A construção de uma ideologia para a produção alcooleira no Brasil: 1889-1945
ração dos usineiros do Nordeste e de sua influência política com o controle momentâneo dos preços dos mercados açucareiros do sudeste. Ademais, a Primeira Guerra aumentou as exportações, favorecendo o apoio à produção do açúcar em si mesma (Guimarães, 1991, p. 45 e Santos, 1997, p. 11).
(...) para que esta industrialização do álcool como motor possa alcançar o desejado êxito, torna-se necessário remover certos obstáculos de ordem fiscal, facilitar o seu transporte e o seu comércio, e intensificar a sua fiscalização (São Paulo, 1930, p. 38).
Outro fator que inviabilizaria um maior incre-
Em 1922, no Terceiro Congresso Nacional de
mento do álcool motor era a existência de um nú-
Agricultura e Pecuária, vê-se facilmente que a ques-
mero muito pequeno de automóveis no Brasil até a
tão do álcool combustível assumia proporções maio-
década de 1920 e, por conseguinte, a quase inexpres-
res, uma vez que ocorreu uma expansão da demanda
siva importação de gasolina pelo Brasil. Tal quadro,
pelo produto no mercado interno. Nesse caso, o pa-
no entanto, começou a mudar com as dificuldades
pel do Governo seria crucial, visto que os congres-
encontradas para a importação de petróleo durante a
sistas defendiam a transformação do álcool em um
Primeira Guerra Mundial. A partir desse momento, a
produto de utilidade pública e de interesse nacional.
necessidade de encontrar um combustível alternativo
Afora isso, o Estado deveria facilitar o seu transporte
começava a ser uma necessidade premente. Em 1916,
com a compra de vagões-tanque, a construção dos
o Brasil comprou 22,4 milhões de litros de gasolina e,
primeiros centros de consumo, de armazéns ligados
em 1917, somente conseguiria adquirir 17,7 milhões.
às estradas de ferro, o aprimoramento do estudo e
Por outro lado, no período Pós-Guerra surgiram es-
do ensino de técnicas para a fabricação do álcool, fi-
peculações sobre o término do petróleo mundial. Es-
nanciamentos para a modernização das salas de fer-
sas divagações sobre o fim eminente do petróleo, no
mentação e incentivos para a criação de fábricas de
momento em que ocorria um grande crescimento da
éter, etc. (IAA, 1949, p. 82-95).
indústria automobilística, começaram a preocupar os
Percebe-se pelos objetivos apontados nesses
países importadores de gasolina. No Brasil, tal con-
congressos que os usineiros acreditavam ser impres-
texto levou o deputado federal Geminiano Lyra Cas-
cindível para o desenvolvimento da indústria alcoolei-
tro, vice-presidente da SNA, a defender a criação de
ra o apoio estatal. Essa política de incentivos deveria
um Instituto do Álcool no Ministério da Agricultura
ser ampla e abranger o controle da política de preços,
(Dé Carli, 1979, p. 99-101 e Santos, 1997, p. 1-18).
tributária, tarifaria, de transporte e, principalmente,
Assim mesmo, a produção de álcool combustível era incentivada pelo crescimento da indústria
de financiamentos para a introdução do maquinário necessário para a montagem do parque alcooleiro.
automobilística no país, principalmente após 1920.
À vista de todo o exposto, percebe-se que,
Em 1922, o país já possuía 40.390, passando para
apesar da produção alcooleira não ter se sobressaído
220.914 automóveis em 1929. Em 1930, somente
nesse período, a propaganda conjunta do MAIC e da
o estado de São Paulo consumiu 140 milhões de
SNA firmou a ideologia do álcool como o combus-
litros de gasolina, no valor aproximado de 140.000
tível nacional, posto que, além de controlar a crise
contos de réis Acompanhando essa demanda, a
de superprodução e recuperar a decadente indústria
produção de álcool aumentou de 3.542.624 litros
açucareira nacional, substituiria a gasolina como o
em 1921, para 70.321.900 litros, em 1929. (San-
principal combustível para motores de explosão.
tos, 1997, p. 18) Em 1930, o álcool já era defini-
Como aponta o Sr. Heitor Teixeira Penteado,
do pelo Vice-Presidente do estado de São Paulo,
para que essa indústria tomasse o impulso necessário
Heitor Teixeira Penteado, como a nova válvula re-
seriam necessárias certas medidas por parte do Es-
gularizadora do mercado açucareiro, pois as suas
tado. E foi esse pensamento, de modo geral, que foi
aplicações eram numerosas. Porém, para isso seria
adotado no Pós 30, pelos principais dirigentes do Go-
necessário:
verno. Nesse caso, destaca-se o decreto n.º 19.717,
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