido. O conceito de Economia Circular procura ocupar este lugar de veículo de transição para uma sociedade mais sustentável.

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Daly, H. E. 1990. Toward Some Operational Principles of Sustainable Development. Ecological Economics 2:1-6.

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SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR

A Economia Circular pode ser então definida como um sistema regenerativo em que a entrada de recursos, a produção de resíduos e emissões e as perdas de energia são minimizados pela desaceleração, redução e fecho dos ciclos de materiais e energia. A redução da magnitude dos fluxos de materiais e energia entre o ambiente e a economia deve dar-se à custa de um aumento da circulação mais continuada dos fluxos dentro da economia, reduzindo a atual dependência do ambiente.

Matérias-primas

Design

Reciclagem

Resíduos

Economia Circular

Produção, re-transformação

Distribuição

Recolha

Consumo, utilização, reutilização, reparação

Figura 1 – Economia Circular

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A economia circular assenta, portanto, em três princípios7, que contribuem para as condições de sustentabilidade:

Preservar e valorizar o capital natural

1.

Selecionando os recursos naturais necessários de forma criteriosa e escolhendo, sempre que possível, tecnologias e processos que utilizem recursos renováveis, ou com melhor desempenho.

Otimizar o rendimento dos recursos

2.

Através do design para refabricação, remodelação, e reciclagem, assegurando que os componentes e materiais se mantêm mais tempo em circulação com valor económico.

Promover a eficácia do sistema económico Reduzindo os danos provocados pela atividade industrial às necessidades humanas, tais como alimentação, mobilidade, abrigo, educação, saúde e entretenimento. E gerir as externalidades ambientais como o uso do solo, a poluição do ar, água e ruído, a libertação de substâncias tóxicas, e as alterações climáticas, por exemplo atravésde mecanismos de compensação8.

3.

https://www.cfas.uk/fira-blog/furniture-circular-economy/ Medidas que visam compensar impactos ambientais negativos, nomeadamente projetos de reflorestação ou de promoção e conservação da biodiversidade. 7

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SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR

Estratégias para a economia circular A política portuguesa para a Economia Circular está regulamentada desde 2017 na Resolução do Conselho de Ministros n.º 190-A/2017 que aprovou o Plano de Ação para a Economia Circular (PAEC). Com base no proposto pela Agência de Avaliação Ambiental Holandes (PBL), o PAEC apresenta as 10 estratégias que as atividades económicas podem seguir para tornar a nossa economia circular: Recusar (ou prevenir); Repensar; Reduzir; Reutilizar; Recondicionar; Remanufaturar; Realocar; Reciclar e Valorizar. O Fundo Finlandês para a Inovação (Sitra), entidade que tem fomentado fortemente a economia circular, sugere por seu turno no Guia para a Economia Circular nas PME9, os seguintes modelos de negócio:

Cadeias de abastecimento circulares Desenhar produtos duráveis e fáceis de reparar (ex. modulares) Usar materiais recicláveis na produção Plataformas de Partilha Desenvolver soluções que permitam uma maior utilização da capacidade (dos produtos e dos equipamentos) Produto como serviço Oferecer aos clientes a utilização do produto contra o pagamento de uma subscrição ou taxa de utilização de serviço ao invés da aquisição do produto Oferecer aos clientes um serviço pré-definido, com determinado nível de qualidade, e comprometer-se a garantir um resultado específico Extensão do tempo de vida dos produtos Prestar serviços de reparação e manutenção para prolongar a vida útil dos produtos existentes no mercado. Melhorar o desempenho dos produtos através da atualização dos componentes existentes com componentes mais recentes. Revender produtos que tenham atingido a sua vida útil a mercados de segunda e terceira mão. Retomar e restaurar, ou melhorar a funcionalidade original dos produtos, e revendê-los. 9

https://www.sitra.fi/en/publications/circular-economy-business-models-manufacturing-industry/

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SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR

Reciclagem e valorização Recolher e recuperar materiais de produtos em fim de vida e reutilizá-los na produção.

Colocar em práticas estas estratégias de uma forma eficaz implica ter um bom conhecimento do ciclo de vida do produto e respetivos impactos ambientais e, em consequência, conceber o produto segundo critérios ambientais (ecodesign), como se esclarece em seguida.

Avaliação do ciclo de vida e design para a circularidade A avaliação do ciclo de vida (ACV) dos produtos, método usado para estudar a pegada ecológica ou carbónica dos produtos e desenvolver declarações ambientais de produto (DAP), permite fundamentar as oportunidades de melhoria em termos ambientais: A pegada ecológica do produto (PEP) é um método para medir o desempenho em termos de sustentabilidade, desenvolvido pela Comissão Europeia em cooperação com empresas e peritos em sustentabilidade. A PEP torna possível determinar todos os impactos ambientais relevantes, bem como as pressões nos recursos naturais, causados por um produto. Para o cálculo, é considerado todo o ciclo de vida dos produtos, desde a aquisição da matéria-prima até ao fim de vida. A Pegada Carbónica é o método para determinar o impacto climático de um produto. Ao longo de todo o ciclo de vida de um produto - desde a extração da matéria-prima até à reciclagem ou eliminação - os impactos relevantes para o clima surgem sob a forma de emissões de gases com efeito de estufa. A Pegada de carbono do produto ajuda a identificar, analisar e, com as medidas certas, reduzir ou (idealmente) evitar completamente estes impactos. Uma Declaração Ambiental de Produto (DAP) é um documento padronizado que informa sobre o potencial impacto ambiental e na saúde humana de um produto. A DAP é produzida com base em cálculos de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), e fornece uma base quantitativa para a comparação de produtos e serviços. Uma DAP tem normalmente uma validade de 5 anos.

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SUSTENTABILIDADE E ECONOMIA CIRCULAR

Para que as estratégias de economia circular sejam colocadas em prática de uma forma eficaz e integrada é necessário planear e repensar a forma como se concebem os processos industriais, os produtos e a cadeia de abastecimento-consumo. Os princípios associados ao design ecológico (ecodesign) permitem planear e estruturar as práticas das empresas para alcançar melhorias em todas as fases do ciclo de vida dos produtos. A avaliação de ciclo de vida é uma ferramenta crítica de apoio ao ecodesign e à melhoria do desempenho ambiental das empresas. As estratégias de minimização dos impactos ambientais com recurso ao design e à ACV são resumidas na Tabela 1.

FASE

ESTRATÉGIA

Extração

Selecionar materiais de baixo impacto ambiental

Processamento

Reduzir a utilização de materiais e energia

Produção

Otimizar as técnicas de produção

Transporte

Otimizar o sistema de distribuição Reduzir o impacto durante o uso do produto

Uso

Produto como serviço

Extensão do tempo de vida

Otimizar o tempo de vida do produto Otimizar e reduzir os impactos do fim de vida dos produtos

Fim de vida Tabela 1 - Estratégias de ecodesign

Apesar de as questões ambientais estarem quase ausentes dos planos de estudos dos cursos de design em Portugal e de, consequentemente, o ecodesign estar pouco desenvolvido no país, alguns designers já assumem na sua prática profissional algumas das estratégias de ecodesign. Nos parágrafos seguintes apresenta-se o testemunho de um desses designers.

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Toni Grilo, um importante designer de mobiliário e peças de decoração, defende que “é essencial haver uma maior articulação entre as empresas e os designers: antes de simplesmente desenhar um produto, os criativos podem contribuir na raiz do projeto e até mesmo no modus operandi da empresa ou da fábrica”. “Design quer dizer projetar, conceber. O designer experiente pode ajudar a pensar todo o processo.” Falando da sua experiência em particular, Toni Grilo confessa: “Eu, felizmente, tive oportunidade de poder contribuir mesmo na organização da fábrica para alguns clientes e, noutros casos, rever o processo produtivo porque se ia mudar algum aspeto. Foi o caso por exemplo da Sofalca10, produtor de cortiça negra há já 50 anos, cuja fábrica produzia painéis de isolamento para a construção. Na crise da construção em 2008-2010, em que se vendia menos isolamento, refletimos sobre o que se poderia fazer em termos de design, chegando mesmo a rever o próprio negócio da empresa. Desafiei então a empresa a produzir componentes de cortiça para mobiliário ou arquitetura, mas que estivessem “à vista”, não escondidos dentro das paredes. Esta mudança de conceção implicou mudanças no próprio material e na produção. Isto eu considero que é design. Meti-me então a desenhar peças de mobiliário com qualidade, para poder vender a nível internacional. Hoje, a Sofalca é líder na venda de mobiliário em cortiça”. “Outro caso de que posso falar é de uma metalomecânica onde se decidiu criar uma marca de mobiliário, mas com preocupações com a escolha dos materiais, a qualidade do produto e as condições de trabalho dos artesãos. Decidimos por exemplo que no fabrico do produto não poderia haver intervenção de químicos, seja cromagem, seja pinturas. Optou-se pela utilização de metais “puros” (aço, alumínio, latão) e o tratamento foi pensado de maneira ecológica. Conseguimos evitar a colagem, recorrendo à junção mecânica para acrescentar aos metais outros materiais como madeiras, mármores e outros. Quando se olha para o produto não se vê isso, mas eu e o empresário Ricardo Lucas sabemos que demos um grande contributo para a economia circular na Riluc11.” Toni Grilo contesta as chamadas tendências de mercado, considerando que dificilmente são uma boa aposta para a rentabilidade das empresas e podem ter consequências ambientais negativas. Grilo defende que as empresas devem fazer produtos diferentes umas das outras, e numa lógica de intemporalidade. Por um lado, isto evita que os trabalhadores tenham de estar permanentemente a produzir peças diferentes, com potenciais perdas de rentabilidade e, por outro, que os clientes tenham a tentação de se desfazer de peças que deixem de “estar na moda”. “Temos de desenhar peças que sejam duráveis não só ao nível dos materiais que incorporam, mas também ao nível de conceção e design próprio, do estilo. Vejamos o caso da Vitra que é uma referência a nível de design moderno e contemporâneo. O sofá que todos os arquitetos gostam de colocar nas decorações, porque é um ícone, vai estar lá sempre. O que é bom não se muda.” Grilo defende também o design para a manutenção e para a reparação: “É muito importante planear, ter uma equipa de designers a pensar sobre as coleções. Desenhar peças comuns a vários móveis, rentabilizando a produção. Se o móvel vai para o lixo tem de ser fácil desaparafusar o pé ou a roda. E também usar low technology, coisas mais básicas. Eu gosto de pensar naquelas pessoas que havia antigamente que reparavam tudo. Esse negócio de prolongar a vida dos objetos é fundamental e, se temos peças que são complexas, que usam tecnologia complicada tornamos difícil o seu conserto.” “A meu ver temos de voltar um pouco atrás e tornar o custo de produção mais baixo e mais simples. Nas fábricas está tudo cada vez mais automatizado e depois temos marceneiros fabulosos, que sabem usar as mãos como ninguém e não têm trabalho. A talha, o trabalho das peles, temos falta de quem faça uso disso em Portugal. Temos este know-how, esta cultura artesanal, e em poucos anos isso vai desaparecer. Isto preocupa-me imenso. Curiosamente, agora vamos a Nova Iorque e vemos o surgimento de pequenos ateliês de carpinteiros e designers que produzem de modo mais artesanal.” 10

https://www.sofalca.pt/ 11 https://www.riluc.com/

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A Economia Circular na perspetiva dos associados da APIMA Um inquérito realizado junto dos associados da APIMA permitiu conhecer o seu posicionamento relativamente às temáticas da sustentabilidade e economia circular. Foram recolhidas 33 respostas cujos resultados são descritos nos parágrafos seguintes. Das empresas inquiridas 85% têm até 100 trabalhadores, sendo que 30% têm entre 10 e 50 e 30% têm entre 50 e 100 trabalhadores. 21% das empresas têm mais de 30 anos de existência e 45% têm entre 10 e 30 anos. Apenas 9% são empresas jovens, com até 5 anos de existência.

