Murilo Rubião, criador e editor do Suplemento Literário do Minas Gerais NUNES, Aparecida Maria (Unifal-MG)
Não foram poucos os problemas que o escritor Murilo Rubião enfrentou ao criar um suplemento literário, como forma de difusão de informação e cultura, dois anos após o golpe militar de 1964. Sobrinho do juscelinista Israel Pinheiro, eleito em 1965 ao governo de Minas Gerais, Raul Bernardo Nelson de Senna ocupava o cargo de diretor da Imprensa Oficial do Estado quando resolveu encarregar Rubião de criar uma página de textos noticiosos e literários no Minas Gerais, como alternativa para os 200 municípios mineiros que estavam na ocasião sem receber informação além de suas fronteiras. A ideia de Senna era a de reviver antiga tradição do diário oficial que chegou em 1929 a publicar crônicas de um de seus redatores: o ainda desconhecido Carlos Drummond de Andrade, sob os pseudônimos de Antônio Crispim e Barba Azul. Murilo Rubião aceita a proposta de Senna, mas recomenda de pronto a realização de um suplemento e não apenas de uma página. O projeto sofre resistência por parte de alguns escritores mineiros, céticos à iniciativa, pois temiam não haver material literário suficiente e de qualidade para publicar. A ideia, caso o suplemento vingasse, era recorrer a traduções. Mas Rubião guardava uma antiga recomendação do escritor paulista Mário de Andrade ao poeta Carlos Drummond de Andrade, quando, em 1925, este fundou o periódico modernista A Revista, juntamente com Emílio Moura e Gregoriano Canedo. O autor de Macunaíma aconselhou: “Você deve fazer uma revista compósita, uma revista misturada, em que o novo se misture com o velho” (Cury, 2001, entrevista). Belo Horizonte vivia em meados da década de 1960 um marasmo artístico e a produção de jovens escritores não encontrava apoio da mídia. Os suplementos de jornais estavam em declínio. Apenas dois ainda resistiam no mercado: o do jornal O Estado de S. Paulo (SP) e o do Correio do Povo (RS). O diálogo entre as gerações praticamente não existia. Nesse cenário, o conselho de Mário de Andrade não poderia ser mais atual. Mesmo sendo vítima de difamações infundadas, inclusive de alguns membros da Academia Mineira de Letras, Murilo Rubião não abdica da proposta esboçada. Não esmorece e decide abrir espaço para autores mineiros que residiam em outros Estados e até no exterior. Encontra apoio em Guimarães Rosa, no Rio de Janeiro, e em Murilo Mendes, em Roma. No período de um mês, o primeiro número do Suplemento Literário é encartado ao Diário Oficial do Estado, no dia 3 de setembro de 1966, com uma tiragem de 27 mil exemplares. No expediente, Murilo Rubião figura como secretário da publicação e Paulo Campos Guimarães está na direção da Imprensa Oficial. O editorial expõe o feitio esperado – “reivindicar a importância da literatura, frequentemente negada ou discutida” – e privilegiar a poesia, o ensaio e a ficção em prosa, como também a crítica literária, a de artes plásticas e a de música. Multidisciplinar, pois, em época na qual esse aspecto era pouco discutido. 1