Traições

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Não podia mais parecer pequeno. — Sem querer ofender, mas você gosta muito de comprar briga. E eu odeio que uma menina me veja depois que eu tomei uma chuva de porrada. É coisa de homem. Senti o rosto engraçado, então deixei o cabelo cair entre nós dois, cobrindo a cara que eu estava fazendo. Cabelo comprido é bom para certas coisas. E já que a gente não estava mais naquela cidade— zinha no meio do nada, meu cabelo vinha se comportando direitinho. Vai entender. — Esta menina aqui poderia te dar uma chuva de porrada, você sabe disso. — Um dos professores poderia surgir do nada ou me expulsar se a gente fizesse isso, Dru. Melhor não. — Ninguém ia expulsar você. Eu também iria embora. Eu vou para qualquer lugar para cair fora daqui. Só que eu não posso, não é verdade? Não com o rei vampiro me procurando, né? — A gente ia acabar morrendo — nem parecia ele falando, de tão sério. A mão desocupada se levantou e tocou o outro ombro. Bem onde ele tinha sido mordido. Esfregou um pouquinho, como se ainda doesse. — Dru, por favor. Melhor não, tá? Larguei o hambúrguer, que se espatifou no prato. Empurrei minha cadeira para trás. Meus lábios estavam oleosos. A comida já mastigada, parada no meu estômago, parecia uma bola de boliche. — Então tá. Melhor não. Boa diversão lá no treino. — Dru... Mas eu me levantei, empurrei a cadeira com força para baixo da mesa e saí correndo. Quando, mais tarde, ele voltou pro meu quarto, eu tinha deixado a porta trancada. Ele ficou batendo por um tempo, depois foi embora. E eu fiquei sentada na cama, passando os dedos pelo medalhão da minha mãe e imaginando por quanto tempo eu ia ficar aprisionada naquela armadilha.


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