Mais de 70% das empresas não tomou ainda qualquer medida no sentido de medir os seus impactes ambientais. Apenas uma empresa possui um sistema de gestão ambiental certificado segundo a norma ISO 14001 e outra encontra-se em processo de certificação para o mesmo sistema. 85% dos empresários afirma que, no caso de terem de realizar um investimento num equipamento ou serviço, procuram conjugar os fatores ambiente e custo. Estão dispostos a adotar uma solução de compromisso, que pode não ser a de menor custo nem a que resulta no menor impacto ambiental. 15% privilegiam o custo do equipamento ou serviço, independentemente do impacto ambiental. 18

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A ECONOMIA CIRCULAR NA PERSPETIVA DOS ASSOCIADOS DA APIMA

Quantos empregados trabalham na sua empresa?

30,3%

Entre 1 e 10 empregados 15,2%

Entre 10 e 50 empregados

Entre 50 e 100 empregados

Entre 100 e 200 empregados

30,3%

33 respostas

24,2%

Mais que 200 empregados

21,2%

Qual a idade

15,2%

da sua empresa?

9,1%

45,5%

33 respostas

9,1%

A empresa tem um sistema de gestão ambiental implementado?

APIMA

Entre 10 e 30 anos

Entre 30 e 50 anos Mais que 50 anos

Não 18,2%

Qual a durabilidade média dos seus produtos?

19

Entre 5 e 10 anos

Sim

81,8%

33 respostas

33 respostas

Entre 1 e 5 anos

54,5%

Até 5 anos

De 6 a 15 anos

De 16 a 25 anos 24,2%

18,2%

Mais de 25 anos

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A ECONOMIA CIRCULAR NA PERSPETIVA DOS ASSOCIADOS DA APIMA

Mais de 90% dos empresários que responderam ao inquérito revelam já ter ouvido falar do conceito de economia circular (EC) e 64%, após serem confrontados com a definição de EC, consideram já estar a adotar na sua empresa algumas estratégias neste âmbito. Apenas uma empresa, no entanto, considera que a EC é nuclear na sua atividade enquanto 12% consideram que a EC está num estado avançado, sendo já evidente a elevada sensibilização dos seus funcionários. Adicionalmente, 27% consideram que já é evidente alguma sensibilização dos funcionários, 33% encontram-se a explorar formas de integrar a EC nas suas atividades e 18% pretendem ainda saber mais sobre EC antes de avançarem para a sua aplicação.

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A ECONOMIA CIRCULAR NA PERSPETIVA DOS ASSOCIADOS DA APIMA

No caso de a sua empresa ter de realizar um investimento num equipamento ou serviço qual dos fatores pesa mais na escolha da melhor solução:

O custo As soluções que resultar no menor impacto ambiental

84,8% 15,2%

Uma solução de compromisso, ou seja, uma soluação que pode não ser a de menor custo nem a que resulta no menor impacto, mas que conjugue os dois fatores

33 respostas

Já ouviu falar do conceito de Economia Circular? 33 respostas

A Economia Circular pode ser definida como a transição de uma sociedade que privilegia o descartável e o desperdicio para uma sociedade o...

9,1%

Não

90,9%

30,4%

Sim Não 63,6%

33 respostas

Muito avançada - É nuclear no que fazemos

Em que estado considera que se encontra a sustentabilidade e a economia circular na sua empresa? 33 respostas

Sim

18,2% 33,3%

Avançada - É já evidente a elevada sensibilização dos funcionários para esta temática A melhorar - É já evidente alguma sensibilização dos funcionários

12,1% 27,3%

A dar os primeiros passos – estamos a explorar formas de integrar os princípios da economia circular na empresa Já ouvimos falar deste conceito estratégico e estamos interessados em saber mais Ainda não temos uma noção do que é economia circular Pensamos que os princípios da economia circular não se aplicam à nossa empresa

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A ECONOMIA CIRCULAR NA PERSPETIVA DOS ASSOCIADOS DA APIMA

Em termos de práticas atuais:

Mais de metade das empresas produz produtos duráveis (com durabilidade prevista de mais de 25 anos); Cerca de 80% utiliza derivados de madeira no fabrico dos seus produtos; Cerca de 70% contratualiza a recolha dos seus resíduos para reciclagem e 40% contratualiza a recolha de lamas dos acabamentos para tratamento; Cerca de 60% utiliza madeira certificada e materiais reciclados nos produtos e possui cabines com filtros secos e rede de aspiração de partículas nas instalações; Cerca de 50% utilizam produtos de acabamento de base aquosa e valorizam a madeira residual resultante do corte, em caldeiras de biomassa; Cerca de 80% integram práticas artesanais na sua produção, possuindo artesãos ou subcontratando-os; Mais de 70% subcontratam empresas para atividades de produção complementares. 22

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23

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Utiliza cartão reciclado nas embalagens

Tem sistema de produção de energia a partir de fontes renováveis

Faz outro aproveitamento da madeira residual

Faz produção de Briquetes ou Granulado para aquecimento, a partir dos resíduos

Possui caldeira de biomassa

Possui rede de climatização na produção

Possui rede de aspiração de partículas

Contratualiza a recolha de resíduos para reciclagem

Possui cabines com filtros secos Contratualiza a recolha de lamas dos acabamentos

Contratualiza a recolha das águas residuais

Possui ETAR própria

Utiliza materiais reciclados recolhidos nas praias ou oceanos

Utiliza substitutos da pele animal Utiliza pele de animais abatidos para consumo alimentar

Utiliza materiais reciclados no produto

Utiliza folhas de madeira natural

Utiliza produtos de acabamento aquosos

Utiliza madeira com certificados FSC

Utiliza derivados de madeira

0

1 (3%)

1 (3%)

10

6 (18,2%)

20 (60,6%)

20

15 (45,5%)

23 (69,7%)

20 (60,6%)

18 (54,5%)

15 (45,5%)

14 (42,4%)

11 (33,3%)

8 (24,2%)

5 (15,2%)

7 (21,2%)

7 (21,2%)

22 (66,7%) 19 (57,6%)

16 (48,5%)

20 (60,6%)

30

26 (78,8%)

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Indique quais as opções que se aplicam à sua empresa

33 respostas

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Em termos de práticas que mais diretamente se podem associar à EC, o panorama nas empresas que responderam ao inquérito (Tabela 2) é o seguinte: As estratégias mais adotadas pelas empresas em termos de sustentabilidade e EC são a utilização de matérias-primas com certificação de sustentabilidade, a utilização de materiais reciclados, a aposta na reparação e recuperação dos produtos, o desenho para a modularidade dos produtos, o aumento da reciclagem de materiais na empresa e a utilização do calor desperdiçado; As estratégias que as empresas na generalidade ainda não adotaram, mas pretendem vir a adotar no futuro, envolvem redesenhar os produtos para reduzir os resíduos a eles associados, alugar equipamentos fabris subutilizados noutras empresas, partilhar equipamentos subutilizados na própria empresa, trabalhar com a cadeia de abastecimento para reduzir os resíduos, remanufaturar alguns dos produtos e utilizar energia renovável; As estratégias que em geral os empresários consideraram não ser aplicáveis ao contexto das suas empresas são o fornecimento do produto como um serviço (renting ou leasing) e a criação de um sistema de retoma dos produtos junto dos clientes.

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Já praticamos

Pretendemos adotar no futuro

Não consideramos uma solução aplicável na nossa empresa

Resposta em branco

Redução do uso de materiais virgens

11

11

8

3

Utilização de matérias-primas com certificação de sustentabilidade.

21

10

-

2

Utilização de materiais reciclados.

20

6

4

3

Trabalhar com a cadeia de abastecimento para reduzir/gerir os resíduos

13

16

1

3

Aposta na reparação e recuperação dos nossos produtos

14

10

7

2

Remanufactura de alguns dos nossos produtos

7

14

10

2

Redesenhar produtos para reduzir os resíduos: para facilitar a desmontagem para a reparação ou a separação dos materiais no fim de vida

9

20

2

2

Desenho para a modularidade dos nossos produtos

15

7

8

3

Aumento da reciclagem de materiais na empresa

21

10

1

1

Fornecimento do produto como um serviço (aluguer/leasing dos produtos)

2

7

22

2

Reabilitar produtos para venda em segunda mão

6

14

11

2

Usar calor desperdiçado

13

10

7

3

Utilizar energia renovável

11

14

4

4

Sistema de retoma dos produtos junto dos clientes

3

10

15

5

Partilhar equipamentos fabris subutilizados

1

17

10

5

Alugar equipamentos fabris subutilizados noutra empresa

2

20

7

4

Tabela 2 – Práticas de EC dos associados da APIMA, por tipo de prática (unidade: número de respostas)

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Ainda segundo os empresários, os principais fatores que motivaram as empresas A nossa estratégia de sustentabilidade e EC foram o potencial que estas estratégias 18 (54,5%) podem a apostar na sustentabilidade A legislação ambiental existente 13 (39,4%) oferecer de entrada em novos mercados, as estratégias internas das empresas em A redução de custos termos de sustentabilidade e a expectativa dos clientes. 12 (36,4%) A expectativa dos nossos clientes As restrições crescentes no fornecimento de matérias-primas para a nossa atividade

17 (51,5%)

8 (24,2%)

Quais os principais motivos que levaram/podem levar a sua empresa A possibilidade de maiores lucros futuros 4 (12,1%) aO potencial apostar na sustentabilidade e economia circular? da entrada em novos mercados Reduzir o desperdício e evitar 33 respostas

a deposição em aterros

14 (42,4%)

4 (12,1%)

A flutuação dos preços dos recursos A nossa estratégia de sustentabilidade Acompanhar os nossos concorrentes A legislação ambiental existente

8 (24,2%)

A redução de custos 0

A expectativa dos nossos clientes As restrições crescentes no fornecimento de matérias-primas para a nossa atividade

5

10

13 (39,4%) 12 (36,4%) 15

8 (24,2%)

18 (54,5%) 20 17 (51,5%)

4 (12,1%)

A possibilidade de maiores lucros futuros

O potencial da entrada em novos mercados Reduzir o desperdício e evitar a deposição em aterros

25

23 (60,7%) 14 (42,4%)

4 (12,1%)

A flutuação dos preços dos recursos

23 (60,7%)

8 (24,2%)

Acompanhar os nossos concorrentes

0

5

10

15

20

25

Os principais constrangimentos que as empresas consideram existir à adoção de medidas de sustentabilidade e EC são os custos associados à inovação e a falta de informação sobre as estratégias a adotar.

