MEIRA, R. B.
excessos da produção açucareira. Como se sabe,
superprodução da indústria açucareira, estabelecendo o
durante o Governo Provisório, o álcool era feito so-
equilíbrio entre a produção e o consumo” e da mesma
mente com os resíduos do açúcar e as sobras dos
forma “diminuir a importação de carburante estrangei-
canaviais.
ro”. (Conselho Federal do Comércio Exterior, 1944,
Segundo Guimarães, essa nova fase da indús-
p. 83-84).
tria alcooleira foi um reflexo direto da ampliação dos
Em 1940, o país já possuía 38 destilarias de álco-
poderes do Estado após o golpe que daria início ao
ol anidro, com capacidade anual de produção de 85,8
Estado Novo. Dessa forma, o IAA também ganharia
milhões de litros anuais. O plano de safra 1940/41 au-
mais força para atuar. Assim, o autor defende que:
torizou os produtores a dissolver o açúcar de excesso
isso permite reconhecer que, a partir do Estado Novo, a idéia do dirigismo econômico, combatido pelos produtores açucareiros, passaria a se configurar na política dominante do IAA. As mudanças ocorridas na estrutura administrativa do IAA, fazendo com que ocorressem mudanças na composição da Comissão Executiva, bem como a criação de diversas seções referentes à produção açucareira e alcooleira, de demonstra a inserção da agroindústria canavieira no projeto corporativo do Estado Novo (Guimarães, 1991, p. 94).
de sua produção, transformando-o em álcool de qualquer tipo. Dessa forma, 43% da produção do álcool registrada naquela safra foi proveniente diretamente da cana ou de açúcar dissolvido. A produção de álcool anidro também atingiu 67 milhões de álcool anidro, superando, pela primeira vez, a produção de álcool hidratado. Já nesse ano, 60% da gasolina importada, que orçou em 598 milhões de litros, possuía uma percentagem de álcool. (Santos, 1997, p. 61-64). Em 21 de fevereiro de 1941, com a resolução
O forte crescimento industrial do período in-
da Comissão Executiva, o Instituto daria um novo im-
centivaria a indústria alcooleira, em razão dos eleva-
pulso para a indústria alcooleira, com a elevação para
dos gastos com a importação de petróleo. Durante
20% do teor da mistura álcool-gasolina. Tal medida
o período da Guerra até 1943, o país gastou Cr$
foi tomada em razão do aumento da produção de ál-
4.137.528.000,00 só com a importação de petróleo
cool anidro nas destilarias do país e a conseqüente
e derivados. Assim, o álcool passou a ser visto tam-
necessidade de escoar essa produção. Pode-se dizer
bém como uma forma de poupar divisas. Além disso,
que a partir desse momento, iniciou-se uma política
o IAA desenvolveria estratégias para convencer a po-
mais acentuada do setor alcooleiro, pois não levaria
pulação da importância do álcool-motor, através de
em conta a capacidade de consumo do país ou as in-
congressos, patrocínios de corridas, como no caso
dicações técnicas, mas sim as necessidades de esco-
da Subida da Tijuca, em 1938 e o Grande Prêmio da
amento da produção das destilarias. (Velloso, 1952,
Cidade do Rio de Janeiro, em 1939. O principal obje-
p. 524).
tivo do Instituto era aumentar o consumo nas cidades
Alguns meses depois, o Estado criaria a Comis-
mais industrializadas, como no caso de São Paulo, que
são Nacional de Combustíveis e Lubrificantes. Essa
já consumia no período 50% da gasolina importada.
Comissão era composta pelo Presidente do Conselho
(Guimarães, 1991, p. 97-103).
Nacional do Petróleo, pelo Presidente da Comissão
Em 1938, o IAA, numa atuação conjunta com
Executiva do IAA, por um membro da Comissão Na-
o Conselho Federal de Comércio Exterior, obrigaria
cional de Gasogênio e por um membro do Conselho
as companhias importadoras de gasolina a manterem
de Minas e Metalurgia. No entanto, percebe-se a im-
bombas destinadas à distribuição de álcool anidro.
portância vital dessa Comissão ao verificarmos que
Nesse caso, essas medidas pretendiam conciliar as
dentre os seus quadros constava um representante
disposições referentes ao petróleo e o álcool anidro.
do Ministério da Guerra, um do Ministério da Mari-
Mas o principal foco era atender a “imperiosa necessi-
nha e um do Ministério da Aeronáutica. Além disso, a
dade de proteger e desenvolver a indústria de fabricação
sua sede localizar-se-ia na Sede do Conselho Nacio-
do álcool anidro”, como forma de “debelar as crises de
nal de Segurança, cujo Secretário Geral teria o voto Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 46 - 57, segundo sem. 2009
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