8 A noite cobre o céu com sua manta escura salpicada de estrelas longínquas, e um silêncio incômodo vai aos poucos invadindo os ambientes. Reluto em apagar a luz amarela e frágil do abajur. Protelo o sono o quanto posso até os olhos se fecharem sem eu me dar conta. Acordo sentado na frente de uma fogueira, com oito índios em círculo ouvindo atentos as instruções de como desmembrar, levar ao fogo e servir o inimigo capturado no combate do dia anterior. Os seus órgãos serão assados e dispostos sobre folhas de bananeira, toda a sua carne consumida, e os seus ossos moídos em pilão até virarem pó para ser misturado ao mel. As palavras fluem da minha língua com a convicção dos ungidos e a sabedoria de um ancião que transmite o conhecimento sagrado da cultura de um povo ancestral. Quem sou eu afinal? Acordo com a interrogação 82