Quais os fatores que considera estarem a dificultar a adoção de medidas de sustentabilidade e economia circular na sua empresa? 33 respostas

A falta de informação sobre o assunto Legislação ambiental

Custos associados à inovação Volatilidade dos preços das matérias-primas

7 (21,2%)

Risco financeiro associado ao investimento em novas soluções e equipamentos Ineficácia do sistema de gestão de resíduos atual dificulta a recuperação de materiais que podem constituir matéria-prima

Limitação de recursos humanos na empresa

Falta conhecimento 26 de profissionais APIMA comGuia de Boas na área em Portugal Perspetiva de baixa adesão dos clientes a novos modelos de negócio

12 (36,4%)

8 (24,2%)

Limitação de recursos humanos na empresa A falta de informação sobre o assunto Falta de profissionais com conhecimento Legislação ambiental na área em Portugal

Dificuldades na obtenção de financiamento para aquisição de novas tecnologias 0

20 (60,6%)

6 (18,2%)

Dificuldades na obtenção de financiamento para aquisição de novas tecnologias

Custos associados à inovação Perspetiva de baixa adesão dos Volatilidade dos preços matérias-primas clientes a novosdas modelos de negócio Risco financeiro associado investimento A procuraao dos clientes por em novas soluções e equipamentos produtos mais sustentáveis Ineficácia do sistema de gestão de resíduos Consideramos que não tem havido barreiras atual dificulta a recuperação de materiais significativas à adoção da matéria-prima EC na empresa que podem constituir

17 (51,5%)

7 (21,2%)

9 (27,3%)

17 (51,5%)

5 (15,2%) 7 (21,2%) 4 (12,1%) 7 (21,2%)

20 (60,6%) 12 (36,4%) 12 (36,4%)

6 (18,2%)

2 (6,1%) 5

8 (24,2%) 10 9 (27,3%)

15

20

Práticas para a Economia Circular na Fileira Casa 5 (15,2%) 4 (12,1%)


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À questão sobre as medidas que tomaram ao nível das várias fases do processo no sentido de reduzirem os custos de produção, as respostas dos empresários foram variadas. Na Tabela 3 são apresentadas algumas dessas respostas.

FASE DO PROCESSO

MEDIDAS ADOTADAS

Fazemos stock apenas da matéria prima cujos produtos têm mais saída; Recorremos a uma maior utilização de aglomerados de madeira e melamina e menos madeira; Compramos em quantidade determinadas matérias-primas;

Aquisição de Matérias Primas

Implementámos um sistema de gestão mais eficaz e que permite consultar o stock on time; Fazemos encomendas maiores antecipadamente e com armazenamento. Adquirimos materiais apenas quando temos encomenda. Gestão mais precisa das necessidades de produção, com principal incidência na redução de compras extraordinárias. Com esta medida além de reduzirmos os custos de paragem e atrasos na produção centralizamos as compras em cadências mais regulares.

Subcontratamos; Adquirimos um optimizador de corte, e reaproveitamos resíduos;

Serragem da madeira

A empresa trabalha cada vez menos com madeiras maciças, optando pela utilização de derivados de madeira, daí não ser necessária a aposta na redução dos custos nesta área específica; Usamos seccionadores automáticos.

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FASE DO PROCESSO

MEDIDAS ADOTADAS Procuramos fazer um melhor aproveitamento das sobras dos cortes; Subcontratamos; Procuramos otimizar a gestão de produção para minimizar desperdício no corte; Usamos uma esquadrejadora com optimizador de corte digital;

Corte de placa

Utilização de CNC’s para corte de placas; Estamos em fase de implementação de metodologia kaizen Desenvolvimento de novo software para exportação direta de medidas de corte a partir de algoritmos relacionais entre medidas de elementos; Aquisição de nova versão do optimizador de todas as seccionadoras. Investimento em orladoras; Subcontratamos;

Maquinação

Aquisição de CNC para pedra; Aumento de carga de trabalho em todas as máquinas CNC. Aposta na aquisição de equipamento de menor consumo energético. Formação; Utilização de cavilhas e ligadores metálicos em vez de espigas de madeira; 1. Introdução de posto de trabalho a partir do ERP (software de gestão) para um maior controlo de tempos de produção;

Montagem

2. Aplicação de ferramentas informáticas de apoio aos trabalhos dos colaboradores da secção; 3. Identificação de cada elemento das encomendas com numeração que corresponde à numeração dos desenhos, o que facilita a montagem; Utilização de sistemas de fixação em detrimento de colagem; Melhoramento do layout da empresa e iluminação mais eficiente. Formação; Subcontratação;

Marcenaria

Redefinição do layout da marcenaria; Utilização de lixadoras com aspiração e aproveitamento do serrim na caldeira;

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FASE DO PROCESSO

MEDIDAS ADOTADAS Investimento em misturadoras que poupam em solventes; Os nossos produtos não têm acabamento ou então usamos vernizes aquosos; Reagrupamento de cores e diminuição das ofertas de cor;

Acabamento

1. Lançamento de sistema de informação que determina a quantidade aproximada de químicos necessários para cada encomenda; 2.Redefinição do layout; 3. Melhorias na gestão de stock; Cabines maiores aquecidas com gestão/agrupamento por tipo de acabamento; Reaproveitamento dos solventes para diluente; Utilização de produtos de melhor qualidade e melhores para o ambiente. Formação de pessoal; Produtos são enviados já montados, prontos a ser usados; Embalagens de cartão reciclado - substituição madeira por cartão favo de mel reciclado;

Montagem final

Especialização de equipas segundo as tarefas; Rodagem de equipas para os colaboradores melhor aprenderem uns com os outros; Utilização de sistemas de fixação em detrimento de colagem; Otimização de técnicas montagem Uniformização das embalagens com caixa de cartão e etiquetagem;

Saída do produto para o cliente final

Estamos a montar um sistema para controlo de expedições mais eficiente; Redução da utilização de plásticos na embalagem; Utilização de cartão e materiais reciclados; Otimização de rotas e grupagem; Rentabilizamos ao máximo a ocupação do espaço disponível.

Tabela 3 – Medidas de redução dos custos de produção adotados por associados da APIMA (seleção)

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Boas práticas de Economia Circular na Fileira Casa Uma análise aos resultados do inquérito, complementado pela realização de entrevistas a alguns associados da APIMA permite concluir que: As empresas do setor são PME e mais de metade tem décadas de atividade. Consideram pouco relevante realizar avaliações para conhecer os impactes ambientais associados à sua atividade, certamente por considerarem que já os conhecem e já tomarem medidas para os reduzir. Revelam por outro lado que ainda têm de conhecer melhor a economia circular para a aplicar, considerando que ainda existe muita falta de informação sobre o tema. No entanto, como se verifica pelos resultados do inquérito, diversas empresas já aplicam estratégias que contribuem para a economia circular, mesmo não tendo noção de que é esse o efeito. Muito se deve ao facto de as estratégias de economia circular, no fundo, retomarem práticas antigas de períodos em que os recursos não estavam tão facilmente disponíveis, onde o normal era usá-los com parcimónia. O resultado apresentado pelas empresas em relação à otimização dos seus processos revela que, apesar de esta ser realizada sobretudo com base na otimização de custos, tem muitas vezes como resultado melhorias ambientais. Aproveitar o desperdício de materiais em benefício da empresa, reduzir ou eliminar o uso de solventes sintéticos, subcontratar determinados trabalhos evitando a aquisição de maquinaria para uso esporádico, por exemplo, demonstram cabalmente que medidas positivas para o ambiente podem e devem estar associadas a medidas de redução de custos.

30

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BOAS PRÁTICAS DE ECONOMIA CIRCULAR NA FILEIRA CASA

Com base no conjunto de estratégias para a economia circular e para o design ecológico e no levantamento de casos de boas práticas, definem-se 10 estratégias a adotar pelos atores da fileira casa para promoverem a economia circular “dentro e fora de portas”:

MODELO DE NEGÓCIO

ESTRATÉGIA

Otimização

Reduzir

Colaboração e partilha

Partilhar

Sistema

Produto como

de produto-serviço

serviço Reparação e manutenção

Extensão do tempo de vida útil

Modularidade e Atualização (upgrading)

sustentabilidade

31

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Aumentar a eficiência na produção, consumindo menos recursos Privilegiar materiais e energia renovável Desenvolver soluções de aumento do uso da capacidade dos equipamentos e produtos Vender o serviço que os produtos providenciam Prestar serviços de reparação e manutenção para prolongar a vida útil dos produtos existentes no mercado Produzir produtos em que podem ser acrescentados ou retirados módulos, consoante as necessidades. Melhorar o desempenho do produto através da atualização dos componentes existentes com componentes mais recentes.

Remanufatura

Recuperar e executar restauração ou melhoria da funcionalidade original dos produtos

Reciclagem

Usar materiais reciclados e materiais recicláveis na produção

Valorização

Valorizar materiais desperdiçados (exemplo, uso de serrim em caldeiras, uso de subprodutos como matérias-primas)

Valorização material

Marketing para a

DESCRIÇÃO SUMÁRIA

Comunicação

Promover a economia circular ao comunicar as boas práticas da empresa

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BOAS PRÁTICAS DE ECONOMIA CIRCULAR NA FILEIRA CASA

Nos parágrafos seguintes apresentam-se casos de aplicação das estratégias à fileira casa, em empresas associadas da APIMA e outros casos internacionais. Em cada caso são assinaladas, recorrendo aos ícones da tabela anterior, as estratégias que a empresa está a aplicar.

Otimização dos processos Os limites do planeta determinam que no século XXI a evolução tecnológica e as boas práticas terão de ser orientadas no sentido de garantir ganhos de produtividade com os recursos. A economia circular pretende precisamente transformar as atuais ineficiências nas cadeias de produção-consumo em valor económico e ganhos ambientais. As empresas têm de gerir de forma ecoeficiente a energia, as matérias-primas e os materiais auxiliares, através de boas práticas de otimização e com recurso a equipamentos mais eficientes. Otimizar significa assegurar o rendimento ótimo de uma máquina, uma empresa, uma ação, criando as condições mais favoráveis ou tirando o melhor partido possível da mesma. A otimização ambiental significa assegurar este rendimento ótimo ao nível do consumo e uso dos recursos materiais, energia e água. Quanto mais otimizado o processo, menor o desperdício e menores os custos de produção.

A AM Furniture12, fundada em 1962, é uma empresa essencialmente exportadora que apresenta uma forte preocupação em melhorar e avaliar as suas práticas de qualidade, sociais e ambientais. Esta preocupação reflete-se pela grande quantidade de certificações obtidas pela empresa, como a ISO 9001, ISO 14001, NP 4427, PEFC e FSC – chain of custody. Numa lógica de melhoria contínua a AM Furniture adotou uma política zero resíduos nas suas instalações, reaproveitando e valorizando todos os desperdícios. Os materiais sobrantes são aproveitados, nomeadamente, para produzir equipamentos ou estruturas de apoio à produção.

