“Algumas pessoas acreditam que futebol é questão de vida ou morte. Fico muito decepcionado com essa atitude. Eu posso assegurar que futebol é muito, muito mais importante.” Bill Shankly
André Macedo nasceu em 1962, em Pelotas, Brasil. É cartunista, roteirista, animador e professor UAB/CEAD/Universidade Federal de Pelotas. Tem filmes em destaque como “O Jogo do Osso” e “Melancia e Coco Verde”.
Argumento, roteiro, desenhos e projeto gráfico: André Macedo Título Original: Carne Viva Revisão: Silvia Macedo e Rossano Di Concilio Os personagens e as situações desta obra são inspirados fem atos reais. Os nomes foram trocados e algumas caracteríscas foram exageradas apenas para valorizar a narrativa. Todos os direitos desta edição reservados à Laços Estúdio de Animação Rua Félix da Cunha. 630 96010 000 - Pelotas - RS - Brasil (53) 3227 4907 www.andremacedo.com.br andremace@gmail.com
Um mundo em crise Uma comunidade mobilizada em torno de um clube de futebol. crimes, despedidas e um passado muito presente Histórias reais temperadas pelo universo mágico dos quadrinhos.
Duda nasceu no bairro Simões Lopes e pela estação férrea viu o mundo descarregar conflitos e tensões que culminariam na Terceira Grande Guerra. Ele era um “negrinho da estação”, assim eram chamados os torcedores do Grêmio Esportivo Brasil. No estádio do “Bancário” ou da “Baixada” muitas foram as vezes que ficou de costas para o jogo assistindo e observando o comportamento da torcida xavante. Este é um livro de costas para o jogo. Descreve anseios, frustrações e ideais comuns de pessoas que não por acaso têm as suas historias relacionadas a um clube. É um livro sobre futebol que não fala de futebol. Fala de Waldemar o pedreiro, Bagé o líder negro, Zezé o artista, Marola o sábio, Ivana a professora, Franz o jornalista alemão, Samir o judeu, Valério o médico ativista, Canela o alfaiate, Lara a bailarina e Joaquim Figário o empresário português. Vidas que se entrelaçaram quando os saques às propriedades dos inimigos de guerra se intensificam e em paralelo, quando a torcida do Brasil foi batizada de xavante pela fúria e violência. Um crime desencadeia uma série de fatos que vão ganhar importância por relacionar disputa de poder político e movimentos sociais. A perseguição aos alemães, a discriminação à comunidade negra, e, por fim, a repressão aos direitos civis completam o panorama no qual Duda terá que sobreviver.
CARNE VIVA
O bairro Augusto Simões Lopes tem o nome do filho caçula do Visconde da Graça. Quando Duda corria pelas suas ruas o bairro já havia ultrapassado o limite dos trilhos ferroviários, rumo ao oeste da cidade, abocanhando parte do chamado “Campo Viana” (terreno limitado entre a via férrea, rio São Gonçalo e lagoa do Fragata: um varzeado arenoso manchado de inúmeras restingas). No loteamento Simões Lopes estava localizada a chamada “Cidade Nova” (uma vila operária construída nos limites da estação férrea), o campo do Grêmio Esportivo Brasil, duas praças públicas e a residência do próprio Visconde, o Castelo Simões Lopes. Na década de quarenta o comércio era definidor do perfil econômico da cidade. Bancos, órgãos públicos e atividades industriais no ramo de alimento caracterizavam Pelotas. Era o caminho inverso das cidades que tiveram a modernização associada à industrialização. Isso acontecera em função do fechamento do Banco Pelotense (1936) e a implantação de indústrias na faixa de fronteira determinada por Vargas. Isso acabou por fechar as indústrias de Pelotas e dificultou a criação de outras. O aumento populacional só fez crescer a crise e o desemprego, diminuindo a renda da população.
Na sequência Duda chega à estação férrea e presencia os primeiros conflitos ideológicos, prenúncio do que estaria por vir. Conhece Ivana a bailarina e vê Zezé meter-se em mais encrenca.