GRIOTS, CULTURAS AFRICANAS: LINGUAGEM, MEMÓRIA, IMAGINÁRIO - Noticia92

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- Griots - culturas africanas: linguagem, memória, imaginário

presente em cerimônias como casamentos, funerais, iniciações, mediações de relações pessoais de diversos tipos, contando histórias, tocando o kora e cantando. Os akpalôs, duelis e alôs são contadores de história na cultura nagô. No Caderno de Educação do Ilê Aiyê (2001), há referências ao Doma, considerado o mais nobre contador, porque tem a função de criar a harmonia, de organizar o ambiente e as reuniões da comunidade; sua palavra manifesta

sempre a verdade absoluta para garantir a energia vital e o

equilíbrio do grupo a que pertence. Também, na cultura africana, existem mulheres contadoras de histórias que têm habilidade para cantar e recitar versos, são as griotes, chamadas djelimusso, na cultura mandingue. Hampâté Bâ (2003) fala da Flateni, antiga griote do rei Aguibou Tall, cujos cantos causavam fortes emoções nos ouvintes. Muitos autores africanos fazem referência à figura do griot. Câmara Laye (1977) (da Guiné Bissau), em O menino negro, fala do griot, que vai de aldeia em aldeia, com sua lira, recitando, a convite das famílias, nas cabanas, no mercado ou na feira; Antonio Jacinto, no conto Vovô Bartolomeu, o vovô é o contador de histórias, é a figura sobre a qual recaem a estima e o apreço das novas gerações. Através da fala do griot, a história e a memória de muitos povos africanos entraram e permaneceram como integrantes da cultura brasileira. Escritores afro-descendentes trouxeram para o Brasil o significado e a importância da palavra na cultura africana; a palavra e seu forte poder de ação, repassada pela voz do griot, que contribuiu na construção da identidade cultural brasileira. No período dos meados do século XIX e início do século XX, no Brasil, a prática de contar histórias foi marcada pela ênfase da oralidade e pela difusão da cultura e da tradição dos antepassados africanos. As correntes culturais trazidas para o Brasil durante o ciclo da escravidão, fizeram florescer alguns instintos de ―narradores‖ e ―contadores de histórias‖, representados nas pessoas de negros velhos e negras velhas que contavam aos filhos dos senhores de engenhos as histórias dos antepassados, resgatadas da tradição oral ou do imaginário popular. Muitos não tinham nome de família, mas representavam a figura dos tradicionais griots, importantes na transmissão e manutenção da memória coletiva. Nas narrativas de alguns romancistas brasileiros, encontram-se os testemunhos do dialis, do akpalô, do ologbo, dos griots de descendência africana, que floresceram graças às condições históricosociais. Gilberto Freyre (1965) refere-se às negras, à época do Brasil colônia, que andavam de engenho em engenho ―[...] contando histórias às outras pretas, amas dos meninos brancos [...]‖ (p. 330-331); faziam dessa prática a profissão de contadores de história, misturando as histórias africanas com as histórias portuguesas de Trancoso, adaptando-as às realidade nacional. Acrescenta Gilberto Freyre (apud Departamento de Letras – UFRN

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