12

https://amfurnituregroup.com/

32

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A A. Brito13, empresa de cariz fortemente exportador, fundada em 1970, especializou-se em mobiliário modular, tendo desenvolvido um layout industrial preparado para produzir centenas de modelos diferentes a partir de uma mesma base de componentes. Para este objetivo a empresa investiu fortemente na otimização dos processos “com equipamentos e pessoal produtivo e não produtivo mais eficientes, designadamente ao nível de um gabinete técnico e administrativo mais cotado e um parque industrial devidamente organizado e estruturado. As sinergias criadas entre estes dois fatores permitem que a empresa esteja dotada do conhecimento e saber fazer para enfrentar as exigências das conjunturas políticas e ambientais.” Exemplo disso é o facto de atualmente utilizarem misturadoras, que permitem a redução de solventes, mas também a aposta num armazém inteligente que aumenta a eficiência do processo e, consequentemente, implica uma poupança ambiental.

A Zagas14 é uma empresa com mais de 70 anos que privilegia desde sempre a utilização de madeira maciça e óleos naturais na confeção dos seus móveis. Para a empresa, a sustentabilidade “mais do que uma tendência é uma responsabilidade e nesse sentido orienta a pesquisa para oferecer aos clientes soluções mais sustentáveis”. Além da aposta nos materiais “mais naturais” a empresa tem apostado fortemente na otimização dos processos de produção e no aproveitamento de todo o desperdício resultante desses processos. Como refere Albano Silva, CEO da empresa: “Aproveitamos os resíduos da madeira para queima, por um lado, para usar na caldeira para aquecer a empresa, por outro lado para aquecer a água das prensas. O nosso ponto de partida é reduzir custos e otimizar ao limite. Por exemplo, as pontas que sobram são por vezes aproveitadas para fazer partes interiores dos móveis, porque fazemos uma espécie de aglomerado que aproveitamos. E no limite, como disse, são aproveitados para fazer briquetes para o aquecimento da empresa.” Albano Silva considera mesmo que as empresas teriam vantagem em colaborar no aproveitamento comercial desses desperdícios: “uma ideia que eu tenho é a de um dia financiar uma tese de mestrado ou doutoramento que analise o potencial do aproveitamento dos resíduos das empresas desta área ligadas ao mobiliário. Aqui nesta zona muitas pessoas têm em casa o seu fogão a lenha, a sua lareira ou salamandra e pode ser uma forma de aproveitar resíduos que estão próximos.” A Zagas apostou também no design para otimizar a distribuição dos móveis: “Usamos cavilhas e ligadores metálicos em vez de espigas de madeira para possibilitar que os móveis vão desmontados no transporte. Por duas razões: uma é a possibilidade de podermos transportar mais peças de cada vez e outra prende-se como facto de em alguns países ser vantajoso fiscalmente enviar os móveis desmontados para serem montados e embalados por empresas locais.”

13

https://www.aabrito.com/

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14

https://www.zagas.pt/

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Reduzir o uso de matérias primas virgens Outra forma de contribuir para a produtividade dos recursos é apostar no aproveitamento de desperdícios de outros processos. Na verdade, grande parte dos resíduos descartados são materiais com valor, que perdem esse valor no preciso momento que são colocados em aterros industriais ou sanitários.

A Magna Natura15 é uma marca registada The Cork Magicians Company, criada em 2013, que produz mobiliário, revestimentos ecológicos e peças de decoração. Numa lógica de simbiose industrial, a Magnanatura usa como matéria-prima para os seus produtos a cortiça, que constitui um desperdício da indústria corticeira. Fernando Américo, administrador da empresa explica: “Estamos a usar um subproduto que não serve para a indústria das rolhas nem de outros produtos. Geralmente vai para triturar mesmo sendo cortiça nova, e nós fazemos um upgrade, valorizando aquela cortiça. Apesar de usarmos a cortiça no seu estado mais puro conseguimos dar-lhe um ar refinado”. Por outro lado, a produção da cortiça em montado está fortemente associada à preservação da biodiversidade: “Nos nossos produtos a cortiça é o elemento essencial até por estar associada à dimensão de manutenção do ecossistema”. Mas a empresa não pretende ficar por aqui: “Num outro projeto que estamos a desenvolver vamos usar outros materiais descartados, como madeira, aço, ferro. Vamos recolher esses produtos por exemplo em estaleiros de construção civil - partes de luminárias, madeiras de vigas e soalhos etc. Vamos recuperá-los, recondicioná-los e integrá-los em novos produtos que vamos conceber.” Fernando Américo reconhece que a Magna Natura não veio para se posicionar “no mercado mais tradicional, porque esse já está cheio de boas empresas e boas soluções”. E acrescenta: “Nós estamos a posicionar-nos mais para mercados que dão mais valor à sustentabilidade como é o mercado do Reino Unido e o da Alemanha.” A Cork Magicians defende também fortemente a cooperação entre as empresas, no sentido de rentabilizar os equipamentos e as especialidades dos trabalhadores (ver secção Cooperação, sistemas produto-serviço). Nesse sentido, a Magnanatura privilegia a subcontratação de outras empresas para as diferentes fases da produção dos seus móveis.

A Tapeçarias Ferreira de Sá16, é uma das maiores e mais antigas empresas a produzir tapetes de luxo na Europa. De acordo com a comunicação da empresa, na produção são usadas “matérias-primas ecológicas e sustentáveis, produtos químicos não poluentes e um vasto processo de reciclagem”. A empresa privilegia o uso de materiais naturais produzidos de forma responsável, como é o caso da New Zealand wool, uma lã sustentável e biodegradável de acordo com o padrão Responsible Wool Standard (RWS), fibras de Mohair (biodegradáveis), a seda botânica - fio natural, biodegradável com o selo EU Ecolabel, entre outras matérias. 15

https://www.magnanatura.com/ 16 https://ferreiradesa.pt/

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Mais recentemente, a Ferreira de Sá lançou uma coleção hand-tufting 100% sustentável, a Circular Collection, onde combina matérias-primas regeneradas, como é o caso do Econyl17, um fio de nylon regenerado. O Nylon é proveniente de redes de pesca e das alcatifas usadas dos hotéis. Esta matéria-prima tem a mais-valia de poder ser reciclada infinitamente sem perder propriedades, tendo assim uma grande contribuição na redução do aquecimento global até 90%, em comparação com as matérias primas proveniente do petróleo.

A darono18 (“dar o nó”) é uma marca de mobiliário têxtil e artigos de decoração fundada em 2013 cujos artigos são inteiramente artesanais, usando teares manuais e técnicas baseadas em nós, alguns deles usados pelos pescadores para trabalhar e recuperar as redes de pesca. Os materiais usados na concepção das peças - como puffs, redes, tapetes, almofadas ou baloiços – são excedentes de produção de indústrias europeias, como por exemplo uma fibra composta por poliéster e viscose. Como refere Catarina Carvalho, uma das fundadoras da marca: “O nosso foco, que é a essência da marca, é trabalhar com o desperdício têxtil. Ou seja, tudo aquilo que fazemos tem por base uma trança feita com excedentes de produção têxtil. É um upcycle. Recuperamos materiais que seriam deitados ao lixo e transformamos numa trança, que tem tratamentos especiais para ser usada também em ambientes de exterior”19.

Outros exemplos internacionais da aposta na produtividade e uso sustentável dos recursos são: A ChopValue20 que recolhe pauzinhos de bambu usados em restaurantes no Canadá e nos EUA e os transforma em placas de madeira que são utilizadas numa coleção de mobiliário e artigos para casa. Segundo os fundadores, desde 2016 mais de 32 milhões de pauzinhos foram desviados dos aterros e transformados em novos produtos para a fileira casa que são, inclusivamente, adquiridos por alguns dos restaurantes que fornecem os pauzinhos usados. A Stolab21, na Suécia, que criou linhas de produtos sob a designação New Life, criados e concebidos usando desperdícios ou resíduos dos processos de fabrico de outros produtos seus, que de outra forma seriam descartados ou incinerados; A Emeco22, nos Estados Unidos, que foi fundada em 1944 para fabricar cadeiras leves para a Marinha dos EUA, resistentes à corrosão e ao fogo e que fossem à prova de torpedos (!). Atualmente a sua política passa por explorar e inovar continuamente formas de utilizar resíduos industriais e urbanos e materiais produzidos de forma sustentável, para criar e construir mobiliário. A confiança na sua política ambiental levou mesmo a empresa a passar a medir e divulgar a pegada carbónica dos seus produtos.

https://www.econyl.com/ 18 https://darono.pt/ 19https://www.altominho.com.pt/2021/01/22/darono-transforma-lixo-textil-em-produtoseco-amigos/ 20 https://chopvalue.com/ 21https://www.stolab.se/en/ 22https://www.emeco.net/ 17

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Extensão do tempo de vida dos produtos O objetivo principal da economia circular é maximizar o tempo que os produtos, componentes e materiais são mantidos em uso. Idealmente, o que se pretende atingir é um ciclo ininterrupto que aproveita os potenciais de valor inexplorados na cadeia de valor tradicional. O velho modelo económico tem-se concentrado em construir produtos e vendê-los, encorajando os compradores a continuar a comprar mais. O novo modelo, circular, passa por criar produtos duráveis e reparáveis assegurando que os recursos naturais são usados de forma mais eficiente. A extensão da vida útil dos produtos ou dos seus componentes é conseguida apostando na reutilização, reparação, restauro, remanufactura ou realocação (de partes, ou componentes, em novos produtos). Quando estas opções já não são possíveis ou rentáveis, os materiais incorporados nos produtos devem ser separados e reciclados para incorporar novos produtos Reciclar Fim de vida

Renovar/ Remanufaturar

Reutilizar/ Redistribuir

Manter/ Prolongar

Partilhar

Figura 2 – Estratégias de extensão do tempo de vida dos produtos e componentes (Adaptado de Lemille, 2019)23

23

https://issuu.com/makingit/docs/makingit_26_web

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A LBF – Lino Barros e Ferreira Lda., é uma empresa com mais de 50 anos de atividade que concebe produtos cuja montagem recorre a sistemas de fixação em detrimento da colagem, para facilitar a substituição de componentes danificadas. A empresa apostou também na otimização no corte da placa, na aquisição de equipamento de menor consumo energético, na utilização de lixadoras com aspiração (e consequente aproveitamento do serrim na caldeira) e no reaproveitamento dos solventes como diluente. Falando sobre a estratégia da empresa, Daniel Barros refere que “todos os investimentos que temos feito ao longo dos últimos 5 anos têm tido a preocupação da sustentabilidade. Tentamos aproveitar ao máximo os recursos que temos. O aproveitamento do serrim na caldeira é apenas uma das componentes. Temos atualmente 600m2 de painéis de energia solar e está nos nossos horizontes aumentar esta área”. Sobre os produtos Daniel Barros afirma que “a preocupação com a questão da durabilidade vem de trás. Se o cliente tiver algum problema com as componentes dos nossos produtos, garantimos que estas podem facilmente ser reparadas ou substituídas. Esta possibilidade foi ainda mais desenvolvida quando fomos para o mercado internacional. Tentámos aplicar a possibilidade de reparar componentes danificadas, mas revelou-se muito dispendioso. Trazer o móvel do estrangeiro para retocar é caro em termos logísticos. Então começámos a desenvolver ainda mais a componente em que todos os nossos móveis e as nossas peças acabam por ser substituíveis.” “Nós comunicamos aos nossos clientes (lojistas, profissionais) as vantagens da durabilidade e da possibilidade de substituição, é-lhes dada formação nesse sentido, precisamente para poderem argumentar e vender com base nestes argumentos e nestas características. Se isso é usado como argumento de venda ou não, não sabemos. Mas sei de clientes que adquiriram móveis há anos e que vão à loja pedir substituição de peças. Sei que nem questionam se é possível, assumem logo que a peça é substituível. Por isso presumo que esta possibilidade será de alguma forma comunicada ao cliente final”.

