JABBOUR, E. M. K.
nal que a China aposta nas próximas décadas, pois o litoral rico do ponto de vista financeiro e tecnológico é débil sob o prisma de recursos energéticos, enquanto que o oeste do país é o simplesmente o oposto, pois concentra 74% das existentes e potenciais fontes energéticas. Por exemplo, o centro-oeste da China – local onde está sendo construída a usina de Três Gargantas – detém o segundo maior potencial hidrelétrico do mundo, porém sua utilização não passa dos 20%. Ainda, no campo da “energia limpa”, a aplicação desta política de integração e complementaridade regional ganhou força, com descobertas de grandes reservas de gás natural no extremo-oeste do país (Xinjiang), com capacidade de garantir o abastecimento integral de uma cidade do porte de Xangai por, pelo menos, 20 anos. Sob o ponto de vista estrito da questão energética, tal política vai ao encontro de uma resposta ao nó-de-estrangulamento que se constituiu tal área em fins da década de 1990 e começo da atual, tendo expressão nos constantes “apagões” a que estavam submetidas cidades-pólo como Xangai e Shenzen. Tais “apagões” transformaram-se em fato que alimentou inúmeras discussões acerca dos próprios limites do crescimento chinês, afinal, não é nada desprezível o fato comprovado de que a China, apesar de necessitar – para um desenvolvimento equilibrado – de 1.000 kw per capita, contava em 2002 somente com 300 kw per capita instalados, número que evoluiu em 2005, dado o grande esforço empreendido no período, para 420 kw per capita (JABBOUR , 2006). Por fim uma necessária visão de conjunto, partindo da constatação de que dos 30 milhões de chineses que ainda vivem abaixo da linha da pobreza, cerca de 80% são de minorias étnicas, cujos “lares”, em mais de 70%, estão concentrados no oeste do país. Os investimentos em energia no interior do país são parte de um todo que abriga uma necessária política de que privilegie o desenvolvimento social dessas minorias5 em tempos de contestação internacional da soberania chinesa sobre regiões como o Tibet e o Xinjiang (Turquestão chinês)6.
A transferência de energia oeste-leste (energia hidrelétrica)
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que por sua vez tem deixado sua marca no montante
A China é um país multinacional composto por 56 nacionalidades diferentes. 6 Porém poucos se dão conta de que as províncias que crescem de forma mais rápida na China são justamente o Tibet e o Xinjiang, sobretudo após 1999, com o lançamento do “Programa de Desenvolvimento do Oeste”.
Lançado em 2001, o projeto de transferência
de energia do oeste ao leste da China comporta basicamente a exploração e a difusão de dois tipos de energia limpa, a fonte hidrelétrica e o gás natural.
Acerca da transferência em si, podemos ilus-
trar quatro benefícios imediatos proporcionados pelo projeto: 1. Obtenção de resultados econômicos imediatos: As vantagens em recursos energéticos do oeste da China têm sido transformadas em vantagens econômicas, como por exemplo, a partir da concorrência entre empresas estatais e mista entre si em busca de novos campos de investimento e acumulação; 2. Aumento de renda tributária local: é auxílio decisivo ao crescimento econômico do oeste chinês, resultando em âmbito nacional na lenta diminuição das diferenças leste-oeste do país e na relação dialética entre interdependência x suavização da divisão social do trabalho e suas implicações; 3. Reestruturação energética: cumpre papel na maximização da relação entre utilização dos recursos energéticos nacionais e reajustamento de sua estrutura; 4. Promoção de proteção ao meio ambiente: tem reduzido a emissão de gases tóxicos emitidos pela queima do carvão, além disso tem se destacado, desde seu lançamento, as perdas ocasionadas pelas constantes enchentes nos cursos inferiores dos rios, por exemplo o rio Yangtsé. Exemplo de operação de complementaridade bem sucedida com a utilização de energia hidrelétrica (50% mais barata que a produzida por carvão e petróleo), está na relação entre a província litorânea Guangdong (a mais rica da China) e Guangxi (interiorana, uma das mais pobres da China). Guangdong, que tem 70% de sua energia proveniente do carvão, de mais de US$ 10 bilhões em prejuízos, somente no ano de 2005, em razão da chuva ácida. A complementaridade econômica, acrescido de formas alternativas Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 16 - 26, segundo sem. 2009
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