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silêncio 1. segredo [ ]. 2. palavras e silêncio: no silêncio as palavras fracassam, onde parece que seu único ponto de sustentação é a instabilidade – um grito mudo de uma desesperada travessia, na madrugada nebulosa sem horizonte. A palavra silêncio burla seu próprio significado, uma vez que toda palavra implica um ruído a desmentir o silêncio. Nomear o silêncio é anunciar seu fracasso. 3. silêncio e [algumas] coisas: Todas as coisas cujos valores podem ser disputados no silêncio – de perto ou a distância servem ao silêncio. o homem que possui um suspiro e algumas lágrimas serve para o silêncio. Um corpo, sujo de vida – os que nele gargantearam: detritos de vozes, saliva; servem para o silêncio. Um sopro de vida, coleção de afetos e desafetos, o copo de café vazio, o cigarro acabado, servem para o silêncio. Os pensamentos que não levam a nada; servem demais para o silêncio. Cada coisa bem ou mal vivida é ordinariamente elemento de estima para o silêncio. Cada minúscula coisa possui um lugar no silêncio. 4. silêncio e a morte: A morte é o gozo do silêncio. O silêncio é

o silêncio é uma palavra que não é palavra, e o sopro de um objeto que não é um objeto. Bataille

sossego e desassossego. 5. silêncio e corpo: “o silêncio é a profunda noite secreta do mundo” (LISPECTOR, 1988). 6. silêncio e pensamento: o pensamento silencioso é insone. Onde há silêncio no pensamento o corpo todo escuta – é um silêncio sem pudor de ser silêncio. Silêncio com lembranças de palavras antigas se transformando em novas palavras. Em tudo há o silêncio, basta aprender a ouvi-lo.

[ Ressonâncias de leituras ] LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. CUNHA, Antônio Geraldo da (1924-1999). Dicionário etimológico da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.


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