A JLC24 é uma empresa na área da decoração de interiores, especializada na conceção e produção de coleções de mobiliário clássico e contemporâneo, iluminação e artigos de decoração. É também editora de uma coleção própria de tecidos. A maioria dos móveis da JLC são feitos por medida, indo ao encontro das necessidades dos clientes. No entanto, a empresa está a pensar em preparar uma coleção com peças modulares, permitindo, nomeadamente, a aquisição faseada das peças dessa coleção ou de componentes das mesmas. Como atividade complementar e sempre que se justifica, a JLC retoma móveis que, depois de devidamente recuperados, são comercializados em espaço que detém para o efeito.

24

https://www.jlc.pt/

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BOAS PRÁTICAS DE ECONOMIA CIRCULAR NA FILEIRA CASA

A SERIP25 é uma empresa com 60 anos de história na fabricação, desenvolvimento e criação de iluminação decorativa de luxo. Na última década, exportou para mais de 90 países, fundamentalmente para profissionais da área da decoração, Designers, Arquitectos, Contractors e Hospitality. Nos últimos anos a empresa tem apostado no desenvolvimento de mecanismos para a desmaterialização documental, reduzindo drasticamente a dependência de recursos físicos, atribuindo prioridade ao uso dos meios digitais em vez do papel. Tratando-se de uma empresa com várias décadas, o processo de mudança e de redução do uso destes recursos tem sido gradual com adoção de novos procedimentos e uso de ferramentas para reduzir ainda mais esta dependência. Segundo a comunicação da empresa, “a realidade virtual veio contribuir para acelerar esta mudança, com o surgimento, por exemplo, de sistemas de armazenamento digitais de documentos na cloud, que vieram permitir uma maior flexibilidade para a concretização destes objetivos internos.” Foi igualmente criado nos últimos anos um Departamento Técnico & Qualidade, que acompanha ao pormenor a produção, garantindo a qualidade, evitando o desperdício e assegurando a reciclagem e o reaproveitamento de todos os materiais nos processos de fabrico: existe uma clara tentativa de aproveitamento dos desperdícios, “por forma a que possam ser utilizados como materiais reutilizáveis. A utilização de materiais duráveis, como o vidro e bronze também reduz o impacto ambiental que a produção “do nosso tipo de produto poderia ter a curto ou médio prazo.” “Ainda relativamente ao produto e respetivo fabrico, a utilização exclusiva de iluminação LED nas nossas peças, tecnologia mais eficiente em termos energéticos, mais económica e mais durável, tem um impacto claro para uma utilização mais eficiente dos recursos existentes, aumentando por outro lado a competitividade na indústria, contribuindo para uma economia mais sustentável.” No final do processo de fabrico, o embalamento é considerado pela empresa outro dos elementos importantes para uma efetiva redução dos impactos ambientais: “A utilização de material reciclado como o OSB para o embalamento é uma excelente alternativa que é utilizada, face a qualquer outro material, pois confere segurança, robustez, imagem cuidada e simultaneamente uma possível reutilização desse material pelo final destinatário da mercadoria.”

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https://www.serip.com.pt/pt/home

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BOAS PRÁTICAS DE ECONOMIA CIRCULAR NA FILEIRA CASA

Exemplos internacionais revelam-nos também algumas das boas práticas adotadas com vista à extensão do tempo de vida dos produtos e componentes: A empresa inglesa Benchmark26 de mobiliário em madeira desenvolveu um sistema de retoma, em que o cliente pode devolver o seu produto usado. Este é então remodelado, reequipado ou doado pela empresa a instituições sociais. De forma semelhante, a IKEA, multinacional de mobiliário, criou recentemente o “Serviço 2ª Vida”. Através de uma ferramenta online é feita uma avaliação preliminar dos móveis da marca de que o cliente se pretende descartar, o cliente entrega o móvel montado, um colaborador avalia-o para confirmar a oferta e o cliente recebe um cartão de reembolso com a quantia acordada para gastar na loja. A Etsy27, marketplace online de produtos da fileira casa, tem no seu website uma secção com mais de 6000 entradas só dedicada a mobiliário recuperado, sendo um importante meio de escoamento destes produtos que têm um importante potencial de mercado, nomeadamente junto das novas gerações

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https://benchmarkfurniture.com/sustainability/

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https://www.etsy.com/

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Cooperação, sistemas produto-serviço e marketing para a sustentabilidade

A economia circular pratica-se e promove-se para além da fábrica. Pratica-se através da cooperação e da adoção de novos modelos de negócio, e promove-se comunicando as ações da empresa em termos de sustentabilidade. Analisando a realidade das empresas da fileira, verifica-se que estas estratégias são as que têm sido menos adotadas pelos associados da APIMA. Existe a este nível um grande potencial de melhoria das práticas e de retorno económico, ainda por explorar.

Cooperação – rentabilizar os equipamentos e as equipas A colaboração efetiva na cadeia de valor da fileira casa é imperativa para o estabelecimento de um sistema circular. Muitas empresas adquirem grandes máquinas ou equipamentos que, por motivos de alteração de mercado ou mesmo de dinâmicas internas da organização, têm taxas de utilização muito inferiores à sua capacidade. Como assinala Fernando Américo, da The Cork Magicians (Magnanatura): “há muitas carpintarias muito bem instaladas, com um bom parque de máquinas, e que estão paradas, subaproveitadas. É pena que existam muitas máquinas que custam centenas de milhares de euros, que são usadas duas horas por semana, mas que podiam estar a trabalhar 24 horas por dia.” E acrescenta, exemplificando: “podíamos fazer em Portugal como fizeram em Itália, onde criaram organizações que prestam serviços aos seus associados ou cooperantes. No caso das CNC, por exemplo, estas trabalham 24 horas sobre 24 horas.” O administrador reconhece, no entanto, que isto já se verifica em Portugal, no caso dos acabamentos de superfície e no corte: “há empresas que prestam serviços de lacagem e há serralharias que prestam serviços de corte de plasma de chapa. Este é um bom exemplo em que é possível criar empresas numa lógica de cooperação”.

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Um caso paradigmático das potencialidades deste novo modelo de negócio é o da empresa FLOOW228 que desenvolveu uma plataforma online de partilha businessto-business que permite às empresas e instituições de qualquer ramo de atividades partilhar a sua sobrecapacidade de ativos. Recorrendo a esta plataforma as empresas e organizações podem partilhar equipamentos, resíduos, materiais, serviços, instalações e pessoal com outras organizações, com benefícios financeiros, ambientais e sociais.

2

A empresa B tem necessidade de determinado equipamento 3

A empresa A regista na plataforma equipamento que não usa 100% do tempo e define a sua disponibilidade

1

4

6

Através da colaboração a empresa A obtém rendimento extra, a empresa B poupa nos custos e ambas poupam energia e evitam CO2.

5

Antes de proceder à aquisição do equipamento a empresa B procura na plataforma, verificando que a empresa A disponibiliza precisamente o equipamento de que necessita.

A empresa B contacta a empresa A, e se concordarem com os termos assinam o acordo e a empresa B paga via plataforma.

A empresa A envia ou disponibiliza o equipamento à empresa B

Figura 3 – Esquema de funcionamento da plataforma de partilha de equipamentos FLOOW2

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https://www.floow2.com/

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Vender os serviços, não os produtos O modelo de negócio que substitui a propriedade dos bens por pagamentos com base numa licença de utilização é fundamental no quadro de uma economia circular. As empresas produtoras e vendedoras de bens devem começar a posicionar-se como fornecedoras de serviços, através de contratos de aluguer em detrimento da venda da propriedade do bem. Este modelo de negócio já se pratica há muito no caso do aluguer de mobiliário para eventos, mas pode estender-se a qualquer categoria de mobiliário (habitação, escritórios, hotéis). Numa primeira fase o público-alvo deste modelo de negócio é, sobretudo, aquele que pratica aluguer de apartamentos em curta duração (por exemplo estudantes), mas as vantagens das licenças de utilização facilmente se estenderão a qualquer cliente assim que o mercado expanda. No mercado norte-americano já existem diferentes opções deste modelo de negócio. A Brook Furniture Rental29 apresenta três alternativas de serviço para casas de família, para escritórios e para estudantes: aluguer de peças de mobiliário individuais, mobilação de assoalhadas ou mobilação e decoração de uma casa por inteiro. A empresa oferece o serviço de planeamento da mobilação da casa e, para garantir a satisfação dos seus clientes, troca o mobiliário ou aceita devoluções durante a primeira semana de contrato. A Feather30, fundada em 2017, aposta no aluguer de mobiliário durável e de qualidade permitindo que mesmo em alugueres de habitação de curta duração os clientes possam usufruir de qualidade e design. A Feather assume também pretender permitir a clientes que não possam adquirir a pronto determinado tipo de mobiliário, possam usufruir do mesmo. Para isso, a empresa oferece planos de aluguer de 3 e de 12 meses, renováveis, e permite ao cliente adquirir os móveis no fim desses períodos. Com esta estratégia as empresas contribuem para reduzir a produção de resíduos associada ao aluguer de alternativas mais baratas, que não são construídas para durar, e rentabilizam os seus ativos.

Comunicação – dar a conhecer as boas práticas aos clientes e outros stakeholders Outra forma importante de as empresas promoverem a economia circular é usarem a comunicação e o marketing para disseminarem as suas práticas de sustentabilidade. As técnicas de comunicação evoluíram no sentido de transmitir experiências, emoções e partilha de propósitos com o consumidor. Desta forma, as empresas que se apresentam como promotoras de um ambiente mais sustentável, capitalizam no reforço do seu posicionamento competitivo.

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https://www.bfr.com/

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https://www.livefeather.com/

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Algumas empresas como a italiana Natuzzi31, a norueguesa Vestre32 ou a vel_you33 do grupo belga Veldeman, que se apresenta como a fabricante do “primeiro sistema de dormir amigo do ambiente”, têm-no feito de uma forma exemplar. A visita aos websites destas empresas permite perceber como a mensagem da sustentabilidade e da economia circular pode assumir um papel preponderante na comunicação das empresas.

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https://www.natuzzi.com/eco-sustainability.html#1

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https://vestre.com/about-vestre

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https://vel-you.com/

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Boas práticas - Estado da arte O diagnóstico às práticas de sustentabilidade e economia circular dos associados da APIMA permitiu concluir que já são adotadas diversas boas práticas no setor sendo vários os exemplos de uma boa conjugação entre redução de custos e benefícios ambientais. Determinadas estratégias para a economia circular são, no entanto, ainda encaradas com alguma desconfiança pelos associados, existindo a esse nível um grande potencial de melhoria e de aproveitamento das mais valias associadas. No quadro seguinte faz-se uma análise genérica do estado atual e do potencial ainda por explorar relativamente a cada estratégia de economia circular junto dos associados.

ESTRATÉGIAS

ONDE ESTAMOS

A maioria das empresas não tomou qualquer medida no sentido de medir os impactos ambientais associados à sua atividade.

Conhecer os impactos ambientais

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As questões ambientais estão praticamente ausentes dos planos de estudos dos designers em Portugal, com consequências nas opções tomadas na conceção dos produtos.

ONDE PODEMOS CHEGAR A transparência das empresas relativamente aos impactos das suas atividades é um requisito cada vez mais difundido em todos os setores de atividade. Adicionalmente, conhecer os impactos prepara as empresas para potenciais problemas associados a esses impactos, nomeadamente em resultado da evolução das políticas ambientais. Avaliar e comunicar a Pegada Ecológica ou Carbónica dos produtos e a disponibilização e publicitação de Declarações ambientais de produto são formas de demonstrar essa transparência, podendo constituir uma vantagem competitiva em determinados mercados. Apesar de as questões ambientais serem matérias cada vez mais divulgadas em diferentes meios de informação, qualquer opção tomada na conceção de um produto para reduzir um determinado impacto ambiental pode ter consequências em outros impactos ambientais. A sensibilidade em relação aos critérios ambientais exige conhecimentos e experiência. A formação em ecodesign é crítica para apoiar os designers a tomar as melhores opções e a saber onde procurar a melhor informação para apoiar a decisão.

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BOAS PRÁTICAS DE ECONOMIA CIRCULAR NA FILEIRA CASA

Em geral, a fileira casa envolve setores que têm contribuído, tradicionalmente, para a sustentabilidade, seja pelos materiais que privilegia, como a madeira (recurso renovável) ou os metais (materiais permanentemente recicláveis), seja pela manutenção de algumas práticas artesanais.

Otimização (redução do uso de recursos)

Os associados têm adotado medidas no sentido de otimizar os processos de fabrico, tendo em consequência conseguido atingir redução de custos de produção e simultaneamente baixos níveis de desperdício de recursos. Alguns associados têm instalado painéis solares nas suas instalações, o que permite reduzir a componente não renovável da energia necessária ao funcionamento das empresas. Diversos associados revelam-se preocupados com o excesso de embalagem que têm de usar para garantir a integridade dos seus produtos quando são distribuídos. Esta preocupação advém também do tipo de materiais que existem à disposição numa relação ótima qualidade-preço, implicando muitas vezes a opção pelos plásticos.

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É possível restringir cada vez mais o uso de soluções não renováveis (ex. º melaminas) e tóxicas (ex. º formaldeído) no fabrico dos produtos. O estudo de soluções alternativas e inovadoras ao plástico e ao excesso de cartão para embalagem pode ser oneroso para uma empresa individualmente, mas pode ser realizado numa lógica colaborativa entre os associados, envolvendo centros tecnológicos e centros de investigação universitários (projetos de investigação e inovação). Uma importante fração dos impactos ambientais indiretos do setor está associada à produção, extração e processamento das matérias-primas. Numa ótica de melhoria contínua e de responsabilidade alargada as empresas devem controlar as práticas dos fornecedores, - nomeadamente através de matrizes de avaliação de fornecedores sensibilizá-los para a necessidade de adotar processos menos impactantes e exigir cada vez mais certificações ambientais dos materiais.

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Diversas empresas da fileira recorrem a subcontratação para realização de determinados trabalhos de especialidade. Algumas empresas chegam a subcontratar trabalhos para as diferentes fases do processo de fabrico dos seus produtos, ficando a cargo apenas da conceção dos produtos, da sua comercialização e distribuição.

Colaboração

Há empresas que trabalham para a fileira que se dedicam apenas a determinados serviços de especialidade como a lacagem ou o corte de plasma.

Produto como serviço

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À exceção do aluguer de mobiliário para eventos e para escritórios, não existem soluções conhecidas de aluguer de mobiliário para apartamentos e moradias no país. Os associados da APIMA consideram, em geral, que adotar um sistema de aluguer dos seus produtos ao invés da sua venda, é uma solução que não é viável para o seu negócio

É desejável alargar o universo de empresas que se dediquem a trabalhos especializados e que por essa razão garantam a rentabilização de equipamentos muito onerosos, que em algumas empresas acabam por ter taxas de utilização muito inferiores à sua capacidade. Numa lógica colaborativa conjuntos de empresas podem organizarse cooperativamente para adquirir equipamentos que sirvam ao conjunto de cooperantes (exº CNCs) e, eventualmente prestar serviços a outras empresas fora do universo da cooperativa. Para aproveitar todo o potencial do parque de máquinas existente é possível desenvolver uma plataforma inspirada na Floow2 para os associados da APIMA e outras empresas da fileira.

A servitização (economia dos serviços) é uma das apostas do plano europeu para a economia circular (ver O pacto ecológico europeu e o futuro impacto na fileira casa). Os casos internacionais descritos demonstram a efetividade deste modelo de negócio para a fileira casa. Antecipando a aposta da UE na promoção deste modelo de negócio pode ser desenvolvida uma análise económica e financeira do modelo de negócio para a fileira no nosso país. Este estudo pode avaliar diferentes modalidades da servitização numa lógica de custo-benefício da alteração das práticas comerciais correntes.

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Reparação e manutenção

Modularidade e atualização

Remanufatura

Entre os associados da APIMA já se praticam diversas estratégias de suporte à extensão do tempo de vida dos produtos: desenvolvimento de guias de montagem e manutenção, conceção modular e mesmo retoma para restauração. No entanto, o modelo de negócio da generalidade das empresas – venda a lojistas e não ao cliente final – torna a relação com o cliente final praticamente inexistente, desincentivando as opções de reparação, atualização e retoma. Assim, os exemplos de empresas que o fazem são ainda escassos.

É comum, no setor, o uso de aglomerados de madeira e de materiais com elevada reciclabilidade, como os metais.

Reciclagem

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Apesar de constituírem um aproveitamento de madeira residual, os aglomerados incluem na sua composição determinados produtos químicos (como resinas à base de formaldeído) que podem ter consequências na saúde humana.

O distanciamento existente entre as empresas e os clientes finais pode ser reduzido recorrendo aos meios digitais. À semelhança das estratégias adotadas por determinados fabricantes de outros setores (ex. º equipamentos elétricos eletrónicos), as empresas da fileira casa podem criar plataformas de comunicação direta com os clientes finais: o cliente regista-se no website da empresa e passa a ter um veículo de comunicação direta com a mesma, podendo adquirir novas peças, solicitar serviços de reparação, adquirir novos móveis contra retoma dos antigos etc. As empresas do setor podem constituir, em conjunto, uma organização que pratique a retoma de móveis e outras peças, as encaminhe para recuperação nas empresas associadas e venda em mercados de 2ª e 3ª mão. O rendimento obtido poderia ser usado para organização de eventos de sensibilização do setor e projetos de investigação e inovação para resolução de problemas comuns.

A reciclabilidade dos materiais que compõem os produtos da fileira casa só pode ser potenciada se os produtos forem desenhados de forma a facilitar a separação dos materiais (ex. º diferentes tipos de madeira, diferentes tipos de metais etc.) permitindo o correto encaminhamento desses materiais para a reciclagem ou valorização. A facilidade de separação também permite que algumas peças possam ser reaproveitadas para novos produtos, evitando o desperdício.

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BOAS PRÁTICAS DE ECONOMIA CIRCULAR NA FILEIRA CASA Diversos associados da APIMA valorizam os resíduos (do corte) da madeira produzidos nas suas instalações. O uso mais comum é o aproveitamento destes resíduos para queima em caldeiras, permitindo o aproveitamento do calor para aquecimento das instalações e para o funcionamento de equipamentos que usem vapor.

Valorização

Também existe aproveitamento destes resíduos para outros fins como a utilização em partes interiores dos móveis (ex. º suportes de prateleiras e gavetas ou produção de massa de madeira).

O aproveitamento dos resíduos da produção pode ser potenciado: 1.Através da colaboração (criando efeito de escala e, portanto, reduzindo os custos da gestão individual desses resíduos); 2. Pelo desenvolvimento de projetos de investigação e inovação que avaliem novas soluções de aproveitamento dos resíduos.

As empresas devem divulgar as suas práticas e preocupações com a sustentabilidade, desde logo nos seus websites e nas suas contas nas redes sociais. É cada vez mais comum os websites corporativos terem uma secção dedicada à sustentabilidade.

Marketing para a sustentabilidade

A comunicação das práticas de sustentabilidade e economia circular é ainda muito incipiente no universo dos associados da APIMA.

Outras empresas fazem da sustentabilidade o seu lema e os websites estão desenvolvidos em torno do tema, provocando a sensação no cliente de que adquirir aqueles produtos constitui um contributo para a sustentabilidade. A estratégia de divulgar as boas práticas, associada à criação de plataformas onde os clientes se podem registar, como referido anteriormente, permite criar uma imagem de transparência da empresa e atrair uma vaga crescente de clientes com preocupações ambientais. Adicionalmente, esta comunicação serve de veículo de promoção da economia circular, potenciando o seu desenvolvimento no país. É importante, no entanto, distinguir marketing verde de greenwashing, garantindo que não se usa a comunicação de forma abusiva, apresentando práticas que na verdade possam não estar a ser levadas à prática ou não estejam a ser levadas à prática de forma correta.

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O pacto ecológico europeu e o futuro impacto na fileira casa Em finais de 2019 a União Europeia lançou o novo Pacto Ecológico Europeu34, uma estratégia de crescimento que pretende transformar a UE numa sociedade equitativa e próspera, dotada de uma economia moderna, competitiva e eficiente na utilização dos recursos. A meta a atingir em 2050, é uma sociedade com zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa e em que o crescimento económico esteja dissociado da utilização dos recursos. Um dos elementos deste novo pacto passa por “mobilizar a indústria para a economia circular e limpa”. Para esse efeito a UE lançou uma nova estratégia industrial para uma Europa ecológica e digital, competitiva a nível mundial35. A União considera que as iniciativas conhecidas como alianças industriais produziram bons resultados no domínio das baterias, dos plásticos e da microeletrónica, nomeadamente em termos da gestão dos resíduos gerados por estes produtos. A ideia é alargar esta ideia a outras tecnologias e domínios de atividade fundamentais, nomeadamente através de alianças para as indústrias hipocarbónicas, para os serviços de computação em nuvem e para as matérias-primas. Naturalmente, todas estas iniciativas afetarão direta ou indiretamente a fileira casa.

34 35

https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:52019DC0640 https://ec.europa.eu/info/strategy/priorities-2019-2024/europe-fit-digital-age/european-industrial-strategy_en

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O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA

Outra importante iniciativa da União no âmbito deste Pacto Ecológico foi o lançamento de uma nova versão do Plano de Ação para a Economia Circular36onde se explicita o estabelecimento de princípios de sustentabilidade e outros meios adequados para regulamentar as seguintes matérias: Melhorar a durabilidade, a possibilidade de reutilização, a capacidade de atualização e a reparabilidade dos produtos, reduzir a presença de produtos químicos perigosos nos produtos e aumentar a eficiência energética dos produtos e a sua eficiência na utilização dos recursos; Aumentar o teor de materiais reciclados nos produtos, garantindo simultaneamente o seu desempenho e segurança; Estimular a remanufactura e a reciclagem de alta qualidade; Reduzir as pegadas ecológicas e de carbono; Restringir a utilização única e combater a obsolescência prematura; Proibir a destruição de bens duradouros não comercializados; Incentivar o modelo de negócio «produto como um serviço» ou outros modelos em que os produtores mantêm a propriedade dos produtos ou a responsabilidade pelo desempenho dos mesmos ao longo do ciclo de vida; Mobilizar o potencial da digitalização das informações sobre os produtos, incluindo de soluções como passaportes, etiquetagem e marcas de água digitais; Recompensar os produtos com base no seu desempenho diferenciado em termos de sustentabilidade, nomeadamente por meio do estabelecimento de uma relação entre níveis de desempenho elevados e incentivos.

Segundo este plano será dada prioridade aos grupos de produtos identificados em determinadas cadeias de valor, como a eletrónica, as TIC e os têxteis, bem como ao mobiliário e aos produtos intermédios de elevado impacto, como o aço, o cimento e os produtos químicos.

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https://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:9903b325-6388-11ea-b735-01aa75ed71a1.0022.02/DOC_1&format=PDF

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O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA

O documento “Oportunidades da Economia Circular no setor do Mobiliário”37 produzido pelo European Environmental Bureau, um forte interlocutor da UE nas questões ambientais (por ser a maior rede de ONG ambientais), apresenta cenários de pacotes de instrumentos para conduzir o setor a contribuir para a economia circular. Esses instrumentos incluem: Responsabilidade alargada do produtor: de acordo com esta figura legal o produtor é responsável por todo o ciclo de vida do seu produto, inclusivamente pelo fim de vida do mesmo. França já adotou este mecanismo para o mobiliário. Em Portugal esta figura está já a ser aplicada ao caso dos veículos em fim de vida, pneus usados, resíduos elétricos e eletrónicos, embalagens de plástico, metal e vidro, baterias e pilhas usadas, embalagens de medicamentos e de produtos fitofarmacêuticos, óleos lubrificantes usados e papel. Determinação da obrigatoriedade de certas medidas de ecodesign em termos de durabilidade, reparabilidade e reciclabilidade. Inclusão de critérios obrigatórios nas Compras Públicas que promovam a reutilização e a aquisição de produtos da fileira casa remanufaturados. Fortes restrições no uso de químicos potencialmente perigosos, nomeadamente pelos constrangimentos que provocam na potencial reutilização ou reciclabilidade dos produtos no futuro.

O mesmo documento sugere, em paralelo, a criação do Rótulo Mobiliário Verde (Green Furniture Mark), de caráter voluntário, cujo objetivo é providenciar aos consumidores um meio simples de avaliar a circularidade do produto, utilizando a abordagem já estabelecida por exemplo para a eficiência energética, de classificação A a G. Partindo de um nível básico de requisitos de ecodesign (G) até um valor de ‘excelência’ circular (A). Tendo em conta a evolução histórica das políticas europeias do ambiente relativamente a uma série de produtos e setores, a adoção para o setor do mobiliário deste tipo de medidas é um passo natural para o qual os empresários devem estar preparados e antecipar-se.

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https://eeb.org/publications/80/product-policy/51266/report-on-the-circular-economy-in-the-furniture-sector.pdf

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Roadmap para a Economia Circular na Fileira Casa O seguinte Roadmap constitui uma ferramenta de apoio à análise e ao planeamento das medidas e boas práticas das empresas em prol da economia circular. Para cada medida as empresas podem avaliar o estado de desenvolvimento das medidas ou definir um horizonte temporal para implementar as mesmas, constituindo uma base de trabalho para o planeamento da estratégia de sustentabilidade da empresa.

Situação atual

Medidas

A implementar em 6 meses

A implementar em 1 ano

A implementar a médio prazo

GESTÃO Sistema de Gestão, Pegada Ecológica e Contabilidade Ambiental Implementação de sistema de gestão ambiental

Certificação do sistema de gestão ambiental de acordo com as normas ISO 14001 ou a EMAS. Obter licença de utilização do Rótulo Ecológico Europeu Matriz de análise do desempenho ambiental dos fornecedores Declarações ambientais de produto Pegada Ecológica de produto Pegada Ecológica da empresa

Desenvolvimento de um Orçamento de Sustentabilidade (Custo-Benefício dos investimentos em sustentabilidade)

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O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA

I&D Promoção ou integração em projetos em colaboração com centros tecnológicos e universidades (para desenvolver soluções sustentáveis, no âmbito da economia circular) Digitalização total dos processos administrativos Utilizar ferramentas de TI para o design, os modelos e os protótipos

Comercial Alugar horas de equipamento da empresa subutilizado Recorrer ao aluguer de horas de equipamento subutilizado de outra empresa Vender o serviço dos produtos em regime de aluguer ou leasing Outsourcing de especialidades (CNC, corte, marcenaria especializada,…)

Energia Realizar auditorias energéticas Privilegiar fontes de energia que minimizem as emissões prejudiciais durante as etapas de pré-produção, produção, distribuição e utilização Privilegiar a microprodução energética (ex. painéis fotovoltaicos, caldeiras de biomassa) Pegada carbónica dos produtos

Pegada carbónica da empresa

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O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA

Monitorização da eficiência dos processos Monitorizar com regularidade a produtividade material e energética dos produtos (peso de produto expedido/ matéria-prima adquirida; peso de produto expedido/energia consumida) Monitorizar a produção de resíduos e os custos da sua gestão Monitorizar o consumo de água de modo desagregado Contabilizar a utilização de materiais e a geração de resíduos por processo/ secção da empresa

DESIGN / DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO Materiais Privilegiar recursos renováveis e abundantes Privilegiar recursos reciclados e recicláveis Privilegiar recursos com produção sustentável Privilegiar produtos monomateriais Minimizar o uso de materiais no desenvolvimento dos produtos Escolher materiais duráveis, garantindo o desempenho e a vida útil do produto Minimizar a variedade de materiais no produto e nas suas componentes No mesmo produto, utilizar materiais compatíveis (para não comprometer a reciclabilidade)

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Garantir que os materiais incompatíveis são facilmente separáveis

O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA

Privilegiar materiais com menor pegada carbónica (menos energia na sua produção, menos energia no seu transporte) Privilegiar materiais com baixa pegada hídrica (menos água na sua produção) Privilegiar o uso de materiais/ subprodutos de outros processos industriais (simbiose industrial) Privilegiar materiais que não necessitem de tratamento superficial adicional ou pintura Optar por materiais e fixadores compatíveis para reciclagem Optar por materiais e componentes leves Usar materiais mais resistentes para peças mais sujeitas a desgaste ou danos Evitar a utilização de materiais permanentes e não renováveis (ex. metais) para funções temporárias Eliminar a utilização de produtos tóxicos e cancerígenos Minimizar ou eliminar a utilização de metais pesados como níquel, crómio, zinco, etc Privilegiar alternativas ao couro curtido com crómio, como o couro com curtição natural, alcântara, ou outros tecidos sintéticos. Utilizar tecidos certificados do ponto de vista ambiental (exemplos de recursos de baixo impacto)

Utilizar algodão de produção sustentável

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O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA

Minimizar a quantidade de tecido utilizada no produto

Avaliar a possibilidade de utilizar enchimentos naturais ou facilmente recicláveis/ biodegradáveis. Ao utilizar enchimento de poliéster, dar preferência ao poliéster reciclado

Componentes Utilizar componentes comuns e remanufaturados Evitar utilizar componentes ou peças que não sejam estritamente funcionais Desenhar para o mesmo intervalo de duração dos vários componentes Permitir e facilitar a separação de peças com vidas úteis diferentes Utilizar adesivos, etiquetas, revestimentos de superfície, pigmentos que comportem a limpeza durante a vida útil do produto Usar tecidos laváveis e capas substituíveis

Produto Privilegiar o design intemporal Privilegiar o desenho de produtos multifuncionais (um produto/vários serviços) Privilegiar o desenho modular, reconfigurável e/ou multifuncional de produtos Desenhar peças e componentes padrão para todos os produtos Desenhar produtos com componentes fáceis de substituir

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Desenhar produtos que possam facilmente ser montados no local de utilização

O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA

Desenhar para a modularidade escalabilidade e adaptabilidade Desenhar para a reutilização de peças auxiliares Desenhar para a durabilidade (nomeadamente para garantir uma segunda utilização) Desenhar para facilitar a manutenção Desenhar para facilitar a reparação no local Reduzir o peso, otimizando o design. Especialmente quando os móveis são deslocados com frequência ou em grandes distâncias Utilizar sistemas de juntas e elementos idênticos ou compatíveis com os materiais dos componentes a unir Assegurar que as fixações e os elementos de fixação ficam facilmente acessíveis Facilitar a substituição de peças, simplificando a acessibilidade e a remoção Facilitar a acessibilidade e a remoção de peças e componentes que possam ser reutilizados Facilitar a remoção e substituição de peças que se possam desgastar facilmente Facilitar a remoção e substituição de peças que têm mais tendência para sofrer danos Facilitar a remoção e substituição das ferragens Minimizar o número de fixadores

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O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA

Minimizar o número de fixadores que necessitam de ferramentas diferente para remoção

Utilizar parafusos autoroscados em componentes poliméricos, evitando a adição de componentes metálicos Marcar todos os materiais de plástico com símbolos de identificação para facilitar a reciclagem Colocar as peças não recicláveis numa zona de onde possam ser facilmente removidas e descartadas. Assegurar a separação rápida e segura dos plásticos entre si e dos plásticos com os metais, sem contaminação cruzada Incluir sistemas para o diagnóstico e/ou autodiagnóstico de componentes para manutenção ou reparação Desenhar para facilitar a atualização de componentes (substituição por componentes tecnologicamente mais avançados) Desenhar peças estruturais que possam ser separadas das peças visíveis Assegurar uma embalagem o mais leve possível Material de embalagem - usar reutilizável / biodegradável (zero resíduos) Minimizar ou eliminar o uso de plástico na embalagem Assegurar a simplicidade, uniformidade e clareza das instruções de desmontagem Desenhar peças e componentes padrão para todos os produtos

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Assegurar que a (des) montagem possa ser efetuada com ferramentas simples

O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA

Fornecer com o produto instruções de manutenção Fornecer com o produto instruções de reparação (facilitar a aquisição do material para reparação) Desenhar para a durabilidade (nomeadamente para garantir uma segunda utilização) Fornecer o produto com instruções para escalabilidade e adaptabilidade (facilitar a aquisição de equipamento para estes efeitos)

PRODUÇÃO Organização da produção Adoção de estratégia de Produção Mais Limpa (Melhoria contínua dos processos e produtos para reduzir os seus impactos na saúde e ambiente) Privilegiar o menor número possível de etapas de produção Desenhar os processos de produção de modo a minimizar os resíduos e os desperdícios Desenhar o layout de toda a operação assegurando a valorização interna dos resíduos gerados na produção (para produção de energia, incorporação no produto etc.) Assegurar a recuperação de resíduos não valorizáveis internamente Utilizar sistemas de simulação para a otimização dos parâmetros dos processos de fabrico Monitorizar os processos de fabrico (para melhorar continuamente a eficiência)

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O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA Desenhar para uma utilização eficiente de materiais de manutenção Desenhar sistemas para a fácil recuperação dos materiais desperdiçados Otimizar o teste de componentes

Acabamentos Avaliar a necessidade de aplicar tratamentos de superfície Privilegiar tratamentos de superfície com menor impacto (ex. base aquosa) Concentrar poluentes e materiais perigosos para fácil remoção e tratamento Monitorizar o consumo de diluentes e solventes de limpeza

Montagem /desmontagem Manter a estabilidade e a colocação das peças durante a desmontagem / montagem Minimizar o número de ferramentas necessárias para desmontagem / montagem Minimizar a desmontagem destrutiva e seus efeitos

Evitar o recurso a colagem Minimizar o número e a duração das operações de separação Minimizar o número de ferramentas de serviço e inspeção

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Energia Privilegiar a iluminação natural Utilizar sistemas de aquecimento, ventilação e iluminação energeticamente eficientes no local de trabalho Utilizar equipamentos energeticamente eficientes na produção Assegurar fatores de potência corretos dos equipamentos elétricos Garantir a atualização e manutenção dos motores Utilizar o calor residual dos processos para pré-aquecer outros fluxos noutros processos (utilização de energia em cascata) Permitir que os funcionários desliguem os sistemas parcial ou totalmente

Água Privilegiar processos a seco Recircular a água dos processos

LOGÍSTICA Compras Otimizar os volumes de compra dos lotes de acordo com as previsões de necessidades (recurso a TI) Matriz de análise do desempenho ambiental dos fornecedores Privilegiar a aquisição de matéria-prima com proveniência local e/ou regional

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Privilegiar a aquisição de madeira certificada através do sistema de certificação florestal do Forest Stewardship Council®, e/ou Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes (PEFCTM).

Armazém Otimizar os sistemas de controlo de stocks (recurso a TI) Proteger os produtos de sujidade, corrosão e desgaste Criar secção para produtos devolvidos, para reutilizar materiais e componentes Monitorizar os materiais de embalagem e o peso da embalagem.

Desembalamento Reutilizar os materiais de embalagem das matérias primas e componentes adquiridos

Armazém resíduos Assegurar a separação dos resíduos por tipo e destino Minimizar a ocupação de espaço e facilitar o empilhamento de resíduos Comprimir os resíduos compressíveis (cartão, plástico etc. em separado) Transporte Minimizar o peso dos produtos para manuseamento ou transporte Otimizar a arrumação dos componentes e peças para enviar e armazenar produtos num estado compacto

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Privilegiar modos de transporte com menores emissões

MARKETING & VENDAS Marketing - produto Comunicar e publicitar certificados e licenças ambientais (Sistema de gestão ambiental, Rótulo Ecológico, Declaração Ambiental de Produto etc.) Comunicar as vantagens da utilização da madeira em relação a outros materiais como a fixação do CO2 e o contributo para a biodiversidade da produção certificada. Comunicar durabilidade e fiabilidade (garantia) Disponibilizar informação sobre o uso correto do produto para assegurar a durabilidade Comunicar a facilidade de manutenção e reparo Comunicar a capacidade de atualização e adaptabilidade Comunicar a integração e otimização de funções (componentes) Comunicar a padronização e compatibilidade Comunicar a estrutura modular do produto Comunicar a facilidade de desmontagem e remontagem Comunicar aspetos ambientais nos catálogos e manuais de instrução Comunicar aspetos ambientais na embalagem do produto

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O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA Informar os clientes sobre o correto encaminhamento no fim de vida do produto Incluir rótulos e instruções para manuseamento seguro de materiais tóxicos Indicar a presença de materiais que podem ser tóxicos ou nocivos em certas condições Recolher informação do mercado sobre hábitos de consumo do cliente final (informação direta via vendedores/estudo de mercado)

Marketing - institucional Desenvolver e publicar relatórios de sustentabilidade Utilizar o website da empresa como o grande meio de comunicação de um posicionamento com preocupações ambientais boas práticas, certificações de produtos e processos, eventos Comunicar aspetos ambientais e iniciativas em prol da economia circular em todos os meios de comunicação, principalmente nas redes sociais Comunicar aspetos ambientais e iniciativas em prol da economia circular na participação em feiras setoriais Participar em workshops e eventos sobre sustentabilidade e economia circular Participar em fóruns, blogs, grupos de discussão online relacionados com as questões da sustentabilidade Comunicar a certificação de sistemas de gestão ambiental e energética

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O PACTO ECOLÓGICO EUROPEU E O FUTURO IMPACTO NA FILEIRA CASA Criar publicações periódicas em revistas dedicadas ao ambiente, gestão e sustentabilidade

Venda de produto e serviço pós venda Oferecer um serviço de recolha dos móveis usados ao entregar os novos Facilitar a atualização de componentes que possam experimentar mudanças rápidas Criar kit de manutenção básica dos móveis Aumentar a duração de um produto vendendo serviços de manutenção, limpeza e restauro Venda de serviço - alternativo à posse do produto Prestação de serviço de aluguer de móveis Prestação de serviço de leasing de móveis

RECURSOS HUMANOS Formação/Sensibilização Assegurar formação regular dos funcionários em matérias de sustentabilidade e economia circular Formar os funcionários para a poupança de energia na utilização dos equipamentos Assegurar a permanente sensibilização para as boas práticas (sinalização, comunicados internos, redes sociais etc.) Assegurar formação dos designers em critérios ambientais na conceção dos produtos (ecodesign)

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Assegurar formação regular dos prescritores (arquitetos, engenheiros, designers) sobre as vantagens dos produtos de madeira em matérias de durabilidade, sustentabilidade e economia circular.

Produção mais limpa Desenvolver um sistema de incentivos ou prémios para as melhores ideias anuais de melhoria contínua das boas práticas

Este Roadmap foi elaborado com o apoio dos seguintes documentos: Relatório “Ecodesign Guidelines” do projeto Ecomovel [ecomovel.eu/conteudos/File/ GUIDELINES_ECOMOVEL PT.pdf] Ana Mestre & Tim Cooper (2017) Circular Product Design. A Multiple Loops Life Cycle Design Approach for the Circular Economy, The Design Journal, 20:sup1, S1620-S1635, DOI: 10.1080/14606925.2017.1352686 EFIC, s.d. The Furniture Industry and the Circular Economy - Policy paper.[https://www. pusch.ch/fileadmin/kundendaten/de/Unternehmen/Furniture_Industry_And_Circular_ Economy_Policy_Paper_EFIC.pdf] Barbaritano, Marica; Bravi, Laura; Savelli, Elisabetta. 2019. “Sustainability and Quality Management in the Italian Luxury Furniture Sector: A Circular Economy Perspective” Sustainability 11, no. 11: 3089. https://doi.org/10.3390/su11113089 Telenko, C., O’Rourke, J. M., Conner Seepersad, C., and Webber, M. E. (January 13, 2016). “A Compilation of Design for Environment Guidelines.” ASME. J. Mech. Des. March 2016; 138(3): 031102. https://doi.org/10.1115/1.4032095

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ANEXO I Potenciais impactos ambientais associados aos materiais usados na produção na fileira casa MATERIAL

PROBLEMA/IMPACTE AMBIENTAL Madeira originária de floresta não gerida ou com gestão insustentável.

Madeira maciça

Uso de pesticidas na produção florestal. Tratamento da madeira com retardantes de fogo e com fungicidas.

Derivados de madeira (Aglomerados, Contraplacados, MDF, OSB)

Resinas utilizadas no fabrico dos derivados de madeira são produzidas à base de formaldeído principalmente devido à sua elevada reatividade e baixo custo. Esta substância está classificada como agente cancerígeno pela International Agency for Research on Cancer das Nações Unidas. Depleção de recursos não renováveis

Metais (alumínio, aço inoxidável e ferro)

Contaminação de fontes de água durante a extração (de bauxite para o alumínio e de minério de ferro) e emissão de poeiras e ruído Transformação: consumo de energia, libertação de metais pesados, emissão de poeiras, dióxido de azoto, dióxido de enxofre; Tratamento superficial (galvanização, pintura, lacagem, esmaltagem): emissão de metais pesados e outros compostos. Depleção de recursos não renováveis; Consumo de energia; Uso de substâncias perigosas como aditivos (estabilizadores, plastificantes ou retardadores de fogo);

Plásticos

Libertação de substâncias perigosas na produção e tratamento dos resíduos de plásticos. Emissão de hidrofluorcarbonetos (HCFC), susceptíveis de provocar depleção da camada do ozono, entre outros efeitos nocivos para o ambiente e saúde humana. Efeitos nocivos dos microplásticos na cadeia alimentar. Fase de cultivo (no caso das fibras naturais): uso de pesticidas;

Têxteis e couro

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Fase de produção (no caso das fibras sintéticas): emissão de compostos orgânicos voláteis para o ambiente; Tratamento das fibras e das peles (para produzir couro): emissão para a água de corantes, pigmentos, fungicidas (ex. compostos de crómio), compostos clorados, retardadores de chama bromados, entre outros;

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Materiais de estofamento e enchimento - espumas de poliuretano e de latex Revestimento de superfícieusados como proteção (preservação da madeira, anticorrosão, resistência ao calor) ou decoração: cor, lustro, transparência Colas e adesivos (usados na montagem do mobiliário)

Embalagem

Processos de produção utilizam substâncias perigosas e tóxicas (presentes nos materiais); Emissões de formaldeído.

Emissões de COV e substâncias tóxicas (principalmente metais pesados). Derrame/desperdício de revestimentos líquidos e em pó Emissões resultantes da galvanização de metais

Conteúdo de solvente das colas (emissões de COV); Outras substâncias perigosas.

Impactos associados à produção dos materiais (ex. plásticos, derivados da madeira); Impactos associados aos resíduos de embalagem

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ANEXO II Inquérito aos associados da APIMA

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